Não se nasce feminista | Dora Barrancos | TEDxRíodelaPlata
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0:16 - 0:18Como podem imaginar,
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0:19 - 0:22nenhuma mulher nasce feminista.
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0:22 - 0:24Eu também não nasci feminista.
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0:28 - 0:32Vou dizer-vos como
me tornei feminista. -
0:33 - 0:35Eu vivia no Brasil,
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0:35 - 0:40estive exilada por causa
da ditadura militar, até 1979, -
0:41 - 0:44e tinha ocorrido um incidente trágico.
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0:45 - 0:50Uma mulher maravilhosa de Minas Gerais,
o sítio onde eu vivia, -
0:50 - 0:56tinha sido morta a tiro na praia de Búzios
pelo seu companheiro -
0:57 - 0:59que alegou infidelidade.
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1:02 - 1:07Um dia, eu estava a assistir
a um programa de televisão, -
1:08 - 1:11e deparo com uma jornalista
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1:12 - 1:16a fazer uma entrevista ao advogado
de defesa do homicida. -
1:18 - 1:24O advogado de defesa é uma figura
importante do direito penal brasileiro. -
1:26 - 1:30Então, a jornalista perguntou-lhe
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1:31 - 1:35como ia encarar a defesa do homicida.
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1:36 - 1:42O nosso advogado, muito à vontade,
disse que era muito fácil -
1:42 - 1:44— claro que não digo em português —
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1:44 - 1:46muito fácil:
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1:46 - 1:48legítima defesa da honra.
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1:51 - 1:53Tinha-a matado por causa disso.
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1:53 - 1:56Como podem imaginar,
fiquei indignada. -
1:56 - 1:59Eu que era uma justiceira
em todos os sentidos, -
1:59 - 2:04que defendia a igualdade
de todas as pessoas, -
2:04 - 2:08dei-me conta de que me faltava
um capítulo essencial em mim mesma. -
2:08 - 2:11Portanto, obriguei-me
a estudar, a repensar -
2:11 - 2:14o que se passava com as mulheres.
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2:15 - 2:18Que se tinha passado
com as mulheres na história? -
2:19 - 2:23Então, deparei com o sistema patriarcal
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2:23 - 2:25que é um sistema de exclusões.
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2:25 - 2:27Mas não é só das mulheres.
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2:27 - 2:29Não é só das mulheres.
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2:29 - 2:32O sistema patriarcal também exclui
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2:32 - 2:36todos os que não leem
pela mesma cartilha masculina. -
2:38 - 2:43Nessa procura, obviamente,
encontrei, sobretudo, -
2:43 - 2:45tudo o que se passara no século XIX
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2:45 - 2:49— que é um século de muita exclusão
para as mulheres. -
2:50 - 2:54Então, fomos ao Código Napoleónico,
de 1804, -
2:54 - 2:58um código totalmente imitado
pelos nossos países, -
2:59 - 3:02que inferiorizava as mulheres
juridicamente. -
3:02 - 3:06As mulheres não podiam estudar
nem trabalhar, -
3:06 - 3:09nem gerir os seus próprios bens.
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3:11 - 3:13Mas vou recordar-vos
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3:13 - 3:18que, do mesmo modo que há
um regime de exclusão tão vincado, -
3:18 - 3:24muitos homens começaram
a acompanhar os protestos das mulheres. -
3:24 - 3:26Surgiu o feminismo.
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3:26 - 3:31Vou lembrar que, em 1848,
fez-se talvez a primeira assembleia -
3:32 - 3:37das feministas, em Seneca Falls,
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3:38 - 3:41perto de Nova Iorque,
numa igreja metodista. -
3:42 - 3:46Ali, nessa ocasião,
houve 30% de homens -
3:46 - 3:50que acompanharam os protestos
de igualdade de direitos. -
3:51 - 3:55Já disse que o século XIX
foi especialmente duro para as mulheres. -
3:56 - 4:00Era muito vulgar pensar-se
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4:00 - 4:04que as mulheres eram muito
menos inteligentes que os homens. -
4:05 - 4:10Lembro que Gustave le Bon,
um sociólogo francês, dizia -
4:10 - 4:15que a inteligência feminina
se comparava com a de um gorila -
4:16 - 4:17e, mesmo assim...
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4:19 - 4:24Então, parece-me que temos
percorrido um longo caminho, -
4:24 - 4:27mas ainda faltam muitas coisas
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4:28 - 4:33para conquistar a total igualdade
entre os sexos. -
4:36 - 4:40Vou referir quatro dimensões,
a meu ver fundamentais, -
4:41 - 4:45para conseguir a igualdade.
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4:46 - 4:50Em primeiro lugar, é necessário parar,
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4:53 - 4:56excluir definitivamente
a violência contra as mulheres. -
4:57 - 5:01Na Argentina, já houve
três grandes mobilizações: -
5:03 - 5:07o movimento "Nem uma a menos"
foi decisivo. -
5:08 - 5:11(Aplausos)
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5:20 - 5:21Nestes dias, tivemos
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5:21 - 5:26talvez a primeira experiência histórica
de uma greve de mulheres. -
5:26 - 5:30Sim, talvez no passado,
na literatura, tenha havido. -
5:31 - 5:33Mas esta foi notável.
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5:35 - 5:38Em segundo lugar,
gostava de dizer -
5:38 - 5:41que é absolutamente fundamental
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5:42 - 5:45a participação idêntica
de mulheres e de homens -
5:45 - 5:47em diferentes tarefas.
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5:49 - 5:53Porque é que há de haver
tarefas só para mulheres? -
5:54 - 5:58Porque é que os homens
não podem tomar conta de crianças, -
5:58 - 6:00arrumar a casa?
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6:00 - 6:03Porque é que as mulheres
não podem desempenhar -
6:03 - 6:06as tarefas típicas dos homens?
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6:07 - 6:10Recordo que o mercado laboral
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6:11 - 6:14é terrível em relação às mulheres.
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6:15 - 6:22A massa salarial feminina representa´
só 70% da dos homens. -
6:25 - 6:29A terceira questão fundamental
que eu quero referir -
6:29 - 6:33é que necessitamos de paridade.
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6:34 - 6:39Paridade na representação da cidadania,
nos órgãos parlamentares -
6:39 - 6:43e necessitamos de equidade
em todas as instituições. -
6:45 - 6:51As mulheres apenas podem chegar
aos altos cargos. -
6:51 - 6:55Há cerca de 30% de mulheres
diretoras executivas, -
6:55 - 6:57que desempenham cargos de direção, etc.
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6:58 - 7:03Nem as universidades têm sido
generosas com a equidade. -
7:05 - 7:10Por último, gostava
que me acompanhassem na reflexão -
7:10 - 7:16sobre a ideia fundamental
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7:16 - 7:18da soberania do nosso corpo.
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7:21 - 7:23O corpo dos homens e o das mulheres.
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7:24 - 7:27As mulheres têm que ser
donas do seu corpo. -
7:27 - 7:30Podem decidir ser mães,
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7:30 - 7:32optar por um aborto,
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7:32 - 7:35ou não fazer um aborto
que não desejam. -
7:36 - 7:39(Aplausos)
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7:46 - 7:50Precisamos de despenalizar
o aborto na Argentina. -
7:50 - 7:53(Aplausos)
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8:00 - 8:04Finalmente, quero transmitir
a minha convicção íntima, -
8:06 - 8:08a convicção das feministas
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8:09 - 8:12que é um destino muito melhor
para a condição humana. -
8:14 - 8:16Trata-se da dignidade das pessoas,
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8:16 - 8:20de homens, de mulheres
e de outras sexualidades, -
8:21 - 8:27da diversidade da sexualidade
que requer para cada um de nós -
8:27 - 8:30uma vida digna de ser vivida.
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8:30 - 8:31Esta é a minha aposta.
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8:31 - 8:34(Aplausos)
- Title:
- Não se nasce feminista | Dora Barrancos | TEDxRíodelaPlata
- Description:
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O que é o feminismo? Dora Barrancos explica a sua visão sobre a história e as lutas do feminismo. Dora licenciou-se em Sociologia na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires. Tem um mestrado em Educação da Universidade de Minas Gerais (Brasil). Doutorou-se em História, na Universidade Estadual de Campinas (Brasil). Dirigiu o Mestrado e o Doutoramento dm Ciências Sociais e Humanidades da Universidade Nacional de Quilmes. É investigadora principal do CONICET e, desde maio de 2010, é diretora desse organismo, em representação das Ciências Sociais e Humanas — cargo para que foi eleita pelo voto da comunidade científica. Exilada no Brasil durante a ditadura, entrou em contacto com o movimento feminista e com outros movimentos sociais. Enquanto historiadora, Dora Barrancos dedicou-se a estudar o feminismo na Argentina, os conflitos e as revoluções privadas levadas a efeito pelas mulheres, os direitos políticos femininos (nunca isolados das lutas democráticas), os movimentos sociais do princípio do século, os movimentos socialistas e anarquistas, o papel do ensino na história argentina, e abordou aspetos da história das sexualidades dissidentes na Argentina.
Esta palestra foi feita num evento TEDx, usando o formato das Conferências TED, mas organizado de forma independente por uma comunidade local. Saiba mais em: http://ted.com/tedx
- Video Language:
- Spanish
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 08:54
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