Arte cognitiva | Vik Muniz | TEDxHabana
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0:16 - 0:20Nasci no Brasil, em São Paulo,
em uma família muito pobre. -
0:20 - 0:25Toda a minha formação ocorreu
durante o governo militar. -
0:25 - 0:29Nunca pensei que poderia
estar aqui como artista plástico, -
0:29 - 0:31uma pessoa que fala de imagens.
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0:31 - 0:35Mas a minha realidade tinha
particularidades muito interessantes, -
0:35 - 0:39porque eu era pobre,
mas estava cercado de informação. -
0:39 - 0:41Tinha aspirações muito fortes.
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0:41 - 0:45E dentre essas aspirações,
entre o que eu imaginava e o que eu tinha, -
0:45 - 0:49existia um universo incrivelmente grande.
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0:49 - 0:56A realidade era o espaço que havia
entre o que eu tinha e o que eu queria. -
0:56 - 1:01Pensando bem: o que acontece agora,
nesta realidade que compartilhamos? -
1:01 - 1:06Ela é composta por dois tipos
de experiências muito distintas. -
1:06 - 1:10Uma é de origem perceptual
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1:10 - 1:14e tem a ver com os limites dos sentidos.
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1:14 - 1:19É a forma como reagimos
ao ambiente imediato. -
1:19 - 1:24Isso é muito pessoal, muito subjetivo,
porque não há uma pessoa que veja o mundo, -
1:24 - 1:26neste momento, como você.
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1:26 - 1:28Essa experiência começou hoje,
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1:28 - 1:33no exato momento em que você
abriu os olhos e começou a pensar. -
1:33 - 1:39Há outro tipo de experiência,
que existe fora do seu corpo, -
1:39 - 1:42fora deste teatro, fora desta ilha.
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1:42 - 1:49E tem a ver com a consciência
de uma unidade imaginária, -
1:49 - 1:53a consciência de mundo
como uma imagem enorme, massiva, -
1:53 - 1:55que muda o tempo todo.
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1:55 - 1:59Uma imagem de complexidade holográfica.
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1:59 - 2:05São duas experiências do mundo.
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2:05 - 2:10Essa unidade imaginária,
ao contrário da experiência pessoal, -
2:10 - 2:13não começou quando você
abriu os olhos hoje. -
2:13 - 2:20Ela começou há uns 50 mil anos,
quando um primo paleolítico nosso -
2:20 - 2:22começou a desenhar em cavernas
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2:22 - 2:28e transformar sons
em palavras que tinham sentido. -
2:28 - 2:34O artista está sempre trabalhando
com estes dois mundos: -
2:34 - 2:37o que está dentro e o que está fora.
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2:37 - 2:41Para mim, a ideia
de fazer arte, a própria arte, -
2:41 - 2:47é a evolução dessa interface
entre a mente e a matéria. -
2:47 - 2:50Posso dar um exemplo bem claro.
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2:50 - 2:53Quando as pessoas vão a um museu
ou a uma galeria de arte, -
2:53 - 2:58e eu observo muito as pessoas
que vêm ver minhas obras nos museus, -
2:58 - 3:02as pessoas invertem a ordem das coisas.
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3:02 - 3:06Você tem o controle e vai
na direção da imagem. -
3:06 - 3:09Tem o poder, tem a consciência.
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3:09 - 3:12Mas, mesmo com toda essa liberdade,
esse poder e consciência, -
3:12 - 3:16você para exatamente
como se houvesse uma linha no chão. -
3:16 - 3:20Todos param exatamente em frente à pintura
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3:20 - 3:22e se inclinam assim.
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3:22 - 3:23(Risos)
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3:25 - 3:31Isso é compreensível, primeiro
porque você para na posição exata -
3:31 - 3:36na qual o quadro cabe
dentro de seu campo visual. -
3:36 - 3:42Você pode pensar que está dentro
da paisagem pintada pelo artista. -
3:42 - 3:44É uma ideia, é algo da nossa mente.
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3:44 - 3:49E você volta ao lugar
da galeria onde estava. -
3:49 - 3:56E, nessa situação, você
se aproxima, e se afasta. -
3:57 - 4:04Com esse movimento, você compreende
que isso é uma imagem, é uma pintura, -
4:04 - 4:07é o produto da mente de uma pessoa.
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4:07 - 4:11Se a pintura for de uma paisagem real,
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4:11 - 4:15estaria olhando e desenhando,
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4:15 - 4:18e há um espaço entre
a paisagem real e a pintura. -
4:18 - 4:23Mas, quando nos afastamos,
vemos uma ideia. -
4:23 - 4:29Ao nos aproximarmos, vemos
o material, o que vem do chão, -
4:29 - 4:34coisas mundanas: pigmentos, óleos, fibras.
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4:34 - 4:37Quando nos afastamos,
voltamos a ver a imagem. -
4:37 - 4:41Há um momento mágico
em que uma coisa se transforma em outra, -
4:41 - 4:45em que a ideia se transforma em material.
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4:45 - 4:48O que é mente se transforma em matéria.
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4:48 - 4:52E, o mais interessante
em toda prática artística, -
4:52 - 4:54não é nem um lado nem o outro.
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4:54 - 4:58É exatamente o momento
em que uma coisa se transforma em outra. -
4:58 - 5:02É o momento transformador do encontro,
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5:02 - 5:08em que sabemos exatamente
que tocamos, com o mundo interior mental, -
5:08 - 5:12o mundo das coisas materiais
e das percepções, -
5:12 - 5:14que não tem nada a ver com o que pensamos,
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5:14 - 5:17esse mundo que não tem significados.
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5:18 - 5:22Dediquei mais de 30 anos
a pensar sobre o que poderia fazer -
5:22 - 5:28com essa coisa mágica
que é a representação. -
5:28 - 5:30Mas não podia fazer uma representação
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5:30 - 5:34que competisse com Spielberg,
com George Lucas. -
5:34 - 5:39Eles se enquadram no projeto
da representação mais real. -
5:39 - 5:41Eles trabalham com a verossimilhança.
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5:41 - 5:44Queria que minhas
representações fossem pobres. -
5:44 - 5:46Queria que fossem simples.
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5:46 - 5:49Queria que fossem a pior
representação possível. -
5:49 - 5:55Essa é uma medida da importância
da ilusão em nossa ideia de realidade. -
5:55 - 5:58As imagens que faço
sempre têm uma tensão -
5:58 - 6:01entre a percepção do material e da imagem;
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6:02 - 6:04entre o mental e o material.
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6:04 - 6:10Há uma ideia de tensão
que sempre tenta se resolver -
6:10 - 6:14e, ao mesmo tempo, se pergunta o que é.
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6:14 - 6:18Este é um garoto que fiz com açúcar.
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6:18 - 6:23Se eu o tivesse feito com sal ou cocaína,
este garoto se transformaria. -
6:23 - 6:25O significado muda.
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6:25 - 6:28Convivi com esses garotos
durante três semanas, -
6:28 - 6:31aqui perto, na ilha de São Cristóvão.
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6:31 - 6:34Soube pouco sobre eles
porque eu não sabia nadar. -
6:34 - 6:36Eu vivia em uma praia,
mas não sabia nadar. -
6:36 - 6:38E estava sempre com eles.
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6:38 - 6:44No último dia das férias, me convidaram
para tomar café da manhã com a família. -
6:44 - 6:46Esses parentes, ao contrário deles,
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6:46 - 6:50eram pessoas amargas, tristes, sombrias.
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6:50 - 6:56Ao voltar a Nova York comecei
a pensar o que teria sido tirado deles -
6:56 - 6:59para terem se tornado adultos tão tristes.
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6:59 - 7:01Era o açúcar.
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7:01 - 7:04Como os pais e as mães deles trabalhavam
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7:04 - 7:08por muitas horas colhendo cana-de-açúcar,
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7:08 - 7:12tinham tirado a doçura,
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7:12 - 7:16de forma concreta,
da existência dessas crianças. -
7:16 - 7:20Devo toda minha carreira
como artista a esses garotos. -
7:20 - 7:22E para mim é muito importante
que estas obras -
7:22 - 7:25estejam em museus como Tate, MoMA
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7:25 - 7:30e na Biblioteca de São Cristóvão,
onde esses garotos moravam. -
7:30 - 7:33Ao fazer coisas com açúcar,
também comecei a pensar -
7:33 - 7:38na diversidade de sensações
que se pode conseguir com a imagem. -
7:38 - 7:43A imagem pode inspirar o paladar.
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7:43 - 7:47A ideia de criar imagens que tivessem
relação com outros sentidos, -
7:47 - 7:49me pareceu interessante.
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7:49 - 7:52E comecei a fazer coisas com chocolate.
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7:52 - 7:58O chocolate é tanto uma invenção
industrial como cultural. -
7:58 - 8:00Dizem que é romântico, mas é marrom.
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8:00 - 8:03Não conheço nada
romântico que seja marrom. -
8:04 - 8:07Freud poderia dizer que isso
é o interessante sobre o chocolate. -
8:07 - 8:09Por isso, esse foi meu primeiro tema.
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8:09 - 8:15A ideia de estar em uma imagem
me parece justa. -
8:15 - 8:18E comecei a fazer desenhos com coisas.
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8:18 - 8:21E, quando estava desenhando,
tinha uma perspectiva -
8:21 - 8:26completamente distinta do desenho
que se formava na fotografia. -
8:26 - 8:28Estas são fotografias muito grandes.
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8:28 - 8:31Maiores que a imagem
que vocês estão vendo. -
8:31 - 8:32Foram feitas com brinquedos.
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8:32 - 8:35Os brinquedos são uma forma
de nos relacionarmos com o mundo -
8:35 - 8:39A ideia de que o mundo se transformou
em uma grande imagem -
8:39 - 8:43que não podemos ver é,
por si só, interessante também. -
8:43 - 8:49Há uns seis anos, comecei a negociar
com um grupo de pessoas no Brasil -
8:49 - 8:54para que me permitissem fazer
desenhos gigantes em minas de ferro. -
8:55 - 9:00Alguns desses desenhos
são maiores do que os de Nazca. -
9:00 - 9:06Medem quilômetros
e representam imagens tolas. -
9:06 - 9:12Queria que a ideia fosse o processo,
e não o que estava ali representado. -
9:15 - 9:19Estas são imagens enormes,
obtidas com um helicóptero. -
9:19 - 9:25Sempre mostro estas imagens
junto a imagens falsas. -
9:25 - 9:30Assim como as falsas fazem
as verdadeiras parecerem tolas, -
9:30 - 9:34as verdadeiras fazem
as falsas parecerem verdadeiras. -
9:34 - 9:36É você que decide.
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9:36 - 9:38Sempre trabalho com coisas
que as pessoas conhecem. -
9:38 - 9:43Com ícones, com arquétipos.
Com o que se espera das coisas. -
9:43 - 9:48Uma nuvem é algo que se espera
ver no céu, sempre, -
9:48 - 9:51mas nunca na forma de um desenho.
-
9:51 - 9:57Com um avião, comecei a fazer desenhos
de nuvens no céu de Nova York. -
9:57 - 10:00Isso foi pouco antes
do acidente com as Torres. -
10:00 - 10:03Agora, se aparecer um aviãozinho
fazendo desenho no céu, -
10:03 - 10:06é abatido imediatamente pela Força Aérea.
-
10:06 - 10:07(Risos)
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10:07 - 10:09Foi feito na hora certa.
-
10:09 - 10:12Ainda que o desenho fosse de uma nuvem,
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10:12 - 10:15as pessoas diziam
que significava outra coisa. -
10:15 - 10:19O anterior, diziam que parecia
uma luva de beisebol. -
10:19 - 10:22Este aqui, em Miami,
em South Beach, é bastante "fálico", -
10:22 - 10:27concordo, mas não significava isso.
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10:27 - 10:31Quando as coisas têm uma dimensão
que não é ergonômica, -
10:31 - 10:36elas passam a integrar um imaginário
que ocorre apenas na mente. -
10:36 - 10:38Este é um de meus instrumentos.
-
10:38 - 10:41Chama-se FIB: Focused Ion Beam.
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10:41 - 10:46Com este instrumento posso desenhar
-
10:46 - 10:50em grãos de pó, grãos de areia,
coisas invisíveis. -
10:50 - 10:56São desenhos de castelos que fiz
com um instrumento do século 19 -
10:56 - 10:59que se chama "câmera lúcida".
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10:59 - 11:04Assim como fiz esses desenhos,
também fiz padronagens, -
11:05 - 11:09que se parecem muito
com o papel de parede da vovó. -
11:10 - 11:13Mas, se olharem mais perto,
-
11:13 - 11:18são desenhos feitos com células hepáticas.
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11:18 - 11:23Também faço isso
com células-tronco e com neurônios. -
11:23 - 11:27Achei que, se sabia fazer isso
com um tipo de célula, -
11:27 - 11:30com os outros seria igual, mas cada célula
tem um comportamento distinto. -
11:31 - 11:35As células cervicais,
por exemplo, têm cílios -
11:35 - 11:38e são muito difíceis de fotografar.
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11:38 - 11:44Assim como transmitimos informação
genética de geração em geração, -
11:46 - 11:50nos últimos 200 anos, transmitimos
informações pictóricas -
11:50 - 11:55que nos davam uma ideia
de quem eram nossos antepassados. -
11:55 - 12:02Com a ideia do álbum de fotos poderíamos
pensar como era nossa tataravó. -
12:02 - 12:06Como eu era muito pobre,
não tinha uma câmera fotográfica. -
12:07 - 12:11Uma tia, que vivia em Miami
e que vinha a São Paulo, -
12:11 - 12:14tirava uma foto e, um ano depois,
trazia essa foto. -
12:14 - 12:18Tenho oito fotos de quando eu era criança.
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12:18 - 12:22Quando me mudei para os Estados Unidos,
havia muita gente que vendia fotos. -
12:22 - 12:25Eu não sabia por quê.
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12:25 - 12:28E passei a comprá-las,
até quando não tinha dinheiro. -
12:28 - 12:33Depois de 25 anos, tenho 250 mil fotos
de gente que não conheço, que não conheci, -
12:33 - 12:35que não tenho a menor ideia de quem são.
-
12:35 - 12:39Estas fotos são órfãs e existem no mundo,
-
12:39 - 12:42e tenho a responsabilidade de resgatá-las.
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12:42 - 12:44Tenho um orfanato de fotos.
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12:44 - 12:49Mas essas fotos não ficam à mostra,
a não ser que estejam em um mural. -
12:54 - 12:59Aqui em Cuba vi uma menina
de 15 anos fazendo fotos -
12:59 - 13:02que vai guardar para toda a vida,
que vai dar para sua filha. -
13:02 - 13:04Todos os álbuns contêm
exatamente a mesma história. -
13:04 - 13:07A história de nossa vida.
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13:07 - 13:08Começam com o retrato do bebê.
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13:08 - 13:12Este sou eu com dois anos.
É uma das oito fotos. -
13:12 - 13:15Depois vem o retrato de escola.
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13:15 - 13:18O retrato do primeiro aniversário.
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13:18 - 13:25A foto do dia de Natal,
com a bicicleta de presente. -
13:25 - 13:28Estas fotos são feitas de pequenas fotos.
-
13:28 - 13:31Não há nada nesta foto que seja original.
-
13:31 - 13:33Todas são feitas de outras fotos.
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13:33 - 13:39É uma maneira de pensar essa coisa
fragmentada, que é a nossa vida pessoal, -
13:39 - 13:43em comparação com uma ideia mais pública,
-
13:43 - 13:46mais universal, do que é uma vida.
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13:46 - 13:49Da mesma forma,
pensei muito em Paris hoje, -
13:49 - 13:52porque vivi em Paris durante muito tempo.
-
13:52 - 13:55E as pessoas que vão a Paris
sempre pensam nela assim, -
13:55 - 13:59sempre com a torre Eiffel.
-
13:59 - 14:01Mas a experiência de lugares
é muito diferente. -
14:01 - 14:03Estou há dois dias em Cuba.
-
14:03 - 14:05É muito fragmentada.
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14:05 - 14:08O cartão-postal dá um aspecto genérico
-
14:08 - 14:11da impressão, da experiência de um lugar.
-
14:11 - 14:13Eu também coleciono cartões-postais.
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14:13 - 14:16Por isso pensei em fazer, com os postais,
-
14:16 - 14:22algo similar à memória,
à percepção de um lugar. -
14:22 - 14:25E fazer isso com fragmentos
de outros postais. -
14:25 - 14:29Se imaginarem o Rio ou Miami,
-
14:29 - 14:34represento o lugar
com fragmentos de impressões, -
14:34 - 14:39mas nunca será preciso, e cada pessoa tem
uma impressão diferente de cada lugar. -
14:39 - 14:42Esta é minha cidade:
São Paulo. Muito feia. -
14:42 - 14:44Como fazer uma imagem maior?
-
14:44 - 14:47O mais importante é a experiência.
-
14:47 - 14:51Para mim, faltava
a experiência de interação. -
14:51 - 14:55Sempre fui feliz e agradecido
por poder fazer um trabalho -
14:55 - 14:58que me dá tanto contato
com o mundo em que vivo. -
14:58 - 15:01Viajo muito, faço muitas coisas
-
15:01 - 15:05e queria compartilhar
os processos de trabalho. -
15:05 - 15:07Eu não tenho interesse em fazer obras,
-
15:07 - 15:13mas, sim, desenvolver processos
de trabalho com pessoas. -
15:13 - 15:16Porém não queria adicionar nada à equação.
-
15:16 - 15:22Convidei pessoas que não tinham nenhuma
relação com a arte contemporânea, -
15:22 - 15:26nem de qualquer outro tipo,
para me ajudarem, durante um ano, -
15:26 - 15:28a fazer seus próprios retratos.
-
15:28 - 15:32Lembrem-se que essas pessoas não
tinham nenhuma consciência de sua imagem, -
15:32 - 15:37exceto pelas imagens de telefones
celulares que encontravam no lixão. -
15:37 - 15:40Eram trabalhadores do lixão.
-
15:40 - 15:44Fizemos seu retrato do mesmo lixo
com que eles trabalhavam o dia todo. -
15:44 - 15:49E foi um acontecimento transformador
tanto para eles como para mim. -
15:49 - 15:52Sempre que fiz trabalhos de cunho social,
-
15:52 - 15:56e faço isso sempre que posso,
há mais de 15 anos, -
15:56 - 16:01também há este aspecto
do que é virtual e do que é material, -
16:01 - 16:04porque quando você trabalha
com pessoas pobres, -
16:04 - 16:09que passam necessidade,
tem que fazer algo material. -
16:09 - 16:13tem que trazer algo capital
para a vida deles. -
16:13 - 16:16É algo de alquimia, algo mágico
da arte contemporânea -
16:16 - 16:20poder transformar, através
dela, ideias em capital. -
16:21 - 16:27O resultado desse trabalho produziu
um documentário nomeado ao Oscar. -
16:27 - 16:33E com a venda dessas obras,
pudemos fazer muitas mudanças -
16:33 - 16:37nesse lixão que estava para ser fechado.
-
16:37 - 16:41Este documentário se chama
"Lixo extraordinário", ou "Waste Land". -
16:41 - 16:43E também foi traduzido para o espanhol.
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16:44 - 16:46Esse foi meu estúdio durante três anos.
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16:46 - 16:49Estes trabalhos de interação
com as pessoas -
16:49 - 16:53são projetos que fiz para Rio+20.
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16:53 - 16:56Pedimos às pessoas
que assistiam à conferência, -
16:56 - 17:00que não pusessem
as garrafas de água no lixo. -
17:00 - 17:05Este é um trabalho contra a discriminação
-
17:05 - 17:09de pessoas com AIDS, com HIV positivo.
-
17:11 - 17:15Nos anos 80, muitos amigos
morreram de AIDS. -
17:15 - 17:18Como não havia informação,
esses amigos morreram -
17:18 - 17:21sem que eu pudesse dar-lhes um beijo.
-
17:21 - 17:25Por isso, 15 anos mais tarde, fiz,
-
17:25 - 17:30apenas com pessoas com HIV positivo,
uma figura de um beijo. -
17:30 - 17:33Este trabalho é da Bienal de Veneza,
-
17:33 - 17:38para um protesto contra o fim
do projeto "Mare Nostrum", -
17:38 - 17:40que salvou mais de 140 vidas.
-
17:40 - 17:43Era um projeto de resgate no Mediterrâneo.
-
17:43 - 17:48Depois disso o substituíram
por um projeto de controle de fronteira. -
17:48 - 17:50Fiz isso para dizer às pessoas
-
17:50 - 17:54que coisas ruins que poderiam
acontecer com essa mudança. -
17:54 - 17:57E uma semana antes de exibir esta obra
-
17:57 - 18:01morreram 1,3 mil pessoas em 10 dias.
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18:01 - 18:05Agora estou tentando arrecadar dinheiro
-
18:05 - 18:11para construir escolas
no norte da África e na Itália. -
18:11 - 18:13A ideia é que toda esta relação
-
18:13 - 18:19entre percepção, cultura e informação
-
18:19 - 18:23ocorre, em vários sentidos,
em grande parte -
18:23 - 18:26pelas ansiedades que temos como humanos.
-
18:26 - 18:31Especialmente em um período
com tanta informação disponível. -
18:31 - 18:36Considerando o que aconteceu ontem,
na França, estou feliz de estar em Cuba, -
18:36 - 18:39porque parece que estou um pouco imune
-
18:39 - 18:43à magnitude dos acontecimentos.
-
18:43 - 18:48Penso que a educação,
que, na verdade, é o motor da cultura, -
18:48 - 18:53é a única possibilidade para que possamos
ter uma relação mais saudável -
18:53 - 18:56entre o mundo da informação
e o mundo da percepção. -
18:56 - 19:00E, pensando nisso, criei um projeto
chamado "Escola Vidigal" -
19:00 - 19:02em uma favela do Rio.
-
19:02 - 19:07É um laboratório pedagógico
destinado a escutar as crianças -
19:07 - 19:10e desenvolver programas
com base no que elas querem, -
19:10 - 19:16e não apenas na postura de ensinar,
uma postura de liderança. -
19:16 - 19:20Termino aqui com uma imagem
muito bonita, a imagem de uma escola. -
19:20 - 19:22É o meu projeto principal agora.
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19:22 - 19:24Muito, muito obrigado.
-
19:24 - 19:26(Aplausos)
- Title:
- Arte cognitiva | Vik Muniz | TEDxHabana
- Description:
-
Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx
Artista visual baseado em Nova York, ganhou reconhecimento internacional por utilizar lixo e materiais reciclados em suas obras. A partir de suas noções e experiências como artista visual, Vik Muniz oferece um conceito rico e multidimensional da percepção, das relações entre o conceito de materialidade e o marco de referência para a produção e o consumo artístico. - Video Language:
- Spanish
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 19:52
Claudia Sander approved Portuguese, Brazilian subtitles for Arte cognitivo | Vik Muñiz | TEDxHabana | ||
Claudia Sander edited Portuguese, Brazilian subtitles for Arte cognitivo | Vik Muñiz | TEDxHabana | ||
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Hugo Reis edited Portuguese, Brazilian subtitles for Arte cognitivo | Vik Muñiz | TEDxHabana |