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Porque é que um bom livro é uma porta secreta

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    Olá a todos. Chamo-me Mac.
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    O meu trabalho é mentir às crianças,
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    mas são mentiras honestas.
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    Escrevo livros para crianças.
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    Há uma citação de Pablo Picasso:
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    "Todos sabemos que a Arte não é a verdade,
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    "A Arte é uma mentira
    que nos permite conhecer a verdade
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    "ou, pelo menos, a verdade
    que nos é dado entender.
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    "O artista tem que saber qual a maneira
  • 0:26 - 0:30
    "de convencer os outros
    da verdade das suas mentiras".
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    Ouvi isto pela primeira vez
    quando era criança
  • 0:33 - 0:35
    e adorei,
  • 0:35 - 0:37
    mas não sabia o que significava.
  • 0:37 - 0:39
    (Risos)
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    Sabem que mais?
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    É por isso que estou hoje
    aqui a falar convosco,
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    sobre verdade e mentiras,
    ficção e realidade.
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    Como é que eu consegui desenredar
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    este intrincado feixe de frases?
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    Pensei, tenho o PowerPoint,
    toca a fazer um diagrama Venn.
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    [verdade — mentiras]
  • 0:54 - 0:55
    (Risos)
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    Cá está ele, aqui mesmo, bum!
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    Temos "verdade" e "mentiras"
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    e depois há este pequeno espaço,
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    o sobreposto, no meio.
  • 1:02 - 1:04
    Este espaço liminar, é a arte.
  • 1:04 - 1:08
    (Risos)
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    (Aplausos)
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    Diagrama Venn.
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    Mas também não ajuda muito.
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    A coisa que me fez compreender
  • 1:20 - 1:23
    aquela citação e qual era o tipo de arte,
  • 1:23 - 1:25
    — pelo menos a arte da ficção —
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    foi trabalhar com crianças.
  • 1:27 - 1:29
    Fui monitor de campos de férias.
  • 1:29 - 1:31
    Fazia isso nas minhas férias
    de verão da faculdade
  • 1:31 - 1:33
    e adorava.
  • 1:35 - 1:36
    Era um campo de férias desportivo
  • 1:36 - 1:38
    para crianças dos quatro aos cinco anos.
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    Eu tinha os miúdos de quatro anos,
  • 1:40 - 1:41
    o que era bom,
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    porque os de quatro anos não podem
    fazer desporto, e eu também não.
  • 1:45 - 1:47
    (Risos)
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    Faço desporto ao nível de quatro anos.
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    O que acontecia é que as crianças
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    driblavam uns cones,
    e ficavam cheios de calor.
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    Depois iam sentar-se debaixo das árvores
  • 1:58 - 1:59
    onde eu já estava sentado.
  • 1:59 - 2:01
    (Risos)
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    Eu inventava histórias e contava-lhas.
  • 2:02 - 2:04
    Contava-lhes histórias da minha vida.
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    Contava-lhes como, aos fins de semana,
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    eu ia para casa e espiava
    para a Rainha de Inglaterra.
  • 2:09 - 2:10
    (Risos)
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    Em breve, outros miúdos
  • 2:13 - 2:15
    que não pertenciam
    ao meu grupo de crianças,
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    vinham para o pé de mim e diziam:
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    "És o Mac Barnett, não és?
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    "És o tipo que espia
    para a Rainha de Inglaterra".
  • 2:22 - 2:25
    Toda a vida fiquei à espera
    que aparecessem desconhecidos
  • 2:25 - 2:27
    e me fizessem esta pergunta.
  • 2:27 - 2:29
    Na minha imaginação,
    seriam russas esbeltas,
  • 2:29 - 2:30
    mas eram apenas miúdos
    de quatro anos
  • 2:30 - 2:34
    — em Berkeley, na Califórnia,
    é o que podemos arranjar.
  • 2:35 - 2:40
    Percebi que as histórias
    que eu contava eram reais,
  • 2:40 - 2:43
    porque me eram muito familiares
  • 2:43 - 2:44
    e muito excitantes.
  • 2:44 - 2:46
    Acho que o cúmulo, para mim
    — nunca esquecerei —
  • 2:46 - 2:48
    foi uma miúda chamada Riley.
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    Era muito pequenina e
    todos os dias almoçava
  • 2:51 - 2:54
    e deitava fora a fruta.
  • 2:54 - 2:55
    Agarrava na fruta
  • 2:55 - 2:57
    — a mãe mandava sempre um melão —
  • 2:57 - 2:58
    e ela deitava-o fora para as ervas.
  • 2:58 - 3:01
    Depois comia aperitivos
    de fruta e pudins.
  • 3:01 - 3:02
    E eu:
  • 3:02 - 3:06
    "Riley, não podes fazer isso,
    tens que comer a fruta".
  • 3:06 - 3:08
    E ela: "Porquê?"
  • 3:08 - 3:10
    E eu: "Porque, se atiras
    a fruta para as ervas,
  • 3:10 - 3:13
    "em breve, ela vai ficar cheia de melões".
  • 3:13 - 3:15
    Acho que foi por isso que acabei
  • 3:15 - 3:17
    por contar histórias às crianças
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    em vez de ser um nutricionista
    de crianças.
  • 3:21 - 3:23
    E Riley: "Isso nunca vai acontecer.
  • 3:23 - 3:24
    "Não vai acontecer".
  • 3:24 - 3:27
    Assim, no último dia do acampamento,
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    levantei-me cedo e arranjei
    um grande melão
  • 3:30 - 3:32
    na mercearia
  • 3:32 - 3:34
    e escondi-o nas ervas.
  • 3:34 - 3:35
    Depois, à hora do almoço, disse:
  • 3:35 - 3:39
    "Riley, porque é que não vais
    até ali ver o que fizeste?"
  • 3:39 - 3:41
    (Risos)
  • 3:41 - 3:43
    Ela começou a procurar nas ervas,
  • 3:43 - 3:46
    abriu muito os olhos
    e apontou para o melão
  • 3:46 - 3:48
    que era maior do que a cabeça dela.
  • 3:48 - 3:51
    Todos os miúdos correram para lá
    e apertaram-se à volta dela.
  • 3:51 - 3:52
    Um dos miúdos disse:
  • 3:52 - 3:54
    "Ei? Porque é que isto
    tem uma etiqueta?"
  • 3:54 - 3:57
    (Risos)
  • 3:58 - 4:00
    E eu: "É por isso que eu também digo
  • 4:00 - 4:02
    "para não deitarem as etiquetas
    para as ervas.
  • 4:02 - 4:03
    (Risos)
  • 4:03 - 4:05
    "Ponham-nas no caixote do lixo.
  • 4:05 - 4:07
    "Quando vocês fazem isso,
    dão cabo da Natureza".
  • 4:07 - 4:09
    (Risos)
  • 4:09 - 4:13
    A Riley andou com o melão ao colo
    todo o dia
  • 4:14 - 4:16
    e estava muito orgulhosa.
  • 4:17 - 4:21
    Riley sabia que um melão
    não crescia em sete dias,
  • 4:21 - 4:24
    mas também sabia
    que ela tinha-o conseguido.
  • 4:24 - 4:26
    É um sítio estranho
  • 4:26 - 4:29
    mas não são só os miúdos
    que podem lá chegar.
  • 4:29 - 4:32
    É tudo. A arte pode levar-nos
    a qualquer sítio.
  • 4:32 - 4:34
    Ela estava mesmo no meio desse sítio,
  • 4:34 - 4:37
    esse sítio a que podemos
    chamar arte ou ficção.
  • 4:37 - 4:40
    Vou chamar-lhe "maravilha".
  • 4:40 - 4:43
    Era o que Colridge chamava
    de suspensão voluntária da descrença
  • 4:43 - 4:44
    ou fé poética,
  • 4:44 - 4:46
    esses momentos em que
    uma história, por mais estranha,
  • 4:46 - 4:48
    tem qualquer parecença com a verdade.
  • 4:48 - 4:50
    Nessa altura, somos capazes
    de acreditar nela.
  • 4:50 - 4:52
    Não são só os miúdos que lá chegam.
  • 4:52 - 4:55
    Os adultos também podem
    e nós chegamos lá quando lemos.
  • 4:55 - 4:57
    É por isso que, daqui a dois dias,
  • 4:57 - 4:59
    as pessoas vão dirigir-se para Dublin,
  • 4:59 - 5:02
    para fazerem a caminhada do Bloomsday
  • 5:02 - 5:06
    e verem tudo o que aconteceu em "Ulisses",
  • 5:06 - 5:08
    apesar de nada disso ter acontecido.
  • 5:08 - 5:11
    Ou as pessoas vão a Londres
    e visitam a Baker Street
  • 5:11 - 5:13
    para ver o apartamento
    de Sherlock Holmes,
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    apesar de 221B ser um número
    que foi pintado num edifício
  • 5:15 - 5:17
    que nunca teve essa morada.
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    Sabemos que estas personagens
    não são reais,
  • 5:19 - 5:22
    mas temos sentimentos reais
    em relação a elas,
  • 5:22 - 5:23
    e somos capazes de fazer isso.
  • 5:23 - 5:25
    Sabemos que estas personagens
    não são reais,
  • 5:25 - 5:28
    e no entanto, também sabemos que são.
  • 5:28 - 5:31
    Os miúdos percebem isso muito
    mais facilmente do que os adultos.
  • 5:31 - 5:33
    É por isso que adoro
    escrever para crianças.
  • 5:33 - 5:35
    Acho que os miúdos são a melhor audiência
  • 5:35 - 5:38
    para a ficção literária séria.
  • 5:40 - 5:41
    Quando eu era miúdo,
  • 5:41 - 5:45
    era obcecado pelas histórias
    de portas secretas,
  • 5:45 - 5:46
    coisas como "Narnia",
  • 5:46 - 5:50
    em que abríamos um guarda-roupa
    e passávamos para uma terra mágica.
  • 5:50 - 5:53
    Eu estava convencido de que
    as portas secretas existiam realmente,
  • 5:53 - 5:55
    procurava-as e tentava passar por elas.
  • 5:55 - 5:58
    Queria viver e passar
    para esse mundo de ficção.
  • 5:58 - 6:01
    — abro sempre as portas
    dos armários das pessoas.
  • 6:01 - 6:04
    (Risos)
  • 6:04 - 6:07
    Entrei no armário
    do namorado da minha mãe,
  • 6:07 - 6:09
    e não havia lá dentro nenhuma
    terra mágica.
  • 6:09 - 6:13
    Havia outras coisas estranhas que achei
    que a minha mãe devia conhecer.
  • 6:13 - 6:14
    (Risos)
  • 6:14 - 6:17
    E fui contar-lhe, todo contente.
  • 6:17 - 6:19
    (Risos)
  • 6:20 - 6:24
    Depois da faculdade, o meu primeiro
    emprego foi trabalhar
  • 6:24 - 6:26
    por trás duma dessas portas secretas.
  • 6:26 - 6:28
    Isto é um sítio chamado 826 Valencia.
  • 6:28 - 6:30
    É na Rua Valencia, n.º 826,
  • 6:30 - 6:33
    na Missão em São Francisco.
  • 6:33 - 6:36
    Quando ali trabalhei, havia ali
    a sede de uma empresa editora
  • 6:36 - 6:38
    chamada McSweeney's,
  • 6:38 - 6:41
    um centro de escrita, não lucrativo,
    chamado 826 Valencia.
  • 6:41 - 6:43
    Mas, na parte da frente,
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    havia uma loja estranha.
  • 6:45 - 6:46
    Este sítio era uma zona de lojas
  • 6:46 - 6:49
    e em São Francisco não iam
    autorizar-nos uma variante.
  • 6:49 - 6:53
    Por isso, o escritor que a fundou,
    um escritor chamado Dave Eggers,
  • 6:53 - 6:54
    para obedecer à norma, disse:
  • 6:54 - 6:57
    "Ok, vou montar uma loja para piratas".
  • 6:57 - 6:59
    (Risos)
  • 6:59 - 7:01
    E fez isso mesmo.
  • 7:01 - 7:02
    (Risos)
  • 7:02 - 7:04
    É linda. É toda de madeira.
  • 7:04 - 7:06
    Tem gavetas que podemos abrir
    e saem de lá citrinos
  • 7:06 - 7:08
    para não apanharmos escorbuto.
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    Há palas de muitas cores para os olhos
  • 7:11 - 7:13
    porque, quando é primavera,
    os piratas querem aventuras.
  • 7:13 - 7:17
    Não sabiam? O preto é um tédio.
    Cores pastel!
  • 7:18 - 7:20
    Ou olhos, também de muitas cores.
  • 7:20 - 7:23
    Só olhos de vidro, consoante
    a situação que queiramos.
  • 7:25 - 7:29
    E, curiosamente,
  • 7:29 - 7:32
    as pessoas iam à loja e compravam coisas.
  • 7:33 - 7:34
    Acabavam por pagar a renda
  • 7:34 - 7:38
    do nosso centro de formação
    que estava por trás dela.
  • 7:38 - 7:40
    Mas, para mim, penso que o mais importante
  • 7:40 - 7:42
    era a qualidade do trabalho que fazíamos.
  • 7:42 - 7:44
    Os miúdos vinham e aprendiam a escrever.
  • 7:44 - 7:48
    Quando temos que percorrer
    este espaço estranho, liminar, fictício
  • 7:48 - 7:52
    para ir à nossa escrita, isso vai afetar
    o tipo de trabalho que fazemos.
  • 7:52 - 7:55
    É uma porta secreta
    que podemos atravessar.
  • 7:55 - 7:58
    Portanto, eu fui trabalhar
    no 826 em Los Angeles
  • 7:58 - 8:01
    e o meu trabalho foi montar a loja.
  • 8:01 - 8:04
    Portanto, temos o The Echo Park
    Time Travel Mart.
  • 8:04 - 8:07
    O nosso lema é: "Onde quer que
    estejamos, é porque já lá estamos".
  • 8:07 - 8:10
    (Risos)
  • 8:12 - 8:16
    Fica no Sunset Boulevard em Los Angeles.
  • 8:16 - 8:19
    A nossa simpática equipa
    está pronta a ajudar-vos.
  • 8:19 - 8:20
    São de todas as épocas,
  • 8:20 - 8:24
    incluindo os anos 80,
    aquele tipo ali no fim.
  • 8:24 - 8:26
    Aquele é de um passado muito recente.
  • 8:26 - 8:28
    Há os nossos Empregados do Mês,
  • 8:28 - 8:31
    incluindo Gengis Khan, Charles Dickens.
  • 8:31 - 8:34
    Passou muita gente importante
    pelas nossas fileiras.
  • 8:34 - 8:36
    Esta é a nossa secção tipo farmácia.
  • 8:36 - 8:38
    Temos alguns medicamentos patenteados,
  • 8:38 - 8:40
    jarros canópicos para os órgãos,
  • 8:40 - 8:42
    sabão comunista que diz:
  • 8:42 - 8:44
    "Este é o vosso sabão para o ano".
  • 8:44 - 8:46
    (Risos)
  • 8:46 - 8:49
    A nossa máquina de sumos avariou
  • 8:49 - 8:51
    na noite da inauguração
    e não sabíamos que fazer.
  • 8:51 - 8:54
    O nosso arquiteto ficou coberto
    de xarope vermelho.
  • 8:54 - 8:55
    Parecia que tinha matado alguém,
  • 8:55 - 8:57
    o que não era nada para admirar
  • 8:57 - 8:59
    nesse arquiteto.
  • 8:59 - 9:01
    Não sabíamos que fazer.
  • 9:01 - 9:02
    Ia ser a atração na nossa loja.
  • 9:02 - 9:04
    Então, pusemos aquele cartaz que dizia:
  • 9:04 - 9:05
    "Avariada. Voltem ontem".
  • 9:05 - 9:08
    (Risos)
  • 9:08 - 9:10
    Isso acabou por ser
    uma piada melhor do que os sumos,
  • 9:10 - 9:13
    por isso deixámo-la lá ficar para sempre.
  • 9:14 - 9:17
    "Pedaços de Mamute"
    — Estas coisas pesam cerca de 3 kg cada.
  • 9:18 - 9:23
    "Repelente de Bárbaros"
    — cheio de alface e pétalas de flores,
  • 9:23 - 9:25
    coisas que os bárbaros odeiam.
  • 9:25 - 9:27
    "Línguas mortas".
  • 9:27 - 9:30
    (Risos)
  • 9:30 - 9:33
    "Sanguessugas"
    — os pequenos médicos da Natureza.
  • 9:33 - 9:36
    E "Odorante Viking" — que existe
    em pacotes de ótimos perfumes:
  • 9:36 - 9:40
    unhas dos pés, vegetais
    suados e podres, cinzas de piras.
  • 9:40 - 9:42
    Porque nós achamos
    que o "spray" de Corpo Decepado
  • 9:42 - 9:44
    só deve ser encontrado
    no terreno da batalha,
  • 9:44 - 9:46
    e não debaixo dos braços.
  • 9:46 - 9:48
    (Risos)
  • 9:48 - 9:50
    Isto são fichas de emoção para robôs,
  • 9:50 - 9:52
    para que os robôs possam
    sentir o amor ou o medo.
  • 9:52 - 9:54
    A nossa maior venda é
    Schadenfreude (escárnio),
  • 9:54 - 9:56
    coisa de que não estávamos à espera.
  • 9:56 - 9:57
    (Risos)
  • 9:57 - 9:59
    Não pensámos que isso fosse acontecer.
  • 9:59 - 10:01
    Mas, lá atrás, há uma coisa grátis,
  • 10:01 - 10:04
    Os miúdos passam por uma porta
    que diz: "Só Empregados"
  • 10:04 - 10:05
    e desembocam neste espaço
  • 10:05 - 10:06
    onde fazem os trabalhos de casa,
  • 10:06 - 10:08
    escrevem histórias e fazem filmes.
  • 10:08 - 10:11
    Isto é a festa do lançamento
    de um livro onde os miúdos vão ler.
  • 10:11 - 10:14
    Há um trimestral publicado
    só com os textos dos miúdos
  • 10:14 - 10:16
    que vêm todos os dias depois da escola.
  • 10:16 - 10:17
    Temos festas de lançamento
  • 10:17 - 10:19
    e eles comem bolos, leem para os pais
  • 10:19 - 10:22
    e bebem leite em copos de champanhe.
  • 10:23 - 10:25
    É um espaço muito especial,
  • 10:25 - 10:28
    porque há aquele espaço
    estranho em frente.
  • 10:29 - 10:30
    A piada não é uma piada.
  • 10:30 - 10:35
    Não podemos ver as tramas da ficção,
    e eu adoro isso.
  • 10:35 - 10:37
    É esta pequena ponta de ficção
  • 10:37 - 10:39
    que colonizou o mundo real.
  • 10:40 - 10:43
    Vejo-a como uma espécie
    de um livro a três dimensões.
  • 10:44 - 10:46
    Há um termo chamado metaficção,
  • 10:46 - 10:50
    e trata-se apenas histórias
    sobre histórias.
  • 10:50 - 10:53
    "Meta" agora está a ter o seu momento.
  • 10:53 - 10:55
    O seu último grande momento
    foi talvez nos anos 60,
  • 10:55 - 10:57
    com romancistas como John Barth
    e William Gaddis,
  • 10:57 - 10:58
    mas está aí de novo.
  • 10:58 - 11:01
    É quase tão antiga como contar histórias.
  • 11:02 - 11:04
    Uma técnica metafictícia
  • 11:04 - 11:06
    está a derrubar a quarta parede.
  • 11:06 - 11:09
    É quando um ator se vira
    para a audiência e diz:
  • 11:09 - 11:10
    "Eu sou um ator,
  • 11:10 - 11:13
    "estes são apenas papagaios".
  • 11:13 - 11:15
    E esse momento supostamente honesto,
  • 11:15 - 11:17
    acho eu, está ao serviço da mentira
  • 11:17 - 11:19
    mas, supostamente, está no primeiro plano
  • 11:19 - 11:22
    da artificialidade da ficção.
  • 11:22 - 11:24
    Para mim, prefiro o oposto.
  • 11:24 - 11:27
    Vou derrubar a quarta parede.
  • 11:27 - 11:29
    Quero que a ficção se escape
  • 11:29 - 11:30
    e entre no mundo real.
  • 11:30 - 11:35
    Quero que um livro seja
    uma porta secreta que se abre
  • 11:35 - 11:37
    e deixe sair as histórias
    para a realidade.
  • 11:37 - 11:40
    Assim, tento fazer isso nos meus livros.
  • 11:40 - 11:42
    Este é apenas um exemplo.
  • 11:42 - 11:44
    Este é o primeiro livro que eu fiz.
  • 11:44 - 11:47
    Chama-se "Billy Twitters
    and his Blue Whale Problem".
  • 11:47 - 11:50
    É sobre um miúdo a quem dão
    uma baleia, como animal doméstico
  • 11:50 - 11:53
    mas é um castigo e arruina-lhe a vida.
  • 11:53 - 11:56
    Então, de um dia para o outro,
    pelo FedUp (Farto),
  • 11:56 - 11:58
    (Risos)
  • 11:59 - 12:01
    ele tem que a levar para a escola.
  • 12:01 - 12:02
    Ele vive em São Francisco
  • 12:02 - 12:05
    — uma cidade difícil
    para se ter uma baleia azul.
  • 12:05 - 12:08
    Muitas colinas, o imobiliário
    tem muita importância.
  • 12:08 - 12:11
    Este mercado é doido, minha gente.
  • 12:11 - 12:15
    Mas, por baixo do forro,
    aparece uma coisa...
  • 12:15 - 12:19
    — esta é a capa por baixo do forro —
  • 12:19 - 12:20
    Há um anúncio
  • 12:20 - 12:24
    que oferece uma experiência
    de 30 dias, sem riscos,
  • 12:24 - 12:25
    com uma baleia azul.
  • 12:26 - 12:29
    "Podes enviá-lo num envelope
    já endereçado e selado
  • 12:29 - 12:31
    "e nós enviamos-te uma baleia".
  • 12:34 - 12:37
    Os miúdos preenchem-no.
  • 12:37 - 12:38
    Está aqui uma carta. Diz assim:
  • 12:38 - 12:43
    "Caras pessoas, aposto 10 dólares que
    não me vão enviar nenhuma baleia azul.
  • 12:43 - 12:45
    "Eliot Gannon (6 anos)".
  • 12:45 - 12:48
    (Risos)
  • 12:48 - 12:50
    (Aplausos)
  • 12:52 - 12:53
    O que Eliot e os outros miúdos
  • 12:53 - 12:56
    que enviaram isto, receberam em troca
  • 12:56 - 12:57
    foi uma carta numa letra muito pequena
  • 12:57 - 12:59
    duma empresa norueguesa de advogados.
  • 12:59 - 13:01
    (Risos)
  • 13:03 - 13:06
    Diz que, devido a uma alteração
    nas leis alfandegárias,
  • 13:06 - 13:08
    a baleia deles ficou retida em Sognefjord,
  • 13:08 - 13:09
    que é um fiorde muito encantador.
  • 13:09 - 13:11
    Depois fala um pouco sobre Sognefjord
  • 13:11 - 13:13
    e comida norueguesa e divaga.
  • 13:13 - 13:16
    (Risos)
  • 13:17 - 13:19
    Mas acaba por dizer que
  • 13:19 - 13:22
    "A tua baleia adorava ter notícias tuas.
  • 13:22 - 13:24
    "Tem um número de telefone,
  • 13:24 - 13:27
    "podes ligar e deixar-lhe uma mensagem.
  • 13:28 - 13:30
    "Quando ligares e deixares uma mensagem,
  • 13:30 - 13:33
    "— antes de gravares a mensagem
  • 13:33 - 13:36
    "só ouves sons de baleia
    e depois um 'bip',
  • 13:36 - 13:38
    (Risos)
  • 13:38 - 13:40
    "que parece mesmo um som de baleia.
  • 13:41 - 13:44
    "E também recebes
    uma fotografia da baleia".
  • 13:44 - 13:46
    Esta é Randolph.
  • 13:46 - 13:49
    Randolph pertence a um miúdo chamado Nico
  • 13:49 - 13:52
    que foi um dos primeiros miúdos a ligar.
  • 13:53 - 13:56
    Vou reproduzir a mensagem de Nico.
  • 13:56 - 13:59
    Esta é a primeira mensagem
    que recebi de Nico.
  • 14:00 - 14:02
    (Áudio) Nico: Olá, fala Nico.
  • 14:02 - 14:06
    Sou o teu dono, Randolph. Olá.
  • 14:06 - 14:10
    É a primeira vez que falo contigo,
  • 14:10 - 14:15
    e posso falar contigo
    em breve outro dia. Adeus.
  • 14:16 - 14:18
    Mac Barnett: Nico voltou a falar,
    uma hora depois.
  • 14:18 - 14:21
    (Risos)
  • 14:21 - 14:23
    Esta é outra das mensagens de Nico.
  • 14:24 - 14:29
    (Áudio) Nico: Olá, Randolph, fala Nico.
  • 14:29 - 14:33
    Há muito tempo que não falo contigo,
  • 14:33 - 14:36
    mas falei contigo
  • 14:36 - 14:38
    sábado ou domingo?
  • 14:38 - 14:40
    pois, sábado ou domingo,
  • 14:40 - 14:44
    por isso, estou a ligar-te outra vez
  • 14:44 - 14:48
    para dizer olá e saber
    o que é que estás a fazer agora.
  • 14:48 - 14:51
    Provavelmente vou ligar-te outra vez
  • 14:51 - 14:53
    amanhã ou hoje.
  • 14:53 - 14:57
    Por isso falo contigo depois. Adeus.
  • 14:58 - 15:02
    MB: E ligou, voltou a ligar
    outra vez no mesmo dia.
  • 15:02 - 15:06
    Deixou 25 mensagens para Randolph,
  • 15:06 - 15:08
    durante quatro anos.
  • 15:09 - 15:10
    Ficamos a saber tudo sobre ele,
  • 15:10 - 15:12
    sobre a avó que ele adora
  • 15:12 - 15:14
    e a avó de quem ele gosta um pouco menos,
  • 15:14 - 15:16
    (Risos)
  • 15:17 - 15:19
    e dos problemas de
    palavras cruzadas que ele faz.
  • 15:19 - 15:23
    Vou passar mais uma mensagem de Nico.
  • 15:23 - 15:26
    Esta é a mensagem de Natal de Nico.
  • 15:26 - 15:28
    (Áudio): Nico: Olá, Randolph,
  • 15:28 - 15:32
    desculpa não te ter falado há muito tempo.
  • 15:32 - 15:34
    É que tenho andado muito ocupado
  • 15:34 - 15:37
    porque começou a escola.
  • 15:37 - 15:40
    Provavelmente, não sabes,
  • 15:40 - 15:44
    como és uma baleia, não sabes.
  • 15:44 - 15:49
    Estou a falar só para dizer,
  • 15:49 - 15:52
    para te desejar um bom Natal.
  • 15:52 - 15:55
    Portanto,
  • 15:55 - 16:00
    Feliz Natal!
  • 16:00 - 16:03
    E adeus, Randolph, adeus.
  • 16:04 - 16:05
    MB: Apanhei Nico.
  • 16:05 - 16:08
    Já não ouvia falar dele há 18 meses
  • 16:08 - 16:12
    e ele deixou uma mensagem há dois dias.
  • 16:13 - 16:15
    A voz dele é totalmente diferente,
  • 16:15 - 16:18
    mas pôs a "babysitter" ao telefone
  • 16:18 - 16:22
    e ela também foi muito simpática
    para Randolph.
  • 16:22 - 16:26
    Mas Nico é o melhor leitor
    que eu podia desejar.
  • 16:27 - 16:31
    Gostava que as pessoas
    para quem eu escrevo
  • 16:31 - 16:33
    estivessem naquele local, emocionalmente,
  • 16:33 - 16:35
    com as coisas que eu crio.
  • 16:35 - 16:36
    Sinto-me feliz.
  • 16:36 - 16:39
    Crianças como o Nico
    são os melhores leitores,
  • 16:39 - 16:42
    e merecem as melhores histórias
    que eu lhes possa dar.
  • 16:42 - 16:44
    Muito obrigado.
  • 16:44 - 16:46
    (Aplausos)
Title:
Porque é que um bom livro é uma porta secreta
Speaker:
Mac Barnett
Description:

A infância é surrealista. Porque é que os livros para crianças não o podem ser? Nesta palestra impulsiva, o premiado autor Mac Barnett fala sobre a escrita que foge da página, da arte como uma porta para o mundo da maravilha — e o que os miúdos reais dizem a uma baleia fictícia.

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English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
16:59
Margarida Ferreira approved Portuguese subtitles for Why a good book is a secret door
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Why a good book is a secret door
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Isabel Vaz Belchior accepted Portuguese subtitles for Why a good book is a secret door
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