Jogando com blocos biológicos | Manuel Giménez | TEDxUBA
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0:09 - 0:13Quando era miúdo, adorava
brincar com os Legos. -
0:13 - 0:15Era uma coisa que me encantava.
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0:15 - 0:19Recordo que tinha uma caixa
com um castelo desenhado -
0:20 - 0:22e, obviamente, vinha com instruções
para armar um castelo -
0:23 - 0:25mas eu gostava de usar
aquelas mesmas peças -
0:25 - 0:27para montar uma coisa totalmente diferente
-
0:27 - 0:30que não tinha nada a ver com um castelo.
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0:30 - 0:32Era isso que me encantava nos Legos,
-
0:32 - 0:35essa liberdade criativa que me davam.
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0:35 - 0:38A certa altura, deixei de brincar
com os Legos, claro. -
0:38 - 0:41Acabei a escola primária,
acabei o secundário, -
0:41 - 0:43e tive a sorte de entrar
para a universidade. -
0:43 - 0:46Estudei Informática, aqui
na Universidade de Buenos Aires. -
0:47 - 0:50E encontrei na programação
essa mesma liberdade criativa -
0:50 - 0:53que tinha encontrado nos Legos
quando era miúdo. -
0:54 - 0:58Para mim, programar tem muito que ver
com agarrar blocos de código, -
0:59 - 1:02peças de código que já existem
e juntá-las, combiná-las, -
1:02 - 1:05para construir um "software" novo,
com uma nova funcionalidade. -
1:06 - 1:11Há dois anos, quando estava
nos meus últimos dias de estudante, -
1:11 - 1:15chamemos-lhe assim, cruzei-me
com outro tipo de bloco -
1:16 - 1:19que me voltou a fazer sentir
essa mesma liberdade criativa -
1:19 - 1:22que me faziam sentir os Legos,
quando era miúdo. -
1:22 - 1:27Há dois anos, conheci a biologia sintética
e cruzei-me, pela primeira vez na vida, -
1:27 - 1:31com os blocos biológicos,
os *biobricks", como se diz em inglês. -
1:32 - 1:36Um bloco biológico não é feito
nem de plástico nem de código. -
1:36 - 1:42Um bloco biológico é feito de ADN,
uma das moléculas fundamentais da vida, -
1:42 - 1:46a molécula que armazena toda a informação
genética que um ser vivo tem. -
1:47 - 1:51Um bloco biológico é um pequeno
pedaço de ADN, -
1:51 - 1:55uma porção de ADN que codifica ou capta
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1:55 - 1:58uma funcionalidade biológica básica,
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1:59 - 2:01como pode ser, por exemplo,
a capacidade -
2:01 - 2:04que os pirilampos têm de gerar luz.
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2:04 - 2:06Ou a capacidade que tantas plantas
e animais têm -
2:06 - 2:09de gerar perfumes e cores.
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2:09 - 2:12Ou a capacidade que alguns
micro-organismos têm -
2:12 - 2:14de degradar substâncias e materiais.
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2:15 - 2:18O interessante, e o potencial real
dos blocos biológicos -
2:18 - 2:21é que, tal como com os blocos de Lego,
-
2:21 - 2:25podemos ir misturando-os
e combinando-os de modo diferente -
2:25 - 2:30para construir novos organismos
que não existem na Natureza, -
2:31 - 2:33com funcionalidades totalmente novas.
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2:34 - 2:37Quando nos pomos a jogar
com estes blocos biológicos, -
2:37 - 2:40podem sair coisas muito loucas.
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2:40 - 2:45Por exemplo, já se desenvolveram
filmes, películas fotográficas -
2:45 - 2:47— ou seja, sensíveis à luz —
-
2:47 - 2:51que, em vez de serem feitas de químicos,
são feitas de bactérias. -
2:51 - 2:53Ou seja, são películas fotográficas
que estão vivas. -
2:53 - 2:57Já se construíram micro-organismos
com blocos biológicos -
2:57 - 2:59capazes de gerar luz,
-
2:59 - 3:01tal como os pirilampos,
mas não são pirilampos. -
3:01 - 3:04São bactérias que,
para produzir luz, -
3:04 - 3:08só precisam de alguns nutrientes
na água, onde vivem. -
3:08 - 3:11Também já se desenvolveram,
com os blocos biológicos, -
3:11 - 3:14micro-organismos capazes
de gerar cores diferentes. -
3:14 - 3:17Creio que não se vê muito bem,
mas são cores muito diferentes, -
3:17 - 3:19tão diferentes como as do arco-íris.
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3:19 - 3:22Trabalhando com blocos biológicos,
há pessoas que foram mais longe -
3:22 - 3:27e construíram umas bactérias
capazes de produzir -
3:27 - 3:31uns pequenos filamentos
feitos de teia de aranha, -
3:31 - 3:35do mesmo material que as teias de aranha,
que é uma coisa muito resistente, -
3:35 - 3:37mas não são aranhas, são bactérias,
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3:37 - 3:40como as que encontramos
no iogurte, por exemplo. -
3:40 - 3:44Mais coisas: com os blocos biológicos
desenvolveram-se comunidades de bactérias -
3:44 - 3:48que se comportam como se fossem
um circuito digital. -
3:48 - 3:52Um circuito como os que encontramos
nos computadores, nos iPads. -
3:53 - 3:55Tudo isto de que vos falo,
rapidamente, -
3:55 - 3:58e parece ficção científica,
não é ficção científica. -
3:58 - 4:01São coisas que já existem,
que já se desenvolveram. -
4:01 - 4:03Estou certo de que vocês pensam:
-
4:03 - 4:05"Ah, bom, está bem,
mas essas coisas -
4:05 - 4:07"certamente são feitas
pelos prémios Nobel, -
4:07 - 4:11"nos grandes centros de investigação,
com a tecnologia de ponta". -
4:11 - 4:13Na realidade, não é assim.
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4:13 - 4:17Estas coisas são feitas
por estudantes universitários -
4:17 - 4:19estudantes universitários de graduados.
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4:19 - 4:23Ou seja, gente de 19 anos, de 23 anos,
com menos de 25 anos. -
4:24 - 4:26Agora devem estar a pensar:
-
4:27 - 4:30"Certamente são estudantes do MIT,
de Harvard, -
4:31 - 4:34"do Imperial College,
da Universidade de Boston". -
4:34 - 4:37Claro que, nessas universidades,
há gente -
4:37 - 4:39a trabalhar com blocos biológicos.
-
4:39 - 4:42Mas aqui na Faculdade de Ciências
Exatas e Naturais -
4:42 - 4:46da nossa Universidade de Buenos Aires
há um grupo de estudantes -
4:46 - 4:49que está a trabalhar
e a montar blocos biológicos. -
4:50 - 4:52Nós, em Ciências Exatas
-
4:52 - 4:54— e digo nós, porque,
juntamente com esses estudantes, -
4:54 - 4:57há um grupo de graduados que
os acompanham — -
4:57 - 5:00pusemos como objetivo
usar os blocos biológicos -
5:00 - 5:03para atacar alguns problemas
do nosso país, -
5:03 - 5:06alguns problemas da Argentina.
-
5:07 - 5:12Não sei se sabem, mas o nosso país
é um dos cinco países do mundo -
5:12 - 5:15com mais arsénico no seu território.
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5:16 - 5:20O arsénico é um contaminante
natural que está no solo -
5:20 - 5:22e que, quando alguém o ingere,
-
5:22 - 5:25traz consequências muito graves,
para a saúde, a longo prazo, -
5:25 - 5:27como pode ser, por exemplo, o cancro.
-
5:31 - 5:35O problema é que há centenas
de milhares de argentinos -
5:35 - 5:38que estão a consumir arsénico
sem o saber. -
5:38 - 5:43E não sabem porque ninguém verificou
se a água está contaminada ou não -
5:43 - 5:46e porque eles não têm uma forma
simples, segura e barata -
5:46 - 5:48de fazer o exame por si mesmos.
-
5:49 - 5:52Isso é o que tentamos remediar
com os blocos biológicos. -
5:53 - 5:57O que é que fizemos?
Fomos à caixa dos blocos biológicos, -
5:57 - 5:59um repositório central de livre acesso
-
5:59 - 6:03porque esta é uma tecnologia livre,
não é preciso pagar para a usar, -
6:03 - 6:06e começamos a procurar no repositório
dos blocos biológicos a ver o que havia. -
6:07 - 6:10Encontrámos, por um lado,
um bloco biológico que capturava -
6:10 - 6:13a capacidade que certos organismos têm
-
6:13 - 6:16de saber se há arsénico ou não
em volta deles. -
6:17 - 6:21Por outro lado, encontrámos
outro bloco biológico que captura -
6:21 - 6:24a capacidade que outros organismos têm
de gerar cor. -
6:25 - 6:29Agarrámos nestes blocos biológicos
e conjugámo-los. -
6:29 - 6:32Com pormenores técnicos
e voltas e reviravoltas, -
6:32 - 6:36conseguimos construir um novo organismo
que não existia na Natureza -
6:36 - 6:41e que, quando se encontra na água
com arsénico, produz uma cor. -
6:42 - 6:45O que é que este organismo tem a ver
com o problema que queríamos atacar? -
6:45 - 6:49Este novo organismo
é a tecnologia principal -
6:49 - 6:53por detrás do kit de deteção de arsénico
que estamos a construir. -
6:54 - 6:57Quero dizer que estamos a construir,
juntamente com colegas -
6:57 - 7:00da Faculdade de Arquitetura,
Design e Urbanismo, -
7:00 - 7:03um kit de deteção de arsénico
que concebemos para caber numa mão, -
7:03 - 7:06para poder enviar para
qualquer parte do país, -
7:06 - 7:10para uma forma simples e segura
de usar e, sobretudo, barata de produzir. -
7:10 - 7:13Porque, para usá-lo, não é preciso
nenhum conhecimento técnico. -
7:13 - 7:16Basta agarrar numa amostra
da água da torneira, da bomba, -
7:16 - 7:20donde quer que seja,
pô-la no dispositivo e esperar umas horas. -
7:20 - 7:24Quando se gerar uma cor, a única coisa
a fazer é observar essa cor -
7:24 - 7:28e a intensidade dessa cor
e, dessa maneira, fica-se a saber -
7:28 - 7:33se a água que se está a beber
está contaminada com arsénico ou não. -
7:33 - 7:36Esperamos poder construir
este dispositivo, maciçamente, -
7:36 - 7:40e distribui-lo, de modo a ser a solução
-
7:40 - 7:42para as centenas de milhares
de compatriotas -
7:42 - 7:46que estão a ser envenenados
com a água que bebem, sem o saberem. -
7:48 - 7:51Ora bem, pensem por instantes.
-
7:52 - 7:57Se nós, um grupo de menos de 20 pessoas,
que trabalham muito, é certo, -
7:57 - 8:00mas, em menos de um ano,
e com um projeto em paralelo, -
8:00 - 8:03porque não era a parte central
do nosso trabalho, -
8:03 - 8:07e usando apenas alguns blocos biológicos,
-
8:07 - 8:11pudemos embarcar no desenvolvimento
deste "kit" de deteção de arsénico, -
8:12 - 8:16quantas coisas se podem construir
-
8:16 - 8:20se começarmos a combinar
as centenas de blocos biológicos -
8:20 - 8:23que estão disponíveis livremente
nessa caixa? -
8:23 - 8:26Quantos problemas
da Argentina e do mundo -
8:26 - 8:30podíamos começar a atacar
com esta tecnologia? -
8:31 - 8:35Eu estou plenamente convencido
-
8:35 - 8:38de que a biologia sintética é uma
das tecnologias mais importantes -
8:38 - 8:40para os próximos anos.
-
8:40 - 8:44Também estou convencido
de que o nosso país, a Argentina, -
8:44 - 8:50e toda a região — a América Latina —
tem a capacidade e a oportunidade -
8:50 - 8:53de ser pioneira no desenvolvimento
desta tecnologia. -
8:54 - 8:58Só precisamos que todos vocês,
todos os que estão aqui hoje -
8:58 - 9:02e também os que não estão aqui,
-
9:02 - 9:05se interessem— como eu me interessei
há dois anos — -
9:06 - 9:08em começar a jogar
com os blocos biológicos. -
9:09 - 9:13Sobretudo os jovens — vejo
que há vários no auditório. -
9:13 - 9:17Quero que os jovens joguem
com blocos biológicos no secundário. -
9:17 - 9:21Quero jovens a misturar e a construir
com blocos biológicos -
9:21 - 9:24em todas as universidades do país.
-
9:24 - 9:28Quero jovens a jogar
com blocos biológicos -
9:28 - 9:31fora dos âmbitos do ensino formal.
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9:31 - 9:35E porque não? Jovens nos últimos
anos da escola primária -
9:35 - 9:39que dão os primeiros passos
em biologia sintética? -
9:41 - 9:45Sei que o que quero é uma coisa
muito ambiciosa, muito grande, -
9:46 - 9:49mas, se aprendi alguma coisa nesta vida
-
9:49 - 9:52é que, se queremos construir
qualquer coisa importante, -
9:52 - 9:56se queremos construir
qualquer coisa muito importante, -
9:56 - 10:01não basta um monte de peças,
também é preciso um monte de mãos. -
10:01 - 10:02Obrigado.
-
10:02 - 10:04(Aplausos)
- Title:
- Jogando com blocos biológicos | Manuel Giménez | TEDxUBA
- Description:
-
Manuel Giménez apresenta o mundo da biologia sintética e conta como se podem construir as soluções para alguns dos grandes problemas da sociedade com um bloco biológico de cada vez.
Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx
- Video Language:
- Spanish
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 10:19
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