Trazendo neurônios de volta pra casa| Jocelyne Bloch | TEDxCHUV
-
0:15 - 0:17Gostaria de compartilhar com vocês
-
0:17 - 0:23uma experiência muito interessante
que tive como neurocirurgiã. -
0:24 - 0:29Sou neurocirurgiã, e diariamente
tenho de lidar com tragédias humanas. -
0:30 - 0:36É terrível ver pessoas
após um acidente de carro ou um AVC. -
0:37 - 0:40Se grande parte do cérebro for destruída,
-
0:40 - 0:46infelizmente o sistema nervoso central
tem pouca capacidade de se autorregenerar. -
0:46 - 0:51Um dos meus sonhos na neurocirurgia
sempre foi tentar devolver uma função -
0:52 - 0:53a alguém que a perdeu.
-
0:53 - 0:56Porque as pessoas
ficam com severas sequelas -
0:56 - 1:00e é chocante ver isso todos os dias.
-
1:00 - 1:03Deve ter sido por isso
que escolhi a especialidade -
1:03 - 1:05chamada neurocirurgia funcional.
-
1:05 - 1:07Os neurocirurgiões funcionais
-
1:07 - 1:13tentam devolver ou melhorar as funções
através de estratégias cirúrgicas, -
1:13 - 1:17tais como a estimulação cerebral
profunda, que é a mais famosa. -
1:19 - 1:20Assim, há 14 anos
-
1:21 - 1:25participei de uma grande descoberta
-
1:25 - 1:27que, na minha opinião,
-
1:27 - 1:30poderia ter um impacto importante
na recuperação dos pacientes -
1:30 - 1:34após um grave dano
ao sistema nervoso central. -
1:34 - 1:37E é esta história
que quero lhes contar hoje. -
1:37 - 1:40Antes de começar,
-
1:41 - 1:46preciso lhes apresentar
dois atores muito importantes, -
1:46 - 1:51sem os quais essa história
não teria acontecido. -
1:52 - 1:55O primeiro não está aqui.
-
1:55 - 1:57Vocês vão entender o motivo.
-
1:57 - 2:01Não é esta vaca aqui,
mas ela está representando a prima. -
2:02 - 2:04A vaca da América do Sul.
-
2:04 - 2:08Sem o soro do sangue dela,
-
2:08 - 2:12não teria sido possível
cultivar células cerebrais. -
2:13 - 2:18O segundo ator não está aqui,
mas também não está pastando. -
2:18 - 2:23É o meu grande amigo e colaborador,
o biólogo Jean-François Brunet, -
2:23 - 2:27sem cuja combatividade e paciência
-
2:27 - 2:31jamais teríamos conseguido
cultivar células cerebrais. -
2:32 - 2:34Mas vamos voltar à história.
-
2:35 - 2:41Imaginem que, cerca de 14 anos atrás,
-
2:41 - 2:43eu era a chefe dos residentes
em neurocirurgia. -
2:43 - 2:49Os chefes residentes trabalham muito,
lidando com várias emergências. -
2:49 - 2:54Às vezes, nessas emergências,
é preciso remover parte do cérebro. -
2:55 - 2:58Não por diversão, mas porque,
após um acidente de carro, -
2:58 - 3:02o cérebro incha e é preciso
fazer uma craniectomia; -
3:02 - 3:05caso contrário, o paciente morre.
-
3:05 - 3:07Às vezes, temos de remover
um pedaço do cérebro. -
3:08 - 3:11Assim, no laboratório do biólogo
Jean-François, pensamos: -
3:11 - 3:13"Por que não tentamos fazer algo
-
3:13 - 3:18com esses pedaços de cérebro
que tantas vezes temos de extrair?". -
3:18 - 3:20Jean-François, com sua paciência, disse:
-
3:20 - 3:23"Tenho certeza de que vamos fazer
algo muito interessante com isso". -
3:23 - 3:26Ele tentou com diferentes tipos de soro.
-
3:26 - 3:30Finalmente, após várias tentativas,
-
3:30 - 3:34no soro da vaca de que lhes falei,
-
3:34 - 3:38ele um dia viu isto no microscópio.
-
3:39 - 3:43E o importante aqui é perceber
que esse tipo de cultura -
3:44 - 3:48se parece muito com a de células-tronco.
-
3:48 - 3:51Mas notem também que,
naquela época, 14 anos atrás, -
3:51 - 3:57pensava-se que as únicas células-tronco
do sistema nervoso central -
3:57 - 4:03estavam localizadas no fundo do cérebro,
em dois nichos muito pequenos. -
4:03 - 4:07Mas Jean-François observou que,
em todos tipos de amostra do córtex, -
4:07 - 4:12se via esse tipo de célula,
o que era incrível. -
4:12 - 4:16E o que notamos nesse tipo de células
-
4:16 - 4:18é que as células verdes
aqui são astrócitos, -
4:18 - 4:23células que sustentam
os neurônios no cérebro normal. -
4:23 - 4:27Dentro dessas pequenas células redondas
estão neurônios imaturos, -
4:27 - 4:31pequenas células imaturas que podem
se transformar em células maduras. -
4:32 - 4:36Na época, quando mostramos isso
às pessoas, elas disseram: -
4:36 - 4:39"Não é possível haver células-tronco
nesse tipo de cultura do córtex. -
4:40 - 4:45Vocês devem ter trazido células-tronco
do córtex para a cultura". -
4:45 - 4:49Dissemos que não, porque elas não
se comportam como as células-tronco. -
4:49 - 4:53Elas se dividem muito mais lentamente
e nunca formam tumores. -
4:53 - 4:56Também são mais indolentes
-
4:56 - 5:02e, após um período de 10 ou 15 semanas
de cultura, elas morrem. -
5:02 - 5:06Não estão sempre se renovando.
-
5:06 - 5:12Finalmente, entendemos
de onde vinham essas células, -
5:12 - 5:15pois não vinham das células-tronco,
-
5:15 - 5:18mas dessas pequenas células azuis aqui.
-
5:19 - 5:21Todos vocês têm essas células no cérebro.
-
5:21 - 5:24Isso foi descoberto recentemente.
-
5:25 - 5:30Elas têm o nome de células
corticais duplas positivas. -
5:30 - 5:33E existem em abundância em fetos,
-
5:33 - 5:38pois ajudam na formação
dos sulcos do córtex. -
5:39 - 5:45Nosso córtex é como uma estrutura cheia
de dobras, e essas células ajudam nisso. -
5:45 - 5:49Pensávamos que nos adultos
elas desapareciam, -
5:49 - 5:53mas descobrimos recentemente que não.
-
5:53 - 5:58E 4% das nossas células corticais
são células corticais duplas positivas. -
5:58 - 6:00Não sabemos para que servem.
-
6:01 - 6:02Nem o que são.
-
6:02 - 6:06Será que nos ajudam quando temos
uma lesão? Não se sabe ao certo. -
6:06 - 6:08Mas o que sabemos
é que, a partir dessas células, -
6:08 - 6:11conseguimos essa cultura que lhes mostrei.
-
6:13 - 6:16Obviamente, quando biólogos
trabalham com neurocirurgiões, -
6:16 - 6:18os neurocirurgiões são muito pragmáticos:
-
6:18 - 6:22"Nossa, é uma grande fonte de células.
Podemos fazer alguma coisa". -
6:22 - 6:25Eu lhes disse que estamos muito frustrados
-
6:25 - 6:29com a pouca capacidade de o sistema
nervoso central se autorregenerar. -
6:29 - 6:33Talvez tivéssemos encontrado algo
que ajudasse nossos pacientes. -
6:36 - 6:40Pensamos um pouco e tivemos uma ideia.
-
6:41 - 6:45Fazer a biópsia de um indivíduo,
-
6:46 - 6:48pois sabemos como se faz,
-
6:48 - 6:53colocar as células numa cultura,
também sabemos como se faz, -
6:53 - 6:55fazer a marcação das células,
-
6:55 - 6:59e depois reimplantá-las
em outro lugar do cérebro. -
7:01 - 7:02Ótimo. Vamos fazer isso.
-
7:02 - 7:05Claro que não se pode fazer isso
de cara em humanos. -
7:05 - 7:11Todos sabemos que tem
de ser feito antes numa cobaia. -
7:11 - 7:18Mas, infelizmente, os roedores não têm
essas células corticais duplas no córtex. -
7:18 - 7:21Não sabemos por que,
mas isso não nos ajuda. -
7:22 - 7:26Então tivemos de encontrar
outro tipo de animal com que trabalhar. -
7:26 - 7:28Felizmente encontramos...
-
7:28 - 7:32eu já o conhecia, era meu amigo
e acreditava na nossa ideia, -
7:32 - 7:36Eric Rouiller, professor
de fisiologia em Friburgo, -
7:36 - 7:39que tem o maior centro
com macacos da Suíça, -
7:39 - 7:41e ele nos ajudou.
-
7:41 - 7:45Ele disse: "A ideia é ótima,
e acredito no que vocês estão fazendo. -
7:45 - 7:48Experimentem com esses dois macacos".
-
7:49 - 7:51Ficamos bem empolgados.
-
7:51 - 7:52Primeiro, pudemos provar
-
7:52 - 7:55que podíamos fazer exatamente
a mesma cultura como a dos humanos, -
7:55 - 7:59pois os macacos têm exatamente
a mesma composição celular que temos. -
7:59 - 8:03Depois, fizemos a cultura de células,
a marcação e o reimplante. -
8:03 - 8:06A nossa primeira pergunta foi:
-
8:06 - 8:12como estas células vão se comportar
se reimplantadas num cérebro normal? -
8:12 - 8:19E no que se tornarão se reimplantadas
numa lesão ou perto de uma lesão? -
8:20 - 8:26Interessante foi que, quando reimplantadas
num cérebro normal, elas desaparecem. -
8:26 - 8:31É como numa biópsia,
quando retiramos as células da casa delas, -
8:31 - 8:35colocamos na cultura,
reimplantamos nos mesmos indivíduos -
8:35 - 8:38para que não haja resposta imune.
-
8:38 - 8:42Elas sabem que estão ali,
mas veem que o espaço já está ocupado, -
8:42 - 8:45e dizem: "Não precisam
de mim aqui, então tchau, fui". -
8:45 - 8:49Mas, se as implantamos perto de uma lesão,
-
8:49 - 8:52aí voltam pra casa e dizem:
"Tem um espaço vazio", -
8:53 - 8:55e começam a se acomodar.
-
8:55 - 8:58Isso leva um mês, um mês e meio,
-
8:58 - 9:02e aí começam a crescer
até virarem neurônios adultos. -
9:02 - 9:07Foi exatamente isso que vimos três meses
após um reimplante perto de uma lesão. -
9:07 - 9:11Essas células vermelhas
são as que reimplantamos. -
9:11 - 9:15Vejam que não são mais células pequenas
como as que mostrei no início, -
9:15 - 9:19são pequenos neurônios com axônios.
-
9:19 - 9:22Parece que recolonizaram a área.
-
9:24 - 9:28Também provamos facilmente
que essas eram as mesmas células -
9:28 - 9:32que usamos na cultura,
pois pode-se ver aqui -
9:35 - 9:38o corante vermelho que usamos na cultura,
-
9:39 - 9:43enquanto o verde é o marcador
para os neurônios maduros. -
9:44 - 9:48Podem ver que essas duas células
têm dupla marcação: -
9:48 - 9:50significa que são verdes e vermelhas.
-
9:50 - 9:54Isso significa que são neurônios maduros
que estavam na cultura -
9:54 - 9:57como neurônios imaturos,
e se transformaram em neurônios maduros. -
9:58 - 10:00E agora qual é o próximo passo?
-
10:00 - 10:04Um neurocirurgião vai querer saber
quais as implicações disso. -
10:04 - 10:07Está dando certo?
É bom ter essas células aí? -
10:08 - 10:10Então fizemos o seguinte:
-
10:10 - 10:16treinamos alguns macacos
para fazerem uma tarefa específica, -
10:16 - 10:20que era pegar pelotas de comida
numa gaveta ou bandeja. -
10:20 - 10:22E eles ficaram muito bons nisso.
-
10:22 - 10:26Levou algum tempo para aprenderem bem.
-
10:26 - 10:29E eles atingiram
um bom nível de desempenho. -
10:30 - 10:34Quando apresentaram constância
nesse nível de desempenho, -
10:34 - 10:39fizemos uma pequena lesão no córtex motor
-
10:39 - 10:43correspondente ao movimento da mão.
-
10:43 - 10:46Claro que logo depois disso
eles ficaram paralisados, -
10:46 - 10:50não conseguiam mais mover o braço
e não podiam realizar a tarefa. -
10:50 - 10:53Mas a natureza é uma beleza.
-
10:53 - 10:56Podemos nos recuperar espontaneamente,
-
10:56 - 11:00provavelmente devido à espasticidade,
-
11:00 - 11:04e melhoramos o desempenho,
mas só até certo ponto. -
11:04 - 11:09Então, eles conseguiam fazer alguma coisa,
mas não tão bem como antes. -
11:10 - 11:16Nessa fase, fizemos a biópsia,
a cultura e reimplantamos. -
11:16 - 11:18E o que vimos...
-
11:18 - 11:23acho que essa imagem é melhor
que qualquer gráfico... -
11:25 - 11:27Podem ver que à esquerda
-
11:28 - 11:32está o macaco no final
da sua recuperação espontânea. -
11:32 - 11:36Foi o máximo que conseguiu recuperar.
-
11:37 - 11:41À direita, dois meses após o reimplante.
-
11:42 - 11:45Todos os macacos com o reimplante
-
11:45 - 11:50tiveram melhor desempenho
do que os que não receberam reimplante. -
11:53 - 11:56Bem, acho que essa é uma boa história.
-
11:56 - 11:57(Risos)
-
11:58 - 12:00E agora, qual será o próximo passo?
-
12:00 - 12:03Obviamente, temos vários experimentos
concluídos, com diferentes animais, -
12:03 - 12:06e já compreendemos
muitas coisas desde então. -
12:06 - 12:11Mesmo assim, o meu objetivo, como disse
no início, é aplicar tudo isso em humanos. -
12:14 - 12:17Tenho de dizer que o entusiasmo
diminui um pouco -
12:17 - 12:23quando nos damos conta de como é difícil
passar por todo o processo -
12:23 - 12:29e conseguir autorização
para realizar testes em humanos. -
12:29 - 12:33Mas espero conseguir fazer isso
antes de me aposentar. -
12:33 - 12:34(Risos)
-
12:34 - 12:37Muito obrigada pela atenção.
-
12:37 - 12:40(Aplausos)
- Title:
- Trazendo neurônios de volta pra casa| Jocelyne Bloch | TEDxCHUV
- Description:
-
Essa palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx.
Dá pra imaginar que as células do nosso cérebro, após uma jornada no laboratório, podem "voltar pra casa" com a missão de ajudar o cérebro a se recuperar após uma lesão?
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 12:50
Raissa Mendes approved Portuguese, Brazilian subtitles for Bringing brain cells back home | Jocelyne Bloch | TEDxCHUV | ||
Raissa Mendes edited Portuguese, Brazilian subtitles for Bringing brain cells back home | Jocelyne Bloch | TEDxCHUV | ||
Raissa Mendes edited Portuguese, Brazilian subtitles for Bringing brain cells back home | Jocelyne Bloch | TEDxCHUV | ||
Raissa Mendes edited Portuguese, Brazilian subtitles for Bringing brain cells back home | Jocelyne Bloch | TEDxCHUV | ||
Raissa Mendes edited Portuguese, Brazilian subtitles for Bringing brain cells back home | Jocelyne Bloch | TEDxCHUV | ||
Raissa Mendes edited Portuguese, Brazilian subtitles for Bringing brain cells back home | Jocelyne Bloch | TEDxCHUV | ||
Raissa Mendes edited Portuguese, Brazilian subtitles for Bringing brain cells back home | Jocelyne Bloch | TEDxCHUV | ||
Raissa Mendes edited Portuguese, Brazilian subtitles for Bringing brain cells back home | Jocelyne Bloch | TEDxCHUV |