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Repensando a infidelidade...uma palestra para quem já amou

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    Porque traímos?
  • 0:04 - 0:07
    E porque é que pessoas felizes traem?
  • 0:09 - 0:13
    Quando dizemos "infidelidade,"
    o que queremos realmente dizer?
  • 0:14 - 0:21
    É uma relação sexual, uma história de amor,
    sexo pago, uma conversa online,
  • 0:21 - 0:23
    uma massagem com final feliz?
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    Porque é que achamos que os homens traem
    por aborrecimento e medo de intimidade,
  • 0:30 - 0:35
    mas as mulheres traem devido à solidão
    e desejo de intimidade?
  • 0:36 - 0:40
    Será uma traição sempre
    o fim de uma relação?
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    Nos últimos 10 anos,
    viajei pelo mundo todo,
  • 0:44 - 0:48
    e trabalhei extensivamente
    com centenas de casais
  • 0:48 - 0:50
    destruídos pela infidelidade.
  • 0:51 - 0:55
    Há um simples acto de transgressão
  • 0:55 - 0:59
    que consegue destruir a relação,
  • 0:59 - 1:04
    a felicidade e a até mesmo a identidade
    de um casal: um caso extraconjugal.
  • 1:04 - 1:10
    E no entanto, este acto tão comum
    é muito mal compreendido.
  • 1:11 - 1:15
    Portanto, esta palestra é para
    qualquer pessoa que já tenha amado.
  • 1:18 - 1:22
    O adultério existe desde que
    o casamento foi inventado,
  • 1:22 - 1:24
    bem como o tabu contra o mesmo.
  • 1:25 - 1:31
    Aliás, a infidelidade tem uma tenacidade
    que o casamento só pode invejar,
  • 1:31 - 1:35
    a tal ponto, que é o único mandamento
  • 1:35 - 1:37
    que é repetido na Bíblia duas vezes:
  • 1:38 - 1:42
    uma vez pelo acto, e outra
    apenas por pensar nele.
  • 1:42 - 1:45
    (Risos)
  • 1:45 - 1:49
    Portanto, como é que reconciliamos
    o que é universalmente proibido,
  • 1:49 - 1:52
    e, no entanto, universalmente praticado?
  • 1:53 - 1:58
    Ao longo da História, os homens tiveram
    praticamente uma licença para trair
  • 1:58 - 2:00
    sem grandes consequências,
  • 2:00 - 2:05
    suportada por inúmeras teorias
    biológicas e evolucionistas
  • 2:05 - 2:08
    que justificavam a sua necessidade
    de explorar,
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    portanto, a duplicidade de critérios
    é tão velha quanto o adultério em si.
  • 2:12 - 2:18
    Mas quem é que sabe o que realmente
    se passa debaixo dos lençóis?
  • 2:18 - 2:20
    Porque é que, no que diz respeito a sexo,
  • 2:20 - 2:24
    nos homens há uma pressão
    para se gabarem e exagerarem,
  • 2:24 - 2:30
    mas as mulheres são pressionadas
    a esconder, minimizar e negar,
  • 2:30 - 2:34
    o que não é surpreendente,
    tendo em conta que ainda há nove países
  • 2:34 - 2:37
    onde as mulheres
    podem ser mortas por adultério.
  • 2:38 - 2:43
    A monogamia costumava ser
    estar com uma só pessoa toda a vida.
  • 2:43 - 2:46
    Hoje, monogamia é estar com
    uma pessoa de cada vez.
  • 2:46 - 2:48
    (Risos)
  • 2:48 - 2:51
    (Aplausos)
  • 2:52 - 2:54
    Muitos aqui já devem ter dito:
  • 2:54 - 2:57
    "Sou monógamo
    em todas as minhas relações."
  • 2:57 - 3:00
    (Risos)
  • 3:01 - 3:02
    Nós costumávamos casar,
  • 3:02 - 3:04
    e fazer sexo pela primeira vez.
  • 3:05 - 3:06
    Mas agora, casamo-nos
  • 3:06 - 3:09
    e deixamos de ter sexo com outras pessoas.
  • 3:09 - 3:14
    O facto é que a monogamia
    não tinha nada a ver com amor.
  • 3:14 - 3:17
    Os homens dependiam
    da fidelidade das mulheres
  • 3:17 - 3:20
    para saber de quem eram os filhos,
  • 3:20 - 3:23
    e quem herdaria as vacas,
    quando morressem.
  • 3:24 - 3:27
    Agora, todos querem saber
  • 3:27 - 3:29
    qual é a percentagem de traição.
  • 3:29 - 3:32
    Têm-me perguntado isto
    desde que cheguei a esta conferência.
  • 3:32 - 3:34
    (Risos)
  • 3:34 - 3:37
    Isto aplica-se a vocês.
  • 3:36 - 3:41
    Mas a definição de infidelidade
    continua a expandir-se:
  • 3:41 - 3:46
    sexo por SMS, ver pornografia,
    ser activo em aplicações de encontros.
  • 3:46 - 3:51
    Portanto, por não haver uma
    definição universal consensual
  • 3:51 - 3:54
    do que constitui uma infidelidade,
  • 3:54 - 4:00
    a estimativa varia amplamente,
    de 26% a 75%.
  • 4:01 - 4:04
    Mas para além disso,
    somos contradições ambulantes.
  • 4:04 - 4:08
    Por isso, 95% de nós vão dizer
    que é horrível
  • 4:08 - 4:11
    que o nosso parceiro minta
    em relação a ter um caso,
  • 4:11 - 4:13
    mas quase a mesma quantidade dirá
  • 4:13 - 4:17
    que isso seria exactamente o que fariam
    se tivessem um.
  • 4:18 - 4:19
    (Risos)
  • 4:20 - 4:24
    Bem, eu gosto desta definição
    de caso extraconjugal,
  • 4:24 - 4:27
    ela junta os três elementos-chave:
  • 4:27 - 4:33
    uma relação secreta,
    que é o núcleo estrutural de um caso;
  • 4:33 - 4:38
    uma ligação emocional
    em maior ou menor grau;
  • 4:38 - 4:40
    e uma alquimia sexual.
  • 4:40 - 4:43
    E alquimia, aqui, é a palavra-chave,
  • 4:43 - 4:50
    porque o frisson erótico é tal que
    o beijo que apenas imaginam dar,
  • 4:50 - 4:53
    pode ser tão poderoso e encantador
  • 4:53 - 4:57
    quanto horas de relações sexuais.
  • 4:58 - 5:00
    Como Marcel Proust disse,
  • 5:00 - 5:05
    é a nossa imaginação que é responsável
    pelo amor, não a outra pessoa.
  • 5:06 - 5:10
    Portanto, nunca foi tão fácil trair,
  • 5:10 - 5:13
    e nunca foi tão difícil
    mantê-lo em segredo.
  • 5:14 - 5:19
    Nunca a infidelidade exerceu
    um efeito psicológico tão marcante.
  • 5:20 - 5:23
    Quando o casamento era
    um empreendimento económico,
  • 5:23 - 5:27
    a infidelidade ameaçava
    a nossa segurança económica.
  • 5:27 - 5:30
    Mas agora que o casamento
    é um acordo romântico,
  • 5:30 - 5:34
    a infidelidade ameaça
    a nossa segurança emocional.
  • 5:34 - 5:38
    Ironicamente, costumávamos
    virar-nos para o adultério
  • 5:38 - 5:41
    — esse era o espaço onde
    procurávamos amor puro.
  • 5:41 - 5:44
    Mas agora que procuramos amor
    no casamento,
  • 5:44 - 5:46
    o adultério destrói-o.
  • 5:47 - 5:49
    Penso que, actualmente, há três formas
  • 5:49 - 5:52
    pelas quais a infidelidade,
    hoje, magoa de modo diferente.
  • 5:54 - 6:00
    Temos um ideal romântico,
    no qual contamos com uma pessoa
  • 6:00 - 6:03
    para preencher uma lista infindável
    de necessidades:
  • 6:03 - 6:06
    para ser o melhor amante,
    o melhor amigo,
  • 6:06 - 6:10
    o melhor pai ou mãe, o confidente fiel,
  • 6:10 - 6:13
    o companheiro emocional,
    o par intelectual.
  • 6:14 - 6:18
    E eu sou isso: sou a escolhida, sou única,
  • 6:18 - 6:21
    sou indispensável, sou insubstituível,
  • 6:21 - 6:23
    sou a tal.
  • 6:23 - 6:27
    A infidelidade diz-me que não sou.
  • 6:27 - 6:29
    É a derradeira traição.
  • 6:30 - 6:34
    A infidelidade quebra
    a grande ambição do amor.
  • 6:35 - 6:40
    Mas se ao longo da História,
    a infidelidade sempre foi dolorosa,
  • 6:40 - 6:42
    hoje é, frequentemente, traumática,
  • 6:42 - 6:45
    porque ameaça a nossa própria identidade.
  • 6:45 - 6:49
    O meu paciente, Fernando,
    vive atormentado e diz:
  • 6:49 - 6:51
    "Pensava que conhecia a minha vida.
  • 6:51 - 6:55
    "Pensava que sabia quem eras,
    quem nós éramos como casal, quem eu era.
  • 6:55 - 6:57
    "Agora, questiono tudo."
  • 6:58 - 7:03
    A infidelidade — uma quebra de confiança,
    uma crise de identidade.
  • 7:03 - 7:05
    "Será que consigo voltar a confiar em ti?"
  • 7:05 - 7:08
    "Será que voltarei a confiar em alguém?"
  • 7:09 - 7:12
    Isto é o mesmo que me diz
    a minha paciente Heather,
  • 7:12 - 7:15
    quando me fala da sua história com o Nick.
  • 7:15 - 7:16
    Casados, dois filhos.
  • 7:16 - 7:19
    O Nick acaba de partir
    numa viagem de negócios,
  • 7:19 - 7:22
    e a Heather está a jogar no iPad dele,
    com os filhos,
  • 7:22 - 7:25
    quando vê uma mensagem aparecer no ecrã:
  • 7:25 - 7:27
    "Sinto imenso a tua falta."
  • 7:28 - 7:30
    "Estranho", pensa ela,
    "acabámos de nos ver".
  • 7:31 - 7:33
    Depois outra mensagem:
  • 7:33 - 7:35
    "Mal posso esperar
    para te ter nos meus braços."
  • 7:36 - 7:38
    A Heather apercebe-se
  • 7:38 - 7:40
    que não são para ela.
  • 7:40 - 7:44
    Ela também me conta que
    o seu pai teve casos extraconjugais,
  • 7:44 - 7:48
    mas a mãe dela encontrou
    um pequeno recibo no bolso,
  • 7:48 - 7:51
    e uma mancha de batom
    no colarinho.
  • 7:51 - 7:55
    A Heather começa a procurar
  • 7:55 - 7:58
    e encontra centenas de mensagens,
  • 7:58 - 8:01
    e fotos que foram trocadas,
    e desejos que foram expressos.
  • 8:01 - 8:04
    Detalhes vívidos do caso
    que o Nick mantinha há dois anos
  • 8:04 - 8:08
    revelados à sua frente, em tempo real.
  • 8:08 - 8:10
    Isso fez-me pensar:
  • 8:10 - 8:14
    Casos extraconjugais na era digital
    são como uma morte por mil golpes.
  • 8:16 - 8:19
    Mas depois temos outro paradoxo
    com o qual lidamos nos dias de hoje.
  • 8:19 - 8:21
    Devido a este ideal romântico,
  • 8:21 - 8:27
    confiamos na fidelidade
    do nosso companheiro com um fervor único.
  • 8:27 - 8:31
    No entanto, nunca estivemos
    mais inclinados para trair,
  • 8:31 - 8:33
    não por termos, agora, desejos novos,
  • 8:33 - 8:35
    mas por vivermos numa época
  • 8:35 - 8:39
    em que nos sentimos no direito
    de ir em busca dos nossos desejos,
  • 8:39 - 8:43
    porque esta é a cultura
    em que eu mereço ser feliz.
  • 8:43 - 8:47
    E se nos costumávamos divorciar
    porque éramos infelizes,
  • 8:47 - 8:50
    hoje divorciamo-nos porque
    podíamos ser mais felizes.
  • 8:52 - 8:55
    E se o divórcio estava
    embrenhado de vergonha,
  • 8:55 - 9:00
    hoje, a nova vergonha é
    escolher ficar quando podemos sair.
  • 9:01 - 9:03
    A Heather não pode falar com os amigos
  • 9:03 - 9:07
    porque tem medo que eles a critiquem
    por ela ainda amar o Nick,
  • 9:07 - 9:10
    e para onde quer que se vire,
    ela ouve o mesmo conselho:
  • 9:10 - 9:13
    "Deixa-o. Larga-o de uma vez por todas".
  • 9:14 - 9:19
    Se a situação fosse inversa,
    o Nick estaria na mesma posição.
  • 9:19 - 9:23
    Ficar é a nova vergonha.
  • 9:23 - 9:26
    Portanto, se nos podemos divorciar,
  • 9:26 - 9:29
    porque é que continuamos a trair?
  • 9:30 - 9:35
    Bem, a suposição comum
    é que, se alguém trai,
  • 9:35 - 9:39
    ou há algo de errado com a relação,
    ou há algo de errado contigo.
  • 9:39 - 9:43
    Mas milhões de pessoas não podem
    ser todas elas casos patológicos.
  • 9:44 - 9:48
    A lógica é a seguinte: Se tens
    tudo o que precisas em casa,
  • 9:48 - 9:52
    então não há necessidade
    de procurar noutro sítio,
  • 9:52 - 9:55
    assumindo que existe algo
    como um casamento perfeito
  • 9:55 - 9:58
    para nos inocular contra estas aventuras.
  • 9:59 - 10:03
    Mas e se a paixão tiver
    um prazo de validade?
  • 10:04 - 10:07
    E se houver coisas que
    até uma boa relação
  • 10:07 - 10:09
    não consegue proporcionar?
  • 10:10 - 10:13
    Se até as pessoas felizes traem,
  • 10:13 - 10:15
    de que é que se trata?
  • 10:17 - 10:20
    A maioria das pessoas com quem trabalho
  • 10:20 - 10:23
    não são, de todo, alcovistas crónicos.
  • 10:23 - 10:27
    São pessoas que são, normalmente,
    profundamente monógamas nas suas crenças,
  • 10:27 - 10:29
    pelo menos para o seu parceiro.
  • 10:29 - 10:32
    Mas encontram-se num conflito
  • 10:32 - 10:35
    entre os seus valores e
    o seu comportamento.
  • 10:36 - 10:40
    São, normalmente, pessoas
    que até foram fiéis durante décadas,
  • 10:40 - 10:43
    mas um dia, pisam o risco
  • 10:43 - 10:45
    que pensavam nunca vir a pisar,
  • 10:45 - 10:48
    correndo o risco de perder tudo.
  • 10:49 - 10:51
    Mas para vislumbrar o quê?
  • 10:52 - 10:55
    Casos extraconjugais
    são um acto de traição,
  • 10:55 - 10:58
    e uma expressão de desejo e perda.
  • 10:59 - 11:03
    No centro de um caso extraconjugal,
    costumamos encontrar
  • 11:03 - 11:07
    um desejo e anseio
    por uma ligação emocional,
  • 11:07 - 11:13
    por algo novo, liberdade,
    autonomia, intensidade sexual,
  • 11:13 - 11:16
    um desejo de recapturar
    partes perdidas de nós próprios
  • 11:16 - 11:22
    ou uma tentativa de restabelecer
    a vitalidade face à perda e tragédia.
  • 11:23 - 11:26
    Estou a pensar noutra
    das minhas pacientes, a Priya,
  • 11:26 - 11:28
    que está num casamento feliz,
  • 11:28 - 11:31
    ama o marido,
  • 11:31 - 11:33
    e nunca quereria magoá-lo.
  • 11:33 - 11:35
    Mas ela também me diz
  • 11:35 - 11:38
    que sempre fez o que era esperado dela;
  • 11:38 - 11:42
    boa rapariga, boa mulher, boa mãe,
  • 11:42 - 11:45
    cuida dos pais, que são imigrantes.
  • 11:45 - 11:49
    A Priya apaixonou-se pelo jardineiro
    que removeu a árvore do seu jardim
  • 11:49 - 11:51
    depois do furacão Sandy.
  • 11:52 - 11:56
    Com o seu camião e as suas tatuagens,
    ele é o oposto dela.
  • 11:58 - 12:03
    Mas aos 47 anos, este caso tem a ver
    com a adolescência que a Priya nunca teve.
  • 12:04 - 12:09
    A história dela, para mim, realça que
    quando procuramos o olhar de outro,
  • 12:09 - 12:14
    não é necessariamente do nosso parceiro
    que nos estamos a afastar,
  • 12:14 - 12:17
    mas da pessoa na qual nos tornámos.
  • 12:18 - 12:21
    E não é tanto estarmos à procura
    de outra pessoa,
  • 12:21 - 12:25
    mas sim estarmos à procura
    de outra versão de nós próprios.
  • 12:27 - 12:29
    No mundo inteiro,
  • 12:29 - 12:33
    há uma palavra que ouço sempre
    de quem tem casos extraconjugais.
  • 12:33 - 12:35
    Elas sentem-se vivas.
  • 12:36 - 12:40
    E elas contam-me, frequentemente,
    histórias de perdas recentes
  • 12:40 - 12:42
    — a morte de um dos pais,
  • 12:42 - 12:45
    um amigo que morreu demasiado cedo,
  • 12:45 - 12:47
    e más notícias do médico.
  • 12:47 - 12:52
    A morte e a mortalidade vivem, normalmente,
    na sombra do caso extraconjugal,
  • 12:52 - 12:55
    porque levantam questões.
  • 12:55 - 12:58
    É só isto? Haverá mais para além disto?
  • 12:59 - 13:01
    Vou passar os próximos 25 anos assim?
  • 13:02 - 13:05
    Será que vou sentir aquilo outra vez?
  • 13:06 - 13:10
    E leva-me a pensar que, se calhar,
  • 13:10 - 13:14
    são estas questões o que levam
    as pessoas a passar o risco,
  • 13:14 - 13:18
    e que alguns casos são uma tentativa
    de passar a perna à mortalidade,
  • 13:18 - 13:20
    como que um antídoto para a morte.
  • 13:22 - 13:25
    Contrariamente ao que possam pensar,
  • 13:25 - 13:30
    ter um caso tem menos a ver
    com sexo do que com desejo:
  • 13:30 - 13:34
    desejo de atenção,
    desejo de nos sentirmos especiais,
  • 13:34 - 13:36
    desejo de nos sentirmos importantes.
  • 13:36 - 13:39
    A própria estrutura de um caso,
  • 13:39 - 13:42
    o facto de nunca se poder ter o amante,
  • 13:42 - 13:43
    mantém essa necessidade.
  • 13:43 - 13:47
    Acaba por ser uma máquina de desejo,
  • 13:47 - 13:49
    porque a incompletude, a ambiguidade,
  • 13:49 - 13:52
    faz-nos querer o que não podemos ter.
  • 13:54 - 13:55
    Alguns de vocês devem pensar
  • 13:55 - 13:59
    que casos extraconjugais
    não acontecem em relações abertas,
  • 13:59 - 14:00
    mas acontecem.
  • 14:00 - 14:04
    Primeiro que tudo, a conversa
    sobre monogamia não é a mesma
  • 14:04 - 14:06
    que a conversa sobre infidelidade.
  • 14:06 - 14:10
    Mas a verdade é que,
    mesmo quando temos
  • 14:10 - 14:13
    liberdade para ter outro parceiro sexual,
  • 14:13 - 14:17
    parece que continuamos a ser atraídos
    pelo poder do que é proibido,
  • 14:17 - 14:20
    que se fizermos o que não devíamos,
  • 14:20 - 14:24
    acabamos por sentir que
    estamos a fazer o que queremos.
  • 14:25 - 14:29
    Eu também já disse a muitos
    dos meus pacientes
  • 14:29 - 14:34
    que, se pudessem trazer
    para as suas relações
  • 14:34 - 14:37
    um décimo da ousadia,
    imaginação e entusiasmo
  • 14:37 - 14:39
    que colocam nas suas aventuras,
  • 14:39 - 14:42
    provavelmente não precisavam
    da minha ajuda.
  • 14:42 - 14:43
    (Risos)
  • 14:44 - 14:48
    Então como é que nos curamos
    de uma traição?
  • 14:48 - 14:51
    O desejo é profundo.
  • 14:51 - 14:53
    A traição é profunda.
  • 14:53 - 14:55
    Mas pode ser curada.
  • 14:56 - 14:59
    Alguns casos extraconjugais
    são uma sentença de morte
  • 14:59 - 15:03
    para relações que já estavam a morrer.
  • 15:03 - 15:06
    Mas outros despertam novas possibilidades.
  • 15:06 - 15:08
    A verdade é que a maioria dos casais
  • 15:08 - 15:11
    que vivenciaram traições continuam juntos.
  • 15:11 - 15:13
    Mas alguns irão apenas sobreviver,
  • 15:13 - 15:18
    e outros conseguirão transformar
    essa crise numa oportunidade.
  • 15:19 - 15:23
    Conseguirão transformá-la
    numa experiência geradora.
  • 15:23 - 15:26
    Penso que, principalmente
    para o parceiro traído,
  • 15:26 - 15:28
    que normalmente dirá:
  • 15:28 - 15:30
    "Achas que eu não queria mais?
  • 15:30 - 15:32
    "No entanto, não fui eu quem o fez."
  • 15:32 - 15:34
    Mas agora que a traição está exposta,
  • 15:34 - 15:36
    eles também podem exigir mais,
  • 15:36 - 15:39
    e já não têm de manter o status quo
  • 15:39 - 15:42
    que podia nem estar a funcionar
    assim tão bem para eles.
  • 15:44 - 15:47
    Reparei que muitos casais,
  • 15:47 - 15:50
    no rescaldo de um caso extraconjugal,
  • 15:50 - 15:54
    devido à nova desordem que
    pode levar a uma nova ordem,
  • 15:54 - 15:57
    vão conseguir conversar
    de forma honesta e aberta
  • 15:57 - 15:59
    como não faziam há décadas.
  • 16:00 - 16:03
    E parceiros que estavam
    sexualmente indiferentes
  • 16:03 - 16:05
    de repente sentem-se
    tão vorazes de luxúria,
  • 16:05 - 16:08
    mas não sabem de onde isso vem.
  • 16:09 - 16:13
    Algo sobre o medo da perda
    reacende o desejo,
  • 16:13 - 16:16
    e abre caminho para
    todo um novo tipo de verdade.
  • 16:18 - 16:21
    Portanto, quando uma traição é exposta,
  • 16:21 - 16:25
    quais são algumas das coisas que
    os casais podem fazer?
  • 16:26 - 16:31
    Sabemos que a cura começa,
    depois do trauma,
  • 16:31 - 16:35
    quando o infrator reconhece os seus erros.
  • 16:35 - 16:39
    Então, para o parceiro que teve o caso,
  • 16:39 - 16:41
    para o Nick,
  • 16:41 - 16:43
    uma coisa é acabar com o caso,
  • 16:43 - 16:49
    mas outra é o ato essencial
    de expressar culpa e remorsos
  • 16:49 - 16:51
    por magoar a sua mulher.
  • 16:51 - 16:53
    Mas a verdade é que reparei
  • 16:53 - 16:55
    que muitas das pessoas que traem
  • 16:55 - 16:59
    podem até sentir-se muito culpadas
    por magoarem os seus parceiros,
  • 16:59 - 17:02
    no entanto, não se sentem culpadas
    pelo caso extraconjugal em si.
  • 17:02 - 17:05
    Essa distinção é importante.
  • 17:05 - 17:09
    O Nick, precisa de ser
    o vigilante da relação.
  • 17:09 - 17:12
    Precisa de ser, durante uns tempos,
    o protector dos limites.
  • 17:12 - 17:15
    É da sua responsabilidade falar,
  • 17:15 - 17:17
    porque, se ele pensar no assunto,
  • 17:17 - 17:20
    pode aliviar a Heather dessa obsessão,
  • 17:20 - 17:23
    e assegurar que o caso não foi esquecido.
  • 17:23 - 17:27
    Isso por si só
    começa a restaurar a confiança.
  • 17:28 - 17:29
    Mas para a Heather,
  • 17:29 - 17:31
    ou para o parceiro traído,
  • 17:31 - 17:37
    é essencial fazer coisas
    que restituam a sua autoestima,
  • 17:37 - 17:41
    rodear-se de amor, amigos e actividades
  • 17:41 - 17:44
    que lhe devolvam a alegria,
    o sentido e a identidade.
  • 17:44 - 17:47
    Mas ainda mais importante,
  • 17:47 - 17:51
    é controlar a curiosidade
    de procurar detalhes sórdidos.
  • 17:51 - 17:53
    "Onde estiveste? Onde é que o fizeste?
  • 17:53 - 17:56
    "Com que frequência?
    Ela é melhor que eu na cama?"
  • 17:56 - 17:59
    São perguntas que apenas causam mais dor,
  • 17:59 - 18:01
    e nos mantêm acordados à noite.
  • 18:01 - 18:05
    Em vez disso, mudem para o que chamo
    "perguntas de investigação",
  • 18:05 - 18:09
    as que exploram o significado e motivos
  • 18:09 - 18:11
    "O que é que este caso significou para ti?"
  • 18:11 - 18:14
    "Foste capaz de expressar
    ou de experienciar nele
  • 18:14 - 18:16
    "o que já não conseguias comigo?"
  • 18:16 - 18:19
    "O que sentias quando chegavas a casa?"
  • 18:19 - 18:23
    "O que é que valorizas na nossa relação?"
  • 18:23 - 18:25
    "Agrada-te que isto tenha acabado?"
  • 18:26 - 18:31
    Qualquer traição vai redefinir a relação,
  • 18:31 - 18:34
    e cada casal vai determinar
  • 18:34 - 18:37
    qual vai ser o legado dessa traição.
  • 18:38 - 18:42
    Mas as traições chegaram para ficar,
    e não vão desaparecer.
  • 18:42 - 18:45
    Os dilemas do amor e desejo,
  • 18:45 - 18:51
    não produzem respostas simples
    de preto e branco, de bom e mau,
  • 18:51 - 18:53
    de vítima e infractor.
  • 18:54 - 18:58
    A traição numa relação
    aparece de muitas formas.
  • 18:58 - 19:01
    Há muitas maneiras de trair um parceiro:
  • 19:01 - 19:03
    com desprezo, negligência,
  • 19:03 - 19:06
    indiferença, violência.
  • 19:06 - 19:10
    Traição sexual é apenas uma das maneiras
    de magoar um parceiro.
  • 19:10 - 19:12
    Por outras palavras, a vítima de um caso
  • 19:12 - 19:16
    nem sempre é a vítima do casamento.
  • 19:18 - 19:20
    Agora, vocês já me ouviram,
  • 19:20 - 19:23
    e sei o que devem estar a pensar:
  • 19:23 - 19:27
    Ela tem um sotaque francês,
    deve ser a favor de se ter um caso.
  • 19:27 - 19:30
    (Risos)
  • 19:32 - 19:33
    Bem, estão errados.
  • 19:34 - 19:36
    Não sou francesa.
  • 19:36 - 19:38
    (Risos)
  • 19:38 - 19:41
    (Aplausos)
  • 19:42 - 19:44
    Nem sou a favor de se ter um caso.
  • 19:45 - 19:49
    Mas, como acho que algo bom
    pode surgir de um caso extraconjugal,
  • 19:49 - 19:52
    fazem-me, muitas vezes,
    esta pergunta estranha:
  • 19:53 - 19:55
    Eu recomendá-lo-ia?
  • 19:56 - 19:59
    Bem, eu não recomendaria
    ter um caso extraconjugal
  • 19:59 - 20:01
    tal como não recomendaria ter cancro.
  • 20:01 - 20:05
    No entanto, sabemos que pessoas
    que estiveram doentes
  • 20:05 - 20:08
    muitas vezes contam como a sua doença
    lhes deu uma nova perspectiva.
  • 20:09 - 20:12
    A principal pergunta que me têm feito
    desde que cheguei a esta conferência
  • 20:12 - 20:16
    e disse que ia falar de infidelidade é:
    a favor ou contra?
  • 20:16 - 20:19
    Eu digo: "Sim."
  • 20:18 - 20:21
    (Risos)
  • 20:22 - 20:26
    Eu vejo casos extraconjugais
    de uma perspectiva dupla:
  • 20:26 - 20:29
    por um lado, mágoa e traição,
  • 20:29 - 20:32
    por outro, crescimento e autodescoberta
  • 20:32 - 20:36
    — o que te fez a ti,
    e o que significou para mim.
  • 20:37 - 20:41
    Então, quando um casal vem tem comigo
    no rescaldo de um caso extraconjugal
  • 20:41 - 20:43
    que foi revelado,
  • 20:43 - 20:45
    costumo dizer-lhes:
  • 20:45 - 20:49
    Nos tempos que correm, no Ocidente,
  • 20:49 - 20:53
    a maioria de nós vai ter
    duas ou três relações
  • 20:53 - 20:55
    ou casamentos,
  • 20:55 - 20:58
    e, para alguns, serão com a mesma pessoa.
  • 20:59 - 21:01
    O vosso primeiro casamento acabou.
  • 21:02 - 21:05
    Gostariam de criar um segundo, juntos?
  • 21:05 - 21:07
    Obrigada.
  • 21:07 - 21:10
    (Aplausos)
Title:
Repensando a infidelidade...uma palestra para quem já amou
Speaker:
Esther Perel
Description:

A infidelidade é a derradeira traição. Mas terá mesmo que ser? A terapeuta Esther Perel, especialista em relações conjugais, examina o porquê de as pessoas traírem, e revela porque é que um caso extraconjugal é tão traumático: por ameaçar a nossa segurança emocional. Ela encontra na infidelidade algo inesperado — uma expressão de desejo e perda. Uma comunicação obrigatória para quem já traiu ou foi traído, ou para quem simplesmente quer um novo enquadramento para compreender relações.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
21:31

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