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Uma tecnologia esquecida, da Idade Espacial, pode mudar a forma como obtemos os alimentos

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    Imaginem que fazem parte
    duma tripulação de astronautas
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    a viajar para Marte ou
    para qualquer planeta distante.
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    A viagem pode demorar um ano
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    ou mesmo mais.
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    O espaço a bordo e os recursos
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    serão limitados.
  • 0:19 - 0:24
    Por isso, toda a tripulação
    terá que saber como produzir alimentos
  • 0:24 - 0:26
    com o mínimo de recursos.
  • 0:26 - 0:30
    Que tal levarem convosco
    uns pacotes de sementes
  • 0:31 - 0:35
    e fazer crescer plantas
    numa questão de horas?
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    Que tal se essas plantas
    produzam mais sementes,
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    possibilitando alimentar a tripulação toda
  • 0:41 - 0:45
    a partir dos poucos pacotes de sementes,
    durante toda a viagem?
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    Os cientistas da NASA já descobriram
    uma forma de fazer isto.
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    Descobriram uma coisa muito interessante.
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    Envolve micro-organismos
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    que são organismos unicelulares.
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    Também usaram hidrogénio extraído da água.
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    Os tipos de micróbios que usaram
    chamam-se hidrogenotrofos.
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    Com estes hidrogenotrofos,
    podemos criar um ciclo virtuoso de carbono
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    que sustentará a vida
    a bordo duma nave espacial.
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    Os astronautas expiram dióxido de carbono,
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    o dióxido de carbono
    é capturado pelos micróbios
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    e convertido numa cultura nutritiva,
    rica em carbono.
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    Os astronautas poderão comer
    os produtos ricos em carbono
  • 1:30 - 1:34
    e exalar o carbono
    sob a forma de dióxido de carbono,
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    que será capturado pelos micróbios,
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    para criar uma cultura nutritiva,
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    que será exalada pelos astronautas.
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    sob a forma
    de dióxido de carbono
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    Desta forma, cria-se
    um ciclo de carbono fechado.
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    Porque é que isto é importante?
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    Os seres humanos precisam
    do carbono para sobreviver,
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    e obtemos o carbono nos alimentos.
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    Numa viagem espacial prolongada,
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    não será possível obter carbono
    durante o percurso,
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    portanto é preciso descobrir
    como reciclá-lo a bordo.
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    Esta é uma solução inteligente, não acham?
  • 2:05 - 2:09
    Mas esta investigação
    não chegou a nenhum lado.
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    Ainda não fomos a Marte.
    Ainda não fomos a outro planeta.
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    Isto foi feito nos anos 60 e 70.
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    Um colega meu, o Dr. John Reed, e eu
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    ficámos interessados em reciclar
    o carbono aqui na Terra.
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    Queríamos arranjar soluções técnicas
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    para o problema da alteração climática.
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    Descobrimos esta investigação
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    ao ler uns artigos publicados
    nos anos 60 -- depois de 1967 --,
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    artigos sobre esse trabalho.
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    Achámos que era uma ideia muito boa.
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    Pensámos: "A Terra é como
    uma nave especial"
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    Temos um espaço limitado
    e recursos limitados.
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    Na Terra, precisamos de descobrir
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    como reciclar melhor o nosso carbono.
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    Então, pensámos se seria possível
  • 2:54 - 2:59
    agarrar nalgumas destas ideias,
    como as da NASA,
  • 2:59 - 3:03
    e aplicá-las aqui na Terra
    ao nosso problema do carbono.
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    Seria possível cultivar micróbios
    como os da NASA
  • 3:06 - 3:08
    para obter produtos valiosos
    aqui na Terra?
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    Fundámos uma empresa para isso.
  • 3:12 - 3:16
    Nessa empresa, descobrimos
    que estes hidrogenotrofos,
  • 3:16 - 3:21
    — a que eu chamo recicladores naturais
    supercarregados de carbono —
  • 3:21 - 3:23
    descobrimos que eles são
    uma poderosa classe de micróbios
  • 3:23 - 3:27
    que têm sido muito negligenciados
    e mal estudados
  • 3:27 - 3:30
    e que podem proporcionar
    produtos valiosos.
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    Começámos a cultivar esses produtos,
    esses micróbios, no nosso laboratório.
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    Descobrimos que podemos criar aminoácidos
    essenciais a partir do dióxido de carbono
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    usando esses micróbios.
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    Até fizemos uma refeição rica em proteínas
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    com um perfil aminoácido
    semelhante ao que encontramos
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    nalgumas proteínas animais.
  • 3:51 - 3:53
    Começámos a cultivar mais ainda
  • 3:53 - 3:55
    e descobrimos que podemos fazer óleo.
  • 3:55 - 3:58
    Os óleos são usados
    para fabricar muitos produtos.
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    Fizemos um óleo semelhante
    ao óleo de limão,
  • 4:01 - 4:04
    que pode ser usado
    pelo seu aroma e fragrância,
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    mas também pode ser usado
    como produto de limpeza biodegradável
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    ou até como carburante.
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    Fizemos um óleo
    semelhante ao óleo de palma.
  • 4:12 - 4:14
    Usa-se o óleo de palma para fabricar
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    uma ampla gama de bens
    de consumo e industriais.
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    Começámos a trabalhar com fabricantes
    para alargar esta tecnologia.
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    Estamos atualmente a trabalhar com eles
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    para pôr no mercado
    alguns destes produtos.
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    Achamos que este tipo de tecnologia
    pode ajudar-nos
  • 4:32 - 4:35
    a reciclar proveitosamente
    o dióxido de carbono em produtos úteis,
  • 4:36 - 4:38
    uma coisa que seja benéfica para o planeta
  • 4:38 - 4:40
    e seja também benéfica para a indústria.
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    É o que estamos a fazer atualmente.
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    Mas, no futuro, este tipo de tecnologia
    e o uso destes tipos de micróbios
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    pode ajudar-nos a fazer
    uma coisa ainda melhor,
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    se avançarmos para o nível seguinte.
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    Pensamos que este tipo de tecnologia
  • 4:54 - 4:58
    pode ajudar-nos a resolver
    um problema da agricultura
  • 4:58 - 5:02
    e permitir-nos criar um tipo
    de agricultura que seja sustentável,
  • 5:02 - 5:06
    que nos permita satisfazer
    as exigências futuras.
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    Porque é que precisamos
    duma agricultura sustentável?
  • 5:11 - 5:12
    Calcula-se
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    que a população vai atingir
    cerca de 10 mil milhões, em 2050
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    e calculamos que vamos
    precisar de aumentar
  • 5:20 - 5:23
    a produção alimentar em 70%.
  • 5:23 - 5:27
    Além disso, vamos precisar de muito
    mais recursos e matérias-primas
  • 5:27 - 5:29
    para fabricar bens de consumo
    e bens industriais.
  • 5:30 - 5:32
    Como é que poderemos
    satisfazer essa exigência?
  • 5:33 - 5:38
    A agricultura moderna não pode
    sustentadamente satisfazer essa exigência.
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    Para tal, há uma série de razões.
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    Uma delas é que a agricultura moderna
  • 5:44 - 5:48
    é um dos maiores emissores
    de gases de estufa.
  • 5:48 - 5:52
    Na verdade, emite mais gases
    com efeitos de estufa
  • 5:52 - 5:57
    do que todos os carros, camiões,
    aviões e comboios, em conjunto.
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    Outra razão é que a agricultura moderna
    ocupa uma grande extensão de terreno.
  • 6:03 - 6:09
    Limpámos mais de 5000 milhões de hectares
    para plantações e pecuária.
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    O que é que acham?
  • 6:11 - 6:16
    É quase o tamanho da América do Sul
    e da África, em conjunto.
  • 6:17 - 6:19
    Vou dar um exemplo específico.
  • 6:20 - 6:24
    Na Indonésia, foi limpa uma quantidade
    de floresta tropical virgem
  • 6:24 - 6:28
    com uma dimensão total
    semelhante à da Irlanda,
  • 6:28 - 6:30
    entre 2000 e 2012.
  • 6:31 - 6:34
    Pensem só em todas as espécies,
    em toda a diversidade
  • 6:34 - 6:36
    que foram eliminadas neste processo,
  • 6:36 - 6:39
    quer seja a vida vegetal, quer a vida
    dos insetos ou animal.
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    Também foi eliminado
    um escoadouro natural de carbono.
  • 6:42 - 6:44
    Vou tornar isto real.
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    Esta clareira foi aberta para dar lugar
    a plantações de palmeiras.
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    Como já referi,
  • 6:51 - 6:54
    usa-se o óleo de palma
    para fabricar muitos produtos.
  • 6:54 - 6:58
    Calcula-se que mais de 50%
    dos produtos de consumo
  • 6:58 - 7:01
    são fabricados usando o óleo de palma.
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    Incluem coisas
    como os gelados, os biscoitos,
  • 7:06 - 7:08
    incluem os óleos de cozinha.
  • 7:08 - 7:11
    Também incluem detergentes,
    loções e sabões.
  • 7:12 - 7:16
    Todos nós temos, provavelmente,
    muitos artigos
  • 7:16 - 7:19
    na cozinha e na casa de banho
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    que foram fabricados,
    usando o óleo de palma.
  • 7:21 - 7:27
    Todos nós somos beneficiários diretos
    das florestas tropicais abatidas.
  • 7:28 - 7:30
    A agricultura moderna tem problemas
  • 7:30 - 7:33
    e precisamos de soluções
    se queremos aumentar a sustentabilidade.
  • 7:35 - 7:40
    Penso que os micróbios
    podem fazer parte da resposta,
  • 7:40 - 7:44
    especificamente, os recicladores
    supercarregados de carbono.
  • 7:44 - 7:46
    Estes recicladores de carbono,
    supercarregados,
  • 7:46 - 7:50
    como as plantas, são recicladores naturais
  • 7:50 - 7:53
    nos seus ecossistemas onde prosperam.
  • 7:53 - 7:55
    Prosperam em locais exóticos na Terra,
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    como respiradouros hidrotermais
    e fontes de águas quentes.
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    Nestes ecossistemas
    absorvem o carbono e reciclam-no
  • 8:01 - 8:04
    em nutrientes necessários
    a esses ecossistemas.
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    São ricos em nutrientes,
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    como óleos e proteínas,
    minerais e carboidratos.
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    Os micróbios já são parte integrante
    da nossa vida quotidiana.
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    Se apreciam um copo de Pinot Noir,
    uma sexta-feira, à noite,
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    depois duma semana de trabalho,
    comprida e difícil,
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    estão a apreciar um produto de micróbios.
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    Se apreciam uma cerveja
    na vossa cervejaria local,
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    é um produto de micróbios.
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    Ou o pão, os queijos, os iogurtes.
  • 8:35 - 8:37
    São todos produtos de micróbios.
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    Mas a beleza e o poder
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    associados a estes recicladores
    supercarregados de carbono,
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    reside no facto de que eles conseguem
    produzir numa questão de horas
  • 8:48 - 8:50
    em vez de meses.
  • 8:50 - 8:52
    Isso significa que podemos fazer culturas
  • 8:52 - 8:55
    muito mais rapidamente
    do que fazemos hoje.
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    Crescem no escuro,
  • 8:58 - 9:00
    por isso crescem em qualquer estação,
  • 9:00 - 9:03
    em qualquer local geográfico.
  • 9:03 - 9:07
    Podem crescer em contentores
    que exigem um espaço mínimo.
  • 9:08 - 9:12
    Podemos arranjar um tipo
    de agricultura vertical.
  • 9:12 - 9:14
    Em vez da nossa agricultura
    horizontal tradicional
  • 9:14 - 9:16
    que exige tanto terreno,
  • 9:16 - 9:18
    podemos aumentá-la, na vertical,
  • 9:18 - 9:23
    e produzir, assim, muito mais
    produção por área.
  • 9:24 - 9:29
    Se implementarmos este tipo de abordagem
    e usarmos estes recicladores de carbono,
  • 9:29 - 9:32
    não teremos que abater
    mais florestas tropicais
  • 9:32 - 9:36
    para obter os alimentos e os bens
    que consumimos.
  • 9:37 - 9:39
    Porque, numa escala maior,
  • 9:39 - 9:44
    podemos obter 10 00 vezes
    mais resultados por área de terreno
  • 9:44 - 9:47
    do que podemos
    — no caso de usarmos a soja —
  • 9:47 - 9:50
    se plantarmos soja
    na mesma área de terreno
  • 9:50 - 9:52
    durante um ano.
  • 9:53 - 9:55
    Dez mil vezes mais,
    no período de um ano!
  • 9:56 - 10:00
    É isto a que me refiro quando falo
    de um novo tipo de agricultura.
  • 10:01 - 10:04
    É isto a que me refiro quando falo
    do desenvolvimento de um sistema
  • 10:04 - 10:07
    que nos permita aumentar sustentadamente
  • 10:07 - 10:10
    para satisfazer as exigências
    de 10 mil milhões.
  • 10:11 - 10:14
    Quais seriam os produtos
    deste novo tipo de agricultura?
  • 10:15 - 10:17
    Já fizemos uma refeição de proteínas,
  • 10:17 - 10:20
    portanto podemos imaginar qualquer coisa
    semelhante a uma refeição de soja,
  • 10:20 - 10:22
    de farinha de milho, ou farinha de trigo.
  • 10:22 - 10:24
    Já fizemos óleos,
  • 10:24 - 10:27
    portanto podemos imaginar
    qualquer coisa semelhante a óleo de coco,
  • 10:27 - 10:30
    azeite ou óleo de soja.
  • 10:31 - 10:34
    Este tipo de culturas
    pode produzir os nutrientes
  • 10:34 - 10:37
    que nos darão massas e pão,
  • 10:37 - 10:40
    bolos, artigos nutritivos de muitos tipos.
  • 10:40 - 10:47
    Além disso, como se usam os óleos
    para fabricar muitos outros bens,
  • 10:47 - 10:50
    produtos industriais
    e produtos de consumo,
  • 10:50 - 10:54
    podem imaginar que podemos fazer
    detergentes, sabões, loções, etc.
  • 10:54 - 10:56
    usando este tipo de culturas.
  • 10:57 - 11:00
    Não é só estarmos a ficar sem espaço.
  • 11:00 - 11:03
    Se continuarmos a funcionar
    segundo o "status quo"
  • 11:03 - 11:05
    da agricultura moderna,
  • 11:05 - 11:10
    corremos o risco de roubar um belo planeta
    aos nossos descendentes.
  • 11:10 - 11:12
    Mas não tem que ser assim.
  • 11:13 - 11:15
    Podemos imaginar um futuro de abundância.
  • 11:16 - 11:22
    Vamos criar sistemas que não só impeçam
    o planeta Terra, a nossa nave espacial,
  • 11:22 - 11:25
    de se desintegrar,
  • 11:25 - 11:29
    mas vamos também desenvolver
    sistemas e formas de vida
  • 11:29 - 11:33
    que sejam benéficos
    para a nossa vida
  • 11:33 - 11:36
    e para os 10 mil milhões que viverão
    neste planeta em 2050.
  • 11:37 - 11:38
    Muito obrigada.
  • 11:38 - 11:41
    (Aplausos)
Title:
Uma tecnologia esquecida, da Idade Espacial, pode mudar a forma como obtemos os alimentos
Speaker:
Lisa Dyson
Description:

Estamos a caminho duma população mundial de 10 mil milhões de pessoas, mas o que é que vamos comer? Lisa Dyson redescobriu uma ideia desenvolvida pela NASA nos anos 60 para as viagens espaciais prolongadas, e que pode ser uma chave para reinventar como cultivamos os alimentos.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
11:55

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