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As leis que as profissionais do sexo realmente querem

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    Quero falar sobre sexo por dinheiro.
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    Não tenho o perfil da maioria
    das pessoas que falam
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    sobre prostituição.
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    Não sou policial ou assistente social.
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    Não sou estudiosa,
    jornalista ou política.
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    E da apresentação feita pela Maryam
    acho que dá para sacar
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    que também não sou freira.
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    (Risos)
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    A maioria das pessoas vai dizer
    que vender sexo é degradante;
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    que ninguém deveria
    ter de escolher fazer isso;
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    que é perigoso; que mulheres
    são mortas e abusadas.
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    De fato, a maioria das pessoas diria:
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    "Deveria haver uma lei proibindo!"
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    O que talvez faça sentido para vocês.
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    Fazia sentido para mim
    até o final de 2009,
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    quando eu tinha dois empregos
    de salário mínimo sem futuro.
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    Minha renda só dava para cobrir
    o cheque especial no final do mês.
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    Estava exausta, e minha vida
    completamente estagnada.
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    Como muitas outras antes de mim,
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    decidi que sexo por dinheiro
    era uma opção melhor.
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    Por favor, não me entendam mal;
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    adoraria ganhar na loteria em vez disso.
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    Mas isso não ia acontecer tão cedo,
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    e eu tinha de pagar o aluguel.
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    Assim, me inscrevi
    para trabalhar num bordel.
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    Nos anos seguintes,
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    tive muito tempo para pensar.
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    Reconsiderei minhas ideias
    sobre a prostituição.
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    Pensei bastante na concessão
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    e na natureza do trabalho no capitalismo.
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    Pensei na desigualdade de gênero
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    e no trabalho sexual
    e reprodutivo das mulheres.
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    Vivenciei exploração
    e violência no trabalho.
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    Pensei no que é preciso para proteger
    as outras profissionais dessas coisas.
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    Talvez vocês também tenham pensado nisso.
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    Nesta palestra, vou mostrar
    os quatro enfoques legais
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    referentes ao trabalho sexual no mundo,
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    explicar por que não funcionam
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    e por que proibir a indústria do sexo
    acaba agravando os danos
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    a que estão expostas as profissionais.
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    Vou dizer, então, o que nós,
    profissionais do sexo, realmente queremos.
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    O primeiro enfoque
    é a criminalização total.
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    Metade do mundo,
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    incluindo Rússia, África do Sul
    e a maioria dos EUA,
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    regula o trabalho sexual
    criminalizando todos os envolvidos:
  • 2:02 - 2:05
    a vendedora, o comprador e terceiros.
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    Os legisladores desses países
    aparentemente esperam
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    que o medo da prisão impeça
    as pessoas de venderem sexo.
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    Mas, entre obedecer à lei
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    e alimentar a si mesma e sua família,
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    você vai preferir trabalhar,
    mesmo correndo o risco.
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    A criminalização é uma armadilha.
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    É difícil conseguir um emprego tradicional
    quando se tem uma ficha criminal.
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    Os potenciais empregadores
    não vão contratá-la.
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    Se ainda precisar de dinheiro,
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    vai acabar ficando na economia
    informal, mais flexível.
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    A lei a força a continuar vendendo sexo,
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    exatamente o oposto do efeito pretendido.
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    A criminalização nos expõe
    a maus tratos pelo próprio Estado.
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    Em muitos lugares, somos
    coagidas a pagar propina,
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    ou até mesmo a fazer sexo com o policial
  • 2:47 - 2:48
    para evitar a prisão.
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    Policiais e guardas da prisão
    no Camboja, por exemplo,
  • 2:51 - 2:54
    já foram pegos submetendo
    profissionais do sexo
  • 2:54 - 2:56
    ao que pode ser descrito
    não menos que tortura:
  • 2:56 - 2:57
    ameaças com revólver,
  • 2:57 - 3:00
    surras, choques elétricos, estupros
  • 3:00 - 3:01
    e privação de comida.
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    Uma outra coisa preocupante:
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    se estiver vendendo sexo em lugares
    como Quênia, África do Sul ou Nova York,
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    um policial pode prendê-la se você
    for pega carregando camisinhas,
  • 3:11 - 3:15
    pois elas podem ser usadas
    como prova legal da venda de sexo.
  • 3:16 - 3:18
    Obviamente, isso aumenta o risco do HIV.
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    Imagine saber que, se pega
    com camisinhas na bolsa,
  • 3:21 - 3:22
    isso vai ser usado contra você.
  • 3:22 - 3:25
    Esse é um forte incentivo
    para deixá-las em casa, certo?
  • 3:25 - 3:29
    Nesse caso, as profissionais do sexo
    são forçadas a fazer a difícil escolha
  • 3:29 - 3:31
    entre arriscar ser presa
    ou fazer sexo de risco.
  • 3:32 - 3:33
    O que vocês escolheriam?
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    Levariam camisinhas para o trabalho?
  • 3:36 - 3:40
    Sem falar na preocupação de ser
    estuprada no camburão pelo policial.
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    O segundo enfoque para regular
    o trabalho sexual, visto nestes países,
  • 3:45 - 3:46
    é a criminalização parcial,
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    em que a compra e venda de sexo é legal,
  • 3:49 - 3:50
    mas atividades correlatas,
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    como manter um bordel
    ou oferecer sexo na rua, são proibidas.
  • 3:54 - 3:57
    Leis desse tipo, em vigor
    no Reino Unido e na França,
  • 3:57 - 3:59
    basicamente dizem a essas profissionais:
  • 3:59 - 4:01
    "Olhem, não nos importamos
    que vendam sexo,
  • 4:01 - 4:04
    desde que seja entre quatro paredes
    e individualmente".
  • 4:04 - 4:07
    A propósito, um bordel
    é definido como duas ou mais
  • 4:07 - 4:09
    profissionais do sexo trabalhando juntas.
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    Tornar isso ilegal significa
    muitas trabalharem sós,
  • 4:12 - 4:15
    o que, é claro, nos torna vulneráveis
    a criminosos violentos.
  • 4:15 - 4:16
    Mas também somos vulneráveis
  • 4:16 - 4:19
    se escolhermos quebrar a lei
    e trabalharmos juntas.
  • 4:19 - 4:22
    Há alguns anos, uma amiga
    minha estava tensa
  • 4:22 - 4:24
    após ter sido atacada no trabalho,
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    então deixei que ela recebesse clientes
    em minha casa por um tempo.
  • 4:27 - 4:28
    Durante esse período,
  • 4:28 - 4:30
    aconteceu de um cara ficar agressivo.
  • 4:30 - 4:33
    Eu disse a ele para sair
    ou eu chamaria a polícia.
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    Ele olhou para nós duas e disse:
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    "Vocês não podem chamar a polícia.
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    Vocês estão trabalhando juntas;
    este lugar é ilegal".
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    Ele estava certo.
  • 4:42 - 4:44
    Ele acabou saindo sem ficar
    fisicamente violento,
  • 4:44 - 4:46
    mas saber que estávamos quebrando a lei
  • 4:46 - 4:48
    empoderou aquele homem para nos ameaçar.
  • 4:48 - 4:50
    Ele sabia que sairia impune.
  • 4:51 - 4:55
    A proibição da prostituição de rua
    também causa mais mal do que o previne.
  • 4:55 - 4:57
    Para evitar serem presas,
  • 4:57 - 5:00
    as profissionais de rua se arriscam
    para evitar a detenção,
  • 5:00 - 5:03
    o que significa trabalhar só ou em locais
    isolados, como matas escuras,
  • 5:03 - 5:05
    onde ficam vulneráveis a ataques.
  • 5:05 - 5:08
    Se for pega vendendo sexo
    na rua, você paga multa.
  • 5:08 - 5:11
    Como pagar essa multa
    sem voltar para as ruas,
  • 5:11 - 5:14
    se foi justamente a falta de dinheiro
    que a levou para as ruas?
  • 5:15 - 5:16
    E, assim, as multas se acumulam,
  • 5:16 - 5:18
    e você entra no círculo vicioso
  • 5:18 - 5:22
    de vender sexo para pagar as multas
    que recebe vendendo sexo.
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    Vejam o caso da Mariana Popa,
  • 5:24 - 5:26
    que trabalhava em Redbridge,
    leste de Londres.
  • 5:26 - 5:29
    As profissionais daquela região
    normalmente esperam os clientes em grupo,
  • 5:29 - 5:31
    por uma questão de segurança
  • 5:31 - 5:34
    e para alertar umas às outras
    sobre caras perigosos.
  • 5:34 - 5:38
    Mas, durante a repressão policial contra
    profissionais do sexo e seus clientes,
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    ela foi forçada a trabalhar
    sozinha, para evitar ser presa.
  • 5:41 - 5:45
    Na madrugada de 29 de outubro de 2013,
    ela foi esfaqueada até a morte.
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    Como sempre, ela tinha
    trabalhado até tarde
  • 5:48 - 5:51
    para tentar pagar uma multa
    por captação de clientes na rua.
  • 5:52 - 5:55
    Assim, se criminalizar
    as profissionais do sexo as prejudica,
  • 5:55 - 5:58
    por que não criminalizar apenas
    as pessoas que compram sexo?
  • 5:58 - 6:00
    Esse é o alvo do terceiro enfoque:
  • 6:00 - 6:03
    o modelo sueco ou nórdico
    de regular o trabalho sexual.
  • 6:03 - 6:07
    A ideia subjacente a tal legislação
    é que a venda de sexo em si é prejudicial,
  • 6:07 - 6:10
    então ela ajuda as profissionais
    do sexo acabando com a opção.
  • 6:11 - 6:12
    Apesar do crescente apoio
  • 6:12 - 6:15
    a essa postura, geralmente
    chamada de "fim da demanda",
  • 6:15 - 6:16
    não há evidência de que funcione.
  • 6:16 - 6:19
    Há tanta prostituição na Suécia
    hoje quanto no passado.
  • 6:20 - 6:21
    Por que será que é assim?
  • 6:22 - 6:24
    É porque quem vende sexo
  • 6:24 - 6:26
    geralmente não tem outras opções de renda.
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    Se precisa do dinheiro, o único efeito
    que uma queda nos negócios causa
  • 6:29 - 6:31
    é forçá-la a abaixar os preços
  • 6:31 - 6:34
    ou oferecer mais serviços
    sexuais de risco.
  • 6:34 - 6:37
    Ao precisar de mais clientes, ela acaba
    buscando o auxílio de um gerente.
  • 6:37 - 6:41
    Portanto, em vez de evitar o que
    comumente se define como proxenetismo,
  • 6:41 - 6:43
    uma lei assim na verdade estimula
  • 6:43 - 6:45
    terceiros potencialmente abusivos.
  • 6:46 - 6:47
    Para me manter segura no trabalho,
  • 6:47 - 6:51
    tento não aceitar o cliente que me liga
    de um número não identificado.
  • 6:51 - 6:53
    Se for de uma casa ou de um hotel,
  • 6:53 - 6:55
    tento pegar o nome completo e detalhes.
  • 6:56 - 6:58
    Se eu trabalhasse sob o modelo sueco,
  • 6:58 - 7:01
    o cliente ficaria assustado demais
    para me dar essa informação.
  • 7:01 - 7:02
    Eu poderia não ter escolha,
  • 7:02 - 7:05
    a não ser aceitar sair com um cliente
    que não é rastreável,
  • 7:05 - 7:07
    no caso de mais tarde ele ficar violento.
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    Como precisamos do dinheiro dos clientes,
    temos de protegê-los da polícia.
  • 7:11 - 7:13
    Trabalhar na rua
  • 7:13 - 7:15
    significa trabalhar sozinha
    ou em lugares isolados,
  • 7:15 - 7:17
    exatamente como se fôssemos criminosas.
  • 7:17 - 7:20
    Pode significar entrar
    em carros o mais rápido possível.
  • 7:20 - 7:23
    E menos tempo de negociação
    significa decisões impensadas.
  • 7:23 - 7:26
    Será que esse cara é perigoso
    ou só está nervoso?
  • 7:26 - 7:28
    Dá para correr o risco?
  • 7:28 - 7:30
    Ou não?
  • 7:32 - 7:33
    Algo que sempre ouço é:
  • 7:33 - 7:37
    "Tudo bem com a prostituição
    se for legalizada e regulamentada".
  • 7:37 - 7:39
    É o chamado enfoque da legalização,
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    que vigora em países
    como Holanda e Alemanha
  • 7:41 - 7:43
    e no estado de Nevada, nos EUA.
  • 7:44 - 7:46
    Mas não é um grande modelo
    de direitos humanos.
  • 7:46 - 7:49
    Na prostituição controlada pelo Estado,
    só se permite o sexo comercial
  • 7:49 - 7:52
    em certas áreas e espaços
    legalmente designados,
  • 7:52 - 7:55
    e as profissionais do sexo têm
    de seguir restrições especiais,
  • 7:55 - 7:57
    como registro e avaliações
    de saúde obrigatórios.
  • 7:58 - 8:00
    A regulação é linda no papel,
  • 8:00 - 8:03
    mas os políticos deliberadamente
    regulam a indústria do sexo
  • 8:03 - 8:06
    de uma forma cara e difícil de se cumprir.
  • 8:06 - 8:11
    Ela cria um sistema de duas hierarquias:
    trabalho legal e trabalho ilegal.
  • 8:11 - 8:14
    Às vezes, a chamamos de "criminalização
    de porta dos fundos".
  • 8:14 - 8:17
    Donos de bordéis ricos e bem relacionados
    conseguem cumprir as regulações,
  • 8:17 - 8:19
    mas as pessoas marginalizadas
    acham tais obstáculos
  • 8:19 - 8:21
    impossíveis de serem vencidos.
  • 8:21 - 8:23
    E, mesmo que teoricamente seja possível,
  • 8:23 - 8:26
    leva tempo e dinheiro obter
    uma licença ou um lugar adequado.
  • 8:26 - 8:30
    Não vai ser uma opção para quem
    está desesperada e precisa de dinheiro já.
  • 8:30 - 8:33
    Eles podem ser um refúgio
    para fugir do abuso doméstico.
  • 8:33 - 8:35
    Nesse sistema de duas hierarquias,
  • 8:35 - 8:38
    as pessoas mais vulneráveis
    são forçadas a trabalhar ilegalmente,
  • 8:38 - 8:41
    além de ficarem expostas
    aos perigos da criminalização
  • 8:41 - 8:43
    que mencionei anteriormente.
  • 8:43 - 8:46
    Assim, parece que todas
    as tentativas para controlar
  • 8:46 - 8:48
    ou evitar que o trabalho sexual aconteça
  • 8:48 - 8:51
    tornam as coisas mais perigosas
    para as pessoas que vendem sexo.
  • 8:51 - 8:54
    O medo da lei faz com que trabalhem
    sozinhas em locais isolados
  • 8:54 - 8:56
    e permite aos clientes e até aos policiais
  • 8:56 - 8:59
    se tornarem abusivos ao saberem
    que vão escapar ilesos.
  • 8:59 - 9:02
    Multas e fichas criminais forçam
    as pessoas a continuar a vender sexo,
  • 9:02 - 9:04
    em vez de permitir que parem.
  • 9:04 - 9:07
    Reprimir o comprador faz a vendedora
    assumir riscos perigosos,
  • 9:07 - 9:10
    jogando-a nas mãos de gerentes
    potencialmente abusivos.
  • 9:10 - 9:13
    Essas leis também reforçam o estigma
    e o ódio contra as profissionais do sexo.
  • 9:13 - 9:17
    Quando a França temporariamente
    trouxe o modelo sueco há dois anos,
  • 9:17 - 9:19
    os cidadãos tomaram isso como um sinal
  • 9:19 - 9:21
    para começar a atacar
  • 9:21 - 9:23
    as pessoas que trabalhavam nas ruas.
  • 9:23 - 9:25
    Na Suécia, pesquisas de opinião mostram
  • 9:25 - 9:29
    que muito mais gente agora quer
    a prisão das profissionais do sexo
  • 9:29 - 9:31
    do que antes da referida lei.
  • 9:32 - 9:34
    Se a proibição é assim tão perniciosa,
  • 9:34 - 9:36
    temos perguntar por que é tão popular.
  • 9:37 - 9:40
    Primeiro, o trabalho sexual é e sempre
    foi uma estratégia de sobrevivência
  • 9:40 - 9:43
    para todos os tipos de grupos
    minoritários impopulares:
  • 9:43 - 9:44
    pessoas de cor,
  • 9:44 - 9:45
    migrantes,
  • 9:45 - 9:46
    pessoas com deficiências,
  • 9:46 - 9:48
    pessoas LGBTQ,
  • 9:48 - 9:49
    especialmente mulheres trans.
  • 9:50 - 9:52
    Esses são os perfis dos grupos mais comuns
  • 9:52 - 9:54
    e punidos através de leis proibicionistas.
  • 9:54 - 9:56
    Não acho que seja por acaso.
  • 9:56 - 9:58
    Essas leis têm apoio político
  • 9:58 - 10:01
    exatamente por terem como alvo pessoas
  • 10:01 - 10:04
    que os eleitores não querem
    ver ou saber a respeito.
  • 10:05 - 10:07
    Por que mais as pessoas
    apoiariam a proibição?
  • 10:07 - 10:11
    Bem, muitas pessoas têm medos
    compreensíveis sobre o tráfico.
  • 10:12 - 10:14
    As pessoas pensam
    que mulheres estrangeiras
  • 10:14 - 10:16
    sequestradas e vendidas
    como escravas sexuais
  • 10:16 - 10:18
    podem ser salvas desmontando
    toda uma indústria.
  • 10:19 - 10:20
    Então, vamos falar do tráfico.
  • 10:21 - 10:25
    O trabalho forçado ocorre
    em muitas indústrias,
  • 10:25 - 10:28
    especialmente onde há trabalhadores
    migrantes ou de algum modo vulneráveis,
  • 10:28 - 10:30
    e isso precisa ser olhado.
  • 10:31 - 10:35
    Mas é mais bem tratado em legislação
    que vise abusos específicos,
  • 10:35 - 10:36
    não a indústria inteira.
  • 10:37 - 10:39
    Quando 23 migrantes chineses ilegais
  • 10:39 - 10:42
    se afogaram catando amêijoas
    na baía de Morecambe, em 2004,
  • 10:42 - 10:45
    não houve apelos para banir
    a indústria inteira de frutos do mar
  • 10:45 - 10:47
    para salvar as vítimas do tráfico.
  • 10:47 - 10:50
    Claramente, a solução é dar
    aos trabalhadores maior proteção legal,
  • 10:50 - 10:52
    permitindo-lhes resistir ao abuso
  • 10:52 - 10:55
    e denunciá-lo às autoridades
    sem medo de serem presos.
  • 10:55 - 10:58
    A forma como o termo "tráfico" é usado
  • 10:58 - 11:02
    implica que todas as migrantes ilegais
    na prostituição estão lá obrigadas.
  • 11:02 - 11:05
    De fato, muitas migrantes
    tomaram a decisão
  • 11:05 - 11:10
    de se colocarem nas mãos de traficantes
    devido à necessidade econômica.
  • 11:10 - 11:11
    Muitas o fazem completamente cientes
  • 11:11 - 11:14
    de que vão vender sexo
    quando chegaram ao destino.
  • 11:15 - 11:16
    E, sim, geralmente pode ser o caso
  • 11:16 - 11:20
    de esses traficantes cobrarem
    taxas exorbitantes,
  • 11:20 - 11:22
    coagirem migrantes a trabalhos
    que não queiram fazer
  • 11:22 - 11:24
    e abusarem deles quando estão vulneráveis.
  • 11:24 - 11:26
    Isso vale para a prostituição,
  • 11:26 - 11:28
    mas também para o trabalho na agricultura,
  • 11:28 - 11:30
    na hotelaria e o doméstico.
  • 11:31 - 11:34
    Afinal, ninguém quer ser forçado
    a fazer nenhum tipo de trabalho,
  • 11:34 - 11:36
    mas é um risco que muitos decidem assumir
  • 11:36 - 11:38
    por causa do que deixam para trás.
  • 11:38 - 11:40
    Se fossem autorizados a migrar legalmente,
  • 11:40 - 11:43
    não teriam de colocar a vida
    nas mãos de traficantes.
  • 11:43 - 11:45
    A origem dos problemas está
  • 11:45 - 11:47
    na criminalização da migração,
  • 11:47 - 11:49
    assim como na criminalização
  • 11:49 - 11:50
    do próprio trabalho sexual.
  • 11:50 - 11:52
    Essa é a lição da história.
  • 11:52 - 11:56
    Quando se tenta proibir algo
    que as pessoas querem ou precisam fazer,
  • 11:56 - 11:59
    seja beber álcool ou cruzar fronteiras,
  • 11:59 - 12:00
    ou fazer um aborto,
  • 12:00 - 12:02
    ou vender sexo,
  • 12:02 - 12:04
    criam-se mais problemas do que soluções.
  • 12:04 - 12:06
    A proibição faz pouca diferença
  • 12:06 - 12:09
    no número de pessoas
    fazendo esse tipo de coisa.
  • 12:09 - 12:10
    Mas faz uma diferença enorme
  • 12:10 - 12:13
    se elas estão seguras ou não ao fazerem.
  • 12:14 - 12:16
    Por que mais apoiariam a proibição?
  • 12:17 - 12:20
    Como feminista, sei que a indústria
    do sexo é um lugar
  • 12:20 - 12:23
    de desigualdade social
    profundamente arraigada.
  • 12:23 - 12:26
    É fato que a maioria dos compradores
    de sexo são homens com dinheiro,
  • 12:26 - 12:28
    e a maioria das vendedoras
    são mulheres sem.
  • 12:28 - 12:31
    Pode-se concordar com tudo isso,
    como concordo,
  • 12:31 - 12:34
    e ainda assim achar que a proibição
    é uma política terrível.
  • 12:35 - 12:37
    Num mundo melhor, mais igualitário,
  • 12:37 - 12:41
    talvez houvesse menos pessoas
    vendendo sexo para sobreviver,
  • 12:41 - 12:44
    mas não se pode simplesmente legislar
    a existência de um mundo melhor.
  • 12:44 - 12:47
    Se alguém precisa vender sexo
    porque é pobre,
  • 12:47 - 12:48
    ou por não ter onde morar,
  • 12:48 - 12:51
    ou por estar ilegal e não poder
    aceitar um emprego dentro da lei,
  • 12:51 - 12:55
    tirar essa opção não os faz menos pobres
  • 12:55 - 12:57
    ou lhes dá um teto,
  • 12:57 - 12:59
    ou muda seu status migratório.
  • 12:59 - 13:02
    Há a preocupação de que vender
    sexo seja degradante.
  • 13:02 - 13:05
    Perguntem a si mesmos: é mais
    degradante do que passar fome
  • 13:05 - 13:07
    ou ver seus filhos passando fome?
  • 13:07 - 13:10
    Não há um clamor para proibir
    os ricos de contratarem babás
  • 13:10 - 13:12
    ou conseguirem manicures,
  • 13:12 - 13:15
    mesmo que tal trabalho seja feito
    por mulheres pobres migrantes.
  • 13:15 - 13:19
    É o fato específico de mulheres
    migrantes pobres venderem sexo
  • 13:19 - 13:22
    que causa desconforto
    em algumas feministas.
  • 13:22 - 13:24
    E consigo entender
  • 13:24 - 13:26
    por que a indústria do sexo
    provoca sentimentos intensos.
  • 13:26 - 13:29
    As pessoas têm todos os tipos
    de sentimentos complicados
  • 13:29 - 13:31
    quando se trata de sexo.
  • 13:32 - 13:35
    Mas não podemos fazer política
    com base em meros sentimentos,
  • 13:35 - 13:37
    especialmente passando
    por cima das pessoas
  • 13:37 - 13:39
    realmente afetadas por tais políticas.
  • 13:39 - 13:41
    Se focarmos a abolição do trabalho sexual,
  • 13:41 - 13:43
    vamos acabar nos preocupando mais
  • 13:43 - 13:46
    com um aspecto específico
    da desigualdade de gênero,
  • 13:46 - 13:48
    em vez das causas subjacentes.
  • 13:48 - 13:51
    As pessoas ficam realmente
    fixadas na questão:
  • 13:51 - 13:53
    "Mas você gostaria
    que sua filha fizesse isso?"
  • 13:53 - 13:55
    Essa é a pergunta errada.
  • 13:55 - 13:58
    Em vez disso, imagine-a fazendo isso.
  • 13:59 - 14:01
    Quão segura ela estaria
    trabalhando à noite?
  • 14:01 - 14:03
    E por que não estaria segura?
  • 14:04 - 14:07
    Assim, abordei a criminalização total,
  • 14:07 - 14:10
    a criminalização parcial,
    o modelo sueco ou nórdico
  • 14:10 - 14:12
    e a legalização,
  • 14:12 - 14:13
    e como todos eles são nocivos.
  • 14:13 - 14:16
    Algo que nunca vi ninguém perguntar foi:
  • 14:17 - 14:19
    "O que as profissionais do sexo querem?"
  • 14:20 - 14:22
    Afinal, somos as pessoas
    mais afetadas por tais leis.
  • 14:23 - 14:26
    A Nova Zelândia descriminalizou
    o trabalho sexual em 2003.
  • 14:27 - 14:28
    É crucial lembrar
  • 14:28 - 14:32
    que descriminalização e legalização
    não são a mesma coisa.
  • 14:32 - 14:35
    Descriminalização significa abolir leis
  • 14:35 - 14:37
    que visam a indústria sexual
    de forma punitiva,
  • 14:37 - 14:40
    em vez de tratar o trabalho sexual
    como qualquer outro.
  • 14:40 - 14:43
    Na Nova Zelândia, elas podem
    trabalhar juntas por segurança,
  • 14:43 - 14:46
    e seus empregadores são
    responsáveis perante o Estado.
  • 14:46 - 14:49
    A profissional pode recusar
    um cliente a qualquer tempo,
  • 14:49 - 14:50
    por qualquer razão,
  • 14:50 - 14:53
    e 96% das profissionais de rua
  • 14:53 - 14:56
    relatam que sentem que a lei
    protege seus direitos.
  • 14:56 - 14:58
    A Nova Zelândia não viu um aumento
  • 14:58 - 15:00
    no número de pessoas
    fazendo trabalho sexual,
  • 15:00 - 15:03
    mas, ao descriminalizá-lo,
    o tornou muito mais seguro.
  • 15:03 - 15:05
    Mas a lição da Nova Zelândia
  • 15:05 - 15:07
    não é apenas o fato
    de ter uma boa legislação,
  • 15:07 - 15:10
    mas esta ter sido escrita juntamente
    com as profissionais do sexo,
  • 15:10 - 15:13
    a saber, com New Zealand
    Prostitutes' Collective.
  • 15:13 - 15:16
    Quando se tratou de tornar
    esse trabalho mais seguro,
  • 15:16 - 15:19
    procurou-se ouvir diretamente
    as profissionais do sexo.
  • 15:19 - 15:20
    Aqui no Reino Unido,
  • 15:20 - 15:24
    sou parte dos grupos
    Sex Worker Open University
  • 15:24 - 15:26
    e The English Collective of Prostitutes.
  • 15:26 - 15:28
    E participamos de um movimento global
  • 15:28 - 15:31
    que exige a descriminalização
    e a autodeterminação.
  • 15:32 - 15:34
    O símbolo universal do movimento
    é uma sombrinha vermelha.
  • 15:34 - 15:38
    Temos o apoio em nossas demandas
    de órgãos mundiais, como UNAIDS,
  • 15:38 - 15:39
    a Organização Mundial de Saúde
  • 15:39 - 15:41
    e a Anistia Internacional.
  • 15:41 - 15:43
    Mas precisamos de mais aliados.
  • 15:43 - 15:46
    Se vocês se importam
    com a igualdade de gêneros,
  • 15:46 - 15:48
    pobreza, migração ou saúde pública,
  • 15:48 - 15:51
    então os direitos da profissional
    do sexo importam para vocês.
  • 15:51 - 15:53
    Abram espaço para nós em seus movimentos.
  • 15:53 - 15:57
    Isso significa não apenas ouvir
    as profissionais do sexo,
  • 15:57 - 15:59
    mas ampliar nossas vozes.
  • 15:59 - 16:01
    Enfrentar aqueles que nos silenciam,
  • 16:01 - 16:05
    aqueles que dizem
    que a prostituta está vitimizada
  • 16:05 - 16:07
    ou destruída demais para saber
    o que é melhor para si;
  • 16:07 - 16:09
    ou, o contrário, privilegiada demais
  • 16:09 - 16:11
    e distante demais da dureza da vida
  • 16:11 - 16:15
    para querer representar milhões
    de vítimas sem voz.
  • 16:16 - 16:21
    A distinção entre ser vítima
    e empoderada é imaginária.
  • 16:21 - 16:23
    Existe puramente para desacreditar
    as profissionais do sexo
  • 16:23 - 16:25
    e tornar mais fácil nos ignorar.
  • 16:26 - 16:29
    Não há dúvida de que muitos
    de vocês trabalham para viver.
  • 16:29 - 16:30
    Trabalho sexual também é trabalho.
  • 16:31 - 16:32
    Exatamente como vocês,
  • 16:32 - 16:36
    algumas de nós gostamos do nosso emprego,
    algumas de nós o odiamos.
  • 16:36 - 16:39
    No final, a maioria de nós
    tem sentimentos mistos.
  • 16:39 - 16:42
    Mas como nos sentimos sobre nosso trabalho
  • 16:43 - 16:44
    não é a questão.
  • 16:44 - 16:48
    E como os outros se sentem sobre
    nosso trabalho certamente não é.
  • 16:48 - 16:51
    O importante é o nosso direito
    de trabalhar com segurança
  • 16:51 - 16:53
    e nos nossos termos.
  • 16:53 - 16:55
    Profissionais do sexo são pessoas reais.
  • 16:55 - 16:57
    Temos experiências complicadas,
  • 16:58 - 17:01
    e respostas complicadas
    para essas experiências.
  • 17:02 - 17:04
    Mas nossas demandas não são complicadas.
  • 17:04 - 17:07
    Perguntem a garotas de programa
    caras de Nova York,
  • 17:07 - 17:10
    profissionais de bordéis no Camboja,
    ou de rua na África do Sul,
  • 17:10 - 17:13
    ou a qualquer menina
    no meu antigo plantel no Soho,
  • 17:13 - 17:16
    e elas vão dizer a mesmíssima coisa.
  • 17:16 - 17:18
    Podem perguntar a milhões de profissionais
  • 17:18 - 17:21
    e a inúmeras organizações trabalhistas.
  • 17:21 - 17:24
    Queremos a completa descriminalização
    e direitos trabalhistas.
  • 17:25 - 17:28
    Hoje aqui no palco há apenas
    uma profissional do sexo,
  • 17:28 - 17:30
    mas trago uma mensagem do mundo todo.
  • 17:30 - 17:31
    Obrigada.
  • 17:31 - 17:34
    (Aplausos)
Title:
As leis que as profissionais do sexo realmente querem
Speaker:
Toni Mac
Description:

Todo mundo tem uma opinião sobre como legislar sobre o trabalho sexual (se deve ser legalizado, banido ou mesmo taxado), mas o que as próprias profissionais do sexo acham que funcionaria melhor? A ativista Toni Mac explica quatro enfoques legais usados no mundo e nos mostra o modelo que ela acredita que funcionaria melhor para manter as profissionais do sexo seguras e ofereceria maior autodeterminação. "Se vocês se importam com a igualdade de gênero, a pobreza, a migração ou a saúde pública, então os direitos da profissional do sexo também importam para vocês", diz ela. "Abram espaço para nós em seus movimentos." (Temas adultos)

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
17:50

Portuguese, Brazilian subtitles

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