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Envolver os homens nos direitos sexuais para todos | Tim Shand | TEDxBarcelonaWomen

  • 0:22 - 0:26
    A primeira vez que conheci
    um sobrevivente de violação tinha 20 anos.
  • 0:27 - 0:32
    Ainda recordo esse dia claramente.
    O tempo estava frio e húmido.
  • 0:33 - 0:36
    A Rachel estava vestida de forma informal.
  • 0:37 - 0:40
    Ela podia ser qualquer uma
    das minhas amigas,
  • 0:40 - 0:43
    meia-irmã, uma das mulheres
    nesta plateia.
  • 0:45 - 0:50
    A Rachel falou abertamente sobre como
    um amigo em quem confiava
  • 0:50 - 0:51
    se tornou num agressor sexual.
  • 0:53 - 0:55
    Como ele a apanhou, a violou,
  • 0:55 - 1:01
    as calças de ganga que ele usava,
    o cheiro do seu aftershave,
  • 1:01 - 1:05
    os gritos que não obtiveram resposta,
  • 1:05 - 1:10
    a preocupação em engravidar,
    ou adquirir uma infeção por transmissão,
  • 1:12 - 1:15
    a rejeição da família,
  • 1:15 - 1:20
    a sua humilhação e luta
    para ser levada a sério pela polícia.
  • 1:21 - 1:26
    Nada ter acontecido a este homem
    a quem ela antes chamava de amigo.
  • 1:27 - 1:32
    Conseguem imaginar?
    Eu sentia-me triste e frustrado.
  • 1:34 - 1:38
    Eu havia lido e ouvido
    sobre histórias de violação
  • 1:38 - 1:45
    mas, pela primeira vez, estava a ver
    o seu verdadeiro rosto e consequências.
  • 1:51 - 1:53
    Isto foi há mais de uma década.
  • 1:53 - 1:57
    Conheci a Rachel quando em voluntariado
    num centro para vítimas de violação,
  • 1:57 - 2:03
    para falar para grupos masculinos
    nas escolas, clubes desportivos,
  • 2:03 - 2:09
    em salas como esta, sobre violência sexual
    contra mulheres e suas consequências.
  • 2:12 - 2:15
    Eu cresci com pais
    que eram abertos em relação ao sexo,
  • 2:15 - 2:17
    fortes defensores
    dos direitos das mulheres,
  • 2:17 - 2:20
    que me incutiram fortes valores
    de justiça social.
  • 2:20 - 2:22
    Foram, por ventura, demasiado abertos.
  • 2:22 - 2:26
    Todas as semanas a minha mãe
    me perguntava pela minha vida sexual.
  • 2:26 - 2:28
    (Risos)
  • 2:28 - 2:32
    Esta educação e experiências
    como ter conhecido a Rachel
  • 2:32 - 2:35
    fizeram de mim a pessoa que sou hoje.
  • 2:35 - 2:38
    Tem orientado o meu trabalho e paixões.
  • 2:38 - 2:44
    Levou-me a pesquisar a violência sexual
    e o papel dos homens na sua prevenção,
  • 2:44 - 2:47
    e a trabalhar nos direitos sexuais
    de mulheres e homens desde então.
  • 2:48 - 2:51
    E levou-me a acreditar num mundo
  • 2:51 - 2:56
    onde as minhas amigas
    e futuras filhas não têm que se preocupar
  • 2:56 - 3:00
    que alguém que amam e em quem confiam
    abuse sexualmente delas
  • 3:00 - 3:04
    ou sejam forçadas a
    ter sexo sem proteção.
  • 3:05 - 3:07
    E as mulheres de qualquer idade,
  • 3:07 - 3:12
    aqui em Barcelona,
    em Ohio, Deli, África do Sul,
  • 3:12 - 3:16
    podem andar sozinhas na rua,
    vestir o que quiserem
  • 3:16 - 3:19
    sem receio de serem violadas.
  • 3:21 - 3:23
    (Aplausos)
  • 3:26 - 3:30
    Mas também me levou a acreditar
    cada dia mais
  • 3:30 - 3:35
    que a atual resposta à promoção
    e proteção dos direitos sexuais das mulheres
  • 3:35 - 3:39
    não terá êxito até envolvermos os homens.
  • 3:43 - 3:44
    Então qual é o problema?
  • 3:44 - 3:48
    Saúde e direitos sexuais e reprodutivos
    são vistos como problemas femininos
  • 3:48 - 3:51
    e, fundamentalmente, responsabilidade
    e preocupação das mulheres.
  • 3:51 - 3:55
    Hoje, mundialmente,
    em comunidades e lares
  • 3:55 - 3:57
    as mulheres carregam o fardo
  • 3:57 - 4:03
    de evitar gravidezes indesejadas e
    garantir distância saudável entre crianças.
  • 4:03 - 4:09
    Mundialmente, menos de um quarto
    dos utilizadores de contracetivos são homens.
  • 4:10 - 4:14
    Na África do Sul, de onde sou,
    há mulheres que andam horas sozinhas
  • 4:14 - 4:18
    até chegarem à clínica mais próxima
    para receberem contraceção.
  • 4:19 - 4:21
    E as mulheres que tomam a pílula
  • 4:21 - 4:25
    temem diariamente
    que os seus parceiros descubram
  • 4:25 - 4:28
    que usam contraceção
    e respondam com violência.
  • 4:29 - 4:32
    E isto piora com as diferenças de poder
  • 4:32 - 4:34
    o que significa que, quando
    uma mulher dorme com um homem
  • 4:34 - 4:38
    pode ser difícil insistir
    no uso de preservativos.
  • 4:40 - 4:44
    Onde estão os homens que apoiam
    estas mulheres no acesso à contraceção?
  • 4:46 - 4:48
    Recentemente, no Malawi,
    conheci um homem que me disse
  • 4:49 - 4:51
    que no casamento
    ele tinha o direito a sexo
  • 4:51 - 4:55
    mas que o planeamento familiar
    era responsabilidade da sua mulher.
  • 4:55 - 4:57
    Quando o confrontei, ele disse-me:
  • 4:57 - 5:02
    "Os homens precisam de sexo mais do que
    as mulheres" e "elas esperam isso".
  • 5:02 - 5:06
    Este homem, reproduzindo o comportamento
    e visão de tantos outros,
  • 5:06 - 5:09
    pôs o seu prazer e desejo sexuais
  • 5:09 - 5:12
    antes dos direitos e segurança
    da sua parceira.
  • 5:12 - 5:15
    Este homem não achava
    que as implicações
  • 5:15 - 5:20
    de uma gravidez indesejada
    ou de VIH/SIDA eram responsabilidade sua.
  • 5:23 - 5:27
    E é por isto que acredito, cada vez mais,
  • 5:27 - 5:30
    que podemos continuar a fortalecer
    as mulheres à vontade,
  • 5:30 - 5:34
    através de educação,
    programas, e outros recursos,
  • 5:34 - 5:38
    mas se elas voltam todas as noites
    para o mesmo companheiro abusivo,
  • 5:38 - 5:40
    poderemos ter alcançado muito pouco.
  • 5:41 - 5:45
    Na verdade, podemos ter colocado
    estas mulheres em maior risco.
  • 5:48 - 5:51
    Durante muito tempo, nos nossos programas,
    políticas e compromissos,
  • 5:51 - 5:54
    falámos de saúde sexual e reprodutiva
  • 5:54 - 5:58
    sem nos focarmos claramente
    no papel dos homens,
  • 5:58 - 6:02
    no papel dos homens enquanto parceiros
    com responsabilidade na contraceção,
  • 6:03 - 6:06
    enquanto clientes de serviços
    com direitos próprios
  • 6:06 - 6:09
    e enquanto agentes de mudança
    nas suas casas e comunidades.
  • 6:11 - 6:13
    Então, o que vos quero dizer hoje é que
  • 6:13 - 6:18
    é hora de mudarmos o discurso sobre
    direitos e saúde sexuais e reprodutivos.
  • 6:18 - 6:21
    Precisamos falar disto
    como um assunto de todos.
  • 6:21 - 6:24
    Precisamos desafiar
    o comportamento masculino
  • 6:24 - 6:28
    e reforçar os comportamentos favoráveis
    que alguns homens já estão a ter.
  • 6:29 - 6:34
    Precisamos também reconhecer
    o interesse e responsabilidade dos homens.
  • 6:34 - 6:38
    A violação e as gravidezes não planeadas
    também afetam os homens.
  • 6:38 - 6:41
    Somos os companheiros, pais,
    filhos, maridos,
  • 6:41 - 6:43
    amigos e amantes destas mulheres.
  • 6:45 - 6:48
    Mas também temos que nos preocupar
    com as necessidades dos homens.
  • 6:48 - 6:52
    Não somos muito bons a olhar
    pela nossa saúde sexual.
  • 6:52 - 6:55
    Costumamos ir aos centros de saúde
    apenas quando estamos muito doentes
  • 6:55 - 6:59
    e evitamos clínicas de saúde sexual
    e planeamento familiar.
  • 7:00 - 7:01
    Atualmente, em África,
  • 7:01 - 7:07
    há muito menos homens do que mulheres
    nos serviços de teste e tratamento do VIH.
  • 7:07 - 7:11
    Mas isto também constitui um problema aqui,
    na Europa e em Espanha.
  • 7:11 - 7:14
    Pergunto-me quantos homens nesta sala
  • 7:14 - 7:17
    fizeram recentemente um teste
    à sua saúde sexual,
  • 7:17 - 7:21
    ou apoiaram a sua companheira
    a aceder a esses serviços.
  • 7:21 - 7:24
    Trabalhei em clínicas
    de planeamento familiar
  • 7:24 - 7:29
    no Bangladesh, onde 98%
    dos pacientes eram mulheres.
  • 7:29 - 7:33
    Os homens nessa comunidade disseram-me
    que o serviço não era para eles.
  • 7:33 - 7:35
    Não correspondia às suas necessidades.
  • 7:35 - 7:40
    Homens a sério não olhavam pela sua saúde
    ou pela das suas companheiras.
  • 7:40 - 7:44
    Mas mais tarde, esses mesmos homens
    contaram-me, em sigilo,
  • 7:44 - 7:47
    as suas preocupações sobre saúde sexual.
  • 7:47 - 7:53
    As suas preocupações com o manter
    uma ereção, ter infeções.
  • 7:53 - 7:54
    A sua incompreensão
  • 7:54 - 7:58
    dos seus próprios corpos
    ou dos corpos das suas parceiras.
  • 7:58 - 8:01
    Estes homens permitiam que
    a ideia tradicional de masculinidade
  • 8:01 - 8:04
    os impedisse de terem acesso
    aos serviços necessários.
  • 8:05 - 8:10
    Isto é mau para os homens
    mas também para as mulheres.
  • 8:10 - 8:13
    Precisamos então desafiar
    os homens e apoiar
  • 8:13 - 8:15
    aqueles que já têm
    um comportamento responsável.
  • 8:15 - 8:19
    Precisamos também ter em atenção
    as necessidades masculinas em saúde,
  • 8:19 - 8:22
    trabalhando em conjunto
    com homens e mulheres
  • 8:22 - 8:25
    pela saúde sexual e reprodutiva de todos.
  • 8:26 - 8:28
    Este é o trabalho que desempenho.
  • 8:29 - 8:32
    Trabalho para a Sonke Gender Justice,
    na África do Sul.
  • 8:32 - 8:35
    Trabalhamos para construir
    a capacidade dos indivíduos,
  • 8:35 - 8:37
    da sociedade civil e do governo,
  • 8:37 - 8:42
    para promover a igualdade de géneros,
    prevenir a violência sexual e o VIH
  • 8:42 - 8:45
    e melhorar direitos
    e saúde sexuais e reprodutivos.
  • 8:45 - 8:48
    Somos homens e mulheres de todas as raças
  • 8:48 - 8:52
    e sexualidades, a trabalhar em conjunto.
  • 8:52 - 8:58
    Na Zâmbia, em conjunto com Levy Wire,
    o ativista da juventude, e outros,
  • 8:58 - 9:00
    trabalhamos com homens
    para mudar comportamentos
  • 9:00 - 9:03
    em torno dos direitos
    e saúde sexuais e reprodutivos,
  • 9:03 - 9:06
    através do fornecimento
    de certos serviços e donativos.
  • 9:06 - 9:09
    E temos visto resultados fantásticos.
  • 9:09 - 9:11
    Henry Kunda é um exemplo:
  • 9:11 - 9:13
    Antes do nosso trabalho,
  • 9:13 - 9:17
    Henry acreditava que o planeamento familiar
    era responsabilidade da sua mulher.
  • 9:17 - 9:20
    Agora ele apoia-a nestes assuntos.
  • 9:20 - 9:22
    Eles conversam sobre saúde sexual.
  • 9:22 - 9:27
    Ele cuida da própria saúde
    e é defensor destes temas
  • 9:27 - 9:33
    junto de homens e mulheres da comunidade
    através de donativos e outras atividades.
  • 9:34 - 9:38
    Também estamos a apoiar a próxima geração
    de líderes de justiça de género em África,
  • 9:38 - 9:42
    como o Danny Gotto, em Uganda.
  • 9:42 - 9:47
    O Danny recentemente apoiou um
    dos nossos cursos sobre liderança.
  • 9:47 - 9:50
    Nós estamos a ajudá-lo no
    seu incrível trabalho
  • 9:50 - 9:53
    de endereçar e aumentar
  • 9:53 - 9:59
    a defesa de serviços de aborto em segurança
    para as mulheres no Uganda.
  • 10:00 - 10:05
    Na África do Sul, a campanha
    "Um homem consegue", da Sonke,
  • 10:05 - 10:10
    chegou a milhares de homens
    e mulheres pelo país,
  • 10:10 - 10:14
    permitindo-lhes agir
    pela igualdade de sexos
  • 10:14 - 10:18
    nas suas casas, relações
    e nas suas comunidades.
  • 10:20 - 10:24
    Através da nossa coordenação
    da rede MenEngage African,
  • 10:24 - 10:30
    trabalhamos com homens e mulheres
    para espalhar este trabalho por África
  • 10:30 - 10:33
    e para criarmos um movimento
    à escala africana pela mudança.
  • 10:34 - 10:38
    Não fazemos este trabalho
    apenas nas comunidades.
  • 10:39 - 10:41
    Também procuramos associar os governos,
  • 10:41 - 10:46
    para garantir que estas importantes
    intervenções se refletem nas leis e políticas.
  • 10:50 - 10:54
    Não devíamos agradecer a homens como eu
    por fazerem este trabalho.
  • 10:55 - 10:58
    Precisamos que isto funcione enquanto
    peça importante da nossa identidade,
  • 10:58 - 11:03
    da nossa educação, da nossa carreira.
  • 11:04 - 11:07
    Precisamos apoiar os homens
  • 11:07 - 11:11
    e garantir que eles são parte da solução.
  • 11:14 - 11:19
    E vocês aqui?
    São parte da solução?
  • 11:20 - 11:23
    Continuam a assistir
    à desigualdade de sexos
  • 11:23 - 11:27
    e à necessidade de melhorar
    saúde e direitos sexuais reprodutivos
  • 11:27 - 11:30
    como um problema antigo
    que nunca irá mudar?
  • 11:30 - 11:34
    E a sentirem-se arrebatados
    pela dimensão do desafio?
  • 11:35 - 11:38
    Ou estão a agir?
  • 11:38 - 11:45
    Há mais de uma década, a Rachel
    inspirou-me a nunca manter o silêncio.
  • 11:45 - 11:48
    Este é o meu desafio para vocês:
  • 11:48 - 11:56
    homens, ouçam as mulheres sobre o
    porquê destes assuntos serem importantes.
  • 11:56 - 11:59
    Falem sobre
    os direitos sexuais das mulheres.
  • 11:59 - 12:05
    Apoiem o vosso parceiro, homem ou mulher,
    no acesso à contraceção necessária
  • 12:05 - 12:09
    e olhem pela vossa saúde sexual.
  • 12:10 - 12:13
    Mulheres, nunca fiquem em silêncio.
  • 12:13 - 12:16
    Desafio-vos a continuarem a falar
    sobre os vossos direitos
  • 12:16 - 12:19
    e a permitirem que os homens
    vos apoiem nessa tarefa.
  • 12:20 - 12:24
    Falem com o vosso companheiro,
    ajudem e encorajem os homens
  • 12:24 - 12:28
    a serem mais responsáveis em assuntos
    de saúde e direitos sexuais e reprodutivos,
  • 12:28 - 12:31
    por eles e por vocês.
  • 12:32 - 12:38
    E desafio-nos a todos:
    vamos trabalhar em conjunto,
  • 12:38 - 12:41
    para que a saúde
    e os direitos sexuais e reprodutivos
  • 12:41 - 12:45
    deixem de ser vistos como
    um problema das mulheres
  • 12:45 - 12:50
    e passemos a ver o envolvimento masculino,
    o seu apoio e acesso a serviços
  • 12:50 - 12:53
    enquanto parte central para garantir
  • 12:53 - 12:57
    a saúde e direitos sexuais
    e reprodutivos de toda a gente.
  • 13:01 - 13:06
    Eu sou Tim Shand. Sou um homem
    a trabalhar pela igualdade de sexos.
  • 13:07 - 13:12
    Como todos nós,
    sou um homem em progresso.
  • 13:13 - 13:16
    (Aplausos)
Title:
Envolver os homens nos direitos sexuais para todos | Tim Shand | TEDxBarcelonaWomen
Description:

Esta palestra teve lugar num evento TEDx local, produzido de forma independente das conferências TED.

Tim Shand, Diretor dos Programas Internacionais do Direito à Saúde Sexual e Reprodutiva para a Sonke Gender Justice, fala da responsabilidade dos homens em acabar com a violência contra as mulheres e sobre contraceção. Ele sublinha que formar os homens, enquanto se dá poder às mulheres, é o caminho certo para a igualdade de sexos.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
13:32

Portuguese subtitles

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