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O que precisamos de saber sobre a CRISPR

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    Já todos ouviram falar da CRISPR?
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    Ficava muito espantada se não.
  • 0:07 - 0:10
    É uma tecnologia
    — é para editar o genoma —
  • 0:10 - 0:13
    e é tão versátil e tão controversa
  • 0:13 - 0:16
    que está a originar todo o tipo
    de conversas interessantes.
  • 0:17 - 0:19
    Será que devíamos
    trazer de volta o mamute?
  • 0:19 - 0:22
    Será que devíamos
    editar um embrião humano?
  • 0:22 - 0:24
    E a minha pergunta preferida:
  • 0:25 - 0:29
    Como podemos justificar
    eliminar completamente uma espécie
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    que consideramos nociva
    para os seres humanos
  • 0:31 - 0:32
    da face da Terra,
  • 0:32 - 0:34
    utilizando esta tecnologia?
  • 0:35 - 0:38
    Este tipo de ciência está a avançar
    muito mais depressa
  • 0:38 - 0:41
    do que os mecanismos reguladores
    que a governam.
  • 0:41 - 0:43
    Portanto, nos últimos seis anos,
  • 0:43 - 0:46
    fiz da minha missão pessoal
  • 0:46 - 0:49
    garantir que tantas pessoas
    quanto possível compreendam
  • 0:49 - 0:52
    estes tipos de tecnologias
    e as suas implicações.
  • 0:52 - 0:57
    A CRISPR tem sido alvo de um enorme
    alvoroço nos meios de comunicação,
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    e as palavras que são mais utilizadas
    são “fácil” e “barata”.
  • 1:02 - 1:05
    Portanto, o que eu quero fazer
    é aprofundar um pouco mais
  • 1:06 - 1:10
    e ver alguns dos mitos e realidades
    em torno da CRISPR.
  • 1:11 - 1:13
    Se estivermos a experimentar
    a CRISPR num genoma,
  • 1:14 - 1:17
    a primeira coisa que temos de fazer
    é danificar o ADN.
  • 1:17 - 1:20
    Estes danos surgem na forma
    de uma quebra da cadeia dupla
  • 1:20 - 1:22
    ao longo da dupla hélice do ADN.
  • 1:22 - 1:25
    Depois os processos
    de reparação celular arrancam
  • 1:25 - 1:28
    e depois convencemos
    estes processos de reparação
  • 1:28 - 1:30
    a fazer a edição que nós queremos,
  • 1:30 - 1:32
    e não uma edição natural.
  • 1:32 - 1:33
    É assim que funciona.
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    É um sistema com duas partes.
  • 1:36 - 1:39
    Temos a proteína Cas9
    e uma coisa chamada ARN guia.
  • 1:39 - 1:42
    Gosto de pensar nisto
    como sendo um míssil dirigido.
  • 1:42 - 1:44
    Então a Cas9
    — adoro antropomorfizar —
  • 1:44 - 1:47
    a Cas9 é uma espécie de Pac-Man
  • 1:47 - 1:49
    que quer mastigar o ADN,
  • 1:49 - 1:53
    e o ARN guia é a trela
    que a mantém afastada do genoma
  • 1:53 - 1:57
    até encontrar o sítio exacto onde combina.
  • 1:57 - 2:00
    A combinação destes dois chama-se CRISPR.
  • 2:00 - 2:01
    É um sistema que roubámos
  • 2:01 - 2:05
    a um sistema imunitário
    bacteriano ancestral.
  • 2:05 - 2:09
    A parte que é espantosa nisto
    é que o ARN guia,
  • 2:10 - 2:12
    que só tem 20 letras,
  • 2:12 - 2:14
    é o que dirige o sistema.
  • 2:15 - 2:17
    É muito fácil de desenhar
  • 2:17 - 2:19
    e é muito barato comprar.
  • 2:19 - 2:23
    Esta é a parte que é modular no sistema;
  • 2:23 - 2:25
    tudo o resto permanece igual.
  • 2:25 - 2:29
    Isto faz com que seja um sistema
    notavelmente fácil e poderoso de utilizar.
  • 2:30 - 2:34
    O ARN guia e a proteína Cas9
    formam um complexo
  • 2:34 - 2:36
    que vai a saltitar pelo genoma,
  • 2:36 - 2:40
    e quando encontra um local
    onde o ARN guia combina,
  • 2:40 - 2:43
    insere-se entre as duas cadeias
    da dupla hélice,
  • 2:43 - 2:44
    separa-as,
  • 2:45 - 2:47
    o que desencadeia cortes pela Cas9,
  • 2:48 - 2:49
    e, de repente,
  • 2:50 - 2:52
    temos uma célula que está em pânico total,
  • 2:52 - 2:55
    porque agora tem
    um bocadinho de ADN que está partido.
  • 2:55 - 2:56
    O que é que ela faz?
  • 2:56 - 2:59
    Chama os serviços de emergência.
  • 2:59 - 3:02
    Há duas vias principais de reparação.
  • 3:02 - 3:07
    A primeira pega simplesmente no ADN
    e junta os dois bocadinhos.
  • 3:07 - 3:09
    Não é um sistema muito eficiente,
  • 3:09 - 3:12
    porque o que acontece é que às vezes
    uma base salta fora
  • 3:12 - 3:13
    ou uma base é acrescentada.
  • 3:13 - 3:17
    É uma forma razoável de, por exemplo,
    inactivar um gene,
  • 3:17 - 3:20
    mas não é bem assim que queremos
    fazer a edição do genoma.
  • 3:20 - 3:23
    A segunda via de reparação
    é muito mais interessante.
  • 3:23 - 3:25
    Esta via de reparação,
  • 3:25 - 3:27
    usa um bocadinho homólogo de ADN.
  • 3:27 - 3:30
    Num organismo diplóide
    como é o caso das pessoas,
  • 3:30 - 3:34
    temos uma cópia do genoma
    que vem da mãe e outra do pai,
  • 3:34 - 3:36
    então, se uma se estragar,
  • 3:36 - 3:38
    podemos usar o outro cromossoma
    para a consertar.
  • 3:38 - 3:40
    É daí que isto vem.
  • 3:41 - 3:42
    A reparação é feita,
  • 3:42 - 3:44
    e agora o genoma
    está outra vez em segurança.
  • 3:44 - 3:46
    A forma como podemos
    manipular este processo
  • 3:46 - 3:50
    é dar-lhe um bocadinho de ADN falso,
  • 3:50 - 3:53
    um bocadinho que tem homologia
    nas duas extremidades
  • 3:53 - 3:54
    mas é diferente no meio.
  • 3:54 - 3:57
    Agora, podemos pôr
    o que quisermos no centro
  • 3:57 - 3:58
    e a célula é enganada.
  • 3:58 - 4:00
    Portanto, podemos mudar uma letra,
  • 4:00 - 4:02
    podemos retirar letras,
  • 4:02 - 4:05
    mas o mais importante é que
    podemos encaixar novo ADN,
  • 4:05 - 4:07
    como se fosse um cavalo de Tróia.
  • 4:07 - 4:09
    A CRISPR vai ser extraordinária,
  • 4:09 - 4:13
    em termos do número
    de diferentes avanços científicos
  • 4:13 - 4:15
    que vai catalisar.
  • 4:15 - 4:18
    O que é especial nela
    é este sistema modular dirigido.
  • 4:18 - 4:22
    Quero dizer, já há anos que estamos
    a meter ADN em organismos, certo?
  • 4:22 - 4:24
    Mas por causa do sistema modular dirigido
  • 4:24 - 4:26
    podemos na verdade
    pô-lo exactamente onde queremos.
  • 4:27 - 4:33
    O que acontece é que se fala muito
    sobre o facto de ser barato
  • 4:33 - 4:35
    e ser fácil.
  • 4:35 - 4:38
    Eu estou à frente
    de um laboratório comunitário.
  • 4:38 - 4:42
    Começo a receber e-mails de pessoas
    que dizem coisas como:
  • 4:42 - 4:44
    “Olhem, posso ir à vossa noite aberta
  • 4:44 - 4:48
    "e, tipo, se calhar usar a CRISPR
    e fazer engenharia no meu genoma?”
  • 4:48 - 4:49
    (Risos)
  • 4:49 - 4:51
    A sério.
  • 4:51 - 4:53
    E eu dizia: "Não, não pode".
  • 4:53 - 4:54
    (Risos)
  • 4:54 - 4:57
    “Mas dizem que é barato.
    Dizem que é fácil”.
  • 4:57 - 4:59
    Vamos explorar um pouco isto.
  • 4:59 - 5:01
    É mesmo assim tão barato?
  • 5:01 - 5:03
    Sim, é barato em termos comparativos.
  • 5:04 - 5:07
    Baixa o custo dos materiais normais
    de uma experiência
  • 5:07 - 5:10
    de milhares de dólares
    para centenas de dólares,
  • 5:10 - 5:12
    e também reduz grande parte do tempo.
  • 5:12 - 5:14
    Pode reduzi-lo de semanas para dias.
  • 5:14 - 5:16
    Isso é óptimo.
  • 5:16 - 5:18
    Ainda é preciso um laboratório
    profissional para trabalhar;
  • 5:18 - 5:22
    não vamos fazer nada com significado
    fora de um laboratório profissional.
  • 5:22 - 5:24
    Quero dizer, não liguem
    a ninguém que diga
  • 5:24 - 5:27
    que podem fazer este tipo de coisa
    na vossa mesa da cozinha.
  • 5:27 - 5:31
    Na verdade não é fácil
    fazer este tipo de trabalho.
  • 5:31 - 5:34
    Já para não falar no facto de haver
    uma batalha de patentes,
  • 5:34 - 5:36
    portanto, mesmo
    que inventem alguma coisa,
  • 5:36 - 5:43
    o Instituto Broad e a Universidade
    de Berkeley têm esta batalha de patentes.
  • 5:43 - 5:45
    É realmente fascinante
    ver isto a acontecer,
  • 5:45 - 5:48
    porque estão a acusar-se um ao outro
    de reivindicações fraudulentas
  • 5:48 - 5:50
    e depois têm pessoas a dizer:
  • 5:50 - 5:53
    “Bem, eu assinei
    o meu caderno aqui ou além”.
  • 5:53 - 5:55
    Isto vai demorar anos a resolver.
  • 5:55 - 5:56
    E quando estiver resolvido
  • 5:56 - 6:00
    podem apostar que vão ter de pagar
    a alguém uma licença bem choruda
  • 6:00 - 6:01
    para utilizar isto.
  • 6:01 - 6:03
    Então, é mesmo assim tão barato?
  • 6:03 - 6:08
    Bem, é barato se formos fazer investigação
    básica e tivermos um laboratório.
  • 6:09 - 6:12
    E a parte de ser fácil?
    Vamos ver essa alegação.
  • 6:12 - 6:15
    O diabo está sempre nos pormenores.
  • 6:16 - 6:19
    Na verdade, não sabemos
    assim tanto sobre as células.
  • 6:19 - 6:21
    Ainda são uma espécie
    de caixas negras.
  • 6:21 - 6:26
    Por exemplo, não sabemos porque
    é que alguns ARN guias funcionam mesmo bem
  • 6:26 - 6:28
    e outros ARN guias não.
  • 6:28 - 6:31
    Não sabemos porque é que algumas células
    querem ir por uma via de reparação
  • 6:31 - 6:34
    e outras preferem optar pela outra.
  • 6:34 - 6:35
    Além disso,
  • 6:35 - 6:39
    há o problema inicial de colocar
    o sistema no interior da célula.
  • 6:40 - 6:42
    Numa placa de Petri,
    não é muito difícil,
  • 6:42 - 6:44
    mas se tentarmos
    fazer isto num organismo completo,
  • 6:44 - 6:46
    torna-se bastante complicado.
  • 6:46 - 6:49
    Não há problema se usarmos
    sangue ou medula óssea
  • 6:49 - 6:52
    — que são alvo
    de imensa investigação agora.
  • 6:52 - 6:54
    Há uma história fantástica de uma menina
  • 6:54 - 6:56
    que salvaram da leucemia
  • 6:56 - 6:58
    colhendo o sangue,
    editando-o e devolvendo-o
  • 6:58 - 7:00
    com uma precursora da CRISPR.
  • 7:01 - 7:04
    É uma linha de investigação
    que será continuada.
  • 7:04 - 7:06
    Mas neste momento,
    para passar para o corpo todo,
  • 7:06 - 7:08
    provavelmente vamos ter de usar um vírus.
  • 7:08 - 7:11
    Pegamos no vírus, colocamos a CRISPR,
  • 7:11 - 7:13
    deixamos o vírus infectar a célula.
  • 7:13 - 7:15
    Mas agora temos este vírus
    à solta lá dentro
  • 7:15 - 7:17
    e não sabemos quais serão
    os efeitos a longo prazo.
  • 7:17 - 7:20
    Além disso, a CRISPR
    tem alguns efeitos colaterais,
  • 7:20 - 7:23
    uma percentagem muito baixa, mas estão lá.
  • 7:23 - 7:26
    Qual será o impacto disso
    ao longo do tempo?
  • 7:26 - 7:28
    Estas perguntas não são triviais
  • 7:28 - 7:31
    e há cientistas que estão
    a tentar resolvê-las
  • 7:31 - 7:33
    e irão acabar, esperemos,
    por resolvê-las.
  • 7:33 - 7:37
    Mas não é só ligar e usar,
    nem nada que se pareça.
  • 7:37 - 7:39
    Será mesmo assim tão fácil?
  • 7:39 - 7:42
    Se passarem alguns anos
    a tentar percebê-lo
  • 7:42 - 7:45
    no vosso sistema em particular, sim, é.
  • 7:45 - 7:48
    O outro aspecto é
  • 7:48 - 7:49
    o facto de não sabermos muito
  • 7:49 - 7:53
    sobre como fazer acontecer
    uma determinada coisa,
  • 7:53 - 7:57
    alterando locais em particular do genoma.
  • 7:57 - 7:59
    Ainda estamos muito longe de perceber
  • 7:59 - 8:02
    como dar asas a um porco, por exemplo.
  • 8:02 - 8:05
    Ou até uma perna extra
    — eu contentava-me com uma perna extra.
  • 8:05 - 8:07
    Isso era fixe, não era?
  • 8:07 - 8:08
    Mas o que está a acontecer
  • 8:08 - 8:13
    é que a CRISPR está a ser usada
    por milhares e milhares de cientistas
  • 8:13 - 8:15
    para fazer trabalho
    realmente muito importante,
  • 8:15 - 8:21
    como, por exemplo, fazer
    melhores modelos de doenças em animais,
  • 8:21 - 8:26
    ou seguir vias que produzam
    produtos químicos valiosos
  • 8:26 - 8:30
    e colocá-los na produção industrial
    e em cubas de fermentação,
  • 8:30 - 8:33
    ou mesmo fazer investigação
    muito básica sobre o que os genes fazem.
  • 8:34 - 8:37
    Esta é a história da CRISPR
    que devíamos estar a contar,
  • 8:37 - 8:40
    e eu não gosto que os aspectos
    mais vistosos da tecnologia
  • 8:40 - 8:42
    estejam a afogar tudo o resto.
  • 8:42 - 8:47
    Muitos cientistas fizeram muito trabalho
    para fazer a CRISPR acontecer,
  • 8:47 - 8:48
    e o que me interessa
  • 8:48 - 8:53
    é que estes cientistas estejam
    a ser apoiados pela nossa sociedade.
  • 8:53 - 8:55
    Pensem nisso.
  • 8:55 - 8:59
    Temos uma infra-estrutura que permite
    a uma certa percentagem de pessoas
  • 8:59 - 9:02
    passarem todo o seu tempo
    a fazer investigação.
  • 9:03 - 9:06
    Isso faz de nós todos
    os inventores da CRISPR
  • 9:07 - 9:11
    e eu diria que faz de nós
    os pastores da CRISPR.
  • 9:11 - 9:13
    Todos temos responsabilidade.
  • 9:14 - 9:18
    Apelo, portanto, a que aprendam
    realmente sobre estes tipos de tecnologias
  • 9:18 - 9:20
    porque, realmente, só dessa forma
  • 9:20 - 9:25
    é que vamos conseguir orientar
    o desenvolvimento destas tecnologias
  • 9:25 - 9:27
    a utilização destas tecnologias
  • 9:27 - 9:31
    e garantir que, no final,
    o resultado é positivo
  • 9:31 - 9:34
    — quer para o planeta, quer para nós.
  • 9:35 - 9:36
    Obrigada.
  • 9:36 - 9:39
    (Aplausos)
Title:
O que precisamos de saber sobre a CRISPR
Speaker:
Ellen Jorgensen
Description:

Deveríamos trazer de volta o mamute? Ou editar um embrião humano? Ou eliminar toda uma espécie que consideramos nociva? A tecnologia CRIPR, de edição do genoma, tornou legítimas perguntas extraordinárias como estas — mas como é que funciona? Ellen Jorgensen, cientista e representante de um laboratório comunitário, assumiu a missão de explicar, sem exageros, os mitos e realidades da CRISPR àqueles de nós que não são cientistas.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
09:53

Portuguese subtitles

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