Mapas felizes.

Aplicativos de mapas ajudam-nos a encontrarmos o caminho mais rápido para onde estamos indo. Mas e se nós preferimos passear? O pesquisador Daniele Quercia mostra o "Mapas felizes", que leva em conta não apenas a rota que você quer fazer, mas como você quer se sentir ao longo do caminho.

Eu tenho uma confissão a fazer.

Como cientista e engenheiro, eu estive
focado em eficiência por muitos anos.

Mas a eficiência pode ser um culto,

e hoje quero contar-lhes sobre uma jornada

que me levou do culto de volta
à uma realidade muito mais rica.

Há alguns anos, ao terminar meu Ph.D.
em Londres, eu me mudei para Boston.

Eu morava em Boston
e trabalhava em Cambridge.

Naquele verão, eu comprei
uma bicicleta de corrida

e todos os dias pedalava para o trabalho.

Para encontrar minha rota,
eu usei meu telefone.

Ele traçou a rota pela Av. Mass.,
Avenida Massachusetts,

a rota mais curta de Boston até Cambridge.

Mas, depois de um mês

que eu pedalei todos os dias
pela Av. Mass. repleta de carros,

um dia eu fiz um caminho diferente.

Eu não tenho certeza porque tomei um
caminho diferente naquele dia, um desvio.

Só me lembro de uma sensação de surpresa;

surpresa ao encontrar uma rua sem carros,

ao contrário da vizinha
Av. Mass. cheia deles;

surpresa ao encontrar uma rua
coberta por folhas e rodeada por árvores.

Mas depois da surpresa, senti vergonha.

Como eu pude ser tão cego?

Durante um mês inteiro

eu estava tão preso ao meu aplicativo,

que uma viagem para o trabalho
tornou-se apenas uma coisa:

o caminho mais curto.

Nesta simples rota, não havia a ideia

de desfrutar a estrada,

do prazer em se conectar à natureza,

nenhuma possibilidade de
olhar as pessoas nos olhos.

E, por que?

Porque eu estava economizando
um minuto de meu trajeto.

Deixe-me perguntar-lhes:
eu estou sozinho nessa?

Quantos de vocês nunca usou
um mapa para encontrar o caminho?

A maioria de vocês,
se não todos, já o fizeram.

E não me levem a mal-- mapas
são os maiores divisores de águas

para incentivar as pessoas
a explorarem a cidade.

Você pega o telefone e sabe
imediatamente para onde ir.

Entretanto, o aplicativo também assume

que há apenas algumas
rotas para o destino.

Ele tem o poder de fazer
daquelas indicações

a direção definitiva para esse destino.

Depois dessa experiência, eu mudei.

Mudei minha pesquisa
de mineração de dados tradicional

para entender como as pessoas
experimentam a cidade.

Eu usei ferramentas
de ciência da computação

para replicar experiências científicas
sociais em escala web.

Eu fiquei encantado com
a beleza e genialidade

dos experimentos de
ciências sociais tradicionais

feitos por Jane Jacobs,
Stanley Milgram e Kevin Lynch.

O resultado dessa pesquisa
foi a criação de novos mapas,

mapas onde você não encontra
apenas o menor caminho, o azul,

mas também o caminho mais agradável,

o vermelho.

Como isso foi possível?

Einstein uma vez disse:

"A lógica vai te levar de A até B.

A imaginação te levará
a todos os lugares."

Assim, com um pouco de imaginação,

precisávamos entender

quais partes da cidade
as pessoas achavam bonitas.

Junto com os colegas da
Universidade de Cambridge,

pensamos nesse experimento simples.

Se eu fosse lhes mostrar
estas duas cenas urbanas,

e lhes perguntasse qual é a mais bonita,

qual você escolheria?

Não sejam tímidos.

Quem diz A? Quem diz B?

Brilhante.

Com base nessa ideia,

construímos uma plataforma coletiva,

um jogo na internet.

Pares de cenas urbanas são
apresentados aos jogadores

e eles devem escolher qual é
a mais bonita, tranquila e feliz.

Com base em milhares de votos,

pudemos ver onde surge o consenso.

Pudemos ver quais são as cenas urbanas

que fazem as pessoas felizes.

Após esse trabalho, juntei-me
ao laboratório do Yahoo,

e ao Luca e ao Rossano,

e, juntos, nós agregamos esses
locais vencedores em Londres

para construir um novo mapa da cidade,

uma cartografia ajustada
às emoções humanas.

Nesta cartografia,
você não apenas vê e conecta

o ponto A ao B pela menor rota,

como também pode ver a rota feliz,

o caminho bonito, o tranquilo.

Nos testes, os participantes acharam
os caminhos feliz, bonito e tranquilo

muito mais agradáveis
que o caminho mais curto,

bastando para isso, adicionar
alguns minutos ao tempo da viagem.

Os participantes também gostam
de associar memórias aos lugares.

Memórias compartilhadas - era onde
estava o antigo prédio da BBC;

e memórias pessoais - é onde
dei o meu primeiro beijo.

Eles também recordaram como alguns
caminhos tinham cheiro e som.

Então, e se tivéssemos uma
ferramenta de mapeamento

que mostrasse as rotas mais agradáveis,

baseadas não apenas na estética

mas também no cheiro, som e memórias?

É para isso que nossa
pesquisa caminha agora.

De modo mais geral, minha pesquisa,

o que ela tenta fazer é evitar
o perigo do caminho mais simples,

evitar privar as pessoas de vivenciarem
plenamente a cidade em que vivem.

Faça o caminho pelo parque,
não pelo estacionamento,

e você tem um caminho
totalmente diferente.

Faça o caminho cheio
de pessoas que você gosta

e não cheio de carros,

e terá um caminho
totalmente diferente.

Simples assim.

Eu queria terminar com esse pensamento:

vocês lembram do "Show de Truman"?

É uma sátira da mídia onde uma pessoa real

não sabe que vive em um mundo fabricado.

Talvez vivamos em um mundo
fabricado para a eficiência.

Vejam alguns de seus hábitos diários,

e como Truman fez no filme,
fujam do mundo fabricado.

Por que?

Bem, se você acha que a aventura
é perigosa, tente a rotina. Ela é mortal.

Obrigado.

(Aplausos)