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Digam as verdades e procurem-nas nos outros

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    Tal como muita gente,
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    tenho tido várias carreiras na minha vida
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    e, embora tenham sido variadas,
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    foi o meu primeiro emprego
    que criou a base para todas elas.
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    Fui parteira ao domicílio,
    entre os 20 e os 30 anos.
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    Ajudar bebés a nascer ensinou-me
    coisas úteis e, por vezes, surpreendentes,
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    como pôr um carro a andar,
    às duas da manhã,
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    com uma temperatura
    de 10 graus negativos.
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    (Risos)
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    Ou como reanimar um pai
    que desmaiou quando viu sangue.
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    (Risos)
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    Ou como cortar o cordão umbilical
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    de modo a fazer um umbigo muito bonito.
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    Mas não foram essas coisas
    que me ficaram ou que me orientaram
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    quando deixei de ser parteira
    e comecei com outros empregos.
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    O que conservei
    foi uma convicção inabalável
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    de que todos nós vimos ao mundo
    com um valor especial.
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    Quando olhava para o rosto
    de um recém-nascido,
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    captava um vislumbre desse valor,
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    uma sensação
    de individualidade impenitente
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    uma centelha especial.
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    Uso a palavra "alma"
    para descrever essa centelha,
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    porque é a única palavra
    que se aproxima
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    do que cada bebé introduzia no quarto.
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    Cada recém-nascido era
    como um floco de neve individual,
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    uma mistura ímpar de biologia,
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    de ancestralidade e de mistério.
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    Depois, esse bebé cresce,
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    e, para se encaixar na sua família,
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    para se adequar à cultura,
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    à comunidade, ao seu sexo,
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    aquele pequeno ser começa
    a esconder a sua alma,
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    camada a camada.
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    Nascemos assim
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    mas...
  • 1:50 - 1:51
    (Risos)
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    ... à medida que crescemos,
    acontecem-nos muitas coisas
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    que nos levam
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    a querer esconder as nossas excentricidades
    e a nossa autenticidade, cheias de alma.
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    Todos fizemos isso.
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    Todos os que estão nesta sala
    já foram um bebé
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    (Risos)
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    com um direito inato característico.
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    Mas, quando adultos, passamos
    muito tempo desconfortáveis na nossa pele,
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    como se tivéssemos PDA:
    perturbação do défice de autenticidade.
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    Mas aqueles bebés não,
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    ainda não.
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    A mensagem que eu recebia deles era:
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    "Destapa a tua alma
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    "e procura essa centelha de alma
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    "em toda a gente.
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    "Ela continua lá".
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    Também aprendi com as parturientes.
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    A mensagem delas era mantermo-nos abertas,
  • 2:41 - 2:44
    mesmo quando as coisas são dolorosas.
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    Um colo do útero normalmente
    tem este aspeto.
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    É como um pequeno músculo rígido
    na base do útero.
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    Durante o parto,
    tem que se distende daqui
  • 2:56 - 2:57
    até aqui.
  • 2:57 - 2:58
    Ai!
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    Se lutarmos contra esta dor,
  • 3:01 - 3:03
    criamos ainda mais dores
  • 3:03 - 3:06
    e bloqueamos aquele que quer nascer.
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    Nunca esquecerei a magia
    que acontecia
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    quando uma mulher
    deixava de resistir à dor
  • 3:14 - 3:16
    e se abria.
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    Era como se as forças do universo
    dessem por isso
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    e enviassem uma onda de ajuda.
  • 3:22 - 3:24
    Nunca esqueci essa mensagem,
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    e agora, quando me acontecem
    coisas difíceis ou dolorosas,
  • 3:28 - 3:30
    na minha vida ou no meu trabalho,
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    claro que, a princípio, resisto-lhes,
  • 3:33 - 3:36
    mas depois lembro-me
    do que aprendi com as mães:
  • 3:36 - 3:37
    mantermo-nos abertas.
  • 3:38 - 3:39
    Mantermo-nos curiosas.
  • 3:39 - 3:42
    Perguntar à dor o que é
    que ela nos quer entregar.
  • 3:42 - 3:45
    Há uma coisa nova que quer nascer.
  • 3:45 - 3:48
    Houve mais uma grande lição cheia de alma
  • 3:48 - 3:50
    que aprendi com Albert Einstein.
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    Ele não foi nenhum dos meus bebés, mas...
  • 3:53 - 3:54
    (Risos)
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    Foi uma lição sobre o tempo.
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    No fim da sua vida,
    Albert Einstein chegou à conclusão
  • 4:02 - 4:06
    de que a nossa experiência de vida
    normal, tipo roda de um hamster,
  • 4:06 - 4:08
    é uma ilusão.
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    Andamos à roda, à roda,
    cada vez mais depressa,
  • 4:10 - 4:12
    tentando chegar a qualquer lado.
  • 4:12 - 4:15
    E, durante todo esse tempo,
  • 4:15 - 4:19
    por baixo da superfície do tempo,
    está uma outra dimensão,
  • 4:19 - 4:24
    em que se fundem o passado,
    o presente e o futuro
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    e que se transforma
    em tempo profundo.
  • 4:27 - 4:30
    Não há nenhum sítio para onde ir.
  • 4:31 - 4:35
    Albert Einstein chamava a esse estado,
    a essa dimensão,
  • 4:35 - 4:37
    "apenas ser".
  • 4:37 - 4:39
    Disse que, quando a tinha sentido,
  • 4:39 - 4:41
    experimentou um respeito sagrado.
  • 4:42 - 4:44
    Quando eu ajudava os bebés a nascer,
  • 4:44 - 4:46
    era forçada a sair da roda do hamster.
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    Por vezes, tinha que ficar ali sentada,
    durante dias, horas após horas,
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    apenas a respirar com os pais,
  • 4:52 - 4:53
    apenas a ser.
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    Fiquei com uma grande dose
    de respeito sagrado.
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    São estas as três lições
    que recebi da minha vida de parteira.
  • 5:02 - 5:05
    Uma: destapar a alma.
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    Duas: quando as coisas ficam difíceis
    ou dolorosas,
  • 5:10 - 5:12
    tentar manter-me aberta.
  • 5:12 - 5:16
    E três: de vez em quando,
    sair da roda de hamster
  • 5:16 - 5:18
    para o tempo profundo.
  • 5:19 - 5:22
    Estas lições serviram-me
    durante toda a vida
  • 5:23 - 5:25
    mas serviram-me sobretudo
    há pouco tempo,
  • 5:25 - 5:30
    quando assumi o trabalho
    mais importante da minha vida.
  • 5:31 - 5:35
    Há dois anos, a minha irmã mais nova
    voltou a sofrer
  • 5:35 - 5:37
    de um raro cancro do sangue.
  • 5:38 - 5:42
    O único tratamento possível era
    um transplante de medula óssea.
  • 5:43 - 5:46
    Contra todas as hipóteses,
    encontrámos uma pessoa compatível,
  • 5:46 - 5:48
    que, por acaso, era eu.
  • 5:49 - 5:52
    Na minha família, éramos quatro raparigas.
  • 5:52 - 5:56
    Quando as minhas irmãs descobriram
  • 5:56 - 5:59
    que eu era o par genético perfeito
    da minha irmã,
  • 5:59 - 6:01
    a reação delas foi:
    "A sério? És tu?"
  • 6:01 - 6:02
    (Risos)
  • 6:02 - 6:05
    "Um par perfeito para ela?"
  • 6:05 - 6:07
    O que é muito típico entre irmãs.
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    Numa sociedade fraternal
    há muitas coisas.
  • 6:10 - 6:14
    Há amor e há amizade,
    e há proteção.
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    Mas também há ciúmes
  • 6:17 - 6:18
    e competição
  • 6:19 - 6:21
    e rejeição e ataque.
  • 6:22 - 6:28
    É com as irmãs que começamos
    a reunir muitas dessas primeiras camadas
  • 6:28 - 6:30
    que tapam a nossa alma.
  • 6:30 - 6:33
    Quando descobri que eu era
    o par da minha irmã,
  • 6:33 - 6:35
    comecei a pesquisar.
  • 6:35 - 6:37
    Descobri que
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    a premissa de um transplante
    é muito simples.
  • 6:41 - 6:44
    Destrói-se toda a medula óssea
    no doente com cancro
  • 6:44 - 6:47
    com doses maciças de quimioterapia
  • 6:47 - 6:50
    e depois, substitui-se essa medula
  • 6:50 - 6:54
    com vários milhões de células
    de medula óssea saudável de um doador.
  • 6:54 - 6:56
    Depois, faz-se todos os possíveis
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    para garantir que essas células novas
    se enxertem no doente.
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    Também aprendi que os transplantes
    de medula óssea estão cheios de perigos.
  • 7:05 - 7:11
    Se a minha irmã conseguisse
    ultrapassar a quimioterapia quase mortal
  • 7:11 - 7:14
    ainda teria que enfrentar
    outros problemas.
  • 7:14 - 7:16
    As minhas células
  • 7:17 - 7:20
    podiam atacar-lhe o corpo.
  • 7:20 - 7:23
    e o corpo dela podia rejeitar
    as minhas células.
  • 7:23 - 7:25
    Chamam a isto rejeição ou ataque
  • 7:25 - 7:27
    e qualquer das coisas podia matá-la.
  • 7:28 - 7:30
    Rejeição. Ataque.
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    Estas palavras tinham um som familiar
  • 7:32 - 7:35
    no contexto de sermos irmãs.
  • 7:36 - 7:39
    A minha irmã e eu
    tínhamos uma longa história de amor,
  • 7:39 - 7:42
    mas também tínhamos uma longa história
    de rejeição e ataque,
  • 7:42 - 7:46
    desde desentendimentos menores
    a traições maiores.
  • 7:47 - 7:49
    Não tínhamos aquele tipo de relação
  • 7:49 - 7:52
    a que chamamos as coisas profundas
  • 7:52 - 7:57
    mas, tal como muitas irmãs
    e pessoas com todo o tipo de relações,
  • 7:57 - 8:00
    hesitávamos em partilhar
    as nossas verdades,
  • 8:00 - 8:03
    em revelar as nossas feridas,
  • 8:03 - 8:05
    em reconhecer as nossas ações incorretas.
  • 8:05 - 8:10
    Mas quando vim a saber
    dos perigos de rejeição ou ataque,
  • 8:10 - 8:13
    pensei que chegara a altura
    de alterar isso.
  • 8:13 - 8:19
    E se deixássemos para os médicos
    o transplante da medula óssea
  • 8:19 - 8:22
    e fizéssemos uma coisa
    a que chamámos depois
  • 8:22 - 8:24
    o nosso "transplante de medula da alma"?
  • 8:24 - 8:28
    E se enfrentássemos cada dor
    que tínhamos causado uma à outra
  • 8:28 - 8:31
    e, em vez de rejeição ou ataque,
  • 8:31 - 8:33
    conseguiríamos escutar?
  • 8:33 - 8:35
    Poderíamos perdoar?
  • 8:35 - 8:37
    Poderíamos fundir-nos?
  • 8:37 - 8:40
    Isso ensinaria as nossas células
    a fazer o mesmo?
  • 8:41 - 8:44
    Para convencer a minha irmã cética,
  • 8:44 - 8:46
    virei-me para o texto sagrado
    dos meus pais:
  • 8:46 - 8:48
    a revista The New Yorker Magazine.
  • 8:48 - 8:50
    (Risos)
  • 8:50 - 8:53
    Enviei-lhe um cartune
    das páginas dessa revista
  • 8:53 - 8:57
    como forma de explicar
    porque devíamos consultar um terapeuta
  • 8:57 - 9:00
    antes de ser feita a colheita
    da minha medula óssea
  • 9:00 - 9:03
    e de ser transplantada para o corpo dela.
  • 9:03 - 9:04
    Foi esta.
  • 9:04 - 9:08
    "Nunca lhe perdoei por aquilo
    que eu inventei".
  • 9:08 - 9:10
    (Risos)
  • 9:10 - 9:12
    Disse à minha irmã:
  • 9:13 - 9:16
    "Provavelmente andámos a fazer o mesmo,
  • 9:16 - 9:22
    "a carregar com histórias inventadas
    que nos mantinham separadas".
  • 9:22 - 9:25
    E disse-lhe que, depois do transplante,
  • 9:25 - 9:28
    todo o sangue que corresse nas suas veias
  • 9:28 - 9:29
    seria o meu sangue,
  • 9:29 - 9:32
    feito de células da minha medula.
  • 9:32 - 9:37
    E no interior do núcleo
    de cada uma dessas células,
  • 9:37 - 9:39
    estava um conjunto completo do meu ADN.
  • 9:39 - 9:43
    "Ficarei a nadar à tua volta
    durante o resto da tua vida",
  • 9:43 - 9:46
    disse à minha irmã,
    que ficou um pouco horrorizada.
  • 9:46 - 9:48
    (Risos)
  • 9:48 - 9:51
    "Acho melhor limpar a nossa relação".
  • 9:51 - 9:52
    (Risos)
  • 9:52 - 9:56
    Uma crise de saúde leva as pessoas
    a fazer todo o tipo de coisas arriscadas,
  • 9:56 - 9:59
    como largar um emprego
    ou saltar de um avião
  • 10:00 - 10:02
    e, no caso da minha irmã,
  • 10:02 - 10:05
    dizer "sim" a várias sessões de terapia,
  • 10:06 - 10:10
    durante as quais fomos até ao osso.
  • 10:12 - 10:16
    Procurámos e libertámos anos de histórias
  • 10:16 - 10:18
    e de preconceitos acerca uma da outra
  • 10:18 - 10:20
    de culpas e de vergonha
  • 10:20 - 10:24
    até que só sobrou o amor.
  • 10:26 - 10:30
    As pessoas diziam que eu era corajosa
    por deixar colher a medula óssea,
  • 10:30 - 10:32
    mas eu não concordo.
  • 10:32 - 10:34
    Aquilo que me fez sentir corajosa
  • 10:34 - 10:38
    foi o outro tipo de colheita
    e de transplante,
  • 10:38 - 10:40
    o transplante da medula da alma,
  • 10:40 - 10:44
    despir-me emocionalmente
    diante de outro ser humano,
  • 10:44 - 10:47
    pôr de lado o orgulho
    e o sentimento de defesa,
  • 10:47 - 10:49
    eliminando as camadas
  • 10:50 - 10:54
    e partilhando uma com a outra
    as nossas almas vulneráveis.
  • 10:54 - 10:57
    Invoquei as lições de parteira:
  • 10:57 - 10:59
    destapar a alma,
  • 11:00 - 11:03
    abrir-me ao que é assustador e doloroso,
  • 11:03 - 11:05
    procurar o respeito sagrado.
  • 11:06 - 11:09
    Aqui estou eu com as minhas células
    da medula depois da colheita.
  • 11:09 - 11:11
    É assim que se chama: "colheita",
  • 11:11 - 11:14
    como se fosse um acontecimento bucólico
    da quinta para a mesa.
  • 11:14 - 11:16
    (Risos)
  • 11:16 - 11:18
    Mas garanto que não é.
  • 11:20 - 11:23
    Esta é a minha corajosa irmã
  • 11:23 - 11:25
    a receber as minhas células.
  • 11:26 - 11:30
    Depois do transplante, começámos
    a passar juntas cada vez mais tempo.
  • 11:30 - 11:33
    Era como se fôssemos de novo
    pequeninas.
  • 11:34 - 11:37
    O passado e o presente fundiram-se.
  • 11:37 - 11:39
    Entrámos no tempo profundo.
  • 11:39 - 11:44
    Abandonei a roda de hamster
    do trabalho e da vida
  • 11:44 - 11:46
    para me juntar à minha irmã
  • 11:46 - 11:48
    naquela ilha solitária
  • 11:48 - 11:51
    de doença e de cura.
  • 11:51 - 11:53
    Passámos meses juntas
  • 11:53 - 11:55
    na unidade de isolamento,
  • 11:55 - 11:57
    no hospital e em casa dela.
  • 11:58 - 12:00
    A nossa sociedade, de ritmo acelerado,
  • 12:00 - 12:05
    não apoia nem sequer valoriza
    este tipo de trabalho.
  • 12:05 - 12:09
    Considera-o uma perturbação
    da vida real e do trabalho importante.
  • 12:09 - 12:14
    Preocupamo-nos com o desgaste emocional
    e o custo financeiro
  • 12:14 - 12:17
    — claro, há um custo financeiro.
  • 12:17 - 12:19
    Mas eu fui paga
  • 12:20 - 12:25
    no tipo de moeda que a nossa cultura
    parece ter esquecido totalmente.
  • 12:25 - 12:28
    Fui paga com amor.
  • 12:28 - 12:29
    Fu paga com alma.
  • 12:29 - 12:32
    Fui paga com a minha irmã.
  • 12:33 - 12:36
    A minha irmã disse
    que o ano após o transplante
  • 12:36 - 12:38
    tinha sido o melhor ano da vida dela,
  • 12:38 - 12:40
    o que foi surpreendente.
  • 12:40 - 12:42
    Ela sofreu tanto.
  • 12:42 - 12:46
    Mas disse que a vida
    nunca lhe soubera melhor
  • 12:46 - 12:49
    e que, por causa da libertação da alma
  • 12:49 - 12:52
    e de contar a verdade
    que tínhamos feito uma com a outra,
  • 12:52 - 12:57
    se tinha tornado mais nela mesma,
    menos intransigente com toda a gente.
  • 12:57 - 13:01
    Dissera coisas que sempre
    tinha tido necessidade de dizer.
  • 13:01 - 13:03
    Fizera coisas que sempre
    tinha querido fazer.
  • 13:03 - 13:05
    O mesmo aconteceu comigo.
  • 13:05 - 13:11
    Fiquei mais corajosa em ser autêntica
    com as pessoas da minha vida.
  • 13:12 - 13:14
    Disse as minhas verdades
  • 13:14 - 13:18
    mas, mais importante que isso,
    procurei a verdade dos outros.
  • 13:20 - 13:23
    Foi só no capítulo final da minha história
  • 13:23 - 13:27
    que percebi como o trabalho de parteira
    me tinha formado tão bem.
  • 13:27 - 13:30
    Depois daquele melhor ano
    da vida da minha irmã,
  • 13:30 - 13:33
    o cancro voltou a atacar
  • 13:33 - 13:36
    e, dessa vez, os médicos
    não puderam fazer mais nada.
  • 13:36 - 13:39
    Deram-lhe só alguns meses de vida.
  • 13:40 - 13:43
    Na noite anterior à morte da minha irmã,
  • 13:43 - 13:46
    sentei-me à sua cabeceira.
  • 13:46 - 13:49
    Ela estava minúscula e muito magra.
  • 13:49 - 13:52
    Eu via o sangue a pulsar no pescoço dela.
  • 13:52 - 13:56
    Era o meu sangue,
    o sangue dela, o nosso sangue.
  • 13:56 - 14:00
    Quando ela morreu,
    também morreu uma parte de mim.
  • 14:01 - 14:05
    Tentei fazer sentido de tudo aquilo,
  • 14:05 - 14:08
    como, ao termo-nos tornado numa só
  • 14:08 - 14:10
    nos tínhamos tornado mais nós mesmas,
  • 14:10 - 14:12
    as nossas mesmas almas,
  • 14:12 - 14:18
    e como, ao enfrentar e ao abrirmo-nos
    ao sofrimento do nosso passado,
  • 14:18 - 14:21
    tínhamos acabado por ajudar
    ao nascimento uma da outra
  • 14:21 - 14:23
    e como, ao sairmos do tempo,
  • 14:23 - 14:26
    podíamos agora estar
    interligadas para sempre.
  • 14:27 - 14:30
    A minha irmã deixou-me muitas coisas
  • 14:30 - 14:33
    e eu agora vou deixar-vos
    apenas uma delas.
  • 14:34 - 14:38
    Não precisam de esperar
    por uma situação de vida ou morte
  • 14:38 - 14:42
    para limpar as relações
    que vos são importantes,
  • 14:42 - 14:45
    para oferecer a medula da vossa alma
  • 14:45 - 14:48
    e procurá-la noutra pessoa.
  • 14:48 - 14:50
    Todos podemos fazer isso.
  • 14:50 - 14:55
    Podemos ser como um novo tipo
    de socorristas,
  • 14:55 - 15:00
    como aquele que dá
    o primeiro passo corajoso
  • 15:00 - 15:02
    na direção do outro
  • 15:02 - 15:05
    e fazer qualquer coisa,
    tentar fazer qualquer coisa
  • 15:05 - 15:08
    em vez de rejeição ou ataque.
  • 15:09 - 15:11
    Podemos fazer isto com os nossos irmãos,
  • 15:11 - 15:12
    com os nossos parceiros,
  • 15:12 - 15:14
    com os nossos amigos e colegas.
  • 15:14 - 15:17
    Podemos fazer isto com os desfasamentos
  • 15:17 - 15:20
    e a discórdia à nossa volta.
  • 15:20 - 15:24
    Podemos fazer isto para a alma do mundo.
  • 15:25 - 15:26
    Obrigada.
  • 15:26 - 15:29
    (Aplausos)
Title:
Digam as verdades e procurem-nas nos outros
Speaker:
Elizabeth Lesser
Description:

Numa palestra lírica e inesperadamente divertida, sobre tópicos pesados como as relações desgastadas e a morte de um ente querido, Elizabeth Lesser descreve o processo de cura de pôr de lado o orgulho e o sentimento de defesa para abrir o caminho à abertura da alma e ao relato da verdade. "Não têm que esperar por uma situação de vida ou morte para limpar as relações que vos são importantes" — diz ela. "Sejam como um novo tipo de socorristas... Aquele que dá o primeiro passo corajoso na direção do outro".

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
15:44

Portuguese subtitles

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