Como encontrei um mítico rio fervente na Amazónia
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0:01 - 0:03Quando eu era miúdo, em Lima,
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0:03 - 0:05o meu avô contou-me uma lenda
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0:05 - 0:07da conquista espanhola do Peru.
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0:08 - 0:12Atahualpa, o imperador dos incas,
tinha sido capturado e morto. -
0:12 - 0:15Pizarro e os seus conquistadores
enriqueceram -
0:15 - 0:18e a fama da sua conquista e glória
chegara a Espanha -
0:18 - 0:23e provocava novas vagas de espanhóis,
sedentos de ouro e de glória. -
0:24 - 0:27Chegavam às cidades
e perguntavam aos incas: -
0:27 - 0:30"Onde há outra civilização
que podemos conquistar? -
0:30 - 0:31"Onde há mais ouro?"
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0:31 - 0:34E os incas, por vingança, diziam-lhes:
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0:35 - 0:36"Vão à Amazónia.
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0:37 - 0:40"Encontram lá todo o ouro que quiserem.
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0:40 - 0:44Há uma cidade chamada Paititi
— em espanhol, El Dorado — -
0:44 - 0:47"toda feita de ouro".
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0:47 - 0:49Os espanhóis embrenhavam-se na selva,
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0:49 - 0:53mas os poucos que regressavam
contavam histórias, -
0:54 - 0:58histórias de poderosos xamãs,
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0:58 - 1:01de guerreiros com setas envenenadas,
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1:01 - 1:05de árvores tão altas que tapavam o sol,
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1:05 - 1:09de aranhas que comiam pássaros,
de cobras que engoliam homens inteiros -
1:09 - 1:12e de um rio que fervia.
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1:14 - 1:17Tudo isto ficou na minha memória
de criança e os anos passaram. -
1:17 - 1:20Estou a fazer o meu doutoramento
na Universidade Metodista Meridional, -
1:20 - 1:24tentando compreender
a energia geotérmica potencial do Chile, -
1:24 - 1:25e lembrei-me desta lenda.
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1:26 - 1:28Comecei a pensar nesta pergunta:
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1:28 - 1:32"Será que o rio fervente existe?"
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1:32 - 1:35Perguntei a colegas das universidades,
ao governo, -
1:35 - 1:38às empresas petrolíferas,
empresas de gás e de minas, -
1:38 - 1:40e a resposta foi um não unânime.
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1:41 - 1:43E fazia sentido.
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1:43 - 1:46Há rios ferventes no mundo,
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1:46 - 1:49mas, geralmente,
estão associados a vulcões. -
1:49 - 1:51É preciso uma poderosa fonte de energia
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1:51 - 1:54para produzir uma manifestação geotérmica
de tão grande escala. -
1:54 - 1:59Como podemos ver aqui,
pelos pontos vermelhos, que são vulcões, -
1:59 - 2:02não temos vulcões na Amazónia,
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2:02 - 2:04nem na maior parte do Peru.
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2:04 - 2:08Portanto, não é de esperar ver
um rio fervente. -
2:10 - 2:14Quando contei esta história
ao jantar, com a família, -
2:14 - 2:16a minha tia diz-me:
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2:16 - 2:20"Não, Andrés, eu estive lá,
já nadei nesse rio". -
2:21 - 2:24(Risos)
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2:25 - 2:27Depois, o meu tio intervém:
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2:27 - 2:29"Não, Andrés, ela não está a brincar,
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2:29 - 2:33"Só podemos nadar nele,
depois duma grande chuvada. -
2:33 - 2:37"Ele está protegido por um poderoso xamã.
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2:37 - 2:39"A tua tia é amiga da mulher dele".
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2:39 - 2:41(Risos)
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2:41 - 2:42"Como?"
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2:42 - 2:45Apesar de todo o meu ceticismo científico,
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2:45 - 2:49encontrei-me a caminho da selva,
guiado pela minha tia, -
2:49 - 2:53a mais de 700 km
do centro vulcânico mais próximo. -
2:53 - 2:57Para ser franco,
estava a preparar-me mentalmente -
2:57 - 3:01para observar a lendária
"corrente quente da Amazónia". -
3:03 - 3:04Mas, então...
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3:04 - 3:06ouvi qualquer coisa,
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3:07 - 3:09um ímpeto surdo
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3:10 - 3:13que se tornava cada vez mais forte
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3:14 - 3:16à medida que nos aproximávamos.
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3:16 - 3:20Parecia o som das ondas do oceano,
num rebentar constante. -
3:20 - 3:25Quando nos aproximávamos, vi fumo,
vapor, a subir por entre as árvores. -
3:25 - 3:28E então, vi isto.
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3:30 - 3:32Agarrei imediatamente no termómetro,
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3:32 - 3:36e as temperaturas médias do rio
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3:36 - 3:38eram de 86º centígrados.
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3:40 - 3:43Não são propriamente
os 100º C da água a ferver, -
3:43 - 3:47mas andavam muito perto.
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3:46 - 3:50O rio corria quente e rápido.
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3:50 - 3:54Segui pelo rio acima e fui guiado
pelo aprendiz do xamã -
3:54 - 3:56até ao local mais sagrado do rio.
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3:56 - 3:57E, coisa mais estranha,
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3:57 - 4:00na nascente é uma corrente fria.
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4:00 - 4:02Aqui, neste local,
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4:02 - 4:05é a terra de Yacumama, a "mãe da água",
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4:05 - 4:08um gigantesco espírito de serpente
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4:08 - 4:10que dá à luz água quente e água fria.
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4:10 - 4:15Encontramos aqui uma nascente quente,
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4:15 - 4:17misturando-se com a água da corrente fria
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4:17 - 4:20por baixo das suas maxilas
maternais protetoras. -
4:20 - 4:23dando assim vida às lendas.
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4:24 - 4:26Na manhã seguinte, acordei...
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4:26 - 4:28(Risos)
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4:29 - 4:30... e pedi um chá.
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4:31 - 4:33Deram-me uma caneca, um saquinho de chá
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4:33 - 4:35e apontaram para o rio.
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4:36 - 4:41Para minha surpresa, a água era limpa
e tinha um sabor agradável, -
4:41 - 4:44o que é um pouco estranho
nos sistemas geotermais. -
4:45 - 4:46O espantoso
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4:46 - 4:49é que os locais sempre
conheceram este sítio, -
4:49 - 4:53e eu não fora
o primeiro forasteiro a vê-lo. -
4:54 - 4:57Mas fazia parte da sua vida habitual.
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4:57 - 5:00Bebem esta água.
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5:00 - 5:02Respiram o vapor.
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5:02 - 5:04Cozinham com ela,
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5:04 - 5:06lavam tudo com ela,
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5:06 - 5:08até fazem medicamentos com ela.
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5:09 - 5:11Fui ter com o xamã.
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5:11 - 5:15Ele parecia uma extensão
do rio e da selva. -
5:16 - 5:18Perguntou quais eram as minhas intenções
-
5:19 - 5:21e ouviu com toda a atenção.
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5:21 - 5:25Depois, para meu grande alívio
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5:25 - 5:27— eu estava muito nervoso,
para ser franco — -
5:28 - 5:32começou a desenhar-se-lhe na cara
um sorriso, e ele riu-se. -
5:32 - 5:35(Risos)
-
5:36 - 5:40Eu tinha recebido a bênção do xamã
para estudar o rio, -
5:40 - 5:44na condição de que,
depois de colher amostras da água, -
5:44 - 5:46e de as analisar no meu laboratório,
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5:46 - 5:48fosse onde fosse que ele se situasse,
-
5:48 - 5:52eu voltasse a despejar a água no solo
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5:52 - 5:54para que, conforme disse o xamã,
-
5:54 - 5:57"a água encontrasse
o seu caminho para casa". -
5:59 - 6:03Desde aquela primeira visita em 2011,
tenho lá voltado todos os anos, -
6:03 - 6:07e o trabalho de terreno
tem sido arrebatador, -
6:07 - 6:10exigente e, por vezes, perigoso.
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6:11 - 6:14Até já foi apresentada uma reportagem
na National Geographic Magazine. -
6:14 - 6:18Eu fiquei preso num rochedo
do tamanho duma folha de papel, -
6:18 - 6:21de sandálias e bermudas.
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6:21 - 6:23entre um rio a 80º C
-
6:23 - 6:27e uma fonte quente parecida com esta,
perto dos 100º C. -
6:27 - 6:31Por cima, era a floresta
tropical da Amazónia. -
6:31 - 6:34Uma chuva diluviana,
não conseguia ver nada. -
6:34 - 6:37O diferencial das temperaturas
tornava tudo branco. -
6:37 - 6:39Era uma névoa cerrada.
-
6:39 - 6:41Intensa.
-
6:42 - 6:45Ao fim de anos de trabalho,
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6:45 - 6:50vou apresentar os meus estudos geofísicos
e geoquímicos para publicação. -
6:51 - 6:55Gostava, hoje, de partilhar convosco,
aqui no palco TED, -
6:55 - 6:59pela primeira vez,
algumas das descobertas. -
6:59 - 7:03Primeiro que tudo,
não se trata de uma lenda. -
7:02 - 7:04Surpresa!
-
7:04 - 7:06(Risos)
-
7:06 - 7:08Quando iniciei a investigação,
-
7:08 - 7:12as imagens por satélite eram de resolução
demasiado baixa para ficarem nítidas. -
7:12 - 7:14Não havia bons mapas.
-
7:14 - 7:16Graças ao apoio da equipa do Google Earth,
-
7:16 - 7:18agora tenho isto.
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7:19 - 7:25E não só, o nome indígena do rio,
Shanay-timpishka, -
7:26 - 7:29"aquecido com o calor do Sol",
-
7:30 - 7:36indica que não sou o primeiro
a interrogar-me porque é que o rio ferve, -
7:36 - 7:38e mostra que a humanidade
sempre tentou explicar -
7:38 - 7:40o mundo à sua volta.
-
7:42 - 7:44Então, porque é que o rio ferve?
-
7:44 - 7:47(Som de água a borbulhar)
-
7:49 - 7:51Levei três anos para conseguir
esta filmagem. -
7:54 - 7:55Fontes quentes a partir de fendas.
-
7:56 - 7:59Tal como temos sangue quente
a correr pelas veias e artérias, -
7:59 - 8:05também a Terra tem água quente
a correr pelas fendas e falhas. -
8:05 - 8:09Quando essas artérias assomam à superfície
— essas artérias terrestres — -
8:09 - 8:11obtemos manifestações geotérmicas:
-
8:11 - 8:16fumarolas, fontes quentes
e, no nosso caso, o rio fervente. -
8:16 - 8:21Mas o que é incrível,
é a escala deste local. -
8:21 - 8:24Da próxima vez que andarem na estrada,
pensem nisto. -
8:25 - 8:28O rio tem uma largura maior
do que uma estrada de duas faixas -
8:28 - 8:29durante a maior parte do seu percurso.
-
8:30 - 8:35Corre quente durante 6,24 km.
-
8:36 - 8:38Verdadeiramente impressionante.
-
8:39 - 8:42Há piscinas térmicas
maiores do que este palco TED, -
8:42 - 8:45e aquela cascata que ali veem
-
8:45 - 8:47tem seis metros de altura,
-
8:47 - 8:51toda ela com água quase a 100º C.
-
8:52 - 8:55Fizemos o mapa das temperaturas
ao longo do rio, -
8:55 - 8:58o que foi, de longe,
a parte mais difícil do trabalho de campo. -
8:58 - 9:02Os resultados são espantosos.
-
9:02 - 9:05Peço desculpa aos geocientistas
por me entusiasmar. -
9:05 - 9:07Mostrou este comportamento espantoso.
-
9:07 - 9:10Vejam bem, o rio começa frio.
-
9:10 - 9:13Depois aquece, arrefece,
aquece, volta a arrefecer, -
9:13 - 9:15aquece novamente e depois
faz esta bela curva de decaimento -
9:15 - 9:18até se espalhar neste rio frio.
-
9:19 - 9:21Eu sei que nem todos aqui
são cientistas geotérmicos, -
9:21 - 9:24por isso vou trocar isto por miúdos.
-
9:24 - 9:27Toda a gente gosta de café.
-
9:27 - 9:28Não é? Ótimo.
-
9:29 - 9:32Uma chávena normal de café: 54º C,
-
9:32 - 9:35um café em chávena aquecida: 60º C.
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9:35 - 9:37Posto em termos
de estabelecimento de café, -
9:37 - 9:40o rio fervente porta-se assim.
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9:40 - 9:43Ali, obtemos um café quente.
-
9:43 - 9:45Aqui, um café em chávena aquecida.
-
9:45 - 9:47Podemos ver que há ali um grande pico
-
9:47 - 9:50onde o rio ainda é mais quente
do que o café em chávena aquecida. -
9:50 - 9:52E isto são temperaturas médias da água.
-
9:52 - 9:54Fizemos as medições na estação seca
-
9:54 - 9:57para garantir as mais puras
temperaturas geotérmicas. -
9:57 - 9:59Mas há um número mágico
que não aparece aqui. -
9:59 - 10:02Esse número é 47º C,
-
10:03 - 10:06porque é aí que as coisas começam a doer.
-
10:06 - 10:10Sei disso por experiência própria.
-
10:10 - 10:13Acima desta temperatura,
não queremos entrar na água. -
10:13 - 10:15Precisamos de ter cuidado.
-
10:15 - 10:17Pode ser mortal.
-
10:17 - 10:19Vi todo o tipo de animais a cair lá dentro,
-
10:19 - 10:23e o que me chocou foi que o processo
é quase sempre o mesmo. -
10:24 - 10:27Eles caem e a primeira coisa
a desaparecer são os olhos. -
10:27 - 10:30Os olhos cozem muito depressa.
Ficam com esta cor branca de leite. -
10:30 - 10:32A corrente vai-os levando.
-
10:32 - 10:34Eles tentam nadar, mas a carne
vai cozendo até ao osso -
10:34 - 10:36porque está muito quente.
-
10:36 - 10:38Eles vão perdendo forças, perdendo forças,
-
10:38 - 10:41até que chegam a um ponto
em que a água quente lhes entra pela boca -
10:41 - 10:43e eles cozem por dentro.
-
10:44 - 10:48(Risos)
-
10:49 - 10:52Somos mesmo sádicos, não somos?
-
10:51 - 10:52Meu Deus!
-
10:54 - 10:56Deixemo-los a marinar
durante mais um bocado. -
10:57 - 11:00Mas estas temperaturas
são mesmo espantosas. -
11:00 - 11:04São semelhantes a coisas que já vi
em vulcões por todo o mundo -
11:04 - 11:07e até em super-vulcões como Yellowstone.
-
11:07 - 11:09Mas a coisa é esta:
-
11:10 - 11:15os dados mostram que o rio fervente existe
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11:15 - 11:18independente do vulcanismo.
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11:18 - 11:23Não tem origem magmática nem vulcânica,
-
11:24 - 11:31e, repito, a mais de 700 km
do centro vulcânico mais próximo. -
11:31 - 11:35Como é que pode existir
um rio fervente como este? -
11:36 - 11:39Durante anos, perguntei a especialistas
geotérmicos e vulcanólogos, -
11:39 - 11:44e continuo sem encontrar
outro sistema geotérmico não vulcânico -
11:44 - 11:46desta dimensão.
-
11:47 - 11:49É único.
-
11:49 - 11:53É especial, à escala global.
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11:55 - 11:58Mesmo assim, como é que funciona?
-
11:59 - 12:01Donde vem este calor?
-
12:01 - 12:04Ainda falta fazer muita investigação
-
12:04 - 12:07para situar melhor o problema,
para compreender melhor o sistema, -
12:07 - 12:09mas, pelo que os dados nos dizem hoje,
-
12:09 - 12:13parece ser o resultado
de um enorme sistema hidrotérmico. -
12:13 - 12:15Basicamente, funciona assim:
-
12:15 - 12:17Quanto mais avançamos
para o interior da Terra, -
12:17 - 12:19mais elevada é a temperatura.
-
12:19 - 12:21Referimo-nos a isso
como o gradiente geotérmico. -
12:21 - 12:26As águas podem vir de tão longe
como os glaciares dos Andes, -
12:26 - 12:29mergulharem profundamente na terra
-
12:29 - 12:32e voltarem à superfície
sob a forma de um rio fervente -
12:32 - 12:35depois de terem aquecido
sob o gradiente geotérmico, -
12:35 - 12:38tudo isto devido
a uma situação geológica única. -
12:39 - 12:42Descobrimos que no rio e à sua volta
-
12:42 - 12:43— isto é a trabalhar com colegas,
-
12:43 - 12:45o Dr. Spencer Wells,
da National Geographic, -
12:45 - 12:48e o Dr. Jon Eisen,
da Universidade da Califórnia, Davis — -
12:48 - 12:52sequenciámos geneticamente
as formas de vida extremófilas -
12:52 - 12:56que vivem no rio e à sua volta,
e encontrámos novas formas de vida, -
12:56 - 12:59espécies únicas
que vivem no rio fervente. -
13:00 - 13:06Mas, apesar de todos estes estudos,
de todas as descobertas e lendas, -
13:06 - 13:09mantém-se a pergunta:
-
13:10 - 13:13"Qual é o significado do rio fervente?
-
13:15 - 13:19"Qual é o significado desta nuvem fixa
-
13:19 - 13:23"que paira sempre
sobre este pedaço da selva? -
13:23 - 13:26"Qual é o significado
-
13:26 - 13:30de um pormenor numa lenda de infância?"
-
13:32 - 13:36Para o xamã e para a sua comunidade,
é um local sagrado. -
13:35 - 13:38Para mim, enquanto geocientista,
-
13:38 - 13:41é um fenómeno geotérmico único.
-
13:42 - 13:46Mas, para os madeireiros ilegais
e criadores de gado, -
13:46 - 13:50é apenas mais um recurso a explorar.
-
13:51 - 13:55Para o governo peruano,
é apenas mais uma faixa -
13:55 - 14:01de terras desprotegidas,
prontas para urbanização. -
14:02 - 14:06O meu objetivo é garantir
que, quem quer que controle estas terras, -
14:06 - 14:11compreenda a singularidade
e o significado do rio fervente. -
14:11 - 14:13Porque é esse o problema,
-
14:14 - 14:16o do significado.
-
14:17 - 14:19E a coisa é,
-
14:20 - 14:23nós é definimos o significado.
-
14:23 - 14:26Somos nós. Temos esse poder.
-
14:26 - 14:29Somos nós que traçamos essa linha
-
14:29 - 14:31entre o sagrado e o trivial.
-
14:32 - 14:34Nesta época,
-
14:34 - 14:38em que tudo parece estar desenhado,
medido e estudado, -
14:39 - 14:42nesta época da informação,
-
14:43 - 14:46recordo-vos que as descobertas
-
14:46 - 14:51não são feitas no buraco negro
do desconhecido -
14:52 - 14:56mas no ruído branco de dados esmagadores.
-
14:58 - 15:01Falta explorar muita coisa.
-
15:02 - 15:05Vivemos num mundo incrível.
-
15:05 - 15:08Portanto, saiam para a rua.
-
15:08 - 15:10Sejam curiosos.
-
15:12 - 15:15Porque vivemos num mundo
-
15:16 - 15:19em que os xamãs ainda cantam
aos espíritos da selva, -
15:20 - 15:23em que há rios que fervem
-
15:23 - 15:26e em que as lendas adquirem vida.
-
15:27 - 15:28Muito obrigado.
-
15:29 - 15:33(Aplausos)
- Title:
- Como encontrei um mítico rio fervente na Amazónia
- Speaker:
- Andrés Ruzo
- Description:
-
Quando Andrés Ruzo era criança no Peru, o avô contou-lhe uma história com um pormenor estranho: Há um rio, no interior da Amazónia, que ferve como se tivesse fogo por baixo. Doze anos mais tarde, depois de se formar como geocientista, Ruzo partiu para o interior da selva da América do Sul à procura desse rio fervente. Numa época em que tudo parece estar desenhado, medido e compreendido, juntem-se a Ruzo enquanto ele explora um rio que nos força a pôr em causa a linha entre o conhecido e o desconhecido... e nos recorda que há grandes maravilhas ainda por descobrir.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 15:49
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