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Cães deprimidos, gatos com TOC (transtorno obsessivo-compulsivo) — o que a loucura animal significa para os seres humanos

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    Oliver era um macho extremamente corajoso,
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    bonito, simpático e muitíssimo instável,
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    por quem me apaixonei completamente.
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    (Risos)
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    Era um cão montanhês de Berna.
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    O meu ex-marido e eu adotámo-lo.
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    Ao fim de seis meses, aproximadamente,
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    percebemos que ele era um problema.
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    Tinha uma ansiedade de separação
    tão paralizante
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    que não podíamos deixá-lo sozinho.
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    Uma vez, saltou do 3º andar do prédio.
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    Comia tecido. Comia coisas, recicláveis.
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    Caçava moscas que não existiam.
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    Sofria de alucinações.
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    Foi-lhe diagnosticada
    uma deficiência canina compulsiva
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    e isso era apenas a ponta do iceberg.
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    Mas, tal como com os seres humanos,
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    às vezes passam-se seis meses
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    antes de nos apercebermos
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    que a pessoa que amamos tem algum problema.
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    (Risos)
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    Quase ninguém leva a pessoa com quem namora
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    ao bar onde a conheceu,
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    (Risos)
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    nem a devolve aos amigos
    que a apresentaram,
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    nem a inscreve de novo no "site" Match.com.
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    (Risos)
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    Gostamos delas seja como for
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    e agarramo-nos a essa ideia.
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    Foi o que aconteceu com o meu cão.
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    Eu estudei biologia.
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    Tenho um doutoramento
    em História da ciência do MIT.
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    Se me perguntassem há dez anos
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    se um cão de que eu gostasse,
    ou os cães em geral
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    tinham emoções, eu teria dito que sim.
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    Mas não sei se teria dito
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    que eles também podem acabar
    com perturbações de ansiedade,
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    com uma receita de Prozac e um terapeuta.
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    Mas depois apaixonei-me
    e percebi que podem.
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    Tentar ajudar o meu cão
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    a ultrapassar o seu pânico e ansiedade,
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    alterou a minha vida.
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    Abriu totalmente o meu mundo .
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    Na realidade, passei os últimos sete anos
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    a olhar para as doenças mentais
    noutros animais.
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    Podem ser doentes mentais como as pessoas.
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    Se assim é, o que é que isso signfica
    acerca de nós próprios?
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    Descobri que acredito
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    que eles podem sofrer de problemas mentais.
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    Observar e tentar identificar
    os seus problemas mentais
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    ajuda-nos a sermos mais amigos deles
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    e também pode ajudar-nos
    a conhecermo-nos melhor.
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    Vamos pois falar de diagnósticos
    durante um instante.
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    Muitos de nós pensam que não podemos saber
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    o que vai na cabeça dum animal.
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    É verdade.
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    Mas nas nossas relações
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    — pelo menos é o que acontece comigo —
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    perguntar à pessoa com quem estamos,
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    aos nossos pais ou ao nosso filho,
    como é que se sentem,
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    não significa que eles vos consigam dizer.
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    Podem não ter palavras para explicar
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    o que estão a sentir.
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    Podem não saber.
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    É um fenómeno bastante recente
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    nós sentirmos que temos de falar com alguém
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    para compreender
    as suas angústias emocionais.
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    Antes do início do século XX
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    os médicos diagnosticavam
    frequentemente angústias emocionais
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    nos seus pacientes, só pela observação.
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    Também parece que não vale muito a pena
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    pensar em problemas mentais noutros animais
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    Muitas das doenças mentais nos EUA
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    são problemas de medo e ansiedade.
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    Quando pensamos nisso,
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    o medo e a ansiedade são
    emoções animais extremamente úteis.
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    Normalmente sentimo-nos ansiosos
    e medrosos em situações perigosas
  • 3:25 - 3:26
    e, quando as sentimos,
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    ficamos motivados para nos afastamos
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    de tudo o que seja perigoso.
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    O problema é quando começamos
    a sentir medo e ansiedade
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    em situações injustificadas.
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    As alterações de humor também podem ser
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    o lado negativo de ser um animal
    com sentimentos.
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    As perturbações obsessivo-compulsivas
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    também são muitas vezes manifestações
    de um caráter animal saudável
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    que nos mantem limpos e equilibrados.
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    Isto entra no território
    das doenças mentais,
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    quando fazemos coisas
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    como lavar as mãos, ou as patas,
    compulsivamente,
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    ou criamos um ritual que é tão radical
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    que não podemos sentarmo-nos
    diante duma tigela de comida,
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    a não ser que nos entreguemos
    a esse ritual.
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    Para os seres humanos,
    temos o "Manual Diagnóstico e Estatístico"
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    que é basicamente um atlas
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    das atuais doenças mentais reconhecidas.
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    Para os outros animais, temos o YouTube.
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    (Risos)
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    Esta é apenas uma das pesquisas
    que fiz para "TOC cão",
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    mas recomendo-vos
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    que vejam "TOC gato".
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    (Risos)
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    Ficarão chocados com aquilo que vão ver.
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    Vou mostrar-vos apenas alguns exemplos.
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    Este é um exemplo da
    perseguição da própria sombra.
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    Eu sei, é engraçado e de certo modo é fofo.
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    A questão, contudo, é que os cães
    podem desenvolver compulsões como estas
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    que os faz agir assim durante todo o dia.
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    Não vão passear,
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    não saem com os amigos,
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    não comem.
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    Desenvolvem fixações,
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    como apanhar a própria cauda,
    compulsivamente.
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    Este é o exemplo de
    um gato chamado Gizmo.
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    Parece que está de atalaia
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    mas faz isso durante muitas horas por dia.
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    Fica ali sentado e sacode o estore
    com a pata vezes sem conta.
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    Este é outro exemplo
    daquilo que se considera
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    um comportamento estereotipado.
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    Este é um urso-malaio no zoo de Oakland,
    chamado Ting Ting.
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    Se, por acaso, virem esta cena,
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    podem pensar que Ting Ting
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    está apenas a brincar com um pau.
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    Só que Ting Ting faz isso
    durante todo o dia.
  • 5:23 - 5:25
    Se prestarmos atenção
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    e se eu vos mostrasse
    a meia hora completa do vídeo,
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    veriam que ele faz
    exatamente a mesma coisa,
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    exatamente na mesma sequência,
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    e roda o pau exatamente
    sempre da mesma maneira.
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    Outros comportamentos
    muito comuns que podem ver,
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    especialmente em animais em cativeiro,
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    são passos ou balanços estereotipados.
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    Na verdade, os homens também fazem isso.
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    Nós balançamo-nos,
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    movemo-nos de um lado para o outro.
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    Muitos de nós fazemos isso e, às vezes,
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    é difícil conseguirmos acalmar-nos.
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    Penso noutros animais
    em que acontece o mesmo.
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    Mas não é só
    em comportamentos estereotipados
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    que os outros animais se envolvem.
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    Esta é Gigi. É uma gorila que vive
    no zoo de Franklin Park, em Boston.
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    Tem um psiquiatra de Harvard
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    e está a ser tratada
    de uma perturbação do humor,
  • 6:06 - 6:08
    entre outras coisas.
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    Muitos animais desenvolvem
    perturbações do humor.
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    Muitas criaturas
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    — este cavalo é apenas um exemplo —
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    exibem comportamentos autodestrutivos.
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    Roem coisas
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    ou fazem outras coisas para se acalmarem,
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    mesmo que sejam autodestrutivas.
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    Essas coisas podem ser
    consideradas semelhantes
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    ao modo como os seres humanos
    se cortam a si mesmos.
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    Arrancar penas ou cabelo!.
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    Acontece que, quem tem
    pelagem ou penas ou pele,
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    pode depenar-se ou arrancar
    os cabelos, compulsivamente.
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    Alguns papagaios têm sido objeto de estudo
  • 6:35 - 6:36
    para melhor compreender a tricotilomania,
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    o arrancar compulsivo
    de cabelos nos homens,
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    uma coisa que afeta
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    20 milhões de americanos neste momento.
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    Os ratos de laboratório
    também arrancam o pelo.
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    Nos ratos chama-se despelação.
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    Alguns cães veteranos dos conflitos
    no Iraque e no Afeganistão
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    regressam com TSPT canino,
    [transtorno de stress pós-traumático]
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    Têm tido dificuldade
    em reintegrar-se na vida civil
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    quando voltam das missões de combate.
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    Podem ter medo de se aproximarem
    de homens barbudos
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    ou para saltarem para dentro de carros.
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    Contudo, eu quero ser cuidadosa e clara,
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    Não penso que o TSPT canino
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    seja o mesmo que o TSPT humano.
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    Mas também não creio que meu TSPT
  • 7:12 - 7:13
    seja como o vosso TSPT,
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    ou que a minha ansiedade ou
    a minha tristeza seja como a vossa.
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    Somos todos diferentes.
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    Também temos suscetibilidades diferentes.
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    Dois cães, criados na mesma casa,
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    expostos às mesmas coisas,
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    um deles pode desenvolver
    um medo debilitante de motocicletas,
  • 7:31 - 7:34
    ou uma fobia aos "bipes" do microondas,
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    enquanto o outro não tem problemas.
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    Uma das coisas que me
    perguntam frequentemente é:
  • 7:39 - 7:41
    "Será que isto é apenas
    um exemplo de que os homens
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    "estão a enlouquecer outros animais?
  • 7:42 - 7:46
    "Ou as doenças mentais animais são apenas
    o resultado de maltratos ou abusos?"
  • 7:46 - 7:48
    Parece que, na verdade,
  • 7:48 - 7:51
    somos muito mais complicados que isso.
  • 7:52 - 7:54
    Uma coisa ótima que me aconteceu
  • 7:54 - 7:58
    — publiquei recentemente
    um livro sobre isto —
  • 7:58 - 8:01
    é que todos os dias,
    quando abro o meu "email",
  • 8:01 - 8:03
    ou quando vou assistir a uma leitura
  • 8:03 - 8:05
    ou até quando vou a um "cocktail",
  • 8:05 - 8:07
    as pessoas contam-me as suas histórias
  • 8:07 - 8:09
    sobre os animais que conheceram.
  • 8:09 - 8:11
    Recentemente,
    fiz uma palestra na Califórnia.
  • 8:11 - 8:14
    Uma mulher levantou a mão
    depois da palestra e disse:
  • 8:14 - 8:17
    "Dra. Braitman, acho que
    a minha gata tem TSPT".
  • 8:17 - 8:19
    E eu disse:
  • 8:19 - 8:22
    "Bem, porquê?
    Fale-me um pouco acerca disso".
  • 8:22 - 8:24
    A gata chama-se Ping.
  • 8:24 - 8:25
    A mulher era socorrista.
  • 8:25 - 8:27
    A gata vivia com um homem mais velho.
  • 8:27 - 8:29
    Um dia o homem estava a aspirar a casa,
  • 8:29 - 8:32
    sofreu um ataque cardíaco e morreu.
  • 8:32 - 8:35
    Uma semana depois,
    descobriram Ping no apartamento
  • 8:35 - 8:37
    ao lado do corpo do dono.
  • 8:37 - 8:40
    O aspirador continuara ligado
    durante todo o tempo.
  • 8:40 - 8:45
    Durante muitos meses —penso que
    até dois anos após o incidente —
  • 8:45 - 8:47
    ela continuava tão asustada
    que não conseguia estar dentro de casa
  • 8:47 - 8:49
    se alguém estivesse a aspirar.
  • 8:49 - 8:50
    Era uma gata assustada.
  • 8:50 - 8:52
    Escondia-se no armário.
  • 8:52 - 8:54
    Era pouco confiante e instável.
  • 8:54 - 8:56
    Mas, com o apoio amoroso da família,
  • 8:56 - 8:59
    com muito tempo e paciência,
  • 8:59 - 9:00
    agora, três anos depois,
  • 9:00 - 9:03
    é uma gata confiante e feliz.
  • 9:04 - 9:05
    Há uns anos descobri
  • 9:05 - 9:08
    outra história de traumas e recuperações.
  • 9:08 - 9:11
    Eu estava na Tailândia
    a fazer investigação.
  • 9:11 - 9:13
    Conheci um macaco chamado Boonlua.
  • 9:13 - 9:16
    Quando Boonlua era bebé,
  • 9:16 - 9:18
    foi atacado por uma matilha de cães.
  • 9:18 - 9:22
    Arrancaram-lhe as pernas e um braço.
  • 9:22 - 9:25
    Boonlua arrastou-se até um mosteiro
  • 9:25 - 9:27
    onde os monge tomaram conta dele.
  • 9:27 - 9:30
    Chamaram um veterinário
    que lhe tratou das feridas.
  • 9:30 - 9:32
    Por fim, Boonlua curou-se
  • 9:32 - 9:34
    numa instalação para elefantes.
  • 9:34 - 9:37
    Os protetores decidiram tomar conta dele
  • 9:37 - 9:38
    e descobriram os gostos dele
  • 9:38 - 9:40
    que eram pastilhas de menta,
  • 9:40 - 9:43
    besouros-rinoceronte e ovos.
  • 9:44 - 9:47
    Mas estavam preocupados porque
    ele era sociável, mas estava sozinho,
  • 9:47 - 9:48
    e não queriam pô-lo com outro macaco,
  • 9:48 - 9:50
    porque, como só tinha um braço,
  • 9:50 - 9:52
    não seria capaz
    de se defender nem de brincar.
  • 9:52 - 9:55
    Então deram-lhe uma coelha.
  • 9:55 - 9:58
    Boonlua tornou-se logo um
    macaco diferente.
  • 9:58 - 10:00
    Estava muito feliz
    por estar com essa coelha.
  • 10:00 - 10:02
    Cuidavam um do outro,
    tornaram-se amigos intimos.
  • 10:02 - 10:05
    Então a coelha teve coelhinhos
  • 10:05 - 10:08
    e Boonlua ainda ficou
    mais feliz do que antes.
  • 10:08 - 10:09
    De certo modo,
  • 10:09 - 10:11
    deu-lhe um motivo
    para acordar todas as manhãs.
  • 10:11 - 10:13
    Na verdade, o motivo era tão forte
  • 10:13 - 10:15
    que decidiu deixar de dormir.
  • 10:15 - 10:19
    Tornou-se superprotetor desses coelhinhos
  • 10:19 - 10:20
    e deixou de dormir.
  • 10:20 - 10:22
    Ficava apenas a abanar a cabeça
  • 10:22 - 10:24
    enquanto tentava tomar conta deles.
  • 10:24 - 10:28
    Era tão protetor e carinhoso
    com esses bebés
  • 10:28 - 10:30
    que o santuário acabou
    por ter que os separar
  • 10:30 - 10:32
    porque ele era demasiado protetor
  • 10:32 - 10:34
    e tinha medo que a mãe pudesse magoá-los.
  • 10:34 - 10:36
    Depois de os terem separado,
  • 10:36 - 10:38
    o santuário teve medo que ele
    entrasse em depressão.
  • 10:38 - 10:39
    Para evitar isso,
  • 10:39 - 10:41
    deram-lhe outro coelho.
  • 10:42 - 10:44
    (Risos)
  • 10:45 - 10:48
    A minha opinião pessoal é
    que ele não parece deprimido.
  • 10:48 - 10:49
    (Risos)
  • 10:50 - 10:54
    Uma coisa que eu gostaria
    que as pessoas sentissem
  • 10:54 - 10:59
    era sentirem que podem fazer
    algumas suposições
  • 10:59 - 11:01
    sobre as criaturas que conhecem bem.
  • 11:01 - 11:04
    No que diz respeito
    ao nosso cão ou ao nosso gato,
  • 11:04 - 11:06
    ou talvez ao nosso macaco maneta,
  • 11:06 - 11:07
    que por acaso conheçamos,
  • 11:07 - 11:11
    se pensarmos que eles estão
    traumatizados ou deprimidos,
  • 11:11 - 11:13
    provavelmente temos razão.
  • 11:13 - 11:16
    Isto é extremamente antropomórfico,
  • 11:16 - 11:19
    ou seja, a atribuição
    de características humanas
  • 11:19 - 11:22
    a animais ou a coisas não-humanas.
  • 11:22 - 11:25
    Contudo, penso que isso não é um problema.
  • 11:25 - 11:27
    Acho que podemos antropomorfizar.
  • 11:27 - 11:29
    Não é que possamos retirar
    o nosso cérebro da cabeça,
  • 11:29 - 11:32
    pô-lo num boião e depois usá-lo
  • 11:32 - 11:34
    para pensar com o pensamento
    de outro animal.
  • 11:34 - 11:36
    Seremos sempre um animal
  • 11:36 - 11:39
    que se interroga sobre as experiências
    emocionais de outro animal.
  • 11:39 - 11:40
    Então a escolha passa a ser:
  • 11:40 - 11:42
    "Como é que antropomorfizamos bem?
  • 11:42 - 11:44
    "Ou antropomorfizamos mal?"
  • 11:44 - 11:48
    Antropomorfizar mal é muito comum.
  • 11:48 - 11:50
    (Risos)
  • 11:50 - 11:53
    Pode significar vestir os nossos
    cãezinhos "corgi" e casá-los,
  • 11:53 - 11:55
    ou aproximar-se demasiado da vida exótica
  • 11:55 - 11:57
    porque achamos que temos
    uma ligação espiritual.
  • 11:57 - 12:00
    Existem todos os tipos de coisas.
  • 12:00 - 12:03
    Acredito, contudo, que antropomorfizar bem
  • 12:03 - 12:06
    baseia-se em aceitar as semelhanças
    do nosso animal com outras espécies
  • 12:06 - 12:09
    e usá-las para fazer suposições
  • 12:09 - 12:13
    que se baseiam nas mentes
    e nas experiências de outros animais.
  • 12:13 - 12:15
    Há de facto uma indústria completa
  • 12:15 - 12:18
    que, de certa forma, se baseia
    em antropomorfizar bem.
  • 12:18 - 12:21
    É a indústria farmacêutica.
  • 12:21 - 12:25
    Um em cinco americanos está
    neste momento a tomar medicamentos,
  • 12:25 - 12:28
    desde antidepressivos e antiansiolíticos
  • 12:28 - 12:30
    a antipsicóticos.
  • 12:30 - 12:34
    Acontece que devemos todo
    este arsenal psicofarmacêutico
  • 12:34 - 12:36
    a outros animais.
  • 12:36 - 12:39
    Estas drogas foram testadas
    primeiro em animais,
  • 12:39 - 12:42
    não apenas quanto à toxicidade, mas
    quanto aos seus efeitos no comportamento.
  • 12:43 - 12:46
    O conhecido antipsicótico Clorpromazina
  • 12:46 - 12:49
    primeiro descontraiu ratos
    e só depois pessoas.
  • 12:49 - 12:52
    O medicamento antidepressão Librium
  • 12:52 - 12:56
    foi administrado nos anos 50
    a gatos selecionados pela sua maldade
  • 12:56 - 12:59
    e transformou-os em felinos pacíficos.
  • 12:59 - 13:02
    Até houve antidepressivos que foram
    testados primeiro em coelhos.
  • 13:02 - 13:05
    Contudo, atualmente
    não estamos a dar essas drogas
  • 13:05 - 13:08
    a animais apenas como cobaias,
  • 13:08 - 13:10
    mas também como pacientes,
  • 13:10 - 13:14
    tanto a nível ético como
    a nível muito menos ético.
  • 13:15 - 13:19
    O SeaWorld dá medicamentos
    contra a ansiedade a orcas-mães
  • 13:19 - 13:21
    quando lhes retiram as suas crias.
  • 13:21 - 13:23
    Têm sido administrados
    antipsicóticos e antiansiolíticos
  • 13:23 - 13:26
    a muitos gorilas de zoológicos.
  • 13:26 - 13:28
    Mas a cães como o meu Oliver
  • 13:28 - 13:31
    damos antidepressivos e
    antiansiolíticos
  • 13:31 - 13:33
    para evitar que eles saltem de edíficios
  • 13:33 - 13:36
    ou saltem para o meio do tráfego.
  • 13:36 - 13:39
    Recentemente, foi publicado
    um estudo na "Science"
  • 13:39 - 13:41
    em que se mostrava que até os lagostins
  • 13:41 - 13:43
    reagiam à medicação contra a ansiedade.
  • 13:43 - 13:45
    Tornou-os mais corajosos, menos nervosos,
  • 13:45 - 13:48
    e mais aptos a explorarem
    o seu ambiente.
  • 13:48 - 13:50
    (Risos)
  • 13:50 - 13:53
    É difícil saber quantos animais
    estão sob o efeito dessas drogas,
  • 13:53 - 13:56
    mas posso dizer-vos que a
    indústria farmacêutica animal
  • 13:56 - 13:58
    é imensa e está a crescer,
  • 13:58 - 14:00
    de sete mil milhões de dólares em 2011
  • 14:00 - 14:04
    para 9 mil milhões, estimados para 2015.
  • 14:06 - 14:10
    Alguns animais estão constantemente
    sob o efeito de drogas.
  • 14:10 - 14:13
    Outros, como um bonobo
  • 14:13 - 14:15
    que vive no zoológico em Milwaukee
  • 14:15 - 14:18
    e que as usava até começar a
    guardar o Paxil que lhe receitavam
  • 14:18 - 14:21
    e a distribui-lo aos outros chimpanzés.
  • 14:21 - 14:23
    (Risos)
  • 14:25 - 14:28
    Contudo, mais do que os psicofarmacêuticos,
  • 14:28 - 14:31
    há muitas mais intervenções terapêuticas
  • 14:31 - 14:33
    que ajudam outras criaturas.
  • 14:33 - 14:35
    Este é um local em que julgo
  • 14:35 - 14:38
    que a medicina veterinária
    pode ensinar qualquer coisa
  • 14:38 - 14:40
    à medicina humana:
  • 14:40 - 14:41
    Ou seja, se levarmos o nosso cão
  • 14:41 - 14:43
    que persegue compulsivamente a sua cauda,
  • 14:43 - 14:45
    ao veterinário de comportamento,
  • 14:45 - 14:48
    a primeira coisa que ele faz
    não é passar uma receita;
  • 14:48 - 14:51
    é fazer-nos perguntas
    sobre a vida do nosso cão.
  • 14:51 - 14:54
    Ele quer saber quantas vezes
    o nosso cão sai à rua.
  • 14:54 - 14:56
    Quer saber com que frequência
    o cão faz exercício.
  • 14:56 - 14:58
    Quer saber quanto tempo social
  • 14:58 - 15:01
    o nosso cão passa com
    outros cães e outras pessoas.
  • 15:01 - 15:03
    Quer falar sobre que tipo de terapias,
  • 15:03 - 15:05
    sobretudo terapias de comportamento,
  • 15:05 - 15:07
    tentámos com esse animal.
  • 15:07 - 15:10
    Essas são as coisas que,
    segundo parece, ajudam mais,
  • 15:10 - 15:13
    especialmente quando
    combinadas com psicofármacos.
  • 15:13 - 15:16
    Contudo, aquilo que julgo que mais ajuda,
  • 15:16 - 15:17
    particularmente com animais sociais,
  • 15:17 - 15:20
    é o tempo despendido
    com outros animais sociais.
  • 15:22 - 15:24
    Em muitos aspetos, sinto-me como
    se me tivesse tornado num animal
  • 15:24 - 15:27
    ao serviço do meu cão.
  • 15:27 - 15:31
    Tenho visto papagaios fazê-lo por pessoas
  • 15:31 - 15:33
    e pessoas fazê-lo por papagaios.
  • 15:33 - 15:34
    Cães a fazê-lo por elefantes
  • 15:34 - 15:37
    e elefantes a fazê-lo por outros elefantes.
  • 15:38 - 15:39
    Não sei o que se passa com vocês.
  • 15:39 - 15:41
    Eu recebo muitas mensagem pela Internet
  • 15:41 - 15:43
    de amizades improváveis entre animais.
  • 15:43 - 15:47
    Também acho que aparece muito no Facebook:
  • 15:47 - 15:50
    o macaco que adota o gato
  • 15:50 - 15:55
    ou o grande cão dinamarquês
    que adotou o bambi órfão,
  • 15:55 - 15:58
    ou a vaca que estabelece
    amizade com um porco.
  • 15:58 - 16:01
    Se vocês me falassem disso
    há oito ou nove nove anos,
  • 16:01 - 16:04
    eu teria dito que vocês eram
    irremediavelmente sentimentais
  • 16:04 - 16:07
    e talvez demasiado antropomórficos
    no mau sentido.
  • 16:07 - 16:09
    Que isso era uma encenação.
  • 16:09 - 16:10
    O que agora vos posso dizer
  • 16:10 - 16:12
    é que há de facto qualquer coisa.
  • 16:13 - 16:14
    Isso é real.
  • 16:14 - 16:16
    De facto, alguns estudos interessantes
  • 16:16 - 16:18
    apontaram para os níveis de ocitocina,
  • 16:18 - 16:21
    que são um tipo de hormona ligadora
    que libertamos
  • 16:21 - 16:23
    quando estamos a fazer sexo
    ou a cuidar de bebés
  • 16:23 - 16:26
    ou perto de alguém com quem
    nos preocupamos muito.
  • 16:26 - 16:29
    Os níveis de ocitocina aumentam
    tanto nos homens como nos cães
  • 16:29 - 16:30
    que tomam conta um do outro
  • 16:30 - 16:31
    ou que gostam da companhia um do outro.
  • 16:31 - 16:33
    Além disso, outros estudos mostram
  • 16:33 - 16:36
    que a ocitocina também aumenta
    noutros pares de animais.
  • 16:36 - 16:40
    Nas cabras e nos cães
    que eram amigos e brincavam juntos,
  • 16:40 - 16:42
    os níveis subiram.
  • 16:44 - 16:46
    Tenho um amigo que me mostrou
  • 16:46 - 16:49
    que a saúde mental
    é uma rua com dois sentidos.
  • 16:49 - 16:53
    Chama-se Lonnie Hodge
    e é um veterano do Vietnam.
  • 16:53 - 16:56
    Quando regressou, começou a trabalhar
  • 16:56 - 16:58
    com sobreviventes do genocídio
  • 16:58 - 17:00
    e com muita gente
    que sofria de traumas de guerra.
  • 17:00 - 17:02
    Ele tinha TSPT e também
    tinha medo das alturas,
  • 17:02 - 17:05
    porque no Vietname tinha feito "rapel"
  • 17:05 - 17:07
    a partir de cabos presos em helicópteros.
  • 17:09 - 17:12
    Deram-lhe um cão de companhia
    chamado Gander, um labradoodle,
  • 17:12 - 17:15
    para ajudá-lo com o TSPT
    e o medo das alturas.
  • 17:15 - 17:17
    Aqui estão eles no primeiro dia
    em que se conheceram,
  • 17:17 - 17:19
    o que é espetacular.
  • 17:19 - 17:21
    A partir daí passaram muito tempo juntos,
  • 17:21 - 17:25
    a visitar outros veteranos
    que sofriam dos mesmos problemas.
  • 17:26 - 17:29
    O que é muito interessante
    na relação entre Lonnie e Gander
  • 17:29 - 17:31
    é que, após uns meses juntos,
  • 17:31 - 17:34
    Gander ficou afetado pelo medo das alturas,
  • 17:34 - 17:38
    provavelmente por estar
    a observar Lonnie tão de perto.
  • 17:38 - 17:42
    O que é mesmo giro é que ele continua
    a ser um cão de companhia fantástico,
  • 17:42 - 17:44
    porque agora, quando ambos
    estão a grandes alturas,
  • 17:44 - 17:48
    Lonnie está tão preocupado
    com o bem-estar de Gander
  • 17:48 - 17:52
    que até se esquece de ter medo das alturas.
  • 17:53 - 17:57
    Como gastei tanto tempo com estas histórias
  • 17:57 - 17:58
    a pesquisar nos arquivos,
  • 17:58 - 18:01
    — passei anos a fazer esta pesquisa —
  • 18:01 - 18:03
    isso mudou-me.
  • 18:03 - 18:08
    Já não olho para os animais
    ao nível da espécie.
  • 18:08 - 18:09
    Olho para eles como indivíduos.
  • 18:09 - 18:12
    Penso neles como criaturas
  • 18:12 - 18:13
    com os seus humores individuais,
  • 18:13 - 18:15
    a guiar o seu comportamento
  • 18:15 - 18:17
    e a condicionar a sua reação ao mundo.
  • 18:18 - 18:20
    Acredito realmente
  • 18:20 - 18:21
    que isto me tornou numa pessoa
  • 18:21 - 18:23
    mais curiosa e mais sensível,
  • 18:23 - 18:26
    tanto para os animais
    que dormem na minha cama
  • 18:26 - 18:28
    e que, de vez em quando,
    comem no meu prato,
  • 18:28 - 18:32
    como para as pessoas que eu conheço
  • 18:32 - 18:34
    que sofrem de ansiedade,
  • 18:34 - 18:37
    de fobias e de muitas outras coisas.
  • 18:37 - 18:39
    Acredito firmemente que,
  • 18:39 - 18:41
    muito embora não saibamos exatamente
  • 18:41 - 18:44
    o que vai na cabeça de um porco
  • 18:44 - 18:47
    ou do nosso cão ou do nosso parceiro,
  • 18:47 - 18:50
    isso não nos deverá impedir
    de simpatizar com eles.
  • 18:50 - 18:53
    A melhor coisa que podemos fazer
    aos nossos entes queridos
  • 18:53 - 18:56
    é, talvez, antropomorfizá-los.
  • 18:57 - 19:01
    O pai de Charles Darwin disse-lhe uma vez
  • 19:01 - 19:05
    que toda a gente podia
    perder a cabeça a certa altura.
  • 19:06 - 19:09
    Felizmente, quase sempre
    podemos voltar a encontrá-la,
  • 19:09 - 19:11
    mas apenas com a ajuda uns dos outros.
  • 19:11 - 19:12
    Obrigada.
  • 19:12 - 19:15
    (Aplausos)
Title:
Cães deprimidos, gatos com TOC (transtorno obsessivo-compulsivo) — o que a loucura animal significa para os seres humanos
Speaker:
Laurel Braitman
Description:

Por trás desses vídeos engraçados de animais, às vezes há problemas estranhos semelhantes aos problemas humanos. Laurel Braitman estuda animais que apresentam sinais de problemas mentais— desde ursos compulsivos a ratos auto-destruidores ou macacos com amigos improváveis. Braitman pergunta o que os seres humanos podem aprender observando animais que lidam com a depressão, a tristeza e outros problemas comuns ao homem.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
19:29
  • Linha 0:16 - a raça do cão deve ser "bernese" e não "Burmese"

    A revisão foi feita com correções para português do Brasil.

Portuguese subtitles

Revisions