E se vivêssemos sem dinheiro? | Benjamin Lesage | TEDxBordeaux
-
0:08 - 0:10E se vivêssemos sem dinheiro?
-
0:10 - 0:13E se pudéssemos, por um golpe de magia,
suprimir a moeda, -
0:13 - 0:17viver num mundo em que partilhássemos
os recursos que a Terra nos dá? -
0:17 - 0:19Gostariam disso?
-
0:19 - 0:20Público: Sim.
-
0:20 - 0:21Sentem-se tentados?
-
0:22 - 0:25Comecei a fazer esta pergunta
nos Países Baixos. -
0:25 - 0:27Estava a estudar "marketing"
na Universidade de Haia. -
0:28 - 0:31Do "marketing" até à ideia de viver
sem dinheiro, vai uma grande distância -
0:31 - 0:32ou talvez não.
-
0:32 - 0:35De certa forma, eu tinha-me
apercebido daquele mundo -
0:35 - 0:39que Frédéric Beigbeder descreve
no seu livro "99 francs", -
0:39 - 0:41o mundo da publicidade
e do "marketing" que consiste -
0:41 - 0:44em desculpabilizar o consumidor,
para lhe vender produtos -
0:44 - 0:47que não são bons para ele
nem para o ambiente. -
0:47 - 0:50Foi aí que comecei seriamente a duvidar.
-
0:50 - 0:51Eu era uma pessoa normal.
-
0:51 - 0:54Gostava de noitadas,
bem regadas, jogos de futebol. -
0:54 - 0:57Eu estava ao corrente
do que se passava no mundo -
0:57 - 0:58mas não me afetavam muito.
-
0:58 - 1:01Depois, comecei a ver
uma série de documentários -
1:01 - 1:03que me abriram os olhos,
-
1:03 - 1:06e compreendi que o meu dia-a-dia,
as minhas compras, o que eu fazia -
1:06 - 1:09tinham um impacto direto no mundo,
criavam injustiças. -
1:09 - 1:12Aí, pensei: "Ben, tens que mudar".
-
1:12 - 1:14Tinha dois amigos, Raphael e Nicolas.
-
1:14 - 1:17Em conjunto, começámos
a proceder a uma série de mudanças. -
1:17 - 1:19Passámos a ser vegetarianos.
-
1:19 - 1:22Começámos a boicotar certos produtos,
nem éticos nem ecológicos. -
1:23 - 1:25Prestámos atenção ao consumo da água
-
1:25 - 1:28e, sobretudo, pusemo-nos a fazer
auto-stop para nos deslocarmos. -
1:28 - 1:31Uma tarde, encontrávamo-nos
numa bomba de abastecimento, -
1:31 - 1:34em plena noite, bloqueados,
não havia muito trânsito. -
1:34 - 1:38O local não era especialmente bucólico
mas sentíamo-nos bem. -
1:40 - 1:41Até tivemos uma ideia.
-
1:41 - 1:44"Seria fantástico partir assim,
à aventura, -
1:45 - 1:47"viajarmos livres, sem dinheiro".
-
1:47 - 1:51Eis-nos, seis meses depois,
um alemão, um francês, um italiano, -
1:51 - 1:53na berma duma estrada
para os Países Baixos. -
1:53 - 1:56Isto começa com uma brincadeira,
mas é uma história séria. -
1:56 - 1:57Aliás, a ideia tinha evoluído.
-
1:57 - 1:59Tínhamos comprado mochilas solares
-
1:59 - 2:03para fazer uma viagem até ao México
à boleia, de carro e de barco. -
2:04 - 2:06Também queríamos fazer um documentário.
-
2:06 - 2:08Tínhamos dois objetivos principais:
-
2:08 - 2:11uma viagem com uma pegada ecológica
o mais baixa possível, -
2:11 - 2:14e sem dinheiro, para só consumir
o que já lá havia. -
2:15 - 2:18As primeiras 24 horas foram intensas.
-
2:18 - 2:20Fizemos menos de 50 km.
-
2:20 - 2:23Encontrámo-nos num vão de escada,
a tremer de frio, até ao dia seguinte. -
2:23 - 2:26Lá fora, fazia 10º C negativos.
Partir em janeiro não é boa ideia. -
2:27 - 2:31Mas, sobretudo, estávamos esfomeados.
No dia seguinte, esperamos quatro horas. -
2:31 - 2:33Ninguém nos dá boleia
e começamos a ter dúvidas. -
2:34 - 2:37Queríamos ser espertos mas, talvez,
não fôssemos capazes. -
2:37 - 2:40Felizmente, uma viatura para,
o destino ajudou-nos. -
2:40 - 2:43Continuamos, atravessamos
a Bélgica, a França. -
2:43 - 2:44De uma autoestrada para outra,
-
2:45 - 2:47aproveitamos os restos
das bandejas de refeições, -
2:47 - 2:50e chegamos, cinco dias depois,
a Barcelona. -
2:50 - 2:52É uma primeira etapa importante.
-
2:52 - 2:55Encontramos um grupo de destituídos
que chegam de vários lados -
2:55 - 2:58e vivem sem dinheiro, ou quase,
em apartamentos -
2:58 - 3:00ou edifícios abandonados,
-
3:00 - 3:02e nos iniciam na arte da recuperação.
-
3:02 - 3:05Aprendemos a vasculhar e a pedir
no fim dos mercados, -
3:05 - 3:08nos restaurantes, nas padarias,
para nos alimentarmos. -
3:08 - 3:09Descobrimos a enormidade
dos desperdícios -
3:10 - 3:13e que comer sem dinheiro,
infelizmente, não é um problema. -
3:13 - 3:15De seguida, continuamos
até ao sul de Espanha. -
3:15 - 3:17Encontramos a boleia com os camionistas
-
3:17 - 3:20que têm o direito de ter
com eles um copiloto. -
3:20 - 3:23Assim, podemos embarcar
no "ferry" para África. -
3:23 - 3:27Damos os primeiros passos em Marrocos,
é um verdadeiro choque cultural. -
3:27 - 3:30Nesta altura, parecemos mesmo vagabundos.
-
3:30 - 3:32Cheiramos mal, não há que enganar.
-
3:33 - 3:35Depressa aprendemos a explicar
aos marroquinos o que fazemos -
3:35 - 3:38com duas palavras muito simples:
"waluf fluze". -
3:39 - 3:41Aí, abrem-se as portas,
as pessoas compreendem-nos -
3:41 - 3:44e descobrimos uma generosidade sem igual.
-
3:44 - 3:48Moussa, por exemplo, encontra-nos
na berma da estrada, em plena noite. -
3:48 - 3:52Detém-se sem medo e insiste
para nos levar a casa dele. -
3:52 - 3:55Quer que fiquemos três dias,
porque está escrito no Corão: -
3:55 - 3:58quando se encontra um viajante,
é preciso dar-lhe abrigo e comida. -
3:58 - 4:01O melhor foi que, na manhã do quarto dia,
-
4:01 - 4:04entra no quarto e diz:
"Pronto, já sou pai!" -
4:04 - 4:08Leva-nos ao hospital, insiste
para que peguemos no bebé, -
4:08 - 4:11e falamos em alemão,
em italiano e em francês. -
4:11 - 4:13Diz-nos que somos como os três reis magos
-
4:13 - 4:15que viemos anunciar a chegada
do seu filho. -
4:15 - 4:16(Risos)
-
4:16 - 4:18Chama-lhe Iahia, o eleito
-
4:18 - 4:22Esta generosidade repete-se durante
as seis semanas que passámos em Marrocos, -
4:23 - 4:26durante as quais procuramos
uma embarcação para as Ilhas Canárias. -
4:26 - 4:29Por fim, encontramos um belga em Agadir,
com um pequeno veleiro de 10 m, -
4:29 - 4:31que aceita levar-nos.
-
4:31 - 4:33Claro, damos saltos de alegria.
-
4:33 - 4:36Para nós, é o primeiro
obstáculo ultrapassado. -
4:36 - 4:40Mas a alegria é de curta duração.
Trinta minutos depois, saímos do porto. -
4:40 - 4:44Aquilo baloiça em demasia e ficamos
aos vómitos até ao dia seguinte. -
4:44 - 4:46Não é muito agradável, mas não é grave.
-
4:46 - 4:50Chegamos às Canárias
e passamos lá cerca de mês e meio. -
4:50 - 4:54Todas as manhãs, vamos ao porto
procurar marinheiros, capitães, -
4:54 - 4:58tentar que nos aceitem,
encontrar um barco para as Américas. -
4:58 - 5:01Vivemos numa casa abandonada,
aperfeiçoamos a arte da recuperação -
5:01 - 5:03e esperamos.
-
5:03 - 5:06Por fim, encontramos dois italianos,
Marco e Francesco -
5:06 - 5:08que tinham posto um anúncio na capitania.
-
5:08 - 5:12Procuravam duas raparigas,
de preferência loiras, para a travessia. -
5:12 - 5:15Como já compreenderam,
não as encontraram -
5:15 - 5:17e aceitaram levar-nos, em vez delas.
-
5:17 - 5:21O acordo era simples: limpamos,
cozinhamos, fazemos quartos, -
5:21 - 5:23e nós ensinamos-lhes francês e espanhol.
-
5:23 - 5:25E lá partimos à aventura.
-
5:25 - 5:29Para nós, é ótimo, é o pior
obstáculo que vai ao ar. -
5:29 - 5:31A bordo, é uma experiência magnífica.
-
5:31 - 5:35Sobretudo, é uma oportunidade
para nos distanciarmos desta viagem, -
5:35 - 5:39porque muitos nos repetem
— e vocês talvez pensem o mesmo — -
5:39 - 5:41e o capitão todas as manhãs nos diz:
-
5:41 - 5:44"Vocês não viajam sem dinheiro,
viajam com o dinheiro dos outros". -
5:44 - 5:46De certa forma, não está errado.
-
5:46 - 5:50A gasolina, a eletricidade, as coisas
recuperadas são produzidas com dinheiro. -
5:51 - 5:53Mas a nossa viagem passa para além
desse aspeto material. -
5:53 - 5:57A ideia é aprender a não controlar nada,
-
5:57 - 6:00a viver do que a vida nos dá,
do que as pessoas nos trazem, -
6:00 - 6:02de deixar andar.
-
6:02 - 6:06É também a descoberta de um outro mundo,
de uma outra realidade. -
6:07 - 6:13Criamos um elo mais humano
com as pessoas que encontramos, -
6:13 - 6:16é isso que nos anima e começamos
a sonhar com um mundo melhor. -
6:16 - 6:19A travessia dura três semanas
até ao Brasil. -
6:19 - 6:21Aí, é mais um choque.
-
6:21 - 6:24Encontramo-nos com centenas
de irmãos desafortunados -
6:24 - 6:27que também vivem sem dinheiro,
só que não por escolha própria. -
6:27 - 6:30É difícil arranjar comida.
Vasculhamos alguns restos -
6:30 - 6:32mas não conseguimos encher o estômago.
-
6:33 - 6:36Para Nicolas, é difícil.
Está farto desta viagem masoquista. -
6:36 - 6:39Não está nada convencido
com esta ideia do dinheiro. -
6:39 - 6:42Para ele, é um utensílio
que pode ser utilizado de forma útil. -
6:42 - 6:44Não compreende a nossa busca como nós.
-
6:44 - 6:48Mas Raphael e eu somos casmurros,
descobrimos a pobreza -
6:48 - 6:50e temos vontade de a experimentar
até ao fim. -
6:50 - 6:52Por isso, decidimos continuar.
-
6:52 - 6:55Separamo-nos e Raphael e eu
voltamos à estrada. -
6:55 - 6:58Ficamos bloqueados durante três dias
numa bomba de abastecimento. -
6:58 - 7:01Na manhã do quarto dia, acordo em pânico.
-
7:01 - 7:05Todas as minhas coisas desapareceram,
a minha mochila, a câmara, tudo. -
7:05 - 7:06É uma coisa terrível.
-
7:06 - 7:10Imagino que já aconteceu
a alguns aqui, em viagem, -
7:10 - 7:11faz parte da viagem.
-
7:12 - 7:13Mas eu não sabia o que fazer.
-
7:13 - 7:16A mochila, ou seja, o computador
-
7:16 - 7:18e muitas coisas para fazer o documentário.
-
7:18 - 7:21A escova de dentes e essas pequenas
coisas importantes do quotidiano. -
7:21 - 7:23O passaporte e o cartão do banco
-
7:23 - 7:26que eu guardava escondidos no saco,
para uma eventualidade. -
7:27 - 7:29Difícil, mas rapidamente, percebo
-
7:29 - 7:32que é talvez o destino
que me dá um empurrãozinho. -
7:32 - 7:35Há meses que me gabava
da ideia de uma viagem sem dinheiro, -
7:35 - 7:38que discutia com toda a gente
a importância do que fazíamos. -
7:38 - 7:41Talvez fosse importante que o fizesse
sem a segurança do cartão do banco. -
7:41 - 7:45A partir daí, eu era o que pretendia ser,
um viajante sem dinheiro. -
7:45 - 7:50Retomámos a estrada e Niévès,
a namorada de Raphael, veio ter connosco. -
7:50 - 7:53Com as suas belas pernas, o seu sorriso,
tudo se tornou mais fácil. -
7:53 - 7:55Curiosamente, já não
ficávamos à espera, na estrada. -
7:55 - 7:59Era fácil encontrar alojamento
e tínhamos sempre o estômago cheio. -
7:59 - 8:03Isso permitiu-nos ver outra coisa,
outros aspetos da viagem, -
8:03 - 8:06especialmente as injustiças
que marcavam o caminho. -
8:07 - 8:09Por exemplo, campos de ananases
poluídos de pesticidas -
8:09 - 8:11para responder à procura europeia,
-
8:11 - 8:15hangares enormes a abarrotar
de milhares de galinhas poedeiras, -
8:15 - 8:18"maquilas", ou "sweat-shops",
essas empresas sem impostos -
8:18 - 8:21que produzem "jeans" a preços baixos
para as grandes marcas -
8:21 - 8:23e cancros dos trabalhadores
que são ignorados. -
8:23 - 8:26Outros tantos encontros
que confirmam a nossa escolha. -
8:26 - 8:28Esta ideia de viver sem dinheiro,
-
8:28 - 8:31de pôr em causa este sistema
financeiro, não é em vão. -
8:31 - 8:32Decidimos ser veganos
-
8:32 - 8:35para maior coerência,
para consumir o menos possível -
8:35 - 8:37e voltamos a partir.
-
8:37 - 8:41Chegamos ao México,
onze meses depois da partida: -
8:41 - 8:4425 000 quilómetros percorridos,
centenas de encontros -
8:44 - 8:46e, sobretudo, um sonho persistente:
-
8:47 - 8:49E se pudéssemos viver sem dinheiro?
-
8:49 - 8:52Claro, esta viagem não foi
totalmente sem dinheiro. -
8:52 - 8:54Até utilizámos 70 euros
para refazer o meu passaporte, -
8:54 - 8:57e pagar taxas nas fronteiras.
-
8:57 - 8:59Mas descobrimos uma outra realidade,
-
8:59 - 9:01um mundo feito de partilha, de entreajuda,
-
9:01 - 9:05em que as pessoas dão
ou trocam os recursos disponíveis. -
9:06 - 9:08É o que nos leva a regressar à Europa.
-
9:08 - 9:12Para mim, o regresso a França
é sinónimo de regresso à realidade. -
9:12 - 9:15Toma a forma de uma dor lancinante
a nível dos molares. -
9:15 - 9:21Tenho 22 cáries, certamente graças ao chá
que os marroquinos oferecem a toda a hora. -
9:21 - 9:22(Risos)
-
9:23 - 9:26Vocês vão dizer que vaguear
sem dinheiro é uma coisa, -
9:26 - 9:28mas, para nos tratarmos, como é?
-
9:28 - 9:31Confesso que nem quis acreditar
quando a minha irmã me leva à dentista -
9:31 - 9:33que sabia da minha aventura
e que me diz: -
9:33 - 9:35"Ok, podemos fazer um acordo
não monetário". -
9:35 - 9:37Trata-me dos dentes, porque era urgente
-
9:37 - 9:40e, em compensação,
arranja um acordo com a mãe dela. -
9:40 - 9:43Eis-me fazer companhia
a uma senhora de 84 anos, -
9:43 - 9:46a tratar do jardim,
a fazer pequenas reparações -
9:46 - 9:48e, sobretudo, a escutá-la.
-
9:48 - 9:50Isso dura um mês e meio.
-
9:50 - 9:52É uma experiência muito rica
e, para mim, uma confirmação. -
9:53 - 9:55Imagino um mundo onde houvesse
pessoas com necessidades -
9:55 - 9:59e outras pessoas com recursos
e tudo se equilibrasse. -
9:59 - 10:01Eu precisava de tratamento,
uma dentista ajudou-me. -
10:01 - 10:04Uma idosa precisava de companhia,
e eu pude oferecer-lha. -
10:04 - 10:06Digo-me que, afinal, é possível.
-
10:06 - 10:09Um único problema,
um verdadeiro problema, -
10:09 - 10:10é que não é legal.
-
10:11 - 10:13É trabalho de mercado negro.
-
10:13 - 10:15Não entra no quadro jurídico legal.
-
10:15 - 10:19Em Franças, é legal vender armas
mas, dar uma ajuda, não. -
10:19 - 10:20Portanto, temos um problema real.
-
10:20 - 10:24No entanto, estou convencido
de que a economia da doação é possível -
10:24 - 10:26e é uma alternativa económica real
para este sistema. -
10:27 - 10:30Certos economistas defendem-na:
Bernard Maris, Jean-Michel Cornu -
10:30 - 10:32e mesmo Charles Eisenstein, nos EUA.
-
10:33 - 10:35Estipulam que esta economia
é uma das únicas -
10:35 - 10:38que permitem uma distribuição
equitativa das riquezas -
10:38 - 10:40segundo as necessidades de cada um.
-
10:40 - 10:42A grande vantagem é que
a doação dá felicidade -
10:42 - 10:45tanto a quem dá como a quem recebe.
-
10:45 - 10:47O problema é a contabilização.
-
10:47 - 10:50Podemos contabilizar a economia da doação?
-
10:50 - 10:51Não. É impossível.
-
10:51 - 10:54Aliás, é contrária ao princípio de base,
a não condicionalidade. -
10:54 - 10:58Que fazer? Como legalizá-la?
-
10:58 - 11:01Uma única ideia e uma pista:
pô-la em prática. -
11:01 - 11:05Foi aí que o nosso projeto
de ecovilas tomou sentido. -
11:05 - 11:08Queremos abrir um espaço,
uma espécie de laboratório vivo, -
11:08 - 11:10para experimentar a economia da doação,
-
11:10 - 11:13doar o nosso tempo,
a nossa energia, os nossos excedentes, -
11:13 - 11:17sem nada esperar em troca
— copiar o modelo natural, -
11:17 - 11:20a árvore que dá os seus frutos.
-
11:20 - 11:23Concretamente, daremos cestos de frutos
e de legumes biológicos -
11:23 - 11:25a quem não pode comprá-los.
-
11:25 - 11:28Daremos cursos de francês,
de espanhol, de música, de ortofonia, -
11:28 - 11:32de arquitetura natural,
organizaremos conferências, palestras TED, -
11:32 - 11:34oficinas para construir painéis solares
-
11:34 - 11:37ou todo o tipo de máquinas
sem eletricidade. -
11:37 - 11:39Participaremos na vida das comunidades,
-
11:39 - 11:42ajudá-las-emos a orientarem-se
para uma política de desperdício zero, -
11:42 - 11:44passaremos tempo com as pessoas idosas,
-
11:44 - 11:47criaremos todo o tipo de atividades
e, sobretudo, abriremos o espaço -
11:47 - 11:50para que outros venham
experimentar connosco, -
11:50 - 11:53para aprender a receber porque,
afinal, é o que é mais difícil -
11:53 - 11:57— dar é fácil, mas receber é difícil,
devido ao sentimento de inferioridade — -
11:57 - 12:01aprender a receber para, depois,
poder dar com humildade. -
12:02 - 12:04Não será perfeito,
-
12:04 - 12:07Daremos em função dos nossos recursos
-
12:07 - 12:09e quando precisarmos
de alguma coisa, pedi-la-emos. -
12:10 - 12:13Funciona como o karma.
Acreditamos nisso. -
12:14 - 12:16Pode parecer uma utopia
-
12:16 - 12:19mas é por isso mesmo
que o projeto se chama "Eotopia", -
12:19 - 12:23porque a utopia é, tal como o horizonte,
um objetivo para o qual temos que avançar, -
12:23 - 12:26Também haverá que pagar taxas e impostos
-
12:26 - 12:28e outros encargos, obviamente.
-
12:28 - 12:30Faremos apelo a doações financeiras
-
12:30 - 12:32que utilizaremos com toda a transparência.
-
12:32 - 12:34Utilizaremos dinheiro, no início
-
12:34 - 12:37e depois havemos de encontrar forma
de passar sem ele. -
12:37 - 12:41Aliás, estamos convencidos
de que podemos passar sem ele. -
12:41 - 12:45Será necessário encontrar o meio
de mostrar este protótipo, -
12:45 - 12:47de nos orientarmos
para uma sociedade nova, -
12:47 - 12:51para que a sociedade se force
a definir um quadro legal -
12:51 - 12:54porque a economia da doação
é uma coisa que existe. -
12:55 - 12:58Sete mil milhões de seres humanos
utilizam-no quotidianamente. -
12:58 - 13:00Vocês mesmos, vocês dão.
-
13:00 - 13:03Levante a mão quem dá
quotidianamente tempo e energia. -
13:03 - 13:06Estão a ver? Toda a gente.
Toda a gente faz doações. -
13:06 - 13:10Mas a doação não é
uma economia legal, reconhecida. -
13:11 - 13:17O que podemos fazer
para que esta economia retome o seu lugar? -
13:17 - 13:20Antigamente, era o único sistema
económico natural que existia, -
13:21 - 13:23Podemos experimentar,
-
13:23 - 13:26criar espaços de gratuitidade,
ecovilas como a Eotopia, -
13:26 - 13:30doar simplesmente, doar hoje.
-
13:31 - 13:34continuar a alimentar essa economia
para que, pouco a pouco, -
13:34 - 13:37ela cresça e ocupe lugar
em relação à economia financeira. -
13:38 - 13:41Se, tal como eu, estão convencidos
de que a economia atual -
13:41 - 13:44baseada na moeda e nas finanças,
cria desigualdades, -
13:45 - 13:47e gostariam de a mudar,
-
13:47 - 13:50mas dizem que é impossível,
que somos impotentes, -
13:50 - 13:53não tenho grandes teorias
— lamento, bem gostaria — -
13:53 - 13:57mas faço um simples convite:
dar, dar um pouco todos os dias, -
13:57 - 14:01fortalecer esta economia da doação,
esta economia paralela, -
14:01 - 14:04para que ela, pouco a pouco,
abafe a outra economia. -
14:04 - 14:06Tenho a certeza de que
podemos chegar, um dia, -
14:06 - 14:09a responder a todas as necessidades
com a doação, -
14:09 - 14:11se nos dedicarmos todos a isso.
-
14:11 - 14:13É assim, demos porque a Natureza dá,
-
14:13 - 14:16demos porque isso nos faz felizes
hoje e amanhã. -
14:16 - 14:17Obrigado.
-
14:17 - 14:21(Aplausos)
- Title:
- E se vivêssemos sem dinheiro? | Benjamin Lesage | TEDxBordeaux
- Description:
-
É uma pergunta que muitos economistas, antropólogos e filósofos têm feito. A economia da doação existe e é possível. Baseia-se no conceito da gratuitidade, na doação sem reciprocidade, "na compreensão de que a generosidade está no coração da natureza humana e na convicção de que dar é receber", como diz Charles Eisenstein. Benjamim acredita que, se todos nos dedicarmos, se todos dermos ativamente, é todo o rosto da nossa sociedade que pode mudar.
no
Nascido em Besançon, no Franco-Condado, Benjamin Lesage parte para os Países Baixos, aos 21 anos, para estudar e abrir-se ao mundo. Três anos depois, na companhia de dois amigos, inicia uma viagem ecológica sem um cêntimo, à boleia de carro e de barco, que o leva dos Países Baixos ao México. Durante essa viagem, descobre toda uma outra economia, baseada na entreajuda e na partilha, destituída de trocas monetárias. Contente com essa experiência, continua o seu percurso iniciático no México, nos EUA e, de seguida, na Europa, promovendo aquilo a que se chama "a economia da doação", em toda a parte onde vai. De regresso a França, publica o livro "Sans un sou en poche". Reúne-se com outras pessoas para criar um projeto de local ecológico, baseado na economia da doação, no estilo de vida vegano e na permacultura: a Eotopia.Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx
- Video Language:
- French
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 14:34
Margarida Ferreira approved Portuguese subtitles for Et si nous vivions sans argent ? | Benjamin Lesage | TEDxBordeaux | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Et si nous vivions sans argent ? | Benjamin Lesage | TEDxBordeaux | ||
Mafalda Ferreira accepted Portuguese subtitles for Et si nous vivions sans argent ? | Benjamin Lesage | TEDxBordeaux | ||
Mafalda Ferreira edited Portuguese subtitles for Et si nous vivions sans argent ? | Benjamin Lesage | TEDxBordeaux | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Et si nous vivions sans argent ? | Benjamin Lesage | TEDxBordeaux | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Et si nous vivions sans argent ? | Benjamin Lesage | TEDxBordeaux |