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Sensação de inteireza | Bel César | TEDxLaçador

  • 0:09 - 0:11
    É uma emoção estar aqui.
  • 0:13 - 0:18
    E uma emoção poder compartilhar
    aquilo que nós consideramos valioso.
  • 0:20 - 0:22
    O que torna algo valioso?
  • 0:22 - 0:26
    É a sua capacidade
    de transformação positiva.
  • 0:27 - 0:31
    E por isso eu quero falar
    sobre a sensação de inteireza,
  • 0:31 - 0:36
    quando existe uma harmonia, uma coerência,
    entre o que ocorre dentro de nós,
  • 0:36 - 0:43
    nossos pensamentos, sentimentos,
    emoções e até sensações físicas sutis,
  • 0:43 - 0:49
    e o meio fora de nós, o ambiente,
    as pessoas e todos os seres.
  • 0:50 - 0:53
    Há um acordo, há uma harmonia.
  • 0:53 - 0:56
    E quando falo desse estado de inteireza,
  • 0:56 - 1:02
    não estou me referindo aos estados
    de expansão de consciência, da meditação
  • 1:02 - 1:08
    e outros estados nos quais essa fronteira
    de espaço e tempo é dissolvida.
  • 1:08 - 1:11
    Não, eu estou falando do aqui, agora,
  • 1:11 - 1:14
    do estar presente
    e em interação com o outro.
  • 1:14 - 1:18
    É um encontro lúcido, vivo,
  • 1:18 - 1:22
    e por isso ele pode ocorrer
    nos estados de maior tristeza,
  • 1:22 - 1:27
    como perda de pessoas queridas,
    como até mesmo diante da morte;
  • 1:27 - 1:30
    da própria morte e da morte dos outros.
  • 1:31 - 1:36
    Digo isso porque trabalho como psicóloga
    e acompanho pacientes terminais
  • 1:36 - 1:37
    e vejo essa realidade.
  • 1:37 - 1:40
    Eu sou testemunha disso.
  • 1:41 - 1:44
    É por causa desse estado
  • 1:44 - 1:48
    que quero falar sobre
    a minha primeira experiência
  • 1:48 - 1:50
    da consciência de estar lúcida,
  • 1:50 - 1:53
    de encontrar aquilo que eu quero buscar.
  • 1:53 - 1:56
    E foi assim que o budismo
    entrou na minha vida.
  • 1:57 - 2:02
    Eu tinha 21 anos, morava em Salzburg,
    e meu pai, no Brasil, faleceu;
  • 2:02 - 2:06
    Salzburg, na Áustria,
    eu estudava musicoterapia.
  • 2:06 - 2:10
    Meu pai faleceu, e, num momento
    assim de muita tristeza e confusão,
  • 2:10 - 2:14
    eu comecei a desenhar
    uma enorme flor de lótus.
  • 2:14 - 2:16
    E eu percebi que isso me acalmava.
  • 2:16 - 2:21
    Mostrei o meu desenho pra uma amiga,
    a Meg, que nasceu em Macau,
  • 2:21 - 2:25
    Macau, perto de Hong Kong,
    Hong Kong, China.
  • 2:25 - 2:26
    E ela disse pra mim assim:
  • 2:26 - 2:31
    "Por que você não vai pra Hong Kong
    atrás das suas flores de lótus?"
  • 2:31 - 2:35
    Eu imediatamente entendi: "Sim, é isso".
  • 2:35 - 2:39
    Esse estado de inteireza, quando chega
    pra nós, vai além das palavras.
  • 2:39 - 2:42
    Todo o nosso ser entende: "Sim, é isso".
  • 2:42 - 2:49
    Bom, o fato é que eu larguei meus estudos
    e passei cinco meses em Hong Kong.
  • 2:50 - 2:55
    Durante o dia, de manhã
    e no final da tarde, eu fazia tai chi.
  • 2:55 - 2:59
    E durante o decorrer do dia,
    eu visitava os templos.
  • 2:59 - 3:04
    A verdade é que eu era
    muito curiosa e percebia tudo,
  • 3:04 - 3:06
    mas nada me tocava profundamente.
  • 3:06 - 3:09
    Nada que tivesse esse "Sim, é isso".
  • 3:09 - 3:15
    Até que, no centro da ilha de Lantau,
    no monastério de Po Lin,
  • 3:15 - 3:19
    eu me deparei com esta imagem,
    e esse foi o momento de inteireza.
  • 3:19 - 3:22
    Quando eu olhei essa imagem,
    eu me lembro da emoção,
  • 3:22 - 3:27
    vive em mim ainda hoje,
    quando eu disse: "É isto!
  • 3:27 - 3:29
    É isto que eu estou procurando".
  • 3:29 - 3:31
    Mesmo sem entender direito o que é isso,
  • 3:31 - 3:34
    a sensação de que eu tinha encontrado
  • 3:34 - 3:37
    me acalmou e me bastava,
    vamos dizer assim.
  • 3:37 - 3:41
    Bom, eu voltei pra Salzburg, me formei,
  • 3:41 - 3:46
    voltei pro Brasil, casei,
    tive dois filhos, estudei psicologia.
  • 3:46 - 3:51
    Um filho é o lama Michel,
    e a outra é minha filha querida, Fernanda.
  • 3:53 - 3:56
    Nesses nove anos, eu tentei ser normal.
  • 3:56 - 4:01
    Eu tive uma vida, vamos dizer assim,
    aparentemente normal.
  • 4:01 - 4:07
    Mas eu estudava astrologia,
    e meu Sucharat dizia pra mim assim:
  • 4:07 - 4:12
    "Você só vai se acalmar, quando encontrar
    algo que pra você é verdadeiro".
  • 4:12 - 4:16
    E foi assim que ele veio
    no meu aniversário de 30 anos,
  • 4:16 - 4:18
    trouxe um casal e disse pra eles
  • 4:18 - 4:24
    que eu era a pessoa que ia trazer
    um lama tibetano para o Brasil.
  • 4:24 - 4:29
    Eu não sabia onde ficava o Tibete,
    não sabia nada sobre lamas tibetanos,
  • 4:29 - 4:32
    tudo pra mim era completamente nada.
  • 4:32 - 4:37
    Mas assim como a Meg me falou:
    "Vai atrás das suas flores de lótus",
  • 4:37 - 4:41
    eu entendi que meu Sucharat
    estava me dando uma mensagem importante.
  • 4:41 - 4:45
    Resumo da história: em um mês,
    lama Gangchen Rinpoche estava no Brasil.
  • 4:46 - 4:49
    Bom, aí nós fomos pra Ilhabela.
  • 4:50 - 4:51
    Nunca mais aconteceu isso,
  • 4:51 - 4:55
    de trazer um lama tibetano pro Brasil
    e não saber o que fazer com ele.
  • 4:55 - 5:00
    Isso nunca mais aconteceu.
    Mas essa vez foi fato.
  • 5:00 - 5:03
    E o lama Gangchen Rinpoche,
  • 5:03 - 5:07
    eu soube que ele queria falar comigo,
    fui até o quarto onde ele estava,
  • 5:07 - 5:09
    ele estava de costas,
  • 5:09 - 5:12
    e começou a arrumar umas coisinhas,
    fingindo que estava arrumando,
  • 5:12 - 5:14
    e disse pra mim assim:
  • 5:14 - 5:16
    "Você é a pessoa que vai abrir
  • 5:16 - 5:19
    meu primeiro centro
    de Dharma no Ocidente".
  • 5:19 - 5:23
    Eu falei: "Ok". Ele falou: "Ok".
  • 5:23 - 5:24
    (Risos)
  • 5:24 - 5:27
    E no segundo ok eu entendi
    que tinha acabado a conversa
  • 5:27 - 5:28
    e que era melhor eu cair fora.
  • 5:28 - 5:29
    (Risos)
  • 5:29 - 5:32
    Bom, ainda, de novo, sem entender muito,
  • 5:32 - 5:36
    nós fomos fazer um retiro
    em Campos do Jordão,
  • 5:36 - 5:39
    a primeira iniciação formal que eu tive.
  • 5:39 - 5:44
    E nós fizemos de Avalokiteshvara,
    aquele que abre os olhos.
  • 5:44 - 5:46
    O buda de quatro braços.
  • 5:46 - 5:49
    E quando eu vi esse buda
    com quatro braços,
  • 5:49 - 5:53
    eu pensei: "Nossa, será
    que tem a ver com aquele de mil?"
  • 5:53 - 5:58
    E o lama Gangchen Rinpoche falou:
    "Sim, eles são o buda da compaixão".
  • 5:58 - 6:02
    Aí eu comecei a ver
    que aquilo tudo que estava lá atrás
  • 6:02 - 6:05
    tinha a ver com tudo
    que estava acontecendo aqui.
  • 6:05 - 6:10
    E quando eu vi as cartas
    de bons auspícios na iniciação,
  • 6:10 - 6:15
    eu entendi que sim, essas eram
    as minhas flores de lótus.
  • 6:16 - 6:21
    Bom, o fato é que o centro de Dharma
    foi aberto em São Paulo,
  • 6:21 - 6:23
    o Centro de Dharma da Paz;
  • 6:23 - 6:27
    na Itália, também, em Milão,
    o Albagnano Healing Center.
  • 6:27 - 6:30
    E o lama Gangchen colocou essa semente.
  • 6:30 - 6:32
    O que eu fiz foi arar a terra.
  • 6:32 - 6:38
    Mas quem plantou essa semente nova
    e fertilizou esse canteiro,
  • 6:38 - 6:40
    como a gente fala, o Jardim do Dharma,
  • 6:40 - 6:42
    foi o encontro do lama Michel,
  • 6:42 - 6:46
    que tinha 5 anos, quando o lama
    Gangchen Rinpoche veio a primeira vez,
  • 6:46 - 6:49
    junto com o lama Gangchen Rinpoche.
  • 6:49 - 6:52
    Lama Michel viajou durante todos
    esses anos, quando criança,
  • 6:52 - 6:55
    tivemos sempre muita conexão;
  • 6:55 - 7:01
    se tornou monge, por iniciativa própria,
    quando tinha 12 anos,
  • 7:01 - 7:03
    e até hoje então nós caminhamos.
  • 7:03 - 7:05
    É com eles que eu aprendo o Dharma.
  • 7:05 - 7:09
    É com eles que eu aprendo
    a ter a inspiração e a coragem
  • 7:09 - 7:12
    de viver o desconhecido.
  • 7:12 - 7:14
    Agora eu quero que vocês vejam esta foto.
  • 7:14 - 7:17
    Eu não sei se vocês percebem,
  • 7:17 - 7:22
    mas o contorno das nuvens
    segue o contorno das árvores.
  • 7:22 - 7:25
    A primeira vez que eu vi
    que nuvens e árvores
  • 7:25 - 7:28
    têm harmonia e sincronicidade,
  • 7:28 - 7:32
    um momento de inteireza
    entre as nuvens e as árvores,
  • 7:32 - 7:35
    eu senti uma intensa alegria.
  • 7:35 - 7:39
    No budismo, nós estudamos muito
    sobre a interdependência;
  • 7:39 - 7:44
    que nada existe por si só,
    que tudo está interligado.
  • 7:44 - 7:48
    E quando a gente percebe isso
    através de uma experiência direta,
  • 7:48 - 7:51
    porque da racionalidade
    a gente pode saber isso,
  • 7:51 - 7:53
    mas a nossa mente não aceita.
  • 7:53 - 7:55
    O lama Gangchen Rinpoche fala:
    "Nossa mente é dura,
  • 7:55 - 7:58
    ela não aceita, não se abre".
  • 7:58 - 8:00
    Mas quando eu comecei a perceber isso,
  • 8:00 - 8:05
    inclusive, pasmem, até prédios
    combinam com nuvens,
  • 8:05 - 8:07
    agora comecem a olhar.
  • 8:07 - 8:12
    Vocês também vão ser os procuradores
    de nuvens e prédios e árvores.
  • 8:12 - 8:14
    E a cada momento em que isso ocorre,
  • 8:14 - 8:20
    existe esta sensação: "Ah, estamos
    interligados. Estamos todos juntos".
  • 8:21 - 8:27
    Bom, o fato é que, pra que a gente
    tenha essa experiência de inteireza,
  • 8:27 - 8:31
    a gente precisa estar
    num estado psicofísico necessário.
  • 8:31 - 8:33
    Ela não ocorre de qualquer maneira.
  • 8:33 - 8:35
    E por isso eu quero falar pra vocês
  • 8:35 - 8:39
    sobre a teoria polivagal
    de Stephen Porges.
  • 8:40 - 8:43
    A teoria polivagal nos explica o seguinte.
  • 8:43 - 8:45
    Todos sabem que nós temos, no nosso corpo,
  • 8:45 - 8:49
    um sistema voluntário
    e um sistema involuntário;
  • 8:49 - 8:54
    involuntário, autônomo,
    ele ocorre por ele mesmo.
  • 8:54 - 8:57
    Então, quando você acorda de manhã,
  • 8:57 - 9:01
    e sabe que vai gravar
    um TEDx em meia hora,
  • 9:01 - 9:05
    o teu corpo todo se apruma.
  • 9:05 - 9:07
    Você começa a ficar mais excitado.
  • 9:07 - 9:11
    Aí vem uma parte do corpo que fala:
    "Calma, você já sabe, você ensaiou,
  • 9:11 - 9:13
    está tudo certo".
  • 9:13 - 9:17
    Aí depois você pensa outra coisa,
    e assim a gente vai, durante o dia,
  • 9:17 - 9:20
    a gente vai se regulando.
  • 9:20 - 9:26
    Quando nós estamos seguros,
    com uma pessoa segura, em um lugar seguro,
  • 9:26 - 9:30
    e, principalmente, a base de tudo,
  • 9:30 - 9:33
    o nosso corpo se sente seguro,
  • 9:33 - 9:36
    nós conseguimos viver
    esse estado de inteireza,
  • 9:36 - 9:39
    esse estado de regulação.
  • 9:39 - 9:44
    O problema é quando nosso corpo
    não se sente seguro.
  • 9:44 - 9:48
    Porque se nós estivermos em lugares
    inseguros e com pessoas inseguras,
  • 9:48 - 9:53
    mas o nosso corpo se sentir seguro,
    nós conseguimos nos regular.
  • 9:53 - 9:58
    O fato é que nós não desenvolvemos,
    muitas vezes, esse estado de inteireza
  • 9:58 - 10:02
    que representa autossustentação
    e autocompaixão,
  • 10:02 - 10:05
    a capacidade de nos acolhermos.
  • 10:05 - 10:08
    Como nós não fazemos isso
    e não vivemos isso,
  • 10:08 - 10:11
    e nós crescemos em estado de alerta,
  • 10:11 - 10:15
    o que acontece é que o corpo sobe
  • 10:15 - 10:18
    e esse sistema de acalmar
    não consegue [ocorrer].
  • 10:18 - 10:20
    Então vamos ver
    como é uma pessoa regulada,
  • 10:20 - 10:22
    como é uma pessoa que está bem.
  • 10:23 - 10:24
    Quando a gente está bem,
  • 10:24 - 10:28
    nosso corpo não está nem excitado
    demais, nem relaxado demais.
  • 10:28 - 10:31
    Nós estamos tendo
    capacidade de entrar e sair.
  • 10:31 - 10:34
    Aliás, quando eu falo
    em estado de inteireza,
  • 10:34 - 10:37
    não estou [falando]
    de um grande bem-estar.
  • 10:37 - 10:40
    "Estou feliz, cheguei lá."
  • 10:40 - 10:44
    Estou falando da capacidade
    de a gente poder transitar
  • 10:44 - 10:48
    de um estado de instabilidade
    e voltar pra estabilidade.
  • 10:48 - 10:51
    Ou seja, não tem um jeito
    que a gente tenha que ser,
  • 10:51 - 10:55
    mas a capacidade
    de passar de novo pra calma
  • 10:55 - 10:57
    depois de um estado de excitação.
  • 10:57 - 11:01
    Bom, quando eu estou assim,
    meu corpo, como tem um tônus bom,
  • 11:01 - 11:08
    meu pescoço consegue se mover
    e olhar pra todos os lados.
  • 11:08 - 11:10
    O que acontece com o corpo,
    acontece com a mente.
  • 11:10 - 11:12
    Se eu consigo olhar pra todos os lados,
  • 11:12 - 11:16
    minha mente tem disponibilidade,
    abertura e flexibilidade
  • 11:16 - 11:19
    pra fazer zoom em um aspecto,
  • 11:19 - 11:24
    pensar em algo, e voltar e resgatar
    a visão panorâmica desse assunto.
  • 11:24 - 11:27
    E é isso que nos dá
    a capacidade de transitar
  • 11:27 - 11:30
    nos mais variados estados emocionais.
  • 11:30 - 11:34
    Quando eu tenho este músculo bom,
    eu consigo ouvir;
  • 11:34 - 11:37
    ouvir à distância,
    ouvir perto, ouvir longe.
  • 11:37 - 11:40
    Eu consigo sorrir e, se eu sorrir,
  • 11:40 - 11:42
    estou sorrindo junto com os olhos
  • 11:42 - 11:46
    porque este músculo coordena
    todos os músculos da face.
  • 11:46 - 11:49
    A minha voz é melódica,
  • 11:49 - 11:53
    o que convida o outro
    a interagir e conversar comigo;
  • 11:53 - 11:59
    o que faz com que eu desperte
    no sistema autônomo, involuntário do outro
  • 12:00 - 12:03
    abertura e disponibilidade pra me sentir
  • 12:03 - 12:06
    e se deixar ser tocado pelo meu olhar.
  • 12:06 - 12:10
    Com isso, nós criamos
    um estado de interação
  • 12:10 - 12:12
    que se chama engajamento social.
  • 12:12 - 12:17
    Esse é o estado de empatia básico
    pra que a gente possa se relacionar.
  • 12:17 - 12:19
    Agora, se eu estou naquele momento,
  • 12:19 - 12:22
    em que comecei de novo
    a ficar mais elétrica
  • 12:22 - 12:25
    e o negócio está chegando,
    e eu estou preocupada,
  • 12:25 - 12:29
    e meu sistema não consegue se regular,
  • 12:29 - 12:32
    meu músculo vai ficar enrijecido.
  • 12:32 - 12:37
    Se esse ponto, esse gatilho
    que desencadeou essa insegurança
  • 12:37 - 12:41
    for de uma ameaça real,
    o que vai acontecer?
  • 12:41 - 12:45
    O meu corpo inteiro vai precisar focar
  • 12:45 - 12:47
    ou a saída, que é por onde eu vou fugir,
  • 12:47 - 12:49
    a porta ali,
  • 12:49 - 12:53
    ou quem eu vou atacar,
    quem estiver me ameaçando.
  • 12:53 - 12:56
    Então meu sorriso não vai mais
    ser um sorriso de empatia,
  • 12:56 - 12:58
    é aquele sorriso amarelo.
  • 12:58 - 13:03
    O sorriso amarelo quer
    provocar, no outro, medo.
  • 13:03 - 13:07
    Eu quero [mostrar] pro outro
    que eu sou forte.
  • 13:07 - 13:10
    Eu não vou mais poder ficar ouvindo
    o que todo mundo fala,
  • 13:10 - 13:13
    porque eu tenho que me concentrar
    só nos sons de defesa.
  • 13:13 - 13:19
    Eu não vou mais poder ter uma voz
    assim melódica, agradável,
  • 13:19 - 13:24
    eu vou ter uma voz firme e forte,
  • 13:24 - 13:26
    pra não fazer uma voz de taquara rachada,
  • 13:26 - 13:29
    que é o que acontece nos momentos
    de discussão de relacionamento.
  • 13:29 - 13:32
    Por isso não adianta
    falar de relacionamentos,
  • 13:32 - 13:34
    enquanto não estivermos regulados,
  • 13:34 - 13:38
    porque a gente não tem empatia,
    e não provoca empatia no outro.
  • 13:38 - 13:41
    Então é impossível,
    não existe esse estado.
  • 13:41 - 13:45
    Bom, eu continuo nesse estado,
    e a situação começa a ficar pior.
  • 13:45 - 13:47
    E eu não sei se agora
    eu posso atacar ou fugir,
  • 13:47 - 13:50
    eu começo a ficar sem defesa.
  • 13:51 - 13:52
    O que vai acontecer?
  • 13:52 - 13:55
    Os nossos músculos vão entrar em colapso.
  • 13:55 - 13:59
    Eles se soltam, a gente perde o tônus.
  • 13:59 - 14:03
    E quando eu perco o tônus
    da minha musculatura interna,
  • 14:03 - 14:04
    o que vai acontecer?
  • 14:04 - 14:06
    Eu não ouço mais.
  • 14:06 - 14:08
    Sabe quando as pessoas
    estão dizendo as coisas
  • 14:08 - 14:10
    e a gente não está mais nem escutando?
  • 14:10 - 14:13
    Eu não consigo mais olhar, focar,
  • 14:13 - 14:15
    as pessoas olham e não olham.
  • 14:15 - 14:19
    É o que a gente chama
    de presença ausente,
  • 14:20 - 14:25
    de incapacidade, de imobilidade por medo.
  • 14:25 - 14:30
    Esse estado de imobilidade,
    se for sem medo,
  • 14:30 - 14:32
    é o estado da meditação.
  • 14:32 - 14:36
    Mas agora a gente está
    falando de como se regular.
  • 14:36 - 14:41
    Então, nesse estado de imobilidade
    com medo, eu não tenho mais fala,
  • 14:41 - 14:43
    eu não consigo mais falar.
  • 14:43 - 14:49
    Pegando de leve, um exemplo
    que todo mundo que viaja conhece
  • 14:49 - 14:50
    é o "jet lag",
  • 14:50 - 14:52
    quando você volta e não consegue voltar.
  • 14:52 - 14:54
    Você está fora de "sync",
    como a gente fala,
  • 14:54 - 14:57
    quando você não está em sintonia.
  • 14:57 - 15:01
    Bom, vocês se lembram do que fez
    vocês entrarem nesse estado?
  • 15:01 - 15:03
    Foi algo muito intenso,
  • 15:03 - 15:05
    uma experiência muito forte.
  • 15:05 - 15:11
    O trauma é uma experiência cedo demais,
    rápida demais ou intensa demais.
  • 15:11 - 15:17
    Quando isso ocorre, o corpo, quando entrou
    no congelamento, guardou essa experiência.
  • 15:18 - 15:21
    Quando se encontra, se é que se encontra,
  • 15:21 - 15:23
    uma pessoa segura, um lugar seguro,
  • 15:23 - 15:26
    e o organismo entende que é seguro,
  • 15:26 - 15:29
    aquele estado,
    que foi congelado, vai voltar.
  • 15:29 - 15:33
    E quando ele volta,
    nós vamos ter uma descarga,
  • 15:33 - 15:40
    nós vamos ter que terminar,
    concluir, os gestos, as sensações
  • 15:40 - 15:42
    que ocorreram naquele momento.
  • 15:42 - 15:45
    Só que nós estamos falando
    de um estado involuntário.
  • 15:45 - 15:48
    A gente muitas vezes
    não se lembra, esse é o pânico.
  • 15:48 - 15:51
    E a gente precisa completar isso.
  • 15:52 - 15:54
    A experiência somática de Peter Levine,
  • 15:54 - 15:57
    o método com o qual eu trabalho,
  • 15:57 - 16:02
    nos ensina como fazer essa descarga.
  • 16:02 - 16:05
    Agora, vamos entender,
    de maneira rápida, o que é uma descarga.
  • 16:05 - 16:08
    Você leva um cachorrinho
    pra passear, e ele não quer.
  • 16:08 - 16:10
    Você leva e ele não quer.
  • 16:10 - 16:13
    Tem uma hora em que você
    insiste pra ele ir,
  • 16:13 - 16:16
    ele vai, durinho, e de repente ele treme
  • 16:16 - 16:19
    e depois ele segue normal.
  • 16:19 - 16:21
    Isso é o que faltou acontecer com a gente.
  • 16:21 - 16:25
    Como que nós "trememos",
    além de tremer fisicamente,
  • 16:25 - 16:28
    como que nós fazemos essa descarga?
  • 16:28 - 16:29
    Vamos lá:
  • 16:29 - 16:30
    peidando,
  • 16:33 - 16:34
    rindo muito,
  • 16:36 - 16:37
    dormindo muito,
  • 16:39 - 16:40
    espirrando,
  • 16:40 - 16:42
    bocejando,
  • 16:42 - 16:43
    arrotando.
  • 16:43 - 16:47
    Então imaginem um jantar
    de uma relação entre duas pessoas
  • 16:47 - 16:50
    que precisam descarregar
    pra conseguir se inteirar...
  • 16:50 - 16:51
    (Risos)
  • 16:51 - 16:56
    Bom, o fato é que, enquanto
    nós não descarregarmos...
  • 16:56 - 16:59
    e todos os animais descarregam,
    só o ser humano que não,
  • 16:59 - 17:02
    por todos os bloqueios culturais.
  • 17:02 - 17:07
    Agora, pra concluir, eu gostaria
    de convidar vocês a fecharem os olhos,
  • 17:07 - 17:11
    sentarem numa posição,
    e nós vamos fazer um simples exercício
  • 17:11 - 17:15
    que é capaz de a gente conseguir
    entender essa sensação de inteireza.
  • 17:16 - 17:19
    Eu gostaria que vocês
    pensassem numa pergunta,
  • 17:19 - 17:23
    algo que está realmente
    tocando vocês neste momento.
  • 17:24 - 17:29
    Fechem os olhos e levem toda
    a atenção ao topo da cabeça.
  • 17:30 - 17:33
    E agora façam essa pergunta.
  • 17:33 - 17:36
    E vejam que resposta vem.
  • 17:39 - 17:42
    Levem toda a atenção ao coração,
  • 17:42 - 17:44
    façam a mesma pergunta,
  • 17:44 - 17:46
    e vejam que resposta vem.
  • 17:48 - 17:53
    Levem toda a atenção,
    agora com todo o seu ser,
  • 17:54 - 17:57
    e vejam que resposta vem.
  • 17:59 - 18:03
    Eu trabalho há muitos e muitos anos
    com pacientes terminais,
  • 18:04 - 18:08
    e, quando eu estive com um rapaz
    de 32 anos, que perguntou pra mim:
  • 18:08 - 18:10
    "O que falta eu ainda aprender?",
  • 18:10 - 18:14
    e ele estava, na realidade
    a uma semana de falecer,
  • 18:14 - 18:17
    eu falei: "Vamos fazer esse exercício".
  • 18:17 - 18:22
    E ele disse que a resposta
    que veio no topo da cabeça foi:
  • 18:22 - 18:24
    "Não existem mais perguntas".
  • 18:24 - 18:28
    No coração: "Não existem mais respostas,
  • 18:28 - 18:29
    porque só há amor".
  • 18:29 - 18:33
    E no corpo inteiro, nada.
  • 18:33 - 18:36
    Então nós rimos e nós pensamos.
  • 18:37 - 18:39
    Eu disse pra ele:
  • 18:39 - 18:41
    "Quando nós não temos
    nada mais a aprender,
  • 18:41 - 18:44
    nós temos muito a compartilhar".
  • 18:44 - 18:47
    E é por isso que eu agradeço
    a vocês, neste momento,
  • 18:47 - 18:50
    por ter compartilhado tudo
    o que eu aprendi até agora.
  • 18:50 - 18:52
    Muito obrigada.
  • 18:52 - 18:53
    (Aplausos)
Title:
Sensação de inteireza | Bel César | TEDxLaçador
Description:

Bel Cesar é psicóloga clínica e psicoterapeuta sob a perspectiva do budismo tibetano. Em 1987, organizou a primeira vinda do lama Gangchen Rinpoche ao Brasil. Presidiu o Centro de Dharma da Paz por 16 anos.
Bel fala sobre a experiência da inteireza e de como precisamos viver em estado de regulação, mostrando que não é o jeito, mas a capacidade de passar de um momento para o outro que promove a sensação da inteireza.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
Portuguese, Brazilian
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
18:59

Portuguese, Brazilian subtitles

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