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Assistência médica: a humanidade acima da burocracia | Jos de Blok | TEDxGeneva

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    Eu tive uma vida normal até os 20 anos.
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    Era um bom aluno
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    e estudei Economia.
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    Então, fiz uma escolha radical.
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    Tornei-me um enfermeiro.
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    Tenho minhas asas,
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    mas, como enfermeiro homem,
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    como podem perceber,
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    trabalhei o resto da vida
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    com muitas mulheres,
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    e vi isso como algo positivo.
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    Aprendi muito.
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    Trabalhei por anos em um hospital,
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    e depois como enfermeiro distrital
    em uma comunidade.
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    Essa foi a parte
    mais bonita da minha vida,
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    pois aprendi a lidar com todo tipo
    de problemas na comunidade.
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    Eu tinha amigos na mesma vila
    em que eu trabalhava
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    e, juntos, resolvíamos
    todos os problemas que apareciam.
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    Não havia uma organização grande,
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    era só um grupo de enfermeiros
    que organizavam o trabalho sozinhos.
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    Cuidávamos de pacientes
    em estado terminal,
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    pacientes com demência,
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    pessoas que recebiam alta dos hospitais,
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    e havia grande variedade de atividades.
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    Também cuidávamos de crianças.
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    Era o emprego mais saudável de se ter.
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    Criamos sistemas de suporte na comunidade.
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    Era um trabalho inspirador,
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    e eu gostava muito dele até que, em 1993,
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    aconteceu um desastre na Holanda;
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    os políticos decidiram
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    tornar a assistência médica
    comunitária mais profissional.
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    Isso significa
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    que deveria se tornar parte
    de uma organização maior
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    administrada por gestores
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    e organizada não focando
    as soluções para pessoas,
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    mas sim fornecendo produtos.
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    Para os enfermeiros parecia assim:
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    em vez de ajudar pacientes,
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    eles tinham que pensar:
    "Quais produtos devo fornecer?"
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    Tínhamos assistência pessoal,
    normal, extra e especial;
  • 2:36 - 2:41
    auxílio de enfermagem,
    normal, extra e especial.
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    Os enfermeiros ficaram
    perturbados pensando:
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    "Que atividade devo fazer
    e como codificar isso?"
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    Porque havia muitos códigos.
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    Para os pacientes, o desastre foi maior,
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    porque para cada tarefa
    havia alguém diferente,
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    às vezes havia pessoas com demência
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    que recebiam atendimento
    de 30 a 40 pessoas em um mês.
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    Imagine que a cada vez tinham
    que contar de novo sua situação
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    e como queriam viver?
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    Enfermeiros e pacientes
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    estavam muito insatisfeitos
    com o avanço das coisas.
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    Ao mesmo tempo,
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    as organizações de saúde
    cada vez mais se pareciam com fábricas.
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    E vejo isso acontecer em muitos países.
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    Víamos que todas as coisas
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    desenvolvidas nas indústrias e empresas
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    também ocorriam nas organizações,
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    e que cada vez mais
    gestores assumiam essa profissão.
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    Vimos que nas organizações havia
    cada vez mais níveis de gestão:
  • 3:55 - 3:59
    um CEO, diretores, gestores,
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    e eles quase se esqueciam
    que eram empregados.
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    Isso pode ser feito de outra forma,
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    como se vê no outro lado do slide.
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    As consequências foram diferentes
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    do esperado pelos políticos.
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    Eles esperavam que, com essa organização,
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    os custos diminuiriam
    e a qualidade cresceria.
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    Também tiveram incentivos de mercado.
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    Mas vimos que o oposto aconteceu.
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    A qualidade caiu drasticamente,
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    por ter tantas pessoas
    envolvidas com cada paciente,
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    e os custos dobraram em dez anos.
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    A suposição dos políticos estava errada.
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    Mas vimos que quem nos pagava
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    estava ainda mais focado na eficiência.
  • 4:53 - 4:59
    Por exemplo, se o enfermeiro levasse
    dez minutos a mais pra chegar ao paciente,
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    tinha de se explicar ao gestor.
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    Em 2006, eu e alguns amigos vimos
    que era hora de mudar.
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    Fui diretor por alguns anos
    em algumas organizações,
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    e vi que era possível fazer
    de um jeito diferente.
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    Nossa ideia era mudar
    a assistência médica na Holanda
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    e começar um movimento para mostrar
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    que o auxílio ao idoso poderia melhorar,
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    baseado em confiança
    e em auto-organização.
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    Trabalhei esses princípios nos anos 80,
  • 5:35 - 5:40
    e assumimos eles como base
    para nossa organização.
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    De 4 enfermeiros em 2007,
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    crescemos para 9 mil em 2015.
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    E isso simplesmente aconteceu.
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    O primeiro ano, 2007,
    foi como um experimento.
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    Começamos em dez lugares,
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    e sempre acontecia o mesmo:
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    havia enfermeiros que tinham
    criado contatos com a comunidade;
  • 6:04 - 6:08
    eles começavam a trabalhar de novo
    com os mesmos princípios dos anos 80,
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    e, dentro de alguns meses,
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    tinham seus pacientes,
    e cobriam seus custos.
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    Então não havia problemas financeiros.
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    Desde 2008,
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    tivemos 10, 20 equipes por mês,
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    e sempre acontecia o mesmo.
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    Me chamavam para ir
    à casa de um dos enfermeiros,
  • 6:31 - 6:34
    e conversávamos a noite toda
    sobre nossa profissão.
  • 6:34 - 6:36
    O que significa ajudar pessoas?
  • 6:36 - 6:38
    Como fazer isso do nosso jeito
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    e não ser incomodado por regulamentos?
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    Fazíamos isso e, na noite seguinte,
  • 6:47 - 6:50
    eu recebia uma ligação
    de um dos enfermeiros,
  • 6:50 - 6:53
    que dizia: "Quando começamos?"
  • 6:53 - 6:56
    Então iniciávamos uma nova equipe
    em um novo bairro,
  • 6:56 - 7:01
    focando nos pacientes, como era antes.
  • 7:01 - 7:07
    Tudo aconteceu muito rápido,
  • 7:07 - 7:12
    e não tivemos problemas para administrar,
    pois os enfermeiros se autogeriam.
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    Tínhamos um escritório pequeno,
    e ainda temos, com 30 pessoas.
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    Minha esposa e eu somos
    como uma equipe de gestão,
  • 7:21 - 7:27
    mas não temos reuniões,
    e tudo está indo bem.
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    Minha esposa acorda cedo, às 6 da manhã,
  • 7:31 - 7:36
    e me diz o que fazer, como toda esposa
    faz com seu marido, eu acho.
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    É assim que estamos gerenciando.
  • 7:40 - 7:45
    Assim, temos muito tempo
    para resolver problemas.
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    No outro trabalho, eu tinha
    reuniões da manhã até à noite,
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    e não havia tempo para resolver problemas.
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    Isso é bem diferente.
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    Em 2015, ainda não temos gerência.
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    Houve muita crítica, quando começamos.
  • 8:05 - 8:09
    Disseram: "Sim, é fácil fazer isso
    quando estão em poucos".
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    Disseram:
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    "Espere, talvez ano que vem eles quebrem
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    ou tenham problemas financeiros".
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    Mas o oposto aconteceu
  • 8:22 - 8:27
    porque o que se viu foi que as equipes
    estavam cada vez mais no controle
  • 8:27 - 8:30
    e ensinavam muitas soluções
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    que encontravam para sanar problemas.
  • 8:33 - 8:36
    O conhecimento crescia nas equipes,
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    e elas se tornaram
    cada vez mais sustentáveis.
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    Ainda evitamos qualquer burocracia.
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    Construímos um sistema de TI
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    que previne toda a burocracia
    no trabalho dos enfermeiros.
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    Toda a burocracia foi deixada de fora.
  • 8:54 - 8:58
    Separamos o processo
    administrativo do profissional
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    para que os enfermeiros focassem
    no que tinham que fazer,
  • 9:03 - 9:05
    que é cuidar de pacientes,
  • 9:05 - 9:09
    encontrar soluções para pacientes
    que têm problemas severos.
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    Em 2015, se olharmos para trás,
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    podemos dizer que, desde o começo,
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    temos a maior taxa da Holanda
    de satisfação de clientes.
  • 9:19 - 9:23
    E algo muito importante
    para os criadores de políticas,
  • 9:23 - 9:28
    em vez de termos
    mais gastos, ou mais horas,
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    pois trabalhamos com enfermeiros
    com excelente formação,
  • 9:32 - 9:35
    os custos caíram 40%.
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    Ontem à noite,
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    o Parlamento da Holanda debatia
    os enfermeiros distritais,
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    a posição desses enfermeiros
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    no futuro da Holanda.
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    E disseram: "Esse movimento
    deveria se espalhar pela Holanda,
  • 9:53 - 9:54
    e queremos apoiar isso".
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    Todos os partidos políticos concordaram.
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    Ao mesmo tempo, nos tornamos
    os melhores empregadores do ano,
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    três vezes seguidas.
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    Só por não fazer nada.
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    Não temos um departamento de RH,
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    então não...
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    então ao não fazer nada, e fazer menos,
    os resultados são melhores.
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    Todas essas ideias de gestão
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    sobre controlar e comandar pessoas,
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    são apenas, na minha opinião, destrutivas.
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    Deixando as pessoas organizarem
    o trabalho sozinhas,
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    conseguimos resultados melhores
    e elas ficam mais felizes
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    porque podem fazer o que querem.
  • 10:33 - 10:35
    E parece lógico,
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    mas dificultamos o trabalho
    em muitos lugares,
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    nas escolas, na polícia.
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    Isso não aconteceu só na Holanda.
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    Há muitos países com o mesmo problema,
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    e recebemos perguntas dos EUA,
  • 10:53 - 10:58
    do Japão, Suécia, China,
    República Tcheca e outros.
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    Eu visitei 30 países,
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    e em todos eles conheci
    enfermeiros com ideias iguais.
  • 11:04 - 11:05
    Começamos o mesmo movimento.
  • 11:05 - 11:08
    Só com alguns enfermeiros, é o suficiente.
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    Então você mostra que é possível.
  • 11:10 - 11:15
    Você vê que outras pessoas ficam curiosas.
  • 11:15 - 11:19
    E dizem: "Nunca pensamos que isso
    seria possível no nosso sistema,
  • 11:19 - 11:22
    pois ele é tão complexo".
  • 11:22 - 11:25
    Também criamos uma teoria para isso.
  • 11:25 - 11:28
    É a teoria da simplificação da integração.
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    Faça as coisas simples, não complexas.
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    Com isso, consequentemente,
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    será mais fácil as pessoas
    assumirem as responsabilidades delas,
  • 11:39 - 11:44
    e pensarem no que fazer
    para resolver problemas.
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    Creio que assistência médica é confiança.
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    Nunca conheci um enfermeiro
    que não dava o seu melhor.
  • 11:52 - 11:54
    Podem confiar nos enfermeiros.
  • 11:54 - 11:56
    Trata-se relacionamentos significativos,
  • 11:56 - 12:00
    uns com os outros, mas também
    entre enfermeiros e pacientes, claro.
  • 12:00 - 12:01
    E trata-se de empatia.
  • 12:01 - 12:05
    Entender as preocupações das pessoas
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    e tentar fazer algo positivo com isso.
  • 12:08 - 12:11
    Na minha opinião, deveríamos
  • 12:12 - 12:15
    recuperar a alma nas organizações
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    e deixar de lado a complexidade.
  • 12:19 - 12:20
    Muito obrigado.
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    (Aplausos)
Title:
Assistência médica: a humanidade acima da burocracia | Jos de Blok | TEDxGeneva
Description:

Nesta palestra TEDx, um enfermeiro mostra como ele ajuda a simplificar estruturas organizacionais na assistência médica. Ele explica como encorajando a confiança e integrando a simplificação se oferece muito mais à sociedade do que organizações burocráticas e piramidais, deixando o dia de trabalho mais significativo e sustentável.

Em 2014 Jos de Blok recebeu a Medalha Albert da Royal Society of Arts pelo seu trabalho como fundador da Buurtzorg, um modelo novo e transformador de assistência médica voltada ao paciente, focado em facilitar e manter a independência e autonomia.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
12:38

Portuguese, Brazilian subtitles

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