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A única coisa que podemos fazer de errado é não fazer nada | Geo | TEDxCopenhaga

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    Há dois anos, eu estudava latim,
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    quando me foi diagnosticado cancro.
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    Até parecia que eu tinha
    que estudar latim
  • 0:33 - 0:36
    para compreender o que o médico
    que me examinava dizia.
  • 0:37 - 0:39
    Ele disse-me: - "Tens 'testis cancer'."
  • 0:39 - 0:42
    E eu disse: "Tenho que testar o quê,
    para ter o quê?"
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    "Não, não, não.
    Tu tens cancro testicular."
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    Cancro testicular — em latim,
    "testis" significa testicular.
  • 0:50 - 0:54
    Não sei se foi
    pelo meu óbvio aspeto latino.
  • 0:54 - 0:56
    (Risos)
  • 0:57 - 1:01
    Ele achou que devia dizer-me
    qual era o meu problema em latim!
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    Como há 16 anos que sou comediante,
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    acho bastante irónico
    que me tenha dito que eu podia morrer
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    numa língua que está morta!
  • 1:12 - 1:14
    (Risos)
  • 1:14 - 1:17
    (Aplausos)
  • 1:19 - 1:25
    Mas esta pequena sessão de latim
    acabou por ser simbólica para mim
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    quando, no ano e meio seguintes,
  • 1:28 - 1:32
    compreendi como é difícil para as pessoas
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    falarem com pessoas com doenças graves.
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    Não são só as que nos rodeiam
    mas os médicos também.
  • 1:42 - 1:46
    Tornou-se muito claro para mim que,
    quando o cancro alastrou para o pulmão,
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    até a minha mulher e a minha mãe
    se sentiam constrangidas a falar comigo.
  • 1:50 - 1:53
    A minha mulher afastava-se e calava-se.
  • 1:53 - 1:57
    Não queria fazer-me demasiadas
    perguntas sobre como me sentia
  • 1:57 - 2:00
    e tinha medo de me enervar demasiado.
  • 2:00 - 2:05
    A minha mãe era uma mãe muito preocupada,
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    ninguém quer ver o seu filho doente.
  • 2:07 - 2:12
    Sentia-se demasiado desconfortável
    para me telefonar.
  • 2:28 - 2:33
    Portanto, decidimos que eu lhe telefonaria
    assim que tivesse energia suficiente.
  • 2:34 - 2:36
    Mas se há alguém
  • 2:36 - 2:38
    que queremos que esteja connosco
    quando estamos doentes
  • 2:38 - 2:40
    são a nossa mãe e a nossa mulher.
  • 2:40 - 2:43
    Queremos fazer uma centena
    de perguntas por dia.
  • 2:43 - 2:47
    Queremos centenas de chamadas por dia
    da nossa mãe, que não atendemos.
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    Ouvi bastantes amigos a dizer-me:
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    "Nós evitávamos contactar-te,
  • 2:51 - 2:54
    "tínhamos medo que fosses chorar
    ou que nós chorássemos,
  • 2:54 - 2:59
    "queríamos ter a certeza que dizíamos
    coisas com significado."
  • 2:59 - 3:03
    O meu conselho a todos os que conhecem
    alguém gravemente doente,
  • 3:03 - 3:08
    é que não existe nada que possam dizer
    ou fazer que esteja errado.
  • 3:08 - 3:10
    A única coisa errada que podem fazer,
    é não fazer nada.
  • 3:11 - 3:18
    Basta um pequeno "Penso em ti",
    não tem de ser um poema.
  • 3:21 - 3:23
    A minha mãe não tem telemóvel
    nem computador,
  • 3:23 - 3:27
    por isso não podia mandar-me
    mensagens nem enviar um e-mail.
  • 3:27 - 3:29
    Mas todos nós temos
    — exceto a minha mãe —
  • 3:30 - 3:31
    (Risos)
  • 3:31 - 3:33
    este pequeno aparelho.
  • 3:34 - 3:36
    Se conhecem alguém que está doente,
  • 3:36 - 3:40
    isto está disponível 24 horas por dia.
  • 3:40 - 3:43
    Enviem-lhe uma mensagem,
    um e-mail, um facebook, um twitter.
  • 3:43 - 3:47
    Digam-lhe que estão a pensar nele
    e nos seus entes queridos.
  • 3:50 - 3:53
    Sabem, lembro-me quando estava mal
  • 3:53 - 3:57
    — nem sempre recebia centenas
    de mensagens de amigos e da família,
  • 3:57 - 4:00
    nem sempre tinha forças para lê-las —
  • 4:00 - 4:04
    mas nos dias bons,
    quando ligava o meu telemóvel,
  • 4:04 - 4:07
    ouvir as mensagens a chegar e vê-las
  • 4:07 - 4:10
    fazia-me continuar
    e tornava o meu dia mais feliz...
  • 4:12 - 4:15
    ... especialmente aquelas
    que me faziam rir.
  • 4:17 - 4:21
    Houve alturas que me ria
    e esquecia que estava doente.
  • 4:23 - 4:26
    Vou dar-vos um exemplo:
    eu usava o cabelo comprido.
  • 4:26 - 4:28
    Tive de fazer quimioterapia
    e perdi o cabelo.
  • 4:28 - 4:32
    Tive cabelo comprido durante 20 anos,
    era a minha marca, era a minha imagem.
  • 4:32 - 4:36
    Recebi uma mensagem de um comediante,
    um dos meus colegas,
  • 4:36 - 4:40
    com uma foto dele com uma cabeleira
    de cabelo comprido, a dizer:
  • 4:40 - 4:41
    (Risos)
  • 4:41 - 4:44
    "Não te preocupes, meu amigo,
    eu faço os teus espetáculos por ti".
  • 4:44 - 4:45
    (Risos)
  • 4:45 - 4:47
    "E claro...fico com o dinheiro."
  • 4:47 - 4:48
    (Risos)
  • 4:48 - 4:51
    Na altura eu trabalhava
    numa estação de rádio
  • 4:51 - 4:54
    e o meu chefe apareceu
    com seis bolas de chocolate.
  • 4:54 - 4:58
    Tinham-me tirado os testículos
  • 4:58 - 5:00
    e ele achou
    que eu precisava de substitutos.
  • 5:00 - 5:01
    (Risos)
  • 5:01 - 5:04
    Tinham todas tamanhos diferentes
    porque ele não sabia qual o meu tamanho.
  • 5:04 - 5:06
    (Risos)
  • 5:07 - 5:11
    Quando me disseram
    que eu estava livre do cancro,
  • 5:11 - 5:14
    há cerca de 1 ano e 8 dias...
  • 5:14 - 5:16
    (Aplausos)
  • 5:16 - 5:18
    Obrigado.
  • 5:18 - 5:21
    (Aplausos)
  • 5:24 - 5:28
    ... coloquei um post eufórico
    no meu Facebook:
  • 5:29 - 5:32
    "Uau! Venci o cancro! Espetacular!"
  • 5:32 - 5:36
    Recebi 4000 "likes",
    4000 pessoas que gostaram do meu post!
  • 5:36 - 5:38
    Mostrei-o à minha enfermeira:
  • 5:38 - 5:40
    "Veja isto, 4000 pessoas
    gostaram do meu post."
  • 5:40 - 5:43
    Ela olhou e disse: "Bem, tens 50 000 fãs!"
  • 5:43 - 5:47
    (Risos)
  • 5:47 - 5:51
    "Isso significa que há 46 000
    que dizem 'Que se lixe!'?"
  • 5:51 - 5:53
    (Risos)
  • 5:54 - 5:57
    Mandei mensagens
    a todos os meus amigos e família,
  • 5:57 - 5:59
    para ser exato, a 150 pessoas e disse:
  • 5:59 - 6:02
    "Uau! voltei, estou vivo, venci o cancro."
  • 6:02 - 6:04
    Responderam 149:
  • 6:04 - 6:07
    " É fantástico, gostamos de ti,
    amamos a vida."
  • 6:08 - 6:13
    Exceto um tipo, o meu amigo Uve,
    da minha universidade, que escreveu:
  • 6:13 - 6:17
    "Caro Geo, isso é tão bom, boas notícias.
  • 6:18 - 6:23
    "Eu também tenho estado doente
    ultimamente, estive com febre."
  • 6:23 - 6:26
    (Risos)
  • 6:27 - 6:29
    "Também senti tonturas,
    mas agora estou bem!"
  • 6:29 - 6:31
    (Risos)
  • 6:31 - 6:34
    "Mas já reservei bilhetes para o México,
    vai ser espetacular".
  • 6:34 - 6:36
    Tinha que lhe responder.
    Escrevi ao Uve:
  • 6:36 - 6:37
    "Sim, eu estive a lutar,
  • 6:37 - 6:40
    a lutar contra o cancro
    no último ano e meio e venci-o.
  • 6:40 - 6:45
    "Posso estar falido mental,
    física e financeiramente,
  • 6:45 - 6:47
    "mas não quero saber, estou vivo!
  • 6:47 - 6:49
    "Tenho tido umas tonturazitas."
  • 6:49 - 6:50
    (Risos)
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    Estes quatro exemplos
    só mostram como pode ser difícil,
  • 6:55 - 6:57
    no entanto, todos eles
    tinham boas intenções.
  • 6:57 - 6:58
    O Uve tinha boas intenções.
  • 6:59 - 7:03
    Aquele texto podia ser desajeitado
    mas certamente fiquei contente
  • 7:03 - 7:06
    e com certeza fez-me rir.
  • 7:06 - 7:07
    (Risos)
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    Mas o que interessa
    é que o Uve fez qualquer coisa.
  • 7:12 - 7:15
    Tenho aqui o meu telemóvel
  • 7:15 - 7:17
    e vejo que vocês também
    têm os vossos telemóveis.
  • 7:18 - 7:20
    Vou acabar dentro de segundos.
  • 7:20 - 7:24
    Quando acabar, quero que vocês
    mandem uma mensagem
  • 7:24 - 7:27
    ou telefonem a uma pessoa,
    a alguém que precisa de os ouvir.
  • 7:30 - 7:33
    Não se esqueçam: vocês não podem fazer
    ou dizer nada errado.
  • 7:33 - 7:36
    A única coisa errada que podem fazer
    é não fazer nada.
  • 7:36 - 7:37
    Muito obrigado!
  • 7:37 - 7:40
    (Aplausos)
Title:
A única coisa que podemos fazer de errado é não fazer nada | Geo | TEDxCopenhaga
Description:

Esta palestra foi feita num evento local TEDx, produzido independentemente das Conferências TED.

Porque é que achamos que é tão difícil comunicar com pessoas que têm doenças graves? Quando foi diagnosticado cancro ao Geo, ele sentiu em todos os aspetos como as pessoas se comportam de forma estranha quando têm de lidar com pessoas que têm uma doença potencialmente fatal. Como devem as pessoas próximas reagir? Como devem comunicar com um amigo, um marido ou um filho doente? A intervenção de Geo aborda esta questão através da sua própria experiência.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
07:57

Portuguese subtitles

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