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Como explicar a consciência?

  • 0:01 - 0:03
    Agora mesmo
  • 0:03 - 0:06
    vocês têm um filme
    passando em suas cabeças.
  • 0:06 - 0:09
    É um maravilhoso filme
    em várias faixas.
  • 0:09 - 0:12
    Ele tem visão 3D e som estéreo
  • 0:12 - 0:14
    para o que você está vendo
    e ouvindo agora,
  • 0:14 - 0:17
    mas este é apenas o começo.
  • 0:17 - 0:21
    Seu filme tem cheiro, sabor e tato.
  • 0:22 - 0:25
    Ele tem uma noção do seu corpo:
  • 0:25 - 0:28
    dor, fome, orgasmos.
  • 0:29 - 0:31
    Ele tem emoções:
  • 0:31 - 0:34
    raiva e felicidade.
  • 0:34 - 0:38
    Ele tem memórias,
    como cenas da sua infância
  • 0:38 - 0:41
    passando na sua frente.
  • 0:41 - 0:45
    E tem esse narrador constante
  • 0:45 - 0:49
    no seu fluxo de pensamento consciente.
  • 0:50 - 0:54
    No coração deste filme está você
  • 0:55 - 0:59
    experimentando isso tudo diretamente.
  • 0:59 - 1:03
    Este filme é o seu fluxo de consciência,
  • 1:05 - 1:06
    o sujeito da experiência
  • 1:06 - 1:10
    da mente e do mundo.
  • 1:11 - 1:14
    Consciência é um dos fatos fundamentais
  • 1:14 - 1:16
    da existência humana.
  • 1:16 - 1:19
    Cada um de nós é consciente.
  • 1:19 - 1:21
    Todos nós temos nosso filme interior,
  • 1:21 - 1:24
    você, você e você.
  • 1:24 - 1:28
    Não há nada que conheçamos
    tão diretamente.
  • 1:28 - 1:31
    Ao menos, eu sei sobre
    minha consciência diretamente.
  • 1:31 - 1:35
    Não posso ter certeza
    de que vocês são conscientes.
  • 1:35 - 1:39
    Consciência também é
    o que faz a vida valer a pena.
  • 1:39 - 1:42
    Se não fôssemos conscientes,
    nada em nossas vidas
  • 1:42 - 1:46
    teria significado ou valor.
  • 1:46 - 1:47
    Mas, ao mesmo tempo,
  • 1:47 - 1:51
    é o fenômeno mais misterioso
    do universo.
  • 1:51 - 1:54
    Por que somos conscientes?
  • 1:54 - 1:56
    Por que temos essas vozes interiores?
  • 1:56 - 1:58
    Por que não somos apenas robôs,
  • 1:58 - 2:00
    que processam todas essas entradas,
  • 2:00 - 2:02
    produzem todas essas saídas,
  • 2:02 - 2:06
    sem experienciar esse filme interior?
  • 2:06 - 2:09
    Até agora, ninguém sabe as respostas
  • 2:09 - 2:11
    para essas perguntas.
  • 2:11 - 2:14
    Eu irei propor que, para integrar
    a consciência à ciência,
  • 2:14 - 2:19
    algumas idéias radicais
    podem ser necessárias.
  • 2:19 - 2:22
    Alguns dizem que uma
    ciência da consciência
  • 2:22 - 2:24
    é impossível.
  • 2:24 - 2:27
    Ciência, por natureza,
    é objetiva.
  • 2:28 - 2:31
    Consciência, por natureza,
    é subjetiva.
  • 2:31 - 2:36
    Então nunca poderia haver
    uma ciência da consciência.
  • 2:36 - 2:39
    Por grande parte do século 20,
    essa visão se sustentou.
  • 2:39 - 2:43
    Psicólogos estudaram
    o comportamento objetivamente
  • 2:43 - 2:47
    neurocientistas estudaram
    o cérebro objetivamente,
  • 2:47 - 2:50
    e ninguém jamais mencionou
    a consciência.
  • 2:50 - 2:53
    Mesmo 30 anos atrás,
    quando o TED começou,
  • 2:53 - 2:55
    havia muito pouco trabalho científico
  • 2:55 - 2:58
    sobre a consciência.
  • 2:58 - 3:00
    Mas, cerca de 20 anos atrás,
  • 3:00 - 3:03
    isso tudo começou a mudar.
  • 3:03 - 3:05
    Neurocientistas como Francis Crick
  • 3:05 - 3:08
    e físicos como Roger Penrose
  • 3:08 - 3:10
    disseram que este era o momento
  • 3:10 - 3:13
    para a ciência atacar a consciência.
  • 3:13 - 3:15
    E desde então, têm havido
    uma grande explosão,
  • 3:15 - 3:18
    um florescer de trabalhos científicos
  • 3:18 - 3:19
    sobre consciência.
  • 3:19 - 3:21
    E este trabalho é maravilhoso.
    É ótimo!
  • 3:21 - 3:23
    Mas também tem
  • 3:23 - 3:26
    algumas limitações fundamentais.
  • 3:27 - 3:29
    A peça central
  • 3:29 - 3:31
    da recente ciência da consciência
  • 3:31 - 3:34
    têm sido a busca por correlações,
  • 3:34 - 3:37
    correlações entre certas
    áreas do cérebro
  • 3:37 - 3:41
    e certos estados de consciência.
  • 3:41 - 3:43
    Vimos um pouco disso
  • 3:43 - 3:45
    por Nancy Kanwisher
    e o excelente trabalho
  • 3:45 - 3:47
    que ela apresentou
    minutos atrás.
  • 3:47 - 3:51
    Agora entendemos muito melhor,
    por exemplo,
  • 3:51 - 3:53
    os tipos de áreas cerebrais
    que lidam com
  • 3:53 - 3:56
    a experiência consciente
    de ver rostos,
  • 3:56 - 4:00
    ou de sentir dor
  • 4:00 - 4:02
    ou de se sentir feliz.
  • 4:02 - 4:05
    Mas isso ainda é uma
    ciência de correlações.
  • 4:05 - 4:08
    Não é uma ciência de explicações.
  • 4:08 - 4:11
    Sabemos que essas áreas do cérebro
  • 4:11 - 4:15
    relacionam-se com certos
    tipos de experiências conscientes
  • 4:15 - 4:18
    mas não sabemos o porquê.
  • 4:18 - 4:21
    Gosto de colocar isso dizendo
  • 4:21 - 4:24
    que este tipo de trabalho
    da neurociência
  • 4:24 - 4:26
    está respondendo
    algumas das questões
  • 4:26 - 4:28
    que queremos saber
    sobre a consciência,
  • 4:28 - 4:32
    as questões sobre o que certas
    áreas do cérebro fazem
  • 4:32 - 4:34
    e com o que elas se correlacionam.
  • 4:34 - 4:37
    Mas, de certo modo, estes são
    os problemas mais fáceis.
  • 4:37 - 4:39
    Sem ofender aos neurocientistas.
  • 4:39 - 4:42
    Não há problemas realmente
    fáceis com consciência.
  • 4:42 - 4:46
    Mas isso não leva ao real mistério,
  • 4:46 - 4:48
    ao centro do assunto:
  • 4:48 - 4:53
    o que é isso que todo
    processamento físico no cérebro
  • 4:53 - 4:56
    tenha que ser acompanhado
    pela consciência?
  • 4:56 - 4:59
    Por que existe esse
    filme subjetivo interior?
  • 4:59 - 5:02
    Agora mesmo, não temos
    nem uma gota disso.
  • 5:02 - 5:04
    E você pode dizer,
  • 5:04 - 5:08
    "vamos apenas dar alguns anos
    à neurociência.
  • 5:08 - 5:11
    Isso acabará sendo outro
    fenômeno emergente
  • 5:11 - 5:16
    como engarrafamentos, como furacões,
  • 5:16 - 5:19
    como a vida,
    e nós iremos entender".
  • 5:19 - 5:21
    Os casos clássicos de emergência
  • 5:21 - 5:24
    são todos casos de
    comportamento emergente,
  • 5:24 - 5:27
    como um engarrafamento se comporta,
  • 5:27 - 5:28
    como um furacão funciona,
  • 5:28 - 5:30
    como um organismo vivo se reproduz,
  • 5:30 - 5:34
    se adapta e metaboliza,
  • 5:34 - 5:36
    todas questões sobre
    funcionamento objetivo.
  • 5:36 - 5:39
    Você poderia aplicar isso
    ao cérebro humano
  • 5:39 - 5:41
    explicando alguns dos
    comportamentos
  • 5:41 - 5:43
    e funções do cérebro humano
  • 5:43 - 5:44
    como fenômeno emergente:
  • 5:44 - 5:48
    como andamos, como falamos,
    como jogamos xadrez,
  • 5:48 - 5:50
    todas estas questões sobre
    comportamento.
  • 5:50 - 5:52
    Mas, no que se refere à consciência,
  • 5:52 - 5:54
    questões sobre comportamento
  • 5:54 - 5:57
    estão entre os problemas fáceis.
  • 5:57 - 5:59
    Quando chegamos ao
    problema difícil,
  • 5:59 - 6:01
    aí está a questão do por quê
  • 6:01 - 6:03
    que todo este comportamento
  • 6:03 - 6:06
    é acompanhado por uma
    experiência subjetiva?
  • 6:06 - 6:08
    E aqui, o paradigma convencional
  • 6:08 - 6:09
    da emergência,
  • 6:09 - 6:12
    mesmo os paradigmas
    convencionais da neurociência,
  • 6:12 - 6:16
    não têm exatamente muito a dizer.
  • 6:17 - 6:20
    Agora, eu sou um cientista
    materialista de coração.
  • 6:20 - 6:24
    Eu quero uma teoria científica
    da consciência
  • 6:24 - 6:27
    que funcione,
  • 6:27 - 6:29
    e, por um longo período,
  • 6:29 - 6:31
    eu dei de cara com a parede
  • 6:31 - 6:33
    procurando por uma
    teoria da consciência
  • 6:33 - 6:35
    em puros termos físicos
  • 6:35 - 6:36
    que funcionaria.
  • 6:36 - 6:38
    Mas eu acabei chegando à conclusão
  • 6:38 - 6:42
    que aquilo simplesmente não funcionava,
    por razões sistemáticas.
  • 6:42 - 6:44
    É uma longa história,
  • 6:44 - 6:46
    mas a ideia central é que
    o que você consegue
  • 6:46 - 6:49
    com explicações puramente
    reducionistas,
  • 6:49 - 6:51
    em termos físicos,
    em termos cerebrais,
  • 6:51 - 6:54
    são histórias sobre o funcionamento
    de um sistema,
  • 6:54 - 6:56
    sua estrutura, sua dinâmica,
  • 6:56 - 6:58
    o comportamento que isso produz,
  • 6:58 - 7:00
    ótimo para solucionar
    os problemas fáceis —
  • 7:00 - 7:02
    como nos comportamos,
    como funcionamos —
  • 7:02 - 7:06
    mas quando chegamos na
    experiência subjetiva —
  • 7:06 - 7:09
    por que isso tudo parece
    algo vindo de dentro? —
  • 7:09 - 7:11
    isso é algo fundamentalmente novo,
  • 7:11 - 7:15
    e é sempre uma questão à frente.
  • 7:15 - 7:20
    Então imagino que chegamos
    a um impasse aqui.
  • 7:21 - 7:24
    Temos esta maravilhosa
    cadeia de explicações,
  • 7:24 - 7:27
    estamos acostumados a isso,
    onde a física explica a química,
  • 7:27 - 7:31
    a química explica a biologia,
  • 7:31 - 7:35
    e a biologia explica
    partes da psicologia.
  • 7:35 - 7:36
    Mas a consciência
  • 7:36 - 7:39
    não parece se encaixar
    nesse cenário.
  • 7:39 - 7:41
    Por um lado está esse dado
  • 7:41 - 7:43
    que somos conscientes.
  • 7:43 - 7:45
    Por outro, não sabemos como
  • 7:45 - 7:48
    acomodar isso na nossa
    visão científica do mundo.
  • 7:48 - 7:50
    Então imagino que a consciência, hoje,
  • 7:50 - 7:52
    seja algum tipo de anomalia,
  • 7:52 - 7:54
    uma que precisamos integrar
  • 7:54 - 7:58
    à nossa visão do mundo,
    mas não sabemos ainda como.
  • 7:58 - 8:00
    De frente a uma
    anomalia como essa,
  • 8:00 - 8:03
    ideias radicais podem ser necessárias,
  • 8:03 - 8:06
    e acho que precisaremos de
    uma ou duas idéias
  • 8:06 - 8:09
    que inicialmente parecem malucas,
  • 8:09 - 8:12
    antes de nos agarrarmos à consciência
  • 8:12 - 8:14
    cientificamente.
  • 8:14 - 8:15
    Agora, há alguns candidatos
  • 8:15 - 8:18
    para o que essas
    idéias malucas possam ser.
  • 8:18 - 8:22
    Meu amigo Dan Dennett,
    que está aqui hoje, tem uma.
  • 8:22 - 8:25
    Sua ideia maluca é que não há
  • 8:25 - 8:26
    problema difícil na consciência.
  • 8:26 - 8:30
    Toda a ideia do filme subjetivo interior
  • 8:30 - 8:34
    envolve um tipo de ilusão ou confusão.
  • 8:34 - 8:36
    Na verdade,
    tudo que temos a fazer é
  • 8:36 - 8:39
    explicar as funções objetivas,
    os comportamentos cerebrais,
  • 8:39 - 8:41
    e então teremos explicado tudo
  • 8:41 - 8:44
    que precisa ser explicado.
  • 8:44 - 8:46
    Bem, eu digo... Mais poder a ele!
  • 8:46 - 8:48
    Este é o tipo de ideia radical
  • 8:48 - 8:50
    que precisamos explorar
  • 8:50 - 8:53
    se queremos ter uma
    teoria cerebral da consciência
  • 8:53 - 8:56
    puramente reducionista.
  • 8:56 - 8:58
    Ao mesmo tempo,
    para mim e muitos outros,
  • 8:58 - 9:00
    esta visão está um pouco
    perto demais
  • 9:00 - 9:02
    de simplesmente negar
    o dado da consciência
  • 9:02 - 9:04
    para ser satisfatória.
  • 9:04 - 9:07
    Então eu vou em uma
    direção diferente.
  • 9:07 - 9:08
    No tempo restante,
  • 9:08 - 9:11
    eu quero explorar duas ideias malucas
  • 9:11 - 9:15
    que eu acredito que podem ser promissoras.
  • 9:15 - 9:16
    A primeira ideia maluca
  • 9:16 - 9:20
    é que consciência é fundamental.
  • 9:21 - 9:24
    Físicos as vezes tomam
    alguns aspectos do universo
  • 9:24 - 9:26
    como pilares fundamentais:
  • 9:26 - 9:30
    espaço, tempo e massa.
  • 9:30 - 9:33
    Eles postulam leis fundamentais
    as governando,
  • 9:33 - 9:37
    como as leis da gravidade
    e as da mecânica quântica.
  • 9:37 - 9:39
    Essas leis e propriedades fundamentais
  • 9:39 - 9:43
    não são explicadas em nenhum
    termo mais básico.
  • 9:43 - 9:45
    Ao invés disso,
    são tomadas como primárias,
  • 9:45 - 9:49
    e você constrói o mundo a partir dali.
  • 9:49 - 9:54
    Agora, às vezes, a lista de
    fundamentos se expande.
  • 9:54 - 9:56
    No século 19, Maxwell descobriu
  • 9:56 - 10:00
    que você não podia explicar
    o fenômeno eletromagnético
  • 10:00 - 10:02
    nos termos dos fundamentos existentes —
  • 10:02 - 10:05
    espaço, tempo, massa e as leis de Newton —
  • 10:05 - 10:08
    então ele postulou leis fundamentais
  • 10:08 - 10:09
    do eletromagnetismo
  • 10:09 - 10:12
    e postulou a carga elétrica
  • 10:12 - 10:14
    como o elemento fundamental
  • 10:14 - 10:16
    que aquelas leis governam.
  • 10:16 - 10:20
    Acho que essa é a situação
    em que nos deparamos
  • 10:20 - 10:21
    com a consciência.
  • 10:21 - 10:24
    Se você não pode explicar a consciência
  • 10:24 - 10:26
    nos termos dos fundamentos atuais —
  • 10:26 - 10:29
    espaço, tempo, massa, carga —
  • 10:29 - 10:32
    então, logicamente, você
    precisa expandir a lista.
  • 10:32 - 10:35
    A coisa natural a se fazer é postular
  • 10:35 - 10:38
    a consciência em si
    como algo fundamental,
  • 10:38 - 10:41
    um pilar fundamental da natureza.
  • 10:41 - 10:44
    Isto não significa que, de repente,
    você não pode fazer ciência com isso.
  • 10:44 - 10:48
    Isso abre o caminho para que você
    possa fazer ciência com isso.
  • 10:48 - 10:50
    O que precisamos agora é estudar
  • 10:50 - 10:53
    as leis fundamentais
    governando a consciência,
  • 10:53 - 10:55
    as leis que conectam a consciência
  • 10:55 - 10:58
    aos outros fundamentos:
    espaço, tempo, massa,
  • 10:58 - 11:01
    processos físicos.
  • 11:01 - 11:03
    Físicos as vezes dizem
  • 11:03 - 11:06
    que queremos leis fundamentais
    tão simples
  • 11:06 - 11:09
    que poderíamos estampá-las em camisetas.
  • 11:09 - 11:11
    Bem, acho que algo assim é a situação
  • 11:11 - 11:13
    que temos com a consciência.
  • 11:13 - 11:16
    Queremos encontrar
    leis fundamentais tão simples
  • 11:16 - 11:18
    que poderíamos estampá-las
    em camisetas.
  • 11:18 - 11:20
    Não sabemos quais são
    essas leis ainda,
  • 11:20 - 11:23
    mas é disso que estamos atrás.
  • 11:24 - 11:26
    A segunda ideia maluca
  • 11:26 - 11:29
    é que a consciência
    possa ser universal.
  • 11:29 - 11:33
    Todo sistema deve ter
  • 11:33 - 11:36
    algum grau de consciência.
  • 11:36 - 11:39
    Essa visão às vezes é chamada
    de pampsiquismo:
  • 11:39 - 11:42
    pan para todos,
    psiquismo para mente,
  • 11:42 - 11:44
    todo sistema é consciente,
  • 11:44 - 11:48
    não apenas humanos,
    cães, ratos, moscas,
  • 11:48 - 11:51
    mas até mesmo os
    micróbios de Rob Knight,
  • 11:51 - 11:53
    partículas elementares.
  • 11:53 - 11:56
    Até mesmo um fóton tem
    algum grau de consciência.
  • 11:56 - 11:59
    A ideia não é que fótons
    sejam inteligentes,
  • 11:59 - 12:01
    ou pensem.
  • 12:01 - 12:02
    Não é que um fóton
  • 12:02 - 12:03
    se sinta angustiado pensando:
  • 12:03 - 12:07
    "Aww, estou sempre vagando por aí
    quase à velocidade da luz.
  • 12:07 - 12:10
    Nunca desacelero pra sentir
    o perfume das rosas."
  • 12:10 - 12:12
    Não, não dessa forma.
  • 12:12 - 12:15
    Mas a ideia é que
    fótons talvez tenham
  • 12:15 - 12:18
    algum elemento de sentimento bruto,
    subjetivo,
  • 12:18 - 12:22
    algum precursor primitivo
    da consciência.
  • 12:22 - 12:25
    Isso pode soar um pouco
    excêntrico para você.
  • 12:25 - 12:27
    Quero dizer, por quê alguém
    pensaria algo tão maluco?
  • 12:27 - 12:31
    Uma motivação vem
    da primeira ideia maluca,
  • 12:31 - 12:33
    que a consciência seja fundamental.
  • 12:33 - 12:37
    Se é fundamental,
    como espaço, tempo e massa,
  • 12:37 - 12:40
    é natural supor que seja universal também,
  • 12:40 - 12:42
    do modo como são.
  • 12:42 - 12:44
    Também vale observar que,
    embora a ideia
  • 12:44 - 12:46
    pareca contra-intuitiva para nós,
  • 12:46 - 12:49
    é muito menos contra-intuitiva
  • 12:49 - 12:50
    para pessoas de diferentes culturas,
  • 12:50 - 12:52
    onde a mente humana é vista como
  • 12:52 - 12:55
    muito mais interligada à natureza.
  • 12:55 - 12:59
    Uma motivação mais profunda
    vem da ideia de que
  • 12:59 - 13:01
    talvez a forma mais simples e poderosa
  • 13:01 - 13:03
    de encontrar leis fundamentais
    conectando
  • 13:03 - 13:05
    a consciência ao processamento físico
  • 13:05 - 13:08
    seja conectando a consciência
    à informação.
  • 13:08 - 13:10
    Onde quer que haja
    processamento de informação,
  • 13:10 - 13:11
    há consciência.
  • 13:11 - 13:14
    Processamento de informação complexa,
    como nos humanos,
  • 13:14 - 13:15
    consciência complexa.
  • 13:15 - 13:17
    Processamento de informação simples,
  • 13:17 - 13:19
    consciência simples.
  • 13:19 - 13:22
    Algo muito excitante nos últimos anos
  • 13:22 - 13:25
    é que um neurocientista, Giulio Tononi,
  • 13:25 - 13:26
    tomou este tipo de teoria
  • 13:26 - 13:28
    e a desenvolveu rigorosamente
  • 13:28 - 13:30
    com uma teoria matemática.
  • 13:30 - 13:32
    Ele tem uma medida matemática
  • 13:32 - 13:33
    de integração de informação
  • 13:33 - 13:35
    que ele chama de phi (ou fi),
  • 13:35 - 13:37
    medindo a quantidade de informação
  • 13:37 - 13:38
    integrada a um sistema.
  • 13:38 - 13:41
    E ele supõe que o phi se relaciona
  • 13:41 - 13:42
    com a consciência.
  • 13:42 - 13:44
    Então num cérebro humano,
  • 13:44 - 13:46
    com enormes quantidades
    de integração da informação,
  • 13:46 - 13:48
    alto grau de phi,
  • 13:48 - 13:50
    um grande amontoado de consciência.
  • 13:50 - 13:53
    Em um rato, médio grau de
    integração da informação,
  • 13:53 - 13:54
    ainda assim muito significante,
  • 13:54 - 13:56
    uma considerável
    quantidade de consciência.
  • 13:56 - 13:59
    Mas conforme você desce até os vermes,
  • 13:59 - 14:02
    micróbios, partículas,
  • 14:02 - 14:04
    a quantidade de phi decai.
  • 14:04 - 14:06
    A quantidade de integração
    da informação decai,
  • 14:06 - 14:08
    mas ainda não é zero.
  • 14:08 - 14:10
    Na teoria de Tononi,
  • 14:10 - 14:12
    ainda haverá um grau não-zero
  • 14:12 - 14:14
    de consciência.
  • 14:14 - 14:16
    Com efeito, ele está propondo
    uma lei fundamental
  • 14:16 - 14:19
    da consciência: alto phi,
    alta consciência.
  • 14:19 - 14:22
    Agora, não sei se essa teoria é correta,
  • 14:22 - 14:25
    mas talvez seja, na verdade,
    a teoria precursora neste momento
  • 14:25 - 14:27
    na ciência da consciência,
  • 14:27 - 14:29
    e vêm sendo utilizada para integrar
  • 14:29 - 14:31
    um vasto leque de dados científicos,
  • 14:31 - 14:34
    e tem uma boa propriedade
    que é, de fato,
  • 14:34 - 14:37
    simples o suficiente para
    estampar em uma camiseta.
  • 14:37 - 14:40
    Outra motivação final é que
  • 14:40 - 14:42
    o pampsiquismo pode
    nos ajudar a integrar
  • 14:42 - 14:45
    consciência ao mundo físico.
  • 14:45 - 14:48
    Físicos e filósofos têm observado
  • 14:48 - 14:51
    que a física é curiosamente abstrata.
  • 14:51 - 14:53
    Ela descreve a estrutura da realidade
  • 14:53 - 14:55
    utilizando um monte de equações,
  • 14:55 - 14:58
    mas isso não nos diz
    sobre a realidade
  • 14:58 - 14:59
    que a sustenta.
  • 14:59 - 15:01
    Como Stephen Hawking diz,
  • 15:01 - 15:05
    o que coloca a alma nas equações?
  • 15:05 - 15:08
    Bem, na visão pampsíquica,
  • 15:08 - 15:10
    você pode deixar as equações
    da física como estão,
  • 15:10 - 15:12
    mas você pode usá-las para descrever
  • 15:12 - 15:14
    o fluxo de consciência.
  • 15:14 - 15:16
    Isso é o que a física está
    finalmente fazendo,
  • 15:16 - 15:18
    descrevendo o fluxo de consciência.
  • 15:18 - 15:20
    Nessa visão, é a consciência
  • 15:20 - 15:24
    que coloca alma nas equações.
  • 15:24 - 15:26
    Nessa visão, a consciência
  • 15:26 - 15:27
    não está suspensa
    fora do mundo físico
  • 15:27 - 15:29
    como algo adicional.
  • 15:29 - 15:32
    Está lá, direto no centro.
  • 15:32 - 15:35
    Essa visão, eu penso,
    a visão pampsíquica,
  • 15:35 - 15:38
    tem o potencial de transfigurar
    nossa relação
  • 15:38 - 15:40
    com a natureza,
  • 15:40 - 15:42
    e pode ter sérias consequências
  • 15:42 - 15:45
    sociais e éticas.
  • 15:46 - 15:48
    Algumas delas podem ser
    contra-intuitivas.
  • 15:48 - 15:51
    Eu costumava pensar que
    não deveria comer nada
  • 15:51 - 15:54
    que fosse consciente,
  • 15:54 - 15:56
    sendo assim, deveria ser vegetariano.
  • 15:56 - 15:59
    Agora, se você é pampsiquista
    e adota essa visão
  • 15:59 - 16:02
    você vai passar muita fome.
  • 16:02 - 16:03
    Quando se pensa nisso,
  • 16:03 - 16:05
    isso tende a transfigurar sua visão,
  • 16:05 - 16:07
    já que o que importa
    para propósitos éticos
  • 16:07 - 16:09
    e considerações morais,
  • 16:09 - 16:12
    não é apenas o fato da consciência,
  • 16:12 - 16:15
    mas o grau e a complexidade
    da consciência.
  • 16:15 - 16:17
    Também é natural perguntar
    sobre a consciência
  • 16:17 - 16:20
    em outros sistemas,
    como computadores.
  • 16:20 - 16:23
    Que tal o sistema
    artificialmente inteligente
  • 16:23 - 16:25
    do filme "Ela", Samantha?
  • 16:26 - 16:27
    Ela é consciente?
  • 16:27 - 16:29
    Bem, se você pegar a visão
  • 16:29 - 16:30
    informacional pampsíquica,
  • 16:30 - 16:33
    ela certamente tem um processamento
    de informações complexo
  • 16:33 - 16:35
    e integração,
  • 16:35 - 16:37
    então a resposta provável é sim,
    ela é consciente.
  • 16:37 - 16:40
    Se isso está certo,
    levanta questões éticas
  • 16:40 - 16:43
    muito sérias sobre
  • 16:43 - 16:46
    a ética em desenvolver
    sistemas inteligentes
  • 16:46 - 16:49
    e a ética de desligá-los.
  • 16:49 - 16:51
    Por fim, você deve perguntar
    sobre a consciência
  • 16:51 - 16:53
    de grupos inteiros,
  • 16:53 - 16:55
    o planeta.
  • 16:55 - 16:58
    O Canadá possui sua
    própria consciência?
  • 16:58 - 17:00
    Ou, em um nível mais local,
  • 17:00 - 17:01
    um grupo integrado
  • 17:01 - 17:04
    como a audiência em
    uma conferência TED
  • 17:04 - 17:07
    estamos nós, nesse momento,
    tendo uma consciência coletiva,
  • 17:07 - 17:09
    um filme interior,
  • 17:09 - 17:11
    para este grupo TED
  • 17:11 - 17:14
    que seja distinto dos filmes interiores
    de cada uma das nossas partes?
  • 17:14 - 17:16
    Não sei a resposta
    para essa pergunta,
  • 17:16 - 17:18
    mas acho que ao menos seja uma
  • 17:18 - 17:20
    que valha a pena levar a sério.
  • 17:20 - 17:22
    Certo, então essa visão pampsíquica
  • 17:22 - 17:24
    é radical,
  • 17:24 - 17:26
    e eu não sei se está correta.
  • 17:26 - 17:28
    Estou, na verdade, mais confiante
  • 17:28 - 17:30
    sobre a primeira ideia maluca,
  • 17:30 - 17:32
    de que a consciência é fundamental,
  • 17:32 - 17:34
    do que sobre a segunda,
  • 17:34 - 17:36
    de que seja universal.
  • 17:36 - 17:38
    Digo, a visão levanta inúmeras questões,
  • 17:38 - 17:40
    qualquer número de desafios,
  • 17:40 - 17:41
    do tipo como os pequenos pedaços
  • 17:41 - 17:43
    de consciência se aglutinam
  • 17:43 - 17:45
    ao tipo de consciência complexa
  • 17:45 - 17:47
    que conhecemos e amamos.
  • 17:47 - 17:51
    Se pudermos responder essas perguntas,
    acredito que estaremos indo bem
  • 17:51 - 17:54
    no nosso caminho para uma
    teoria séria da consciência.
  • 17:54 - 17:57
    Se não, bem, este é o problema
    mais difícil talvez,
  • 17:57 - 17:59
    na ciência e na filosofia.
  • 17:59 - 18:02
    Não podemos esperar
    resolvê-lo numa noite.
  • 18:02 - 18:06
    Mas acredito que iremos
    entender isso algum dia.
  • 18:06 - 18:09
    Entender a consciência
    é a chave, eu acho,
  • 18:09 - 18:11
    tanto para entender o universo,
  • 18:11 - 18:14
    quanto para entendermos
    nós mesmos.
  • 18:14 - 18:17
    Talvez apenas precisemos
    da ideia maluca certa.
  • 18:17 - 18:19
    Obrigado.
  • 18:19 - 18:20
    (Aplausos)
Title:
Como explicar a consciência?
Speaker:
David Chalmers
Description:

Nossa consciência é um aspecto fundamental da nossa existência, diz o filósofo David Chalmers: "Não há nada que conheçamos tão profundamente...,mas ao mesmo tempo é o fenômeno mais misterioso do universo". Ele divide algumas maneiras de pensar sobre o filme interior passando em nossas mentes.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
18:37
  • Some of the subtitle lines may have surpassed the 42 characters limit. However, the speaker of this video talks very clearly and makes use of big intervals between phrases. That being said, I believe there may be no problem in keeping it that way. Please check it out and advise me correctly. Thanks.

  • Olá Erico,
    Se eu deixei passar alguma linha fora do padrão, sinta-se totalmente a vontade para adapta-la, ou simplesmente quebrá-la em duas (o mesmo vale para a velocidade de leitura). A regra do 42/21 têm sido bastante cobrada pelos LC's, para que consigamos manter a maior qualidade possível no trabalho.
    Se houver algo mais em que eu possa ajudar, estou a disposição.

    Abs

  • Obrigado, Rafael. Como comecei há pouco tempo, ainda não tomei a liberdade de editar as linhas ou a velocidade de leitura, mas vou ficar de olho nisso nas próximas vezes.

    Abs.

  • Obrigado, Rafael. Como comecei há pouco tempo, ainda não tomei a liberdade de editar as linhas ou a velocidade de leitura, mas vou ficar de olho nisso nas próximas vezes.

    Abs.

  • Erico,
    Neste caso, se você realmente começou há pouco e não sente segurança, a própria equipe de coordenadores sugere que você não pegue tarefas de revisão, pois estas exigem um pouco mais de experiência.
    O pessoal costuma orientar a só pegar tarefas de revisão após ter legendado, no mínimo, 90 minutos de TED Talks, isso para te dar uma maior base.

    Coloco aqui embaixo o link dos vídeos de orientação do OTP que me ajudaram bastante no começo:
    https://www.youtube.com/user/OTPTED

    Qualquer dúvida ou algo mais em que eu possa ajudar, estou a disposição.

    Abraços,

  • Olá Enrico e Rafael,

    Li a discussão de vocês no comentário, muito boa. Parabéns, tanto pela disposição de dialogarem entre si para fazerem o melhor trabalho, quanto pelo que fizeram com a legenda, que estava muito boa. Eu fiz alguns pequenos ajustes para adequar aos 42:21 e corrigi alguns typos, mas gostei muito da qualidade geral.

    Em 7:38.77 - "on one hand" foi traduzido por "numa mão", mas não soa muito natural em português, então troquei pelo equivalente "por um lado/por outro".

    Quanto à liberdade de editar na revisão é exatamente o que o Rafael disse. A revisão é vista por muitos como mais fácil, já que teoricamente alguém já traduziu e interpretou aquele termo mais difícil ou aquela piadinha, etc. Na realidade ela é bem mais difícil, porque você tem de analisar de forma crítica o trabalho do tradutor e justamente se sentir confortável para sugerir correções e explicar o que deve mudar ou elogiar o que foi feito muito bem. Desse modo temos sim recomendado que a pessoa tenha transcrito ou traduzido 90 minutos antes de prosseguir, faz com que ela "pegue o jeito", se desenvolva, para contribuir ainda mais :)

    Os vídeos do canal do TED OTP, recomendados pelo Rafael são realmente um ótimo ponto de partida. Para outras explicações e tutoriais mais detalhados, há também a OTPedia (Wiki do TED OTP) http://translations.ted.org/wiki/Main_Page

    É isso, qualquer dúvida estou à disposição.

    Abraços!

  • Valeu, Rafael! Vou dar uma olhada nesse link.

    Obrigado, Tulio! Ok, vou me informar melhor nesse canal antes de partir pra outras revisões. Qualquer dúvida, divido aqui.

    Abs.

Portuguese, Brazilian subtitles

Revisions