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Porque o "design" devia incluir toda a gente

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    Eu quero dar-vos uma nova perspetiva.
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    Isto soa grandioso, e é.
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    Eu saí da Irlanda ontem pela manhã.
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    Viajei de Dublin a Nova Iorque,
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    sozinha.
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    Mas o "design" de um aeroporto,
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    da aeronave e do terminal
  • 0:19 - 0:23
    oferece pouca independência
    quando temos 105,5 cm de altura.
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    Para os americanos,
    são 3 pés e 5 polegadas.
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    Funcionários da companhia aérea
    levaram-me numa cadeira de rodas.
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    Eu não preciso de uma cadeira de rodas,
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    mas o "design" de um aeroporto
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    e a sua falta de acessibilidade
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    faz com que essa seja
    a única forma possível.
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    Com a minha bagagem de mão entre os pés,
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    empurraram-me pela segurança,
    verificação prévia
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    e cheguei à porta de embarque.
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    Eu uso os serviços de
    acessibilidade no aeroporto
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    porque a maior parte dos terminais
    não tem um "design" que me sirva.
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    Pensem na segurança, por exemplo.
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    Eu não tenho força suficiente
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    para levantar a minha bagagem
    do chão e pô-la no carrossel.
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    Este está no nível dos meus olhos.
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    Os que trabalham naquela área
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    não podem ajudar-me
    por razões de segurança
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    e não podem fazê-lo por mim.
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    O "design" inibe a minha autonomia
    e a minha independência.
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    Mas viajar, sendo deste tamanho,
    nem é assim tão mau.
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    O espaço para as pernas na económica
    é como se fosse na executiva.
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    (Risos)
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    Eu normalmente esqueço
    que sou pequenina.
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    É o ambiente físico e a sociedade
    que me lembram isso.
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    Usar uma casa de banho pública
    é uma experiência terrível.
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    Eu entro na cabina
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    mas não chego à fechadura da porta.
  • 1:50 - 1:53
    Eu sou criativa e forte.
  • 1:53 - 1:57
    Olho à minha volta para ver se há
    uma lata que possa virar ao contrário.
  • 1:57 - 1:59
    É seguro?
  • 1:59 - 2:00
    Provavelmente, não.
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    É higiénico e desinfetado?
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    Definitivamente, não.
  • 2:06 - 2:08
    Mas a alternativa é muito pior.
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    Se não funcionar, uso o meu telefone.
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    o que me dá mais 10 a 15 cm
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    e tento trancar a fechadura
    com o meu iPhone.
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    Creio que não foi o que Jony Ive pensou
    quando criou o "design" do iPhone,
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    mas funciona.
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    A alternativa é pedir ajuda
    a uma pessoa estranha.
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    Peço imensa desculpa
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    e peço que fique de guarda
    à porta da cabina.
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    Elas ficam
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    e eu saio da cabina grata
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    mas profundamente envergonhada,
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    e torço para que elas não percebam
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    que eu saí da casa de banho
    sem lavar as mãos.
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    Eu trago sempre comigo álcool gel
  • 2:51 - 2:57
    porque o lavatório, o sabonete,
    o secador de mãos e o espelho
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    estão todos fora do meu alcance.
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    A casa de banho para deficientes
    é, em parte, uma opção.
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    Naquele espaço eu chego
    à fechadura da porta,
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    ao lavatório, ao sabonete,
    ao secador de mãos e ao espelho.
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    Mesmo assim, não posso usar a sanita.
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    O seu "design" é deliberadamente mais alto
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    para que as pessoas em cadeiras de rodas
    possam mudar com facilidade.
  • 3:21 - 3:25
    É uma inovação maravilhosa
    e necessária,
  • 3:25 - 3:30
    mas em "design", quando descrevemos
    um novo projeto como acessível,
  • 3:31 - 3:32
    o que é que isso significa?
  • 3:33 - 3:35
    Acessível para quem?
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    E quais as necessidades
    que não estão a ser satisfeitas?
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    A casa de banho é um exemplo
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    em que o "design"
    compromete a minha dignidade,
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    mas o espaço físico também tem impacto
    de formas mais corriqueiras,
  • 3:49 - 3:52
    uma coisa tão simples como
    pedir uma chávena de café.
  • 3:52 - 3:56
    Reconheço que bebo mais café do que devia.
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    Peço café com leite magro e baunilha,
  • 3:59 - 4:02
    mas estou a tentar reduzir o açúcar.
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    Mas o café não tem
    um "design" muito bom,
  • 4:06 - 4:07
    pelo menos para mim.
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    Enquanto espero, estou de pé
    atrás da vitrina dos doces
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    e o empregado chama o seguinte da fila.
  • 4:13 - 4:16
    "O próximo, por favor!", grita.
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    Ele não me vê.
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    A pessoa ao meu lado aponta para mim
  • 4:21 - 4:24
    e todos se sentem envergonhados.
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    Eu faço o pedido o mais rápido
    possível e tenho que levar o meu café.
  • 4:28 - 4:31
    Pensem por segundos.
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    Onde é que colocam o café?
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    Lá em cima e sem tampa.
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    Esticar-me para pegar no café
    que paguei
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    é uma experiência extremamente perigosa.
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    O "design" também limita
    as roupas que eu quero usar.
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    Eu gosto de roupas
    que reflitam a minha personalidade.
  • 4:49 - 4:52
    E é difícil encontrá-las
    no departamento infantil.
  • 4:53 - 4:56
    Frequentemente as roupas femininas
    precisam de muitas alterações.
  • 4:57 - 5:01
    Eu quero sapatos que denotem maturidade,
    profissionalismo e sofisticação.
  • 5:02 - 5:07
    Mas a mim oferecem-me ténis
    com Velcro ou sapatos com luzes.
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    Não tenho nada contra
    sapatos com luzes.
  • 5:11 - 5:12
    (Risos)
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    Mas o "design" é algo que
    tem impacto em pequenas coisas,
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    como sentarmo-nos numa cadeira.
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    Eu não posso estar de pé
    e sentar-me graciosamente.
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    Devido aos padrões do "design"
    para a altura das cadeiras,
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    preciso de me arrastar
    usando as mãos e os joelhos
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    para chegar à parte de cima,
  • 5:31 - 5:35
    tendo a noção de que a cadeira
    pode virar-se a qualquer momento.
  • 5:36 - 5:38
    A despeito de como o "design" me afeta,
  • 5:38 - 5:43
    seja uma cadeira, uma casa de banho,
    um café ou roupas,
  • 5:43 - 5:46
    eu confio e beneficio
  • 5:46 - 5:48
    da bondade de estranhos.
  • 5:50 - 5:52
    Mas nem toda a gente é tão simpática.
  • 5:52 - 5:55
    Eu dou-me conta de ser
    uma pessoa pequenina
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    quando um estranho aponta,
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    fica a olhar,
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    se ri,
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    chama-me um nome,
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    ou me tira fotografias.
  • 6:06 - 6:08
    Isso acontece quase todos os dias.
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    O aparecimento das redes sociais
    deu-me a oportunidade
  • 6:12 - 6:16
    e uma plataforma para ter voz
    como "blogger" e ativista,
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    mas também me deixa apreensiva
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    de que me transforme num "meme"
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    ou numa sensação viral,
  • 6:23 - 6:25
    sem o meu consentimento.
  • 6:26 - 6:29
    Vamos parar por um momento
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    e deixar algo bem claro.
  • 6:32 - 6:35
    A palavra "anão" é pejorativa.
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    Evoluiu da era dos circos de PT Barnum
    e dos espetáculos de aberrações.
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    A sociedade evoluiu.
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    O vocabulário precisa de fazer o mesmo.
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    A linguagem é uma ferramenta poderosa.
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    Não se limita a dar um nome
    à nossa sociedade.
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    Modela-a.
  • 6:53 - 6:56
    Eu tenho orgulho em ser
    uma pessoa pequenina,
  • 6:56 - 6:59
    por ter herdado acondroplasia.
  • 7:00 - 7:02
    Mas tenho mais orgulho
    em chamar-me Sinéad.
  • 7:03 - 7:06
    A acondroplasia é a forma
    mais comum de nanismo.
  • 7:06 - 7:10
    A tradução de acondroplasia é
    "sem formação de cartilagem".
  • 7:11 - 7:14
    Eu tenho membros curtos
    e feições acondroplásticas,
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    a minha testa e o meu nariz.
  • 7:18 - 7:20
    Os meus braços não se
    endireitam totalmente
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    mas eu posso lamber o meu cotovelo.
  • 7:23 - 7:24
    Não vos vou mostrar isso.
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    A acondroplasia ocorre em
    cerca de um em cada 20 000 nascimentos.
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    80% das pessoas pequeninas nascem
    de pais de estatura dentro da média.
  • 7:35 - 7:39
    Isso significa que qualquer pessoa aqui
    podia ter um filho com acondroplasia.
  • 7:40 - 7:44
    Eu herdei a minha situação do meu pai.
  • 7:44 - 7:46
    Gostava de mostrar
    uma foto da minha família.
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    A minha mãe tem uma estatura mediana,
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    o meu pai é pequenino
  • 7:52 - 7:54
    e eu sou a mais velha
    de cinco filhos.
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    Tenho três irmãs e um irmão.
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    Todos eles têm uma estatura mediana.
  • 8:00 - 8:04
    Eu tenho muita sorte
    por ter nascido numa família
  • 8:04 - 8:07
    que estimulou a minha
    curiosidade e tenacidade,
  • 8:08 - 8:12
    que me protegeu da maldade
    e da ignorância de estranhos
  • 8:13 - 8:17
    e que me armou com a força,
    a criatividade e a confiança
  • 8:17 - 8:22
    de que preciso para sobreviver e controlar
    o ambiente físico e a sociedade.
  • 8:23 - 8:26
    Se eu tivesse que escolher uma razão
    para definir o meu sucesso,
  • 8:27 - 8:31
    seria o facto de ter sido
    e ainda ser uma criança amada,
  • 8:32 - 8:35
    uma criança amada
    com muita insolência e sarcasmo,
  • 8:35 - 8:38
    mas amada acima de tudo.
  • 8:38 - 8:42
    Para vos dar uma ideia
    de quem eu sou hoje
  • 8:42 - 8:45
    proponho-vos uma nova perspetiva.
  • 8:45 - 8:47
    Queria questionar o conceito
  • 8:47 - 8:49
    de que o "design"
    não passa de um instrumento
  • 8:49 - 8:51
    para criar funcionalidade e beleza.
  • 8:51 - 8:54
    O "design" afeta grandemente
    a vida das pessoas,
  • 8:55 - 8:57
    de todas as pessoas.
  • 8:57 - 9:01
    O "design" é algo com o poder
    de nos sentirmos incluídos no mundo,
  • 9:01 - 9:05
    mas também é capaz de preservar
    a dignidade de uma pessoa
  • 9:05 - 9:07
    e os seus direitos humanos.
  • 9:08 - 9:10
    O "design" pode infligir vulnerabilidade
  • 9:10 - 9:13
    num grupo cujos direitos
    não são levados em conta.
  • 9:14 - 9:18
    Hoje, quero que vocês
    mudem a vossa perceção.
  • 9:19 - 9:21
    Para quem é o "design"?
  • 9:21 - 9:25
    Como podemos ampliar
    a voz e as experiências delas?
  • 9:26 - 9:28
    Qual é o próximo passo?
  • 9:28 - 9:31
    O "design" é um grande privilégio,
  • 9:31 - 9:33
    mas é uma responsabilidade ainda maior.
  • 9:34 - 9:36
    Quero que abram os olhos.
  • 9:37 - 9:38
    Muito obrigada.
  • 9:38 - 9:41
    (Aplausos)
Title:
Porque o "design" devia incluir toda a gente
Speaker:
Sinéad Burke
Description:

Sinéad Burke tem conhecimento de detalhes que são praticamente invisíveis à maioria de nós. Com uma altura de 1 metro e 5 centímetros, o mundo do "design" — desde a altura de uma fechadura à média do tamanho dos sapatos — frequentemente limita a sua capacidade de fazer coisas independentemente. Nesta palestra, conta-nos como se sente ao navegar no mundo como uma pessoa de pequeno porte e pergunta: "Para quem é o 'design'?"

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
09:57

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