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Quão grande é o infinito? — Dennis Wildfogel

  • 0:14 - 0:17
    Quando eu estava na quarta classe,
    o professor disse-nos:
  • 0:17 - 0:20
    "Há tantos números pares quanto números."
  • 0:20 - 0:23
    "A sério?", pensei eu. Realmente,
    há um número infinito de ambos,
  • 0:23 - 0:26
    portanto suponho que
    haja o mesmo número de ambos.
  • 0:26 - 0:29
    Por outro lado, os números pares
    são apenas uma parte de todos os números.
  • 0:29 - 0:31
    Os ímpares ficam de fora,
  • 0:31 - 0:34
    portanto tem de haver mais números
    do que números pares.
  • 0:34 - 0:36
    Para perceber o que o professor
    queria dizer, vamos pensar
  • 0:36 - 0:39
    no que significa dois conjuntos
    terem o mesmo tamanho.
  • 0:39 - 0:41
    O que é que significa quando digo
  • 0:41 - 0:44
    que tenho tantos dedos
    na mão direita como na mão esquerda?
  • 0:45 - 0:48
    É óbvio que tenho cinco dedos em cada uma
    mas é mais simples do que isso.
  • 0:48 - 0:50
    Não preciso de os contar,
  • 0:50 - 0:53
    só preciso de perceber
    se os consigo combinar, um a um.
  • 0:53 - 0:55
    Pensa-se que alguns povos antigos,
    que falavam línguas
  • 0:55 - 0:58
    que não tinham palavras
    para números maiores do que três,
  • 0:58 - 0:59
    usavam este tipo de truque.
  • 0:59 - 1:02
    Por exemplo, se tirarem
    as ovelhas do curral para pastar
  • 1:02 - 1:04
    conseguem não perder a conta
    de quantas saíram
  • 1:04 - 1:06
    se puserem de lado
    uma pedra por cada uma
  • 1:06 - 1:08
    e depois deitarem as pedras fora,
    uma a uma,
  • 1:08 - 1:10
    quando as ovelhas regressarem.
  • 1:10 - 1:13
    Ficam a saber se falta alguma
    sem precisarem de contar.
  • 1:13 - 1:16
    Outro exemplo de emparelhar
    ser mais fundamental do que contar:
  • 1:16 - 1:18
    quando falo para um auditório lotado,
  • 1:18 - 1:20
    onde cada assento está ocupado
    e não há ninguém de pé,
  • 1:20 - 1:23
    sei que há o mesmo número de assentos
    e pessoas no auditório
  • 1:23 - 1:26
    apesar de não saber
    quantos é que existem de cada.
  • 1:26 - 1:29
    Quando dizemos que dois conjuntos
    têm o mesmo tamanho
  • 1:29 - 1:31
    é que os elementos desses conjuntos
  • 1:31 - 1:33
    podem ser combinados,
    um a um, de certa forma.
  • 1:33 - 1:35
    O professor mostrou-nos
    os números inteiros
  • 1:35 - 1:38
    dispostos numa linha e,
    por baixo de cada, o seu dobro.
  • 1:38 - 1:41
    Como vemos, a linha de baixo
    contém todos os números pares,
  • 1:41 - 1:43
    com correspondência de um para um.
  • 1:43 - 1:46
    Ou seja, há tantos números pares
    como há números.
  • 1:46 - 1:48
    Mas o que nos incomoda é a angústia
  • 1:48 - 1:51
    porque os números pares parecerem
    ser apenas parte dos números inteiros.
  • 1:51 - 1:55
    Isto convence-vos de que não tenho
    o mesmo número de dedos
  • 1:55 - 1:57
    na mão esquerda e na mão direita?
  • 1:57 - 1:59
    Claro que não. Não importa
    se tentamos combinar
  • 1:59 - 2:01
    os elementos de qualquer forma
    e não resulta,
  • 2:01 - 2:03
    isso não nos convence de nada.
  • 2:03 - 2:05
    Se conseguirmos encontrar forma
  • 2:05 - 2:07
    de emparelhar elementos de dois conjuntos,
  • 2:07 - 2:10
    dizemos que esses dois conjuntos
    têm o mesmo número de elementos.
  • 2:10 - 2:12
    Conseguem fazer uma lista
    de todas as frações?
  • 2:13 - 2:15
    Vai ser difícil, há uma data de frações!
  • 2:15 - 2:17
    E não é óbvio qual escrever primeiro
  • 2:17 - 2:20
    ou ter a certeza
    de que incluímos todas na lista.
  • 2:20 - 2:22
    De qualquer maneira,
    há uma maneira muito inteligente
  • 2:22 - 2:25
    de fazer uma lista com todas as frações.
  • 2:25 - 2:28
    O primeiro a fazê-lo foi Georg Cantor,
    no final do século XIX.
  • 2:28 - 2:31
    Primeiro, escrevemos
    todas as frações numa grelha.
  • 2:31 - 2:32
    Estão todas lá.
  • 2:32 - 2:36
    Podemos encontrar, por exemplo, 117/243
  • 2:36 - 2:39
    na linha 117 e coluna 223.
  • 2:39 - 2:41
    Fazemos uma lista a partir disto,
  • 2:41 - 2:43
    começando no canto superior esquerdo
  • 2:43 - 2:45
    e andando para trás
    e para a frente na diagonal,
  • 2:45 - 2:47
    saltando qualquer fração como 2/2
  • 2:47 - 2:49
    que representa um número
    que já escrevemos.
  • 2:49 - 2:52
    Assim, obtemos uma lista
    de todas as frações,
  • 2:52 - 2:54
    o que significa que criámos
    uma correspondência 1:1
  • 2:54 - 2:56
    entre os números inteiros e as frações,
  • 2:56 - 2:59
    apesar de termos pensado
    que talvez existissem mais frações.
  • 2:59 - 3:01
    Agora é que se torna
    realmente interessante.
  • 3:01 - 3:03
    Talvez saibam que
    nem todos os números reais
  • 3:03 - 3:06
    — isto é, todos os números
    numa reta numérica — são frações.
  • 3:06 - 3:09
    A raiz quadrada de 2 e o π, por exemplo.
  • 3:09 - 3:12
    Quaisquer números como estes
    chamam-se irracionais.
  • 3:12 - 3:14
    Não por serem doidos,
    mas porque as frações
  • 3:14 - 3:16
    são a razão entre números inteiros,
  • 3:16 - 3:18
    portanto chamam-se racionais,
  • 3:18 - 3:21
    ou seja, o resto é não-racional,
    ou irracional.
  • 3:21 - 3:25
    Os irracionais são representados
    por decimais infinitos e não periódicos.
  • 3:25 - 3:28
    Será que conseguimos fazer
    uma correspondência 1:1
  • 3:28 - 3:30
    entre os números inteiros
    e o conjunto de todos os decimais,
  • 3:30 - 3:32
    tanto racionais como irracionais?
  • 3:32 - 3:35
    Isto é, conseguimos fazer uma lista
    de todos os decimais?
  • 3:35 - 3:36
    Cantor mostrou que não é possível.
  • 3:36 - 3:39
    Não é que não saibamos,
    mas não é possível fazê-lo.
  • 3:39 - 3:43
    Suponham que alegam que fizeram
    uma lista de todos os decimais.
  • 3:43 - 3:46
    Vou mostrar-vos que
    não o conseguiram,
  • 3:46 - 3:48
    gerando um decimal
    que não está na vossa lista.
  • 3:49 - 3:51
    Vou construir o meu decimal,
    algarismo a algarismo.
  • 3:51 - 3:53
    Para a primeira casa decimal
    do meu número,
  • 3:53 - 3:56
    olho para a primeira casa decimal
    do vosso primeiro número.
  • 3:56 - 4:00
    Se for um 1, a minha será um 2.
    Caso contrário, a minha será um 1.
  • 4:00 - 4:02
    Para a segunda casa decimal
    do meu número,
  • 4:02 - 4:05
    olho para a segunda casa decimal
    do vosso segundo número.
  • 4:05 - 4:08
    De novo, se a vossa for um 1,
    a minha será um 2.
  • 4:08 - 4:10
    Caso contrário, a minha será um 1.
  • 4:10 - 4:12
    Estão a ver onde vai dar?
  • 4:12 - 4:14
    O decimal que eu escrever
    não pode estar na vossa lista.
  • 4:14 - 4:18
    Porquê? Poderia o vosso 143.º número?
  • 4:18 - 4:21
    Não, porque a 143.ª casa decimal
    do meu número
  • 4:21 - 4:24
    é diferente da 143.ª casa decimal
    do vosso 143.º número.
  • 4:24 - 4:26
    Foi assim que o defini.
  • 4:26 - 4:28
    A vossa lista estará incompleta.
  • 4:28 - 4:30
    Não contém o meu decimal.
  • 4:30 - 4:31
    Seja qual for a lista que me derem,
  • 4:31 - 4:34
    posso fazer o mesmo e produzir
    um decimal que não está na lista.
  • 4:35 - 4:37
    Portanto, estamos perante
    uma conclusão espantosa:
  • 4:37 - 4:40
    os números decimais
    não podem ser listados.
  • 4:40 - 4:44
    Representam um infinito maior
    do que o infinito dos números inteiros.
  • 4:44 - 4:47
    Embora estejamos familiarizados
    apenas com alguns irracionais,
  • 4:47 - 4:49
    como a raiz quadrada e Pi,
  • 4:49 - 4:51
    a infinidade de todos os irracionais
  • 4:51 - 4:53
    é maior do que a infinidade das frações.
  • 4:53 - 4:55
    Alguém disse uma vez
    que os racionais — as frações —
  • 4:55 - 4:58
    são como as estrelas no céu noturno;
  • 4:58 - 5:01
    os irracionais são como a escuridão.
  • 5:01 - 5:04
    Cantor também mostrou que,
    para qualquer conjunto infinito,
  • 5:04 - 5:08
    que forme um novo conjunto feito de
    todos os subconjuntos do conjunto original
  • 5:08 - 5:10
    representa um infinito maior
    do que o conjunto original.
  • 5:10 - 5:13
    Isto significa que,
    quando temos um infinito,
  • 5:13 - 5:15
    podemos sempre encontrar um maior
  • 5:15 - 5:17
    formando um conjunto com todos
    os subconjuntos do primeiro.
  • 5:17 - 5:19
    E depois um ainda maior
  • 5:19 - 5:21
    formando um conjunto
    com todos os subconjuntos desse.
  • 5:21 - 5:23
    E por aí adiante.
  • 5:23 - 5:26
    Ou seja, há um número infinito
    de infinitos com diferentes tamanhos.
  • 5:26 - 5:29
    Se estas ideias vos são desconfortáveis,
    não são os únicos.
  • 5:29 - 5:32
    Alguns dos maiores matemáticos
    contemporâneos de Cantor
  • 5:32 - 5:33
    ficaram muito perturbados com isto.
  • 5:33 - 5:36
    Tentaram tornar irrelevantes
    estes diferentes infinitos,
  • 5:36 - 5:38
    fazer com que a matemática
    funcionasse sem eles.
  • 5:38 - 5:40
    Cantor foi até
    pessoalmente difamado,
  • 5:40 - 5:42
    de tal maneira que sofreu
    uma grave depressão
  • 5:42 - 5:44
    e passou a última metade da sua vida
  • 5:44 - 5:47
    dentro e fora de instituições
    de saúde mental.
  • 5:47 - 5:49
    Mas, por fim, as suas ideias vingaram.
  • 5:49 - 5:52
    Atualmente, são consideradas
    fundamentais e magníficas.
  • 5:52 - 5:54
    Todos os investigadores matemáticos
    as aceitam,
  • 5:54 - 5:57
    qualquer aluno universitário
    de matemática as aprende
  • 5:57 - 5:59
    e eu expliquei-as aqui em poucos minutos.
  • 5:59 - 6:01
    Talvez um dia elas
    se tornem conhecimento geral.
  • 6:01 - 6:03
    E há mais.
  • 6:03 - 6:05
    Apenas destacámos que o conjunto
    dos números decimais
  • 6:05 - 6:06
    — os números reais —
  • 6:06 - 6:09
    é um infinito maior
    que o conjunto dos números inteiros.
  • 6:09 - 6:11
    Cantor questionava se haveria infinitos
  • 6:11 - 6:13
    de diferentes tamanhos
    entre estes dois infinitos.
  • 6:13 - 6:16
    Não acreditava que houvesse,
    mas não o conseguiu provar.
  • 6:16 - 6:19
    A sua conjetura ficou conhecida
    como a hipótese do "continuum".
  • 6:19 - 6:21
    Em 1900, o grande matemático
    David Hilbert
  • 6:21 - 6:24
    listou a hipótese do "continuum"
    como o mais importante
  • 6:24 - 6:27
    problema matemático por resolver.
  • 6:27 - 6:29
    O século XX assistiu à resolução
    deste problema,
  • 6:29 - 6:32
    mas de uma maneira totalmente inesperada
    e que abalou paradigmas.
  • 6:32 - 6:36
    Nos anos 20, Kurt Gödel demonstrou
    que nunca se poderá provar
  • 6:36 - 6:38
    que a hipótese do "continuum" seja falsa.
  • 6:38 - 6:41
    Mais tarde, nos anos 60,
    Paul J. Cohen demonstrou
  • 6:41 - 6:43
    que nunca se poderá provar
    que ela seja verdadeira.
  • 6:44 - 6:47
    Ou seja, estes resultados querem dizer
    que há questões na matemática
  • 6:47 - 6:49
    que não podem ser resolvidas.
  • 6:49 - 6:51
    Uma conclusão muito surpreendente.
  • 6:51 - 6:54
    Considera-se a matemática corretamente
    o pináculo do raciocínio humano,
  • 6:54 - 6:57
    mas sabemos agora que até a matemática
    tem as suas limitações.
  • 6:57 - 7:01
    Ainda assim, a matemática
    tem coisas verdadeiramente maravilhosas
  • 7:01 - 7:02
    para nos fazer pensar.
Title:
Quão grande é o infinito? — Dennis Wildfogel
Speaker:
Dennis Wildfogel
Description:

Vejam a lição inteira: http://ed.ted.com/lessons/how-big-is-infinity

Usando os fundamentos da teoria dos conjuntos, explorem o alucinante conceito de um "infinito de infinitos" — e como ele levou a que os matemáticos concluíssem que a própria matemática contém questões que não podem ser respondidas.

Lição de Dennis Wildfogel, animação de Augenblick Studios.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TED-Ed
Duration:
07:13
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for How big is infinity?
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for How big is infinity?
TED Translators admin edited Portuguese subtitles for How big is infinity?
Isabel Vaz Belchior approved Portuguese subtitles for How big is infinity?
Isabel Vaz Belchior edited Portuguese subtitles for How big is infinity?
Isabel Vaz Belchior edited Portuguese subtitles for How big is infinity?
Isabel Vaz Belchior edited Portuguese subtitles for How big is infinity?
Isabel Vaz Belchior edited Portuguese subtitles for How big is infinity?
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