O capitalismo engolirá a democracia — se não nos manifestarmos
-
0:01 - 0:03Democracia.
-
0:03 - 0:05No Ocidente,
-
0:05 - 0:08fazemos um erro colossal
ao considerá-la um facto adquirido. -
0:09 - 0:10Vemos a democracia
-
0:10 - 0:14não como a mais frágil das flores,
o que ela é na realidade, -
0:14 - 0:18mas como fazendo parte
do mobiliário da nossa sociedade. -
0:18 - 0:22Temos tendência para pensar nela
como um dado definitive. -
0:23 - 0:28Acreditamos erradamente que o capitalismo
gera inevitavelmente a democracia. -
0:28 - 0:29Mas não gera.
-
0:30 - 0:34Lee Kuan Yew, de Singapura,
e os seus grandes imitadores em Pequim, -
0:34 - 0:37demonstraram,
para além de qualquer dúvida, -
0:37 - 0:41que é perfeitamente possível
ter um capitalismo florescente, -
0:41 - 0:44de crescimento espetacular,
-
0:44 - 0:46mantendo uma política
isenta de democracia. -
0:46 - 0:52A democracia está a regredir
no nosso terreno, aqui na Europa -
0:52 - 0:55No início deste ano,
quando eu estava a representar a Grécia -
0:55 - 0:58— no recém-eleito governo grego —
-
0:58 - 1:01no Eurogrupo, enquanto
ministro das Finanças, -
1:01 - 1:06disseram-me muito claramente
que o processo democrático do nosso país -
1:06 - 1:08— as nossas eleições —
-
1:08 - 1:11não podia interferir
com as políticas económicas -
1:11 - 1:13que estavam a ser implementadas na Grécia.
-
1:13 - 1:15Naquele momento,
-
1:15 - 1:18senti que não podia haver
maior justificação de Lee Kuan Yew, -
1:18 - 1:21nem do Partido Comunista Chinês,
-
1:21 - 1:24nem de alguns amigos meus, recalcitrantes,
que estavam sempre a dizer-me -
1:24 - 1:29que a democracia seria banida
se ameaçássemos alterar fosse o que fosse. -
1:30 - 1:34Esta noite, quero apresentar-vos
-
1:34 - 1:37um cenário económico
para uma autêntica democracia. -
1:37 - 1:42Quero pedir-vos que se juntem a mim
para voltar a acreditar -
1:42 - 1:44que Lee Kuan Yew,
-
1:44 - 1:46o Partido Comunista Chinês
-
1:46 - 1:48e o Eurogrupo também
-
1:48 - 1:51estão errados, ao acreditarem
que podemos dispensar a democracia. -
1:52 - 1:56Precisamos duma democracia
autêntica e tempestuosa. -
1:56 - 1:58Sem democracia,
-
1:58 - 2:01a nossa sociedade será mais desagradável,
-
2:01 - 2:03o nosso futuro mais sombrio
-
2:03 - 2:06e as nossas ótimas novas tecnologias
serão um desperdício. -
2:07 - 2:09Por falar em desperdício,
-
2:09 - 2:11vou assinalar um paradoxo interessante
-
2:11 - 2:14que está a ameaçar
a nossa economia, neste momento. -
2:14 - 2:16Chamo-lhe o paradoxo
dos dois picos gémeos. -
2:16 - 2:18Um dos picos, já sabem,
vão reconhecê-lo, -
2:18 - 2:23é a montanha de dívidas
que tem lançado uma longa sombra -
2:23 - 2:27nos Estados Unidos da América,
na Europa, no mundo inteiro. -
2:27 - 2:30Todos reconhecemos a montanha de dívidas.
-
2:30 - 2:33Mas pouca gente conhece a sua gémea,
-
2:34 - 2:37uma montanha de dinheiro improdutivo
-
2:37 - 2:41que pertence aos aforradores ricos
e às grandes empresas, -
2:41 - 2:45demasiado aterrorizados para o investirem
-
2:45 - 2:48nas atividades produtivas
que podem gerar as receitas -
2:48 - 2:50com que podemos eliminar
as montanhas de dívidas -
2:50 - 2:52e que podem produzir todas as coisas
-
2:52 - 2:55de que a humanidade
necessita desesperadamente, -
2:55 - 2:56como a energia verde.
-
2:56 - 2:58Agora vou dar-vos dois números.
-
2:58 - 3:00Nos últimos três meses,
-
3:00 - 3:03nos EUA, na Grã-Bretanha
e na Zona do Euro, -
3:03 - 3:07investimos coletivamente
3,4 biliões de dólares -
3:07 - 3:10em todos os bens que produzem riqueza
-
3:10 - 3:13— coisas como instalações industriais,
maquinaria, -
3:13 - 3:15edifícios de escritórios, escolas,
-
3:15 - 3:18estradas, caminhos-de-ferro,
equipamentos, etc., etc. -
3:18 - 3:213,4 biliões de dólares
parece muito dinheiro -
3:21 - 3:24até o compararmos com os 5,1 biliões
-
3:24 - 3:27que andam a passear
por esses mesmos países -
3:27 - 3:29nas nossas instituições financeiras,
-
3:29 - 3:34sem fazer absolutamente nada
durante o mesmo período -
3:34 - 3:38a não ser inflacionar as bolsas de valores
e a fazer subir os preços das casas. -
3:39 - 3:44Assim, uma montanha de dívidas
e uma montanha de dinheiro improdutivo -
3:44 - 3:48formam dois picos gémeos,
que não se anulam um ao outro -
3:48 - 3:50no funcionamento normal dos mercados.
-
3:50 - 3:54O resultado são salários estagnados,
-
3:54 - 3:58o desemprego de mais de 1/4
de trabalhadores, dos 25 aos 54 anos, -
3:58 - 4:00nos EUA, no Japão e na Europa.
-
4:01 - 4:03E em consequência,
uma procura global baixa -
4:03 - 4:06que, num ciclo infindável,
-
4:06 - 4:09reforça o pessimismo dos investidores
-
4:09 - 4:13que, com medo da baixa procura,
reproduzem-na, não investindo, -
4:13 - 4:16tal como o pai de Édipo
-
4:16 - 4:18que, aterrorizado pela profecia do oráculo
-
4:18 - 4:21de que o filho o mataria,
quando crescesse, -
4:21 - 4:23engendrou involuntariamente as condições
-
4:23 - 4:26que levaram o seu filho Édipo a matá-lo.
-
4:27 - 4:29É esta a minha guerra com o capitalismo.
-
4:29 - 4:32O seu desperdício enorme,
-
4:32 - 4:33todo esse dinheiro improdutivo
-
4:33 - 4:37devia ser utilizado para melhorar vidas,
-
4:37 - 4:39para desenvolver os talentos humanos,
-
4:39 - 4:42e para financiar todas essas tecnologias,
as tecnologias verdes, -
4:42 - 4:46que são totalmente essenciais
para salvar o planeta Terra. -
4:47 - 4:50Terei razão em acreditar
que a democracia pode ser a resposta? -
4:50 - 4:51Acho que sim.
-
4:51 - 4:52Mas, antes de avançarmos,
-
4:52 - 4:55o que é que queremos dizer com democracia?
-
4:55 - 4:57Aristóteles definiu a democracia
-
4:57 - 5:02como um sistema
em que os homens livres e os pobres, -
5:02 - 5:05sendo a maioria, controlam o governo.
-
5:05 - 5:09Claro que a democracia ateniense
excluía demasiada gente. -
5:09 - 5:12Mulheres, imigrantes e os escravos, claro.
-
5:12 - 5:14Mas seria um erro
-
5:14 - 5:18desdenhar do significado
da democracia ateniense da Antiguidade, -
5:18 - 5:20baseando-nos naqueles que ela excluía.
-
5:20 - 5:23O que foi mais pertinente
— e continua a ser — -
5:23 - 5:25na democracia ateniense da Antiguidade,
-
5:25 - 5:28foi a inclusão dos trabalhadores pobres,
-
5:28 - 5:33que adquiriram o direito
de livre expressão -
5:33 - 5:36e, mais importante ainda,
mais crucialmente, -
5:36 - 5:38adquiriram o direito
a opiniões políticas -
5:38 - 5:40que tinham o mesmo peso
-
5:40 - 5:44na tomada de decisões
relativas às questões de estado. -
5:44 - 5:47A democracia ateniense
não durou muito tempo. -
5:48 - 5:52Tal como uma vela que arde com brilho,
extinguiu-se rapidamente. -
5:52 - 5:53E, na verdade,
-
5:53 - 5:57as nossas democracias liberais atuais
não têm raízes em Atenas antiga. -
5:57 - 6:00Têm raízes na Magna Carta,
-
6:00 - 6:04na Gloriosa Revolução de 1688,
-
6:04 - 6:05e na constituição dos EUA.
-
6:05 - 6:10Enquanto a democracia ateniense
se concentrava no cidadão livre -
6:10 - 6:13e em dar poder ao trabalhador pobre,
-
6:13 - 6:18as nossas democracias liberais
fundaram-se na tradição da Magna Carta -
6:18 - 6:21que, no fim de contas,
foi uma carta para os patrões. -
6:22 - 6:24A democracia liberal só aflorou,
-
6:24 - 6:29quando foi possível separar totalmente
a esfera política da esfera económica, -
6:29 - 6:34de forma a encerrar o processo democrático
totalmente dentro da esfera política, -
6:34 - 6:36deixando a esfera económica
-
6:36 - 6:38— o mundo empresarial, se preferirem —
-
6:38 - 6:41como uma zona isenta de democracia.
-
6:42 - 6:45Nas nossas democracias atuais,
-
6:45 - 6:48a partir do momento em que começou
-
6:48 - 6:51esta separação das esferas
económica e política, -
6:51 - 6:55originou-se uma luta épica,
inexorável, entre as duas, -
6:55 - 6:58em que a esfera económica
colonizou a esfera política, -
6:58 - 7:01engolindo o seu poder.
-
7:01 - 7:04Já pensaram porque é que os políticos
já não são o que costumavam ser? -
7:05 - 7:08Não é porque o seu ADN
tenha degenerado. -
7:08 - 7:10(Risos)
-
7:09 - 7:13É porque hoje podemos estar
no governo sem estar no poder, -
7:13 - 7:17porque o poder migrou da esfera política
para a esfera económica -
7:17 - 7:19que está separada.
-
7:19 - 7:23Com efeito, falei da minha guerra
com o capitalismo. -
7:23 - 7:29Se pensarem nisso, é um pouco
como uma população de predadores, -
7:29 - 7:35que têm tanto êxito em dizimar
a presa de que se alimentam -
7:35 - 7:37que acabam por morrer à fome.
-
7:37 - 7:38Do mesmo modo,
-
7:38 - 7:42a esfera económica tem estado a colonizar
e a canibalizar a esfera política -
7:42 - 7:45em tão grande medida
que está a destruir-se a si mesma, -
7:45 - 7:47provocando uma crise económica.
-
7:47 - 7:49O poder das grandes empresas
está a aumentar, -
7:49 - 7:52os valores políticos
estão a desvalorizar-se, -
7:52 - 7:54a desigualdade aumenta,
-
7:54 - 7:56a procura global diminui
-
7:56 - 8:01e os diretores das empresas têm receio
de investir o dinheiro das suas empresas. -
8:03 - 8:08Quanto maior êxito tiver o capitalismo
em retirar o "demos" da democracia, -
8:08 - 8:10mais alto fica o pico gémeo
-
8:10 - 8:13e maior é o desperdício
dos recursos humanos -
8:13 - 8:16e da riqueza da humanidade.
-
8:16 - 8:19Obviamente, se isto estiver correto,
-
8:19 - 8:22temos que juntar as esferas
política e económica -
8:22 - 8:25e o melhor é fazê-lo
com um "demos" no seu controlo, -
8:25 - 8:28como em Atenas antiga,
embora com a exceção dos escravos -
8:28 - 8:32ou a exclusão de mulheres e de imigrantes.
-
8:33 - 8:34Isto não é uma ideia original.
-
8:34 - 8:37A esquerda marxista
já tinha esta ideia há 100 anos -
8:37 - 8:39e não correu muito bem, pois não?
-
8:39 - 8:42A lição que aprendemos
com o colapso soviético -
8:42 - 8:49é que só, por milagre
os trabalhadores pobres voltam a ter poder -
8:49 - 8:51— como aconteceu em Atenas antiga —
-
8:51 - 8:55sem criarem novas formas
de brutalidade e desperdício. -
8:55 - 8:57Mas há uma solução:
-
8:57 - 8:59eliminar os trabalhadores pobres.
-
9:00 - 9:01O capitalismo está a fazê-lo
-
9:01 - 9:04substituindo os trabalhadores
de salários baixos -
9:04 - 9:06por autómatos, androides, robôs.
-
9:07 - 9:08O problema é que,
-
9:08 - 9:11enquanto as esferas económica e política
estejam separadas, -
9:11 - 9:16a automação torna
os picos gémeos mais altos, -
9:16 - 9:19o desperdício mais elevado
-
9:19 - 9:21e os conflitos sociais mais profundos,
-
9:21 - 9:24incluindo — dentro de pouco tempo,
segundo creio — -
9:24 - 9:27em locais como a China.
-
9:27 - 9:29Por isso, precisamos de reconfigurar,
-
9:29 - 9:33precisamos de juntar as esferas
económica e política, -
9:33 - 9:38mas é melhor fazê-lo
democratizando a esfera reunificada, -
9:38 - 9:44senão acabamos com uma hiper autocracia
com a mania da vigilância -
9:45 - 9:48que fará com que o filme Matrix
pareça um documentário. -
9:49 - 9:50(Risos)
-
9:50 - 9:53A questão não é
se o capitalismo sobreviverá -
9:53 - 9:56às inovações tecnológicas,
que está a implantar. -
9:56 - 9:58A questão mais interessante
-
9:58 - 10:03é se ao capitalismo sucederá
uma coisa parecida com a distopia Matrix -
10:03 - 10:08ou qualquer coisa mais parecida
com uma sociedade tipo Star Trek, -
10:08 - 10:11em que as máquinas servem os homens
-
10:11 - 10:15e os homens gastam as energias
a explorar o universo -
10:15 - 10:19e se entregam a longos debates
sobre o significado d vida -
10:20 - 10:23em ágoras de alta tecnologia,
tipo as de Atenas antiga. -
10:25 - 10:28Penso que podemos estar otimistas.
-
10:30 - 10:31Mas o que seria preciso?
-
10:31 - 10:38Como seria esta utopia tipo Star Trek,
em vez da distopia tipo Matrix? -
10:38 - 10:40Em termos práticos,
-
10:40 - 10:43vou dar brevemente alguns exemplos.
-
10:44 - 10:45A nível da empresa,
-
10:45 - 10:47imaginem um mercado de capitais,
-
10:47 - 10:51em que ganhamos capital
enquanto trabalhamos -
10:51 - 10:56e em que o nosso capital nos segue
de um emprego para outro, -
10:56 - 10:58de uma empresa para outra.
-
10:58 - 11:00E a empresa
-
11:00 - 11:03— qualquer que seja
onde estejamos a trabalhar na altura — -
11:03 - 11:07é propriedade apenas
dos que ali trabalham nesse momento. -
11:07 - 11:12Aí, todas as receitas provêm
do capital, dos lucros, -
11:13 - 11:16e o próprio conceito
de trabalho assalariado torna-se obsoleto. -
11:17 - 11:20Deixa de haver separação
entre os que são donos -
11:20 - 11:23mas não trabalham na empresa
-
11:23 - 11:27e os que trabalham
mas não são donos da empresa. -
11:27 - 11:30Deixa de haver luta
entre o capital e a força de trabalho. -
11:31 - 11:35Deixa de haver um grande fosso
entre investimento e poupança. -
11:35 - 11:38Deixa de haver gigantescos picos gémeos.
-
11:39 - 11:41A nível da economia política global,
-
11:41 - 11:43imaginem por instantes
-
11:43 - 11:48que as nossas divisas nacionais
têm uma taxa de câmbio de flutuação livre, -
11:48 - 11:52com uma divisa digital
global, universal, -
11:52 - 11:57emitida pelo Fundo Monetário Internacional,
-
11:56 - 11:58pelo G-20,
-
11:58 - 12:00em nome de toda a humanidade.
-
12:00 - 12:02Imaginem mais ainda,
-
12:02 - 12:06que todo o comércio internacional
é denominado nessa divisa -
12:06 - 12:07— chamemos-lhe "o cosmos" —
-
12:07 - 12:09em unidades de cosmos,
-
12:10 - 12:14em que todos os governos concordam
em pagar, para um fundo comum, -
12:14 - 12:20uma quantia de cosmos proporcional
ao défice comercial do seu país, -
12:20 - 12:23ou ao superavit comercial a um país.
-
12:24 - 12:29Imaginem que esse fundo é utilizado
para investir em tecnologias verdes, -
12:29 - 12:32especialmente em partes do mundo
-
12:32 - 12:35em que o financiamento
para investimento é escasso. -
12:35 - 12:37Isto não é uma ideia nova.
-
12:37 - 12:40Efetivamente, foi o que
John Maynard Keynes propôs -
12:40 - 12:44em 1944 na Conferência Bretton Woods.
-
12:45 - 12:49O problema é que, nessa altura,
não havia tecnologia para o implementar. -
12:49 - 12:50Agora, temos,
-
12:50 - 12:57especialmente no contexto
duma esfera político-económica reunificada. -
12:57 - 12:59O mundo que vos descrevi
-
12:59 - 13:02é simultaneamente libertário,
-
13:02 - 13:06porque dá prioridade e poder
aos indivíduos, -
13:06 - 13:08é marxista,
-
13:08 - 13:11visto que terá enviado
para o caixote do lixo da História -
13:11 - 13:13a divisão entre capital e trabalho
-
13:13 - 13:17e é keynesiano, totalmente keynesiano.
-
13:18 - 13:20Mas, acima de tudo,
-
13:20 - 13:25é um mundo em que podemos imaginar
uma democracia autêntico. -
13:26 - 13:29Chegaremos a um mundo destes?
-
13:29 - 13:33Ou afundar-nos-emos
numa distopia tipo Matrix? -
13:33 - 13:37A resposta reside na opção política
que tomarmos coletivamente. -
13:38 - 13:40A escolha é nossa,
-
13:40 - 13:42e é melhor tomá-la democraticamente.
-
13:43 - 13:44Obrigado.
-
13:44 - 13:47(Aplausos)
-
13:50 - 13:52Bruno Giussani: Yanis ...
-
13:52 - 13:56Você descreveu-se na nossa biografia
como um marxista libertário. -
13:59 - 14:01Qual é a relevância atual
da análise de Marx? -
14:02 - 14:06Yanis Varoufakis: Se houve relevância
naquilo que acabei de dizer, -
14:06 - 14:07Marx é relevante.
-
14:07 - 14:11Porque, se não reunificarmos
a política e a economia, -
14:11 - 14:17a inovação tecnológica vai criar
uma queda maciça na procura global. -
14:16 - 14:21aquilo a que Larry Summers
se refere como estagnação secular. -
14:21 - 14:25Esta crise, a migrar duma parte do mundo,
-
14:25 - 14:26como acontece agora,
-
14:26 - 14:29vai desestabilizar as nossas democracias
e também o mundo emergente -
14:29 - 14:32que não está lá muito empenhado
na democracia liberal. -
14:32 - 14:36Portanto, se esta análise está certa,
Marx é plenamente relevante. -
14:36 - 14:38Mas Hayek também é,
-
14:38 - 14:41por isso é que eu sou marxista libertário,
tal como Keynes. -
14:42 - 14:44É por isso que estou totalmente confuso.
-
14:44 - 14:45(Risos)
-
14:45 - 14:47BG: É natural, possivelmente nós também.
-
14:47 - 14:49(Risos)
-
14:49 - 14:50(Aplausos)
-
14:50 - 14:53YV: Se não estivermos confusos,
é porque não estamos a pensar. -
14:53 - 14:55BG: É assim que fala
um grande filósofo grego. -
14:55 - 14:57YV: Isto era de Einstein.
-
14:57 - 15:00BG: Na sua palestra, referiu-se
a Singapura e à China -
15:00 - 15:02e a noite passada, ao jantar,
-
15:02 - 15:06exprimiu uma forte opinião
sobre como o Ocidente olha para a China. -
15:07 - 15:09Quer partilhar isso connosco?
-
15:09 - 15:11YV: Há um alto grau de hipocrisia.
-
15:12 - 15:16Nas nossas democracias liberais,
temos uma aparência de democracia. -
15:16 - 15:18Isto porque, como disse na palestra,
-
15:18 - 15:21reduzimos a democracia à esfera política,
-
15:21 - 15:25deixando a outra esfera
em que se passa toda a ação -
15:25 - 15:26— a esfera económica —
-
15:26 - 15:29uma zona totalmente isenta de democracia.
-
15:29 - 15:32Em certo sentido
— se me permitem ser provocador — -
15:32 - 15:36a China hoje está mais perto
da Grã-Bretanha do século XIX. -
15:36 - 15:38Porque, não se esqueçam,
-
15:38 - 15:41temos tendência para associar
o liberalismo à democracia. -
15:41 - 15:42Historicamente, isso é um erro.
-
15:42 - 15:45O liberalismo, o liberal,
é como John Stuart Mill. -
15:45 - 15:49John Stuart Mill era muito cético
quanto ao processo democrático. -
15:49 - 15:54O que vemos hoje na China
é um processo muito semelhante -
15:54 - 15:58ao que tivemos na Grã-Bretanha
durante a Revolução Industrial, -
15:58 - 16:01especialmente a transição
da primeira para a segunda. -
16:01 - 16:04E, para castigar a China,
-
16:04 - 16:07por ter feito o que o Ocidente fez
no século XIX, -
16:07 - 16:09montes de hipocrisia.
-
16:10 - 16:14BG: De certeza que muita gente aqui
interroga-se sobre a sua experiência -
16:14 - 16:17como ministro das Finanças da Grécia
no início deste ano. -
16:17 - 16:19YV: Já sabia que isso iria aparecer.
-
16:19 - 16:20(Risos)
-
16:20 - 16:23BG: Seis meses depois, como avalia
a primeira metade do ano? -
16:24 - 16:27YV: Extremamente excitante,
do ponto de vista pessoal -
16:27 - 16:28e muito desapontante
-
16:28 - 16:32porque tivemos uma oportunidade
de reiniciar a Zona Euro. -
16:32 - 16:34Não apenas a Grécia, mas a Zona Euro.
-
16:34 - 16:37Abandonar a complacência
-
16:37 - 16:42e a negação permanente
de que havia e há uma falha arquitetural -
16:42 - 16:44por toda a Zona Euro
-
16:45 - 16:49que está a ameaçar, grandemente,
todo o processo da União Europeia. -
16:49 - 16:52Tivemos uma oportunidade
com base no programa grego -
16:52 - 16:54— que, a propósito,
-
16:54 - 16:58foi o primeiro programa
a manifestar essa negação — -
16:58 - 17:00a oportunidade de a endireitar.
-
17:00 - 17:01Infelizmente,
-
17:01 - 17:05as potências da Zona Euro
e no Eurogrupo, -
17:04 - 17:06optaram por manter a negação.
-
17:06 - 17:08Mas sabem o que aconteceu.
-
17:08 - 17:10Esta é a experiência
da União Soviética. -
17:10 - 17:12Quando tentamos manter vivo
-
17:12 - 17:17um sistema económico
que arquiteturalmente não pode sobreviver, -
17:17 - 17:20através da vontade política
e através do autoritarismo, -
17:20 - 17:21podemos conseguir prolongá-lo.
-
17:21 - 17:23Mas, quando acontece uma mudança,
-
17:23 - 17:25acontece abrupta e catastroficamente.
-
17:25 - 17:28BG: Que tipo de mudança está a prever?
-
17:28 - 17:29YV: Não tenho dúvidas
-
17:29 - 17:31de que, se não mudarmos
a arquitetura da Zona Euro, -
17:31 - 17:33a Zona Euro não tem futuro.
-
17:33 - 17:36BG: Fez algumas asneiras
quando foi ministro das Finanças? -
17:36 - 17:37YV: Todos os dias.
-
17:38 - 17:42(Aplausos)
-
17:45 - 17:46A sério.
-
17:46 - 17:50Se algum ministro das Finanças,
ou já agora, qualquer pessoa, -
17:50 - 17:53disser que, ao fim
de seis meses num cargo, -
17:53 - 17:55em especial numa situação tão difícil,
-
17:55 - 17:58não fez nenhuma asneira,
é uma pessoa perigosa. -
17:58 - 18:00Claro que fiz asneiras.
-
18:00 - 18:02A maior asneira foi assinar o pedido
-
18:02 - 18:05para a extensão dum acordo de empréstimo
-
18:05 - 18:06no final de Fevereiro.
-
18:06 - 18:10Eu julgava que os credores tinham
um verdadeiro interesse -
18:10 - 18:12em encontrar um campo comum.
-
18:12 - 18:13Mas não havia.
-
18:13 - 18:15Só estavam interessados
em esmagar o nosso governo -
18:15 - 18:18só porque não queriam ter que lidar
-
18:18 - 18:20com as linhas da falha arquitetural
-
18:20 - 18:22que estavam a percorrer a Zona Euro
-
18:22 - 18:25e porque não queriam reconhecer
que, durante cinco anos, -
18:25 - 18:28tinham estado a implementar
um programa catastrófico na Grécia. -
18:28 - 18:30Perdemos um terço do nosso PIB nominal.
-
18:30 - 18:33É pior do que a Grande Depressão.
-
18:33 - 18:35E não apareceu ninguém
da troika dos emprestadores -
18:35 - 18:38que tinham imposto esta política, a dizer:
-
18:38 - 18:40"Foi um erro colossal".
-
18:40 - 18:41BG: Apesar disso tudo,
-
18:41 - 18:43e apesar da agressividade da discussão,
-
18:43 - 18:46parece que se mantém muito
a favor da Europa. -
18:46 - 18:47YV: Completamente.
-
18:47 - 18:51A minha crítica à União Europeia
e à Zona Euro -
18:51 - 18:55provém duma pessoa
que vive e respira a Europa. -
18:56 - 19:00O meu maior receio é que
a Zona Euro não sobreviva. -
19:00 - 19:01Porque, se não sobreviver,
-
19:01 - 19:04as forças centrífugas que se desencadearão
-
19:04 - 19:06serão diabólicas
-
19:06 - 19:08e destruirão a União Europeia.
-
19:08 - 19:10Isso será catastrófico,
não só para a Europa -
19:10 - 19:12mas para toda a economia global.
-
19:12 - 19:15Provavelmente, somos
a maior economia do mundo. -
19:15 - 19:21Se nos deixarmos cair numa via
dos anos 30 pós-modernos, -
19:21 - 19:23que é o que me parece que estamos a fazer,
-
19:23 - 19:25isso será prejudicial
-
19:25 - 19:28tanto para o futuro dos europeus
como dos não europeus. -
19:28 - 19:31BG: Esperamos que esteja enganado
quanto a esse ponto. -
19:31 - 19:33Yanis, obrigado por ter vindo ao TED.
-
19:33 - 19:34YV: obrigado.
-
19:34 - 19:37(Aplausos)
- Title:
- O capitalismo engolirá a democracia — se não nos manifestarmos
- Speaker:
- Yanis Varoufakis
- Description:
-
Já pensaram porque é que os políticos já não são o que costumavam ser? Porque é que os governos parecem incapazes de resolver os problemas reais? O economista Yanis Varoufakis, antigo ministro das Finanças da Grécia, diz que é porque hoje podemos ser politicos mas não temos poder — porque o poder real pertence hoje aos que controlam a economia. Acha que os ultrarricos e as grandes empresas estão a canibalizar esfera política, provocando uma crise financeira. Nesta palestra, oiçam o seu sonho para um mundo em que o capital e o trabalho já não lutam um contra o outro, "um mundo que é simultaneamente libertário, marxista e keynesiano".
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 19:51
Margarida Ferreira approved Portuguese subtitles for Capitalism will eat democracy -- unless we speak up | ||
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