Return to Video

Um modo provocativo de financiar a luta contra a mudança climática

  • 0:01 - 0:06
    Faremos tudo o que for possível
    para evitar a mudança climática?
  • 0:07 - 0:10
    Eu cheguei a esta questão
    não como um ativista verde.
  • 0:10 - 0:13
    Na verdade, confesso estar
    descrente da reciclagem.
  • 0:14 - 0:17
    Foi como um observador professional
    de elaboração de política financeira
  • 0:17 - 0:19
    que eu cheguei a ela
  • 0:19 - 0:23
    e como alguém que se pergunta
    como a história há de nos julgar.
  • 0:24 - 0:26
    Um dia,
  • 0:26 - 0:29
    este anel que pertenceu ao meu avô
  • 0:29 - 0:32
    será do meu neto, Charlie.
  • 0:32 - 0:37
    E me pergunto o que a sua geração
    e, talvez, aquela que a sucederá,
  • 0:37 - 0:42
    farão com as duas vidas
    que usaram este anel.
  • 0:43 - 0:46
    Meu avô era um mineiro de carvão.
  • 0:46 - 0:48
    Naquela época,
  • 0:49 - 0:55
    aceitava-se queimar combustíveis fósseis
    para gerar energia e aquecer a economia.
  • 0:55 - 0:59
    Sabemos que hoje não é mais assim,
  • 0:59 - 1:02
    devido aos gases com efeito estufa
    que o carvão produz.
  • 1:03 - 1:05
    Mas, hoje,
  • 1:05 - 1:09
    eu temo que a indústria na qual trabalho
    será julgada mais severamene
  • 1:09 - 1:11
    devido ao seu impacto no clima,
  • 1:11 - 1:14
    até com mais rigor
    do que a indústria do meu avô.
  • 1:14 - 1:17
    Eu trabalho, claro, no sistema bancário,
  • 1:17 - 1:21
    que será lembrado por sua crise em 2008,
  • 1:22 - 1:27
    uma crise que desviou a atenção
    das finanças dos governos
  • 1:27 - 1:32
    de promessas realmente muito importantes,
  • 1:32 - 1:37
    como as da Cúpula do Clima
    de Copenhague em 2009,
  • 1:37 - 1:42
    para destinar US$ 100 bilhões por ano
    aos países em desenvolvimento
  • 1:42 - 1:45
    e ajudá-los a migrar
    dos combustíveis fósseis
  • 1:45 - 1:48
    e fazer a transição para usar
    energia mais limpa.
  • 1:48 - 1:51
    Aquela promessa já está sob ameaça.
  • 1:52 - 1:54
    E é um problema concreto,
  • 1:54 - 1:56
    pois a transição para energia mais limpa
  • 1:56 - 1:59
    precisa acontecer,
    e o quanto antes, melhor.
  • 1:59 - 2:02
    Primeiro, uma vez liberados,
    os gases com efeito estufa
  • 2:02 - 2:05
    permanecem na atmosfera por décadas.
  • 2:05 - 2:06
    Em segundo lugar,
  • 2:06 - 2:09
    se uma economia em desenvolvimento
  • 2:09 - 2:12
    adotar como matriz de energia
    os combustíveis fósseis, hoje,
  • 2:12 - 2:15
    será muito mais caro mudá-la depois.
  • 2:16 - 2:18
    Quanto ao clima,
  • 2:18 - 2:22
    a história poderá julgar
    que a crise bancária ocorreu
  • 2:22 - 2:24
    numa hora muito imprópria.
  • 2:25 - 2:29
    Contudo, a história
    não precisa ser tão pessimista.
  • 2:30 - 2:32
    Há três anos,
  • 2:32 - 2:34
    eu argumentei que os governos
    poderiam usar os instrumentos
  • 2:34 - 2:39
    destinados a salvar o sistema financeiro,
    para enfrentar outros desafios globais.
  • 2:40 - 2:45
    E estes argumentos tornam-se mais fortes
    com o tempo, não mais fracos.
  • 2:46 - 2:51
    Vamos fazer um breve lembrete
    de quais foram tais instrumentos.
  • 2:52 - 2:55
    Quando surgiu a crise financeira em 2008,
  • 2:55 - 2:57
    os bancos centrais
    dos EUA e do Reino Unido
  • 2:57 - 3:00
    começaram a comprar títulos
    emitidos pelos seus próprios governos,
  • 3:00 - 3:03
    política conhecida como
    como “flexibilização quantitativa”.
  • 3:03 - 3:07
    Dependendo do que acontecer
    com os títulos quando eles vencerem,
  • 3:07 - 3:10
    eles podem receber outro nome:
    emissão monetária.
  • 3:10 - 3:12
    E como houve emissão!
  • 3:13 - 3:17
    Apenas nos EUA, foram emitidos títulos
    no valor de US$ 4 trilhões.
  • 3:17 - 3:19
    Isto não foi um fato isolado.
  • 3:19 - 3:22
    Num ato notável de cooperação,
  • 3:22 - 3:27
    os 188 países-membros do Fundo
    Monetário Internacional, o FMI,
  • 3:27 - 3:31
    concordaram em emitir US$ 250 bilhões
    de suas próprias reservas,
  • 3:31 - 3:33
    o Direito Especial de Saque,
  • 3:33 - 3:35
    para fortalecer as reservas
    em todo o mundo.
  • 3:36 - 3:38
    Quando a crise financeira chegou à Europa,
  • 3:40 - 3:43
    o presidente do Banco Central,
    Europeu, Mario Draghi,
  • 3:43 - 3:46
    prometeu fazer
    “tudo o que fosse possível”.
  • 3:48 - 3:49
    E foi feito.
  • 3:50 - 3:54
    O Banco do Japão repetiu aquelas palavras,
    exatamente o mesmo comprometimento,
  • 3:54 - 3:58
    fazer “tudo o que fosse possível”
    para reaquecer a economia.
  • 3:59 - 4:01
    Em ambos os casos,
  • 4:01 - 4:06
    “tudo o que fosse possível”
    significou trilhões de dólares a mais
  • 4:06 - 4:09
    em políticas de emissão monetária
    que perduram até hoje.
  • 4:09 - 4:11
    O que isto mostra
  • 4:11 - 4:15
    é que, quando confrontados
    com certos desafios globais,
  • 4:16 - 4:21
    os gestores de políticas são capazes
    de agir em conjunto, com urgência,
  • 4:21 - 4:25
    e correr os riscos
    de políticas não convencionais,
  • 4:25 - 4:28
    como a de emissão monetária.
  • 4:28 - 4:32
    Voltemos à questão original:
  • 4:34 - 4:36
    podemos emitir moeda
    para financiar o clima?
  • 4:37 - 4:39
    Há três anos,
  • 4:39 - 4:43
    a ideia de usar dinheiro desta forma
    era um verdadeiro tabu.
  • 4:43 - 4:46
    Uma vez que se desfaça a ideia,
  • 4:46 - 4:48
    de que o dinheiro é um recurso finito,
  • 4:49 - 4:53
    governos podem ser logo pressionados
    pela demanda de seus cidadãos
  • 4:53 - 4:56
    de imprimir cada vez mais dinheiro
    para outras finalidades:
  • 4:56 - 4:58
    educação, saúde, assistência social,
  • 4:58 - 5:00
    e até para a defesa.
  • 5:00 - 5:06
    Há alguns exemplos históricos
    bem terríveis de emissão monetária,
  • 5:06 - 5:10
    impressão descontrolada de dinheiro,
    que levou à hiperinflação.
  • 5:11 - 5:14
    Pensem: República de Weimar em 1930,
  • 5:14 - 5:17
    Zimbábue, mais recentemente, em 2008,
  • 5:17 - 5:22
    quando os preços de produtos básicos,
    como o pão, dobravam a cada dia.
  • 5:23 - 5:28
    Mas tudo isso está promovendo
    o avanço do debate público,
  • 5:28 - 5:31
    tanto assim, que agora
    discute-se abertamente
  • 5:31 - 5:33
    com o público a emissão de dinheiro
  • 5:33 - 5:37
    nos meios financeiros, e até
    em alguns manifestos políticos.
  • 5:38 - 5:41
    Mas é importante que o debate
    não pare por aqui,
  • 5:41 - 5:43
    com a emissão de moedas nacionais.
  • 5:46 - 5:50
    Sendo a mudança climática
    um problema de âmbito global,
  • 5:50 - 5:53
    há razões prementes
  • 5:53 - 5:56
    para que façamos a emissão
    de recursos internacionais
  • 5:56 - 5:59
    que sejam garantidos pelo FMI,
    para tal financiamento.
  • 6:00 - 6:03
    O Direito Especial de Saque, DES,
  • 6:03 - 6:07
    é a unidade eletrônica
    de contabilidade do FMI
  • 6:07 - 6:11
    que os governos usam para transferir
    fundos de um para o outro.
  • 6:12 - 6:15
    Considere-o como uma rede
    de pagamentos ponto a ponto;
  • 6:15 - 6:17
    como o Bitcoin, mas para governos.
  • 6:19 - 6:20
    O DES é realmente global.
  • 6:21 - 6:26
    Cada um dos 188 membros
    do FMI detém quotas de DES
  • 6:26 - 6:29
    como parte de suas reservas cambiais.
  • 6:30 - 6:32
    São estoques da riqueza nacional
  • 6:32 - 6:36
    que os governos mantêm como proteção
    para crises de ordem cambial.
  • 6:37 - 6:42
    E essa natureza global é a razão
    pela qual, no auge da crise de 2009,
  • 6:43 - 6:47
    os US$ 250 bilhões adicionais
    foram liberados pelo FMI
  • 6:47 - 6:51
    porque foi um ação coletiva global,
  • 6:51 - 6:56
    que socorreu países grandes
    e pequenos ao mesmo tempo.
  • 6:57 - 6:58
    Mas aqui…
  • 6:58 - 7:00
    há um aspecto intrigante.
  • 7:01 - 7:06
    Mais da metade dos DES extras
    que foram liberados em 2009,
  • 7:06 - 7:08
    no valor de US$ 150 bilhões,
  • 7:08 - 7:13
    foram para países desenvolvidos,
    os quais, em sua maioria,
  • 7:13 - 7:15
    têm uma necessidade limitada
    de reservas cambiais externas,
  • 7:15 - 7:18
    porque têm taxas cambiais flexíveis.
  • 7:18 - 7:23
    As reservas extras liberadas em 2009,
  • 7:23 - 7:26
    no fim, pelo menos
    para os países desenvolvidos,
  • 7:26 - 7:28
    não eram realmente necessários,
  • 7:29 - 7:31
    e eles continuam sem uso atualmente.
  • 7:32 - 7:33
    A ideia é a seguinte:
  • 7:33 - 7:34
    como primeiro passo,
  • 7:35 - 7:39
    por que não gastamos os DES
    adicionais, não utilizados,
  • 7:39 - 7:42
    que foram emitidos em 2009,
  • 7:42 - 7:43
    para combater a mudança climática?
  • 7:44 - 7:45
    Por exemplo,
  • 7:45 - 7:50
    eles poderiam comprar títulos garantidos
    pelo Fundo Verde para o Clima, da ONU.
  • 7:51 - 7:54
    É um fundo que foi criado em 2009,
  • 7:54 - 7:57
    com o acordo para o clima em Copenhague.
  • 7:58 - 8:02
    Ele foi planejado para destinar fundos
    para que os países em desenvolvimento
  • 8:02 - 8:04
    inplementem seus projetos para o clima.
  • 8:04 - 8:07
    Tem sido um dos fundos
    mais bem-sucedidos deste tipo,
  • 8:07 - 8:10
    levantando quase US$ 10 bilhões.
  • 8:10 - 8:13
    Mas, se usarmos os DES extras
    que foram emitidos,
  • 8:13 - 8:16
    isso ajudará os governos a voltarem
    a cumprir a promessa
  • 8:16 - 8:19
    de usar US$ 100 bilhões por ano
  • 8:19 - 8:22
    que foi abandonada
    em razão da crise financeira.
  • 8:24 - 8:26
    Ela também poderia...
  • 8:26 - 8:28
    poderia server como um campo de provas.
  • 8:30 - 8:35
    Se as consequências inflacionárias
    do uso dos DES forem benignas,
  • 8:36 - 8:38
    elas poderiam ser usadas para justificar
  • 8:38 - 8:43
    emissão extra de DES, digamos,
    a cada cinco anos,
  • 8:43 - 8:46
    novamente, com o compromisso
  • 8:46 - 8:50
    de que os países desenvolvidos
    destinassem sua quota
  • 8:50 - 8:52
    de novas reservas
  • 8:52 - 8:53
    para o Fundo Verde para o Clima.
  • 8:55 - 8:59
    A emissão de moeda internacional
    por este meio tem várias vantagens
  • 8:59 - 9:01
    sobre a emissão de moedas nacionais.
  • 9:02 - 9:04
    A primeira é realmente fácil de defender,
  • 9:04 - 9:09
    a de que gastar dinheiro para amenizar
    a mudança climática beneficia a todos.
  • 9:09 - 9:13
    Nenhum setor da sociedade leva vantagem
    sobre os demais, por este tipo de emissão.
  • 9:13 - 9:17
    São atenuados os problemas
    de interesses conflitantes.
  • 9:17 - 9:19
    Também é válido afirmar
  • 9:19 - 9:24
    que, por exigir que tantos países
    concordem com a emissão dos DES extras,
  • 9:24 - 9:28
    é muito improvável que a emissão
    de moeda saia do controle.
  • 9:29 - 9:34
    Resultará uma ação global e coletiva,
  • 9:35 - 9:41
    uma ação global sob controle,
    visando um bem global.
  • 9:42 - 9:45
    E, de acordo com o que aprendemos
    com os esquemas de emissão de dinheiro,
  • 9:45 - 9:48
    as normas eliminam
    quaisquer preocupações que tenhamos.
  • 9:49 - 9:51
    Então, por exemplo,
  • 9:51 - 9:56
    a emissão dos DES extras,
    a cada cinco anos, seria limitada,
  • 9:56 - 10:01
    de modo que essa moeda internacional
    nunca fosse mais do que 5%
  • 10:01 - 10:03
    das reservas cambiais mundias.
  • 10:04 - 10:06
    Isto é importante porque acalmaria
  • 10:06 - 10:10
    digamos, a preocupação ridícula
    que os EUA podem ter
  • 10:10 - 10:14
    de que os DES possam desafiar
    o papel dominante do dólar
  • 10:14 - 10:16
    nas finanças internacionais.
  • 10:16 - 10:18
    E, na verdade,
  • 10:18 - 10:21
    acho que a única coisa que o DES
    seria capaz de subtrair do dólar,
  • 10:21 - 10:23
    dentro deste esquema,
  • 10:23 - 10:26
    é seu apelido de “garantia verde”,
  • 10:26 - 10:30
    pois, mesmo colocando aquele limite,
  • 10:30 - 10:34
    o FMI teria concretizado sua emissão,
  • 10:34 - 10:37
    a emissão em massa de DES em 2009,
  • 10:37 - 10:42
    e depois mais US$ 200 bilhões
    de DES em 2014.
  • 10:43 - 10:45
    Então, hipoteticamente,
  • 10:46 - 10:49
    significaria que os países desenvolvidos
    poderiam ter contribuído
  • 10:49 - 10:55
    com até US$ 300 bilhões de DES
    ao Fundo Verde para o Clima.
  • 10:56 - 11:00
    É 30 vezes mais do que tem hoje.
  • 11:00 - 11:01
    E, vocês sabem,
  • 11:01 - 11:03
    por mais espetacular que pareça,
  • 11:04 - 11:08
    está apenas começando a se aproximar
    do “faremos tudo o que for possível”.
  • 11:09 - 11:12
    Imaginem as coisas incríveis
    que poderíamos fazer com esse dinheiro.
  • 11:12 - 11:14
    Considerem o seguinte:
  • 11:15 - 11:16
    em 2009,
  • 11:16 - 11:21
    a Noruega prometeu US$ 1 bilhão
    de suas reservas ao Brasil
  • 11:21 - 11:26
    se continuasse com as metas
    de limitação do desmatamento.
  • 11:27 - 11:33
    Desde então, esse programa já conseguiu
    uma redução de 70% no desmatamento
  • 11:33 - 11:34
    ná última década.
  • 11:35 - 11:39
    É evitar 3,2 bilhões de toneladas
    de emissões de dióxido de carbono,
  • 11:39 - 11:44
    o que equivale a retirar todos
    os carros americanos das rodovias
  • 11:44 - 11:46
    durante três anos.
  • 11:48 - 11:49
    O que poderíamos fazer
  • 11:49 - 11:54
    com 300 outros projetos
    de recompensas climáticas como esse,
  • 11:54 - 11:57
    organizados em uma escala mundial?
  • 11:58 - 12:01
    Poderíamos retirar os carros
    das rodovias durante uma geração.
  • 12:02 - 12:06
    Então, não vamos tergiversar
    sobre se temos a capacidade
  • 12:06 - 12:09
    de financiar medidas
    contra a mudança climática.
  • 12:09 - 12:11
    A questão verdadeira é:
  • 12:11 - 12:15
    nós realmente nos importamos
    com as gerações futuras
  • 12:15 - 12:18
    a ponto de assumir os mesmos riscos
    com a política que adotamos
  • 12:18 - 12:20
    para salvar o sistema financeiro?
  • 12:20 - 12:21
    Afinal,
  • 12:22 - 12:23
    podemos fazê-lo,
  • 12:24 - 12:25
    nós o fizemos
  • 12:25 - 12:27
    e o estamos fazendo atualmente.
  • 12:28 - 12:32
    Devemos, devemos muito, sim,
    “fazer tudo o que for possível”.
  • 12:33 - 12:35
    Obrigado.
  • 12:35 - 12:37
    (Aplausos)
Title:
Um modo provocativo de financiar a luta contra a mudança climática
Speaker:
Michael Metcalfe
Description:

Faremos todo o possível para combater a mudança climática? Em 2008, diante da crise financeira global, os governos de todo o mundo adotaram o compromisso de “fazer tudo o que for possível” para efetuar a recuperação monetária, reservando o equivalente a US$ 250 bilhões de recursos internacionais para evitar o colapso da economia. Nesta deliciosa palestra, o especialista Michael Metcalfe sugere que podemos usar a mesma ferramenta monetária não convencional para financiar um compromisso global com um futuro verde.

more » « less
Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
12:52

Portuguese, Brazilian subtitles

Revisions