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Irã, Estados Unidos e o "Wheels of Peace" | Rick Gunn | TEDxKish

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    Mahatma Gandhi disse uma vez:
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    "Há dois tipos de poder no mundo:
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    o primeiro obtido pelo medo da punição,
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    e o segundo através da ação do amor".
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    Ele acreditava no amor
    como fonte de mudança,
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    e que qualquer poder obtido
    pelo medo da punição era frágil,
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    temporário e corrosivo
    para o espírito humano,
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    considerando que o poder propagado
    através das ações do amor
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    era mil vezes mais eficaz.
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    E melhor ainda, permanente.
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    Eu senti o poder do amor do meu pai
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    a primeira vez que ele me ensinou
    a andar de bicicleta.
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    Seu amor se transformou em paciência,
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    e lembro dele tranquilamente ao meu lado,
    me segurando e me empurrando,
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    gentilmente me incentivando a confiar
    no que ele sabia que estava dentro de mim.
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    Devo ter caído umas 100 vezes.
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    E então veio aquele momento
    em que, como se por algum passe de mágica,
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    meus pneus se alinharam pela primeira vez.
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    E me lembro que como criança
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    me senti como se estivesse pairando
    em um voo pela vizinhança.
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    E nesse momento, todas as coisas que eu
    carregava pesarosamente no meu coração,
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    todas as coisas que como criança
    eu não conseguia entender,
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    meus pais brigando à noite,
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    o casamento deles se desfazendo,
    a doença lentamente se arrastando
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    e deformando o corpo da minha mãe,
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    tudo isso desapareceu naquela tarde.
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    E assim, pouco tempo depois,
    comecei um ritual por minha conta.
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    Começava depois da escola, todo dia,
    quando eu corria até a minha bicicleta,
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    agarrava o guidão,
    pedalava pela vizinhança,
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    passava por baixo das cercas,
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    e depois fazia um circuito grande
    pelo coração das florestas próximas
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    ao leste da Baía de São Francisco.
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    E era lá que eu encontrava consolo.
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    Apenas pedalando sobre a terra,
    no meio da floresta e das árvores,
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    porque existia alguma coisa,
    nesse simples ato de se deslocar,
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    além da simples máquina
    de borracha e aço,
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    que me trazia de volta para mim mesmo.
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    E então, eu era livre.
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    Mas então minha vida mudou
    como todas as vidas mudam.
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    E em dois anos, meus pais
    tinham discutido tanto,
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    que meu pai saiu de casa,
    e eu perdi o interesse pela bicicleta.
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    Enquanto ela ficava sem uso,
    pegando poeira em algum canto na garagem,
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    minha mãe morreu
    no meio de um divórcio doloroso.
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    Desnecessário dizer que, como fui
    empurrado pro mundo ainda muito jovem,
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    passei a primeira década
    da minha vida zangado,
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    amargo, me machucando,
    machucando os outros,
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    o poder do amor longe de ser encontrado.
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    Mas, depois meu pai voltou
    para a minha vida.
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    Ele me disse: "Eu entendo.
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    Eu senti a perda, também.
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    E eu precisava falar com alguém.
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    Talvez você deva pensar
    sobre isso também".
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    Seis meses depois, sentei
    diante de uma psicoterapeuta.
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    "Eu acho que sou louco", eu disse a ela.
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    Eu achei que ela fosse me internar.
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    Em vez disso, ela me olhou
    com o olhar de brandura e disse:
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    "Rick, os realmente loucos neste mundo
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    são aqueles que tentam convencê-lo
    a todo custo de que não são".
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    Esse foi o início do caminho
    para a minha recuperação.
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    E, nos três anos seguintes,
    me estudei profundamente,
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    às vezes analisando aspectos meus
    que eu não queria ver.
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    E, após três anos, veio o que
    algumas pessoas chamam
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    de momento de clareza,
    o ponto crucial, o X da questão,
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    e eu fui capaz de fazer a mim mesmo
    a pergunta mais importante da vida:
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    "O que você quer antes de você morrer?
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    Qual é seu sonho?"
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    Eu tinha trabalhado 14 anos
    como fotógrafo em um jornal,
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    e eu tinha uma certeza: aquela carreira
    não estava mais me entusiasmando.
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    Eu tinha um sonho maior.
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    Eu sempre sonhei em dar a volta
    de bicicleta ao redor do mundo.
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    E assim, em dois anos,
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    eu me vi na Ponte Golden Gate,
    sentando em minha bicicleta,
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    dizendo adeus a amigos e parentes,
    para pedalar 6 mil km pela América.
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    Eu pedalei 6,4 mil km pelos EUA
    e depois fui para a Europa,
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    onde passei oito meses pedalando no frio
    mais rigoroso que a Europa já registrou.
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    A partir de lá, fui para o sul,
    através da Grécia e da Turquia.
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    E tive o visto negado para entrar no Irã,
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    então eu continuei pelo Uzbequistão,
    Quirguistão e China,
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    5,6 mil metros pelo Planalto Tibetano,
    e depois para Índia,
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    Nepal e Bangladesh.
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    E foi lá que comecei a ver algo diferente
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    sentado na minha bicicleta:
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    sofrimento em um nível
    que eu nunca tinha visto antes.
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    E foi então que aprendi
    sobre o segundo poder do amor,
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    sendo o primeiro cuidar de si mesmo,
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    e o segundo é permitir
    que isso se propague a sua volta,
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    no cuidado com outros.
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    Comecei a trabalhar como voluntário
    quando não estava pedalando.
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    A primeira vez, a mais difícil,
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    foi consolando pessoas que estavam
    morrendo num pronto-socorro na Tailândia.
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    Isso foi seguido de um trabalho
    de extração de bomba em Laos,
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    ao lado desse senhor
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    que extraia as bombas e evitava
    que elas matassem mais alguém.
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    Em seguida, fui ao Vietnã, trabalhar
    com a reabilitação de vítimas de mina,
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    e depois ensinei inglês
    para crianças pobres no Camboja.
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    Mas a razão de eu estar aqui hoje
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    é contar a vocês o que aconteceu
    logo depois disso.
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    Eu estava pedalando pelo sul da Tailândia
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    e conheci esse senhor,
    um iraniano de Mashhad, do Irã.
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    Nos correspondemos
    via e-mail por um tempo.
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    O nome dele era Mohammed Tajaran.
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    Ele me convidou
    para ir a Penang, na Malásia.
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    Não demorou muito e eu estava
    tomando café e almoçando com ele.
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    Nós concordamos em pedalar
    juntos pela Malásia,
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    passando pela região principal da Malásia,
    pelas florestas mais antigas do mundo.
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    E como pedalamos lado a lado,
    eu perguntei a ele sobre sua vida.
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    O que ele me contou foi profundo.
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    Ele me disse que seu pai tinha
    morrido quando ele era jovem,
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    e que ele tinha feito tudo
    certo em sua vida.
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    Ele tinha diploma em engenharia,
    abriu um negócio bem-sucedido,
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    mas um dia ele estava
    escalando uma montanha,
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    e ele percebeu que aquilo tudo
    não estava certo.
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    E assim, ele começou planejar uma jornada.
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    Ele tinha um sonho de andar
    de bicicleta ao redor do mundo.
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    E quando ele se sentiu pronto
    para fazer isso, ele aprendeu inglês,
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    e partiu com US$ 500 no bolso.
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    Bem, naquela tarde, o que eu percebi
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    foi que aquele homem estava
    contando a minha história.
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    Aquela era a minha história.
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    E pensei comigo mesmo: "Esse é um homem
    que as pessoas veriam como inimigo,
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    mas, na verdade, tenho mais coisas
    em comum com ele
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    do que com muitos de meus amigos nos EUA".
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    Após o final da nossa viagem,
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    pela costa leste da Malásia,
    nós cavamos um buraco.
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    Ele pedalava pelo mundo
    plantando árvores.
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    E decidimos plantar árvores
    juntos, pela a paz,
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    árvores que permaneceriam crescendo
    pela paz entre os nossos países,
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    os Estados Unidos e o Irã.
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    (Aplausos)
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    E quando eu me despedi de Mohammed,
    eu disse a ele que o amava.
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    Comecei a chorar
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    porque eu sentia muito por nossos países
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    estarem se lançando em campanhas
    militares um contra o outro.
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    Eles não exerciam o poder do amor,
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    mas eles exerciam outro poder
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    que esperavam alcançar
    pelas ameaças de punição.
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    E assim, ao longo dos anos
    em que eu não vi Mohammed,
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    nós desenvolvemos um segundo projeto
  • 9:12 - 9:16
    chamado "Wheels of Peace",
    "Paz sobre Rodas".
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    E, em vez de explicar isso a todos,
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    eu gostaria de chamá-lo aqui
    para ele mesmo explicar.
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    Mohammed, você está aí por aí?
    Ele se perdeu pedalando em algum lugar.
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    Onde você está, Mohammed?
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    Ele é tímido. Não quer mais
    vir aqui agora.
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    Mohammad, você está aí atrás?
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    Não sei o que aconteceu.
  • 9:40 - 9:42
    (Aplausos)
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    Mohammed Tajaran: Estive esperando
    muito tempo por esse momento
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    para abraçar um dos meus melhores amigos
    na frente das pessoas do meu país, no Irã.
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    Eu estou muito empolgado
    e emocionado agora.
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    O "Wheels of Peace" é um projeto
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    para unir crianças de duas
    nações diferentes.
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    Eles são como duas rodas de uma bicicleta,
    totalmente dependentes uns dos outros.
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    Se uma roda não funcionar,
    a outra também falhará.
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    Rick e eu somos
    como o quadro da bicicleta,
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    tentando uni-las através de nossa força
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    e da troca de cartas.
  • 10:30 - 10:32
    Uma carta para entender
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    que eles têm o mesmo valor
    em todo o sistema.
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    Da mesma forma, em nosso mundo,
  • 10:40 - 10:45
    o princípio da paz está associado
    à paz em cada nação individualmente.
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    Como Saadi disse:
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    "Os seres humanos são parte de um todo,
    enleados por uma só essência e alma.
  • 10:55 - 11:01
    Se uma parte é afligida pela dor,
    outras partes ficarão inquietas".
  • 11:04 - 11:08
    RG: E assim Mohammed e eu visitamos
    salas de aula no Irã e nos EUA.
  • 11:08 - 11:11
    Ambos pegamos desenhos e cartas
  • 11:11 - 11:14
    para serem trocados entre as crianças.
  • 11:14 - 11:17
    Então nós nos encontramos na...
    não sei dizer essa palavra...
  • 11:17 - 11:20
    na ilha Kish, aqui pertinho,
    no ano passado.
  • 11:20 - 11:24
    E trouxemos as fotos
    e aquelas cartas juntos.
  • 11:25 - 11:28
    E eu acho que a coisa
    que quero concluir com isso é:
  • 11:28 - 11:30
    o que nós aprendemos com tudo isso?
  • 11:30 - 11:34
    E sabe, acho que é algo
    que todos vocês já sabem:
  • 11:34 - 11:38
    que nossas atitudes diárias,
    a cada momento,
  • 11:38 - 11:43
    temos a chance de agir
    de acordo com o que Gandhi falou,
  • 11:43 - 11:48
    de trabalhar a questão do amor
    ou trabalhar a questão do medo.
  • 11:50 - 11:54
    E assim, para mim, na minha opinião,
    acho que vocês sabem qual foi a escolha.
  • 11:54 - 11:57
    Acho que vocês sabem qual foi
    a escolha de Mohammad.
  • 11:57 - 12:00
    Mas iremos embora em breve
    e em muitos anos,
  • 12:00 - 12:02
    e temos a próxima geração vindo.
  • 12:02 - 12:06
    E gostaria de compartilhar com vocês
    o que eles têm a dizer uns aos outros
  • 12:06 - 12:07
    com seus desenhos e suas cartas.
  • 12:11 - 12:15
    [O que uma criança dos EUA e outra do Irã
    têm a dizer uma para outra?]
  • 12:16 - 12:19
    (Vídeo) (Música)
  • 12:33 - 12:35
    [Eu amo você, meu amigo]
  • 12:35 - 12:39
    [Não somos todos seres humanos?
    Então por que não podemos viver em paz?]
  • 12:47 - 12:48
    [Amor]
  • 12:53 - 12:55
    [Eu e você, amigos para sempre]
  • 13:02 - 13:04
    [Amigos]
  • 13:05 - 13:08
    [Guerra, não mais]
  • 13:13 - 13:16
    [Irã, Estados Unidos, Paz]
  • 13:17 - 13:24
    [Guerra não. Mais paz]
  • 13:33 - 13:37
    [O amor é a única força que transforma
    um inimigo em amigo." Dr. MLK Jr.]
  • 13:37 - 13:38
    (Aplausos)
    RG: Obrigado.
  • 13:38 - 13:41
    MT: Muito obrigado. Fico realmente grato.
  • 13:41 - 13:43
    (Aplausos)
Title:
Irã, Estados Unidos e o "Wheels of Peace" | Rick Gunn | TEDxKish
Description:

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

O que as pessoas de culturas aparentemente diferentes têm em comum? Como nós estamos procurando construir a paz do mesmo jeito? Nesta emocionante palestra, Rick Gunn fala sobre a jornada de dois homens que se encontraram e descobriram a paz sobre rodas.

Rick Gunn é um premiado fotógrafo, escritor, aventureiro e palestrante motivacional que reside nos EUA. Seu trabalho tem aparecido em diveros livros, sites e publicações, incluindo "Adventure Sports Journal", "Adventure Ciclista", "Wend", "EUA Today" , "People" e "The New York Times".

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
13:49

Portuguese, Brazilian subtitles

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