Estas feridas que não se veem | Edith Bouvier ! TEDxToulouse
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0:13 - 0:17Desejo revelar as falhas
dos jornalistas de hoje. -
0:18 - 0:21Não vou falar de histórias, de intrigas,
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0:21 - 0:24de comentários sobre a vida privada,
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0:24 - 0:27ou de histórias de censura,
mesmo do "Fígaro", -
0:27 - 0:30porque acho que conhecem
essas coisas melhor do que eu. -
0:30 - 0:32Do que desejo falar
é das feridas que não se veem. -
0:32 - 0:35É das falhas do interior.
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0:35 - 0:37É sobre reportagens,
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0:37 - 0:39sobre os olhares que se fixam,
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0:39 - 0:43sobre a necessidade de nos isolarmos,
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0:43 - 0:46sobre as dificuldades em comunicar.
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0:46 - 0:50É a impossibilidade de exprimir
o que temos cá dentro. -
0:53 - 0:55E desejo falar-vos disso
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0:55 - 0:58porque, a 22 de fevereiro de 2012,
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0:58 - 1:01eu encontrava-me na Síria,
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1:01 - 1:04num centro de imprensa da cidade Baba Amr,
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1:04 - 1:06na Síria, em Homs.
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1:07 - 1:11A cidade foi bombardeada
de novo nessa altura -
1:11 - 1:15e, tal como hoje,
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1:15 - 1:21as bombas começaram
a visar-nos às 8:20 em ponto, -
1:21 - 1:24a aproximar-se de nós, incessantemente,
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1:24 - 1:29até matar Rémi Ochlik,
que era um ótimo fotógrafo, -
1:29 - 1:32talentoso, lindo como um anjo.
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1:32 - 1:35Até matar Marie Colvin,
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1:35 - 1:37que, para mim, era "A Heroína",
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1:37 - 1:40a grande repórter que já passara por tudo.
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1:40 - 1:43Até ferir gravemente Paul Conroy,
o fotógrafo dela. -
1:44 - 1:48Dois miraculados:
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1:48 - 1:50Javier Espinosa e Williams Daniels,
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1:50 - 1:53os fotógrafos com quem
eu tentava trabalhar -
1:53 - 1:56salvaram-se sem qualquer ferimento.
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1:57 - 2:02Quanto a mim, imensos estilhaços de obus
perfuraram-me uma perna, as coxas, -
2:02 - 2:06e reduziram-me o fémur a migalhas.
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2:08 - 2:10Conseguimos sair dali,
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2:10 - 2:12graças à coragem dos sírios,
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2:12 - 2:14graças à coragem de Williams Daniels.
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2:14 - 2:18Chegámos a França a 2 de março de 2012.
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2:18 - 2:22Passei semanas no hospital,
fechada, bloqueada -
2:22 - 2:24num hospital militar.
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2:24 - 2:27No que se refere a detenção,
eles são mesmo bons. -
2:29 - 2:31Tive sorte
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2:31 - 2:34porque havia lá médicos
que salvaram a minha perna. -
2:34 - 2:37Graças a eles, hoje estou aqui
de pé à vossa frente. -
2:37 - 2:40Também salvaram a minha cabeça,
porque me forçaram a falar. -
2:40 - 2:43- houve uma vez que adormeci,
mas não digam nada a ninguém. -
2:44 - 2:45Obrigaram-me a falar,
fizeram-me falar da morte, -
2:45 - 2:47fizeram-me falar do que é
ver um amigo morto, -
2:47 - 2:50fizeram-me falar do que eu tinha vivido
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2:50 - 2:51e isso ajudou-me imenso.
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2:51 - 2:53Ao princípio, eu não queria falar,
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2:53 - 2:55mas penso que isso me ajudou imenso.
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2:57 - 3:00Na minha profissão, não se fala nisso.
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3:00 - 3:02Na minha profissão,
não falamos destas feridas. -
3:02 - 3:06Na minha profissão, somos fortes
e partimos para a luta, -
3:06 - 3:07nunca estamos fatigados.
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3:07 - 3:10Estamos sujos, cheiramos mal,
mas partimos para a luta. -
3:11 - 3:14Então, vou fazer
um paralelo com o exército, -
3:14 - 3:17porque são as mesmas situações,
infelizmente demasiadas vezes. -
3:17 - 3:23Oficialmente há 15% dos soldados
que regressam de conflitos -
3:23 - 3:25traumatizados psicologicamente.
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3:25 - 3:28É muito, e são apenas os números oficiais,
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3:28 - 3:31quer dizer que há muitos
que se sentem mal interiormente -
3:31 - 3:33mas que nunca o dirão.
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3:34 - 3:39Todos os dias, há 18 veteranos americanos
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3:39 - 3:44que tentam pôr fim à vida
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3:45 - 3:47e que se suicidam.
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3:47 - 3:53É muito pior que o total oficial
dos combates no Afeganistão e no Iraque. -
3:54 - 3:57Gostava de vos dar números
sobre a minha profissão, -
3:57 - 4:00mas o grande silêncio
não é o exército, somos nós. -
4:00 - 4:02Nós não falamos disso, já o referi.
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4:02 - 4:05Há um psicólogo, um psiquiatra americano
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4:05 - 4:07que tentou trabalhar nisso,
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4:07 - 4:11que tentou interrogar jornalistas,
de guerra ou não, -
4:11 - 4:14e o número já é bastante terrível.
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4:14 - 4:19Há 28% da primeira categoria,
repórteres de guerra, -
4:19 - 4:23que sofrem do que se chama PTSD:
uma síndroma pós-traumática -
4:23 - 4:25— depois, vou voltar a isto —
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4:25 - 4:28e 24% que sofrem de grave depressão.
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4:30 - 4:35Então, o que é esse PTSD?
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4:36 - 4:39Costuma-se dizer PTSD, é o nome em inglês,
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4:39 - 4:42Não vou traduzir, porque é ridículo,
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4:42 - 4:45mas em português quer dizer,
síndroma pós-traumática, -
4:45 - 4:47SPT,
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4:47 - 4:49mas só os americanos trabalham nisso,
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4:49 - 4:50nós estamo-nos nas tintas,
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4:50 - 4:53isso não nos interessa, somos mais fortes.
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4:54 - 4:55Então, o que é?
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4:55 - 4:57Assim, aprendi de cor
a frase psicológica -
4:57 - 5:00— fiz três sessões de psicanálise,
tanto quanto me lembro. -
5:00 - 5:04O PTSD é uma reação psicológica
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5:04 - 5:07que surge na sequência de...
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5:07 - 5:09— ah, é isto que me está sempre a falhar —
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5:10 - 5:12... dum atentado físico ou psicológico
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5:12 - 5:16que aconteceu ou não,
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5:16 - 5:22que pôs em perigo a integridade
física ou psicológica do paciente. -
5:25 - 5:27Isso significa que são todas as coisas
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5:27 - 5:30que vemos, nas reportagens,
e que não devíamos ter visto. -
5:30 - 5:32Esses corpos mortos ao nosso lado.
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5:32 - 5:36Essas crianças que vão morrer
à fome dentro em breve. -
5:36 - 5:38Essas pessoas doentes,
essas pessoas queimadas, -
5:38 - 5:40essas mulheres violadas,
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5:40 - 5:42essas mulheres que os maridos
tentaram matar, -
5:42 - 5:45porque elas agarraram no telefone
e não deviam tê-lo feito, -
5:45 - 5:49ou por outras razões, frequentemente
igualmente obscuras. -
5:49 - 5:52É um conjunto de coisas
que, entre nós, ridicularizamos, -
5:52 - 5:54com um pouco de ironia,
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5:54 - 5:56escondendo o facto de que, cá dentro,
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5:56 - 6:00ficámos lixados por ouvir
todos esses relatos. -
6:00 - 6:04Continuamos como se nada fosse,
como se fôssemos mais fortes do que isso. -
6:04 - 6:07Continuamos a ouvir histórias atrozes,
durante todo o dia, -
6:07 - 6:11a ouvir bombas, a ouvir tiros e a avançar,
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6:11 - 6:13a tropeçar nessas histórias atrozes
durante todo o dia, -
6:13 - 6:16a fazer como se nada fosse.
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6:17 - 6:19Quero contar-vos a história de Lionel.
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6:20 - 6:22Lionel é um amigo meu do hospital.
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6:22 - 6:26Reparei imediatamente no Leonel
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6:26 - 6:29porque era o único que não tinha sido
amputado, não usava muletas, -
6:29 - 6:31nem cadeira de rodas.
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6:31 - 6:35O que era estranho num hospital militar
que só tinha soldados. -
6:36 - 6:38Perguntei-lhe o que é que ele tinha.
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6:38 - 6:42Com uma sinceridade e, ao mesmo tempo,
com a cara transtornada, disse-me: -
6:42 - 6:46"Eu ando nos malucos".
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6:46 - 6:48É muito bizarro, quando
um tipo de 2,20 metros, -
6:48 - 6:50com mãos do tamanho de coxas,
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6:50 - 6:53olha para nós e diz que anda nos malucos.
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6:53 - 6:55O Lionel é o meu herói.
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6:55 - 6:58É o tipo que todos vocês
adorariam ter ao jantar, -
6:58 - 7:00porque ele faz a geopolítica do mundo
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7:00 - 7:02e dos 20 anos passados, em cinco minutos.
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7:02 - 7:03Porque já viveu tudo.
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7:03 - 7:05Lionel é o Rambo.
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7:05 - 7:07Lionel esteve em Djibuti,
esteve na Somália, -
7:07 - 7:10esteve no Iraque, esteve no Ruanda.
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7:10 - 7:14É um livro de geopolítica,
para os professores, é genial. -
7:14 - 7:18Um dia Lionel estava no Afeganistão
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7:18 - 7:21e uma bomba explodiu mesmo ao lado dele.
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7:21 - 7:23Lionel teve sorte, salvou-se.
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7:23 - 7:25Não teve nem um arranhão.
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7:25 - 7:28Morreram muitos colegas
mas Lionel não sofreu nada. -
7:28 - 7:32Por isso ficou no terreno,
por isso continuou. -
7:32 - 7:35Mas, no regresso,
Lionel não estava nada bem. -
7:36 - 7:38De súbito, explodiu.
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7:38 - 7:40De súbito, era incapaz de sair de casa.
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7:40 - 7:43De súbito, sentia uma bola no estômago
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7:43 - 7:45e insultava os filhos e a mulher.
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7:45 - 7:47Mas não podia dizer-lhes o que tinha,
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7:47 - 7:50porque, por um lado, também não sabia
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7:50 - 7:53e, por outro, ele só fazia
operações secretas, -
7:53 - 7:56totalmente secretas,
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7:56 - 7:58e não podia contar-lhes o que tinha visto,
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7:58 - 8:01o que tinha vivido, o que tinha suportado
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8:01 - 8:03e o que tinha sofrido.
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8:03 - 8:05Lionel é um homem,
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8:05 - 8:09não refletiu muito, voltou
para o Afeganistão, dizendo: -
8:09 - 8:10"Vou curar o mal com o mal.
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8:10 - 8:11"Vou voltar para a guerra,
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8:11 - 8:14"De qualquer modo,
é a única coisa que sei fazer". -
8:14 - 8:17O que não é verdade, é só o que ele pensa.
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8:17 - 8:21Voltou para o Afeganistão,
passou lá mais sete anos, -
8:21 - 8:23a fazer a guerra, a ver as bombas a cair,
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8:23 - 8:24a ver os colegas morrer,
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8:24 - 8:27a ficar ferido, a ver as bombas a cair,
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8:27 - 8:28a ver os colegas morrer.
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8:28 - 8:30Depois regressou e apercebeu-se
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8:30 - 8:32de que as coisas não iam nada melhor.
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8:32 - 8:34E explodiu.
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8:34 - 8:36Encontrei-o no hospital militar de Percy
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8:36 - 8:38porque já não sofria de pesadelos.
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8:38 - 8:39Porque Lionel nunca dorme,
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8:39 - 8:43recusa-se a dormir porque,
quando dorme, tem pesadelos. -
8:43 - 8:44Porque já não tem vida.
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8:44 - 8:47Porque, como ele diz,
lá por dentro está morto. -
8:47 - 8:49Estamos a vê-lo, mas ele já não existe,
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8:49 - 8:52já não está no nosso mundo.
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8:53 - 8:56O problema é que Lionel não é o único.
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8:56 - 8:57No exército francês, atualmente,
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8:57 - 8:59sabemos que há outros.
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8:59 - 9:00No exército americano,
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9:00 - 9:02há muitos filmes a falar disso,
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9:02 - 9:05portanto sabemos que há outros.
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9:05 - 9:07E nos jornalistas também.
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9:09 - 9:12O problema é que nós,
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9:12 - 9:16tal como as feridas que não se veem,
temos dificuldade em diagnosticá-las. -
9:16 - 9:18Pensamos que é um pouco de fadiga,
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9:18 - 9:19pensamos que vai passar,
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9:19 - 9:25dizemos que devíamos ter visto,
que devíamos ter percebido. -
9:26 - 9:29O problema é que nunca se sabe
quando é que as coisas rebentam. -
9:29 - 9:33O problema é que podem rebentar
quando regressamos duma reportagem. -
9:33 - 9:35Mas basta uma fagulha,
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9:35 - 9:37um momento, um conflito com a mulher,
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9:37 - 9:40um conflito com o automóvel da frente,
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9:40 - 9:41para que as coisas estoirem.
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9:41 - 9:43Porque explodimos cá por dentro.
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9:44 - 9:47Vou falar-vos de mais um colega,
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9:47 - 9:49— eu tenho muitos heróis na profissão.
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9:49 - 9:52É fotógrafo,
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9:52 - 9:55também fez a cobertura
de todos os conflitos, -
9:55 - 9:59desde a Bósnia ao Ruanda, ao Kosovo,
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9:59 - 10:01ao Iraque.
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10:02 - 10:04Esteve em todo o lado,
é fotógrafo de guerra, -
10:04 - 10:06portanto viu tudo isso durante anos
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10:06 - 10:09Depois, em outubro passado,
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10:09 - 10:11foi assaltado.
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10:11 - 10:13É uma coisa vulgar,
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10:13 - 10:15talvez já vos tenha acontecido,
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10:15 - 10:16é sempre desagradável.
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10:16 - 10:19Mas, dessa vez, a violência entrou
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10:19 - 10:22no que ele tinha de mais íntimo,
na casa dele. -
10:22 - 10:23Já não era no terreno,
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10:23 - 10:26não tinha a máquina fotográfica
a escondê-lo. -
10:27 - 10:33Foi em casa dele, foi o cão dele
que foi ferido pelo assaltante, -
10:33 - 10:35foram as coisas dele
que foram remexidas, -
10:35 - 10:38foi a sua integridade pessoal
que foi violada. -
10:39 - 10:43A partir daí, tinha pesadelos,
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10:43 - 10:46a partir daí, não conseguia dormir,
nem estar só, -
10:46 - 10:50tinha sempre necessidade
de um amigo que o recebesse, -
10:50 - 10:52que o ajudasse, que o escutasse.
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10:54 - 10:58Depois, teve sorte,
está em vias de se recompor, -
10:58 - 11:01encontrou um psicanalista
para falar disso. -
11:01 - 11:03Conseguiu perceber o que se passava,
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11:03 - 11:08porque, a certa altura,
depois de ver muitas imagens, -
11:08 - 11:12pôs o dedo na imagem
que mais o tinha traumatizado. -
11:12 - 11:15Lembrou-se dos seus colegas mortos
no terreno na Bósnia. -
11:15 - 11:17— a coisa vinha de longe.
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11:17 - 11:21Lembrou-se daquela mulher
que estava morta na neve, -
11:21 - 11:24da sua incapacidade em ajudá-la,
em fazer fosse o que fosse. -
11:24 - 11:26Ficara ali, impotente, ao lado dela.
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11:27 - 11:31Julgava que isso pertencia ao passado,
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11:31 - 11:33mas, na verdade, estava lá escondido.
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11:33 - 11:36Tinha sido há 30 anos
que estivera ao lado dela -
11:36 - 11:38e nem sequer se apercebera disso.
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11:39 - 11:42De repente, os demónios libertam-se.
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11:44 - 11:46Ser jornalista de guerra
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11:46 - 11:51parece sempre a toda a gente
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11:51 - 11:53uma coisa muito estranha.
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11:53 - 11:56"Porque é que fazes isso?"
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11:56 - 11:58É preciso explicar-vos uma coisa,
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11:58 - 12:00é que eu não gosto da guerra,
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12:00 - 12:01não vejo filmes de guerra,
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12:01 - 12:03detesto a violência.
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12:05 - 12:07Não gosto nada do barulho e das balas,
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12:07 - 12:10detesto aquela espécie de "clique"
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12:10 - 12:16da espingarda quando destrava,
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12:17 - 12:20detesto ouvir as rajadas
a aproximarem-se de mim. -
12:20 - 12:21Ainda detesto mais
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12:21 - 12:24ouvir as bombas a aproximarem-se de mim,
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12:24 - 12:26é muito desagradável.
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12:26 - 12:29Detesto ser obrigada a baixar-me
-
12:29 - 12:31e a não parar de correr
para fugir aos tiros, -
12:31 - 12:34sem ter tempo para
perceber o que se passa. -
12:34 - 12:35É preciso ter olhos na nuca,
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12:35 - 12:38porque temos que estar sempre vigilantes
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12:38 - 12:42do que se passa à nossa volta,
controlar, ter cuidado com tudo. -
12:42 - 12:44É fatigante, é uma tensão permanente
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12:44 - 12:47e, ao mesmo tempo,
uma espécie de adrenalina incrível. -
12:47 - 12:49Sentimos uma bola no estômago,
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12:49 - 12:51ficamos fartos, não aguentamos mais.
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12:51 - 12:54Ficamos com lágrimas nos olhos,
só temos vontade de regressar -
12:54 - 12:56mas, quando estamos em casa,
-
12:56 - 12:57temos vontade de voltar a partir.
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12:58 - 13:04Depois, também há o prazer deste trabalho,
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13:04 - 13:07o prazer e o sentimento
de ter um trabalho interessante -
13:07 - 13:10e de contar histórias
que é preciso contar. -
13:11 - 13:14Mas também há aquela adrenalina,
não podemos iludir-nos. -
13:16 - 13:20O problema é que isso não acontece
só com os jornalistas de guerra -
13:20 - 13:22acontece com todo o tipo de jornalistas.
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13:22 - 13:25Infelizmente, somos confrontados
regularmente -
13:25 - 13:27com cenas a que não deveríamos assistir
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13:27 - 13:30e a coisas que não acontecem
no dia-a-dia de toda a gente. -
13:30 - 13:33Não é normal encontrarmo-nos
num campo de refugiados -
13:33 - 13:35com crianças de dois anos
que morrem em grande número. -
13:35 - 13:39Não é normal falar o dia inteiro
com mulheres violadas. -
13:39 - 13:41Não é normal falar com mulheres
-
13:41 - 13:43que foram queimadas pelo marido.
-
13:43 - 13:48É todo um conjunto de cenas
e de histórias que nos assombram -
13:48 - 13:50quando regressamos.
-
13:50 - 13:53Tenho uma amiga
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13:53 - 13:56que é jornalista de cultura,
-
13:56 - 13:59que frequenta um pouco a sociedade,
que às vezes vai a África. -
13:59 - 14:03O ano passado, por acaso,
encontrou-se na Líbia. -
14:03 - 14:04E, por acaso, em Trípoli,
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14:04 - 14:06encontrou-se no meio duma vala comum.
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14:08 - 14:10Há nisso uma coisa
ainda mais indescritível: -
14:10 - 14:12é o odor da morte.
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14:12 - 14:16É a visão de corpos em decomposição
de mulheres, homens e crianças -
14:16 - 14:18já há dias, semanas,
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14:18 - 14:23É o sentimento de recuo que temos.
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14:23 - 14:26Ela fez o seu trabalho,
fez as suas reportagens, -
14:26 - 14:27regressou, pensou que estava tudo bem,
-
14:27 - 14:29que tinha gerido.
-
14:29 - 14:31Mas não tinha gerido.
-
14:32 - 14:33Meses depois,
-
14:33 - 14:35acordou sobressaltada a meio da noite
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14:35 - 14:39incapaz de perceber
o que é que a tinha assustado. -
14:39 - 14:42Foi preciso escavar, foi preciso falar,
-
14:42 - 14:46foi preciso tentar perceber
de onde vinham os seus demónios. -
14:46 - 14:48Os seus demónios vinham da Líbia.
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14:48 - 14:51Hoje já está melhor,
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14:51 - 14:55mas havia aquele diabinho que ia crescendo
-
14:55 - 14:56na boca do estômago.
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14:56 - 14:59O problema é que
não conhecemos as palavras -
14:59 - 15:00para descrever tudo o que vivemos.
-
15:00 - 15:03É preciso passar
por esses episódios atrozes -
15:03 - 15:06de pesadelos, de isolamento, de depressão,
-
15:06 - 15:09para perceber o que temos
e para o ultrapassarmos. -
15:10 - 15:14O problema é que, hoje em dia,
os exércitos francês, americano, inglês, -
15:14 - 15:18têm o trabalho de envolver,
enquadrar e formar -
15:18 - 15:21as suas tropas para este tipo de coisas.
-
15:21 - 15:24E o pessoal humanitário que encontramos
igualmente no terreno -
15:24 - 15:26faz o ponto da situação, no regresso,
-
15:26 - 15:28para serem informados antes,
-
15:28 - 15:33para avaliar a possibilidade de PTSD.
-
15:33 - 15:36Mas nós, não fazemos nada,
-
15:36 - 15:38nós gerimos.
-
15:39 - 15:44Atualmente, como não quero
que haja mais Lionéis, -
15:44 - 15:47e como há muitos outros
camaradas que estão reféns... -
15:47 - 15:50- cujo colega foi morto,
que foram violados, -
15:50 - 15:52de que ainda não vos falei,
-
15:52 - 15:54fica para outra vez -
-
15:54 - 15:55como não quero mais Leonéis,
-
15:55 - 15:57não quero que haja tudo isso,
-
15:57 - 15:59estou a tentar montar uma estrutura.
-
15:59 - 16:02Ainda não sei muito bem
que forma virá a ter, -
16:02 - 16:04para que, quando regressarmos
duma reportagem, -
16:04 - 16:07seja na redação seja independentemente,
-
16:07 - 16:11assim como pomos de lado
o colete antibala e o capacete, -
16:11 - 16:13a nossa mala satélite,
-
16:13 - 16:15— coisas em que não devemos
mexer muitas vezes — -
16:15 - 16:18a nossa mala satélite
e o nosso computador, -
16:18 - 16:19pomos de lado tudo o que temos,
-
16:19 - 16:21o que vimos e não devíamos ter visto,
-
16:21 - 16:23o que sentimos e não devíamos ter sentido,
-
16:23 - 16:26todas essas emoções em demasia,
-
16:26 - 16:29pomo-las no gabinete do psicanalista,
-
16:29 - 16:32damos-lhas, para sair delas e avançar.
-
16:33 - 16:36Mas ainda há muitas outras coisas a fazer,
-
16:36 - 16:38há ainda muitas coisas a trabalhar,
-
16:38 - 16:43Espero voltar ao TEDx na próxima vez
para vos apresentar a minha estrutura. -
16:44 - 16:45Obrigada.
-
16:45 - 16:48(Aplausos)
- Title:
- Estas feridas que não se veem | Edith Bouvier ! TEDxToulouse
- Description:
-
Edith Bouvier fala-nos das feridas invisíveis de que são vítimas os repórteres e da sua vontade em montar uma estrutura que pretende tomar conta psicologicamente dos jornalistas quando eles regressam das reportagens.
Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx
- Video Language:
- French
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 16:52
Margarida Ferreira approved Portuguese subtitles for Ces blessures que l'on ne voit pas | Edith Bouvier | TEDxToulouse | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Ces blessures que l'on ne voit pas | Edith Bouvier | TEDxToulouse | ||
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Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Ces blessures que l'on ne voit pas | Edith Bouvier | TEDxToulouse |