Somos mais do que o desconhecido pode definir | Vanessa Andreotti | TEDxUnisinos
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0:10 - 0:11Oi, gente.
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0:11 - 0:15Então, quando as pessoas
me perguntam de onde eu venho, -
0:15 - 0:19geralmente a resposta causa espanto
e às vezes vira motivo de piada. -
0:19 - 0:24Como vocês escutaram, eu sou pesquisadora
numa universidade canadense, -
0:24 - 0:27mas eu fui para o Canadá da Finlândia,
-
0:27 - 0:30pra Finlândia eu fui da Nova Zelândia,
-
0:30 - 0:34pra Nova Zelândia eu fui da Irlanda,
pra Irlanda eu fui da Inglaterra, -
0:34 - 0:37mas eu nasci e fui criada aqui no Brasil.
-
0:37 - 0:39Eu me formei na [Universidade]
Federal do Paraná, -
0:39 - 0:43e ensinei no ensino médio, fui professora
do ensino médio por oito anos, -
0:43 - 0:45antes de sair do Brasil.
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0:45 - 0:49Meu pai tem descendência germânica,
minha mãe tem descendência indígena -
0:49 - 0:53e meu filhos viajam
com passaporte português. -
0:53 - 0:59Então, essa história internacional acabou
influenciando o meu objeto de pesquisa, -
0:59 - 1:01que é a cidadania global.
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1:01 - 1:04Eu estudo o imaginário da educação
-
1:04 - 1:08dentro da ideologia
do desenvolvimento internacional. -
1:08 - 1:13Então, pra dar pra vocês um pouquinho
da ideia do que eu faço lá fora, -
1:13 - 1:15eu vou começar com uma analogia.
-
1:15 - 1:20Eu vou pedir pra vocês imaginarem
uma colheita de milho. -
1:20 - 1:22Conseguem imaginar uma colheita
na frente de vocês? -
1:22 - 1:24Tem que ser milho descascado.
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1:24 - 1:27Eu vou perguntar se o que vocês imaginaram
-
1:27 - 1:31parece com essa fotografia.
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1:31 - 1:34Normalmente, as pessoas
imaginam o milho amarelo. -
1:34 - 1:37Esses milhos coloridos
que estão ali são... -
1:37 - 1:41Essa é uma foto que foi tirada no Peru.
Esses milhos são verdadeiros. -
1:41 - 1:43Mas eu uso a ideia do milho amarelo,
-
1:43 - 1:46que é o que geralmente
o que as pessoas imaginam, -
1:46 - 1:51como analogia pra nossa incapacidade
de imaginar milhos de cores diferentes, -
1:51 - 1:55e eu uso o milho amarelo
também como metáfora -
1:55 - 1:58pra falar sobre o conhecimento
reproduzido na escolarização, -
1:58 - 2:04nas escolas, que é uma forma de saber
que não sabe que não sabe -
2:04 - 2:08e que se imagina ilimitada,
sem reconhecer os seus limites. -
2:08 - 2:11Então, essa forma de saber
que é reproduzida na escola -
2:11 - 2:16produz uma história única,
uma narrativa única de progresso, -
2:16 - 2:19de desenvolvimento
e de evolução da humanidade. -
2:19 - 2:23Então, o meu trabalho em educação
é fazer uma análise desse histórico -
2:23 - 2:27e começar a pensar como a educação,
como a escolarização -
2:27 - 2:31pode ser imaginada de uma forma diferente.
-
2:31 - 2:34Eu me enfoco principalmente
-
2:34 - 2:38nas hierarquias criadas
por essa forma de saber, -
2:38 - 2:41que dividem a humanidade
entre aqueles que lideram -
2:41 - 2:44o desenvolvimento,
o progresso e a evolução -
2:44 - 2:47e aqueles que empacam o progresso,
o desenvolvimento -
2:47 - 2:48e a evolução da humanidade.
-
2:48 - 2:52Então, nessa imaginação
da humanidade em dois campos, -
2:52 - 2:58certas pessoas nascem e percebem
que elas são seres humanos completos, -
2:58 - 3:00normais e inteligentes,
-
3:00 - 3:05e outras acabam sendo percebidas
e se percebem também -
3:05 - 3:10como seres humanos incompletos, anormais
e menos humanos, e menos inteligentes. -
3:10 - 3:13Então, na educação, isso se repete,
-
3:13 - 3:18não só aqui no Brasil
e na Inglaterra, onde eu trabalhei, -
3:18 - 3:20mas em vários lugares do mundo inteiro.
-
3:20 - 3:24E o meu trabalho é então perceber
como é que isso está sendo reproduzido -
3:24 - 3:28e como é que isso pode ser pensado
de uma forma diferente. -
3:29 - 3:31No âmbito internacional,
-
3:31 - 3:37essa hierarquia de desenvolvimento
se reproduz baseada no mito -
3:37 - 3:40de que desenvolvimento é produzido
-
3:40 - 3:44a partir do conhecimento
e da capacidade das pessoas. -
3:44 - 3:46Então, esse mito faz
com que a gente perceba -
3:46 - 3:49quem nasce num país desenvolvido
como mais inteligente, -
3:49 - 3:53e quem nasce num país mais pobre
como menos inteligente. -
3:53 - 3:55Então, um país emergente como o Brasil
-
3:55 - 3:58é um país onde as pessoas
"estão começando a ficar inteligentes", -
3:58 - 4:00dentro dessa visão de mundo,
-
4:00 - 4:05e passam a ser ameaça àqueles
que foram inteligentes até agora. -
4:05 - 4:08Essa é uma produção sistêmica,
-
4:08 - 4:10quer dizer, quem nasce
em país rico e em país pobre -
4:10 - 4:12acredita na mesma coisa.
-
4:12 - 4:15Vou dar um exemplo pra vocês,
mas, pra dar esse exemplo, -
4:15 - 4:19eu preciso que vocês se engajem
numa visualização comigo. -
4:19 - 4:24Imaginem que vocês são alunos
do ensino médio, numa escola europeia, -
4:24 - 4:28e hoje o governo mandou pra vocês
um questionário pra ser respondido -
4:28 - 4:31por todos os alunos da sua cidade.
-
4:31 - 4:33É um questionário sobre desenvolvimento,
-
4:33 - 4:37e a primeira pergunta
do questionário é a seguinte: -
4:37 - 4:40"Por que o governo do seu país"
- desse país europeu - -
4:40 - 4:42"deve ajudar os países mais pobres?"
-
4:42 - 4:47E aqui estão as suas possibilidades
de respostas, e você tem que marcar um X: -
4:47 - 4:49"Porque se não ajudarmos,..."
-
4:49 - 4:54"as pessoas desses países vêm tirar nossos
empregos e desequilibrar nossa economia"; -
4:54 - 4:57"as pessoas desses países
se envolvem em conflitos violentos -
4:57 - 5:00e a gente acaba tendo que intervir";
-
5:00 - 5:04"as pessoas desses países
espalham doenças que nos afetam"; -
5:04 - 5:07"as pessoas desses países vão continuar
a destruir o meio ambiente, -
5:07 - 5:09se a gente não intervir";
-
5:09 - 5:13"ficaria mais perigoso
tirar férias nesses países". -
5:14 - 5:19Então, esse questionário foi usado
na Inglaterra, de 1994 a 2007, -
5:19 - 5:22e os alunos que respondem
a esse questionário -
5:22 - 5:27aprendem a associar a pobreza,
ou os países mais pobres, -
5:27 - 5:32com ignorância, violência, destruição,
lixo, doenças e servidão, -
5:32 - 5:35e, ao mesmo tempo,
ao fazer isso com o outro, -
5:35 - 5:39eles aprendem a se identificar
com as características opostas, -
5:39 - 5:42de inteligência,
benevolência, merecimento, -
5:42 - 5:45honestidade, limpeza e liderança.
-
5:45 - 5:47E essas características, num todo,
-
5:47 - 5:52acabam justificando a sua superioridade,
o direito de intervenção, -
5:52 - 5:55de tentar arrumar e ajudar o outro,
-
5:55 - 6:01como também a defesa
do seu direito ao seu privilégio, -
6:01 - 6:06que é, então, percebido como a segurança.
-
6:06 - 6:11Essa divisão justifica o direito
de defender a segurança -
6:11 - 6:14frente à ameaça que o outro representa.
-
6:18 - 6:22A superioridade depende de um outro
que precisa ser percebido como inferior. -
6:22 - 6:27Não tem como ter superioridade
sem o outro que é inferior. -
6:27 - 6:30E essas hierarquias se reproduzem
não só na Inglaterra, -
6:30 - 6:33não só na Europa, na América do Norte,
como aqui também, em vários contextos, -
6:33 - 6:36de formas extremamente semelhantes.
-
6:36 - 6:39E a minha parte de pesquisa
em educação, então, -
6:39 - 6:43é tentar perceber se isso
pode ser modificado, -
6:43 - 6:46como isso é reproduzido
através da educação -
6:46 - 6:48e como isso pode ser modificado.
-
6:48 - 6:50Eu vou dar um outro exemplo.
-
6:50 - 6:54Normalmente quando eu vou trabalhar
com professores nesses países, -
6:55 - 6:58em diversos países, não só
na Europa e na América do Norte, -
6:58 - 7:00mas também na América Latina,
-
7:00 - 7:03eu sempre faço uma dinâmica
com os professores -
7:03 - 7:07e peço pra eles me responderem
-
7:07 - 7:10como é que eles percebem
os seus contextos sociais, -
7:10 - 7:13como é que eles percebem a sociedade ideal
-
7:13 - 7:15e como se chega de A a B.
-
7:15 - 7:18Normalmente, quando eu pergunto
sobre o contexto ideal, -
7:18 - 7:22não só aqui na América Latina
mas nos outros países também, -
7:22 - 7:26a resposta é relacionada à violência,
à pobreza, ao desemprego, -
7:26 - 7:28abuso de drogas, desafeto e poluição
-
7:28 - 7:33e, mais e mais, a gente tem a depressão
e a ansiedade dentro desse contexto. -
7:34 - 7:36Quando eu pergunto
sobre a sociedade ideal, -
7:36 - 7:40a resposta normalmente
se relaciona a paz, famílias felizes, -
7:40 - 7:42etnias, nacionalidades de mãos dadas,
-
7:42 - 7:45campos verdes cheios de flores.
-
7:45 - 7:47E, quando eu pergunto
como se passa de A a B, -
7:47 - 7:49a resposta, invariavelmente,
-
7:49 - 7:52é a construção do conhecimento
através da educação. -
7:52 - 7:57Então, dentro dessa visão de mundo,
se percebe o problema como a ignorância -
7:57 - 8:02e o conhecimento como algo
que vá abordar essa ignorância -
8:02 - 8:04e levar a gente pra sociedade ideal,
-
8:04 - 8:07e é aí que o mito
do milho amarelo aparece. -
8:08 - 8:12A gente percebe que o milho amarelo
acaba sendo a solução -
8:12 - 8:15para os problemas que são causados
pelo próprio milho amarelo. -
8:16 - 8:21Então, é muito mais difícil perguntar
que tipo de conhecimento leva a relações -
8:21 - 8:23que causam os problemas
que a gente identificou -
8:23 - 8:28e como esse próprio conhecimento limita
como a gente formula os problemas -
8:28 - 8:31e como a gente pode imaginar as respostas.
-
8:31 - 8:33Em outras palavras,
-
8:33 - 8:37a gente acaba tentando responder,
-
8:38 - 8:40abordar os problemas que a gente tem
-
8:40 - 8:44usando o mesmo paradigma de conhecimento
que gerou esses problemas. -
8:44 - 8:48Portanto, as perguntas
que a gente faz em educação, -
8:48 - 8:50no meu grupo de pesquisa, por exemplo,
-
8:50 - 8:53se relacionam a que tipo de conhecimento
-
8:53 - 8:56pode nos levar a perceber
o limite da forma de conhecimento -
8:56 - 8:58que recebemos já nessa história.
-
8:58 - 9:03Será que a educação pode ser usada
pra se pensar genuinamente diferente? -
9:03 - 9:06Que tipo de educação pode nos ajudar
a encarar a complexidade, -
9:06 - 9:09a incerteza, a pluralidade,
a desigualdade, -
9:09 - 9:11de forma que a gente possa
cometer erros novos -
9:11 - 9:14e evitar os recorrentes?
-
9:16 - 9:20Então, em relação a... Ah, está aqui.
-
9:20 - 9:23A gente continua a buscar soluções
do paradigma de conhecimento -
9:23 - 9:25responsável pelos problemas
que a gente quer resolver, -
9:25 - 9:28e isso nos leva a repetir os mesmos erros
-
9:28 - 9:31disfarçados em linguagens
e conteúdos diferentes. -
9:31 - 9:34Então, à minha resposta
às perguntas que eu coloquei, -
9:34 - 9:35a minha resposta-tentativa,
-
9:35 - 9:39é de que não adianta enfocar
naquilo que a gente não imagina -
9:39 - 9:41como extensão do próprio conhecimento.
-
9:41 - 9:45A gente precisa enfocar naquilo
que a gente não consegue imaginar, -
9:45 - 9:47aquilo que a gente não sabe
que a gente não sabe. -
9:48 - 9:53E, pra isso, a gente precisa contemplar
a beirada-limite do nosso conhecimento, -
9:53 - 9:57e isso a escola moderna não ensina.
-
9:57 - 10:01Pra começar a contemplar
a beirada-limite do nosso conhecimento, -
10:01 - 10:05é necessário olhar pra produção
do conhecimento em si -
10:05 - 10:09e, pra começar essa conversa,
eu normalmente uso a metáfora de um bolo. -
10:09 - 10:13No topo do bolo está o que a gente fala,
o que a gente pensa e o que a gente faz. -
10:13 - 10:16A gente é levado a pensar
-
10:16 - 10:19que o que a gente fala,
o que a gente pensa e o que a gente faz -
10:19 - 10:22são coisas que estão interligadas
e que são coerentes, -
10:22 - 10:23mas não funciona bem assim.
-
10:23 - 10:28O que a gente fala, pensa e faz está
ligado à nossa história única e pessoal, -
10:28 - 10:31o que a gente aprende nas nossas
famílias e nos nossos contextos; -
10:31 - 10:33não só o que é consciente,
mas também até inconsciente, -
10:33 - 10:37nossos medos, nossos traumas
e nossas paixões. -
10:37 - 10:41Mas a nossa história única e pessoal
não é só única e pessoal também. -
10:41 - 10:43Ela está ligada na última camada do bolo,
-
10:43 - 10:47que são as referências coletivas
sobre a realidade e sobre o conhecimento -
10:47 - 10:50que a gente herda através da linguagem
e através das nossas culturas, -
10:50 - 10:52e através da nossa história.
-
10:52 - 10:55As escolhas feitas na base do bolo
-
10:55 - 10:59determinam o que vai acontecer
nas camadas acima, do bolo, -
10:59 - 11:01e são escolhas que determinam
o que é desejável, -
11:01 - 11:06as perguntas que podem ser feitas,
como procurar as respostas, -
11:06 - 11:08o que pode ser dito
e o que pode ser negado. -
11:08 - 11:13Como são escolhas, sempre existem
as escolhas que não foram feitas, -
11:13 - 11:17mas, se o nosso conhecimento
se percebe como ilimitado e único, -
11:17 - 11:22a gente vai ter mesmo dificuldade enorme
em imaginar milhos de cores diferentes. -
11:22 - 11:25Mas aqui, a questão não é
substituir o milho amarelo -
11:25 - 11:29pelo milho verde, pelo milho azul,
milho rosa, ou por vários milhos, -
11:29 - 11:33mas é perceber que cada
milho tem seu histórico -
11:33 - 11:38e que a diferença é absolutamente
necessária para a nossa sobrevivência -
11:38 - 11:42porque a gente precisa de formas
diferentes de existir no planeta, -
11:42 - 11:46principalmente quando a forma dominante
pode não ser sustentável -
11:46 - 11:48e levar à destruição.
-
11:48 - 11:51Então, dentro desse contexto,
é importante perceber -
11:51 - 11:55de onde veio esse milho amarelo
e por que ele ficou dominante, -
11:55 - 11:57como é que ele domina a nossa imaginação
-
11:57 - 12:00e, pra isso, é importante pensar
no pensamento cartesiano, -
12:00 - 12:05que faz as divisões entre mente e corpo,
entre razão e emoção, cultura e natureza, -
12:05 - 12:08que determina uma história
de progresso e desenvolvimento -
12:08 - 12:11baseada na ciência e na tecnologia,
-
12:11 - 12:15e que pensa na segurança
como a busca da felicidade constante. -
12:16 - 12:20Então, nesse contexto,
é preciso problematizar -
12:20 - 12:24a racionalidade totalizante que coloca
o homem no centro do mundo, -
12:24 - 12:27e que demanda soluções
simples, empreendedoras, -
12:27 - 12:30e que possam ser
comunicadas em 15 minutos. -
12:31 - 12:36Nesse contexto,
pessoas escolarizadas como eu, -
12:36 - 12:40se a gente foi educado e socializado
no mito do milho amarelo, -
12:40 - 12:43a gente tem uma dificuldade enorme
de lidar com a complexidade, -
12:43 - 12:45com a ambivalência, com a pluralidade,
-
12:45 - 12:48com o conflito, com a incerteza
e com a desigualdade, -
12:48 - 12:52e isso é porque o milho amarelo
continua ditando uma narrativa única -
12:52 - 12:55de progresso e desenvolvimento
e de humanidade. -
12:55 - 12:58Isso pode ser observado também
-
12:58 - 13:03no sonho brasileiro de se adquirir
a vantagem competitiva -
13:03 - 13:07nessa competição mundial
de desenvolvimento econômico, -
13:07 - 13:14a vontade nossa, o sonho, de passar
de terceiro mundo pra primeiro mundo. -
13:14 - 13:17Então, nossa vontade
de jogar esse jogo é tão forte, -
13:17 - 13:21que não sobra tempo pra gente ver
que esse jogo, essa narrativa, -
13:21 - 13:25não trouxe as soluções milagrosas
para os países ditos desenvolvidos. -
13:25 - 13:29Na verdade, é tempo de crises
enormes nesses países, -
13:29 - 13:33crises essas que são necessárias
pra continuação dessa competição -
13:33 - 13:38e que são baseadas no medo
e na negação de outras possibilidades. -
13:38 - 13:42Então, a gente vê a crise lá fora
e continua acreditando, aqui no Brasil, -
13:42 - 13:47na ilusão de que o desenvolvimento
baseado no lucro e no consumo, -
13:47 - 13:50na exploração e na extração,
-
13:50 - 13:55na competitividade e no individualismo
vai trazer a felicidade -
13:55 - 13:59e vai garantir um crescimento
econômico constante. -
14:00 - 14:01Também é interessante perceber
-
14:01 - 14:05que, quando a gente começa
a levantar essas questões em educação, -
14:05 - 14:09mais e mais existe resistência.
-
14:09 - 14:12Então, eu comparo isso
com a questão da alimentação: -
14:12 - 14:14se eu perguntar para os meus alunos
-
14:14 - 14:18se eles preferem algodão-doce
ou brócolis cru sem sal, -
14:18 - 14:23que é melhor pra saúde deles,
eles vão preferir o algodão-doce. -
14:23 - 14:27Se eu perguntar pra eles se eles preferem
uma educação que confirme as suas certezas -
14:27 - 14:31e que traga uma sensação de prazer
ao confirmar essas certezas, -
14:31 - 14:35ou uma educação que questione essas
certezas e que abra mais possibilidades, -
14:35 - 14:39mas que traga um desconforto
inicial temporário, -
14:39 - 14:42meus alunos hoje, tanto aqui quanto lá,
-
14:42 - 14:45estão preferindo
o algodão-doce, o conforto, -
14:45 - 14:49e isso é sinal de uma sociedade
orientada ao narcisismo, -
14:49 - 14:53o que, na minha opinião, é o maior
desafio da educação hoje em dia. -
14:53 - 14:56Então, eu volto
para as perguntas pra concluir. -
14:56 - 14:59Como se educar pra complexidade,
incerteza, pluralidade, -
14:59 - 15:01em um contexto de desigualdade,
-
15:01 - 15:04se a educação moderna
vai na direção oposta? -
15:04 - 15:07Como se educar pra que a gente possa
aprender com os erros e limites -
15:07 - 15:11do milho amarelo, sem jogá-lo fora?
-
15:11 - 15:14E como se educar pra criação
de novas realidades -
15:14 - 15:17onde os mesmos erros
não sejam reproduzidos? -
15:17 - 15:18Muito obrigada.
-
15:18 - 15:20(Aplausos)
- Title:
- Somos mais do que o desconhecido pode definir | Vanessa Andreotti | TEDxUnisinos
- Description:
-
Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx
Pensar e agir fora da caixa. Descobrir oportunidades nas cores que ultrapassam as delimitações dos traços das formas. Vanessa Andreotti pensa assim. Ela é assim. A última palestrante mostrou a importância de transpor as fronteiras territoriais e do conhecimento. “Como a educação pode ser imaginada de forma diferente daquela que é limitada, mas se considera ilimitada nas suas limitações?”, questionou Vanessa, que se dedica ao estudo da cidadania global. A inspiração veio das próprias experiências internacionais e culturais, que vêm de casa: tem origens alemã e indígena e seus filhos possuem passaporte português, por exemplo. A oportunidade de tornar esse seu estudo também seu trabalho apareceu oito anos depois de lecionar em Curitiba e ser contratada pelo Conselho Britânico para coordenar iniciativas de capacitação dos professores da rede pública e estabelecer parcerias com escolas na Inglaterra. Já em terras estrangeiras, se aventurou a explorar as percepções de hierarquias culturais que se reproduzem tanto nas instituições quanto nas relações sociais. Essas hierarquias equalizam o crescimento econômico com a capacidade intelectual: quem nasce em um país mais rico é visto como mais inteligente. A partir daí, passou a explorar como esses pressupostos se reproduzem, principalmente dentro da educação. A grande lição que Vanessa deixou para a plateia fechou com chave de ouro o TEDxUnisinos 2014. “Todo mundo tem o seu histórico, independente das suas origens ou do lugar onde vive. A diversidade, em todos os sentidos, é extremamente importante para a sobrevivência da humanidade”, encerrou.
Titular da Cátedra Canadense de Pesquisa sobre Desigualdades e Mudança Global e professora da Faculdade de Educação, na Universidade da Columbia Britânica, em Vancouver, no Canadá. Formou-se em Letras na Universidade Federal do Paraná e foi professora de ensino médio por sete anos, em Curitiba. Iniciou sua carreira de pesquisadora na área de educação para o desenvolvimento internacional e cidadania global na Inglaterra, trabalhando depois em universidades na Irlanda, Nova Zelândia, Finlândia e Canadá. Baseada em teorias pós-coloniais e pós-estruturalistas, sua linha de pesquisa aborda as políticas de construção do conhecimento e a ética de representações e relações transnacionais que refletem e são refletidas na educação. Presta assessoria a várias entidades governamentais e não governamentais na área de cidadania e responsabilidade global, na qual publicou três livros, vários artigos acadêmicos e textos profissionais. A síntese dos dez primeiros anos de pesquisa foi articulada no livro “Actionable Postcolonial Theory in Education”, publicado em inglês pela Palgrave MacMillan, que recebeu o prêmio de “excelente contribuição aos estudos de currículo” pela divisão de Estudos de Currículo da Associação Americana de Pesquisa Educacional.
- Video Language:
- Portuguese, Brazilian
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 15:23