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Como se explica a consciência?

  • 0:01 - 0:03
    Neste momento,
  • 0:03 - 0:05
    têm um filme a passar na vossa cabeça.
  • 0:06 - 0:09
    É um filme impressionante,
    com várias camadas de som.
  • 0:09 - 0:12
    Possui visão 3D e som envolvente,
  • 0:12 - 0:15
    para o que estão a ver
    e ouvir, neste momento.
  • 0:15 - 0:17
    Mas isto é apenas o início.
  • 0:17 - 0:21
    O vosso filme tem cheiro, sabor e tacto.
  • 0:22 - 0:25
    Tem noção do vosso corpo,
  • 0:25 - 0:27
    da dor, da fome,
  • 0:27 - 0:29
    dos orgasmos.
  • 0:29 - 0:31
    Possui emoções,
  • 0:31 - 0:34
    raiva e felicidade.
  • 0:35 - 0:38
    Possui memórias,
    como cenas da vossa infância
  • 0:38 - 0:40
    a passar à vossa frente.
  • 0:41 - 0:46
    E possui esta constante locução narrativa
  • 0:46 - 0:49
    no vosso fluxo de pensamentos conscientes.
  • 0:50 - 0:54
    No centro deste filme estão vocês,
  • 0:55 - 0:58
    a presenciar tudo isto directamente.
  • 1:00 - 1:04
    Este filme é o vosso fluxo de consciência,
  • 1:05 - 1:10
    o tema da experiência da mente e do mundo.
  • 1:12 - 1:16
    A consciência é um dos factos
    fundamentais da existência humana.
  • 1:16 - 1:19
    Cada um de nós é consciente.
  • 1:19 - 1:21
    Todos temos o nosso filme interior.
  • 1:21 - 1:24
    Você. E você. E você.
  • 1:24 - 1:28
    Não há nada que saibamos
    de forma mais directa.
  • 1:28 - 1:32
    Pelo menos, eu tenho noção
    da minha consciência directamente.
  • 1:32 - 1:35
    Não posso ter a certeza
    de que vocês são conscientes.
  • 1:35 - 1:39
    A consciência é, também, o que faz
    com que a vida valha a pena ser vivida.
  • 1:39 - 1:41
    Se não fôssemos conscientes,
  • 1:41 - 1:45
    nada nas nossas vidas
    teria significado ou valor.
  • 1:46 - 1:50
    Mas, ao mesmo tempo, é o fenómeno
    mais misterioso no universo.
  • 1:51 - 1:54
    Porque que é que somos conscientes?
  • 1:55 - 1:57
    Porque é que temos
    estes filmes interiores?
  • 1:57 - 1:59
    Porque é que não somos apenas robôs
  • 1:59 - 2:01
    que processam todos estes estímulos
  • 2:01 - 2:03
    e os transformam num produto final,
  • 2:03 - 2:06
    sem terem qualquer experiência
    do filme interior?
  • 2:06 - 2:10
    Neste momento, ninguém sabe
    as respostas para estas questões.
  • 2:11 - 2:13
    Eu vou sugerir que,
  • 2:13 - 2:16
    para integrar a consciência na ciência,
  • 2:16 - 2:19
    poderão ser precisas ideias radicais.
  • 2:19 - 2:22
    Há quem diga que é impossível
  • 2:22 - 2:24
    uma ciência da consciência.
  • 2:24 - 2:28
    A ciência, por natureza, é objectiva.
  • 2:28 - 2:31
    A consciência, por natureza, é subjectiva.
  • 2:32 - 2:35
    E, portanto, nunca poderá haver
    uma ciência da consciência.
  • 2:36 - 2:39
    Durante grande parte do século XX,
    esta premissa foi aceite.
  • 2:39 - 2:42
    Os psicólogos estudavam
    o comportamento objectivamente,
  • 2:43 - 2:47
    os neurocientistas estudavam
    o cérebro objectivamente,
  • 2:47 - 2:50
    e ninguém sequer mencionava a consciência.
  • 2:51 - 2:53
    Mesmo há 30 anos, quando
    começaram as confêrencias TED,
  • 2:53 - 2:57
    havia muito pouco trabalho
    científico sobre a consciência.
  • 2:58 - 3:02
    Há cerca de 20 anos,
    tudo começou a mudar.
  • 3:03 - 3:05
    Neurocientistas, como Francis Crick,
  • 3:05 - 3:08
    e físicos, como Roger Penrose, disseram:
  • 3:08 - 3:13
    "Agora é a altura para a ciência
    atacar a consciência".
  • 3:14 - 3:16
    Desde então, tem havido uma explosão,
  • 3:16 - 3:19
    um desabrochar de trabalho
    científico sobre a consciência.
  • 3:19 - 3:22
    Esse trabalho tem sido maravilhoso.
    Tem sido ótimo.
  • 3:22 - 3:25
    Mas também tem limitações
    fundamentais, até agora.
  • 3:27 - 3:30
    A peça central da ciência da consciência,
  • 3:30 - 3:32
    nos anos recentes,
  • 3:32 - 3:34
    tem sido a procura de correlações.
  • 3:34 - 3:37
    Correlações entre certas áreas do cérebro
  • 3:37 - 3:40
    e certos estados de consciência.
  • 3:41 - 3:44
    Vimos um trabalho deste tipo
    no trabalho de Nancy Kanwisher,
  • 3:44 - 3:47
    no trabalho fantástico que
    ela apresentou há minutos.
  • 3:48 - 3:50
    Agora percebemos muito melhor,
  • 3:50 - 3:53
    por exemplo, os tipos de áreas do cérebro
  • 3:53 - 3:57
    que se relacionam com a experiência
    consciente de ver rostos,
  • 3:57 - 4:00
    ou de sentir dor,
  • 4:00 - 4:02
    ou sentir-se feliz.
  • 4:02 - 4:06
    Mas isto é ainda uma
    ciência de correlações.
  • 4:06 - 4:08
    Não é uma ciência de explicações.
  • 4:09 - 4:11
    Sabemos que estas áreas do cérebro
  • 4:11 - 4:15
    se relacionam com certos tipos
    de experiências conscientes,
  • 4:15 - 4:18
    mas não sabemos porquê.
  • 4:19 - 4:21
    Gosto de expor isto, admitindo
  • 4:21 - 4:24
    que este tipo de trabalho da neurociência
  • 4:24 - 4:26
    está a responder a algumas questões
  • 4:26 - 4:28
    que queremos ver respondidas
    sobre a consciência,
  • 4:28 - 4:32
    sobre o que fazem certas áreas do cérebro
  • 4:32 - 4:34
    e com quê se correlacionam.
  • 4:34 - 4:37
    Mas, de certa forma,
    estes são os problemas fáceis.
  • 4:37 - 4:39
    Sem desfazer no trabalho
    dos neurocientistas
  • 4:39 - 4:42
    — não há problemas verdadeiramente
    fáceis com a consciência.
  • 4:42 - 4:47
    Mas não aborda o verdadeiro mistério
  • 4:47 - 4:49
    no núcleo deste tema:
  • 4:49 - 4:53
    Porque é que todo este
    processamento físico no cérebro
  • 4:53 - 4:56
    há-de ser acompanhado
    por uma consciência?
  • 4:56 - 4:59
    Porque é que existe este
    filme interior e subjetivo?
  • 4:59 - 5:02
    Neste momento, não temos nenhuma pista.
  • 5:02 - 5:04
    Vocês podem dizer:
  • 5:04 - 5:08
    "Vamos dar alguns anos à neurociência.
  • 5:08 - 5:12
    "Vai acabar por ser outro
    fenómeno emergente,
  • 5:12 - 5:15
    "como os engarrafamentos de trânsito,
  • 5:15 - 5:16
    "como os furacões,
  • 5:16 - 5:19
    "como a vida, vamos acabar por perceber".
  • 5:19 - 5:21
    Os casos clássicos de emergência
  • 5:21 - 5:24
    são todos eles casos de
    comportamento emergente.
  • 5:24 - 5:27
    Como o fluxo de tráfego se comporta,
  • 5:27 - 5:28
    como um furacão funciona,
  • 5:28 - 5:34
    como um organismo vivo se reproduz,
    se adapta e metaboliza,
  • 5:34 - 5:36
    tudo perguntas sobre
    funcionamento objectivo.
  • 5:36 - 5:39
    Podemos aplicá-lo ao cérebro humano,
  • 5:39 - 5:42
    para explicar alguns
    comportamentos e funções
  • 5:42 - 5:44
    do cérebro humano como
    um fenómeno emergente:
  • 5:44 - 5:48
    como andamos, como falamos,
    como jogamos xadrez,
  • 5:48 - 5:50
    todas estas questões
    sobre comportamento.
  • 5:50 - 5:53
    Mas quando falamos de consciência,
  • 5:53 - 5:55
    as questões sobre comportamento
  • 5:55 - 5:57
    estão entre os problemas fáceis.
  • 5:57 - 6:00
    No que diz respeito ao problema difícil,
    a questão que se coloca é:
  • 6:00 - 6:03
    Porque é que todo este comportamento
  • 6:03 - 6:06
    é acompanhado por uma
    experiência subjectiva?
  • 6:06 - 6:10
    E aqui, o paradigma
    padrão da emergência,
  • 6:10 - 6:13
    mesmo os paradigmas padrão
    da neurociência,
  • 6:13 - 6:16
    não têm muito a dizer, até agora.
  • 6:17 - 6:20
    No fundo, eu sou
    um materialista científico.
  • 6:21 - 6:25
    Quero uma teoria científica da consciência
  • 6:25 - 6:26
    que funcione.
  • 6:27 - 6:31
    Durante muito tempo,
    bati com a cabeça nas paredes
  • 6:31 - 6:33
    à procura de uma teoria da consciência
  • 6:33 - 6:36
    que funcionasse puramente
    em termos físicos .
  • 6:36 - 6:38
    Mas acabei por chegar à conclusão
  • 6:38 - 6:41
    que isso não funcionaria
    por razões sistemáticas.
  • 6:42 - 6:44
    É uma longa história,
  • 6:44 - 6:46
    mas a ideia chave é que
  • 6:46 - 6:49
    o que conseguimos a partir de
    explicações puramente redutoras,,
  • 6:49 - 6:52
    em termos físicos e em termos
    com base no cérebro,
  • 6:52 - 6:54
    são histórias sobre
    o funcionamento de um sistema
  • 6:54 - 6:56
    — a sua estrutura, a sua dinâmica,
  • 6:56 - 6:58
    o comportamento que produz.
  • 6:58 - 7:00
    Óptimo para resolver os problemas fáceis
  • 7:00 - 7:03
    — como nos comportamos, como funcionamos.
  • 7:03 - 7:06
    Mas no que diz respeito
    à experiência subjectiva,
  • 7:06 - 7:09
    porque é que tudo isto nos parece
    uma coisa que vem de dentro?
  • 7:09 - 7:12
    Isto é uma coisa fundamentalmente nova
  • 7:12 - 7:15
    e é sempre uma questão mais profunda.
  • 7:15 - 7:19
    Penso que estamos num certo impasse.
  • 7:21 - 7:24
    Temos esta fantástica, óptima
    corrente de explicação
  • 7:24 - 7:28
    — estamos habituados a ela —
    na qual a física explica a química,
  • 7:28 - 7:31
    a química explica a biologia,
  • 7:31 - 7:35
    a biologia explica partes da psicologia.
  • 7:35 - 7:38
    Mas a consciência não parece
    pertencer a este quadro.
  • 7:39 - 7:42
    Por um lado, é um facto
    que somos conscientes.
  • 7:43 - 7:45
    Por outro, não sabemos como acomodá-lo
  • 7:45 - 7:48
    na nossa visão científica do mundo.
  • 7:48 - 7:50
    Então, vamos dizer que a consciência,
  • 7:50 - 7:53
    por ora, é uma espécie de anomalia,
  • 7:53 - 7:55
    que precisamos de integrar
  • 7:55 - 7:57
    na nossa visão do mundo,
    mas ainda não sabemos como.
  • 7:58 - 8:00
    Perante uma anomalia destas,
  • 8:00 - 8:03
    podem ser necessárias ideias radicais.
  • 8:04 - 8:07
    Eu penso que precisamos
    de uma ou duas ideias
  • 8:07 - 8:09
    que inicialmente parecem descabidas
  • 8:09 - 8:13
    antes de conseguirmos considerar
    a ideia de consciência, cientificamente.
  • 8:14 - 8:17
    Agora, há candidatas
    a essas ideias descabidas.
  • 8:19 - 8:22
    O meu amigo Dan Dennett,
    que está aqui hoje, tem uma.
  • 8:22 - 8:25
    A ideia descabida dele é que
    não existe um problema difícil
  • 8:25 - 8:26
    de consciência.
  • 8:27 - 8:30
    Toda a ideia de um filme
    interior e subjectivo
  • 8:30 - 8:34
    envolve uma espécie de ilusão,
    ou uma confusão.
  • 8:34 - 8:38
    Na verdade, tudo o que precisamos
    é de explicar as funções objectivas,
  • 8:38 - 8:40
    os comportamentos do cérebro,
  • 8:40 - 8:43
    e assim explicamos tudo
    o que necessita ser explicado.
  • 8:44 - 8:46
    Bem, eu digo: "Dêem-lhe mais poder".
  • 8:47 - 8:50
    Este é o tipo de ideia radical
    que precisamos de explorar
  • 8:50 - 8:53
    se queremos ter uma
    explicação de consciência
  • 8:53 - 8:56
    puramente redutora
    e baseada no cérebro.
  • 8:57 - 8:59
    Ao mesmo tempo, para mim
    e para muitos outros,
  • 8:59 - 9:02
    essa visão está muito próxima
    de negar o dado da consciência
  • 9:02 - 9:04
    para ser satisfatória.
  • 9:04 - 9:07
    Portanto, eu vou numa direcção diferente.
  • 9:07 - 9:11
    No tempo que resta, quero explorar
    duas ideias descabidas
  • 9:11 - 9:14
    que penso possam ser promissoras.
  • 9:15 - 9:20
    A primeira ideia é que
    a consciência é fundamental.
  • 9:21 - 9:24
    Os físicos, por vezes, tomam
    aspectos do universo
  • 9:24 - 9:26
    como peças fundamentais de construção:
  • 9:26 - 9:29
    espaço, tempo e massa.
  • 9:30 - 9:33
    Eles postulam leis fundamentais
    que as governam.
  • 9:34 - 9:37
    Como a lei da gravidade,
    ou a mecânica quântica.
  • 9:37 - 9:40
    Estas leis e propriedades fundamentais
  • 9:40 - 9:43
    não são explicadas em termos mais básicos.
  • 9:43 - 9:46
    Elas são consideradas primitivas
  • 9:46 - 9:49
    e construímos o mundo a partir daí.
  • 9:49 - 9:53
    Mas, por vezes, a lista
    de fundamentos expande-se.
  • 9:54 - 9:57
    No século XIX, Maxwell descobriu
  • 9:57 - 10:00
    que não podemos explicar
    fenómenos electromagnéticos
  • 10:00 - 10:02
    nos termos dos fundamentos existentes
  • 10:02 - 10:05
    — espaço, tempo, massa, as leis de Newton.
  • 10:05 - 10:10
    Ele postulou leis fundamentais
    sobre electromagnetismo
  • 10:10 - 10:14
    e postulou a carga eléctrica
    como um elemento fundamental
  • 10:14 - 10:16
    que essas leis governam.
  • 10:17 - 10:20
    Eu penso que essa é a situação
    em que nos encontramos
  • 10:20 - 10:22
    em relação à consciência.
  • 10:22 - 10:24
    Se não conseguimos explicar a consciência
  • 10:24 - 10:27
    em termos dos fundamentos existentes
  • 10:27 - 10:29
    — espaço, tempo, massa e carga —
  • 10:29 - 10:32
    então, por uma questão de lógica,
    precisamos de expandir a lista.
  • 10:33 - 10:36
    A coisa mais natural a fazer
    seria postular a própria consciência
  • 10:36 - 10:38
    como uma coisa fundamental,
  • 10:38 - 10:41
    uma peça de construção
    fundamental da natureza.
  • 10:41 - 10:44
    Isto não quer dizer que não
    se pode fazer ciência com ela.
  • 10:44 - 10:48
    Isto abre o caminho para
    se fazer ciência com ela.
  • 10:48 - 10:51
    O que, depois, precisamos
    é de estudar as leis fundamentais
  • 10:51 - 10:53
    que governam a consciência.
  • 10:53 - 10:55
    As leis que ligam a consciência
  • 10:55 - 11:00
    a outros fundamentos: espaço, tempo,
    massa, processos físicos.
  • 11:01 - 11:03
    Os físicos por vezes dizem
  • 11:03 - 11:06
    que queremos leis
    fundamentais tão simples
  • 11:06 - 11:09
    que poderíamos escrevê-las numa "t-shirt".
  • 11:10 - 11:12
    Penso que é mais ou menos
    a situação em que estamos
  • 11:12 - 11:14
    no que diz respeito à consciência.
  • 11:14 - 11:16
    Queremos encontrar leis
    fundamentais tão simples
  • 11:16 - 11:18
    que poderíamos escrevê-las numa "t-shirt".
  • 11:18 - 11:20
    Ainda não sabemos que leis são essas,
  • 11:20 - 11:22
    mas é isso que procuramos.
  • 11:24 - 11:26
    A segunda ideia descabida
  • 11:26 - 11:30
    é que a consciência
    pode ser uma coisa universal.
  • 11:30 - 11:35
    Todos os sistemas podem ter
    um certo nível de consciência.
  • 11:37 - 11:40
    Esta visão é, por vezes,
    chamada de panpsiquismo
  • 11:40 - 11:42
    "Pan" siginica "todos",
    "psique" significa "mente".
  • 11:42 - 11:44
    Cada sistema é consciente,
  • 11:44 - 11:48
    não apenas os seres humanos,
    os cães, os ratos, as moscas,
  • 11:48 - 11:51
    mas mesmo os micróbios de Rob Knight,
  • 11:51 - 11:53
    as partículas elementares.
  • 11:53 - 11:56
    Até um fotão tem um certo
    grau de consciência.
  • 11:56 - 12:01
    A ideia não é que os fotões
    sejam inteligentes, ou que pensem.
  • 12:01 - 12:04
    Não quer dizer que um fotão
    se inquiete com a angústia de pensar:
  • 12:04 - 12:07
    "Ah estou sempre a andar
    às voltas quase à velocidade da luz,
  • 12:07 - 12:09
    "nunca consigo abrandar
    e cheirar as rosas".
  • 12:09 - 12:10
    (Risos)
  • 12:10 - 12:12
    Não. Não desse modo.
  • 12:12 - 12:15
    Mas, a ideia é que, talvez,
  • 12:15 - 12:18
    os fotões possam ter algum elemento
    de puro e subjectivo sentir,
  • 12:18 - 12:22
    algum precursor primitivo de consciência.
  • 12:22 - 12:25
    Isto pode-vos parecer um pouco excêntrico.
  • 12:25 - 12:28
    Porque haveria alguém de
    pensar em algo tão maluco?
  • 12:28 - 12:31
    Alguma motivação vem
    da primeira ideia descabida
  • 12:31 - 12:33
    de que a consciência é fundamental.
  • 12:33 - 12:38
    Se é fundamental
    — como o espaço, tempo e massa —
  • 12:38 - 12:40
    é natural supor que
    poderá ser, também, universal
  • 12:40 - 12:42
    assim como estes são.
  • 12:42 - 12:46
    É importante notar que, apesar
    de a ideia nos parecer contra-intuitiva,
  • 12:46 - 12:48
    é muito menos contra-intuitiva
  • 12:48 - 12:51
    para pessoas de culturas diferentes
  • 12:51 - 12:52
    nas quais a mente humana é vista
  • 12:52 - 12:55
    de uma forma muito mais
    contínua com a natureza.
  • 12:55 - 12:59
    Uma motivação mais profunda,
    vem da ideia de que
  • 12:59 - 13:02
    talvez a forma mais simples e poderosa de
    encontrar leis fundamentais
  • 13:02 - 13:05
    que liguem a consciência
    a processamentos físicos
  • 13:05 - 13:08
    seja ligar consciência e informação.
  • 13:09 - 13:12
    Onde quer que haja processamento
    de informação, há consciência.
  • 13:12 - 13:14
    Processamento complexo de informação,
  • 13:14 - 13:16
    como numa consciência humana complexa.
  • 13:16 - 13:19
    Processamento simples de informação,
    consciência simples.
  • 13:20 - 13:22
    O mais entusiasmante é que,
    em anos recentes,
  • 13:22 - 13:25
    um neurocientista, Giulio Tononi,
  • 13:25 - 13:28
    pegou neste tipo de teoria
    e desenvolveu-a rigorosamente
  • 13:28 - 13:30
    com uma teoria matemática.
  • 13:30 - 13:33
    Ele tem uma medida matemática
    para a integração de informação,
  • 13:33 - 13:35
    a que chama "phi",
  • 13:35 - 13:39
    que mede a quantidade de informação
    integrada num sistema.
  • 13:39 - 13:42
    E ele supõe que "phi"
    é coerente com a consciência.
  • 13:42 - 13:44
    Portanto, num cérebro humano,
  • 13:44 - 13:47
    uma quantidade de integração
    de informação incrível,
  • 13:47 - 13:50
    um elevado grau de "phi"
    e muita consciência.
  • 13:50 - 13:54
    Num rato, um grau médio
    de integração de informação,
  • 13:54 - 13:55
    ainda significativa,
  • 13:55 - 13:57
    uma quantidade
    considerável de consciência.
  • 13:57 - 13:59
    À medida que vamos
    descendo até aos vermes,
  • 13:59 - 14:02
    aos micróbios, às partículas,
  • 14:02 - 14:04
    a quantidade em "phi" cai,
  • 14:04 - 14:06
    a quantidade de integração
    de informação cai,
  • 14:06 - 14:08
    mas não chega a zero.
  • 14:08 - 14:10
    Na teoria de Tononi,
  • 14:10 - 14:14
    ainda há um grau de consciência
    superior a zero.
  • 14:14 - 14:17
    De facto, ele está a propor
    uma lei fundamental de consciência:
  • 14:17 - 14:20
    grau de "phi" elevado,
    quantidade de consciência elevada
  • 14:20 - 14:22
    Agora, não sei se esta teoria está certa,
  • 14:22 - 14:25
    mas é, talvez, a teoria que
    está na frente, neste momento,
  • 14:25 - 14:27
    na ciência da consciência.
  • 14:27 - 14:31
    E tem sido usada para integrar
    vários dados científicos.
  • 14:31 - 14:34
    Tem aquela boa característica
    de ser suficientemente simples
  • 14:34 - 14:37
    para podermos escrevê-la numa "t-shirt".
  • 14:37 - 14:40
    Outra e final motivação é que
  • 14:40 - 14:42
    o panpsiquismo pode ajudar-nos
  • 14:42 - 14:44
    a integrar a consciência no mundo físico.
  • 14:45 - 14:49
    Físicos e filósofos têm
    frequentemente observado...
  • 14:49 - 14:51
    Curiosamente, a física é abstracta,
  • 14:51 - 14:55
    descreve a estrutura da realidade
    usando uma série de equações,
  • 14:55 - 14:59
    mas não nos fala da realidade
    que lhe está subjacente.
  • 15:00 - 15:02
    Como diz Stephen Hawking,
  • 15:02 - 15:05
    o que é que inflama as equações?
  • 15:06 - 15:08
    Na visão do panpsiquismo,
  • 15:08 - 15:11
    podemos deixar como estão
    as equações da física,
  • 15:11 - 15:14
    mas considerá-las para descrever
    o fluxo da consciência.
  • 15:14 - 15:16
    No fundo, é isso que a física faz,
  • 15:16 - 15:19
    descrever o fluxo da consciência.
  • 15:19 - 15:23
    Nesta visão, é a consciência
    que inflama as equações.
  • 15:24 - 15:28
    Nesta visão, a consciência não salta
    para fora do mundo físico,
  • 15:28 - 15:29
    como se fosse um extra.
  • 15:29 - 15:32
    Está lá mesmo no seu coração.
  • 15:33 - 15:35
    Penso que a visão do panpsiquismo
  • 15:35 - 15:38
    tem o potencial para transfigurar
  • 15:38 - 15:40
    a nossa relação para com a natureza.
  • 15:40 - 15:45
    E pode ter sérias
    consequências sociais e éticas.
  • 15:46 - 15:48
    Algumas delas podem ser contra-intuitivas.
  • 15:48 - 15:52
    Eu costumava pensar que não devia
    comer nada que tivesse consciência,
  • 15:54 - 15:56
    portanto, devia ser vegetariano.
  • 15:56 - 15:59
    Agora, se vocês forem panpsiquistas,
    e adoptarem essa postura,
  • 15:59 - 16:01
    vão passar muita fome.
  • 16:01 - 16:02
    (Risos)
  • 16:02 - 16:03
    Penso que, considerando isto,
  • 16:03 - 16:05
    isto tende a transfigurar a nossa visão,
  • 16:05 - 16:07
    onde o que importa
  • 16:07 - 16:09
    para propósitos éticos
    e considerações morais,
  • 16:09 - 16:12
    não é tanto o facto de haver consciência,
  • 16:12 - 16:15
    mas o grau ou complexidade em que existe.
  • 16:16 - 16:18
    É, também, natural levantar questões
  • 16:18 - 16:20
    sobre a consciência noutros sistemas,
    como computadores.
  • 16:21 - 16:24
    O que dizer do sistema artificialmente
    inteligente no filme "Her",
  • 16:24 - 16:26
    a Samantha?
  • 16:26 - 16:27
    Ela é consciente?
  • 16:27 - 16:30
    Se tomarmos a visão
    informativa panpsiquista,
  • 16:30 - 16:35
    ela, claramente, tem processamento
    de informação complicado e integração.
  • 16:35 - 16:38
    Portanto, a resposta talvez seja,
    sim, ela é consciente.
  • 16:38 - 16:41
    Se isto é correto, levanta
    sérios problemas éticos
  • 16:41 - 16:44
    quer sobre a ética de desenvolver
  • 16:44 - 16:46
    sistemas de computadores inteligentes,
  • 16:46 - 16:49
    quer sobre a ética de os desligar.
  • 16:49 - 16:51
    Finalmente, podemos interrogar-nos
  • 16:51 - 16:54
    sobre a consciência de grupos inteiros,
  • 16:54 - 16:55
    do planeta.
  • 16:55 - 16:58
    Terá o Canadá a sua própria consciência?
  • 16:58 - 17:00
    Ou a um nível mais local,
  • 17:00 - 17:02
    tê-la-á um grupo integrado,
  • 17:02 - 17:04
    como a audiência numa conferência TED?
  • 17:04 - 17:07
    Estaremos nós, neste momento, a ter
    uma consciência TED coletiva?
  • 17:07 - 17:12
    Um filme interior para este coletivo TED,
  • 17:12 - 17:15
    que é diferente dos filmes interiores
    de cada uma das partes?
  • 17:15 - 17:16
    Não sei a resposta a esta pergunta,
  • 17:16 - 17:19
    mas penso que é uma pergunta
    que vale a pena levar a sério.
  • 17:20 - 17:23
    Ok, então, esta visão panpsiquista
  • 17:23 - 17:25
    é uma visão radical.
  • 17:25 - 17:27
    E eu não sei se é correta.
  • 17:27 - 17:30
    Aliás, estou mais confiante
    na primeira ideia descabida
  • 17:30 - 17:32
    — de que a consciência é fundamental —
  • 17:32 - 17:34
    do que na segunda
  • 17:34 - 17:36
    — de que é universal.
  • 17:36 - 17:40
    A visão levanta um determinado
    número de perguntas e de desafios.
  • 17:40 - 17:43
    Como é que aqueles pedaços
    de consciência se somam
  • 17:43 - 17:45
    para formar o tipo de consciência complexa
  • 17:45 - 17:48
    que conhecemos e nos encanta, por exemplo?
  • 17:48 - 17:52
    Se conseguirmos responder a estas questões,
    penso que estaremos no bom caminho
  • 17:52 - 17:54
    para uma teoria de consciência séria.
  • 17:54 - 17:55
    Se não...
  • 17:55 - 17:57
    Bem, este é o problema
    mais difícil, talvez,
  • 17:57 - 17:59
    na ciência, na filosofia.
  • 17:59 - 18:02
    Não podemos esperar resolvê-lo
    do dia para a noite.
  • 18:03 - 18:06
    Mas eu penso que vamos
    acabar por resolvê-lo.
  • 18:06 - 18:09
    Penso que perceber a consciência
    é uma chave,
  • 18:09 - 18:14
    tanto para percebermos o universo,
    como para nos percebermos a nós.
  • 18:14 - 18:17
    Pode, apenas, ser precisa
    a ideia descabida certa.
  • 18:17 - 18:18
    Obrigado.
  • 18:18 - 18:20
    (Aplausos)
Title:
Como se explica a consciência?
Speaker:
David Chalmers
Description:

A nossa consciência é um aspecto fundamental da nossa existência, diz o filósofo David Chalmers: "Não há nada que saibamos de forma mais directa... mas, ao mesmo tempo, é o fenómeno mais misterioso no universo." David Chalmers partilha algumas formas de pensar sobre o filme que passa nas nossas cabeças.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
18:37

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