Ir ao Polo Sul e voltar — os 105 dias mais difíceis da minha vida
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0:01 - 0:07No oásis de intelectualidade que é a TED,
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0:07 - 0:09estou aqui perante vocês esta noite
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0:09 - 0:14enquanto perito em arrastar coisas
pesadas em sítios frios. -
0:14 - 0:15(Risos)
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0:15 - 0:18Liderei expedições polares
a maior parte da minha vida adulta. -
0:18 - 0:22No mês passado, o meu colega
Tarka L'Herpiniere e eu -
0:22 - 0:27acabámos a expedição mais ambiciosa
que alguma vez tentei realizar. -
0:27 - 0:30Na verdade, parece que
fui transportado diretamente para aqui -
0:30 - 0:33depois de quatro meses
no meio do nada, -
0:33 - 0:38sobretudo a resmungar e a praguejar,
diretamente para o palco TED. -
0:38 - 0:42Podem imaginar que é uma transição
que não foi completamente fluida. -
0:42 - 0:43Um dos efeitos secundários
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0:43 - 0:47parece ser que a minha memória
de curto prazo se apagou totalmente. -
0:47 - 0:49Portanto, tive que escrever algumas notas
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0:49 - 0:53para evitar demasiados grunhidos
e palavrões nos próximos 17 minutos. -
0:53 - 0:56Esta é a primeira palestra
que dou sobre esta expedição, -
0:56 - 1:00e embora não estivéssemos
a sequenciar genomas -
1:00 - 1:02ou a construir telescópios espaciais,
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1:02 - 1:06esta é uma história sobre dar tudo
o que temos para alcançar algo -
1:06 - 1:08que nunca tinha sido alcançado.
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1:08 - 1:12Portanto espero que isto
vos dê que pensar. -
1:12 - 1:17Foi uma viagem,
uma expedição à Antártida, -
1:16 - 1:21o continente mais frio, ventoso, seco
e com maior altitude na Terra. -
1:21 - 1:23É um sítio fascinante.
É um sítio enorme. -
1:23 - 1:25Tem o dobro do tamanho da Austrália,
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1:25 - 1:30um continente do tamanho
da China e da Índia juntas. -
1:30 - 1:32Já agora, testemunhei
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1:32 - 1:34um fenómeno interessante
nos últimos dias, -
1:34 - 1:38algo que espero que o Chris Hadfield
apresente nas TED dentro de alguns anos, -
1:38 - 1:40conversas que são mais ou menos assim:
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1:40 - 1:42"Ah a Antártida. Fantástico.
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1:42 - 1:47"O meu marido e eu fomos lá
com o Lindblad no nosso aniversário." -
1:48 - 1:51Ou "Ah fixe, foste lá
por causa da maratona?" -
1:51 - 1:53(Risos)
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1:54 - 1:58A nossa viagem correspondeu,
de facto, a 69 maratonas, ida e volta, -
1:58 - 2:05em 105 dias, uma viagem completa
de 2900 km a pé, da costa da Antártida -
2:05 - 2:07até ao Polo Sul e depois voltar.
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2:07 - 2:09No processo, batemos o recorde
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2:09 - 2:15da maior viagem polar humana
da história, em mais de 600 km. -
2:15 - 2:18(Aplausos)
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2:19 - 2:22Para aqueles que são da área
de São Francisco, -
2:22 - 2:26foi o mesmo que caminhar
daqui até São Francisco, -
2:26 - 2:28depois voltar e caminhar outra vez.
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2:29 - 2:33No que diz respeito a viagens de campismo,
foi uma viagem grande, -
2:34 - 2:37que vi resumida muito sucintamente aqui,
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2:37 - 2:40nas páginas consagradas
do Business Insider Malaysia. -
2:40 - 2:43["Dois exploradores terminaram
uma expedição polar -
2:43 - 2:45[que matou toda a gente
da última vez que a tentaram"] -
2:45 - 2:47(Risos)
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2:47 - 2:49Chris Hadfield falou
com muita eloquência -
2:49 - 2:54sobre o medo e as possibilidades
de êxito e de sobrevivência. -
2:54 - 2:58Das nove pessoas na História que
tinham tentado esta viagem antes, -
2:58 - 3:01nenhuma tinha conseguido
chegar ao polo e voltar, -
3:01 - 3:04e cinco tinham morrido
durante o processo. -
3:05 - 3:07Este é o capitão Robert Falcon Scott.
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3:07 - 3:10Ele liderou a última equipa
que tentou realizar esta expedição. -
3:10 - 3:13O Scott e o seu rival,
Sir Ernest Shackleton, -
3:13 - 3:15ao longo de uma década,
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3:15 - 3:19lideraram expedições, lutando
para ver quem chegava lá primeiro, -
3:19 - 3:22para mapearem o interior da Antártida,
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3:22 - 3:25um lugar sobre o qual
sabíamos menos, na altura, -
3:25 - 3:26do que sobre a superfície da lua,
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3:26 - 3:29porque podíamos ver a lua
através de telescópios. -
3:29 - 3:33Na maior parte do século passado,
a Antártida não estava planificada. -
3:33 - 3:34Talvez conheçam a história.
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3:34 - 3:37A última expedição de Scott,
a expedição à Terra Nova em 1910, -
3:37 - 3:40começou como uma abordagem
de expedição gigante. -
3:40 - 3:42Ele tinha uma grande equipa
que usava póneis, -
3:42 - 3:45cães, tratores a gasolina,
-
3:45 - 3:48vários depósitos de comida
e combustível, preposicionados -
3:48 - 3:52com os quais a equipa de cinco pessoas
de Scott viajaria até ao Polo, -
3:52 - 3:55e voltaria para trás, de esquis,
até à costa outra vez, a pé. -
3:55 - 3:58O Scott e a sua equipa final de cinco
-
3:58 - 4:01chegaram ao Polo Sul em janeiro de 1912
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4:01 - 4:04e descobriram
que tinham sido ultrapassados -
4:04 - 4:06pela equipa norueguesa de Roald Amundsen,
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4:06 - 4:09que fora em trenós puxados por cães.
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4:09 - 4:11A equipa de Scott acabou a pé.
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4:11 - 4:14Durante mais de um século
esta viagem continuou inacabada. -
4:15 - 4:17A equipa de cinco de Scott
morreu na viagem de volta. -
4:18 - 4:20E na última década,
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4:20 - 4:22tenho-me perguntado porquê.
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4:23 - 4:26Como é que isto se manteve
enquanto fasquia elevada? -
4:26 - 4:29A equipa de Scott cobriu 2500 km a pé.
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4:29 - 4:30Ninguém chegou perto disso desde então.
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4:30 - 4:33Portanto esta é a fasquia
da resistência humana, -
4:33 - 4:36do trabalho humano,
da realização atlética humana -
4:36 - 4:39no que é, sem dúvida,
o clima mais duro na Terra. -
4:39 - 4:41Foi como se o recorde da maratona
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4:41 - 4:44se tivesse mantido desde 1912.
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4:44 - 4:49E, claro, uma combinação estranha
e previsível de curiosidade, -
4:49 - 4:51teimosia, e provavelmente arrogância
-
4:51 - 4:55levou-me a pensar que eu poderia ser
o homem a tentar acabar o trabalho. -
4:55 - 4:59Ao contrário da expedição de Scott,
éramos só dois. -
4:59 - 5:02Partimos da Costa da Antártida
em outubro do ano passado, -
5:02 - 5:04arrastando tudo nós próprios,
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5:04 - 5:07um processo a que Scott
chamou "arrasto humano". -
5:07 - 5:10Quando digo que foi como
ir e vir de São Francisco, -
5:10 - 5:13quero mesmo dizer arrastar algo
que pesa bem mais -
5:13 - 5:16do que o jogador mais pesado da NFL.
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5:16 - 5:18Os nossos trenós pesavam 200 kg,
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5:18 - 5:21carregados por cada um
de nós no início, -
5:21 - 5:25os mesmos pesos que os póneis
mais fracos de Scott puxaram. -
5:25 - 5:28No início, fazíamos
uma média de 800 m por hora. -
5:29 - 5:32Talvez seja a razão por que ninguém
tentou fazer esta viagem até hoje -
5:32 - 5:33em mais de um século:
-
5:33 - 5:37ninguém foi estúpido ao ponto de o tentar.
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5:38 - 5:41Embora não possa afirmar
que estávamos a explorar, -
5:41 - 5:44no genuíno e edwardiano sentido da palavra
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5:44 - 5:47— não estávamos a dar nomes a montanhas
nem a mapear vales inexplorados — -
5:47 - 5:51acho que estávamos a pisar território
inexplorado no sentido humano. -
5:52 - 5:55Certamente, se no futuro aprendermos
que há uma área do cérebro humano -
5:55 - 5:59que se acende quando uma pessoa
pragueja contra si própria, -
5:59 - 6:01não vou ficar nada surpreendido.
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6:02 - 6:06Diz-se que a média dos americanos passa
90% do tempo em espaços fechados. -
6:06 - 6:09Nós não estivemos
em espaços fechados durante quatro meses. -
6:09 - 6:11Também não vimos nenhum pôr-do-sol.
-
6:11 - 6:13Havia luz do sol durante 24 horas.
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6:13 - 6:15As condições de vida
eram bastante espartanas. -
6:15 - 6:20Mudei a minha roupa interior
três vezes em 105 dias -
6:20 - 6:24e o Tarka e eu partilhámos
uma tenda de 3 m2. -
6:24 - 6:29Apesar de termos tecnologia
que Scott nunca teria imaginado -
6:29 - 6:32— "blogámos" ao vivo cada acontecimento
na tenda através do portátil — -
6:32 - 6:34e um transmissor
de satélite feito à medida, -
6:34 - 6:36tudo alimentado a energia solar:
-
6:36 - 6:39tínhamos um painel fotovoltaico
flexível sobre a tenda, -
6:39 - 6:42a escrita era importante para mim.
-
6:42 - 6:48Quando era miúdo, ficava inspirado
pela literatura de aventura e exploração, -
6:48 - 6:51e acho que todos
vimos aqui esta semana -
6:51 - 6:55a importância e o poder
de contar histórias. -
6:55 - 6:57Tínhamos algum equipamento do século XXI,
-
6:57 - 7:00mas a verdade é que
os desafios que Scott enfrentou -
7:00 - 7:02foram os mesmos que nós enfrentámos:
-
7:02 - 7:06os do clima e os que
Scott chamava deslizamento, -
7:06 - 7:09a quantidade de fricção entre
os trenós e a neve. -
7:09 - 7:13O vento mais gelado que experimentámos
foi na ordem dos 55º C negativos. -
7:13 - 7:16Tínhamos zero visibilidade,
aquilo que se chama "branco total", -
7:16 - 7:18durante grande parte da nossa viagem.
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7:18 - 7:20Viajámos de um lado para o outro
-
7:20 - 7:23num dos maiores e mais perigosos
glaciares no mundo, -
7:23 - 7:24o glaciar Beardmore.
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7:24 - 7:26Tem 180 km de comprimento:
-
7:26 - 7:28a maior parte da superfície é gelo azul.
-
7:28 - 7:32Podem ver que é uma superfície azul
bonita, brilhante e dura como aço -
7:32 - 7:35coberta por milhares
e milhares de fendas, -
7:35 - 7:39estas falhas fundas no gelo glacial
até 60 m de profundidade. -
7:39 - 7:41Os aviões não podem aterrar aqui,
-
7:41 - 7:44portanto estávamos em risco máximo.
-
7:44 - 7:48Tecnicamente, tínhamos uma
hipótese mínima de sermos salvos. -
7:48 - 7:52Chegámos ao Polo Sul após 61 dias a pé,
-
7:52 - 7:54com um dia de folga devido ao mau tempo.
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7:55 - 7:57Tenho pena de dizer que foi
uma espécie de anticlímax. -
7:57 - 8:00Há uma base americana permanente,
-
8:00 - 8:02a estação do Polo Sul Amundsen-Scott.
-
8:02 - 8:05No Polo Sul há uma pista, há uma cantina,
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8:05 - 8:06há duches quentes,
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8:06 - 8:08há correios, uma loja de turistas,
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8:08 - 8:12um campo de basquetebol que também
pode ser uma sala de cinema. -
8:12 - 8:14Portanto é um pouco diferente hoje em dia,
-
8:14 - 8:16e também há hectares de lixo.
-
8:16 - 8:17Acho que é uma coisa maravilhosa
-
8:17 - 8:23os seres humanos poderem
subsistir 365 dias por ano -
8:23 - 8:27com hambúrgueres,
duches quentes e cinemas, -
8:26 - 8:29mas parece produzir
muitas caixas de cartão vazias. -
8:29 - 8:31Podem ver à esquerda desta fotografia,
-
8:31 - 8:32vários hectares de lixo
-
8:32 - 8:35à espera de serem retirados,
por avião, do Polo Sul. -
8:35 - 8:39Mas também há um polo no Polo Sul.
-
8:39 - 8:42Chegámos lá a pé, sem assistência,
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8:42 - 8:45sem apoio, pela rota mais difícil,
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8:45 - 8:461500 km em tempo recorde,
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8:46 - 8:48arrastando mais peso
do que alguém na História. -
8:48 - 8:51Se tivéssemos parado aí
e voltado de avião, -
8:51 - 8:53— o que teria sido
o mais sensato de fazer — -
8:53 - 8:56a minha palestra acabaria aqui
-
8:56 - 8:58e acabaria mais ou menos assim.
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8:59 - 9:04Se tiveres a equipa certa,
as ferramentas certas, a tecnologia certa, -
9:04 - 9:08e se tiveres autoconfiança
e determinação suficientes, -
9:08 - 9:10então tudo é possível.
-
9:13 - 9:15Mas foi aí que nós voltámos,
-
9:15 - 9:18e foi aí que as coisas
começaram a ficar interessantes. -
9:18 - 9:20Bem no cimo do planalto do Antártico,
-
9:20 - 9:22a mais de 3000 m de altitude,
-
9:22 - 9:25é muito ventoso, muito frio,
muito seco, estávamos exaustos. -
9:25 - 9:27Tínhamos feito 35 maratonas,
-
9:27 - 9:28estávamos apenas a meio caminho.
-
9:28 - 9:30Tínhamos uma rede
de segurança, claro, -
9:30 - 9:33de aviões esquiadores
e de telefones satélite, -
9:33 - 9:37faróis de monitorização constante
que não existiam no tempo de Scott -
9:37 - 9:38mas, em retrospetiva,
-
9:38 - 9:40em vez de tornar a nossa vida mais fácil,
-
9:40 - 9:46a rede de segurança deixou-nos
muito pouco espaço, -
9:46 - 9:50para nos aproximarmos dos nossos
limites absolutos enquanto seres humanos. -
9:50 - 9:54É uma extraordinária forma de tortura
-
9:54 - 9:57ficar exausto ao ponto
de passar fome dia após dia -
9:57 - 10:00e arrastar um trenó cheio de comida.
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10:01 - 10:05Durante anos, tenho escrito frases
eloquentes em propostas de patrocínio -
10:05 - 10:08sobre esticar os limites
da resistência humana, -
10:08 - 10:12mas, na verdade, era um lugar
mesmo muito assustador para se estar. -
10:12 - 10:14Antes de chegarmos ao Polo,
-
10:14 - 10:17tivemos duas semanas de vento
quase permanente, o que nos atrasou. -
10:17 - 10:20Por isso, tínhamos passado
vários dias a comer meias rações. -
10:20 - 10:23Tínhamos uma quantidade finita
de comida para a viagem, -
10:23 - 10:25portanto estávamos a tentar esticá-la
-
10:25 - 10:28reduzindo o nosso consumo para
metade das calorias que devíamos ingerir. -
10:29 - 10:32Consequentemente, tornámo-nos
cada vez mais hipoglicémicos -
10:32 - 10:35— tínhamos níveis de açúcar no sangue
cada vez mais baixos — -
10:35 - 10:39e incrivelmente suscetíveis
ao frio extremo. -
10:40 - 10:42O Tarka tirou-me esta foto numa tarde
-
10:42 - 10:45depois de eu quase
ter desmaiado com hipotermia. -
10:45 - 10:49Ambos tivemos várias fases de hipotermia,
algo que nunca tinha experimentado. -
10:49 - 10:51Foi uma coisa muito humilhante.
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10:51 - 10:54Por muito que gostem de pensar
— tal como eu gosto — -
10:54 - 10:57que somos o tipo de pessoa
que não desiste, -
10:57 - 10:59que vai dar luta,
-
10:59 - 11:01a hipotermia não vos dá muitas escolhas.
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11:01 - 11:04Ficamos completamente incapacitados.
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11:04 - 11:06É como se fôssemos um bebé bêbedo.
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11:07 - 11:09Tornamo-nos patéticos.
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11:09 - 11:13Lembro-me de só querer
deitar-me e desistir. -
11:13 - 11:15Foi um sentimento muito peculiar
-
11:15 - 11:19e uma verdadeira surpresa para mim
estar debilitado àquele ponto. -
11:20 - 11:25Foi então que ficámos
completamente sem comida, -
11:25 - 11:28a cerca de 70 km do primeiro depósito
-
11:28 - 11:30que tínhamos deixado
na nossa viagem de ida. -
11:30 - 11:32Tínhamos deixado 10 depósitos de comida,
-
11:32 - 11:35com comida e combustível,
para a viagem de volta -
11:35 - 11:38— o combustível era para um fogão
para derreter neve e obter água. -
11:38 - 11:43Fui obrigado a tomar a decisão
de chamar um avião para reabastecimento, -
11:43 - 11:46um avião esquiador
que carregava comida para oito dias -
11:46 - 11:48para nos abastecer durante essa falha.
-
11:48 - 11:52Foram 12 horas até nos alcançarem
a partir do outro lado da Antártida. -
11:52 - 11:55Chamar aquele avião foi uma das
decisões mais difíceis da minha vida. -
11:55 - 11:58Pareço um pouco uma fraude
ao estar aqui com esta barriga. -
11:58 - 12:01Ganhei 14 kg nas últimas três semanas.
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12:01 - 12:04Ficar tão esfomeado deixou-me
uma cicatriz mental interessante, -
12:04 - 12:09que é correr todos os bufetes de hotel
que consigo encontrar. -
12:09 - 12:11(Risos)
-
12:11 - 12:16Mas estávamos genuinamente esfomeados,
e em muito mau estado. -
12:16 - 12:19Não me arrependo nada
de ter chamado aquele avião, -
12:19 - 12:21porque estou aqui vivo,
-
12:21 - 12:23com os dedos intactos,
a contar esta história. -
12:23 - 12:28Mas receber assistência externa assim
nunca fez parte do plano, -
12:28 - 12:31e é algo com que o meu ego
ainda se debate. -
12:31 - 12:34Este era o maior sonho que já tive,
-
12:34 - 12:36e foi quase perfeito.
-
12:37 - 12:39No caminho de volta à costa,
-
12:39 - 12:41os nossos grampões
— os picos nas nossas botas -
12:41 - 12:44que temos para viajar sobre
este gelo azul no glaciar — -
12:44 - 12:45partiram-se no topo de Beardmore.
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12:45 - 12:47Ainda tínhamos 160 km para descer
-
12:47 - 12:49em gelo azul duro e bastante escorregadio.
-
12:49 - 12:52Precisavam de ser arranjados
quase a toda a hora. -
12:52 - 12:54Para vos dar uma ideia da escala,
-
12:54 - 12:57isto é a vista de cima
da entrada do glaciar Beardmore. -
12:57 - 13:00Podiam encaixar Manhattan
no espaço do horizonte. -
13:00 - 13:03São 32 km entre o
Mount Hope e o Mount Kiffin. -
13:03 - 13:08Nunca me senti tão pequeno
como na Antártida. -
13:10 - 13:12Quando chegámos à entrada do glaciar,
-
13:12 - 13:16descobrimos que a neve tinha ocultado
as dezenas de profundas fendas. -
13:16 - 13:20Um dos homens de Shackleton descreveu
a travessia deste terreno -
13:20 - 13:24como andar num telhado de vidro
de uma estação ferroviária. -
13:25 - 13:27Caímos mais vezes do que me lembro,
-
13:27 - 13:31geralmente apenas pondo um ski
ou uma bota através da neve. -
13:31 - 13:33Ocasionalmente caíamos até
ao nível das nossas axilas, -
13:33 - 13:36mas felizmente nunca
mais fundo que isso. -
13:37 - 13:41E há menos de cinco semanas,
após 105 dias, -
13:41 - 13:45atravessámos esta linha de chegada
estranhamente desadequada, -
13:45 - 13:48a costa de Ross Island no lado
neozelandês da Antártida. -
13:48 - 13:50Podem ver o gelo no primeiro plano
-
13:50 - 13:53e a rocha meio destruída por trás.
-
13:53 - 13:56Para trás deixávamos um rasto de
esqui de cerca de 2900 km. -
13:56 - 13:59Tínhamos feito a maior
viagem polar a pé, -
13:59 - 14:02algo que tinha sonhado
fazer durante uma década. -
14:03 - 14:05Olhando em retrospetiva,
-
14:05 - 14:07ainda me mantenho firme
-
14:07 - 14:09sobre tudo o que tenho dito há anos
-
14:09 - 14:11sobre a importância dos objetivos,
-
14:11 - 14:15a determinação e a autoconfiança,
-
14:15 - 14:20mas também devo admitir que não
tinha pensado muito no que acontece -
14:20 - 14:23quando atingimos o desgastante objetivo
-
14:23 - 14:26a que dedicámos a maior parte
da nossa vida adulta. -
14:27 - 14:30A verdade é que ainda
estou a tentar compreendê-lo. -
14:30 - 14:34Tal como disse, há muito poucos sinais
superficiais de que estive longe. -
14:34 - 14:35Ganhei 14 kg.
-
14:35 - 14:39Tenho cicatrizes muito leves
das queimaduras do frio bem maquilhadas. -
14:39 - 14:42Tenho uma no nariz, uma em cada bochecha
por causa dos óculos de proteção -
14:42 - 14:47mas, por dentro, sou realmente
uma pessoa bastante diferente. -
14:48 - 14:50Se for honesto,
-
14:50 - 14:55a Antártida desafiou-me
e tornou-me tão humilde -
14:55 - 14:58que não sei se alguma vez
vou conseguir expressar isso. -
14:59 - 15:03Estou a tentar juntar
os meus pensamentos. -
15:03 - 15:06O facto de estar aqui
a contar esta história -
15:06 - 15:11é a prova de que podemos
alcançar grandes feitos, -
15:11 - 15:13através da ambição, através da paixão,
-
15:13 - 15:15através de teimosia pura,
-
15:15 - 15:17ao recusar-nos a desistir.
-
15:17 - 15:20Se sonharmos muito com uma coisa,
tal como disse Sting, -
15:20 - 15:23ela acabará por acontecer.
-
15:23 - 15:26Mas também estou aqui a dizer,
sabem que mais? -
15:26 - 15:32Aquele cliché sobre a viagem ser
mais importante do que o destino final? -
15:32 - 15:35Há algo de verdade nisso.
-
15:36 - 15:38Quanto mais me aproximava do fim,
-
15:38 - 15:41daquela costa cheia de entulho
e rochosa de Ross Island, -
15:42 - 15:45mais começava a perceber
que a maior lição -
15:45 - 15:50que esta caminhada muito longa
e difícil poderia ensinar-me -
15:50 - 15:53é que a felicidade não é um final em si.
-
15:53 - 15:55Para nós, seres humanos,
-
15:55 - 15:58a perfeição com que
tantos de nós parecemos sonhar -
15:58 - 16:01poderá nunca ser atingível
-
16:02 - 16:06e, se não conseguirmos satisfação
-
16:06 - 16:11aqui, hoje, agora, nas nossas viagens
-
16:11 - 16:15no meio da confusão e dos esforços
que todos experimentamos, -
16:15 - 16:18dos circuitos abertos,
das listas de tarefas inacabadas, -
16:18 - 16:21do "para a próxima faço melhor",
-
16:21 - 16:23poderemos nunca o sentir.
-
16:24 - 16:28Muitas pessoas perguntaram-me:
"O que se segue?" -
16:28 - 16:31Neste momento, estou muito feliz
só a recuperar -
16:31 - 16:34e em frente a bufetes de hotel.
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16:34 - 16:36(Risos)
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16:36 - 16:39Mas como disse Bob Hope,
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16:39 - 16:41sinto-me muito humilde,
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16:41 - 16:44mas acho que tenho a força
de carácter para lutar contra isso. -
16:44 - 16:45(Risos)
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16:45 - 16:47Obrigado.
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16:47 - 16:50(Aplausos)
- Title:
- Ir ao Polo Sul e voltar — os 105 dias mais difíceis da minha vida
- Speaker:
- Ben Saunders
- Description:
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Este ano, o explorador Ben Saunders tentou realizar a sua caminhada mais ambiciosa até então. Decidiu completar a fracassada expedição polar do Capitão Robert Falcon Scott em 1912 - uma viagem de ida e volta com 2900 km, que durou quatro meses desde a ponta da Antártica até ao Polo Sul. Na primeira palestra realizada desde a sua aventura, apenas cinco semanas desde o seu regresso, Saunders oferece-nos uma visão crua e honesta desta missão tingida pela "arrogância" que lhe trouxe a decisão mais difícil da sua vida.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 17:04
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