O que aprendi com meus fracassos | Felipe Pena | TEDxUnisinos
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0:15 - 0:19Vocês sabem por que eu fico
parado aqui, olhando pra vocês? -
0:19 - 0:21Carência.
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0:22 - 0:23É verdade.
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0:23 - 0:26Todo escritor é carente,
porque o escritor é solitário. -
0:26 - 0:28Ele fica ali, em frente
à página em branco, -
0:28 - 0:31olhando pra ver se consegue
tirar uma frase. -
0:31 - 0:33No fundo, ele tem uma carência.
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0:33 - 0:35Ele chega aqui
num auditório desse, lotado, -
0:35 - 0:37e vê uma porção de gente aplaudindo...
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0:37 - 0:41ele quer ficar aqui parado e esperar
que as pessoas continuem aplaudindo. -
0:41 - 0:44Porque ninguém aplaude um livro.
Você já viu isso acontecer? -
0:44 - 0:46Você pega um livro,
você gosta, adorou o livro. -
0:46 - 0:50Aí, coloca o livro em cima da mesa
e começa a aplaudir o livro. -
0:50 - 0:52Ninguém faz isso.
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0:52 - 0:56Quando eu estava no ensino médio,
eu tinha um amigo; João, o nome dele. -
0:56 - 0:59Aí, teve aquele negócio
de teste vocacional, -
0:59 - 1:02e aí, a psicóloga perguntou pra ele:
"O que você quer ser, João?" -
1:02 - 1:04Ele falou: "Qual é a profissão
que tem mais aplauso?" -
1:04 - 1:08Ela falou: "Palhaço."
Ele falou: "Eu quero ser isso." -
1:08 - 1:10E ele é um ótimo palhaço hoje em dia;
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1:10 - 1:14consegue ter o seu índice de sucesso.
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1:14 - 1:17Mas eu não sei se avisaram a vocês:
o nosso assunto é o contrário. -
1:17 - 1:20O nosso assunto é "fracasso".
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1:20 - 1:22Você sabe a diferença
entre fracasso e derrota? -
1:22 - 1:25Não vamos confundir, tá?
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1:25 - 1:29Derrota é quando você sai
na "night", pra uma balada, -
1:29 - 1:32e aquela menina não te dá nenhum mole.
É uma tremenda derrota. -
1:32 - 1:34Você volta pra casa frustrado.
O fracasso é muito pior. -
1:34 - 1:36O fracasso depende de um projeto,
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1:36 - 1:39você gasta tempo com ele
e, depois de gastar um tempo, -
1:39 - 1:42você tenta executar e não consegue.
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1:42 - 1:45O fracasso é muito solitário.
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1:45 - 1:47O fracasso te leva a uma tela negra
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1:47 - 1:50quando você pensa
que vai aparecer alguma coisa. -
1:51 - 1:52"O fracasso não tem amigos."
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1:52 - 1:57Essa frase é do ex-presidente JFK.
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1:57 - 1:59Quando ele se referia
a "o fracasso não tem amigos", -
1:59 - 2:02ele queria falar exatamente
o que acabei de dizer a vocês: -
2:02 - 2:05que o fracasso está recheado de solidão,
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2:05 - 2:07diferentemente do sucesso.
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2:07 - 2:09Vamos prestar atenção nisso.
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2:09 - 2:12Quando um projeto nosso tem sucesso,
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2:12 - 2:16o sucesso é de todos
que participaram daquele projeto, -
2:16 - 2:19mas, quando tem fracasso,
o fracasso é só seu. -
2:19 - 2:24O fracasso não tem amigos.
O fracasso também é solitário. -
2:24 - 2:26O sucesso a gente deve dividir com todos.
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2:26 - 2:30O fracasso a gente deve assumir,
porque o fracasso é só nosso. -
2:30 - 2:33Eu tive muitos durante a vida.
Continuo tendo, diariamente. -
2:33 - 2:36Em quase todos os projetos
da minha vida, eu fracassei, -
2:36 - 2:40mas eu sigo fracassando, de fracasso
em fracasso, com muito entusiasmo. -
2:40 - 2:42Eu fracasso com vontade.
Eu fracasso com força. -
2:42 - 2:46Eu volto ali pra fracassar de novo.
Eu sou um teimoso danado. -
2:47 - 2:49E volto pra uma tela preta.
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2:50 - 2:53Esse cara muda um pouco
o nosso conceito de fracasso, -
2:53 - 2:55vocês não acham não?
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2:55 - 2:57Porque seria muito fácil
eu dizer pra vocês aqui: "Olha, -
2:57 - 2:59o que eu aprendi com o fracasso?"
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2:59 - 3:01Aliás, é a pergunta dessa palestra:
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3:01 - 3:03o que vocês aprenderam com o fracasso?
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3:03 - 3:06É possível aprender
alguma coisa com o fracasso? -
3:06 - 3:08Esse senhor... Onde ele está?
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3:09 - 3:13Aqui atrás? Ali? Eu não vejo.
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3:13 - 3:16Esse senhor muda
o nosso conceito de fracasso. -
3:16 - 3:20Vocês já viram alguém fracassado
no Facebook? Fala sério, né. -
3:20 - 3:23Todo mundo tem sucesso no Facebook.
Eu fico impressionado! -
3:23 - 3:26Todo mundo parece o rei da Inglaterra.
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3:26 - 3:28Está todo mundo em festa, não é?
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3:28 - 3:30Está todo mundo com iate, carro...
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3:30 - 3:33Tudo bem que tem uns carros
roubados aí por políticos... -
3:33 - 3:35Mas está todo mundo
sempre feliz no Facebook. -
3:35 - 3:39Na rede social, ninguém tem fracasso.
Nunca vi ninguém postar foto do dentista. -
3:39 - 3:41"'Selfie' da minha cárie número quatro."
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3:41 - 3:43Vocês já viram isso?
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3:43 - 3:46Ninguém posta selfie
do dentista no Facebook. -
3:46 - 3:48O aplauso não vem de pé.
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3:48 - 3:52Não existe aplauso porque todo mundo
está sendo aplaudido. -
3:52 - 3:55O Facebook muda essa nossa noção
e nos dá a falsa ilusão -
3:55 - 3:56de que todo mundo tem sucesso.
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3:56 - 4:00Ninguém coloca os seus fracassos.
Ninguém os divide nas redes sociais. -
4:00 - 4:03Isso era o que a gente deveria
começar a fazer. -
4:03 - 4:08A vida não é o que o nosso querido
Mark Zuckerberg traçou para nós; -
4:08 - 4:11infelizmente, porque os fracassos
são muito mais presentes. -
4:11 - 4:15É uma questão neurológica, gente.
"Tristeza não tem fim; felicidade, sim." -
4:15 - 4:16Vocês já ouviram esses versos.
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4:16 - 4:21Esses versos definem que os fracassos
são muito mais importantes -
4:21 - 4:23pra nossa vida que o sucesso.
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4:23 - 4:25Se a gente pode aprender com os fracassos?
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4:25 - 4:28Não sei. O pessoal da autoajuda
vai dizer que sim. -
4:28 - 4:31O Paulo Coelho ia ter orgasmos com isso.
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4:31 - 4:33Ele ia dizer: "Não!
Tudo conspira para você! -
4:33 - 4:35Você vai aprender e vai ter sucesso,
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4:35 - 4:37e, de fracasso em fracasso,
você terá sucesso." -
4:37 - 4:41Eu não sei, não sei mesmo,
e não vou enganar vocês com isso. -
4:41 - 4:44Vocês estão vendo
essa figura aí em vermelho? -
4:44 - 4:46Sou eu.
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4:46 - 4:49Não parece, mas sou eu, no ensino médio.
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4:49 - 4:52Sabe o cara que está
com o champanhe lá, em cima? -
4:52 - 4:55Meu amigo João, o que virou palhaço.
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4:55 - 4:58Festinha de final de ano,
final do ensino médio, -
4:58 - 5:00e ele está com um champanhe.
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5:00 - 5:03Eu olho pra essa foto e eu fico pensando:
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5:03 - 5:05acho que o primeiro caminho
para o fracasso -
5:05 - 5:07é você ter muitas expectativas;
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5:07 - 5:09é você pensar, como pensou
o meu amigo João - -
5:09 - 5:11embora ele tenha conseguido -
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5:11 - 5:13que, no final das contas,
as pessoas vão te aplaudir, -
5:13 - 5:16e vão te aplaudir de pé.
E o João tinha outro sonho. -
5:16 - 5:19Ele dizia o seguinte:
"Minha meta não é só ser aplaudido. -
5:19 - 5:21Eu tenho que ser aplaudido,
no mínimo, por 30 segundos, -
5:21 - 5:25porque aplauso por menos de 30 segundos
não é aplauso, gente; é palminha. -
5:25 - 5:28Então, eu quero ser um palhaço
que vai ser aplaudido." -
5:28 - 5:30E esse é um grande problema.
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5:30 - 5:35O princípio do fracasso é a ansiedade,
e o fracasso é repleto de ansiedade. -
5:35 - 5:39A gente sempre projeta aquilo
que a gente quer como recompensa, -
5:39 - 5:42e, se você parte de um projeto
querendo a recompensa, -
5:42 - 5:44você começa errado.
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5:44 - 5:46A única maneira de você acertar
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5:46 - 5:50é saber que o aplauso verdadeiro,
aquele aplauso de pé, -
5:50 - 5:52está presente na caminhada;
-
5:52 - 5:54não é no final.
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5:54 - 5:58Não existe caminho.
Existe só a caminhada, meus amigos. -
5:58 - 6:01Não é o objetivo
que vocês têm que perseguir. -
6:01 - 6:03É na caminhada pra esse objetivo
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6:03 - 6:06que se localiza o aplauso
do meu amigo João. -
6:07 - 6:11Aí, vocês estão vendo quase todos
os livros que eu já publiquei na vida, -
6:11 - 6:14todos eles um grande fracasso.
-
6:14 - 6:15Eu nunca ganhei um prêmio Jabuti;
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6:15 - 6:18fui finalista duas vezes,
mas nunca me deram prêmio. -
6:18 - 6:21Eu nunca mereci elogios da crítica.
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6:21 - 6:23Esse livrinho vermelho
que está aí na ponta -
6:23 - 6:27é um livro sobre separações.
São os meus fracassos amorosos. -
6:27 - 6:31O nome do livro é "Beijo na Testa
é Pior do que Separação". -
6:31 - 6:32Mas não é? Você imagina!
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6:32 - 6:36Teu marido está lá, te deu aquele
beijinho na testa: "Tchau, amor."... -
6:36 - 6:38Esquece, que ele tem outra, filha.
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6:40 - 6:44Ninguém sai de casa
e dá um beijo na testa, né? -
6:45 - 6:49Eu escrevi livros sobre jornalismo,
escrevi três romances, -
6:49 - 6:51escrevi uma biografia.
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6:51 - 6:53Nenhum deles teve sucesso.
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6:53 - 6:55Provavelmente, vocês nem sabiam
que eu era escritor. -
6:55 - 7:00Não deve ter nenhuma pessoa aqui nesse
auditório que tenha lido um livro meu. -
7:00 - 7:01Aliás, quem lê no Brasil?
-
7:01 - 7:03Ser escritor é um trabalho solitário,
-
7:03 - 7:07o que nos volta ao nosso
querido [John] Kennedy: -
7:07 - 7:10"O fracasso não tem amigos."
A gente vive na solidão. -
7:10 - 7:15Se bem que eu acho que ele, Kennedy,
teve muitos amigos, não teve? -
7:15 - 7:19Tudo bem, mas... Tudo bem não.
Tudo mal. Uma morte trágica. -
7:19 - 7:23Mas uma morte trágica
de um homem que serviu o seu país. -
7:23 - 7:26Mas sabe do que
eu me lembro mais do Kennedy? -
7:26 - 7:29Eu não; o meu amigo João, o palhaço.
Sabe o que o João me dizia? -
7:29 - 7:31"Olha, Felipe,
-
7:31 - 7:36o que mais me faz lembrar
[John] Kennedy é Marilyn Monroe." -
7:37 - 7:41Vocês se lembram daquela cena:
"Happy birthday, Mr. President." -
7:41 - 7:42Vocês se lembram dessa cena?
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7:42 - 7:46É uma cena em que ela canta
"Parabéns pra você" para o presidente. -
7:46 - 7:48E aí, sabe por que
o João gostava dessa cena? -
7:48 - 7:50Ele dizia: "Pensa bem, Felipe!
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7:50 - 7:54Parabéns pra você!
As pessoas já estão aplaudindo! -
7:54 - 7:57E não precisam nem levantar,
porque já está todo mundo de pé! -
7:57 - 7:58É isso que eu quero ser na vida.
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7:58 - 8:02Eu quero ser palhaço pra Marilyn Monroe
cantar 'Happy Birthday' pra mim." -
8:02 - 8:04De novo, o mesmo erro.
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8:04 - 8:07A gente quer a recompensa
antes da caminhada, -
8:07 - 8:10e é na caminhada que está a recompensa.
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8:10 - 8:14Isso aí que vocês estão vendo
é uma foto deste que vos fala, -
8:14 - 8:17um pouquinho feliz -
eu acho que vocês podem reparar - -
8:17 - 8:21com as crianças da favela
do Alemão, no Rio de Janeiro. -
8:21 - 8:26Essas crianças estão no lançamento
de um livro que eu fiz pra eles em 2012, -
8:26 - 8:29e o lançamento foi na Biblioteca Nacional.
-
8:29 - 8:32Essas crianças nunca
tinham visto um palácio -
8:32 - 8:35tão grande quanto a Biblioteca Nacional.
-
8:35 - 8:38Eu fiz um livro cuja renda foi revertida
-
8:38 - 8:41pra uma biblioteca itinerante,
que seria construída no Morro do Alemão, -
8:41 - 8:43pra que essas crianças pudessem ler.
-
8:43 - 8:45Só que o livro foi um grande fracasso
-
8:45 - 8:48e a gente não teve dinheiro
pra construir a biblioteca. -
8:49 - 8:51Mas essa foto está aí.
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8:51 - 8:53Então, fica uma lição do fracasso:
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8:53 - 8:56mesmo nos maiores fracassos,
você tem momentos de sucesso. -
8:56 - 8:58Esse é o meu momento de sucesso.
-
8:58 - 9:01Essa foto com essas crianças,
essa minha alegria, -
9:01 - 9:04é algo que eu vou levar pra sempre,
e eu nunca vou esquecer. -
9:04 - 9:06E, toda vez que vou ao Morro do Alemão,
-
9:06 - 9:09subo o Morro do Alemão
e leio pra essas crianças, -
9:09 - 9:11eu tenho esses mesmos sorrisos
e eles me satisfazem, -
9:11 - 9:14apesar do meu fracasso
e do fracasso do nosso projeto, -
9:14 - 9:18com um livro que não rendeu
a biblioteca itinerante pra eles. -
9:18 - 9:22Há momentos de sucesso
nos maiores fracassos. -
9:22 - 9:23Isso aí que vocês estão vendo
-
9:23 - 9:26foi um documentário
que eu lancei no ano passado. -
9:26 - 9:28Chama-se "Se Essa Vila Não Fosse Minha".
-
9:28 - 9:30É um documentário sobre
uma comunidade, a Vila Autódromo, -
9:30 - 9:33que fica ao lado do Parque Olímpico
do Rio de Janeiro. -
9:33 - 9:36E todos nós fazemos festas
por causa da Olimpíada do Rio, -
9:36 - 9:38mas esquecemos as milhares de pessoas
-
9:38 - 9:40que estão sendo expulsas
de suas casas na cidade -
9:40 - 9:42pra que os jogos olímpicos aconteçam.
-
9:42 - 9:45Essa comunidade, que fica
bem ao lado ali do parque, -
9:45 - 9:47tinha 583 famílias.
-
9:47 - 9:49Elas foram expulsas
-
9:49 - 9:51para que se fizessem os jogos olímpicos.
-
9:51 - 9:54Será que isso é sucesso?
-
9:54 - 9:58Será que o fracasso de pessoas que estão
abandonando o lugar onde moram há 40 anos, -
9:58 - 10:00porque estão sendo expulsas pelo prefeito,
-
10:00 - 10:03vai causar o sucesso dos jogos,
de milhões de pessoas, -
10:03 - 10:06bilhões de pessoas
que vão assistir pelo mundo? -
10:06 - 10:08Não haveria outra alternativa?
-
10:08 - 10:11Não poderia ter um legado social,
deixando essas pessoas ali? -
10:11 - 10:14Eu fiz esse filme, dirigi esse filme,
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10:14 - 10:18financiei o filme, chamei três amigos
pra o fazerem comigo - -
10:18 - 10:21diretor de fotografia, som, edição.
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10:21 - 10:26A gente foi à China com esse filme,
esse filme foi a festivais na Europa; -
10:26 - 10:28em Pequim, venceu o festival;
-
10:28 - 10:32mas não passou em lugar nenhum
aqui no Brasil. Foi um grande fracasso. -
10:32 - 10:34Não conseguimos mobilizar
nenhuma parte da sociedade, -
10:34 - 10:37e essas pessoas estão
prestes a ser expulsas. -
10:37 - 10:42Das 583 famílias, 530 já saíram de lá.
-
10:42 - 10:46O poder público e o prefeito massacram
a parte pobre da população do Rio, -
10:46 - 10:49enquanto o país e o mundo
festejam uma olimpíada. -
10:49 - 10:52Isso é sucesso ou é fracasso?
-
10:53 - 10:57Essas são as pessoas.
Eu fracassei com essas pessoas. -
10:57 - 10:59São os moradores da Vila Autódromo.
-
10:59 - 11:02São os moradores que estão no filme
"Se Essa Vila Não Fosse Minha". -
11:02 - 11:04Cada um desses moradores,
eu olho pra eles, -
11:04 - 11:08e olho para as famílias deles,
e me olho no espelho e percebo: -
11:08 - 11:10"Felipe Pena, você é um fracasso.
-
11:10 - 11:13Você não conseguiu
ajudar essas pessoas com o filme." -
11:13 - 11:15Mesmo que ele tenha passado
no mundo inteiro, -
11:15 - 11:18essas pessoas continuam sofrendo
o mesmo problema. -
11:18 - 11:22Essas pessoas continuam passando
pela mesma ditadura -
11:22 - 11:27do poder público do Rio de Janeiro,
que as expulsa em nome de uma olimpíada. -
11:27 - 11:30Se você fosse um atleta olímpico,
acha que isso valeria a pena? -
11:30 - 11:33Será que vale a pena
ter uma medalha no peito -
11:33 - 11:37à custa do sofrimento de pessoas
como o que vocês estão vendo? -
11:37 - 11:38Eu me faço sempre essa pergunta.
-
11:38 - 11:41Esse que vocês estão vendo na tela aí
-
11:42 - 11:46foi diretor da quarta
maior emissora do país. -
11:46 - 11:48Sou eu, embora não pareça.
-
11:48 - 11:50Claro que eu fracassei
como diretor da TV Globo. -
11:50 - 11:54Sabe quanto tempo
eu fiquei no cargo? Cinco meses. -
11:54 - 11:58Eu e o ministro da educação. Eu estou
lembrando agora. "Pátria educadora." -
11:59 - 12:03O ministro Janine ficou cinco meses.
Onde é que nós erramos, ministro? Me diga. -
12:03 - 12:07Eu posso dizer:
acho que erramos na política, -
12:07 - 12:12porque, agora que temos uma política
muito defenestrada pela corrupção, -
12:12 - 12:15nós acreditamos que a política
não vale a pena, mas ela vale sim! -
12:15 - 12:18E, se você não encontrar em quem votar,
você mesmo deve se candidatar. -
12:18 - 12:22Política não significa só voto.
Política não significa só Brasília. -
12:22 - 12:24Política significa falar com as pessoas.
-
12:24 - 12:26No meu cargo de diretor
de análise de conteúdo, -
12:26 - 12:31eu devia dizer aos novelistas
da TV Globo onde eles haviam errado. -
12:31 - 12:33Só que eu fazia isso
com relatórios altamente técnicos. -
12:33 - 12:35Eu fiz um pós-doutorado na Sorbonne.
-
12:35 - 12:38Achava que tinha conhecimento
técnico pra fazer isso. -
12:38 - 12:41Mas eu tinha que fazer mais, eu tinha
que conversar, eu não conversei -
12:41 - 12:43e, por isso, deixei de ser
diretor em cinco meses. -
12:43 - 12:46Fui derrubado com a maior
facilidade; eu e o ministro. -
12:46 - 12:49É fácil se derrubar
quando você não sabe fazer política. -
12:49 - 12:51Façam política. É preciso fazer.
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12:51 - 12:54Sucesso e fracasso também dependem disso.
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12:56 - 12:59Eu também fui roteirista
da TV Globo durante três anos. -
12:59 - 13:01Apresentei sinopse de uma novela das 19h.
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13:01 - 13:06Apresentei dez projetos de seriados.
Sabe quantos foram ao ar? -
13:06 - 13:08Zero.
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13:08 - 13:10Nenhum deles foi ao ar.
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13:10 - 13:13Mas aí, vem outra lição do fracasso.
Todo fracasso serve pra alguma coisa. -
13:13 - 13:17O meu serviu pra fazer esse livro
que vocês estão vendo. -
13:17 - 13:20Eu coloquei aí roteiro,
a sinopse da novela das 19h, -
13:20 - 13:23e mais um seriado de terror
e um seriado policial. -
13:23 - 13:26E aí, os meus alunos
podem se aproveitar disso -
13:26 - 13:29e entender onde foi que eu errei,
porque, na margem de cada roteiro, -
13:29 - 13:33tem as observações
das pessoas que me criticaram -
13:33 - 13:35e por que os roteiros não foram ao ar.
-
13:35 - 13:37Aí, os alunos podem aprender
com os meus erros. -
13:37 - 13:40Os meus fracassos na TV
estão disponíveis pra todos vocês -
13:40 - 13:42que queiram ser roteiristas, por exemplo,
-
13:42 - 13:45ou que queiram trabalhar
numa emissora de televisão. -
13:45 - 13:47Por último, essa foto aí.
-
13:47 - 13:50Essa foto é dos moradores
da Vila Autódromo, -
13:50 - 13:53assistindo ao filme
lá na igreja da comunidade, -
13:53 - 13:56junto com alguns repórteres
da imprensa internacional -
13:56 - 14:00que eu trouxe pra que eles sentissem
o drama daquela comunidade. -
14:00 - 14:02Hoje, alguns órgãos
da imprensa internacional -
14:02 - 14:04já falam daquela comunidade.
-
14:04 - 14:09E aqui vai a minha
última lembrança pra vocês. -
14:09 - 14:11Não sei se vocês conhecem
a "fábula dos cotovelos", -
14:11 - 14:16mas, na minha opinião, é ela que define
a diferença entre o sucesso e o fracasso. -
14:16 - 14:19A fábula dos cotovelos é a seguinte:
-
14:19 - 14:23existia um jornalista que queria
conhecer o céu e o inferno. -
14:23 - 14:25Então, primeiro, ele foi ao inferno.
-
14:25 - 14:28Ele pediu lá licença ao assessor
de imprensa do diabo, -
14:28 - 14:31e disse: "Posso conhecer o inferno?"
Ele falou: "Vem, filhinho. Pode vir." -
14:31 - 14:35Ele entrou por um portão
de fogo, passou à direita -
14:35 - 14:37e olhou para as pessoas
do meio do inferno, -
14:37 - 14:41e reparou que as pessoas
no inferno eram todas felizes, -
14:41 - 14:46todas só rindo, e ninguém trabalhava.
Era uma maravilha no inferno. -
14:46 - 14:49Só que ele olhou mais de perto
e viu aquelas pessoas felizes, -
14:49 - 14:54rindo, se divertindo, e reparou
que elas tinham os cotovelos invertidos -
14:54 - 14:58e, por terem os cotovelos invertidos,
elas acabavam morrendo de fome -
14:58 - 15:00porque não conseguiam
trazer comida até a boca. -
15:00 - 15:02Então, ele saiu correndo de lá.
-
15:02 - 15:04"Não quero ficar aqui não!
Não quero morrer de fome!", -
15:04 - 15:06e ligou pra São Pedro e falou:
-
15:06 - 15:08"São Pedro, eu posso ir aí?
Eu quero conhecer o céu." -
15:08 - 15:12Foi, subiu, passou por um portão
de nuvens à direita e entrou no céu. -
15:12 - 15:16Quando ele chega no céu,
ele repara que é o mesmo tipo de pessoa. -
15:16 - 15:18As pessoas também estão todas felizes,
-
15:18 - 15:21ninguém trabalha,
todo mundo só se diverte, -
15:21 - 15:24todo mundo só ri,
está todo mundo só contando piada. -
15:24 - 15:26O que ele vai fazer?
Olhar para os cotovelos, não é? -
15:26 - 15:29Ele olha para os cotovelos
das pessoas e repara -
15:29 - 15:33que as pessoas também têm
os cotovelos invertidos. -
15:33 - 15:37A única diferença é que, no céu,
as pessoas não morrem de fome -
15:37 - 15:41porque uma leva a comida
até a boca do outro. -
15:41 - 15:44É isso que aprenderam
os moradores da Vila Autódromo, -
15:44 - 15:49que juntos eles são fortes
e que só a solidariedade funciona. -
15:49 - 15:53Hoje, 57 famílias ainda resistem,
com os cotovelos invertidos, -
15:53 - 15:56dando comida um na boca do outro,
-
15:56 - 16:00e eu junto com eles, tentando
essa missão de solidariedade. -
16:00 - 16:03Fracassei com o filme,
fracassei com os livros, -
16:03 - 16:05fracassei no cinema,
fracassei na TV Globo. -
16:05 - 16:08Posso fracassar com eles,
mas vou fracassar junto. -
16:08 - 16:11Só existe fracasso na desunião.
-
16:11 - 16:15Na união, o fracasso se torna um sucesso,
ainda que você fracasse. -
16:15 - 16:19Então, tudo que eu desejo a vocês
é que vocês tenham solidariedade, -
16:19 - 16:22e que os cotovelos invertidos
de vocês se juntem -
16:22 - 16:23e que vocês sejam aplaudidos de pé,
-
16:23 - 16:28durante dez minutos, durante dez segundos,
durante o tempo que for de suas vidas, -
16:28 - 16:30desde que as vidas de vocês
sejam dedicadas -
16:30 - 16:32a um momento de solidariedade.
-
16:32 - 16:33Muito obrigado.
-
16:33 - 16:36(Aplausos)
-
17:07 - 17:09Trinta segundos. Valeu o meu dia.
-
17:09 - 17:11(Risos)
- Title:
- O que aprendi com meus fracassos | Felipe Pena | TEDxUnisinos
- Description:
-
Esta palestra foi dada em um evento TEDx local, produzido independentemente das conferências TED.
Autor de 11 livros, o jornalista, psicólogo e apresentador da Globo News, Felipe Pena se apresentou no TEDx como uma pessoa que fracassou. “Nunca ganhei um prêmio, nunca mereci elogio da mídia”. Na trajetória, um punhado de experiências que, em sua visão, resultaram todas em fracasso. Quando era diretor da TV Globo, falhou em debruçar-se sobre relatórios em vez de conversar, olho no olho, com os funcionários. O emprego durou seis meses. Quando se envolveu em projetos sociais, como o documentário sobre famílias expulsas da Vila Autódromo para obras da Olimpíada, que correu festivais internacionais mas sequer foi exibido no Brasil, se sentiu derrotado por não conseguir ajudá-los.
Felipe Pena é jornalista, psicólogo, professor de roteiro na Universidade Federal Fluminense e autor de 14 livros, entre eles três romances — Fábrica de Diplomas (Record, 2010), O Marido Perfeito Mora ao Lado (Record, 2010) e O Verso do Cartão de Embarque (Record, 2011), este último em adaptação para o cinema. Pelo trabalho como escritor, foi duas vezes finalista do Prêmio Jabuti: em 2011, com Seu Adolpho, uma biografia em fractais de Adolpho Bloch, e em 2013, com No Jornalismo Não Há Fibrose. Já na academia, formou-se doutor em literatura, pela PUC-Rio, e cursou pós-doutorado em semiologia da imagem, na Université de Paris/Sorbonne III. Pena atuou como roteirista e diretor na TV Globo, repórter da TV Manchete, coordenador da pós-graduação em telejornalismo da Universidade Estácio de Sá, e foi sub-reitor desta mesma instituição.
- Video Language:
- Portuguese, Brazilian
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 17:16
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