Devemos viver para o nosso currículo... ou para o nosso elogio fúnebre?
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0:01 - 0:03Eu tenho pensado na diferença
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0:03 - 0:04entre as virtudes num currículo
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0:04 - 0:06e as virtudes num elogio fúnebre.
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0:06 - 0:07As virtudes num currículo
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0:07 - 0:09são as que colocamos no nosso currículo,
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0:09 - 0:12que são as aptidões que trazemos
para o mercado de trabalho. -
0:12 - 0:14As virtudes dum elogio fúnebre
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0:14 - 0:16são as mencionadas no discurso,
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0:16 - 0:19que são mais profundas:
quem somos, lá no fundo, -
0:19 - 0:20qual é a natureza das nossas relações,
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0:20 - 0:24somos corajosos, amorosos,
de confiança, consistentes? -
0:24 - 0:25Muitos de nós, incluindo eu mesmo,
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0:25 - 0:28diriam que as virtudes do elogio fúnebre
são as virtudes mais importantes. -
0:28 - 0:31Mas, pelo menos no meu caso,
serão aquelas em que eu mais penso? -
0:31 - 0:33A resposta é não.
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0:33 - 0:36Então comecei a pensar nesse problema,
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0:36 - 0:38e um pensador que me ajudou a pensar nisso
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0:38 - 0:39foi Joseph Soloveitchik,
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0:39 - 0:42um rabino que escreveu o livro
"The Lonely Man Of Faith" em 1965. -
0:42 - 0:45Soloveitchik diz que existem
dois lados da nossa natureza, -
0:45 - 0:47a que ele chamou de Adão I e Adão II.
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0:47 - 0:49O Adão I é o lado mundano, ambicioso,
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0:49 - 0:51o lado exterior da nossa natureza.
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0:51 - 0:53Ele quer construir, criar, criar empresas,
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0:53 - 0:55criar inovação.
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0:55 - 0:58O Adão II é o lado humilde
da nossa natureza. -
0:58 - 1:01O Adão II não quer só fazer o bem,
ele quer ser bom, -
1:01 - 1:03quer viver interiormente de uma maneira
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1:03 - 1:06que honre Deus, a criação
e as nossas possibilidades. -
1:06 - 1:08O Adão I quer conquistar o mundo.
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1:08 - 1:11O Adão II quer ouvir um chamamento
e obedecer ao mundo. -
1:11 - 1:13O Adão I saboreia as conquistas.
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1:13 - 1:16O Adão II saboreia a consistência
e a força interiores. -
1:16 - 1:19O Adão I pergunta
como as coisas funcionam. -
1:19 - 1:21O Adão II pergunta
porque é que estamos aqui. -
1:21 - 1:23O lema do Adão I é "sucesso".
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1:23 - 1:27O lema do Adão II é
"amor, redenção e retorno". -
1:27 - 1:29Soloveitchik argumentou
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1:29 - 1:31que esses dois lados da nossa natureza
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1:31 - 1:32estão em guerra entre si.
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1:32 - 1:34Vivemos num auto-confronto perpétuo
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1:34 - 1:37entre o sucesso exterior
e o valor interior. -
1:38 - 1:41O complicado, diria eu,
nesses dois lados da nossa natureza -
1:41 - 1:44é que eles funcionam
segundo lógicas diferentes. -
1:44 - 1:46A lógica exterior é uma lógica económica:
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1:46 - 1:50a entrada leva a uma saída,
o risco leva à recompensa. -
1:50 - 1:51O lado interior da nossa natureza
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1:51 - 1:54é uma lógica moral
e geralmente uma lógica inversa. -
1:55 - 1:57Temos que dar para receber.
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1:57 - 1:59Temos que nos entregar
a algo exterior a nós -
1:59 - 2:01para ganhar forças dentro de nós.
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2:01 - 2:03Temos que dominar o desejo
para conseguirmos o que queremos. -
2:03 - 2:06Para nos sentirmos realizados,
temos que nos esquecer de nós. -
2:06 - 2:09Para nos encontrarmos,
temos que nos perder. -
2:10 - 2:14Acontece que vivemos numa sociedade
que favorece o Adão I -
2:14 - 2:15e, geralmente, negligencia o Adão II.
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2:15 - 2:18O problema é que isso nos transforma
num animal astuto -
2:18 - 2:20que trata a vida como um jogo,
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2:20 - 2:23e tornamo-nos numa criatura
fria e calculista -
2:23 - 2:26que entra numa certa mediocridade
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2:26 - 2:27em que percebemos que há uma diferença
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2:27 - 2:30entre o que queríamos ser e o que somos.
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2:30 - 2:33Não merecemos
o tipo de elogio que queremos, -
2:33 - 2:35que esperamos que nos façam.
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2:35 - 2:37Não temos a profundidade da convicção.
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2:37 - 2:40Não temos uma sonoridade emocional.
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2:40 - 2:41Não temos compromisso com tarefas
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2:41 - 2:44que levariam mais de uma vida
de compromisso. -
2:45 - 2:48Alguém me lembrou uma resposta
comum ao longo da História -
2:48 - 2:50de como construímos um Adão II sólido,
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2:50 - 2:53de como construímos
uma profundidade de carácter. -
2:53 - 2:55Ao longo da História,
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2:55 - 2:57as pessoas voltaram ao próprio passado,
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2:57 - 2:59às vezes a algum momento
precioso na sua vida, -
2:59 - 3:02à sua infância.
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3:02 - 3:05Muitas vezes a mente gravita no passado
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3:05 - 3:06até um momento de vergonha,
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3:06 - 3:09algum pecado cometido,
algum ato de egoísmo, -
3:09 - 3:11um ato de omissão, de superficialidade,
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3:11 - 3:14o pecado da ira,
o pecado da auto-comiseração, -
3:14 - 3:17tentando ser uma pessoa
que agrada a todos, uma falta de coragem. -
3:18 - 3:23Construímos o Adão I apoiando-nos
nos nossos pontos fortes. -
3:23 - 3:26Construímos o Adão II lutando
contra os nossos pontos fracos. -
3:27 - 3:29Mergulhamos em nós mesmos,
encontramos o pecado -
3:29 - 3:31que cometemos várias vezes na vida,
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3:31 - 3:33o nosso pecado típico
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3:33 - 3:36do qual emergem todos os outros,
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3:36 - 3:39Combatemos esse pecado
e lutamos contra esse pecado. -
3:39 - 3:42Dessa luta, desse sofrimento,
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3:42 - 3:44construímos uma profundeza de caráter.
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3:45 - 3:47Normalmente não nos ensinam a reconhecer
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3:47 - 3:49o pecado em nós mesmos.
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3:49 - 3:50Não nos ensinam nesta cultura
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3:50 - 3:52como lutar contra ele,
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3:52 - 3:55como o confrontar e como o combater.
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3:55 - 3:58Vivemos numa cultura
com a mentalidade do Adão I -
3:58 - 4:01em que não somos articulados
com o Adão II. -
4:01 - 4:03Por fim, Reinhold Niebuhr
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4:03 - 4:05resumiu o confronto,
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4:05 - 4:07a vida completa do Adão I e do Adão II,
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4:07 - 4:09desta maneira:
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4:09 - 4:13"Nada que valha a pena fazer
pode ser conquistado na nossa vida; -
4:13 - 4:15"assim, precisamos
de ser salvos pela esperança. -
4:15 - 4:18"Nada que é verdadeiro ou belo ou bom
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4:18 - 4:21"faz sentido em nenhum contexto
imediato da História; -
4:21 - 4:23"assim, precisamos de ser salvos pela fé.
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4:23 - 4:27"Nada que fazemos, por mais virtuoso,
pode ser feito sozinho; -
4:27 - 4:30"assim, precisamos de ser salvos por amor.
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4:30 - 4:32"Nenhum ato virtuoso é tão virtuoso
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4:32 - 4:35"do ponto de vista
do nosso amigo ou inimigo -
4:35 - 4:36"como do nosso próprio ponto de vista.
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4:36 - 4:39"Assim, precisamos de ser salvos
por essa forma final de amor, -
4:39 - 4:40"que é o perdão".
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4:40 - 4:41Obrigado.
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4:41 - 4:44(Aplausos)
- Title:
- Devemos viver para o nosso currículo... ou para o nosso elogio fúnebre?
- Speaker:
- David Brooks
- Description:
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Dentro de cada um de nós há dois tipos de "Eu", sugere David Brooks nesta pequena conversa meditativa: o "Eu" que procura o sucesso, que constrói um currículo, e o "Eu" que procura a conexão, a comunidade, o amor — os valores que valem um excelente elogio fúnebre. (Joseph Soloveitchik chamou a esses "Eus" de "Adão I" e "Adão II".) Brooks pergunta: É possível equilibrar esses dois "Eus"?
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 05:01
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você é ousado, amoroso, seguro, consistente?
Margarida Ferreira
Esta tradução está feita em português, brasileiro.
A revisão deve retificar a construção das frases para português, de Portugal.
Margarida Ferreira
Retirada a revisão feita por Helena Arruda, embora não registada na atividade.