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Autismo e sexualidade | Sulineide Ferreira Peixinho | TEDxJardinsSalon

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    Eu acho que eu vim quebrar um pouco
    a harmonia desse encontro.
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    Eu vim falar de um assunto que é delicado,
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    um assunto que normalmente
    as pessoas jogam debaixo do tapete,
  • 0:16 - 0:19
    ninguém quer falar, por preconceito.
  • 0:19 - 0:24
    E eu, cara de pau, estou aqui
    para falar com muito prazer.
  • 0:24 - 0:28
    Desculpem aí os conservadores.
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    Eu vim falar sobre sexualidade.
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    E falar sobre sexualidade já é meio tenso.
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    E sobre a sexualidade do autista,
    mais tenso ainda.
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    É mais difícil porque existe
    todo um preconceito em torno disso.
  • 0:47 - 0:49
    E por que existe esse preconceito?
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    Eu acredito que o preconceito exista
    porque, na verdade,
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    não acreditamos muitas
    vezes que o autista
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    - e aí também não é só o autista,
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    eu incluo também o portador de deficiência
    intelectual, principalmente -
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    nós não acreditamos que eles
    têm uma identidade sexual.
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    É como se eles nascessem sem sexo,
    então está tudo bem.
  • 1:16 - 1:18
    No começo está tudo bem.
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    Mas depois chegam os tais dos hormônios.
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    Na adolescência, na pré-adolescência,
    chegam os hormônios.
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    Aí é que começa o problema,
    porque os hormônios não sabem de nada,
  • 1:28 - 1:32
    e eles aparecem assim, do nada.
  • 1:33 - 1:38
    E aí começa todo o problema
    também para o autista.
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    Por quê? Porque ele vai ter que lidar
    com uma coisa que é nova pra ele, também.
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    E por que é que isso gera tanto
    problema para todo mundo?
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    A gente precisa entender uma coisa:
    o desenvolvimento sexual
  • 1:53 - 1:57
    não acompanha
    o desenvolvimento intelectual.
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    Por isso é que às vezes o autista
    ou o portador de deficiência intelectual
  • 2:03 - 2:07
    se masturbam no ônibus, no metrô, na rua,
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    e aí as mães entram em desespero:
    "Nossa, por que ele faz isso? Por quê?"
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    Aí muitas ainda falam assim:
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    "É, não aprende a contar até 10,
    mas isso ele sabe!"
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    Gente, não tem nada a ver com ele.
    Tem a ver com hormônios.
  • 2:22 - 2:25
    Aí, já livrei a barra de todo mundo.
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    Então o que acontece?
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    Se o autista, ou o portador
    de deficiência, tem 15 anos,
  • 2:35 - 2:40
    o desenvolvimento sexual dele
    vai ser de um menino de 15 anos,
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    mas o intelecto dele,
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    a parte do raciocínio lógico dele
    não é de 15 anos.
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    Então por isso é que às vezes eles
    ficam meio atrapalhados aí.
  • 2:54 - 2:56
    E qual é a nossa postura diante disso?
  • 2:56 - 3:01
    Será que nós vamos impedir,
    começar aquelas ameaças:
  • 3:01 - 3:05
    "Vou chamar bicho papão"? Nem existe
    mais bicho papão, até já se aposentou.
  • 3:05 - 3:09
    "Vai nascer cabelo nos dedos",
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    "Vai nascer verruga na ponta do dedo
    se você fizer isso",
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    "Você vai virar lobisomem".
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    Um dia um menino entrou no consultório
    e ele falou: "Eu tô com muito medo.
  • 3:20 - 3:25
    Eu tenho muito medo de dormir e acordar
    lobisomem". "Por quê?"
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    "A minha mãe falou que eu vou virar
    lobisomem porque eu tô me masturbando".
  • 3:29 - 3:33
    Aí eu tive que desmentir, né?
    Na boa, mas tive que desmentir.
  • 3:33 - 3:38
    Então, gente, esses preconceitos...
    se a gente tratasse
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    essa questão com mais delicadeza,
    mais tranquilidade...
  • 3:43 - 3:48
    Eu penso assim: por que
    é tão simples quando uma criança
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    quer fazer cocô a mãe falar assim:
    "É no banheiro, não é aqui".
  • 3:52 - 3:58
    Todo mundo aprende a sair e fazer cocô,
    xixi, soltar pum no banheiro,
  • 3:58 - 4:01
    mas quando se fala de masturbação
    ninguém manda ir para o banheiro?
  • 4:01 - 4:04
    Quer cortar a mão, quer xingar,
    quer falar que é sem vergonha.
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    Então, gente, se a gente tratar
    com naturalidade o assunto,
  • 4:08 - 4:11
    vocês também vão dizer
    a mesma coisa: "Vai para o banheiro,
  • 4:11 - 4:14
    é no banheiro que você faz isso."
  • 4:14 - 4:19
    Agora, se ninguém ensina, é aquela questão
    do desenvolvimento intelectual.
  • 4:19 - 4:24
    Ele não tem o raciocínio lógico,
    ele vai fazer onde der vontade.
  • 4:24 - 4:28
    Seria a mesma coisa se nossos pais,
    ou seja lá quem for, não tivessem
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    ensinado a gente a fazer xixi e cocô
    no banheiro eu poderia simplesmente
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    dizer assim: "Gente, eu tô meio apertada,
    vou fazer um xixi aqui, enquanto eu falo,
  • 4:37 - 4:40
    espero não incomodar ninguém."
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    Mas eu aprendi que não é assim.
    Aí eu vou para o banheiro quando eu quero.
  • 4:44 - 4:46
    Não é, Fabrício?
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    Pois é, Fabrício concorda.
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    Então, gente, olha: a gente precisa
    tratar esse assunto com naturalidade
  • 4:53 - 4:55
    pra gente poder agir também
    com naturalidade,
  • 4:55 - 5:00
    senão fica aquela coisa
    cheia de nuances...
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    a criança quando pergunta:
    "Como eu nasci?"; e aí começa:
  • 5:03 - 5:07
    "Olha, foi uma plantinha, uma sementinha,
    aí você ficou pendurado".
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    Aí gente já imagina uma criancinha
    pendurara ali, sendo aguada.
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    Gente, isso, claro,
    muita gente já não faz mais,
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    mas muita gente ainda anda
    por aí falando de coisas
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    que às vezes eu mesma
    não consigo entender:
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    que a minhoquinha,
    que o moranguinho, não sei o quê.
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    Não, vamos falar a verdade,
    direto no assunto, fica tudo certo,
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    a criança vai entender;
    eles entendem, nós é que subestimamos.
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    Uma outra coisa é a gente
    começar a tratá-los como gente grande.
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    Se eles forem grandes.
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    Não ficar tratando como uma criança
    que nunca cresceu,
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    vestindo roupa de bebê
    ou de criança quando eles já são grandes.
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    Aí fica parecendo o Kiko do Chaves, né?
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    Desse tamanho com aquela roupinha de bebê.
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    Então, tem que começar
    pelas pequenas coisas.
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    Começar a tratar
    de acordo com a idade dele.
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    E aí vocês automaticamente
    já vão começar a pensar
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    nas coisas que vocês têm pra falar
    e que não vão chocar.
  • 6:11 - 6:16
    Então, gente, eu acho que a melhor coisa
    é a gente esquecer a vergonha,
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    esquecer o preconceito,
    e se livrar dessa angústia.
  • 6:20 - 6:24
    Isso não pode mais ser uma angústia!
    E é o que eu mais ouço no consultório.
  • 6:24 - 6:27
    Então, por exemplo, eu trabalho
    com um grupo de mães.
  • 6:27 - 6:29
    Na hora em que a gente
    está fazendo a palestra,
  • 6:29 - 6:34
    ou eu estou falando alguma coisa,
    elas ouvem, fazem perguntas, tal.
  • 6:34 - 6:37
    Mas na hora de falar sobre sexualidade:
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    "Ai, eu quero falar uma coisa
    com você depois".
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    Aí já sei, aí vem sexo.
    "Eu quero falar uma coisa".
  • 6:42 - 6:46
    Aí vai lá, entre quatro paredes,
    bem escondidinha de porta fechada:
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    "Ai, o meu filho está fazendo isso,
    está tirando pra fora, não sei o quê".
  • 6:50 - 6:53
    Então, gente, não vamos
    mais fugir disso não, tá?
  • 6:53 - 6:59
    Se é natural, vamos aceitar.
    Eu acho que fica até mais leve.
  • 6:59 - 7:04
    Eu passei aqui bem rapidinho só
    pra dar leveza a esse assunto.
  • 7:04 - 7:08
    Eu gostaria agora, de lição de casa
    pra vocês, é o seguinte...
  • 7:08 - 7:12
    é pensar... fica aí no ar, assim,
    pra vocês pensarem:
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    é justo a gente tirar da criança
    e do adolescente o prazer
  • 7:18 - 7:24
    - olha a palavra - o prazer
    de conhecer o próprio corpo,
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    se a gente também faz isso?
  • 7:26 - 7:30
    Então é isso, tenho dito.
  • 7:30 - 7:32
    (Aplausos)
Title:
Autismo e sexualidade | Sulineide Ferreira Peixinho | TEDxJardinsSalon
Description:

Suly fala da necessidade de tratar o tema de sexualidade nos adolescentes e jovens com autismo ou deficiencia intelectual com naturalidade. Ela é psicóloga e trabalha com crianças e jovens autistas e/ou com deficiencia intelectual. Também da apoio às familias.

Psicóloga formada pela FMU, atua há 25 anos na área escolar e clínica com crianças e adolescentes autistas e/ou com deficiência intelectual. Coordena o Grupo ACOLHE que tem como objetivo dar o apoio necessário aos pais de crianças e jovens com deficiência intelectual e orientação aos professores, fornecendo elementos psicológicos necessários para a ação do processo educativo, bem como orientação à família para que se coloquem como parceiros no processo terapêutico e de aprendizagem e sobre a sexualidade.

Esta palestra foi dada num evento TEDx local, produzido independentemente das conferências TED.

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Video Language:
Portuguese, Brazilian
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
07:56

Portuguese, Brazilian subtitles

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