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Arte cognitiva | Vik Muniz | TEDxHabana

  • 0:16 - 0:20
    Nasci no Brasil, em São Paulo,
    em uma família muito pobre.
  • 0:20 - 0:25
    Toda a minha formação ocorreu
    durante o governo militar.
  • 0:25 - 0:29
    Nunca pensei que poderia
    estar aqui como artista plástico,
  • 0:29 - 0:31
    uma pessoa que fala de imagens.
  • 0:31 - 0:35
    Mas a minha realidade tinha
    particularidades muito interessantes,
  • 0:35 - 0:39
    porque eu era pobre,
    mas estava cercado de informação.
  • 0:39 - 0:41
    Tinha aspirações muito fortes.
  • 0:41 - 0:45
    E dentre essas aspirações,
    entre o que eu imaginava e o que eu tinha,
  • 0:45 - 0:49
    existia um universo incrivelmente grande.
  • 0:49 - 0:56
    A realidade era o espaço que havia
    entre o que eu tinha e o que eu queria.
  • 0:56 - 1:01
    Pensando bem: o que acontece agora,
    nesta realidade que compartilhamos?
  • 1:01 - 1:06
    Ela é composta por dois tipos
    de experiências muito distintas.
  • 1:06 - 1:10
    Uma é de origem perceptual
  • 1:10 - 1:14
    e tem a ver com os limites dos sentidos.
  • 1:14 - 1:19
    É a forma como reagimos
    ao ambiente imediato.
  • 1:19 - 1:24
    Isso é muito pessoal, muito subjetivo,
    porque não há uma pessoa que veja o mundo,
  • 1:24 - 1:26
    neste momento, como você.
  • 1:26 - 1:28
    Essa experiência começou hoje,
  • 1:28 - 1:33
    no exato momento em que você
    abriu os olhos e começou a pensar.
  • 1:33 - 1:39
    Há outro tipo de experiência,
    que existe fora do seu corpo,
  • 1:39 - 1:42
    fora deste teatro, fora desta ilha.
  • 1:42 - 1:49
    E tem a ver com a consciência
    de uma unidade imaginária,
  • 1:49 - 1:53
    a consciência de mundo
    como uma imagem enorme, massiva,
  • 1:53 - 1:55
    que muda o tempo todo.
  • 1:55 - 1:59
    Uma imagem de complexidade holográfica.
  • 1:59 - 2:05
    São duas experiências do mundo.
  • 2:05 - 2:10
    Essa unidade imaginária,
    ao contrário da experiência pessoal,
  • 2:10 - 2:13
    não começou quando você
    abriu os olhos hoje.
  • 2:13 - 2:20
    Ela começou há uns 50 mil anos,
    quando um primo paleolítico nosso
  • 2:20 - 2:22
    começou a desenhar em cavernas
  • 2:22 - 2:28
    e transformar sons
    em palavras que tinham sentido.
  • 2:28 - 2:34
    O artista está sempre trabalhando
    com estes dois mundos:
  • 2:34 - 2:37
    o que está dentro e o que está fora.
  • 2:37 - 2:41
    Para mim, a ideia
    de fazer arte, a própria arte,
  • 2:41 - 2:47
    é a evolução dessa interface
    entre a mente e a matéria.
  • 2:47 - 2:50
    Posso dar um exemplo bem claro.
  • 2:50 - 2:53
    Quando as pessoas vão a um museu
    ou a uma galeria de arte,
  • 2:53 - 2:58
    e eu observo muito as pessoas
    que vêm ver minhas obras nos museus,
  • 2:58 - 3:02
    as pessoas invertem a ordem das coisas.
  • 3:02 - 3:06
    Você tem o controle e vai
    na direção da imagem.
  • 3:06 - 3:09
    Tem o poder, tem a consciência.
  • 3:09 - 3:12
    Mas, mesmo com toda essa liberdade,
    esse poder e consciência,
  • 3:12 - 3:16
    você para exatamente
    como se houvesse uma linha no chão.
  • 3:16 - 3:20
    Todos param exatamente em frente à pintura
  • 3:20 - 3:22
    e se inclinam assim.
  • 3:22 - 3:23
    (Risos)
  • 3:25 - 3:31
    Isso é compreensível, primeiro
    porque você para na posição exata
  • 3:31 - 3:36
    na qual o quadro cabe
    dentro de seu campo visual.
  • 3:36 - 3:42
    Você pode pensar que está dentro
    da paisagem pintada pelo artista.
  • 3:42 - 3:44
    É uma ideia, é algo da nossa mente.
  • 3:44 - 3:49
    E você volta ao lugar
    da galeria onde estava.
  • 3:49 - 3:56
    E, nessa situação, você
    se aproxima, e se afasta.
  • 3:57 - 4:04
    Com esse movimento, você compreende
    que isso é uma imagem, é uma pintura,
  • 4:04 - 4:07
    é o produto da mente de uma pessoa.
  • 4:07 - 4:11
    Se a pintura for de uma paisagem real,
  • 4:11 - 4:15
    estaria olhando e desenhando,
  • 4:15 - 4:18
    e há um espaço entre
    a paisagem real e a pintura.
  • 4:18 - 4:23
    Mas, quando nos afastamos,
    vemos uma ideia.
  • 4:23 - 4:29
    Ao nos aproximarmos, vemos
    o material, o que vem do chão,
  • 4:29 - 4:34
    coisas mundanas: pigmentos, óleos, fibras.
  • 4:34 - 4:37
    Quando nos afastamos,
    voltamos a ver a imagem.
  • 4:37 - 4:41
    Há um momento mágico
    em que uma coisa se transforma em outra,
  • 4:41 - 4:45
    em que a ideia se transforma em material.
  • 4:45 - 4:48
    O que é mente se transforma em matéria.
  • 4:48 - 4:52
    E, o mais interessante
    em toda prática artística,
  • 4:52 - 4:54
    não é nem um lado nem o outro.
  • 4:54 - 4:58
    É exatamente o momento
    em que uma coisa se transforma em outra.
  • 4:58 - 5:02
    É o momento transformador do encontro,
  • 5:02 - 5:08
    em que sabemos exatamente
    que tocamos, com o mundo interior mental,
  • 5:08 - 5:12
    o mundo das coisas materiais
    e das percepções,
  • 5:12 - 5:14
    que não tem nada a ver com o que pensamos,
  • 5:14 - 5:17
    esse mundo que não tem significados.
  • 5:18 - 5:22
    Dediquei mais de 30 anos
    a pensar sobre o que poderia fazer
  • 5:22 - 5:28
    com essa coisa mágica
    que é a representação.
  • 5:28 - 5:30
    Mas não podia fazer uma representação
  • 5:30 - 5:34
    que competisse com Spielberg,
    com George Lucas.
  • 5:34 - 5:39
    Eles se enquadram no projeto
    da representação mais real.
  • 5:39 - 5:41
    Eles trabalham com a verossimilhança.
  • 5:41 - 5:44
    Queria que minhas
    representações fossem pobres.
  • 5:44 - 5:46
    Queria que fossem simples.
  • 5:46 - 5:49
    Queria que fossem a pior
    representação possível.
  • 5:49 - 5:55
    Essa é uma medida da importância
    da ilusão em nossa ideia de realidade.
  • 5:55 - 5:58
    As imagens que faço
    sempre têm uma tensão
  • 5:58 - 6:01
    entre a percepção do material e da imagem;
  • 6:02 - 6:04
    entre o mental e o material.
  • 6:04 - 6:10
    Há uma ideia de tensão
    que sempre tenta se resolver
  • 6:10 - 6:14
    e, ao mesmo tempo, se pergunta o que é.
  • 6:14 - 6:18
    Este é um garoto que fiz com açúcar.
  • 6:18 - 6:23
    Se eu o tivesse feito com sal ou cocaína,
    este garoto se transformaria.
  • 6:23 - 6:25
    O significado muda.
  • 6:25 - 6:28
    Convivi com esses garotos
    durante três semanas,
  • 6:28 - 6:31
    aqui perto, na ilha de São Cristóvão.
  • 6:31 - 6:34
    Soube pouco sobre eles
    porque eu não sabia nadar.
  • 6:34 - 6:36
    Eu vivia em uma praia,
    mas não sabia nadar.
  • 6:36 - 6:38
    E estava sempre com eles.
  • 6:38 - 6:44
    No último dia das férias, me convidaram
    para tomar café da manhã com a família.
  • 6:44 - 6:46
    Esses parentes, ao contrário deles,
  • 6:46 - 6:50
    eram pessoas amargas, tristes, sombrias.
  • 6:50 - 6:56
    Ao voltar a Nova York comecei
    a pensar o que teria sido tirado deles
  • 6:56 - 6:59
    para terem se tornado adultos tão tristes.
  • 6:59 - 7:01
    Era o açúcar.
  • 7:01 - 7:04
    Como os pais e as mães deles trabalhavam
  • 7:04 - 7:08
    por muitas horas colhendo cana-de-açúcar,
  • 7:08 - 7:12
    tinham tirado a doçura,
  • 7:12 - 7:16
    de forma concreta,
    da existência dessas crianças.
  • 7:16 - 7:20
    Devo toda minha carreira
    como artista a esses garotos.
  • 7:20 - 7:22
    E para mim é muito importante
    que estas obras
  • 7:22 - 7:25
    estejam em museus como Tate, MoMA
  • 7:25 - 7:30
    e na Biblioteca de São Cristóvão,
    onde esses garotos moravam.
  • 7:30 - 7:33
    Ao fazer coisas com açúcar,
    também comecei a pensar
  • 7:33 - 7:38
    na diversidade de sensações
    que se pode conseguir com a imagem.
  • 7:38 - 7:43
    A imagem pode inspirar o paladar.
  • 7:43 - 7:47
    A ideia de criar imagens que tivessem
    relação com outros sentidos,
  • 7:47 - 7:49
    me pareceu interessante.
  • 7:49 - 7:52
    E comecei a fazer coisas com chocolate.
  • 7:52 - 7:58
    O chocolate é tanto uma invenção
    industrial como cultural.
  • 7:58 - 8:00
    Dizem que é romântico, mas é marrom.
  • 8:00 - 8:03
    Não conheço nada
    romântico que seja marrom.
  • 8:04 - 8:07
    Freud poderia dizer que isso
    é o interessante sobre o chocolate.
  • 8:07 - 8:09
    Por isso, esse foi meu primeiro tema.
  • 8:09 - 8:15
    A ideia de estar em uma imagem
    me parece justa.
  • 8:15 - 8:18
    E comecei a fazer desenhos com coisas.
  • 8:18 - 8:21
    E, quando estava desenhando,
    tinha uma perspectiva
  • 8:21 - 8:26
    completamente distinta do desenho
    que se formava na fotografia.
  • 8:26 - 8:28
    Estas são fotografias muito grandes.
  • 8:28 - 8:31
    Maiores que a imagem
    que vocês estão vendo.
  • 8:31 - 8:32
    Foram feitas com brinquedos.
  • 8:32 - 8:35
    Os brinquedos são uma forma
    de nos relacionarmos com o mundo
  • 8:35 - 8:39
    A ideia de que o mundo se transformou
    em uma grande imagem
  • 8:39 - 8:43
    que não podemos ver é,
    por si só, interessante também.
  • 8:43 - 8:49
    Há uns seis anos, comecei a negociar
    com um grupo de pessoas no Brasil
  • 8:49 - 8:54
    para que me permitissem fazer
    desenhos gigantes em minas de ferro.
  • 8:55 - 9:00
    Alguns desses desenhos
    são maiores do que os de Nazca.
  • 9:00 - 9:06
    Medem quilômetros
    e representam imagens tolas.
  • 9:06 - 9:12
    Queria que a ideia fosse o processo,
    e não o que estava ali representado.
  • 9:15 - 9:19
    Estas são imagens enormes,
    obtidas com um helicóptero.
  • 9:19 - 9:25
    Sempre mostro estas imagens
    junto a imagens falsas.
  • 9:25 - 9:30
    Assim como as falsas fazem
    as verdadeiras parecerem tolas,
  • 9:30 - 9:34
    as verdadeiras fazem
    as falsas parecerem verdadeiras.
  • 9:34 - 9:36
    É você que decide.
  • 9:36 - 9:38
    Sempre trabalho com coisas
    que as pessoas conhecem.
  • 9:38 - 9:43
    Com ícones, com arquétipos.
    Com o que se espera das coisas.
  • 9:43 - 9:48
    Uma nuvem é algo que se espera
    ver no céu, sempre,
  • 9:48 - 9:51
    mas nunca na forma de um desenho.
  • 9:51 - 9:57
    Com um avião, comecei a fazer desenhos
    de nuvens no céu de Nova York.
  • 9:57 - 10:00
    Isso foi pouco antes
    do acidente com as Torres.
  • 10:00 - 10:03
    Agora, se aparecer um aviãozinho
    fazendo desenho no céu,
  • 10:03 - 10:06
    é abatido imediatamente pela Força Aérea.
  • 10:06 - 10:07
    (Risos)
  • 10:07 - 10:09
    Foi feito na hora certa.
  • 10:09 - 10:12
    Ainda que o desenho fosse de uma nuvem,
  • 10:12 - 10:15
    as pessoas diziam
    que significava outra coisa.
  • 10:15 - 10:19
    O anterior, diziam que parecia
    uma luva de beisebol.
  • 10:19 - 10:22
    Este aqui, em Miami,
    em South Beach, é bastante "fálico",
  • 10:22 - 10:27
    concordo, mas não significava isso.
  • 10:27 - 10:31
    Quando as coisas têm uma dimensão
    que não é ergonômica,
  • 10:31 - 10:36
    elas passam a integrar um imaginário
    que ocorre apenas na mente.
  • 10:36 - 10:38
    Este é um de meus instrumentos.
  • 10:38 - 10:41
    Chama-se FIB: Focused Ion Beam.
  • 10:41 - 10:46
    Com este instrumento posso desenhar
  • 10:46 - 10:50
    em grãos de pó, grãos de areia,
    coisas invisíveis.
  • 10:50 - 10:56
    São desenhos de castelos que fiz
    com um instrumento do século 19
  • 10:56 - 10:59
    que se chama "câmera lúcida".
  • 10:59 - 11:04
    Assim como fiz esses desenhos,
    também fiz padronagens,
  • 11:05 - 11:09
    que se parecem muito
    com o papel de parede da vovó.
  • 11:10 - 11:13
    Mas, se olharem mais perto,
  • 11:13 - 11:18
    são desenhos feitos com células hepáticas.
  • 11:18 - 11:23
    Também faço isso
    com células-tronco e com neurônios.
  • 11:23 - 11:27
    Achei que, se sabia fazer isso
    com um tipo de célula,
  • 11:27 - 11:30
    com os outros seria igual, mas cada célula
    tem um comportamento distinto.
  • 11:31 - 11:35
    As células cervicais,
    por exemplo, têm cílios
  • 11:35 - 11:38
    e são muito difíceis de fotografar.
  • 11:38 - 11:44
    Assim como transmitimos informação
    genética de geração em geração,
  • 11:46 - 11:50
    nos últimos 200 anos, transmitimos
    informações pictóricas
  • 11:50 - 11:55
    que nos davam uma ideia
    de quem eram nossos antepassados.
  • 11:55 - 12:02
    Com a ideia do álbum de fotos poderíamos
    pensar como era nossa tataravó.
  • 12:02 - 12:06
    Como eu era muito pobre,
    não tinha uma câmera fotográfica.
  • 12:07 - 12:11
    Uma tia, que vivia em Miami
    e que vinha a São Paulo,
  • 12:11 - 12:14
    tirava uma foto e, um ano depois,
    trazia essa foto.
  • 12:14 - 12:18
    Tenho oito fotos de quando eu era criança.
  • 12:18 - 12:22
    Quando me mudei para os Estados Unidos,
    havia muita gente que vendia fotos.
  • 12:22 - 12:25
    Eu não sabia por quê.
  • 12:25 - 12:28
    E passei a comprá-las,
    até quando não tinha dinheiro.
  • 12:28 - 12:33
    Depois de 25 anos, tenho 250 mil fotos
    de gente que não conheço, que não conheci,
  • 12:33 - 12:35
    que não tenho a menor ideia de quem são.
  • 12:35 - 12:39
    Estas fotos são órfãs e existem no mundo,
  • 12:39 - 12:42
    e tenho a responsabilidade de resgatá-las.
  • 12:42 - 12:44
    Tenho um orfanato de fotos.
  • 12:44 - 12:49
    Mas essas fotos não ficam à mostra,
    a não ser que estejam em um mural.
  • 12:54 - 12:59
    Aqui em Cuba vi uma menina
    de 15 anos fazendo fotos
  • 12:59 - 13:02
    que vai guardar para toda a vida,
    que vai dar para sua filha.
  • 13:02 - 13:04
    Todos os álbuns contêm
    exatamente a mesma história.
  • 13:04 - 13:07
    A história de nossa vida.
  • 13:07 - 13:08
    Começam com o retrato do bebê.
  • 13:08 - 13:12
    Este sou eu com dois anos.
    É uma das oito fotos.
  • 13:12 - 13:15
    Depois vem o retrato de escola.
  • 13:15 - 13:18
    O retrato do primeiro aniversário.
  • 13:18 - 13:25
    A foto do dia de Natal,
    com a bicicleta de presente.
  • 13:25 - 13:28
    Estas fotos são feitas de pequenas fotos.
  • 13:28 - 13:31
    Não há nada nesta foto que seja original.
  • 13:31 - 13:33
    Todas são feitas de outras fotos.
  • 13:33 - 13:39
    É uma maneira de pensar essa coisa
    fragmentada, que é a nossa vida pessoal,
  • 13:39 - 13:43
    em comparação com uma ideia mais pública,
  • 13:43 - 13:46
    mais universal, do que é uma vida.
  • 13:46 - 13:49
    Da mesma forma,
    pensei muito em Paris hoje,
  • 13:49 - 13:52
    porque vivi em Paris durante muito tempo.
  • 13:52 - 13:55
    E as pessoas que vão a Paris
    sempre pensam nela assim,
  • 13:55 - 13:59
    sempre com a torre Eiffel.
  • 13:59 - 14:01
    Mas a experiência de lugares
    é muito diferente.
  • 14:01 - 14:03
    Estou há dois dias em Cuba.
  • 14:03 - 14:05
    É muito fragmentada.
  • 14:05 - 14:08
    O cartão-postal dá um aspecto genérico
  • 14:08 - 14:11
    da impressão, da experiência de um lugar.
  • 14:11 - 14:13
    Eu também coleciono cartões-postais.
  • 14:13 - 14:16
    Por isso pensei em fazer, com os postais,
  • 14:16 - 14:22
    algo similar à memória,
    à percepção de um lugar.
  • 14:22 - 14:25
    E fazer isso com fragmentos
    de outros postais.
  • 14:25 - 14:29
    Se imaginarem o Rio ou Miami,
  • 14:29 - 14:34
    represento o lugar
    com fragmentos de impressões,
  • 14:34 - 14:39
    mas nunca será preciso, e cada pessoa tem
    uma impressão diferente de cada lugar.
  • 14:39 - 14:42
    Esta é minha cidade:
    São Paulo. Muito feia.
  • 14:42 - 14:44
    Como fazer uma imagem maior?
  • 14:44 - 14:47
    O mais importante é a experiência.
  • 14:47 - 14:51
    Para mim, faltava
    a experiência de interação.
  • 14:51 - 14:55
    Sempre fui feliz e agradecido
    por poder fazer um trabalho
  • 14:55 - 14:58
    que me dá tanto contato
    com o mundo em que vivo.
  • 14:58 - 15:01
    Viajo muito, faço muitas coisas
  • 15:01 - 15:05
    e queria compartilhar
    os processos de trabalho.
  • 15:05 - 15:07
    Eu não tenho interesse em fazer obras,
  • 15:07 - 15:13
    mas, sim, desenvolver processos
    de trabalho com pessoas.
  • 15:13 - 15:16
    Porém não queria adicionar nada à equação.
  • 15:16 - 15:22
    Convidei pessoas que não tinham nenhuma
    relação com a arte contemporânea,
  • 15:22 - 15:26
    nem de qualquer outro tipo,
    para me ajudarem, durante um ano,
  • 15:26 - 15:28
    a fazer seus próprios retratos.
  • 15:28 - 15:32
    Lembrem-se que essas pessoas não
    tinham nenhuma consciência de sua imagem,
  • 15:32 - 15:37
    exceto pelas imagens de telefones
    celulares que encontravam no lixão.
  • 15:37 - 15:40
    Eram trabalhadores do lixão.
  • 15:40 - 15:44
    Fizemos seu retrato do mesmo lixo
    com que eles trabalhavam o dia todo.
  • 15:44 - 15:49
    E foi um acontecimento transformador
    tanto para eles como para mim.
  • 15:49 - 15:52
    Sempre que fiz trabalhos de cunho social,
  • 15:52 - 15:56
    e faço isso sempre que posso,
    há mais de 15 anos,
  • 15:56 - 16:01
    também há este aspecto
    do que é virtual e do que é material,
  • 16:01 - 16:04
    porque quando você trabalha
    com pessoas pobres,
  • 16:04 - 16:09
    que passam necessidade,
    tem que fazer algo material.
  • 16:09 - 16:13
    tem que trazer algo capital
    para a vida deles.
  • 16:13 - 16:16
    É algo de alquimia, algo mágico
    da arte contemporânea
  • 16:16 - 16:20
    poder transformar, através
    dela, ideias em capital.
  • 16:21 - 16:27
    O resultado desse trabalho produziu
    um documentário nomeado ao Oscar.
  • 16:27 - 16:33
    E com a venda dessas obras,
    pudemos fazer muitas mudanças
  • 16:33 - 16:37
    nesse lixão que estava para ser fechado.
  • 16:37 - 16:41
    Este documentário se chama
    "Lixo extraordinário", ou "Waste Land".
  • 16:41 - 16:43
    E também foi traduzido para o espanhol.
  • 16:44 - 16:46
    Esse foi meu estúdio durante três anos.
  • 16:46 - 16:49
    Estes trabalhos de interação
    com as pessoas
  • 16:49 - 16:53
    são projetos que fiz para Rio+20.
  • 16:53 - 16:56
    Pedimos às pessoas
    que assistiam à conferência,
  • 16:56 - 17:00
    que não pusessem
    as garrafas de água no lixo.
  • 17:00 - 17:05
    Este é um trabalho contra a discriminação
  • 17:05 - 17:09
    de pessoas com AIDS, com HIV positivo.
  • 17:11 - 17:15
    Nos anos 80, muitos amigos
    morreram de AIDS.
  • 17:15 - 17:18
    Como não havia informação,
    esses amigos morreram
  • 17:18 - 17:21
    sem que eu pudesse dar-lhes um beijo.
  • 17:21 - 17:25
    Por isso, 15 anos mais tarde, fiz,
  • 17:25 - 17:30
    apenas com pessoas com HIV positivo,
    uma figura de um beijo.
  • 17:30 - 17:33
    Este trabalho é da Bienal de Veneza,
  • 17:33 - 17:38
    para um protesto contra o fim
    do projeto "Mare Nostrum",
  • 17:38 - 17:40
    que salvou mais de 140 vidas.
  • 17:40 - 17:43
    Era um projeto de resgate no Mediterrâneo.
  • 17:43 - 17:48
    Depois disso o substituíram
    por um projeto de controle de fronteira.
  • 17:48 - 17:50
    Fiz isso para dizer às pessoas
  • 17:50 - 17:54
    que coisas ruins que poderiam
    acontecer com essa mudança.
  • 17:54 - 17:57
    E uma semana antes de exibir esta obra
  • 17:57 - 18:01
    morreram 1,3 mil pessoas em 10 dias.
  • 18:01 - 18:05
    Agora estou tentando arrecadar dinheiro
  • 18:05 - 18:11
    para construir escolas
    no norte da África e na Itália.
  • 18:11 - 18:13
    A ideia é que toda esta relação
  • 18:13 - 18:19
    entre percepção, cultura e informação
  • 18:19 - 18:23
    ocorre, em vários sentidos,
    em grande parte
  • 18:23 - 18:26
    pelas ansiedades que temos como humanos.
  • 18:26 - 18:31
    Especialmente em um período
    com tanta informação disponível.
  • 18:31 - 18:36
    Considerando o que aconteceu ontem,
    na França, estou feliz de estar em Cuba,
  • 18:36 - 18:39
    porque parece que estou um pouco imune
  • 18:39 - 18:43
    à magnitude dos acontecimentos.
  • 18:43 - 18:48
    Penso que a educação,
    que, na verdade, é o motor da cultura,
  • 18:48 - 18:53
    é a única possibilidade para que possamos
    ter uma relação mais saudável
  • 18:53 - 18:56
    entre o mundo da informação
    e o mundo da percepção.
  • 18:56 - 19:00
    E, pensando nisso, criei um projeto
    chamado "Escola Vidigal"
  • 19:00 - 19:02
    em uma favela do Rio.
  • 19:02 - 19:07
    É um laboratório pedagógico
    destinado a escutar as crianças
  • 19:07 - 19:10
    e desenvolver programas
    com base no que elas querem,
  • 19:10 - 19:16
    e não apenas na postura de ensinar,
    uma postura de liderança.
  • 19:16 - 19:20
    Termino aqui com uma imagem
    muito bonita, a imagem de uma escola.
  • 19:20 - 19:22
    É o meu projeto principal agora.
  • 19:22 - 19:24
    Muito, muito obrigado.
  • 19:24 - 19:26
    (Aplausos)
Title:
Arte cognitiva | Vik Muniz | TEDxHabana
Description:

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

Artista visual baseado em Nova York, ganhou reconhecimento internacional por utilizar lixo e materiais reciclados em suas obras. A partir de suas noções e experiências como artista visual, Vik Muniz oferece um conceito rico e multidimensional da percepção, das relações entre o conceito de materialidade e o marco de referência para a produção e o consumo artístico.

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Video Language:
Spanish
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
19:52

Portuguese, Brazilian subtitles

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