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Episódio 10 : "Os Ceifeiros", de Pieter Bruegel

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    A Arte...
  • 0:06 - 0:08
    ...em questão.
  • 0:10 - 0:13
    Uma refeição revigorante...
  • 0:14 - 0:17
    ...ceifeiros entre os molhos de trigo...
  • 0:18 - 0:22
    ...o campo a perder de vista.
  • 0:25 - 0:28
    Um quadro de Pieter Bruegel !
  • 0:28 - 0:32
    Um momento de empatia pela vida do campo?
  • 0:32 - 0:36
    ...ou o olhar condescendente do grande proprietário?
  • 0:37 - 0:40
    A resposta parece simples:
  • 0:40 - 0:42
    este quadro pertence a uma série
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    feita por um citadino para outro citadino,
    rico mercador de Antuérpia...
  • 0:56 - 0:58
    ...e os rostos avermelhados,
  • 0:58 - 0:59
    abatidos,
  • 0:59 - 1:00
    ou extenuados pelo trabalho
  • 1:00 - 1:04
    denotam um mundo ao qual não se tem,
    verdadeiramente, desejo de pertencer.
  • 1:05 - 1:10
    Então, o que é que o artista e o cliente
    vêm procurar nos camponeses?
  • 1:10 - 1:13
    O prazer de olhar de cima as pequenas formigas trabalhadoras?
  • 1:13 - 1:17
    ...e de zombar delas?
  • 1:17 - 1:21
    ...ou consideram eles que estes camponeses são verdadeiramente interessantes?
  • 1:21 - 1:26
    Episódio 10: Bruegel - "A Colheita".
    "A felicidade está no prado?"
  • 1:29 - 1:32
    Parte 1. "O momento rural"
  • 1:38 - 1:42
    Diante da lua pálida...
  • 1:42 - 1:46
    ...as espigas de trigo brilham como ouro...
  • 1:51 - 1:54
    Metodicamente ceifadas...
  • 1:55 - 1:57
    ...reunidas...
  • 1:57 - 2:00
    ...atadas...
  • 2:00 - 2:03
    ...depois transportadas...
  • 2:04 - 2:07
    ...como que cortadas por um geómetra...
  • 2:07 - 2:10
    ...guiam o olhar para dois lugares:
  • 2:10 - 2:13
    - de um lado, a vila...
  • 2:13 - 2:17
    ...com as suas casas pegadas umas às outras,
    em redor do campanário:
  • 2:18 - 2:22
    - do outro, um universo totalmente
    organizado pelo homem:
  • 2:22 - 2:24
    bacias artificiais,
  • 2:25 - 2:27
    castelo e aldeia,
  • 2:28 - 2:30
    ponte com portagem,
  • 2:31 - 2:34
    estradas sinuosas...
  • 2:36 - 2:38
    A árvore, carregada de pesadas peras,
  • 2:38 - 2:43
    é a própria imagem da fecundidade
    do trabalho e da Natureza.
  • 2:43 - 2:46
    Os camponeses são as raízes:
  • 2:46 - 2:49
    o cansaço e a dor do homem adormecido...
  • 2:49 - 2:53
    ...encontra a sua compensação no
    apetite jovial dos comparsas:
  • 2:53 - 2:55
    depois das papas de cereais,
  • 2:55 - 2:58
    alegram-se a partir o pão e o queijo,
  • 2:58 - 3:00
    à espera de saborear a sobremesa.
  • 3:00 - 3:04
    Quase uma refeição de Senhores!
  • 3:04 - 3:13
    No entanto, esta imagem não é mais do que uma
    celebração geral da agricultura e dos seus gestos imemoriais:
  • 3:13 - 3:18
    o tempo — "o verdadeiro tempo de ação
    e de mudança passa..."
  • 3:19 - 3:23
    Estas formas curiosas, suspensas nos ares...
  • 3:23 - 3:28
    ...são os frutos da macieira, abanada
    por este camponês...
  • 3:28 - 3:30
    ...e que as crianças agarram.
  • 3:32 - 3:36
    Aqui, ao pé de um outro apanhador de fruta,
    o tempo acelera:
  • 3:36 - 3:38
    homens a perseguirem outros.
  • 3:38 - 3:43
    Talvez intrusos, expulsos pelos guardas do castelo?
  • 3:44 - 3:47
    Para outros, é o momento do lazer:
  • 3:47 - 3:50
    - o banho dos monges é dividido por etapas:
  • 3:50 - 3:51
    vestido,
  • 3:51 - 3:52
    despido,
  • 3:52 - 3:53
    descendo na água,
  • 3:53 - 3:55
    sentindo a temperatura.
  • 3:55 - 3:56
    preparando-se para mergulhar,
  • 3:56 - 3:58
    nadando de traseiro para o ar
  • 3:58 - 4:01
    ou erguendo os braços em triunfo.
  • 4:02 - 4:05
    Para os aldeões, em seguida,
    em pleno jogo de atirar o pau:
  • 4:05 - 4:09
    aquele que conseguir matar o ganso, fica com tudo.
  • 4:09 - 4:15
    Um jogo que Hogarth condenará dois séculos
    mais tarde como um exemplo de crueldade.
  • 4:16 - 4:23
    O momento exato, por fim, em que um homem faz
    necessidades diante da casa rural mais abastada.
  • 4:23 - 4:29
    Este motivo, que se encontra nos "Provérbios"
    de Bruegel, é sinal de desprezo,
  • 4:29 - 4:30
    como aqui, para o mundo...
  • 4:30 - 4:35
    ou para a autoridade, representada pela forca.
  • 4:36 - 4:40
    À primeira vista, esta paisagem desenha
    a sociedade das três ordens,
  • 4:40 - 4:45
    que se vê imutável na ordem não menos imutável
    das estações:
  • 4:45 - 4:49
    - a nobreza combate para assegurar
    a paz e a ordem na terra,
  • 4:49 - 4:53
    - o clero reza para assegurar a segurança
    de todos no Além,
  • 4:53 - 4:58
    - e o terceiro estado trabalha a fim de prover
    as necessidades terrestres.
  • 4:59 - 5:01
    Mas aqui o castelo parece perdido,
  • 5:01 - 5:03
    os monges não rezam
  • 5:03 - 5:05
    e apenas os camponeses trabalham.
  • 5:06 - 5:15
    O únicos? De todo! Ao longe, navios emblemáticos
    do grande comércio marítimo.
  • 5:15 - 5:17
    Está aí a mudança fundamental do quadro:
  • 5:17 - 5:23
    neste horizonte, que ultrapassa os limites
    do velho mundo feudal.
  • 5:23 - 5:26
    Quem é, então, o verdadeiro herói do quadro?
  • 5:26 - 5:32
    Os camponeses, no seu canto de terra,
    ou o mercador que domina o mundo?
  • 5:37 - 5:37
    Parte 2: "O interesse e a distância"
  • 5:37 - 5:39
    O mercador chama-se Jongelinck...
  • 5:39 - 5:44
    ...e a série de estações é destinada à sala de jantar
    da sua casa de campo.
  • 5:44 - 5:47
    Qual é o olhar que ele lança sobre
    estes camponeses?
  • 5:47 - 5:50
    Não parecem ter grande confiança em nós.
  • 5:50 - 5:53
    Dir-se-ia que o nosso olhar incomoda!
  • 5:53 - 5:56
    E este motivo é ambíguo em Bruegel:
  • 5:56 - 6:03
    em "Os Apicultores", os homens melhor equipados
    triunfam sobre o amador, apoderando-se do produto
    das colmeias.
  • 6:03 - 6:08
    Aí, o ridículo é maior para camponês zombador
    que está prestes a cair no ribeiro
  • 6:09 - 6:13
    do que para «o destruidor de ninhos»
    que corre riscos.
  • 6:13 - 6:19
    O roubo em si pode ser divertido, como no caso deste
    jovem camponês — que representa o mundo —
  • 6:19 - 6:25
    que corta a bolsa do sinistro misantropo
    no meio do campo.
  • 6:25 - 6:29
    Para Bruegel e para o seu patrocinador,
    que praticam o "olhar sobranceiro"
  • 6:29 - 6:32
    o roubo parece quase "legítimo".
  • 6:32 - 6:36
    Talvez porque o mercador dispõe de
    uma visão de contabilidade:
  • 6:36 - 6:38
    pode-se contar frutos e ramos
  • 6:38 - 6:41
    assim como o número de bocas a alimentar
  • 6:41 - 6:44
    pode-se, portanto, calcular o excedente!
  • 6:45 - 6:48
    Mas a distância é marcada sobretudo
    pela maneira como Bruegel...
  • 6:48 - 6:51
    ...joga com a representação dos corpos a trabalhar.
  • 6:51 - 6:54
    Tal como nesta outra representação,
  • 6:54 - 6:57
    onde os rostos desaparecem por trás de
    cargas e de jarros,
  • 6:57 - 7:00
    as mulheres assemelham-se aos seus jarros,
  • 7:00 - 7:02
    uma ânfora toma a forma humana,
  • 7:02 - 7:06
    como se as personagens, de outro modo
    fortemente individualizadas,
  • 7:06 - 7:09
    se tornassem a sua profissão.
  • 7:09 - 7:11
    Uma profissão baseada no esforço e na habilidade,
  • 7:11 - 7:14
    bem longe da agilidade de espírito de um Jongelinck.
  • 7:14 - 7:20
    Grande apreciador de arte, ele encomendara duas
    outras séries para a sua casa, a Frans Floris.
  • 7:20 - 7:25
    Uma, sobre as sete artes liberais, superiores
    porque elas se assemelham a um saber puro,
  • 7:25 - 7:28
    não subordinado a um fim utilitário:
  • 7:28 - 7:31
    - quatro artes ligadas às matemáticas:
  • 7:31 - 7:32
    aritmética,
  • 7:32 - 7:34
    geometria,
  • 7:34 - 7:35
    música,
  • 7:35 - 7:36
    astronomia;
  • 7:36 - 7:38
    - três ligadas ao discurso:
  • 7:38 - 7:39
    gramática,
  • 7:39 - 7:40
    retórica,
  • 7:40 - 7:42
    lógica.
  • 7:44 - 7:46
    A outra série era sobre
    "Os doze trabalhos de Hércules",
  • 7:46 - 7:48
    emblemas da força aristocrática.
  • 7:49 - 7:54
    O certo é que estas séries parecem infinitamente
    mais convencionais e estereotipadas:
  • 7:54 - 7:58
    são alegorias pesadas que um nouveau riche
    poderia colecionar
  • 7:58 - 8:01
    para imitar um qualquer príncipe iluminado.
  • 8:02 - 8:05
    Porque é que se tem a impressão de que é
    para estes rudes camponeses
  • 8:05 - 8:08
    que se olha com o interesse mais autêntico?
  • 8:10 - 8:12
    Parte 3: "O espírito dos camponeses"
  • 8:13 - 8:17
    Antes de Bruegel, os camponeses pareciam
    eternos fantoches:
  • 8:18 - 8:24
    Nestas Natividades, eles ficam no limiar
    do espaço sagrado — um estábulo!
  • 8:24 - 8:27
    Diante dos seus rostos morenos e grosseiros,
  • 8:27 - 8:32
    ...a Virgem resplandece, branca e delicada.
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    Neste Livro de Horas, eles opõem-se
    à vida aristocrática,
  • 8:36 - 8:40
    num mundo limitado pelo majestoso
    castelo senhorial.
  • 8:41 - 8:46
    Para os aristocratas, os banquetes,
    a caça e o amor cortês !
  • 8:46 - 8:50
    Para os camponeses, as tarefas !
  • 8:51 - 8:58
    Em Bruegel, no século seguinte, pelo contrário, é o
    trabalho dos camponeses que é monumentalizado...
  • 8:58 - 9:03
    ...enquanto que a aristocracia é exposta
    como frívola e insignificante.
  • 9:03 - 9:07
    Nos outros quadros das estações,
    a impressão confirma-se:
  • 9:07 - 9:09
    o mundo dilatou-se,
  • 9:09 - 9:13
    as orgulhosas fortalezas são mais distantes,
  • 9:13 - 9:17
    e, paradoxalmente, o mundo rural
    tornou-se interessante.
  • 9:17 - 9:19
    Porquê?
  • 9:19 - 9:24
    Talvez porque a elite burguesa — no centro
    dos grandes negócios do mundo —
  • 9:24 - 9:28
    inveja secretamente os horizontes limitados
    do camponês?
  • 9:29 - 9:34
    Enquanto os barcos são esmagados na tempestade
    para grande desgosto de um investidor...
  • 9:34 - 9:37
    ...a vida no campo prossegue o seu curso...
  • 9:39 - 9:42
    ...sem negligenciar o espírito da ficção e do jogo:
  • 9:43 - 9:48
    basta uma coroa de papel, duas grandes almofadas
    e um colar de vaca...
  • 9:48 - 9:51
    ...para convencer a criança a ser um rei mago,
  • 9:51 - 9:56
    e uma flauta aos adultos para parodiar
    uma cena de sedução pastoral.
  • 9:58 - 10:04
    Aqui, dois observadores de aparência citadina,
    são intercalados entre esta figura desenvolta
  • 10:04 - 10:07
    e uma alegre dança realizada diante
    da sinistra forca...
  • 10:07 - 10:11
    ...forca que encontramos neste outro painel
    das estações.
  • 10:11 - 10:14
    Embora a execução do condenado
    ainda seja recente...
  • 10:14 - 10:18
    o prazer dominante é o de contemplar
    a manada de vacas gordas...
  • 10:18 - 10:23
    ...regressar à agradável aldeia
    onde as crianças brincam.
  • 10:26 - 10:31
    No "Inverno", enfim, encontra-se este paralelismo
    entre o jogo do artista
  • 10:31 - 10:33
    que oculta as cabeças dos cães enregelados,
  • 10:33 - 10:38
    para criar um bouquet quase abstrato
    de caudas encaracoladas
  • 10:38 - 10:45
    ...e o jogo da patinagem, que faz aparecer nestes
    aldeões uma humanidade bem maior do que no trabalho:
  • 10:45 - 10:47
    entre os que ficam à margem
  • 10:47 - 10:49
    e os reis da patinagem...
  • 10:49 - 10:52
    ...há tímidas tentativas...
  • 10:52 - 10:54
    ...cooperação...
  • 10:54 - 10:56
    ..."pequenos dramas"
  • 10:56 - 10:57
    ...falhanços...
  • 10:57 - 11:00
    ...e imprevistos.
  • 11:01 - 11:06
    A diferença entre Jongelinck e um camponês não é,
    portanto, uma diferença de natureza,
  • 11:06 - 11:09
    como a que opunha o servo ao senhor,
  • 11:09 - 11:12
    mas uma diferença de horizonte.
  • 11:14 - 11:18
    Jongelinck possuía um último quadro de Bruegel:
  • 11:18 - 11:20
    a "Torre de Babel"...
  • 11:20 - 11:23
    ...representada como uma cidade
    flamenga contemporânea.
  • 11:24 - 11:28
    Sem dúvida que ela é uma condenação
    do orgulho humano.
  • 11:29 - 11:36
    Mas ela marca também a aparição de um fosso entre
    os sonhos de uma elite citadina, que observa o horizonte...
  • 11:36 - 11:38
    ...adora construir...
  • 11:38 - 11:40
    ...correr riscos...
  • 11:42 - 11:45
    ...e a massa que permanece agarrada
    ao que conhece,
  • 11:45 - 11:47
    cravada no seu pequeno pedaço de terra.
  • 11:49 - 11:57
    A série das "Estações" traduz então, ao mesmo
    tempo, um sentimento de proximidade e de distância:
  • 11:58 - 12:03
    proximidade daquele que vê no camponês
    uma forma de infância da humanidade...
  • 12:03 - 12:08
    ...com a qual é bom voltar a ligar-se.
  • 12:08 - 12:16
    Distância do mercador de elite, manifestando a
    superioridade daquele que sabe olhar os horizontes longínquos...
  • 12:19 - 12:28
    ...contestando o controlo da terra reivindicado
    por uma aristocracia hedonista e decadente.
  • 12:40 - 12:45
    Este é já o útimo episódio da série 1. Desejam mais episódios?
  • 12:45 - 12:51
    Mais informações em: www.canal-educatif.fr
  • 12:51 - 12:55
    Escrito e realizado por:
  • 12:55 - 13:00
    Produzido por:
  • 13:00 - 13:04
    Consultor científico:
  • 13:04 - 13:08
    Financiamento e apoio público:
  • 13:08 - 13:12
    Voz-off:
  • 13:12 - 13:17
    Montagem e videografismo:
  • 13:17 - 13:21
    Pós-produção/Som:
  • 13:21 - 13:25
    Seleção musical:
  • 13:25 - 13:30
    Música:
  • 13:30 - 13:34
    Agradecimentos:
    Tradução de: Isabel Vaz Belchior
  • 13:34 - 13:36
    Um filme do CED
Title:
Episódio 10 : "Os Ceifeiros", de Pieter Bruegel
Description:

"Quando os citadinos olham para os camposeses a trabalhar, é com interesse ou condescendência?
Mais informações sobre a série e o projeto em: http://www.canal-educatif.fr"

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Video Language:
French

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