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A coisa surpreendente que aprendi quando dei a volta ao mundo sozinha, de barco à vela

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    Quando somos crianças,
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    tudo é possível.
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    Frequentemente, o difícil
    é manter esse sentimento quando crescemos.
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    Quando eu tinha quatro anos,
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    tive a oportunidade de navegar
    pela primeira vez.
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    Jamais esquecerei a emoção
    de me aproximar da costa.
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    Jamais esquecerei
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    a sensação de aventura
    quando entrei no barco
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    e observei a pequena cabina
    pela primeira vez.
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    Mas a sensação mais incrível
    foi a sensação de liberdade,
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    o que senti quando içámos as velas.
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    Para uma criança de quatro anos,
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    foi a maior sensação de liberdade
    que eu podia imaginar.
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    Nessa altura, decidi que, um dia,
    fosse como fosse,
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    eu iria dar a volta ao mundo
    num barco à vela.
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    Assim, fiz o que pude na vida
    para chegar perto desse sonho.
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    Aos 10 anos, economizava
    os trocos do almoço na escola.
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    Todos os dias, durante oito anos
    comi puré de batata e feijão
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    que custavam 4 cêntimos,
    e o molho era de graça.
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    Todos os dias eu empilhava os trocos
    em cima do meu mealheiro
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    e, quando aquela pilha somava uma libra,
    guardava-os lá dentro
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    e riscava um dos 100 quadrados
    que tinha desenhado num papel.
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    Por fim, comprei um pequeno bote.
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    Passava horas sentada nele, no quintal,
    a sonhar com o meu objetivo.
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    Li todos os livros que podia
    sobre a navegação à vela.
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    Por fim, quando a escola disse
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    que eu não tinha inteligência suficiente
    para ser veterinária,
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    abandonei a escola aos 17 anos,
    para começar a aprender a velejar.
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    Imaginem como me senti,
    quatro anos depois,
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    sentada numa sala de conferências,
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    em frente de alguém que eu sabia que
    podia tornar realidade o meu sonho.
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    Senti que a minha vida
    dependia daquele momento
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    e, incrivelmente, ele disse que sim.
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    Mal podia conter a minha emoção
    naquela primeira reunião de "design"
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    para conceber o barco
    em que eu iria navegar,
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    sozinha, sem parar, à volta do mundo.
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    Desde aquela primeira reunião,
    até à linha final da corrida,
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    foi tudo aquilo com que sempre sonhara.
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    Tal como nos meus sonhos,
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    houve momentos espantosos
    e momentos difíceis.
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    Evitei um icebergue a seis metros.
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    Subi nove vezes ao topo do maestro
    de 27 metros.
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    Apanhei vento de través
    no Oceano Austral.
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    Mas os pores-do-sol, a fauna,
    e o distanciamento
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    eram de cortar a respiração.
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    Ao fim de três meses no mar,
    aos 24 anos,
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    acabei na segunda posição.
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    Adorei tanto esta corrida
    que, seis meses depois,
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    decidi voltar a dar a volta ao mundo,
    mas desta vez, sem ser numa corrida,
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    tentar ser a pessoa
    mais rápida da história
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    a velejar sozinha, sem parar,
    a dar a volta ao mundo.
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    Para isso, precisava
    duma embarcação diferente,
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    maior, mais larga, mais rápida,
    mais potente.
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    Para dar uma ideia
    do tamanho desse barco,
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    eu podia subir pelo interior
    do mastro até ao topo.
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    23 metros de comprimento,
    18 metros de largura.
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    Chamei-lhe carinhosamente Moby.
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    Era um catamarã.
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    Quando o construímos,
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    nunca ninguém tinha dado a volta ao mundo,
    sozinho, sem paragens.
  • 3:05 - 3:07
    embora muitos tivessem tentado.
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    Mas, durante a construção, um francês
    agarrou num barco 25% maior do que o nosso
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    e não só o conseguiu,
    como bateu o recorde de 93 dias,
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    reduzindo-o para 72.
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    A fasquia agora estava muito mais alta.
  • 3:20 - 3:22
    Estes barcos eram sensacionais
    para velejar.
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    Isto foi uma viagem de treino
    ao largo da costa da França.
  • 3:25 - 3:26
    (Risos)
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    Sei do que falo porque eu era
    um dos cinco membros da tripulação.
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    Bastavam cinco segundos
    para passar de "tudo bem"
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    para que o mundo escurecesse
    quando as vigias mergulhavam na água.
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    Esses cinco segundos
    passam num instante.
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    Vejam como o mar
    está muito abaixo destes tipos.
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    Imaginem isto, sozinhos,
    no Oceano Austral
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    mergulhados na água gelada,
    a milhares de quilómetros de terra firme.
  • 3:52 - 3:53
    Era Dia de Natal.
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    Eu avançava para o Oceano Austral
    a sul da Austrália.
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    As condições eram horríveis.
  • 4:00 - 4:02
    Eu estava a aproximar-se
    duma parte do oceano
  • 4:02 - 4:05
    que estava a mais de 3000 km
    da cidade mais próxima.
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    A terra mais próxima era a Antártida,
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    e as pessoas mais próximas
    eram os tripulantes
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    da Estação Espacial Europeia lá em cima.
  • 4:12 - 4:13
    (Risos)
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    Estava, de facto, no meio de nenhures.
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    Se precisasse de auxílio,
    e ainda estivesse viva,
  • 4:19 - 4:22
    seriam precisos quatro dias
    para um barco lá chegar
  • 4:22 - 4:25
    e mais quatro dias para esse barco
    me levar para um porto.
  • 4:25 - 4:27
    Nenhum helicóptero pode lá chegar,
  • 4:27 - 4:29
    nenhum avião pode aterrar.
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    Eu seguia na frente
    duma tempestade tremenda.
  • 4:33 - 4:36
    No centro dela, o vento
    atingia 80 nós de velocidade,
  • 4:36 - 4:39
    o que era vento a mais
    para o barco e para mim.
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    As vagas já atingiam
    os 12 a 15 metros de altura,
  • 4:41 - 4:44
    e a espuma das cristas a rebentar
  • 4:44 - 4:46
    era projetada horizontalmente
    como a neve num nevão.
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    Se eu não avançasse depressa,
    seria engolida por aquela tempestade,
  • 4:50 - 4:53
    o barco virar-se-ia
    ou seria reduzido a pedaços.
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    Estava literalmente a lutar pela vida,
  • 4:56 - 4:59
    no fio da navalha.
  • 5:00 - 5:03
    A velocidade de que eu precisava
    desesperadamente, tinha um perigo.
  • 5:04 - 5:08
    Todos sabemos o que é guiar um carro
    a 40, 50 ou 60 km à hora.
  • 5:08 - 5:11
    Não é complicado.
    Podemos concentrar-nos.
  • 5:11 - 5:12
    Podemos ligar o rádio.
  • 5:12 - 5:17
    Aumentem isso para 80, 90, 110,
    acelerem para 130, 140, 160 km à hora.
  • 5:17 - 5:21
    Ficamos tensos,
    agarrados ao volante com toda a força.
  • 5:21 - 5:23
    Agora conduzam o carro
    estrada fora, à noite,
  • 5:23 - 5:25
    retirem os limpa-vidros,
    o para-brisas,
  • 5:25 - 5:27
    os faróis e os travões.
  • 5:27 - 5:29
    Era assim no Oceano Austral.
  • 5:29 - 5:33
    (Aplausos)
  • 5:33 - 5:34
    Podem imaginar
  • 5:34 - 5:37
    como seria muito difícil
    dormir numa situação dessas,
  • 5:37 - 5:39
    mesmo como passageiro.
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    Mas eu não era uma passageira.
  • 5:41 - 5:43
    Estava sozinha num barco,
    mal me aguentava de pé,
  • 5:43 - 5:46
    e tinha que tomar
    todas as decisões a bordo.
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    Estava completamente exausta,
    física e mentalmente.
  • 5:48 - 5:51
    Oito mudanças de vela em 12 horas.
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    A vela mestra tinha o triplo do meu peso.
  • 5:53 - 5:55
    Depois de cada mudança,
  • 5:55 - 5:58
    eu caía prostrada no chão
    encharcada em suor,
  • 5:58 - 6:01
    com o ar gelado do Oceano Austral
    a queimar-me a garganta.
  • 6:02 - 6:05
    Mas ali, os piores momentos
  • 6:05 - 6:07
    contrastam frequentemente
    com os momentos mais fortes.
  • 6:08 - 6:11
    Dias depois, saí do abismo.
  • 6:12 - 6:16
    Contra todos os prognósticos,
    consegui bater o recorde
  • 6:16 - 6:18
    no centro daquela depressão.
  • 6:18 - 6:20
    O céu clareou, a chuva parou.
  • 6:21 - 6:25
    Num piscar de olhos,
    o mar monstruoso transformou-se
  • 6:25 - 6:28
    na mais bela das montanhas
    à luz do luar.
  • 6:28 - 6:33
    É difícil de explicar, quando partimos,
    funcionamos de modo diferente.
  • 6:33 - 6:35
    O barco é todo o nosso mundo
  • 6:35 - 6:38
    e só temos aquilo
    que levámos connosco à partida.
  • 6:38 - 6:40
    Se eu agora vos dissesse:
  • 6:40 - 6:43
    “Vão para Vancouver
    e procurem tudo aquilo de que precisam
  • 6:43 - 6:45
    "para sobreviverem durante três meses”,
  • 6:45 - 6:46
    é uma coisa difícil.
  • 6:46 - 6:49
    São os alimentos, o combustível, a roupa,
  • 6:49 - 6:51
    até o papel higiénico e a pasta de dentes.
  • 6:51 - 6:53
    É o que fazemos.
  • 6:53 - 6:56
    Depois de partimos,
    controlamos até à última gota de gasóleo
  • 6:56 - 6:58
    e o último pacote de comida.
  • 6:58 - 7:00
    Nenhuma experiência da minha vida
  • 7:00 - 7:05
    me podia ter dado uma melhor compreensão
    da definição da palavra “finito”.
  • 7:04 - 7:06
    Aquilo que temos
    é só o que temos.
  • 7:06 - 7:08
    Não há mais nada.
  • 7:08 - 7:12
    Nunca na minha vida
    tinha alargado aquela definição de finito
  • 7:12 - 7:14
    que senti a bordo,
    para qualquer coisa fora da vela,
  • 7:14 - 7:18
    até desembarcar, na linha de chegada,
    depois de ter batido o recorde.
  • 7:20 - 7:24
    (Aplausos)
  • 7:25 - 7:27
    Subitamente, estabeleci a ligação.
  • 7:27 - 7:30
    A nossa economia mundial não é diferente.
  • 7:30 - 7:33
    Está totalmente dependente
    de materiais finitos
  • 7:33 - 7:35
    que só possuímos uma vez
    na história da humanidade.
  • 7:36 - 7:39
    Foi como encontrar uma coisa
    que não esperávamos, debaixo duma pedra
  • 7:39 - 7:41
    e termos duas opções:
  • 7:41 - 7:45
    Ou ponho a pedra de lado
    e aprendo alguma coisa com aquilo
  • 7:45 - 7:47
    ou volto a pô-la onde ela estava
  • 7:47 - 7:50
    e continuo com o meu sonho
    de velejar à volta do mundo.
  • 7:51 - 7:52
    Eu optei pela primeira.
  • 7:52 - 7:56
    Pus a pedra de lado e dediquei-me
    à aventura duma nova aprendizagem.
  • 7:56 - 7:59
    Falei com executivos, especialistas,
    cientistas e economistas,
  • 7:59 - 8:02
    para tentar perceber como funciona
    a nossa economia mundial.
  • 8:03 - 8:06
    A minha curiosidade
    levou-me a locais extraordinários.
  • 8:06 - 8:10
    Esta foto foi tirada
    numa central elétrica a carvão.
  • 8:11 - 8:12
    Fiquei fascinada pelo carvão,
  • 8:12 - 8:15
    É fundamental para
    a necessidade mundial de energia
  • 8:15 - 8:17
    mas também é uma coisa
    muito ligada à minha família.
  • 8:17 - 8:20
    O meu bisavô foi mineiro de carvão.
  • 8:20 - 8:23
    Passou 50 anos da vida debaixo do chão.
  • 8:23 - 8:25
    Esta é uma fotografia dele.
  • 8:25 - 8:28
    Quando vemos esta foto
    vemos uma pessoa de outra época.
  • 8:29 - 8:32
    Já ninguém hoje usa calças
    com a cintura tão alta.
  • 8:32 - 8:34
    (Risos)
  • 8:35 - 8:37
    Esta agora, sou eu,
    com o meu bisavô,
  • 8:37 - 8:40
    A propósito, aquelas orelhas não são dele.
  • 8:40 - 8:42
    (Risos)
  • 8:42 - 8:43
    Nós éramos muito chegados.
  • 8:43 - 8:46
    Lembro-me de estar ao colo dele,
    a ouvir histórias da mina.
  • 8:46 - 8:48
    Falava-me da camaradagem lá em baixo,
  • 8:48 - 8:51
    de os mineiros costumarem guardar
    as côdeas das sanduíches
  • 8:51 - 8:54
    para darem aos póneis
    que trabalhavam debaixo do chão.
  • 8:55 - 8:57
    Parece que foi ontem.
  • 8:57 - 8:59
    Na minha jornada de aprendizagem,
  • 8:59 - 9:01
    visitei o “website”
    da Associação Mundial do Carvão.
  • 9:01 - 9:03
    A meio da página inicial, dizia:
  • 9:03 - 9:06
    “Só temos carvão para 118 anos”.
  • 9:07 - 9:10
    Fiquei a pensar:
    “Já é muito para além da minha vida”.
  • 9:10 - 9:12
    É um número muito maior
    do que as previsões para o petróleo.
  • 9:12 - 9:14
    Mas fiz as contas e apercebi-me
  • 9:14 - 9:21
    de que o meu bisavô tinha nascido
    exatamente 118 anos antes daquele ano
  • 9:21 - 9:23
    e eu sentara-me ao colo dele
    até aos 11 anos.
  • 9:23 - 9:26
    Percebi que não tinham significado
    no tempo, nem na história.
  • 9:27 - 9:30
    Isso fez com que eu tomasse uma decisão
    que nunca imaginaria tomar:
  • 9:30 - 9:33
    Abandonar o desporto
    da navegação solitária
  • 9:33 - 9:36
    e concentrar-me no maior desafio
    que eu já tinha encontrado:
  • 9:36 - 9:38
    O futuro da nossa economia mundial.
  • 9:38 - 9:41
    Cedo me apercebi
    que não se tratava apenas da energia.
  • 9:41 - 9:43
    Também se tratava das matérias-primas.
  • 9:43 - 9:45
    Em 2008, encontrei um estudo científico
  • 9:45 - 9:47
    que previa por quantos anos teremos
  • 9:47 - 9:50
    alguns dos materiais preciosos
    que se extraem do solo.
  • 9:50 - 9:54
    Cobre: 61 anos;
    estanho, zinco: 40; prata: 29.
  • 9:54 - 9:56
    Estes números podiam não ser exatos
  • 9:56 - 9:58
    mas sabíamos
    que estes materiais eram finitos.
  • 9:58 - 9:59
    Só os temos uma vez.
  • 9:59 - 10:02
    No entanto, a velocidade
    com que temos usado estes materiais
  • 10:02 - 10:05
    aumentou rapidamente, exponencialmente.
  • 10:05 - 10:07
    Com mais gente no mundo,
    que possui mais coisas,
  • 10:07 - 10:10
    vimos desaparecer, apenas em 10 anos,
  • 10:10 - 10:14
    a baixa de preços nestes produtos básicos
    que se verificou ao longo de 100 anos.
  • 10:14 - 10:15
    Isto afeta-nos a todos.
  • 10:15 - 10:18
    Causou uma enorme volatilidade nos preços,
  • 10:18 - 10:20
    De tal modo que, em 2011,
  • 10:20 - 10:23
    o fabricante europeu médio de automóveis
  • 10:23 - 10:25
    viu as matérias-primas
    aumentarem de preço,
  • 10:25 - 10:27
    na ordem dos 500 milhões de euros,
  • 10:27 - 10:30
    desviando metade
    dos benefícios de exploração
  • 10:30 - 10:33
    para uma coisa
    que ele não tem hipótese de controlar.
  • 10:33 - 10:36
    Quanto mais eu aprendia,
    mais a minha vida mudava.
  • 10:37 - 10:39
    Comecei a viajar menos,
    a fazer menos, a usar menos.
  • 10:39 - 10:42
    Achava que tínhamos que fazer menos
    com o que tínhamos de fazer.
  • 10:42 - 10:45
    Mas sentia-me desconfortável com isso.
  • 10:45 - 10:46
    Não me parecia correto.
  • 10:46 - 10:49
    Parecia-me que estávamos
    apenas a ganhar tempo.
  • 10:49 - 10:51
    Estávamos apenas a adiar as coisas.
  • 10:51 - 10:54
    Mesmo que toda a gente mudasse,
    não se resolveria o problema.
  • 10:54 - 10:56
    Não endireitaria o sistema.
  • 10:56 - 10:57
    Era fundamental para a transição.
  • 10:57 - 11:00
    Mas, uma transição para o quê?
  • 11:00 - 11:02
    O que é que podia resultar?
  • 11:04 - 11:06
    O que me chocou foi que
  • 11:06 - 11:09
    o enquadramento em que vivemos
    é profundamente defeituoso.
  • 11:10 - 11:12
    Acabei por perceber
  • 11:12 - 11:16
    que o nosso sistema de funcionamento,
    a forma como funciona a nossa economia,
  • 11:16 - 11:18
    a forma como a nossa economia
    tem sido construída
  • 11:18 - 11:20
    é um sistema em si mesmo.
  • 11:20 - 11:22
    No mar, eu tinha que perceber
    sistemas complexos.
  • 11:22 - 11:25
    Tinha que integrar milhentas informações,
  • 11:25 - 11:26
    tinha que as processar.
  • 11:26 - 11:29
    Tinha que compreender o sistema,
    para poder vencê-lo.
  • 11:29 - 11:30
    Tinha que o tornar inteligível.
  • 11:31 - 11:35
    Quando estudava a economia mundial,
    percebi que ela também é um sistema.
  • 11:35 - 11:39
    mas é um sistema
    que não se aguenta a longo-prazo.
  • 11:39 - 11:43
    Percebi que temos vindo a aperfeiçoar
    uma economia linear
  • 11:43 - 11:45
    durante 150 anos.
  • 11:45 - 11:47
    Extraímos um material do solo,
  • 11:47 - 11:50
    fabricamos qualquer coisa com ele
    e no final, deitamos fora esse produto.
  • 11:50 - 11:53
    Sim, reciclamos uma parte,
  • 11:53 - 11:56
    mas sobretudo numa tentativa
    de aproveitar o que é possível,
  • 11:56 - 11:57
    e não como um fim em si.
  • 11:58 - 12:01
    É uma economia que não se aguenta
    a longo prazo.
  • 12:01 - 12:04
    Se sabemos que temos materiais finitos,
  • 12:04 - 12:06
    porque é que criamos uma economia
  • 12:06 - 12:09
    que gasta coisas que cria desperdícios?
  • 12:09 - 12:12
    A vida só existe
    há milhares de milhões de anos,
  • 12:12 - 12:16
    e tem-se sempre adaptado
    a usar materiais eficazmente.
  • 12:16 - 12:19
    É um sistema complexo
    mas, nele, não há desperdícios
  • 12:19 - 12:21
    Tudo é metabolizado.
  • 12:21 - 12:25
    Não é uma economia linear,
    mas circular.
  • 12:27 - 12:29
    Senti-me como uma criança num jardim.
  • 12:29 - 12:33
    Pela primeira vez, nesta minha caminhada,
    percebi exatamente para onde seguir.
  • 12:34 - 12:38
    Se construíssemos uma economia
    que usasse as coisas em vez de as consumir,
  • 12:38 - 12:41
    podíamos construir um futuro
    que fosse viável a longo prazo.
  • 12:41 - 12:43
    Fiquei empolgada.
  • 12:43 - 12:45
    Era uma coisa em que podíamos avançar.
  • 12:45 - 12:49
    Sabíamos exatamente para onde ir.
    Só tínhamos que pensar em como lá chegar.
  • 12:49 - 12:51
    Foi com esta ideia na cabeça
  • 12:51 - 12:54
    que criámos a Fundação Ellen MacArthur,
    em setembro de 2010.
  • 12:56 - 12:58
    Baseámo-nos em muitas escolas de pensamento
  • 12:58 - 13:00
    que apontavam para este modelo:
  • 13:00 - 13:02
    Simbiose industrial,
    economia de desempenho,
  • 13:02 - 13:05
    economia de partilha, biomimética
  • 13:05 - 13:07
    e, claro, produção de berço a berço.
  • 13:07 - 13:10
    Os materiais seriam definidos,
    enquanto técnicos ou biológicos,
  • 13:11 - 13:14
    o desperdício seria totalmente suprimido,
  • 13:14 - 13:17
    e teríamos um sistema
    que podia funcionar sem falhas
  • 13:17 - 13:19
    a longo-prazo.
  • 13:19 - 13:21
    Qual seria o aspeto desta economia?
  • 13:21 - 13:25
    Talvez não comprássemos lâmpadas
    mas pagaríamos o fornecimento da luz
  • 13:25 - 13:28
    e os fabricantes recuperariam os materiais
  • 13:28 - 13:31
    e mudariam as lâmpadas
    quando houvesse produtos mais eficazes.
  • 13:31 - 13:34
    E se as embalagens não fossem tóxicas
    e se dissolvessem na água
  • 13:34 - 13:36
    que podíamos continuar a beber?
  • 13:36 - 13:38
    Nunca seriam um desperdício.
  • 13:38 - 13:40
    E se os motores
    pudessem voltar a ser fabricados
  • 13:40 - 13:42
    Se pudéssemos recuperar os componentes
  • 13:42 - 13:44
    e reduzir consideravelmente
    o gasto em energia?
  • 13:44 - 13:47
    Se pudéssemos recuperar peças
    dos circuitos impressos, reutilizá-los
  • 13:47 - 13:51
    e recuperar os materiais que eles contêm,
    uma segunda vez?
  • 13:51 - 13:54
    Se pudéssemos recolher as sobras
    dos alimentos, os dejetos humanos,
  • 13:54 - 13:57
    transformar tudo isso
    em fertilizantes, calor, energia,
  • 13:57 - 14:00
    restabelecendo os sistemas nutritivos
  • 14:00 - 14:02
    e reconstruindo um capital natural?
  • 14:03 - 14:06
    E os carros
    — nós queremos é deslocar-nos,
  • 14:06 - 14:08
    não precisamos de possuir
    o que está dentro deles.
  • 14:09 - 14:11
    Poderiam os carros passar a ser um serviço
  • 14:11 - 14:13
    e proporcionar-nos a mobilidade no futuro?
  • 14:13 - 14:18
    Tudo isto parece incrível, mas não são
    apenas ideias, são hoje uma realidade.
  • 14:18 - 14:20
    Estão na primeira linha
    da economia circular.
  • 14:20 - 14:24
    O que enfrentamos
    é alargá-las e aumentá-las.
  • 14:25 - 14:28
    Então, como passamos
    do linear para o circular?
  • 14:28 - 14:31
    Na Fundação, quisemos trabalhar
  • 14:31 - 14:33
    com as melhores universidades do mundo,
  • 14:33 - 14:35
    com as empresas de ponta,
    de todo o mundo,
  • 14:35 - 14:37
    com as maiores plataformas do mundo
  • 14:37 - 14:39
    e com os governos.
  • 14:39 - 14:41
    Pensámos trabalhar
    com os melhores analistas
  • 14:41 - 14:42
    e perguntar-lhes:
  • 14:42 - 14:46
    “A economia circular poderá dissociar
    o crescimento das limitações de recursos?”
  • 14:46 - 14:49
    “Poderá reconstituir o capital natural?
  • 14:49 - 14:53
    "Poderá substituir o uso
    dos atuais fertilizantes químicos?”
  • 14:53 - 14:56
    “Sim”, foi a resposta à dissociação.
  • 14:56 - 14:59
    E “Sim”, podemos reduzir
    o uso dos fertilizantes atuais
  • 14:59 - 15:02
    numa espantosa ordem de grandeza
    de 2,7 pontos.
  • 15:03 - 15:06
    Mas o que mais me animou
    sobre a economia circular
  • 15:06 - 15:09
    foi a sua capacidade de motivar os jovens.
  • 15:09 - 15:12
    Quando os jovens veem a economia
    através da perspetiva circular,
  • 15:12 - 15:16
    veem novas oportunidades
    na mesma linha do horizonte,
  • 15:16 - 15:19
    podem utilizar a sua criatividade
    e conhecimentos
  • 15:19 - 15:21
    para reconstruir todo o sistema.
  • 15:22 - 15:24
    Já existe, há que passar à ação,
  • 15:24 - 15:26
    e quanto mais depressa, melhor.
  • 15:27 - 15:29
    Poderemos consegui-lo
    durante a vida deles?
  • 15:29 - 15:31
    Será mesmo possível?
  • 15:31 - 15:33
    Eu acredito que é.
  • 15:33 - 15:37
    Quando olhamos para a duração
    da vida do meu bisavô, tudo é possível.
  • 15:38 - 15:41
    Quando ele nasceu,
    só havia 25 carros no mundo;
  • 15:41 - 15:43
    tinham acabado de ser inventados.
  • 15:44 - 15:48
    Quando ele tinha 14 anos,
    voámos pela primeira vez na história.
  • 15:48 - 15:51
    Agora temos
    100 000 voos comerciais por dia.
  • 15:53 - 15:56
    Quando ele tinha 45 anos,
    construímos o primeiro computador.
  • 15:56 - 15:59
    Muitos disseram que não se aguentaria,
    mas aguentou-se
  • 15:59 - 16:02
    e, 20 anos depois,
    transformámo-lo num microchip.
  • 16:02 - 16:05
    Hoje, aqui nesta sala,
    temos milhares deles.
  • 16:06 - 16:09
    Dez anos antes de ele morrer,
    construímos o primeiro telemóvel.
  • 16:09 - 16:12
    A bem dizer, não era lá muito móvel,
    mas agora é.
  • 16:13 - 16:16
    Quando o meu bisavô abandonou
    esta Terra, chegou a Internet.
  • 16:17 - 16:18
    Hoje, podemos fazer tudo
  • 16:18 - 16:20
    mas o mais importante
  • 16:20 - 16:22
    é que hoje temos um plano.
  • 16:22 - 16:23
    Obrigada
  • 16:23 - 16:27
    (Aplausos)
Title:
A coisa surpreendente que aprendi quando dei a volta ao mundo sozinha, de barco à vela
Speaker:
Dame Ellen MacArthur
Description:

O que é que aprendemos quando velejamos à volta do mundo sozinhos? Quando a velejadora Ellen MacArthur deu a volta ao mundo sozinha — levando com ela tudo de que precisava — voltou com uma nova perceção quanto ao funcionamento do mundo, um local de ciclos interligados e de recursos finitos, em que as decisões que tomamos hoje afetam o que sobra para amanhã. Propõe uma ousada nova forma de encarar os sistemas económicos mundiais: não como sistemas lineares, mas circulares, em que tudo está ligado.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
16:47

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