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Ao Polo Sul e de volta — os 105 dias mais difíceis da minha vida

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    No oásis de intelectuais que é o TED,
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    venho diante de vocês esta noite
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    como especialista em puxar peso
    em lugares gelados.
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    Liderei expedições polares
    a maior parte da minha vida adulta,
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    e no mês passado meu colega
    de equipe Tarka L'Herpiniere e eu
  • 0:22 - 0:27
    concluímos a expedição
    mais ambiciosa que já tentei.
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    Na verdade, parece até que fui
    transportado diretamente para cá
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    depois de quatro meses no meio do nada
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    quase só resmungando e xingando,
    diretamente para o camarim do TED.
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    Como podem imaginar, a transição
    não foi inteiramente perfeita.
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    Um dos efeitos colaterais interessantes
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    é que minha memória de curto prazo
    está bastante ruim.
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    Eu tive que fazer umas anotações
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    para evitar resmungos e xingamentos
    nos próximos 17 minutos.
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    Esta é a primeira palestra que eu dou
    sobre esta expedição,
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    e mesmo que não tenhamos
    sequenciado genomas
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    ou construído telescópios espaciais,
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    esta é uma história sobre
    dar o máximo de si para alcançar algo
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    que nunca foi alcançado antes.
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    Então espero que vocês possam
    encontrar razões para refletir.
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    Foi uma jornada,
    uma expedição na Antártida,
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    o continente mais gelado, seco e
    dos maiores ventos e altitudes da Terra.
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    É um lugar fascinante. Um lugar enorme.
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    Tem o dobro da extensão da Austrália,
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    um continente da extensão
    da China e da Índia somadas.
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    E como bônus, eu venho vivenciando
  • 1:32 - 1:34
    um fenômeno interessante nos últimos dias,
  • 1:34 - 1:38
    algo de que espero ver Chris Hadfield
    falar no TED daqui a alguns anos,
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    conversas como a seguinte:
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    "Ah, Antártida. Maravilhoso.
  • 1:42 - 1:48
    Meu marido e eu visitamos a Antártida
    no nosso aniversário".
  • 1:48 - 1:51
    Ou: "Ah, que legal, foram lá
    para a maratona?"
  • 1:51 - 1:53
    (Risos)
  • 1:54 - 1:58
    Nossa jornada equivaleu, de fato,
    a 69 maratonas uma atrás da outra
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    em 105 dias,
    quase 2.900 km de ida e volta,
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    a pé, da costa da Antártida
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    ao Polo Sul e de volta.
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    No processo, quebramos o recorde
  • 2:09 - 2:15
    de mais longa jornada polar na história,
    de tração humana, em mais de 640 km.
  • 2:15 - 2:19
    (Aplausos)
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    Para vocês entenderem a distância,
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    é o mesmo que ir a pé
    de Curitiba a Brasília
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    e depois voltar a pé até Curitiba.
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    Como toda aventura de acampamento,
    essa foi bem longa,
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    que eu vi sumarizada
    da forma mais sucinta aqui,
  • 2:37 - 2:41
    nas páginas sagradas da
    Business Insider Malaysia.
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    ["Exploradores completam expedição polar
    que matou todos na tentativa anterior"]
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    Chris Hadfield falou de forma eloquente
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    sobre o medo e as chances de sucesso
    e, de fato, chances de sobrevivência.
  • 2:54 - 2:58
    Das nove pessoas na história
    que tentaram esta jornada antes de nós,
  • 2:58 - 3:01
    nenhuma conseguiu ir ao Polo e voltar,
  • 3:01 - 3:05
    e cinco morreram no processo.
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    Este é o Capitão Robert Falcon Scott.
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    Ele liderou a última equipe
    a tentar essa expedição.
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    Scott e seu rival Sir Ernest Shackleton,
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    no espaço de uma década,
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    lideraram expedições, lutando para
    serem os primeiros a chegar ao Polo Sul,
  • 3:19 - 3:22
    traçar e mapear o interior da Antártida,
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    um lugar sobre o qual
    sabíamos menos, na época,
  • 3:25 - 3:26
    do que a superfície da lua,
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    pois podemos ver a lua usando telescópios.
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    A Antártida era, em sua maior parte,
    um século atrás, território desconhecido.
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    Alguns de vocês já devem saber.
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    A última expedição de Scott,
    a Expedição Terra Nova,
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    iniciou em 1910, como um grande cerco.
  • 3:40 - 3:42
    Ele tinha uma equipe grande usando pôneis,
  • 3:42 - 3:45
    cachorros e tratores a gasolina,
  • 3:45 - 3:48
    fazendo vários depósitos pré-situados
    de comida e combustível
  • 3:48 - 3:52
    através dos quais sua equipe final
    de cinco membros viajaria até o Polo,
  • 3:52 - 3:55
    de onde voltariam de esquis
    até a costa, a pé.
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    Scott e sua equipe final de cinco pessoas
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    chegaram ao Polo Sul em janeiro de 1912
  • 4:01 - 4:06
    para descobrir que tinham perdido para
    uma equipe norueguesa, de Roald Amundsen,
  • 4:06 - 4:08
    que usou trenós puxados por cães.
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    A equipe de Scott terminou a pé,
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    e por mais de um século
    esta jornada continuou sem fim.
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    A equipe inteira de Scott morreu
    na viagem de retorno.
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    E pela última década,
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    tenho me perguntado o motivo.
  • 4:23 - 4:26
    Como é possível que este seja o recorde?
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    A equipe de Scott caminhou por 2.500 km.
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    Ninguém foi tão longe desde então.
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    Então este é o recorde
    da resistência humana,
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    esforço humano, conquista atlética humana
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    no talvez mais difícil clima da Terra.
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    É como se o recorde de uma maratona
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    não fosse quebrado desde 1912.
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    E é claro, uma estranha e previsível
    combinação de curiosidade,
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    teimosia e provavelmente arrogância
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    me levou a pensar que eu poderia
    ser a pessoa que terminaria o trabalho.
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    Ao contrário da expedição de Scott,
    éramos apenas dois,
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    e saímos da costa da Antártida
    em outubro do ano passado,
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    carregando tudo sozinhos,
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    um processo chamado por Scott
    de "transporte humano".
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    É como ir e voltar a pé,
    de Curitiba a Brasília.
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    O que eu quero dizer é como arrastar
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    algo pesando pouco mais
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    que o jogador mais pesado
    de futebol americano.
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    Nossos trenós pesavam 200 quilos,
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    ou 440 libras, cada um, no início,
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    o mesmo peso carregado
    pelo pônei mais fraco do Scott.
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    No começo, andávamos em média 0,8 km/h
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    Talvez a razão pela qual ninguém
    tenha feito uma jornada dessas até então,
  • 5:32 - 5:33
    em mais de um século,
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    é que ninguém foi estúpido
    o suficiente para tentar.
  • 5:38 - 5:40
    E ainda que não estivéssemos explorando
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    no sentido genuíno da palavra,
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    nós não estávamos dando nomes às montanhas
    nem mapeando vales desconhecidos,
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    eu penso que estávamos pisando em
    território desconhecido no sentido humano.
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    Certamente, se no futuro aprendermos
    que há uma área do cérebro humano
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    que é acionada quando alguém
    xinga a si mesmo,
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    eu não ficaria nada surpreso.
  • 6:01 - 6:03
    Vocês devem ter ouvido falar
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    que o americano médio
    passa 90% do tempo em local fechado.
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    Não ficamos entre quatro paredes
    por quase quatro meses.
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    Também não vimos nenhum anoitecer.
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    Tínhamos luz do dia por 24 horas.
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    As condições de vida eram espartanas.
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    Eu troquei de cueca
    três vezes em 105 dias
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    e Tarka e eu dividíamos menos de 3 m²
    em uma barraca de lona.
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    Mas nós tínhamos tecnologias
    que Scott nunca teria imaginado.
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    Blogávamos ao vivo toda noite
    da barraca, com um laptop
  • 6:32 - 6:34
    e um transmissor via satélite sob medida,
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    tudo usava a energia solar:
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    havia painéis fotovoltaicos
  • 6:38 - 6:39
    flexíveis, sobre a barraca.
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    E escrever era importante para mim.
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    A literatura de aventura e exploração
    me inspirava quando era criança,
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    e acredito que vimos aqui nesta semana
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    a importância e o poder
    da contação de histórias.
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    Nós tínhamos equipamentos do século 21
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    mas a verdade é que os desafios
    que Scott encarou
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    foram os mesmos que nós:
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    o clima e o que Scott chamou
    de "deslizamento",
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    a medida do atrito entre
    os trenós e a neve.
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    O vento mais frio que vimos
    foi em torno de -57 ºC,
  • 7:13 - 7:15
    e tínhamos visibilidade zero,
    vendo tudo branco,
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    na maior parte da viagem.
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    Viajamos subindo e descendo
    uma das maiores
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    e mais perigosas geleiras do mundo,
    a Geleira Beardmore.
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    Ela mede 160 km, e em sua superfície
    existe muito do chamado "gelo azul".
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    Vocês podem ver que é uma superfície
    brilhante, linda, dura como aço,
  • 7:31 - 7:35
    coberta de milhares e milhares de fendas,
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    essas rachaduras de até 60 m
    de profundidade, no gelo glacial
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    Aviões não podem pousar ali,
  • 7:40 - 7:44
    então estávamos sob o maior risco,
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    pois tínhamos, tecnicamente,
    uma chance mínima de sermos resgatados.
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    Chegamos ao Polo Sul após 61 dias a pé,
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    com um dia de folga devido ao mau tempo,
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    e eu fico triste em dizer
    que foi como um anticlímax.
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    Há uma base americana permanente,
  • 8:00 - 8:03
    a Estação Polo Sul Amundsen-Scott.
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    Eles possuem pista de pouso, uma cantina,
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    chuveiros com água quente,
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    agência de correios, loja de turismo,
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    e uma quadra de basquete
    que também serve como cinema.
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    Hoje as coisas estão um pouco diferentes,
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    e há também enormes áreas com lixo.
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    Eu acho uma coisa maravilhosa
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    que os humanos sobrevivam 365 dias do ano
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    com hambúrgueres,
    banhos quentes e cinemas,
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    mas isso tudo produz
    um grande volume de caixas vazias.
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    Vocês podem ver
    no lado esquerdo desta foto,
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    uma grande área cheia de lixo
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    aguardando para ser removida
    do Polo Sul por avião.
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    E há também um marco no Polo Sul,
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    e chegamos nele a pé,
    sem assistência, sem ajuda,
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    pelo caminho mais difícil,
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    1.450 km em tempo recorde,
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    puxando mais peso
    do que todos na história.
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    Se parássemos ali e voltássemos de avião,
  • 8:50 - 8:53
    que seria a coisa sensata a se fazer,
  • 8:53 - 8:55
    minha palestra terminaria aqui
  • 8:55 - 8:59
    e terminaria mais ou menos assim:
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    Se você tiver a equipe certa por perto,
    as ferramentas e tecnologias certas,
  • 9:04 - 9:07
    se você tiver autoconfiança
    e determinação o bastante,
  • 9:07 - 9:11
    então tudo é possível.
  • 9:13 - 9:15
    Mas então nós demos meia volta,
  • 9:15 - 9:18
    e foi aí que a coisa ficou interessante.
  • 9:18 - 9:21
    No alto do Planalto Antártico,
  • 9:21 - 9:25
    a 3 mil metros de altitude, venta muito,
    é muito frio e seco, e estávamos exaustos.
  • 9:25 - 9:27
    Já tínhamos percorrido 35 maratonas,
  • 9:27 - 9:28
    mas estávamos no meio do caminho,
  • 9:28 - 9:30
    tínhamos uma rede de segurança, é claro,
  • 9:30 - 9:32
    de aviões e telefones via satélite
  • 9:32 - 9:37
    e faróis de rastreamento, 24 horas,
    ao vivo, que Scott não tinha,
  • 9:37 - 9:38
    mas olhando para trás,
  • 9:38 - 9:40
    em vez de facilitarem nossas vidas,
  • 9:40 - 9:42
    esta rede de segurança nos permitiu
  • 9:42 - 9:46
    prosseguir de modo tranquilo,
  • 9:46 - 9:50
    e chegar muito próximo
    ao limite absoluto do ser humano.
  • 9:50 - 9:54
    E é como uma forma requintada de tortura
  • 9:54 - 9:56
    esgotar-se dia após dia
    a ponto de passar fome
  • 9:56 - 10:01
    e ao mesmo tempo puxar
    um trenó cheio de comida.
  • 10:01 - 10:05
    Por anos, eu escrevi com facilidade
    propostas de patrocínio
  • 10:05 - 10:08
    sobre ultrapassar os limites
    da resistência humana,
  • 10:08 - 10:12
    mas na verdade, estar naquele lugar
    era muito assustador.
  • 10:12 - 10:14
    Tívemos, antes de chegar ao Polo,
  • 10:14 - 10:18
    por duas semanas um vento constante
    que soprou contra nós, atrasando-nos.
  • 10:18 - 10:20
    E o resultado, por vários dias,
    foi reduzir a comida à metade.
  • 10:20 - 10:23
    Tínhamos nos trenós
    uma quantidade limitada de comida,
  • 10:23 - 10:25
    e estávamos tentando esticá-la
  • 10:25 - 10:29
    reduzindo nossa alimentação à metade
    das calorias que necessitávamos.
  • 10:29 - 10:32
    Como consequência, ambos tivemos
    hipoglicemia crescente,
  • 10:32 - 10:35
    tínhamos a cada dia
    níveis mais baixos de açúcar no sangue,
  • 10:35 - 10:40
    e estávamos a cada dia
    mais suscetíveis ao frio extremo.
  • 10:40 - 10:42
    Tarka tirou esta foto de mim uma noite
  • 10:42 - 10:44
    após eu quase ter desmaiado de hipotermia.
  • 10:44 - 10:49
    Nós dois tínhamos ataques de hipotermia,
    algo que eu nunca tinha sentido,
  • 10:49 - 10:51
    e, de fato, era horrível.
  • 10:51 - 10:54
    Por mais que você
    goste de pensar, como eu penso,
  • 10:54 - 10:57
    que você é do tipo de pessoa
    que não desiste,
  • 10:57 - 10:59
    que você luta até o fim,
  • 10:59 - 11:01
    a hipotermia não lhe deixa muita opção.
  • 11:01 - 11:04
    Você fica absolutamente incapacitado.
  • 11:04 - 11:07
    É como se você fosse
    uma criancinha trôpega.
  • 11:07 - 11:09
    Você se torna patético.
  • 11:09 - 11:13
    E me lembro de querer
    apenas me deitar e desistir.
  • 11:13 - 11:15
    Era uma sensação muito, muito peculiar,
  • 11:15 - 11:20
    e uma grande surpresa para mim
    estar debilitado a esse ponto.
  • 11:20 - 11:25
    E então nossa comida acabou completamente,
  • 11:25 - 11:28
    quando faltavam 74 km para chegarmos
    ao primeiro depósito
  • 11:28 - 11:30
    que fizemos na viagem de ida.
  • 11:30 - 11:32
    Fizemos 10 depósitos,
  • 11:32 - 11:34
    literalmente enterrando comida
    e combustível para a volta.
  • 11:34 - 11:38
    O combustível era para um fogareiro,
    para derreter neve e ter água,
  • 11:38 - 11:43
    e eu tive que tomar a decisão de ligar
    chamando um avião de suprimentos,
  • 11:43 - 11:48
    um avião com oito dias de comida
    para nos ajudar a andar nesse trecho.
  • 11:48 - 11:51
    Eles levaram 12 horas para ir
    do outro lado da Antártida até nós.
  • 11:51 - 11:55
    Chamar aquele avião foi uma
    das decisões mais difíceis da minha vida.
  • 11:55 - 11:58
    Parece mentira falar isso aqui
    com essa barriguinha.
  • 11:58 - 12:01
    Eu ganhei 14 kg nas últimas três semanas.
  • 12:01 - 12:04
    Passar tanta fome deixou uma
    cicatriz mental interessante:
  • 12:04 - 12:09
    eu tenho me empanturrado de comida
    em todo buffet de hotel que eu encontro.
  • 12:09 - 12:11
    (Risos)
  • 12:11 - 12:16
    Mas nós estávamos genuinamente
    passando fome de um jeito horrível.
  • 12:16 - 12:19
    Eu não me arrependo
    de ter chamado aquele avião,
  • 12:19 - 12:21
    porque estou aqui vivo,
  • 12:21 - 12:23
    com todos os dedos,
    contando essa história.
  • 12:23 - 12:28
    Mas precisar de assistência externa
    como essa, nunca foi parte do plano,
  • 12:28 - 12:31
    e é algo contra o qual meu ego ainda luta.
  • 12:31 - 12:34
    Esse era meu maior sonho,
  • 12:34 - 12:36
    e foi quase perfeito.
  • 12:37 - 12:39
    No caminho de volta à costa,
  • 12:39 - 12:41
    nossos ganchos ...são travas
    sob as nossas botas
  • 12:41 - 12:44
    que usamos para caminhar
    sobre o gelo azul na geleira...
  • 12:44 - 12:45
    quebraram no topo da Beardmore.
  • 12:45 - 12:47
    Faltavam ainda 160 km de descida
  • 12:47 - 12:49
    num gelo azul escorregadio e muito duro.
  • 12:49 - 12:52
    Precisávamos consertá-los a cada hora.
  • 12:52 - 12:54
    Para dar uma ideia da escala,
  • 12:54 - 12:57
    essa é a visão de cima
    da entrada da Geleira Beardmore.
  • 12:57 - 13:00
    Podemos encaixar a ilha de Manhattan
    inteira nessa lacuna no horizonte.
  • 13:00 - 13:03
    São 32 km entre os montes Hope e Kiffin.
  • 13:03 - 13:10
    Eu nunca me senti tão pequeno
    como me senti na Antártida.
  • 13:10 - 13:12
    Quando chegamos na entrada da geleira,
  • 13:12 - 13:16
    descobrimos que neve caída recentemente
    tinha camuflado as dezenas de fendas.
  • 13:16 - 13:20
    Um dos companheiros de Shackleton
    descreveu atravessar este terreno
  • 13:20 - 13:24
    como andar sobre o teto de vidro
    de uma estação de trem.
  • 13:24 - 13:27
    Nós caímos nas fendas mais vezes
    do que consigo me lembrar,
  • 13:27 - 13:31
    pois usávamos apenas um esqui
    ou uma bota para andar na neve.
  • 13:31 - 13:33
    Às vezes caíamos tão fundo
    que a neve chegava às axilas,
  • 13:33 - 13:37
    mas não além disso, ainda bem.
  • 13:37 - 13:41
    E menos de cinco semanas atrás,
    após 105 dias,
  • 13:41 - 13:45
    atravessamos esta nada receptiva
    linha de chegada,
  • 13:45 - 13:46
    a costa da Ilha de Ross, na Antártida,
  • 13:46 - 13:48
    que pertence à Nova Zelândia.
  • 13:48 - 13:50
    É possível ver o gelo na frente da imagem
  • 13:50 - 13:53
    e esta rocha fragmentada atrás dela.
  • 13:53 - 13:56
    Atrás de nós está o recorde,
    uma trilha de esqui de quase 2.900 km.
  • 13:56 - 13:59
    Fizemos a mais longa
    jornada polar a pé da história,
  • 13:59 - 14:03
    algo com que eu sonhava
    havia uma década.
  • 14:03 - 14:05
    E olhando para trás,
  • 14:05 - 14:08
    eu ainda reafirmo todas as coisas
  • 14:08 - 14:09
    que venho dizendo há anos
  • 14:09 - 14:11
    sobre a importância de ter objetivos,
  • 14:11 - 14:15
    da determinação e autoconfiança,
  • 14:15 - 14:20
    mas também admito que
    não pensei muito no que acontece
  • 14:20 - 14:23
    quando alcançamos um objetivo
    que nos consome assim,
  • 14:23 - 14:27
    e para o qual foi dedicada
    a maior parte da vida adulta,
  • 14:27 - 14:30
    e a verdade é que
    eu ainda estou processando isso.
  • 14:30 - 14:34
    Como eu disse, há bem poucos sinais
    visíveis de que eu estive longe.
  • 14:34 - 14:35
    Eu ganhei 14 kg.
  • 14:35 - 14:39
    Eu tenho queimaduras de frio bastante
    apagadas, e cobertas por maquiagem.
  • 14:39 - 14:42
    Eu tenho uma no nariz, uma em cada
    bochecha, onde os óculos estavam,
  • 14:42 - 14:47
    mas por dentro eu sou uma pessoa
    muito diferente de antes.
  • 14:47 - 14:50
    Para ser sincero,
  • 14:50 - 14:55
    a Antártida me desafiou
    e me arrasou tão profundamente
  • 14:55 - 14:59
    que não tenho certeza de que um dia
    encontrarei palavras para descrever.
  • 14:59 - 15:03
    Ainda estou lutando para colocar
    os pensamentos em ordem.
  • 15:03 - 15:06
    Eu estar aqui em pé contando esta história
  • 15:06 - 15:11
    é prova de que todos nós
    podemos realizar grandes feitos,
  • 15:11 - 15:13
    pela ambição, pela paixão,
  • 15:13 - 15:15
    pela completa teimosia,
  • 15:15 - 15:17
    por se recusar a desistir,
  • 15:17 - 15:20
    que se você sonha muito
    com algo, como disse Sting,
  • 15:20 - 15:23
    de fato, irá acontecer.
  • 15:23 - 15:26
    Mas também estou aqui
    para dizer: Querem saber?
  • 15:26 - 15:32
    Sabem aquele clichê de que o importante
    não é o destino e sim a viagem?
  • 15:32 - 15:36
    Existe algo aí.
  • 15:36 - 15:38
    Quanto mais eu me aproximava
    da linha de chegada,
  • 15:38 - 15:42
    aquela rocha fragmentada
    na costa da Ilha de Ross,
  • 15:42 - 15:45
    mais eu comecei a perceber
    que a grande lição
  • 15:45 - 15:49
    que esta caminhada muito longa,
    muito difícil poderia me ensinar
  • 15:49 - 15:53
    é que a felicidade
    não é uma linha de chegada,
  • 15:53 - 15:55
    que para nós humanos,
  • 15:55 - 15:58
    a perfeição com que tantos de nós sonhamos
  • 15:58 - 16:02
    pode nem ser possível de verdade,
  • 16:02 - 16:11
    e que se não podemos nos sentir felizes,
    aqui, agora, nas nossas jornadas
  • 16:11 - 16:15
    em meio à confusão
    e à luta em que vivemos,
  • 16:15 - 16:18
    as pontas soltas,
    as listas de tarefas incompletas,
  • 16:18 - 16:21
    as vezes que dizemos
    "farei melhor da próxima vez",
  • 16:21 - 16:24
    então talvez nunca sejamos felizes.
  • 16:24 - 16:28
    Muitas pessoas me perguntaram
    qual o próximo passo.
  • 16:28 - 16:35
    Nesse momento, eu estou muito feliz
    apenas me recuperando e me empanturrando.
  • 16:35 - 16:39
    Mas como diz Bob Hope,
  • 16:39 - 16:41
    Me sinto muito exausto,
  • 16:41 - 16:45
    mas acredito ter a força de vontade
    para lutar contra isso. (Risos)
  • 16:45 - 16:47
    Obrigado.
  • 16:47 - 16:51
    (Aplausos)
Title:
Ao Polo Sul e de volta — os 105 dias mais difíceis da minha vida
Speaker:
Ben Saunders
Description:

Este ano, o explorador Ben Saunders tentou realizar sua jornada mais ambiciosa. Ele decidiu completar a expedição polar do Capitão Robert Falcon Scott, que falhou em 1912: uma viagem de 2.900 km feita em quatro meses, da costa da Antártida até o Pólo Sul, e de volta. Na primeira palestra dada após sua aventura, apenas cinco semanas depois do seu retorno, Saunders proporciona uma visão crua e sincera dessa missão um tanto arrogante que o levou à decisão mais difícil de sua vida.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
17:04

Portuguese, Brazilian subtitles

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