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Somos mais do que o desconhecido pode definir | Vanessa Andreotti | TEDxUnisinos

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    Oi, gente.
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    Então, quando as pessoas
    me perguntam de onde eu venho,
  • 0:15 - 0:19
    geralmente a resposta causa espanto
    e às vezes vira motivo de piada.
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    Como vocês escutaram, eu sou pesquisadora
    numa universidade canadense,
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    mas eu fui para o Canadá da Finlândia,
  • 0:27 - 0:30
    pra Finlândia eu fui da Nova Zelândia,
  • 0:30 - 0:34
    pra Nova Zelândia eu fui da Irlanda,
    pra Irlanda eu fui da Inglaterra,
  • 0:34 - 0:37
    mas eu nasci e fui criada aqui no Brasil.
  • 0:37 - 0:39
    Eu me formei na [Universidade]
    Federal do Paraná,
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    e ensinei no ensino médio, fui professora
    do ensino médio por oito anos,
  • 0:43 - 0:45
    antes de sair do Brasil.
  • 0:45 - 0:49
    Meu pai tem descendência germânica,
    minha mãe tem descendência indígena
  • 0:49 - 0:53
    e meu filhos viajam
    com passaporte português.
  • 0:53 - 0:59
    Então, essa história internacional acabou
    influenciando o meu objeto de pesquisa,
  • 0:59 - 1:01
    que é a cidadania global.
  • 1:01 - 1:04
    Eu estudo o imaginário da educação
  • 1:04 - 1:08
    dentro da ideologia
    do desenvolvimento internacional.
  • 1:08 - 1:13
    Então, pra dar pra vocês um pouquinho
    da ideia do que eu faço lá fora,
  • 1:13 - 1:15
    eu vou começar com uma analogia.
  • 1:15 - 1:20
    Eu vou pedir pra vocês imaginarem
    uma colheita de milho.
  • 1:20 - 1:22
    Conseguem imaginar uma colheita
    na frente de vocês?
  • 1:22 - 1:24
    Tem que ser milho descascado.
  • 1:24 - 1:27
    Eu vou perguntar se o que vocês imaginaram
  • 1:27 - 1:31
    parece com essa fotografia.
  • 1:31 - 1:34
    Normalmente, as pessoas
    imaginam o milho amarelo.
  • 1:34 - 1:37
    Esses milhos coloridos
    que estão ali são...
  • 1:37 - 1:41
    Essa é uma foto que foi tirada no Peru.
    Esses milhos são verdadeiros.
  • 1:41 - 1:43
    Mas eu uso a ideia do milho amarelo,
  • 1:43 - 1:46
    que é o que geralmente
    o que as pessoas imaginam,
  • 1:46 - 1:51
    como analogia pra nossa incapacidade
    de imaginar milhos de cores diferentes,
  • 1:51 - 1:55
    e eu uso o milho amarelo
    também como metáfora
  • 1:55 - 1:58
    pra falar sobre o conhecimento
    reproduzido na escolarização,
  • 1:58 - 2:04
    nas escolas, que é uma forma de saber
    que não sabe que não sabe
  • 2:04 - 2:08
    e que se imagina ilimitada,
    sem reconhecer os seus limites.
  • 2:08 - 2:11
    Então, essa forma de saber
    que é reproduzida na escola
  • 2:11 - 2:16
    produz uma história única,
    uma narrativa única de progresso,
  • 2:16 - 2:19
    de desenvolvimento
    e de evolução da humanidade.
  • 2:19 - 2:23
    Então, o meu trabalho em educação
    é fazer uma análise desse histórico
  • 2:23 - 2:27
    e começar a pensar como a educação,
    como a escolarização
  • 2:27 - 2:31
    pode ser imaginada de uma forma diferente.
  • 2:31 - 2:34
    Eu me enfoco principalmente
  • 2:34 - 2:38
    nas hierarquias criadas
    por essa forma de saber,
  • 2:38 - 2:41
    que dividem a humanidade
    entre aqueles que lideram
  • 2:41 - 2:44
    o desenvolvimento,
    o progresso e a evolução
  • 2:44 - 2:47
    e aqueles que empacam o progresso,
    o desenvolvimento
  • 2:47 - 2:48
    e a evolução da humanidade.
  • 2:48 - 2:52
    Então, nessa imaginação
    da humanidade em dois campos,
  • 2:52 - 2:58
    certas pessoas nascem e percebem
    que elas são seres humanos completos,
  • 2:58 - 3:00
    normais e inteligentes,
  • 3:00 - 3:05
    e outras acabam sendo percebidas
    e se percebem também
  • 3:05 - 3:10
    como seres humanos incompletos, anormais
    e menos humanos, e menos inteligentes.
  • 3:10 - 3:13
    Então, na educação, isso se repete,
  • 3:13 - 3:18
    não só aqui no Brasil
    e na Inglaterra, onde eu trabalhei,
  • 3:18 - 3:20
    mas em vários lugares do mundo inteiro.
  • 3:20 - 3:24
    E o meu trabalho é então perceber
    como é que isso está sendo reproduzido
  • 3:24 - 3:28
    e como é que isso pode ser pensado
    de uma forma diferente.
  • 3:29 - 3:31
    No âmbito internacional,
  • 3:31 - 3:37
    essa hierarquia de desenvolvimento
    se reproduz baseada no mito
  • 3:37 - 3:40
    de que desenvolvimento é produzido
  • 3:40 - 3:44
    a partir do conhecimento
    e da capacidade das pessoas.
  • 3:44 - 3:46
    Então, esse mito faz
    com que a gente perceba
  • 3:46 - 3:49
    quem nasce num país desenvolvido
    como mais inteligente,
  • 3:49 - 3:53
    e quem nasce num país mais pobre
    como menos inteligente.
  • 3:53 - 3:55
    Então, um país emergente como o Brasil
  • 3:55 - 3:58
    é um país onde as pessoas
    "estão começando a ficar inteligentes",
  • 3:58 - 4:00
    dentro dessa visão de mundo,
  • 4:00 - 4:05
    e passam a ser ameaça àqueles
    que foram inteligentes até agora.
  • 4:05 - 4:08
    Essa é uma produção sistêmica,
  • 4:08 - 4:10
    quer dizer, quem nasce
    em país rico e em país pobre
  • 4:10 - 4:12
    acredita na mesma coisa.
  • 4:12 - 4:15
    Vou dar um exemplo pra vocês,
    mas, pra dar esse exemplo,
  • 4:15 - 4:19
    eu preciso que vocês se engajem
    numa visualização comigo.
  • 4:19 - 4:24
    Imaginem que vocês são alunos
    do ensino médio, numa escola europeia,
  • 4:24 - 4:28
    e hoje o governo mandou pra vocês
    um questionário pra ser respondido
  • 4:28 - 4:31
    por todos os alunos da sua cidade.
  • 4:31 - 4:33
    É um questionário sobre desenvolvimento,
  • 4:33 - 4:37
    e a primeira pergunta
    do questionário é a seguinte:
  • 4:37 - 4:40
    "Por que o governo do seu país"
    - desse país europeu -
  • 4:40 - 4:42
    "deve ajudar os países mais pobres?"
  • 4:42 - 4:47
    E aqui estão as suas possibilidades
    de respostas, e você tem que marcar um X:
  • 4:47 - 4:49
    "Porque se não ajudarmos,..."
  • 4:49 - 4:54
    "as pessoas desses países vêm tirar nossos
    empregos e desequilibrar nossa economia";
  • 4:54 - 4:57
    "as pessoas desses países
    se envolvem em conflitos violentos
  • 4:57 - 5:00
    e a gente acaba tendo que intervir";
  • 5:00 - 5:04
    "as pessoas desses países
    espalham doenças que nos afetam";
  • 5:04 - 5:07
    "as pessoas desses países vão continuar
    a destruir o meio ambiente,
  • 5:07 - 5:09
    se a gente não intervir";
  • 5:09 - 5:13
    "ficaria mais perigoso
    tirar férias nesses países".
  • 5:14 - 5:19
    Então, esse questionário foi usado
    na Inglaterra, de 1994 a 2007,
  • 5:19 - 5:22
    e os alunos que respondem
    a esse questionário
  • 5:22 - 5:27
    aprendem a associar a pobreza,
    ou os países mais pobres,
  • 5:27 - 5:32
    com ignorância, violência, destruição,
    lixo, doenças e servidão,
  • 5:32 - 5:35
    e, ao mesmo tempo,
    ao fazer isso com o outro,
  • 5:35 - 5:39
    eles aprendem a se identificar
    com as características opostas,
  • 5:39 - 5:42
    de inteligência,
    benevolência, merecimento,
  • 5:42 - 5:45
    honestidade, limpeza e liderança.
  • 5:45 - 5:47
    E essas características, num todo,
  • 5:47 - 5:52
    acabam justificando a sua superioridade,
    o direito de intervenção,
  • 5:52 - 5:55
    de tentar arrumar e ajudar o outro,
  • 5:55 - 6:01
    como também a defesa
    do seu direito ao seu privilégio,
  • 6:01 - 6:06
    que é, então, percebido como a segurança.
  • 6:06 - 6:11
    Essa divisão justifica o direito
    de defender a segurança
  • 6:11 - 6:14
    frente à ameaça que o outro representa.
  • 6:18 - 6:22
    A superioridade depende de um outro
    que precisa ser percebido como inferior.
  • 6:22 - 6:27
    Não tem como ter superioridade
    sem o outro que é inferior.
  • 6:27 - 6:30
    E essas hierarquias se reproduzem
    não só na Inglaterra,
  • 6:30 - 6:33
    não só na Europa, na América do Norte,
    como aqui também, em vários contextos,
  • 6:33 - 6:36
    de formas extremamente semelhantes.
  • 6:36 - 6:39
    E a minha parte de pesquisa
    em educação, então,
  • 6:39 - 6:43
    é tentar perceber se isso
    pode ser modificado,
  • 6:43 - 6:46
    como isso é reproduzido
    através da educação
  • 6:46 - 6:48
    e como isso pode ser modificado.
  • 6:48 - 6:50
    Eu vou dar um outro exemplo.
  • 6:50 - 6:54
    Normalmente quando eu vou trabalhar
    com professores nesses países,
  • 6:55 - 6:58
    em diversos países, não só
    na Europa e na América do Norte,
  • 6:58 - 7:00
    mas também na América Latina,
  • 7:00 - 7:03
    eu sempre faço uma dinâmica
    com os professores
  • 7:03 - 7:07
    e peço pra eles me responderem
  • 7:07 - 7:10
    como é que eles percebem
    os seus contextos sociais,
  • 7:10 - 7:13
    como é que eles percebem a sociedade ideal
  • 7:13 - 7:15
    e como se chega de A a B.
  • 7:15 - 7:18
    Normalmente, quando eu pergunto
    sobre o contexto ideal,
  • 7:18 - 7:22
    não só aqui na América Latina
    mas nos outros países também,
  • 7:22 - 7:26
    a resposta é relacionada à violência,
    à pobreza, ao desemprego,
  • 7:26 - 7:28
    abuso de drogas, desafeto e poluição
  • 7:28 - 7:33
    e, mais e mais, a gente tem a depressão
    e a ansiedade dentro desse contexto.
  • 7:34 - 7:36
    Quando eu pergunto
    sobre a sociedade ideal,
  • 7:36 - 7:40
    a resposta normalmente
    se relaciona a paz, famílias felizes,
  • 7:40 - 7:42
    etnias, nacionalidades de mãos dadas,
  • 7:42 - 7:45
    campos verdes cheios de flores.
  • 7:45 - 7:47
    E, quando eu pergunto
    como se passa de A a B,
  • 7:47 - 7:49
    a resposta, invariavelmente,
  • 7:49 - 7:52
    é a construção do conhecimento
    através da educação.
  • 7:52 - 7:57
    Então, dentro dessa visão de mundo,
    se percebe o problema como a ignorância
  • 7:57 - 8:02
    e o conhecimento como algo
    que vá abordar essa ignorância
  • 8:02 - 8:04
    e levar a gente pra sociedade ideal,
  • 8:04 - 8:07
    e é aí que o mito
    do milho amarelo aparece.
  • 8:08 - 8:12
    A gente percebe que o milho amarelo
    acaba sendo a solução
  • 8:12 - 8:15
    para os problemas que são causados
    pelo próprio milho amarelo.
  • 8:16 - 8:21
    Então, é muito mais difícil perguntar
    que tipo de conhecimento leva a relações
  • 8:21 - 8:23
    que causam os problemas
    que a gente identificou
  • 8:23 - 8:28
    e como esse próprio conhecimento limita
    como a gente formula os problemas
  • 8:28 - 8:31
    e como a gente pode imaginar as respostas.
  • 8:31 - 8:33
    Em outras palavras,
  • 8:33 - 8:37
    a gente acaba tentando responder,
  • 8:38 - 8:40
    abordar os problemas que a gente tem
  • 8:40 - 8:44
    usando o mesmo paradigma de conhecimento
    que gerou esses problemas.
  • 8:44 - 8:48
    Portanto, as perguntas
    que a gente faz em educação,
  • 8:48 - 8:50
    no meu grupo de pesquisa, por exemplo,
  • 8:50 - 8:53
    se relacionam a que tipo de conhecimento
  • 8:53 - 8:56
    pode nos levar a perceber
    o limite da forma de conhecimento
  • 8:56 - 8:58
    que recebemos já nessa história.
  • 8:58 - 9:03
    Será que a educação pode ser usada
    pra se pensar genuinamente diferente?
  • 9:03 - 9:06
    Que tipo de educação pode nos ajudar
    a encarar a complexidade,
  • 9:06 - 9:09
    a incerteza, a pluralidade,
    a desigualdade,
  • 9:09 - 9:11
    de forma que a gente possa
    cometer erros novos
  • 9:11 - 9:14
    e evitar os recorrentes?
  • 9:16 - 9:20
    Então, em relação a... Ah, está aqui.
  • 9:20 - 9:23
    A gente continua a buscar soluções
    do paradigma de conhecimento
  • 9:23 - 9:25
    responsável pelos problemas
    que a gente quer resolver,
  • 9:25 - 9:28
    e isso nos leva a repetir os mesmos erros
  • 9:28 - 9:31
    disfarçados em linguagens
    e conteúdos diferentes.
  • 9:31 - 9:34
    Então, à minha resposta
    às perguntas que eu coloquei,
  • 9:34 - 9:35
    a minha resposta-tentativa,
  • 9:35 - 9:39
    é de que não adianta enfocar
    naquilo que a gente não imagina
  • 9:39 - 9:41
    como extensão do próprio conhecimento.
  • 9:41 - 9:45
    A gente precisa enfocar naquilo
    que a gente não consegue imaginar,
  • 9:45 - 9:47
    aquilo que a gente não sabe
    que a gente não sabe.
  • 9:48 - 9:53
    E, pra isso, a gente precisa contemplar
    a beirada-limite do nosso conhecimento,
  • 9:53 - 9:57
    e isso a escola moderna não ensina.
  • 9:57 - 10:01
    Pra começar a contemplar
    a beirada-limite do nosso conhecimento,
  • 10:01 - 10:05
    é necessário olhar pra produção
    do conhecimento em si
  • 10:05 - 10:09
    e, pra começar essa conversa,
    eu normalmente uso a metáfora de um bolo.
  • 10:09 - 10:13
    No topo do bolo está o que a gente fala,
    o que a gente pensa e o que a gente faz.
  • 10:13 - 10:16
    A gente é levado a pensar
  • 10:16 - 10:19
    que o que a gente fala,
    o que a gente pensa e o que a gente faz
  • 10:19 - 10:22
    são coisas que estão interligadas
    e que são coerentes,
  • 10:22 - 10:23
    mas não funciona bem assim.
  • 10:23 - 10:28
    O que a gente fala, pensa e faz está
    ligado à nossa história única e pessoal,
  • 10:28 - 10:31
    o que a gente aprende nas nossas
    famílias e nos nossos contextos;
  • 10:31 - 10:33
    não só o que é consciente,
    mas também até inconsciente,
  • 10:33 - 10:37
    nossos medos, nossos traumas
    e nossas paixões.
  • 10:37 - 10:41
    Mas a nossa história única e pessoal
    não é só única e pessoal também.
  • 10:41 - 10:43
    Ela está ligada na última camada do bolo,
  • 10:43 - 10:47
    que são as referências coletivas
    sobre a realidade e sobre o conhecimento
  • 10:47 - 10:50
    que a gente herda através da linguagem
    e através das nossas culturas,
  • 10:50 - 10:52
    e através da nossa história.
  • 10:52 - 10:55
    As escolhas feitas na base do bolo
  • 10:55 - 10:59
    determinam o que vai acontecer
    nas camadas acima, do bolo,
  • 10:59 - 11:01
    e são escolhas que determinam
    o que é desejável,
  • 11:01 - 11:06
    as perguntas que podem ser feitas,
    como procurar as respostas,
  • 11:06 - 11:08
    o que pode ser dito
    e o que pode ser negado.
  • 11:08 - 11:13
    Como são escolhas, sempre existem
    as escolhas que não foram feitas,
  • 11:13 - 11:17
    mas, se o nosso conhecimento
    se percebe como ilimitado e único,
  • 11:17 - 11:22
    a gente vai ter mesmo dificuldade enorme
    em imaginar milhos de cores diferentes.
  • 11:22 - 11:25
    Mas aqui, a questão não é
    substituir o milho amarelo
  • 11:25 - 11:29
    pelo milho verde, pelo milho azul,
    milho rosa, ou por vários milhos,
  • 11:29 - 11:33
    mas é perceber que cada
    milho tem seu histórico
  • 11:33 - 11:38
    e que a diferença é absolutamente
    necessária para a nossa sobrevivência
  • 11:38 - 11:42
    porque a gente precisa de formas
    diferentes de existir no planeta,
  • 11:42 - 11:46
    principalmente quando a forma dominante
    pode não ser sustentável
  • 11:46 - 11:48
    e levar à destruição.
  • 11:48 - 11:51
    Então, dentro desse contexto,
    é importante perceber
  • 11:51 - 11:55
    de onde veio esse milho amarelo
    e por que ele ficou dominante,
  • 11:55 - 11:57
    como é que ele domina a nossa imaginação
  • 11:57 - 12:00
    e, pra isso, é importante pensar
    no pensamento cartesiano,
  • 12:00 - 12:05
    que faz as divisões entre mente e corpo,
    entre razão e emoção, cultura e natureza,
  • 12:05 - 12:08
    que determina uma história
    de progresso e desenvolvimento
  • 12:08 - 12:11
    baseada na ciência e na tecnologia,
  • 12:11 - 12:15
    e que pensa na segurança
    como a busca da felicidade constante.
  • 12:16 - 12:20
    Então, nesse contexto,
    é preciso problematizar
  • 12:20 - 12:24
    a racionalidade totalizante que coloca
    o homem no centro do mundo,
  • 12:24 - 12:27
    e que demanda soluções
    simples, empreendedoras,
  • 12:27 - 12:30
    e que possam ser
    comunicadas em 15 minutos.
  • 12:31 - 12:36
    Nesse contexto,
    pessoas escolarizadas como eu,
  • 12:36 - 12:40
    se a gente foi educado e socializado
    no mito do milho amarelo,
  • 12:40 - 12:43
    a gente tem uma dificuldade enorme
    de lidar com a complexidade,
  • 12:43 - 12:45
    com a ambivalência, com a pluralidade,
  • 12:45 - 12:48
    com o conflito, com a incerteza
    e com a desigualdade,
  • 12:48 - 12:52
    e isso é porque o milho amarelo
    continua ditando uma narrativa única
  • 12:52 - 12:55
    de progresso e desenvolvimento
    e de humanidade.
  • 12:55 - 12:58
    Isso pode ser observado também
  • 12:58 - 13:03
    no sonho brasileiro de se adquirir
    a vantagem competitiva
  • 13:03 - 13:07
    nessa competição mundial
    de desenvolvimento econômico,
  • 13:07 - 13:14
    a vontade nossa, o sonho, de passar
    de terceiro mundo pra primeiro mundo.
  • 13:14 - 13:17
    Então, nossa vontade
    de jogar esse jogo é tão forte,
  • 13:17 - 13:21
    que não sobra tempo pra gente ver
    que esse jogo, essa narrativa,
  • 13:21 - 13:25
    não trouxe as soluções milagrosas
    para os países ditos desenvolvidos.
  • 13:25 - 13:29
    Na verdade, é tempo de crises
    enormes nesses países,
  • 13:29 - 13:33
    crises essas que são necessárias
    pra continuação dessa competição
  • 13:33 - 13:38
    e que são baseadas no medo
    e na negação de outras possibilidades.
  • 13:38 - 13:42
    Então, a gente vê a crise lá fora
    e continua acreditando, aqui no Brasil,
  • 13:42 - 13:47
    na ilusão de que o desenvolvimento
    baseado no lucro e no consumo,
  • 13:47 - 13:50
    na exploração e na extração,
  • 13:50 - 13:55
    na competitividade e no individualismo
    vai trazer a felicidade
  • 13:55 - 13:59
    e vai garantir um crescimento
    econômico constante.
  • 14:00 - 14:01
    Também é interessante perceber
  • 14:01 - 14:05
    que, quando a gente começa
    a levantar essas questões em educação,
  • 14:05 - 14:09
    mais e mais existe resistência.
  • 14:09 - 14:12
    Então, eu comparo isso
    com a questão da alimentação:
  • 14:12 - 14:14
    se eu perguntar para os meus alunos
  • 14:14 - 14:18
    se eles preferem algodão-doce
    ou brócolis cru sem sal,
  • 14:18 - 14:23
    que é melhor pra saúde deles,
    eles vão preferir o algodão-doce.
  • 14:23 - 14:27
    Se eu perguntar pra eles se eles preferem
    uma educação que confirme as suas certezas
  • 14:27 - 14:31
    e que traga uma sensação de prazer
    ao confirmar essas certezas,
  • 14:31 - 14:35
    ou uma educação que questione essas
    certezas e que abra mais possibilidades,
  • 14:35 - 14:39
    mas que traga um desconforto
    inicial temporário,
  • 14:39 - 14:42
    meus alunos hoje, tanto aqui quanto lá,
  • 14:42 - 14:45
    estão preferindo
    o algodão-doce, o conforto,
  • 14:45 - 14:49
    e isso é sinal de uma sociedade
    orientada ao narcisismo,
  • 14:49 - 14:53
    o que, na minha opinião, é o maior
    desafio da educação hoje em dia.
  • 14:53 - 14:56
    Então, eu volto
    para as perguntas pra concluir.
  • 14:56 - 14:59
    Como se educar pra complexidade,
    incerteza, pluralidade,
  • 14:59 - 15:01
    em um contexto de desigualdade,
  • 15:01 - 15:04
    se a educação moderna
    vai na direção oposta?
  • 15:04 - 15:07
    Como se educar pra que a gente possa
    aprender com os erros e limites
  • 15:07 - 15:11
    do milho amarelo, sem jogá-lo fora?
  • 15:11 - 15:14
    E como se educar pra criação
    de novas realidades
  • 15:14 - 15:17
    onde os mesmos erros
    não sejam reproduzidos?
  • 15:17 - 15:18
    Muito obrigada.
  • 15:18 - 15:20
    (Aplausos)
Title:
Somos mais do que o desconhecido pode definir | Vanessa Andreotti | TEDxUnisinos
Description:

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

Pensar e agir fora da caixa. Descobrir oportunidades nas cores que ultrapassam as delimitações dos traços das formas. Vanessa Andreotti pensa assim. Ela é assim. A última palestrante mostrou a importância de transpor as fronteiras territoriais e do conhecimento. “Como a educação pode ser imaginada de forma diferente daquela que é limitada, mas se considera ilimitada nas suas limitações?”, questionou Vanessa, que se dedica ao estudo da cidadania global. A inspiração veio das próprias experiências internacionais e culturais, que vêm de casa: tem origens alemã e indígena e seus filhos possuem passaporte português, por exemplo. A oportunidade de tornar esse seu estudo também seu trabalho apareceu oito anos depois de lecionar em Curitiba e ser contratada pelo Conselho Britânico para coordenar iniciativas de capacitação dos professores da rede pública e estabelecer parcerias com escolas na Inglaterra. Já em terras estrangeiras, se aventurou a explorar as percepções de hierarquias culturais que se reproduzem tanto nas instituições quanto nas relações sociais. Essas hierarquias equalizam o crescimento econômico com a capacidade intelectual: quem nasce em um país mais rico é visto como mais inteligente. A partir daí, passou a explorar como esses pressupostos se reproduzem, principalmente dentro da educação. A grande lição que Vanessa deixou para a plateia fechou com chave de ouro o TEDxUnisinos 2014. “Todo mundo tem o seu histórico, independente das suas origens ou do lugar onde vive. A diversidade, em todos os sentidos, é extremamente importante para a sobrevivência da humanidade”, encerrou.

Titular da Cátedra Canadense de Pesquisa sobre Desigualdades e Mudança Global e professora da Faculdade de Educação, na Universidade da Columbia Britânica, em Vancouver, no Canadá. Formou-se em Letras na Universidade Federal do Paraná e foi professora de ensino médio por sete anos, em Curitiba. Iniciou sua carreira de pesquisadora na área de educação para o desenvolvimento internacional e cidadania global na Inglaterra, trabalhando depois em universidades na Irlanda, Nova Zelândia, Finlândia e Canadá. Baseada em teorias pós-coloniais e pós-estruturalistas, sua linha de pesquisa aborda as políticas de construção do conhecimento e a ética de representações e relações transnacionais que refletem e são refletidas na educação. Presta assessoria a várias entidades governamentais e não governamentais na área de cidadania e responsabilidade global, na qual publicou três livros, vários artigos acadêmicos e textos profissionais. A síntese dos dez primeiros anos de pesquisa foi articulada no livro “Actionable Postcolonial Theory in Education”, publicado em inglês pela Palgrave MacMillan, que recebeu o prêmio de “excelente contribuição aos estudos de currículo” pela divisão de Estudos de Currículo da Associação Americana de Pesquisa Educacional.

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Video Language:
Portuguese, Brazilian
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
15:23

Portuguese, Brazilian subtitles

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