Ética do encontro | Morgana Masetti | TEDxUFRJ
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0:04 - 0:06Uau! Boa tarde!
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0:07 - 0:10Pô, pena que eu não vejo ninguém!
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0:14 - 0:16Bom, eu vejo esse tempo aqui correndo.
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0:19 - 0:24O Nietzsche diz que, por mais
objetivo que a gente queira ser, -
0:24 - 0:27nada a gente leva
senão a nossa história de vida. -
0:28 - 0:31E é um pouco o que eu vim
contar pra vocês, -
0:31 - 0:34a minha história como psicóloga,
como eu encontrei os Doutores da Alegria -
0:34 - 0:40e o que isso me ensinou
sobre saúde e sobre formação. -
0:40 - 0:43Eu trouxe essa mala comigo.
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0:44 - 0:47Essa mala, eu coloquei nela...
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0:47 - 0:50Quando a minha filha tinha
3 anos de idade e hoje ela tem 18... -
0:50 - 0:52Quando ela tinha três anos de idade,
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0:52 - 0:56me convidaram na escola dela
pra falar o que eu fazia -
0:56 - 0:59e, nessa época, eu já trabalhava
com os palhaços. -
1:00 - 1:04Eu levei essa mala com vários objetos
que os Doutores da Alegria usavam -
1:04 - 1:08e, pra mim, acho que foi um dos momentos
mais difíceis de falar do meu trabalho. -
1:08 - 1:12Então, eu trouxe ela hoje comigo
porque eu acho que ela está emantada -
1:13 - 1:17com uma situação muito bacana que eu vivi.
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1:17 - 1:20E eu acho que hoje eu vou
tentar falar aqui um pouco -
1:20 - 1:24sobre o que é emantar essas relações.
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1:26 - 1:30Eu trabalhei vários anos no Instituto
do Coração, como psicóloga hospitalar, -
1:30 - 1:33fazendo a preparação
de pacientes pra cirurgia. -
1:34 - 1:37Muitas coisas que a gente
aprende no hospital -
1:37 - 1:42a gente aprende através de sinais
que não os verbais, -
1:42 - 1:47e eu me lembro que a primeira vez
que eu me deparei com morte no hospital -
1:47 - 1:49foi um desses eventos.
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1:49 - 1:51Eram mais ou menos 15h,
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1:51 - 1:54eu estava com meu prontuário,
trabalhando na unidade coronariana, -
1:54 - 1:57tinha acabado de atender um paciente,
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1:57 - 2:02e primeiro você escuta
um som de um instrumento -
2:02 - 2:06que "desapita" um pouco
dentro daqueles "pi, pi", -
2:06 - 2:11e os passos dos profissionais correndo,
a movimentação, a cortina que se abre, -
2:11 - 2:14depois os aparelhos que entram,
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2:14 - 2:18todo o procedimento
pra tentar uma reanimação. -
2:18 - 2:21E, depois, você de novo escuta o silêncio:
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2:22 - 2:24um aparelho a menos,
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2:24 - 2:29esses profissionais que voltam
pros postos pra trabalhar -
2:29 - 2:30e fazerem anotações.
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2:30 - 2:35Eu me lembro que naquela tarde,
quando isso aconteceu, -
2:35 - 2:39por algum motivo eu me aproximei,
quis me aproximar do leito, -
2:39 - 2:44e eu cheguei bem perto daquele paciente
que tinha acabado de falecer. -
2:44 - 2:46Não era um paciente que estava atendendo.
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2:46 - 2:49E, quando eu fiz esse
movimento de chegar perto, -
2:49 - 2:51algo estranho aconteceu.
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2:51 - 2:54É como se eu tivesse entrado
numa outra zona do tempo. -
2:54 - 2:59É como se eu pudesse tentar entender
quais seriam os próximos momentos dele. -
2:59 - 3:03Eu me conectava com a família:
quem receberia a notícia? -
3:03 - 3:06Ao mesmo tempo,
eu me conectava com o passado dele: -
3:06 - 3:12quem teria sido esse homem? Que coisas
ele teria construído pra vida dele? -
3:13 - 3:15Isso durou muito pouco, alguns segundos.
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3:15 - 3:19Eu dei um passo de novo pra trás
e, naquele momento, -
3:19 - 3:23é como se eu estivesse novamente
no mundo dos jalecos brancos, -
3:23 - 3:27as pessoas agindo normalmente,
os médicos trabalhando, as enfermeiras, -
3:27 - 3:31mais ou menos como se nada
tivesse acontecido. -
3:31 - 3:35Isso era um pouco a minha vivência
cotidiana do trabalho dentro do hospital. -
3:35 - 3:40Tinha um fluxo de vida do qual nós
profissionais de saúde não participávamos. -
3:40 - 3:44Não conseguíamos nem tínhamos sido
formados na universidade -
3:44 - 3:47pra entrar em contato
com esse fluxo de vida. -
3:48 - 3:54Em 1991, eu conheci o Wellington Nogueira,
que é o fundador dos Doutores da Alegria, -
3:54 - 3:57que é um trabalho que leva
palhaços profissionais pros hospitais -
3:57 - 4:01duas vezes por semana,
de maneira contínua. -
4:01 - 4:04Eles têm um trabalho
ininterrupto nos hospitais, -
4:04 - 4:06com alta formação profissional pra isso.
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4:07 - 4:10O Wellington, em 1991...
eu vi uma matéria na televisão -
4:10 - 4:14e, enfim, acabei chegando nele e ele
me convidou pra assistir ao trabalho -
4:14 - 4:18e, quando eu fui assistir ao trabalho,
é como se eu tivesse entrado novamente -
4:18 - 4:22naquele lugar que eu tinha vivido
com esse paciente que havia falecido, -
4:22 - 4:27mas, dessa [vez], eu pude viver isso
de uma maneira não esquizofrênica. -
4:27 - 4:33É como se aquele lugar pudesse estar
conectado com a vida do hospital. -
4:34 - 4:36Eu lembro que o que mais me chamou atenção
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4:36 - 4:38a primeira vez em que vi
o trabalho dos Doutores da Alegria -
4:38 - 4:42foi a flexibilidade que eles tinham
no contato com a criança. -
4:42 - 4:46Eles são muito bem preparados
tecnicamente, mas a técnica é invisível. -
4:47 - 4:51Eles entram e, se eles propõem algo
e a criança não está a fim daquilo, -
4:51 - 4:53eles rapidamente se desfazem daquilo
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4:53 - 4:57e tentam uma nova forma
de se relacionar com ela. -
4:57 - 5:02Eles se permitem estar num certo
"vazio" no início da relação, -
5:02 - 5:04pra poder construí-la.
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5:04 - 5:06Isso pra mim era muito novo.
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5:06 - 5:08Eu, como profissional de saúde
e como psicóloga, -
5:08 - 5:11apesar de estar ligada à área de humanas,
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5:11 - 5:14quando eu entrava num quarto,
tudo o que o paciente falava -
5:14 - 5:18eu ia colocar dentro
de uma hipótese diagnóstica. -
5:18 - 5:21Eu precisava de um "esquizofrênico"
ou de um "deprimido" -
5:21 - 5:24pra poder me relacionar
e construir o meu diagnóstico, -
5:24 - 5:26e aquilo era muito novo pra mim.
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5:27 - 5:32Em 1993, o Wellington me convidou
pra fazer parte do grupo. -
5:32 - 5:35Na época, já eram oito artistas.
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5:36 - 5:38E ele me convidou pra fazer
a parte de apoio emocional -
5:38 - 5:43e, junto com isso, eu comecei um trabalho
de pesquisa que dura até hoje. -
5:44 - 5:46Esse trabalho tem várias fases,
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5:48 - 5:51dois livros publicados,
uma tese de mestrado, -
5:51 - 5:54mas, rapidamente
porque eu só tenho 18 minutos, -
5:54 - 6:00eu vou resumir um pouco
o que coletei esses anos todos. -
6:00 - 6:03Os dados convergem
pra algumas coisas em comum. -
6:03 - 6:05Por exemplo, as crianças
ficam mais ativas, -
6:05 - 6:10passam a se comunicar mais com os pais
e com os profissionais de saúde, -
6:10 - 6:13aceitam melhor exames e medicamentos.
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6:13 - 6:16As crianças que estão em hospital dias,
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6:16 - 6:19com cirurgias de curto
tempo de internação, -
6:19 - 6:24têm os seus sinais vitais
de ambular, de comer... -
6:24 - 6:28elas adquirem esses sinais
mais rapidamente pra ter alta. -
6:28 - 6:34Além disso, eu observei que o trabalho
tem um efeito importante pros pais -
6:34 - 6:36e pros profissionais de saúde.
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6:36 - 6:41Os pais ficam mais
confiantes no tratamento -
6:41 - 6:44porque eles podem ver o filho deles
mais próximo do que em casa, -
6:44 - 6:47porque ele está "brincando",
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6:47 - 6:52um jeito mais particular seu de ser,
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6:52 - 6:55e isso devolve a confiança
de que o tratamento vai dar certo. -
6:57 - 7:00Os profissionais de saúde
relatam uma diminuição -
7:00 - 7:02no estresse do dia a dia de trabalho
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7:03 - 7:05e uma melhor autoimagem como profissional,
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7:05 - 7:09porque, por exemplo, se uma enfermeira
está próxima, ou um médico, -
7:10 - 7:14os artistas tendem
a incorporá-los na brincadeira -
7:14 - 7:16e, com isso, eles podem se perceber
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7:16 - 7:19não só como aquela pessoa
que está ali pra dar a medicação, -
7:19 - 7:22mas que também pode brincar com a criança.
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7:29 - 7:33Na época do meu mestrado,
eu comecei a estudar a questão do humor, -
7:33 - 7:36que eu acho que é a primeira coisa
que chama atenção -
7:36 - 7:38no trabalho dos Doutores da Alegria,
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7:38 - 7:41mas muitas vezes eu ia no hospital
e não necessariamente eu ria. -
7:41 - 7:44Tinha outras emoções que aconteciam,
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7:44 - 7:47tanto comigo quanto com as pessoas
que viviam a experiência -
7:47 - 7:49de ter contato com os artistas.
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7:50 - 7:55No meu mestrado, eu me deparei com
uma definição do Espinosa sobre a alegria -
7:55 - 7:59que acho que fala muito sobre o trabalho
que os artistas fazem no hospital. -
8:00 - 8:03O Espinosa disse que tudo
que existe são encontros -
8:03 - 8:08e a capacidade de a gente afetar
e ser afetado por esses encontros. -
8:08 - 8:12Se esses encontros aumentam
a minha potência de ação, -
8:12 - 8:13eu experimento a alegria.
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8:13 - 8:17Se esses encontros diminuem
a minha potência de ação, -
8:17 - 8:19eu experimento a tristeza.
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8:19 - 8:24Então, pro Espinosa, toda a ética
deveria ser a "ética da alegria", -
8:24 - 8:26do que ele chama de "as paixões alegres".
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8:26 - 8:31Diferente da moral, a gente deveria
se guiar por essa ética. -
8:31 - 8:34E as "paixões tristes", pra ele,
seriam todos os sentimentos -
8:34 - 8:36que estão ligados à piedade,
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8:36 - 8:39no sentido de que eu preciso
ver o outro como um coitadinho, -
8:39 - 8:41ou às fortes hierarquias
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8:41 - 8:44onde o outro não está
no mesmo nível que eu. -
8:46 - 8:49Bom, por que palhaços?
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8:50 - 8:54Esse movimento é um movimento
que cresceu muito no mundo e no Brasil. -
8:54 - 9:00O Michael Christensen, que foi quem criou
essa metodologia em 1986, -
9:01 - 9:05o que ele foi capaz
de perceber, que viralizou? -
9:05 - 9:11Hoje, você tem esse trabalho
no mundo inteiro, fortemente na Europa. -
9:12 - 9:18No Brasil, a gente tem mais de 1,2 mil
grupos que fazem essa atividade; -
9:18 - 9:19não como fim,
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9:19 - 9:23porque em muitos desses grupos
as pessoas trabalham de maneira voluntária -
9:23 - 9:26e não têm a preparação
profissional pra fazer isso, -
9:26 - 9:30mas como um meio de levar alguma coisa.
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9:31 - 9:33Então, eu fico me perguntando: "Por quê?
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9:33 - 9:37Por que o palhaço entra
no cenário contemporâneo?" -
9:40 - 9:44O palhaço tem uma máscara
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9:44 - 9:48e essa máscara é a autorização
que ele tem da sociedade -
9:48 - 9:50pra funcionar de um determinado modo.
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9:51 - 9:56O palhaço permite que a gente entre
em contato com os nossos sentimentos, -
9:56 - 10:02permite que coisas que normalmente
não seriam ditas possam ser expressas. -
10:02 - 10:05Ele brinca com as figuras de autoridade.
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10:05 - 10:07Por exemplo, no caso
dos Doutores da Alegria, -
10:07 - 10:11eles usam um jaleco branco
e se colocam como "médicos", -
10:12 - 10:15brincam com essa "posição"
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10:15 - 10:18e, com isso, eles permitem
que você possa dizer coisas -
10:18 - 10:21que normalmente não seriam ditas.
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10:23 - 10:26O palhaço abraça o erro, a ambiguidade.
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10:26 - 10:31Tudo isso são ingredientes, alimento,
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10:31 - 10:34pra que dali possa nascer a graça,
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10:34 - 10:37essa alegria da qual eu falei.
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10:39 - 10:42E o que palhaço tem a ver com formação?
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10:42 - 10:47Por que estou aqui juntando os dois temas?
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10:49 - 10:51Eu diria que, pra mim, uma coisa
muito importante que aprendi, -
10:51 - 10:54se eu fosse resumir o que
eu aprendi com os Doutores, -
10:54 - 10:58é que eu aprendi que uma série de coisas
que eu nomeava no hospital -
10:58 - 11:01de depressão, hospitalismo,
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11:02 - 11:05todas essas eram questões
que tinham muito mais a ver -
11:05 - 11:09com a dificuldade que nós
profissionais de saúde tínhamos, -
11:09 - 11:11de entrar em contato com os pacientes,
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11:11 - 11:15do que algo que efetivamente estivesse
acontecendo com aquele paciente. -
11:16 - 11:19O que os Doutores da Alegria
propõem, na minha opinião, -
11:19 - 11:21é o que eu chamo
de uma "ética do encontro". -
11:21 - 11:25Através do modo de ver o mundo,
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11:25 - 11:30o palhaço nos propõe entrar
num outro tipo de encontro, -
11:30 - 11:33e eu acho que é isso
que atrai tantas pessoas -
11:33 - 11:36a brincar um pouco com essa figura.
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11:36 - 11:40O fenômeno que acontece no Brasil
é que grande parte desses 1,2 mil grupos -
11:40 - 11:43são de estudantes,
estudantes universitários, -
11:43 - 11:47de medicina e de outras áreas de saúde.
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11:48 - 11:51O que eu percebo trabalhando
na formação com eles -
11:51 - 11:55é que a gente tem a oportunidade de criar
um outro espaço pedagógico. -
11:55 - 11:59É um espaço pedagógico
onde o corpo e os sentimentos -
12:00 - 12:04são bases estruturantes
pra eu aprender alguma coisa; -
12:04 - 12:10onde a experiência que eu vivo é a coisa
mais importante a ser considerada; -
12:11 - 12:16onde o erro, a ambiguidade e a confusão
são etapas do aprendizado, -
12:17 - 12:24um aprendizado que reconecta o aprender
com a vida, com a ordem do humano. -
12:24 - 12:27Eu acho que a gente viu isso
em outras apresentações, -
12:27 - 12:32a necessidade de que isso aconteça
pra gente falar de fato em conhecimento. -
12:35 - 12:38Eu gostaria de ler um conto
pra vocês que eu trouxe. -
12:52 - 12:55É um conto do Gonçalo Tavares.
É um angolano. -
12:55 - 12:59É um conto bem curtinho,
que se chama "O Casaco". -
13:00 - 13:02"O Casaco.
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13:02 - 13:05Como acreditava que tinha
um anjo protetor no seu casaco, -
13:05 - 13:07nunca o despia.
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13:07 - 13:11Quando o quiseram recrutar para a batalha,
ele disse logo que sim, -
13:11 - 13:14desde que pudesse combater
com o casaco vestido. -
13:14 - 13:19'O casaco tem lá dentro
um anjo que me protege', justificou. -
13:19 - 13:22Claro que as hierarquias
militares não aceitaram: -
13:22 - 13:25'Ninguém combate sem uniforme.'
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13:25 - 13:30O homem do casaco insistiu,
mas nada feito, não o aceitaram. -
13:30 - 13:32Ficou em casa.
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13:32 - 13:36Os soldados que entraram
na batalha morreram todos." -
13:37 - 13:41Eu trouxe esse conto
porque eu acho que esse casaco -
13:41 - 13:45do qual o Gonçalo fala no conto
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13:45 - 13:49é esse lugar do sutil, do invisível,
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13:50 - 13:54do sentimento, da individualidade,
-
13:54 - 13:59todos lugares que,
de uma maneira geral, no ensino, -
13:59 - 14:01a gente vai colocar pra fora,
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14:01 - 14:05porque o saber está ligado
a algo que está fora de mim -
14:05 - 14:07e é dado de fora pra dentro.
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14:10 - 14:12Esse novo espaço pedagógico,
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14:12 - 14:19essa possibilidade
de não usar só o uniforme, -
14:19 - 14:22mas de poder levar consigo o seu casaco,
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14:22 - 14:27eu acho que fala dessa possibilidade
de construir uma universidade do futuro, -
14:27 - 14:34onde a individualidade de vocês vai poder
construir uma profissionalidade, -
14:34 - 14:36e não o contrário.
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14:36 - 14:37Então, o que eu queria com esse conto
-
14:37 - 14:41é desejar pra vocês que vocês
possam ir pras suas batalhas, -
14:41 - 14:45quando for solicitado
que vocês usem os seus uniformes, -
14:45 - 14:48mas que vocês possam também
levar os seus casacos. -
14:48 - 14:49Muito obrigada.
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14:49 - 14:51(Aplausos) (Vivas)
- Title:
- Ética do encontro | Morgana Masetti | TEDxUFRJ
- Description:
-
A psicóloga Morgana Masetti acredita que tudo que existe são encontros. Ela compartilha a sua experiência, onde erro e ambiguidade fazem parte do processo. "Não só usar o uniforme, mas poder levar o seu casaco."
Psicóloga, pesquisadora, associada e cofundadora da ONG Doutores da Alegria. Dedica seu tempo a compreender e descrever a ação do artista que atua como palhaço em organizações de saúde.
Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx
- Video Language:
- Portuguese, Brazilian
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 14:57
Leonardo Silva approved Portuguese, Brazilian subtitles for Ética do encontro | Morgana Masetti | TEDxUFRJ | ||
Custodio Marcelino accepted Portuguese, Brazilian subtitles for Ética do encontro | Morgana Masetti | TEDxUFRJ | ||
Custodio Marcelino edited Portuguese, Brazilian subtitles for Ética do encontro | Morgana Masetti | TEDxUFRJ | ||
Leonardo Silva edited Portuguese, Brazilian subtitles for Ética do encontro | Morgana Masetti | TEDxUFRJ | ||
Leonardo Silva edited Portuguese, Brazilian subtitles for Ética do encontro | Morgana Masetti | TEDxUFRJ | ||
Leonardo Silva edited Portuguese, Brazilian subtitles for Ética do encontro | Morgana Masetti | TEDxUFRJ | ||
Leonardo Silva edited Portuguese, Brazilian subtitles for Ética do encontro | Morgana Masetti | TEDxUFRJ | ||
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