Nossos animais de estimação: repensando a maneira como dizemos adeus| Jackie Campbell | TEDxSouthBank

A doutora Jackie Campbell é uma veterinária de cuidados paliativos que dá apoio e ajuda a remediar a dor dos nossos familiares fofos e peludos nas horas mais difíceis. Nessa palestra, Jackie compartilha como ela ajuda famílias a navegar melhor pelos desafios que temos quando decisões precisam ser tomadas no final da vida de nossos animais de estimação.

Dr Jackie Campbell é uma veterinária que vai aquecer seu coração. Apaixonada igualmente pelos seus pacientes e pelas famílias que cuidam deles, Jackie muitas vezes se torna uma tábua de salvação para seus clientes durante seus dias mais difíceis. Como diretora de um dos primeiros serviços de cuidados paliativos de Queensland para animais de estimação, ela gerencia uma equipe de veterinários que estão trabalhando para ajudar as famílias a navegar melhor pelos desafios de tomar decisões no final da vida de seus animais de estimação.

Paralelamente a esta importante obra, Jackie é a coordenadora clínica de Brisbane para uma instituição de caridade que reúne veterinários e enfermeiros voluntários, a fim de proporcionar cuidados veterinários gratuitos para animais de estimação de pessoas sem-teto em nossa comunidade. A iniciativa "Pets in the Park" (Animais do Parque) reconhece e apoia o vínculo que os sem-teto têm com seus animais de estimação e trabalha para melhorar a saúde e bem-estar desses companheiros vitais.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

Eu tenho o melhor trabalho,
mas que pode ser também o mais difícil.

Sou veterinária,
ou seja, durante a minha vida,

meu maior foco sempre
foi ao redor da saúde de um desses:

seu animal de estimação,
do nascimento à fase de filhote,

à adolescência;

à fase de lamber a cara, de comer sapatos,

onde é sempre o par mais caro
que acaba sendo estragado;

até que ganhem sabedoria,

como o porque comer
coisas mortas trazidas pela maré

realmente não é a melhor ideia
que já tiveram;

e nos anos em que eles acalmam,

onde o ponto da vida de repente se torna

o quanto eles conseguem se deitar
embaixo dos seus pés

enquanto você se move na cozinha.

Sempre me preocupei
com a saúde do seu animalzinho.

No entanto, depois de me formar,

percebi que realmente
me importava com isso:

eu me importava
com os detalhes de sua vida,

o novo bebê, o braço quebrado no futebol,
a promoção no trabalho.

Com o fato de que seu animalzinho
faz parte da sua família.

E por isso sei que, em algum momento,

você precisará de uma veterinária como eu.

Sou chamada de veterinária
de cuidados paliativos,

o que significa que lido
com a saúde de seu animal

durante os estágios finais de vida.

Esse é o ponto onde você pode ter recebido

um diagnóstico terminal para seu animal,

ou onde você reconheceu
que seu animalzinho está sofrendo,

e os impactos cumulativos
de doenças crônicas

e mudanças causadas pela idade
passam a afetar a felicidade dele.

Na Austrália, veterinários especializados

nesse tipo de cuidado não são comuns.

Mas essa é uma estatística
que estou determinada a mudar,

porque vejo seus benefícios todos os dias.

Mas agora que nossos animais fazem
cada vez mais parte das nossas vidas,

e continuamos a ajudá-los a viver mais
através de cuidado preventivo,

acho que precisamos nos preparar melhor
para discussões sobre o fim de suas vidas.

E entendo que nessa situação
as emoções são sempre devastadoras.

Mas o processo não precisa ser,

e é por isso que decidi começar minha
própria clínica de cuidados paliativos.

Em essência, medicina paliativa
é sobre como oferecer

o cuidado com mais compaixão possível.

É um cuidado focado
na qualidade de vida, ou seja,

não baseado nos números ou estatísticas,
mas para seu animal individualmente.

Se trata de se certificar que estamos
gerenciando a dor deles adequadamente,

e o andamento de sua condição.

É para preparar você
para o que está por vir,

para que tenha menos medo

que pode te impedir
de tomar boas decisões.

Nos estágios finais, na minha profissão,

o cuidado paliativo também trata
de ajudar as famílias

a dizer seu adeus.

Em anos recentes,
vemos mudanças dramáticas

no padrão dos cuidados
que os veterinários podem oferecer.

E as pessoas se surpreendem

quando escutam que quase todas
as opções de tratamento

que estariam disponíveis para você,
também estão para seus animais.

Hospitais veterinários
e centros especializados

são geralmente de ponta,
e fazem um trabalho incrível.

Mas no fim, tal como vemos
no mundo da saúde humana,

hospitais são feitos para lidar
com doenças tratáveis.

Nem sempre são o melhor lugar
para oferecermos conforto,

e dizer adeus àqueles que amamos.

Então estou reinventando o roteiro
para os animais, e seus donos,

durante esse período difícil.

Eu quero que conheçam o Turbo.

O Turbo era um campeão.

Esse superastro mexeu totalmente
com o mundo onde vivia.

Ele foi uma daquelas almas especiais

que fazem o mundo melhor
apenas por estar aqui.

Com cinco anos, ele foi diagnosticado
com falha nos rins.

Mas apesar de seu triste prognóstico,

sua família queria fazer tudo
que fosse possível

para ter certeza de que seus últimos dias
fossem os seus melhores dias.

Então ajudamos com sua náusea,
sua desidratação,

e suas infecções subjacentes,

e esse superastro começou a melhorar.

Nos meses seguintes, Turbo recebeu
diariamente apoio de sua família em casa,

e visitas quinzenais minhas.

Ele ia aos seus veterinários regularmente
para monitorar o funcionamento dos rins,

e com seu time de apoio à bordo,
ele foi tocando a vida.

Ele andou de barco e foi pescar.

Ele pegou carona na frente
da camioneta com o papai.

E durante o período de sua doença,

Turbo juntou toda a família novamente,

exigindo que eles participassem sempre
de acampamentos no quintal em sua honra.

Em setembro do ano passado

quando ficou claro que era o momento
de deixá-lo partir,

planejamos um adeus tranquilo
embaixo de sua árvore favorita.

E não houve stress,
nem medo, apenas tristeza,

que foi diminuída, de certa forma,

ao saber que ele recebeu o melhor cuidado,

desde o início até o fim.

Então falemos de como implementar

os ideais de cuidado
paliativo para nossos animais.

Primeiro, precisamos ser mais
abrangentes em nosso cuidado.

E não estou falando
apenas dos medicamentos,

porque há grandes chances de seu
veterinário estar fazendo isso.

Mas quando uma família vem até nós
após receber um prognóstico terminal,

também perguntamos

se eles pensaram em um ensaio fotográfico,

para ajudá-los a guardar os momentos
que ainda têm com seu animal.

Às vezes falamos de sua lista
de desejos antes de morrer.

Para um animal, sei que parece loucura,
mas o foco é na alegria,

e vida, e convivência,
no meio de toda essa perda.

Entendemos que o luto
pode ser doloroso demais,

então temos um psicólogo
registrado na nossa equipe,

que pode ajudar nossos clientes com isso.

E se conversar não é para eles,

temos uma biblioteca
com livros que emprestamos,

alguns para crianças, outros para adultos,
para ajudá-los a aprender sobre a perda,

e lidar melhor com o peso de seu luto.

Precisamos ser mais pessoais.

Nossos pacientes não podem falar,
mas há tanto que podemos aprender

de conversas abertas com seus donos.

E leva um pouco mais de tempo,
mas eu garanto,

isso melhora de verdade
os resultados dos pacientes.

E precisamos saber sobre
a personalidade daquele animal,

porque isso tem grande impacto
nas escolhas que faremos para ele.

E se o processo de medicar for atrapalhar
o relacionamento do animal com o dono,

precisamos parar, repensar,
e fazer um plano melhor.

Precisamos ser corajosos.

Começo explicando como
nosso plano de tratamento evoluiu,

para conforto além da cura.

Então cuido do alívio da dor,
porque na vida daquele animal,

se minhas ações de hoje vão fazer
sua vida um pouco melhor amanhã,

então essa é uma ação
que definitivamente preciso fazer.

Onde possível, precisamos oferecer
mais serviços móveis.

Sei que isso é um desafio
para muitos veterinários trabalhando,

mas os benefícios
de cuidados em casa são extensos.

Quero que famílias estejam envolvidas
nas decisões sobre cuidados que façamos,

e quero ver que eles estão
confortáveis ao aplicar

as opções de tratamento que prescrevo.

Mais importante, sei o quão difícil
aquele último dia será,

e para as famílias que visito,
dizer adeus em casa

faz com que tudo seja um pouco mais fácil.

Donos de animais,
se isso se aplica a você agora,

pergunte ao seu veterinário suas opções
para um plano de cuidado paliativo.

Meus colegas veterinários,
estejam abertos a essas conversas,

porque cuidado paliativo
é um seguro contra o sofrimento.

Permite que famílias
se concentrem no que é importante.

E embora saibamos

que a perda de um amigo
é sempre devastadora,

é hora de repensar
como nós os ajudamos a partir.

Obrigada.

(Aplausos)