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Não sintam pena dos refugiados. Acreditem neles.

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    Eu lembro-me quando descobri
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    que ia falar numa conferência TED.
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    Corri para uma das minhas salas de aulas
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    para contar aos meus alunos.
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    "Pessoal, adivinhem!
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    "Pediram-me para fazer uma palestra TED."
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    A reação não foi bem como esperava.
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    A sala toda ficou em silêncio.
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    "Uma TED Talk? Tipo aquela
    que nos fez assistir sobre a coragem?
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    "Ou aquela em que o cientista
    fazia coisas muito giras com robôs?"
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    perguntou Muhammad.
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    "Sim, uma dessas".
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    "Mas professora, aquelas pessoas
    são muito importantes e espertas".
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    (Risos)
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    "Eu sei".
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    "Mas professora, porque é que vai falar?
    Você detesta falar em público."
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    "Detesto", concordei.
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    "Mas é importante que eu fale sobre nós,
    sobre o vosso percurso,
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    "sobre o meu percurso.
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    "É preciso que todos saibam."
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    Os estudantes, na escola
    de refugiados que eu fundei
  • 0:52 - 0:54
    terminaram com algumas
    palavras de incentivo.
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    "Fixe! Tem que ser bom, professora."
  • 0:56 - 0:58
    (Risos)
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    Há 65,3 milhões de pessoas
    que foram expulsas das suas casas
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    por causa da guerra ou perseguição.
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    A maior parte, 11 milhões, são da Síria.
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    Abandonam as suas casas
    33 952 pessoas por dia.
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    A grande maioria fica
    em campos de refugiados
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    em condições que não podem ser definidas
    como humanas, por nenhuma definição.
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    Nós estamos a participar
    na degradação de seres humanos.
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    Nunca tivemos um número tão alto.
  • 1:35 - 1:38
    É o maior número de refugiados
    desde a II Guerra Mundial.
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    Agora, vou contar porque é
    que isso é tão importante para mim.
  • 1:42 - 1:45
    Sou árabe, sou imigrante,
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    sou muçulmana.
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    Tenho dedicado 12 anos da minha
    vida a trabalhar com refugiados.
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    Ah, também sou "gay",
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    isso faz-me ser popular nos dias de hoje.
  • 1:55 - 1:57
    (Risos)
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    Sou filha de um refugiado.
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    A minha avó fugiu da Síria em 1964
    durante o primeiro regime de Assad.
  • 2:05 - 2:08
    Ela estava grávida de três meses
    quando arrumou as malas,
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    reuniu os cinco filhos
    e partiu para a vizinha Jordânia,
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    sem saber o que o futuro
    lhe reservava, a ela e à sua família.
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    O meu avô decidiu ficar, sem
    acreditar que as coisas estavam tão más.
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    Foi atrás dela um mês depois,
    quando torturaram os irmãos dele
  • 2:22 - 2:25
    e e o governo lhe confiscou a fábrica.
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    Refizeram a vida a partir do zero
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    e acabaram por ser cidadãos jordanos
    independentes e abastados.
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    Nasci na Jordânia 11 anos depois.
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    Era muito importante para a minha avó
    contar-nos a nossa história
  • 2:39 - 2:40
    e o nosso percurso.
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    Eu tinha oito anos quando ela me levou
    a visitar um campo de refugiados.
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    Eu não percebi qual o motivo.
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    Não entendi porque era tão importante
    que nós lá fôssemos.
  • 2:50 - 2:54
    Lembro-me de entrar no campo
    segurando na mão dela e ela dizer:
  • 2:54 - 2:55
    "Vai brincar com as crianças,"
  • 2:55 - 2:58
    enquanto ela visitava
    as mulheres no acampamento.
  • 2:59 - 3:00
    Eu não queria.
  • 3:00 - 3:01
    As crianças não eram como eu.
  • 3:01 - 3:03
    Eram pobres. Viviam num acampamento.
  • 3:03 - 3:04
    Recusei.
  • 3:04 - 3:07
    Ela ajoelhou-se ao pé de mim
    e disse com firmeza:
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    "Vai e não voltes antes de ter brincado.
  • 3:09 - 3:12
    "Nunca penses que alguém é
    menos importante que tu
  • 3:12 - 3:14
    "ou que não possas aprender
    algo com os outros".
  • 3:15 - 3:16
    Eu lá fui, relutante.
  • 3:16 - 3:19
    Jamais queria desapontar a minha avó.
  • 3:19 - 3:21
    Voltei umas horas mais tarde,
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    depois de algum tempo
    a jogar futebol com as crianças.
  • 3:26 - 3:27
    Saímos do acampamento,
  • 3:27 - 3:30
    e eu estava animada a contar
    como tinha sido divertido
  • 3:30 - 3:32
    e como aqueles miúdos eram fantásticos.
  • 3:33 - 3:36
    "Haram!" disse eu em árabe.
    "Pobrezinhos".
  • 3:37 - 3:40
    "Haram para nós", disse ela,
    dando outro significado à palavra,
  • 3:40 - 3:42
    que nós éramos pecadores.
  • 3:42 - 3:45
    "Não tenhas pena deles,
    acredita neles."
  • 3:46 - 3:50
    Só quando saí do meu país de origem
    e me mudei para os EUA
  • 3:50 - 3:52
    é que compreendi o impacto
    das suas palavras.
  • 3:53 - 3:57
    Depois de acabar a faculdade,
    solicitei e recebi asilo político,
  • 3:57 - 3:59
    por ser membro de um grupo social.
  • 4:00 - 4:01
    Algumas pessoas podem não saber
  • 4:02 - 4:05
    mas, nalguns países, podemos
    ser condenados à morte por sermos "gays".
  • 4:07 - 4:09
    Tive que abdicar da cidadania jordana.
  • 4:09 - 4:11
    Foi uma das decisões
    mais difíceis da minha vida,
  • 4:11 - 4:13
    mas não tinha outra escolha.
  • 4:17 - 4:19
    O problema é que,
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    quando se tem que escolher
    entre a nossa terra e a sobrevivência,
  • 4:23 - 4:25
    a pergunta "De onde é que você é?"
    torna-se complicada.
  • 4:27 - 4:30
    Uma mulher síria que conheci
    num campo de refugiados na Grécia
  • 4:30 - 4:32
    explicou isto muito bem
  • 4:32 - 4:35
    ao relembrar o momento exato em que
    percebeu que precisava de sair de Aleppo.
  • 4:35 - 4:38
    "Eu olhei pela janela e não havia nada.
  • 4:38 - 4:39
    "Eram só escombros.
  • 4:40 - 4:43
    "Não havia lojas, nem ruas,
    nem escolas. Estava tudo destruído.
  • 4:44 - 4:46
    "Eu tinha estado no apartamento
    durante meses,
  • 4:46 - 4:49
    "a ouvir as bombas a cair
    e a ver gente morrer.
  • 4:50 - 4:52
    "Mas achava sempre que iria melhorar,
  • 4:53 - 4:55
    "que ninguém me forçaria a sair,
  • 4:55 - 4:57
    "ninguém poderia tirar-me a minha casa.
  • 4:58 - 5:01
    "Não sei porquê, naquela manhã,
    quando olhei lá para fora,
  • 5:01 - 5:04
    "percebi que, se não saísse,
    os meus três filhos iriam morrer.
  • 5:04 - 5:06
    "Então partimos.
  • 5:06 - 5:09
    "Partimos porque tivemos que partir,
    não porque escolhemos.
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    "Não havia escolha", disse ela.
  • 5:12 - 5:14
    É difícil acreditar que
    pertencemos a qualquer coisa
  • 5:14 - 5:16
    quando não temos um lar,
  • 5:16 - 5:19
    quando o nosso país de origem
    nos rejeita, por medo ou perseguição,
  • 5:20 - 5:24
    ou a cidade em que crescemos
    está totalmente destruída.
  • 5:25 - 5:27
    Eu sentia que não tinha pátria.
  • 5:27 - 5:29
    Já não era uma cidadã jordana,
  • 5:29 - 5:31
    mas também não era americana.
  • 5:32 - 5:33
    Sentia uma certa solidão
  • 5:33 - 5:36
    que até hoje é difícil
    de explicar em palavras.
  • 5:37 - 5:40
    Depois da faculdade, precisava
    de um lugar a que chamasse a minha terra.
  • 5:41 - 5:42
    Andei de um estado para outro
  • 5:42 - 5:44
    e fui parar à Carolina do Norte.
  • 5:45 - 5:47
    Pessoas simpáticas
    que tiveram pena de mim
  • 5:47 - 5:49
    ofereceram-se para pagar a renda
  • 5:49 - 5:53
    ou comprar uma refeição ou roupa
    para a minha nova entrevista.
  • 5:53 - 5:56
    Isso só me fez sentir
    mais isolada e incapaz.
  • 5:56 - 5:58
    Foi só quando conheci Miss Sarah,
  • 5:58 - 6:02
    uma batista do Sul
    que me ofereceu um emprego,
  • 6:02 - 6:04
    que passei a acreditar em mim.
  • 6:05 - 6:08
    Miss Sarah tinha uma cafetaria
    nas montanhas da Carolina do Norte.
  • 6:10 - 6:12
    Eu presumi que, dada
    a minha educação privilegiada
  • 6:12 - 6:14
    e a formação de Seven Sisters,
  • 6:14 - 6:16
    ela me pediria para eu ser
    gerente do restaurante.
  • 6:16 - 6:17
    Mas estava enganada.
  • 6:18 - 6:20
    Comecei por lavar a loiça,
  • 6:20 - 6:22
    limpar as casas de banho
    e cozinhar os grelhados.
  • 6:22 - 6:25
    Senti-me humilde; mostraram-me
    o valor do trabalho difícil.
  • 6:25 - 6:28
    Mas, acima de tudo,
    senti-me valorizada e acolhida.
  • 6:29 - 6:31
    Festejei o Natal com a família dela
  • 6:31 - 6:33
    e ela tentou observar o Ramadão comigo.
  • 6:34 - 6:37
    Lembro-me de estar nervosa
    quando me abri com ela,
  • 6:37 - 6:39
    porque, afinal, ela era batista do Sul.
  • 6:39 - 6:41
    Sentei-me no sofá
    ao lado dela e disse:
  • 6:41 - 6:43
    "Miss Sarah, sabe que eu sou 'gay'."
  • 6:43 - 6:45
    Jamais me esquecerei
    da resposta dela:
  • 6:46 - 6:48
    "Tudo bem, querida.
    Só não seja prostituta."
  • 6:48 - 6:51
    (Risos)
  • 6:51 - 6:53
    (Aplausos)
  • 6:54 - 6:59
    Eu acabei por mudar-me para Atlanta,
    sempre a tentar encontrar a minha terra.
  • 7:00 - 7:03
    O meu percurso deu uma reviravolta
    três anos mais tarde,
  • 7:03 - 7:06
    quando conheci um grupo de crianças
    refugiadas a jogar futebol na rua.
  • 7:06 - 7:09
    Eu tinha-me enganado no caminho
    e entrara naquele condomínio,
  • 7:09 - 7:12
    e vi aquelas miúdos
    a jogar futebol na rua.
  • 7:12 - 7:14
    Estavam a jogar descalços
    com uma velha bola esfarrapada.
  • 7:14 - 7:16
    Tinham pedras a marcar as balizas.
  • 7:16 - 7:18
    Observei-os durante quase uma hora,
  • 7:18 - 7:19
    e dei por mim a sorrir.
  • 7:19 - 7:21
    Os rapazes fizeram-me
    lembrar a minha terra.
  • 7:21 - 7:24
    Recordaram-me como
    eu cresci a jogar futebol
  • 7:24 - 7:26
    nas ruas da Jordânia,
    com os meus irmãos e primos.
  • 7:28 - 7:30
    A certa altura, entrei no jogo.
  • 7:30 - 7:33
    Eles estavam na dúvida
    em deixar-me jogar,
  • 7:33 - 7:35
    porque, segundo eles,
    as raparigas não sabem jogar.
  • 7:35 - 7:37
    Mas eu obviamente sabia.
  • 7:37 - 7:39
    Perguntei se eles já tinham
    jogado numa equipa.
  • 7:39 - 7:41
    Eles disseram que não,
    mas que adorariam jogar.
  • 7:42 - 7:45
    Eu fui-os conquistando
    e formámos a nossa primeira equipa.
  • 7:46 - 7:49
    Aquele grupo de miúdos
    foi um curso intensivo
  • 7:49 - 7:53
    sobre refugiados, pobreza e humanidade.
  • 7:54 - 7:58
    Os três irmãos do Afeganistão
    — Roohullah, Noorullah e Zabiullah —
  • 7:58 - 8:00
    tiveram papel relevante.
  • 8:00 - 8:04
    Um dia cheguei atrasada para o treino
    e o campo estava completamente vazio.
  • 8:04 - 8:05
    Eu fiquei preocupada.
  • 8:05 - 8:07
    A minha equipa adorava treinar.
  • 8:07 - 8:09
    Não era normal que perdessem o treino.
  • 8:09 - 8:13
    Saí do carro, e dois miúdos
    saíram de detrás de uma lixeira,
  • 8:13 - 8:15
    acenando desesperadamente.
  • 8:15 - 8:17
    "Treinadora, o Rooh levou
    uma tareia, foi espezinhado.
  • 8:17 - 8:19
    "Havia sangue por todo lado.
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    "O que é que estão a dizer?
    Foi espancado?"
  • 8:21 - 8:23
    "Vieram uns miúdos maus
    e deram-lhe uma tareia
  • 8:23 - 8:26
    "Toda a gente fugiu.
    Estavam todos com medo".
  • 8:26 - 8:28
    Entrámos no meu carro
    e fomos ao apartamento do Rooh.
  • 8:28 - 8:31
    Bati aporta e Noor abriu-a.
  • 8:32 - 8:35
    "Onde está o Rooh? Preciso
    de falar com ele, saber se está ok".
  • 8:35 - 8:37
    "Está no quarto, treinadora.
    Ele não quer sair."
  • 8:37 - 8:38
    Eu bati a porta.
  • 8:39 - 8:41
    "Rooh, vem cá.
    Preciso de falar contigo.
  • 8:41 - 8:44
    "Preciso de saber se estás bem
    ou se precisamos de ir ao hospital."
  • 8:44 - 8:45
    Ele saiu.
  • 8:45 - 8:48
    Tinha um corte na cabeça
    e outro nos lábios,
  • 8:48 - 8:50
    e estava a tremer.
  • 8:51 - 8:52
    Eu fiquei a olhar para ele
  • 8:52 - 8:54
    e pedi aos rapazes
    que chamassem a mãe dele,
  • 8:54 - 8:57
    porque eu precisava
    de levá-lo ao hospital.
  • 8:57 - 8:59
    Eles chamaram a mãe.
  • 8:59 - 9:00
    Ela chegou.
  • 9:00 - 9:04
    Eu estava de costas para ela,
    e ela começou a gritar em farsi.
  • 9:05 - 9:07
    Os rapazes rebolaram no chão a rir.
  • 9:07 - 9:08
    Eu fiquei muito confusa,
  • 9:08 - 9:10
    porque não havia nada
    de engraçado naquilo.
  • 9:10 - 9:12
    Eles explicaram que ela tinha dito:
  • 9:12 - 9:15
    "Vocês disseram-me que a treinadora
    era uma mulher muçulmana."
  • 9:15 - 9:18
    De costas, eu não parecia
    nem uma coisa nem outra.
  • 9:18 - 9:21
    (Risos)
  • 9:21 - 9:24
    "Eu sou muçulmana,"
    disse eu, e virei-me para ela.
  • 9:24 - 9:25
    "Ašhadu ʾan lā ʾilāha ʾilla (A)llāh,"
  • 9:26 - 9:28
    e recitei a declaração de fé muçulmana.
  • 9:29 - 9:30
    Confusa,
  • 9:31 - 9:33
    mas talvez mais confiante,
  • 9:33 - 9:35
    ela percebeu que eu,
  • 9:35 - 9:38
    uma mulher com modos de americana,
    usando calções e sem véu,
  • 9:38 - 9:39
    era mesmo muçulmana.
  • 9:40 - 9:42
    A família deles fugira dos Talibãs.
  • 9:44 - 9:46
    Centenas de pessoas da aldeia
    tinham sido assassinadas.
  • 9:47 - 9:49
    O pai foi levado pelos Talibãs
  • 9:49 - 9:53
    e voltou meses depois,
    uma sombra do homem que fora um dia.
  • 9:55 - 9:57
    A família fugiu para o Paquistão,
  • 9:57 - 10:01
    e os dois rapazes mais velhos,
    com 8 e 10 anos naquela época,
  • 10:01 - 10:04
    teciam tapetes, 10 horas por dia,
    para sustentar a família.
  • 10:05 - 10:09
    Ficaram entusiasmados quando
    receberam a notícia da aprovação
  • 10:09 - 10:11
    para se instalarem nos EUA,
  • 10:11 - 10:14
    o que os tornava parte dos 0,1%
    das pessoas com sorte.
  • 10:14 - 10:16
    Fora como ganhar o "jackpot".
  • 10:17 - 10:19
    A história deles não é única.
  • 10:19 - 10:23
    Todas as famílias de refugiados com quem
    trabalhei têm uma história semelhante.
  • 10:23 - 10:25
    Eu trabalho com crianças
  • 10:25 - 10:29
    que viram as mães serem violadas
    e os pais ficarem com os dedos cortados.
  • 10:29 - 10:32
    Um miúdo viu a avó
    levar um tiro na cabeça,
  • 10:32 - 10:36
    porque se recusara a deixar que os rebeldes
    o levassem para ser um soldado-criança.
  • 10:38 - 10:40
    Os percursos deles são assustadores.
  • 10:40 - 10:45
    Mas o que eu vejo todos os dias
    é esperança, persistência, determinação,
  • 10:46 - 10:47
    um amor pela vida
  • 10:47 - 10:50
    e a gratidão por poderem
    reconstruir as suas vidas.
  • 10:52 - 10:54
    Estava no apartamento
    dos rapazes uma noite,
  • 10:54 - 10:59
    quando a mãe chegou depois de ter
    limpado 18 quartos de hotel num dia.
  • 10:59 - 11:01
    Sentou-se e o Noor fez-lhe
    uma massagem aos pés,
  • 11:02 - 11:05
    e disse que iria tomar conta dela
    quando se formasse.
  • 11:05 - 11:06
    Ela sorriu de cansaço.
  • 11:06 - 11:10
    "Deus é bom. A vida é boa.
    Temos sorte de estar aqui."
  • 11:11 - 11:16
    Nos últimos dois anos, temos assistido
    ao aumento do sentimento antirrefugiados.
  • 11:16 - 11:18
    É global.
  • 11:19 - 11:22
    Os números continuam a crescer
    porque não fazemos nada para o evitar
  • 11:22 - 11:24
    e nada para o fazer parar.
  • 11:24 - 11:27
    O problema não é impedir os refugiados
    de virem para os nossos países.
  • 11:27 - 11:30
    O problema devia ser
    não os forçar a deixar o seu país.
  • 11:30 - 11:34
    (Aplausos)
  • 11:47 - 11:48
    Desculpem.
  • 11:48 - 11:51
    (Aplausos)
  • 11:58 - 12:00
    Quanto mais sofrimento,
  • 12:01 - 12:03
    quanto mais sofrimento
    podemos aguentar?
  • 12:03 - 12:06
    Quantas pessoas serão
    expulsas das suas casas
  • 12:06 - 12:07
    antes de dizermos, "Basta!"?
  • 12:07 - 12:09
    Cem milhões?
  • 12:09 - 12:12
    Nós não só as humilhamos,
    culpamos e rejeitamos
  • 12:13 - 12:16
    por atrocidades pelas
    quais elas não são responsáveis,
  • 12:17 - 12:19
    como as traumatizamos de novo,
  • 12:19 - 12:22
    quando deveríamos dar-lhes
    as boas-vindas nos nossos países.
  • 12:23 - 12:26
    Nós roubamos-lhes a sua dignidade
    e tratamo-las como criminosas.
  • 12:27 - 12:29
    Uma aluna apareceu no meu
    escritório há duas semanas.
  • 12:29 - 12:31
    Ela é originária do Iraque.
  • 12:31 - 12:33
    Desatou a chorar.
  • 12:34 - 12:35
    "Porque é que eles nos odeiam?"
  • 12:35 - 12:37
    "Quem é que te odeia?"
  • 12:37 - 12:39
    "Toda a gente; todos nos odeiam
    porque somos refugiados,
  • 12:40 - 12:41
    "porque somos muçulmanos."
  • 12:42 - 12:44
    No passado, eu podia
    garantir aos meus alunos
  • 12:44 - 12:47
    que a maior parte do mundo
    não odeia refugiados.
  • 12:47 - 12:49
    Mas dessa vez, não pude.
  • 12:49 - 12:53
    Não pude explicar-lhe porque é que alguém
    tentou arrancar o "hijab" da mãe dela,
  • 12:53 - 12:54
    quando ela estava a fazer compras,
  • 12:54 - 12:57
    ou porque é que uma jogadora
    da equipa adversária
  • 12:57 - 12:58
    lhe chamou terrorista
  • 12:58 - 13:01
    e lhe disse para ela voltar
    para a terra de onde viera.
  • 13:01 - 13:02
    Eu não podia garantir-lhe
  • 13:02 - 13:04
    que o supremo sacrifício
    da vida do pai dela
  • 13:04 - 13:07
    como intérprete
    nas forças armadas dos EUA,
  • 13:07 - 13:10
    a tornaria mais valorizada
    como cidadã americana.
  • 13:11 - 13:14
    Nós abrigamos muito poucos
    refugiados a nível do mundo.
  • 13:15 - 13:18
    Instalamos menos de 0,1%.
  • 13:19 - 13:22
    Este número beneficia-nos mais que a eles.
  • 13:23 - 13:27
    Apavora-me como a palavra "refugiado"
    é considerada uma coisa suja,
  • 13:27 - 13:28
    uma coisa de que se envergonhar.
  • 13:28 - 13:30
    Não têm nada de que se envergonhar.
  • 13:34 - 13:37
    Temos visto progressos em todos
    os aspetos da nossa vida,
  • 13:37 - 13:38
    exceto na nossa humanidade.
  • 13:39 - 13:43
    Há 65,3 milhões de pessoas
    que foram expulsas de casa
  • 13:43 - 13:45
    por causa da guerra
  • 13:45 - 13:47
    — o maior número da história.
  • 13:47 - 13:49
    Nós é que deveríamos envergonhar-nos.
  • 13:50 - 13:51
    Obrigada.
  • 13:51 - 13:54
    (Aplausos)
Title:
Não sintam pena dos refugiados. Acreditem neles.
Speaker:
Luma Mufleh
Description:

"Nós temos visto avanços em todos os aspetos da nossa vida, exceto na nossa humanidade," diz Luma Mufleh, uma imigrante jordana, muçulmana de ascendência síria, que fundou nos EUA a primeira escola credenciada para imigrantes. Mufleh partilha histórias de esperança e resistência, explicando como está a ajudar jovens de países destruídos pela guerra a construir os seus novos lares. Assistam a esta palestra e inspirem-se a fazer a diferença na vida dos refugiados.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
14:13

Portuguese subtitles

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