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Eu não sou humano? Um chamado pela reforma da justiça criminal

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    Ela escreveu:
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    "Quando eu for famosa,
    vou contar a todo mundo
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    que conheço um herói
    chamado Marlon Peterson".
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    Os heróis raramente se parecem comigo.
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    Na verdade,
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    o lixo se parece comigo.
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    Não, não é a forma mais atraente
    de abrir uma palestra
  • 0:17 - 0:19
    ou começar uma conversa,
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    e talvez algumas perguntas
    estejam passando por sua mente.
  • 0:22 - 0:25
    "Por que ele diria esse tipo
    de coisa sobre si mesmo?"
  • 0:25 - 0:26
    "O que ele quer dizer?"
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    "Como alguém pode vê-lo como herói,
    quando ele próprio se vê como lixo?"
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    Acredito que aprendemos mais
    com perguntas do que com respostas.
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    Porque quando estamos questionando algo,
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    estamos interessados em conseguir
    algum tipo de informação nova,
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    ou combater alguma ignorância
    que nos faz sentir desconfortáveis.
  • 0:44 - 0:46
    E é por isso que estou aqui:
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    pra nos pressionar a perguntar
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    mesmo quando isso
    nos deixe desconfortáveis.
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    Meus pais são de Trinidad e Tobago,
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    a ilha mais ao sul do Caribe.
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    Trinidad também é o lar
    do único instrumento acústico
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    inventado no século 21:
  • 1:00 - 1:02
    o tambor de aço.
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    Originado dos tambores africanos
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    e desenvolvido pela genialidade
    de um dos guetos de Trinidad,
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    uma cidade chamada Laventille,
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    e do descaso dos militares americanos...
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    Bem, devo dizer a vocês,
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    os EUA, durante a Segunda Guerra,
    tinham bases militares em Trinidad,
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    e, quando a guerra acabou,
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    eles deixaram a ilha entulhada
    de tambores de óleo vazios...
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    o lixo deles.
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    O povo de Laventille deu novo destino
    aos tambores de óleo deixados pra trás
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    em toda escala cromática:
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    o tambor de aço.
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    Tocando de Beethoven
    a Bob Marley, a 50 Cent,
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    essas pessoas literalmente
    fizeram música a partir do lixo.
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    Doze dias antes
    do meu vigésimo aniversário,
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    fui preso por me envolver
    em uma violenta tentativa de assalto
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    em Lower Manhattan;
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    enquanto as pessoas
    estavam em uma cafeteria.
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    Quatro pessoas foram baleadas.
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    Duas foram mortas.
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    Cinco de nós foram presos.
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    Todos nós éramos produto
    de Trinidad e Tobago.
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    Éramos os "maus imigrantes"
    ou os "bebês-âncora"
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    que o Trump e milhões
    de norte-americanos difamam facilmente.
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    Eu fui descartado, como rejeito...
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    e, para muitos, com razão.
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    Por fim, cumpri pena na prisão
    por dez anos, dois meses e sete dias.
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    Fui condenado a uma década de punição
    em uma instituição correcional.
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    Fui condenado à irrelevância,
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    o oposto de humanidade.
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    Curiosamente,
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    foi durante esses anos na prisão
    que uma série de cartas me redimiram,
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    me ajudaram a me mover
    para além da escuridão e da culpa
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    associadas ao pior momento
    da minha jovem vida.
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    E me deram a sensação de ser útil.
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    Ela tinha 13 anos.
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    Ela escreveu que me via como um herói.
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    Eu me lembro de ler isso,
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    e me lembro de chorar
    ao ler essas palavras.
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    Ela era uma dos mais de 50 estudentes
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    e 150 cartas que escrevi em um programa
    de mentoria por correspondência
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    que projetei junto com um amigo
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    que era professor em uma escola
    fundamental no Brooklyn, onde nasci.
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    Nós o chamamos
    de "Young Scholars Program".
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    Cada vez que esses jovens
    compartilhavam suas histórias comigo,
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    suas batalhas,
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    cada vez que eles desenhavam
    seu personagem preferido
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    e me mandavam,
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    cada vez que eles diziam que dependiam
    de minhas cartas ou de meus conselhos,
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    isso aumentava minha dignidade.
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    Isso me dava a sensação de que eu podia
    contribuir para com este planeta.
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    Isso transformou minha vida.
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    Essas cartas, e o que elas
    compartilharam comigo,
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    suas histórias de vida adolescente,
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    me deram a permissão,
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    me deram a coragem de admitir a mim mesmo
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    que havia razões, não desculpas,
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    mas havia razões para aquele
    dia fatídico em outubro de 1999;
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    que o trauma por viver em uma comunidade
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    na qual é mais fácil
    conseguir armas do que tênis;
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    que o trauma por ter sido estuprado,
    com uma arma na cabeça, aos 14 anos;
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    que essas eram as razões, para mim,
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    para que aquela decisão que tomei,
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    aquela decisão fatídica,
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    não fosse algo improvável.
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    Como essa cartas
    significaram muito para mim,
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    e escrever, receber e ter essa
    comunicação com aquela galera
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    impactou tanto a minha vida,
    decidi compartilhar a oportunidade
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    com alguns amigos
    que estavam presos comigo.
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    Meus amigos Bill, Cory e Arocks,
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    todos na prisão,
    também por crimes violentos,
  • 4:33 - 4:36
    também compartilharam
    suas palavras de sabedoria com os jovens,
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    e receberam em troca
    a sensação de relevância.
  • 4:38 - 4:42
    Agora somos escritores publicados,
    inovadores em programas para jovens,
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    especialistas em trauma,
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    defensores da prevenção da violência
    com armas, palestrantes TED,
  • 4:47 - 4:48
    (Risos)
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    e bons pais.
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    Isso é o que eu chamo
    de retorno positivo de investimento.
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    Acima de tudo,
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    construir esse programa
    me ensinou que, quando semeamos,
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    quando investimos na humanidade
    das pessoas, não importa onde estejam,
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    podemos colher recompensas incríveis.
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    Nessa recente era
    de reforma da justiça criminal,
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    eu sempre questiono
    e me pergunto por que...
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    por que tantos acreditam que só
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    os condenados por delitos não violentos
    relacionados a drogas
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    merecem empatia e reconhecimento
    da sua humanidade?
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    A reforma da justiça criminal
    é justiça humana.
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    Eu não sou humano?
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    Quando investimos em recursos
    que ampliam a relevância das pessoas
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    em comunidades como Laventille, partes
    do Brooklyn ou um gueto próximo a você,
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    podemos literalmente criar
    as comunidades que queremos.
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    Podemos fazer melhor.
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    Podemos fazer melhor do que só investir
    na aplicação da lei como único recurso,
  • 5:43 - 5:46
    porque isso não nos dá
    o sentido de relevância
  • 5:46 - 5:50
    que está no centro do motivo para muitos
    de nós fazerem coisas tão danosas
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    na busca por ter importância.
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    Vejam, a violência armada é só uma amostra
    de muitos traumas subjacentes.
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    Quando investimos no valor
    redentor da relevância,
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    podemos resgatar a cura
    e a responsabilidade pessoal.
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    É com esse tipo de trabalho
    que me importo,
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    porque as pessoas trabalham.
  • 6:11 - 6:15
    Família, estou pedindo
    que vocês façam o trabalho duro,
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    o trabalho difícil,
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    o complicado trabalho
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    de oferecer bondade não merecida
    àqueles que podemos tratar como lixo,
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    que podemos desprezar
    e descartar facilmente.
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    Eu peço isso a mim mesmo.
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    Nos últimos dois meses,
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    perdi dois amigos para a violência armada,
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    os dois eram espectadores inocentes.
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    Um foi atingido por tiros disparados
    de um carro quando ia a pé para casa.
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    O outro estava em uma cafeteria
    tomando café da manhã,
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    enquanto passava férias em Miami.
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    Eu peço a mim mesmo para ver
    o valor redentor da relevância
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    nas pessoas que os assassinaram,
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    pelo difícil trabalho de ver valor em mim.
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    Estou nos forçando a desafiar
    nossa própria capacidade
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    de vivenciar totalmente nossa humanidade,
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    compreendendo a biografia completa
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    das pessoas que podemos
    facilmente optar por não ver,
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    porque os heróis estão esperando
    para serem reconhecidos,
  • 7:11 - 7:13
    e a música está esperando para ser feita.
  • 7:14 - 7:15
    Obrigado.
  • 7:15 - 7:17
    (Aplausos) (Vivas)
Title:
Eu não sou humano? Um chamado pela reforma da justiça criminal
Speaker:
Marlon Peterson
Description:

Por um crime que cometeu aos 20 anos, a justiça condenou Marlon Peterson a 10 anos de prisão e, como ele diz, de um período de vida de irrelevância. Enquanto estava atrás das grades, Peterson encontrou redenção através de um programa penal de mentoria com estudantes do Brooklyn. Nessa palestra corajosa, ele nos lembra por que devemos investir na humanidade daquelas pessoas que a sociedade gostaria de desprezar e descartar.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
07:32

Portuguese, Brazilian subtitles

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