A coisa surpreendente que aprendi quando dei a volta ao mundo sozinha, de barco à vela
-
0:01 - 0:03Quando somos crianças,
-
0:03 - 0:06tudo é possível.
-
0:06 - 0:10Frequentemente, o difícil
é manter esse sentimento quando crescemos. -
0:11 - 0:12Quando eu tinha quatro anos,
-
0:12 - 0:15tive a oportunidade de navegar
pela primeira vez. -
0:16 - 0:20Jamais esquecerei a emoção
de me aproximar da costa. -
0:21 - 0:22Jamais esquecerei
-
0:22 - 0:25a sensação de aventura
quando entrei no barco -
0:25 - 0:28e observei a pequena cabina
pela primeira vez. -
0:28 - 0:32Mas a sensação mais incrível
foi a sensação de liberdade, -
0:32 - 0:35o que senti quando içámos as velas.
-
0:35 - 0:37Para uma criança de quatro anos,
-
0:37 - 0:41foi a maior sensação de liberdade
que eu podia imaginar. -
0:42 - 0:45Nessa altura, decidi que, um dia,
fosse como fosse, -
0:45 - 0:48eu iria dar a volta ao mundo
num barco à vela. -
0:49 - 0:52Assim, fiz o que pude na vida
para chegar perto desse sonho. -
0:52 - 0:55Aos 10 anos, economizava
os trocos do almoço na escola. -
0:55 - 0:59Todos os dias, durante oito anos
comi puré de batata e feijão -
0:59 - 1:02que custavam 4 cêntimos,
e o molho era de graça. -
1:02 - 1:05Todos os dias eu empilhava os trocos
em cima do meu mealheiro -
1:05 - 1:08e, quando aquela pilha somava uma libra,
guardava-os lá dentro -
1:08 - 1:11e riscava um dos 100 quadrados
que tinha desenhado num papel. -
1:13 - 1:15Por fim, comprei um pequeno bote.
-
1:15 - 1:19Passava horas sentada nele, no quintal,
a sonhar com o meu objetivo. -
1:19 - 1:22Li todos os livros que podia
sobre a navegação à vela. -
1:23 - 1:25Por fim, quando a escola disse
-
1:25 - 1:28que eu não tinha inteligência suficiente
para ser veterinária, -
1:28 - 1:33abandonei a escola aos 17 anos,
para começar a aprender a velejar. -
1:33 - 1:37Imaginem como me senti,
quatro anos depois, -
1:37 - 1:39sentada numa sala de conferências,
-
1:39 - 1:42em frente de alguém que eu sabia que
podia tornar realidade o meu sonho. -
1:43 - 1:46Senti que a minha vida
dependia daquele momento -
1:46 - 1:48e, incrivelmente, ele disse que sim.
-
1:49 - 1:53Mal podia conter a minha emoção
naquela primeira reunião de "design" -
1:53 - 1:56para conceber o barco
em que eu iria navegar, -
1:56 - 1:58sozinha, sem parar, à volta do mundo.
-
1:59 - 2:02Desde aquela primeira reunião,
até à linha final da corrida, -
2:02 - 2:04foi tudo aquilo com que sempre sonhara.
-
2:04 - 2:06Tal como nos meus sonhos,
-
2:06 - 2:08houve momentos espantosos
e momentos difíceis. -
2:08 - 2:10Evitei um icebergue a seis metros.
-
2:10 - 2:13Subi nove vezes ao topo do maestro
de 27 metros. -
2:13 - 2:15Apanhei vento de través
no Oceano Austral. -
2:15 - 2:19Mas os pores-do-sol, a fauna,
e o distanciamento -
2:19 - 2:21eram de cortar a respiração.
-
2:22 - 2:25Ao fim de três meses no mar,
aos 24 anos, -
2:25 - 2:27acabei na segunda posição.
-
2:28 - 2:31Adorei tanto esta corrida
que, seis meses depois, -
2:31 - 2:35decidi voltar a dar a volta ao mundo,
mas desta vez, sem ser numa corrida, -
2:35 - 2:38tentar ser a pessoa
mais rápida da história -
2:38 - 2:41a velejar sozinha, sem parar,
a dar a volta ao mundo. -
2:41 - 2:43Para isso, precisava
duma embarcação diferente, -
2:43 - 2:47maior, mais larga, mais rápida,
mais potente. -
2:47 - 2:49Para dar uma ideia
do tamanho desse barco, -
2:49 - 2:53eu podia subir pelo interior
do mastro até ao topo. -
2:53 - 2:5623 metros de comprimento,
18 metros de largura. -
2:56 - 2:59Chamei-lhe carinhosamente Moby.
-
2:59 - 3:00Era um catamarã.
-
3:01 - 3:02Quando o construímos,
-
3:02 - 3:05nunca ninguém tinha dado a volta ao mundo,
sozinho, sem paragens. -
3:05 - 3:07embora muitos tivessem tentado.
-
3:07 - 3:11Mas, durante a construção, um francês
agarrou num barco 25% maior do que o nosso -
3:11 - 3:15e não só o conseguiu,
como bateu o recorde de 93 dias, -
3:15 - 3:17reduzindo-o para 72.
-
3:18 - 3:20A fasquia agora estava muito mais alta.
-
3:20 - 3:22Estes barcos eram sensacionais
para velejar. -
3:22 - 3:25Isto foi uma viagem de treino
ao largo da costa da França. -
3:25 - 3:26(Risos)
-
3:26 - 3:29Sei do que falo porque eu era
um dos cinco membros da tripulação. -
3:29 - 3:34Bastavam cinco segundos
para passar de "tudo bem" -
3:34 - 3:37para que o mundo escurecesse
quando as vigias mergulhavam na água. -
3:37 - 3:39Esses cinco segundos
passam num instante. -
3:39 - 3:42Vejam como o mar
está muito abaixo destes tipos. -
3:42 - 3:46Imaginem isto, sozinhos,
no Oceano Austral -
3:46 - 3:49mergulhados na água gelada,
a milhares de quilómetros de terra firme. -
3:52 - 3:53Era Dia de Natal.
-
3:53 - 3:56Eu avançava para o Oceano Austral
a sul da Austrália. -
3:57 - 3:59As condições eram horríveis.
-
4:00 - 4:02Eu estava a aproximar-se
duma parte do oceano -
4:02 - 4:05que estava a mais de 3000 km
da cidade mais próxima. -
4:06 - 4:07A terra mais próxima era a Antártida,
-
4:07 - 4:10e as pessoas mais próximas
eram os tripulantes -
4:10 - 4:12da Estação Espacial Europeia lá em cima.
-
4:12 - 4:13(Risos)
-
4:13 - 4:15Estava, de facto, no meio de nenhures.
-
4:16 - 4:19Se precisasse de auxílio,
e ainda estivesse viva, -
4:19 - 4:22seriam precisos quatro dias
para um barco lá chegar -
4:22 - 4:25e mais quatro dias para esse barco
me levar para um porto. -
4:25 - 4:27Nenhum helicóptero pode lá chegar,
-
4:27 - 4:29nenhum avião pode aterrar.
-
4:30 - 4:33Eu seguia na frente
duma tempestade tremenda. -
4:33 - 4:36No centro dela, o vento
atingia 80 nós de velocidade, -
4:36 - 4:39o que era vento a mais
para o barco e para mim. -
4:39 - 4:41As vagas já atingiam
os 12 a 15 metros de altura, -
4:41 - 4:44e a espuma das cristas a rebentar
-
4:44 - 4:46era projetada horizontalmente
como a neve num nevão. -
4:47 - 4:50Se eu não avançasse depressa,
seria engolida por aquela tempestade, -
4:50 - 4:53o barco virar-se-ia
ou seria reduzido a pedaços. -
4:54 - 4:56Estava literalmente a lutar pela vida,
-
4:56 - 4:59no fio da navalha.
-
5:00 - 5:03A velocidade de que eu precisava
desesperadamente, tinha um perigo. -
5:04 - 5:08Todos sabemos o que é guiar um carro
a 40, 50 ou 60 km à hora. -
5:08 - 5:11Não é complicado.
Podemos concentrar-nos. -
5:11 - 5:12Podemos ligar o rádio.
-
5:12 - 5:17Aumentem isso para 80, 90, 110,
acelerem para 130, 140, 160 km à hora. -
5:17 - 5:21Ficamos tensos,
agarrados ao volante com toda a força. -
5:21 - 5:23Agora conduzam o carro
estrada fora, à noite, -
5:23 - 5:25retirem os limpa-vidros,
o para-brisas, -
5:25 - 5:27os faróis e os travões.
-
5:27 - 5:29Era assim no Oceano Austral.
-
5:29 - 5:33(Aplausos)
-
5:33 - 5:34Podem imaginar
-
5:34 - 5:37como seria muito difícil
dormir numa situação dessas, -
5:37 - 5:39mesmo como passageiro.
-
5:39 - 5:41Mas eu não era uma passageira.
-
5:41 - 5:43Estava sozinha num barco,
mal me aguentava de pé, -
5:43 - 5:46e tinha que tomar
todas as decisões a bordo. -
5:46 - 5:48Estava completamente exausta,
física e mentalmente. -
5:48 - 5:51Oito mudanças de vela em 12 horas.
-
5:51 - 5:53A vela mestra tinha o triplo do meu peso.
-
5:53 - 5:55Depois de cada mudança,
-
5:55 - 5:58eu caía prostrada no chão
encharcada em suor, -
5:58 - 6:01com o ar gelado do Oceano Austral
a queimar-me a garganta. -
6:02 - 6:05Mas ali, os piores momentos
-
6:05 - 6:07contrastam frequentemente
com os momentos mais fortes. -
6:08 - 6:11Dias depois, saí do abismo.
-
6:12 - 6:16Contra todos os prognósticos,
consegui bater o recorde -
6:16 - 6:18no centro daquela depressão.
-
6:18 - 6:20O céu clareou, a chuva parou.
-
6:21 - 6:25Num piscar de olhos,
o mar monstruoso transformou-se -
6:25 - 6:28na mais bela das montanhas
à luz do luar. -
6:28 - 6:33É difícil de explicar, quando partimos,
funcionamos de modo diferente. -
6:33 - 6:35O barco é todo o nosso mundo
-
6:35 - 6:38e só temos aquilo
que levámos connosco à partida. -
6:38 - 6:40Se eu agora vos dissesse:
-
6:40 - 6:43“Vão para Vancouver
e procurem tudo aquilo de que precisam -
6:43 - 6:45"para sobreviverem durante três meses”,
-
6:45 - 6:46é uma coisa difícil.
-
6:46 - 6:49São os alimentos, o combustível, a roupa,
-
6:49 - 6:51até o papel higiénico e a pasta de dentes.
-
6:51 - 6:53É o que fazemos.
-
6:53 - 6:56Depois de partimos,
controlamos até à última gota de gasóleo -
6:56 - 6:58e o último pacote de comida.
-
6:58 - 7:00Nenhuma experiência da minha vida
-
7:00 - 7:05me podia ter dado uma melhor compreensão
da definição da palavra “finito”. -
7:04 - 7:06Aquilo que temos
é só o que temos. -
7:06 - 7:08Não há mais nada.
-
7:08 - 7:12Nunca na minha vida
tinha alargado aquela definição de finito -
7:12 - 7:14que senti a bordo,
para qualquer coisa fora da vela, -
7:14 - 7:18até desembarcar, na linha de chegada,
depois de ter batido o recorde. -
7:20 - 7:24(Aplausos)
-
7:25 - 7:27Subitamente, estabeleci a ligação.
-
7:27 - 7:30A nossa economia mundial não é diferente.
-
7:30 - 7:33Está totalmente dependente
de materiais finitos -
7:33 - 7:35que só possuímos uma vez
na história da humanidade. -
7:36 - 7:39Foi como encontrar uma coisa
que não esperávamos, debaixo duma pedra -
7:39 - 7:41e termos duas opções:
-
7:41 - 7:45Ou ponho a pedra de lado
e aprendo alguma coisa com aquilo -
7:45 - 7:47ou volto a pô-la onde ela estava
-
7:47 - 7:50e continuo com o meu sonho
de velejar à volta do mundo. -
7:51 - 7:52Eu optei pela primeira.
-
7:52 - 7:56Pus a pedra de lado e dediquei-me
à aventura duma nova aprendizagem. -
7:56 - 7:59Falei com executivos, especialistas,
cientistas e economistas, -
7:59 - 8:02para tentar perceber como funciona
a nossa economia mundial. -
8:03 - 8:06A minha curiosidade
levou-me a locais extraordinários. -
8:06 - 8:10Esta foto foi tirada
numa central elétrica a carvão. -
8:11 - 8:12Fiquei fascinada pelo carvão,
-
8:12 - 8:15É fundamental para
a necessidade mundial de energia -
8:15 - 8:17mas também é uma coisa
muito ligada à minha família. -
8:17 - 8:20O meu bisavô foi mineiro de carvão.
-
8:20 - 8:23Passou 50 anos da vida debaixo do chão.
-
8:23 - 8:25Esta é uma fotografia dele.
-
8:25 - 8:28Quando vemos esta foto
vemos uma pessoa de outra época. -
8:29 - 8:32Já ninguém hoje usa calças
com a cintura tão alta. -
8:32 - 8:34(Risos)
-
8:35 - 8:37Esta agora, sou eu,
com o meu bisavô, -
8:37 - 8:40A propósito, aquelas orelhas não são dele.
-
8:40 - 8:42(Risos)
-
8:42 - 8:43Nós éramos muito chegados.
-
8:43 - 8:46Lembro-me de estar ao colo dele,
a ouvir histórias da mina. -
8:46 - 8:48Falava-me da camaradagem lá em baixo,
-
8:48 - 8:51de os mineiros costumarem guardar
as côdeas das sanduíches -
8:51 - 8:54para darem aos póneis
que trabalhavam debaixo do chão. -
8:55 - 8:57Parece que foi ontem.
-
8:57 - 8:59Na minha jornada de aprendizagem,
-
8:59 - 9:01visitei o “website”
da Associação Mundial do Carvão. -
9:01 - 9:03A meio da página inicial, dizia:
-
9:03 - 9:06“Só temos carvão para 118 anos”.
-
9:07 - 9:10Fiquei a pensar:
“Já é muito para além da minha vida”. -
9:10 - 9:12É um número muito maior
do que as previsões para o petróleo. -
9:12 - 9:14Mas fiz as contas e apercebi-me
-
9:14 - 9:21de que o meu bisavô tinha nascido
exatamente 118 anos antes daquele ano -
9:21 - 9:23e eu sentara-me ao colo dele
até aos 11 anos. -
9:23 - 9:26Percebi que não tinham significado
no tempo, nem na história. -
9:27 - 9:30Isso fez com que eu tomasse uma decisão
que nunca imaginaria tomar: -
9:30 - 9:33Abandonar o desporto
da navegação solitária -
9:33 - 9:36e concentrar-me no maior desafio
que eu já tinha encontrado: -
9:36 - 9:38O futuro da nossa economia mundial.
-
9:38 - 9:41Cedo me apercebi
que não se tratava apenas da energia. -
9:41 - 9:43Também se tratava das matérias-primas.
-
9:43 - 9:45Em 2008, encontrei um estudo científico
-
9:45 - 9:47que previa por quantos anos teremos
-
9:47 - 9:50alguns dos materiais preciosos
que se extraem do solo. -
9:50 - 9:54Cobre: 61 anos;
estanho, zinco: 40; prata: 29. -
9:54 - 9:56Estes números podiam não ser exatos
-
9:56 - 9:58mas sabíamos
que estes materiais eram finitos. -
9:58 - 9:59Só os temos uma vez.
-
9:59 - 10:02No entanto, a velocidade
com que temos usado estes materiais -
10:02 - 10:05aumentou rapidamente, exponencialmente.
-
10:05 - 10:07Com mais gente no mundo,
que possui mais coisas, -
10:07 - 10:10vimos desaparecer, apenas em 10 anos,
-
10:10 - 10:14a baixa de preços nestes produtos básicos
que se verificou ao longo de 100 anos. -
10:14 - 10:15Isto afeta-nos a todos.
-
10:15 - 10:18Causou uma enorme volatilidade nos preços,
-
10:18 - 10:20De tal modo que, em 2011,
-
10:20 - 10:23o fabricante europeu médio de automóveis
-
10:23 - 10:25viu as matérias-primas
aumentarem de preço, -
10:25 - 10:27na ordem dos 500 milhões de euros,
-
10:27 - 10:30desviando metade
dos benefícios de exploração -
10:30 - 10:33para uma coisa
que ele não tem hipótese de controlar. -
10:33 - 10:36Quanto mais eu aprendia,
mais a minha vida mudava. -
10:37 - 10:39Comecei a viajar menos,
a fazer menos, a usar menos. -
10:39 - 10:42Achava que tínhamos que fazer menos
com o que tínhamos de fazer. -
10:42 - 10:45Mas sentia-me desconfortável com isso.
-
10:45 - 10:46Não me parecia correto.
-
10:46 - 10:49Parecia-me que estávamos
apenas a ganhar tempo. -
10:49 - 10:51Estávamos apenas a adiar as coisas.
-
10:51 - 10:54Mesmo que toda a gente mudasse,
não se resolveria o problema. -
10:54 - 10:56Não endireitaria o sistema.
-
10:56 - 10:57Era fundamental para a transição.
-
10:57 - 11:00Mas, uma transição para o quê?
-
11:00 - 11:02O que é que podia resultar?
-
11:04 - 11:06O que me chocou foi que
-
11:06 - 11:09o enquadramento em que vivemos
é profundamente defeituoso. -
11:10 - 11:12Acabei por perceber
-
11:12 - 11:16que o nosso sistema de funcionamento,
a forma como funciona a nossa economia, -
11:16 - 11:18a forma como a nossa economia
tem sido construída -
11:18 - 11:20é um sistema em si mesmo.
-
11:20 - 11:22No mar, eu tinha que perceber
sistemas complexos. -
11:22 - 11:25Tinha que integrar milhentas informações,
-
11:25 - 11:26tinha que as processar.
-
11:26 - 11:29Tinha que compreender o sistema,
para poder vencê-lo. -
11:29 - 11:30Tinha que o tornar inteligível.
-
11:31 - 11:35Quando estudava a economia mundial,
percebi que ela também é um sistema. -
11:35 - 11:39mas é um sistema
que não se aguenta a longo-prazo. -
11:39 - 11:43Percebi que temos vindo a aperfeiçoar
uma economia linear -
11:43 - 11:45durante 150 anos.
-
11:45 - 11:47Extraímos um material do solo,
-
11:47 - 11:50fabricamos qualquer coisa com ele
e no final, deitamos fora esse produto. -
11:50 - 11:53Sim, reciclamos uma parte,
-
11:53 - 11:56mas sobretudo numa tentativa
de aproveitar o que é possível, -
11:56 - 11:57e não como um fim em si.
-
11:58 - 12:01É uma economia que não se aguenta
a longo prazo. -
12:01 - 12:04Se sabemos que temos materiais finitos,
-
12:04 - 12:06porque é que criamos uma economia
-
12:06 - 12:09que gasta coisas que cria desperdícios?
-
12:09 - 12:12A vida só existe
há milhares de milhões de anos, -
12:12 - 12:16e tem-se sempre adaptado
a usar materiais eficazmente. -
12:16 - 12:19É um sistema complexo
mas, nele, não há desperdícios -
12:19 - 12:21Tudo é metabolizado.
-
12:21 - 12:25Não é uma economia linear,
mas circular. -
12:27 - 12:29Senti-me como uma criança num jardim.
-
12:29 - 12:33Pela primeira vez, nesta minha caminhada,
percebi exatamente para onde seguir. -
12:34 - 12:38Se construíssemos uma economia
que usasse as coisas em vez de as consumir, -
12:38 - 12:41podíamos construir um futuro
que fosse viável a longo prazo. -
12:41 - 12:43Fiquei empolgada.
-
12:43 - 12:45Era uma coisa em que podíamos avançar.
-
12:45 - 12:49Sabíamos exatamente para onde ir.
Só tínhamos que pensar em como lá chegar. -
12:49 - 12:51Foi com esta ideia na cabeça
-
12:51 - 12:54que criámos a Fundação Ellen MacArthur,
em setembro de 2010. -
12:56 - 12:58Baseámo-nos em muitas escolas de pensamento
-
12:58 - 13:00que apontavam para este modelo:
-
13:00 - 13:02Simbiose industrial,
economia de desempenho, -
13:02 - 13:05economia de partilha, biomimética
-
13:05 - 13:07e, claro, produção de berço a berço.
-
13:07 - 13:10Os materiais seriam definidos,
enquanto técnicos ou biológicos, -
13:11 - 13:14o desperdício seria totalmente suprimido,
-
13:14 - 13:17e teríamos um sistema
que podia funcionar sem falhas -
13:17 - 13:19a longo-prazo.
-
13:19 - 13:21Qual seria o aspeto desta economia?
-
13:21 - 13:25Talvez não comprássemos lâmpadas
mas pagaríamos o fornecimento da luz -
13:25 - 13:28e os fabricantes recuperariam os materiais
-
13:28 - 13:31e mudariam as lâmpadas
quando houvesse produtos mais eficazes. -
13:31 - 13:34E se as embalagens não fossem tóxicas
e se dissolvessem na água -
13:34 - 13:36que podíamos continuar a beber?
-
13:36 - 13:38Nunca seriam um desperdício.
-
13:38 - 13:40E se os motores
pudessem voltar a ser fabricados -
13:40 - 13:42Se pudéssemos recuperar os componentes
-
13:42 - 13:44e reduzir consideravelmente
o gasto em energia? -
13:44 - 13:47Se pudéssemos recuperar peças
dos circuitos impressos, reutilizá-los -
13:47 - 13:51e recuperar os materiais que eles contêm,
uma segunda vez? -
13:51 - 13:54Se pudéssemos recolher as sobras
dos alimentos, os dejetos humanos, -
13:54 - 13:57transformar tudo isso
em fertilizantes, calor, energia, -
13:57 - 14:00restabelecendo os sistemas nutritivos
-
14:00 - 14:02e reconstruindo um capital natural?
-
14:03 - 14:06E os carros
— nós queremos é deslocar-nos, -
14:06 - 14:08não precisamos de possuir
o que está dentro deles. -
14:09 - 14:11Poderiam os carros passar a ser um serviço
-
14:11 - 14:13e proporcionar-nos a mobilidade no futuro?
-
14:13 - 14:18Tudo isto parece incrível, mas não são
apenas ideias, são hoje uma realidade. -
14:18 - 14:20Estão na primeira linha
da economia circular. -
14:20 - 14:24O que enfrentamos
é alargá-las e aumentá-las. -
14:25 - 14:28Então, como passamos
do linear para o circular? -
14:28 - 14:31Na Fundação, quisemos trabalhar
-
14:31 - 14:33com as melhores universidades do mundo,
-
14:33 - 14:35com as empresas de ponta,
de todo o mundo, -
14:35 - 14:37com as maiores plataformas do mundo
-
14:37 - 14:39e com os governos.
-
14:39 - 14:41Pensámos trabalhar
com os melhores analistas -
14:41 - 14:42e perguntar-lhes:
-
14:42 - 14:46“A economia circular poderá dissociar
o crescimento das limitações de recursos?” -
14:46 - 14:49“Poderá reconstituir o capital natural?
-
14:49 - 14:53"Poderá substituir o uso
dos atuais fertilizantes químicos?” -
14:53 - 14:56“Sim”, foi a resposta à dissociação.
-
14:56 - 14:59E “Sim”, podemos reduzir
o uso dos fertilizantes atuais -
14:59 - 15:02numa espantosa ordem de grandeza
de 2,7 pontos. -
15:03 - 15:06Mas o que mais me animou
sobre a economia circular -
15:06 - 15:09foi a sua capacidade de motivar os jovens.
-
15:09 - 15:12Quando os jovens veem a economia
através da perspetiva circular, -
15:12 - 15:16veem novas oportunidades
na mesma linha do horizonte, -
15:16 - 15:19podem utilizar a sua criatividade
e conhecimentos -
15:19 - 15:21para reconstruir todo o sistema.
-
15:22 - 15:24Já existe, há que passar à ação,
-
15:24 - 15:26e quanto mais depressa, melhor.
-
15:27 - 15:29Poderemos consegui-lo
durante a vida deles? -
15:29 - 15:31Será mesmo possível?
-
15:31 - 15:33Eu acredito que é.
-
15:33 - 15:37Quando olhamos para a duração
da vida do meu bisavô, tudo é possível. -
15:38 - 15:41Quando ele nasceu,
só havia 25 carros no mundo; -
15:41 - 15:43tinham acabado de ser inventados.
-
15:44 - 15:48Quando ele tinha 14 anos,
voámos pela primeira vez na história. -
15:48 - 15:51Agora temos
100 000 voos comerciais por dia. -
15:53 - 15:56Quando ele tinha 45 anos,
construímos o primeiro computador. -
15:56 - 15:59Muitos disseram que não se aguentaria,
mas aguentou-se -
15:59 - 16:02e, 20 anos depois,
transformámo-lo num microchip. -
16:02 - 16:05Hoje, aqui nesta sala,
temos milhares deles. -
16:06 - 16:09Dez anos antes de ele morrer,
construímos o primeiro telemóvel. -
16:09 - 16:12A bem dizer, não era lá muito móvel,
mas agora é. -
16:13 - 16:16Quando o meu bisavô abandonou
esta Terra, chegou a Internet. -
16:17 - 16:18Hoje, podemos fazer tudo
-
16:18 - 16:20mas o mais importante
-
16:20 - 16:22é que hoje temos um plano.
-
16:22 - 16:23Obrigada
-
16:23 - 16:27(Aplausos)
- Title:
- A coisa surpreendente que aprendi quando dei a volta ao mundo sozinha, de barco à vela
- Speaker:
- Dame Ellen MacArthur
- Description:
-
O que é que aprendemos quando velejamos à volta do mundo sozinhos? Quando a velejadora Ellen MacArthur deu a volta ao mundo sozinha — levando com ela tudo de que precisava — voltou com uma nova perceção quanto ao funcionamento do mundo, um local de ciclos interligados e de recursos finitos, em que as decisões que tomamos hoje afetam o que sobra para amanhã. Propõe uma ousada nova forma de encarar os sistemas económicos mundiais: não como sistemas lineares, mas circulares, em que tudo está ligado.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 16:47
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