Cartas a Favor da Vida dos Negros | Carta inaugural ENG

Cartas a Favor da Vida dos Negros (lettersforblacklives.com) começou como uma carta de origem das bases para as crianças asiático-americanas que queriam um enquadramento para analisar questões de anti-negritude e de violência policial com os seus pais imigrantes. Rapidamente cresceu até ser uma comunidade vibrante com mais de 200 colaboradores, 30 traduções e muito mais vozes partilhadas através de palavras, de som e de vídeo.

MAIS SOBRE O PROJETO DE CARTA: https://lettersforblacklives.com/about-the-letter-ed27ea67eb2e?source=latest

MAIS CARTAS (TRADUÇÕES, ADAPTAÇÕES DE OUTRAS COMUNIDADES): https://www.lettersforblacklives.com

TEXTO DA CARTA: https://lettersforblacklives.com/dear-mom-dad-uncle-auntie-black-lives-matter-to-us-too-e6351e4a0dd?source=latest

#blacklivesmatter #asians4blacklives

Mamã,

Papá,

Tio, Tia,

Avô, Avó.

Precisamos de falar.

Vocês podem não ter crescido
no meio de pessoas negras, mas eu cresci.

Os negros são uma parte fundamental
da minha vida.

São meus amigos,

São meus colegas de quarto,

meus colegas de turma,
meus colegas de equipa,

a minha família.

Hoje, tenho medo por eles.

Este ano, a polícia dos EUA
já matou mais de 500 pessoas.

Destas, 25% eram negras, apesar
de constituírem só 13% da população.

No início desta semana, na Louisiana,

dois polícias mataram um homem
chamado Alton Sterling

quando este vendia CD na rua.

No dia seguinte, no Minnesota,
um polícia disparou e matou

um negro chamado Philand Castile,

que estava dentro do carro,
numa paragem do trânsito,

em frente da sua namorada
e da sua filha de quatro anos.

É raro a polícia sofrer as consequências
por acabar com estas vidas.

Isto é uma realidade terrível

com que alguns dos meus maiores amigos
têm que viver diariamente.

Mesmo quando ouvimos falar dos perigos
que os americanos negros enfrentam

o nosso instinto, por vezes, é apontar
para tudo aquilo em que somos diferentes.

Para nos protegermos da realidade,
em vez de sentirmos empatia.

Quando um polícia dispara sobre um negro
vocês podem pensar que a culpa é da vítima

porque veem muitas imagens deles
nos "media", como malandros e criminosos.

Afinal de contas, podem dizer:

"Nós conseguimos vir para a América
e construir uma vida boa para nós,

"apesar da discriminação.

"Porque é que eles não conseguem?"

Quero partilhar convosco
como vejo as coisas.

É verdade que sofremos discriminação
por sermos asiáticos neste país.

Por vezes, as pessoas
são grosseiras connosco

por causa do nosso sotaque,

ou não nos promovem porque acham
que não somos bons líderes.

A alguns chamam-nos terroristas.

Mas, em geral, as pessoas
não nos consideram "criminosos perigosos"

quando nos encontram na rua.

A polícia não dispara
sobre os nossos filhos e pais

só porque existimos.

Mas isso acontece
com os nossos amigos negros.

Muitos negros foram trazidos para a América
como escravos, contra a sua vontade.

Durante séculos, as suas comunidades,
famílias, e corpos

foram desfeitos, por ganância.

Mesmo depois da escravatura, tiveram
que refazer a vida, por eles mesmos,

sem qualquer apoio institucional.

sem direito a votar,
e a ter casa própria

e constantemente sob a ameaça
da violência que ainda hoje continua.

Na luta pelos seus direitos,
os ativistas negros lideraram o movimento

para terem oportunidades,
não só para eles, mas também para nós.

Os negros foram espancados,
foram presos, até foram mortos

na luta por muitos dos direitos
que os asiático-americanos têm hoje.

Devemos-lhes muito em troca.

Estamos todos a lutar
contra o mesmo sistema injusto

que prefere que lutemos
uns contra os outros.

Quando alguém vai para casa
e é baleado por um protetor da paz

— mesmo que essa pessoa se chame Liang —

é uma agressão a todos nós

e a todas as nossas esperanças
de igualdade e de justiça

de acordo com a lei.

Por todas essas razões,
eu apoio o movimento

"As Vidas Negras São Importantes".

Parte desse apoio significa
manifestar-me sempre que vejo pessoas

da minha comunidade
— ou mesmo da minha família —

a dizer ou fazer coisas
que diminuem a humanidade

dos americanos negros neste país.

Digo-vos isto por amor,

porque não quero
que esta questão nos divida.

Peço-vos que tentem sentir empatia
com a raiva e a dor dos pais,

das mães, e das crianças
que perderam os seus entes queridos,

por causa da violência da polícia.

Para sentirem empatia
com a minha raiva e a minha dor,

Para me apoiarem. se eu decidir
erguer a voz e protestar.

Partilhem esta carta com os vossos amigos
e encorajem-nos a terem empatia, também.

Enquanto vosso filho, sinto-me orgulhoso
e eternamente grato

por vocês terem feito a longa
e difícil viagem para este país,

por terem vivido durante décadas num local
que nem sempre tem sido gentil convosco.

Nunca desejaram que as vossas lutas
fossem as minhas,

Pelo contrário, vocês sofreram
numa América preconceituosa,

para me aproximarem do Sonho Americano.

Mas espero que pensem nisto:

O Sonho Americano não pode
existir apenas para os vossos filhos

Estamos nisto todos juntos
e só podemos estar em segurança

quando todos os nossos amigos,

entes queridos e vizinhos
estiverem em segurança.

O Sonho Americano que procuramos

é um local onde todos os americanos
podem viver

sem medo da violência policial.

É este o futuro que eu quero
— e que espero que vocês também queiram.

Com amor e esperança,

Os vossos filhos.