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Um retrato neuronal da mente humana

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    Hoje quero falar-vos
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    de um projeto desenvolvido
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    por cientistas de todo o mundo
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    para pintar um retrato neuronal
    da mente humana.
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    A ideia central deste trabalho
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    é que a mente e o cérebro humanos
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    não são um processador único
    e de múltiplas funções
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    mas uma coleção de componentes
    altamente especializados,
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    cada um solucionando um problema
    específico diferente
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    mas, ainda assim, constituindo em conjunto
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    quem somos, enquanto seres humanos
    e pensadores.
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    Para vos dar uma ideia,
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    imaginem o seguinte cenário:
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    Vamos até à creche dos nossos filhos.
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    Como de costume, está lá
    uma dúzia de miúdos
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    à espera de que alguém os vá buscar.
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    Mas desta vez,
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    os rostos das crianças parecem
    estranhamente semelhantes
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    e não conseguimos distinguir
    qual é o nosso filho.
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    Precisamos de óculos novos?
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    Estamos a perder o juízo?
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    Fazemos uma verificação mental rápida.
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    Não, parece que estamos
    a pensar com clareza
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    e a nossa visão está perfeita.
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    Tudo parece normal
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    exceto o rosto das crianças.
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    Podemos ver os rostos,
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    mas não conseguimos distingui-los
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    e nenhum parece familiar.
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    Só localizando uma fita de cabelo
    cor de laranja
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    conseguimos encontrar a nossa filha.
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    Esta súbita perda da capacidade
    de reconhecer rostos
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    acontece mesmo às pessoas.
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    Chama-se prosopagnosia
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    e resulta de danos numa zona
    especial do cérebro.
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    O que tem de impressionante
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    é que só afeta o reconhecimento do rosto.
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    De resto está tudo bem.
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    A prosopagnosia é um de muitos
    problemas mentais específicos
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    que podem ocorrer após danos cerebrais.
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    O conjunto dessas síndromes
    têm sugerido desde há muito
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    que a mente está dividida
    em componentes distintos.
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    Mas o esforço para descobrir
    estes componentes
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    acelerou a toda velocidade
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    com a invenção da tecnologia
    de imagem cerebral,
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    em especial a ressonância magnética.
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    A ressonância magnética
    permite-nos ver a anatomia interna
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    com alta resolução.
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    Vou já mostrar-vos
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    uma série de imagens de
    ressonâncias transversais
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    através de um objeto familiar.
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    Vamos voar através delas e vão tentar
    adivinhar de que objeto se trata.
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    Aqui vai.
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    Não é muito fácil.
    É uma alcachofra.
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    Bem, vamos tentar outro,
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    começando em baixo
    e avançando para o topo.
  • 2:19 - 2:21
    Audiência: Brócolos!
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    Brócolos! É uma cabeça de brócolos.
    Não é bonito? Adoro esta.
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    Bem, aqui está outro.
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    É um cérebro, claro.
    De facto, é o meu cérebro.
  • 2:28 - 2:30
    Estamos a visualizar
    fatias da minha cabeça.
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    É o meu nariz à direita
  • 2:32 - 2:35
    e agora estamos exatamente aqui.
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    Esta imagem é bonita, modéstia à parte,
  • 2:38 - 2:40
    (Risos)
  • 2:40 - 2:41
    mas só mostra a anatomia.
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    O grande avanço na imagem funcional
    ocorreu quando os cientistas perceberam
  • 2:45 - 2:49
    como fazer imagens que mostram
    a atividade além da anatomia,
  • 2:49 - 2:51
    ou seja, onde os neurónios
    estão em atividade.
  • 2:51 - 2:53
    Eis como funciona:
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    Os cérebros são como músculos.
  • 2:54 - 2:56
    Quando se tornam ativos
  • 2:56 - 2:59
    precisam de maior fluxo sanguíneo
    para alimentar a atividade.
  • 2:59 - 3:02
    Felizmente para nós, o controlo
    do fluxo sanguíneo para o cérebro é local.
  • 3:02 - 3:04
    Por isso se um grupo de neurónios,
    por aqui,
  • 3:04 - 3:06
    se torna ativo e começa a disparar,
  • 3:06 - 3:09
    o fluxo sanguíneo aumenta apenas aqui.
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    A ressonância magnética funcional
    usa esse aumento no fluxo sanguíneo,
  • 3:12 - 3:14
    produzindo uma maior resposta
  • 3:14 - 3:17
    onde a atividade neuronal é mais intensa.
  • 3:17 - 3:19
    Para vos dar uma ideia precisa
  • 3:19 - 3:21
    de uma ressonância
    magnética funcional
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    e o que podemos ou não aprender com ela
  • 3:24 - 3:27
    deixem-me descrever um dos
    primeiros estudos que fiz.
  • 3:27 - 3:32
    Queríamos saber se existia uma parte
    do cérebro para reconhecer rostos.
  • 3:32 - 3:35
    Já tínhamos razões para acreditar que sim
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    baseados no fenómeno da prosopagnosia,
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    que descrevi há momentos.
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    Mas nunca se tinha visto essa parte
    do cérebro numa pessoa normal.
  • 3:43 - 3:45
    Fomos à procura.
  • 3:45 - 3:47
    Eu fui o primeiro sujeito.
  • 3:47 - 3:49
    Entrei no "scanner", deitei-me de costas.
  • 3:49 - 3:52
    mantive a cabeça tão quieta
    quanto possível
  • 3:52 - 3:56
    olhando para imagens de rostos como estas
  • 3:56 - 3:59
    e de objetos como estes.
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    Rostos e objetos durante horas.
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    Estando eu muito perto do recorde mundial
    de horas passadas dentro de um "scanner",
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    posso dizer-vos que uma das capacidades
    realmente importantes
  • 4:13 - 4:15
    na pesquisa sobre ressonâncias
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    é o controlo da bexiga.
  • 4:16 - 4:18
    (Risos)
  • 4:18 - 4:20
    Quando saí do "scanner"
  • 4:20 - 4:22
    fiz uma rápida análise dos dados,
  • 4:22 - 4:23
    procurando as zonas do meu cérebro
  • 4:23 - 4:26
    que tinham uma maior resposta
    quando olhava para rostos
  • 4:26 - 4:28
    do que quando olhava para objetos.
  • 4:28 - 4:30
    Eis o que eu vi:
  • 4:30 - 4:34
    Esta imagem parece horrível
    pelos padrões atuais
  • 4:34 - 4:37
    mas, na altura, achei-a maravilhosa.
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    O que mostra é esta região aqui,
  • 4:39 - 4:40
    esta pequena bolha,
  • 4:40 - 4:42
    do tamanho de uma azeitona,
  • 4:42 - 4:44
    que está na superfície
    inferior do meu cérebro
  • 4:44 - 4:47
    a cerca de dois centímetros deste ponto.
  • 4:48 - 4:50
    O que essa zona do meu cérebro
    estava a fazer
  • 4:50 - 4:53
    era produzir uma resposta
    de ressonância mais alta,
  • 4:53 - 4:56
    ou seja, uma maior atividade neuronal,
    quando estava a olhar para rostos
  • 4:56 - 4:59
    do que quando estava a olhar para objetos.
  • 4:59 - 5:00
    É muito fixe.
  • 5:00 - 5:02
    Mas como sabemos que isto não é um acaso?
  • 5:02 - 5:05
    A forma mais fácil
    é repetir a experiência.
  • 5:06 - 5:07
    Voltei ao "scanner",
  • 5:07 - 5:09
    olhei para mais rostos e objetos
  • 5:09 - 5:12
    e obtive uma bolha semelhante.
  • 5:12 - 5:14
    Voltei a fazê-lo.
  • 5:14 - 5:18
    uma e outra vez,
  • 5:18 - 5:20
    e a certa altura
  • 5:20 - 5:23
    decidi acreditar que era real.
  • 5:23 - 5:26
    No entanto, talvez fosse algo
    estranho no meu cérebro
  • 5:26 - 5:29
    e mais ninguém tivesse uma destas coisas.
  • 5:29 - 5:31
    Para ter a certeza,
    usámos muitas outras pessoas
  • 5:31 - 5:33
    e descobrimos que
    praticamente toda a gente
  • 5:33 - 5:36
    tem essa pequena zona
    de processamento de rostos
  • 5:36 - 5:39
    numa zona idêntica do cérebro.
  • 5:39 - 5:40
    A questão seguinte era:
  • 5:40 - 5:42
    o que é que isto realmente faz?
  • 5:42 - 5:45
    Está mesmo especializada
    no reconhecimento de rostos?
  • 5:46 - 5:47
    Talvez não, certo?
  • 5:47 - 5:49
    Talvez não responda apenas a rostos
  • 5:49 - 5:51
    mas a qualquer parte do corpo.
  • 5:51 - 5:53
    Talvez responda a qualquer coisa humana
  • 5:53 - 5:55
    ou que esteja viva,
  • 5:55 - 5:57
    ou que seja redonda.
  • 5:57 - 5:58
    A única forma de ter a certeza
  • 5:58 - 6:01
    de que aquela região é especializada
    no reconhecimento de rostos
  • 6:01 - 6:04
    é eliminar todas estas hipóteses.
  • 6:04 - 6:07
    Passámos grande parte dos anos seguintes
  • 6:07 - 6:10
    a fazer "scan" a pessoas enquanto olhavam
    para vários tipos de imagens,
  • 6:10 - 6:12
    e mostrámos que essa parte do cérebro
  • 6:12 - 6:14
    responde de forma mais
    intensa quando olhamos
  • 6:14 - 6:17
    para qualquer imagem de rostos
    de qualquer tipo,
  • 6:17 - 6:19
    e responde muito menos
  • 6:19 - 6:22
    a qualquer imagem que não seja um rosto,
  • 6:22 - 6:24
    como algumas destas.
  • 6:24 - 6:26
    Será que confirmámos finalmente
  • 6:26 - 6:29
    que esta região é necessária
    para o reconhecimento de rostos?
  • 6:29 - 6:31
    Não, não o fizemos.
  • 6:31 - 6:33
    As imagens do cérebro
    nunca podem confirmar
  • 6:33 - 6:35
    se uma região é necessária a algo.
  • 6:35 - 6:38
    Tudo o que podemos fazer com as imagens
    é ver as regiões a ativar e a desativar
  • 6:38 - 6:41
    consoante os pensamentos das pessoas.
  • 6:41 - 6:44
    Para sabermos se uma parte do cérebro
    é necessária para uma função mental
  • 6:44 - 6:46
    temos que mexer nela e ver o que acontece.
  • 6:46 - 6:49
    Normalmente não conseguimos fazê-lo.
  • 6:49 - 6:52
    Recentemente, surgiu uma
    oportunidade fantástica
  • 6:52 - 6:54
    quando alguns colegas meus
  • 6:54 - 6:57
    fizeram testes a um homem com epilepsia
  • 6:57 - 6:59
    e que vemos aqui na sua cama no hospital.
  • 6:59 - 7:03
    Tínhamos acabado de colocar os elétrodos
    na superfície do seu cérebro
  • 7:03 - 7:05
    para identificarmos a origem
    das suas convulsões.
  • 7:06 - 7:08
    Num golpe de sorte,
  • 7:08 - 7:10
    dois dos elétrodos
  • 7:10 - 7:13
    estavam mesmo por cima da área facial.
  • 7:13 - 7:16
    Com o consentimento deste paciente,
  • 7:16 - 7:18
    os médicos perguntaram-lhe o que acontecia
  • 7:18 - 7:21
    quando estimulavam eletricamente
    essa parte do cérebro.
  • 7:22 - 7:25
    O paciente não sabe
    onde estão os elétrodos
  • 7:25 - 7:28
    e nunca ouviu falar da área facial.
  • 7:28 - 7:30
    Vamos ver o que acontece.
  • 7:30 - 7:31
    Começa com uma condição de controlo
  • 7:31 - 7:34
    com a palavra "Sham" quase invisível
  • 7:34 - 7:36
    a vermelho, no canto inferior esquerdo,
  • 7:36 - 7:38
    quando não há estimulação.
  • 7:38 - 7:42
    Primeiro, ouvirão o neurologista falar
    ao paciente. Vamos ver.
  • 7:42 - 7:44
    (Vídeo) Neurologista:
    "Olhe para o meu rosto
  • 7:44 - 7:47
    "e diga-me o que acontece
    quando faço isto.
  • 7:47 - 7:48
    "Está bem?"
  • 7:48 - 7:49
    Paciente: "Ok".
  • 7:51 - 7:53
    Neurologista: "Um, dois, três".
  • 7:55 - 7:56
    Paciente: "Nada".
  • 7:56 - 7:58
    Neurologista: "Nada? Ok.
  • 7:58 - 8:00
    "Vou tentar mais uma vez.
  • 8:00 - 8:03
    "Olhe para o meu rosto.
  • 8:04 - 8:07
    "Um, dois, três."
  • 8:08 - 8:11
    Paciente: "Você transformou-se
    noutra pessoa.
  • 8:11 - 8:13
    "O seu rosto metamorfoseou-se.
  • 8:13 - 8:16
    "O seu nariz ficou deformado
    e virado para a esquerda.
  • 8:16 - 8:20
    "Quase parecia alguém
    que eu já tinha visto,
  • 8:20 - 8:22
    "mas diferente.
  • 8:22 - 8:24
    "Foi uma alucinação."
  • 8:24 - 8:26
    (Risos)
  • 8:28 - 8:29
    Esta experiência...
  • 8:29 - 8:32
    (Aplausos)
  • 8:33 - 8:36
    Esta experiência confirma, finalmente,
  • 8:36 - 8:38
    que esta região do cérebro
  • 8:38 - 8:40
    não se limita a responder
    seletivamente a rostos
  • 8:40 - 8:43
    mas está causalmente envolvida
    na perceção facial.
  • 8:43 - 8:46
    Apresentei todos estes pormenores
    sobre a região facial
  • 8:46 - 8:48
    para vos mostrar
    o que é necessário
  • 8:48 - 8:51
    para confirmar que uma parte do cérebro
    está seletivamente envolvida
  • 8:51 - 8:53
    num processo mental específico.
  • 8:53 - 8:55
    A seguir vou mostrar de forma rápida
  • 8:55 - 8:58
    algumas das outras zonas
    especializadas do cérebro
  • 8:58 - 9:00
    que eu e outros encontrámos.
  • 9:00 - 9:04
    Para fazer isto, passei bastante tempo
    no "scanner", no mês passado
  • 9:04 - 9:06
    para poder mostrar-vos estas
    coisas no meu cérebro.
  • 9:06 - 9:09
    Vamos começar.
    Aqui está o meu hemisfério direito.
  • 9:09 - 9:12
    Estamos orientados assim.
    Vemos a minha cabeça deste lado.
  • 9:12 - 9:14
    Imaginem tirar o crânio
  • 9:14 - 9:16
    e olhar deste modo para
    a superfície do cérebro.
  • 9:16 - 9:19
    Como podem ver a superfície
    do cérebro é muito enrugada.
  • 9:19 - 9:21
    Isso não é bom.
    Algo se poderia esconder.
  • 9:21 - 9:22
    Queremos ver tudo,
  • 9:22 - 9:25
    por isso vamos insuflá-lo para ver tudo.
  • 9:25 - 9:28
    Vamos encontrar a área facial
    de que tenho estado a falar,
  • 9:28 - 9:30
    que responde a imagens como estas.
  • 9:30 - 9:32
    Para ver isso, vamos virar o cérebro
  • 9:32 - 9:34
    e ver a superfície interior inferior.
  • 9:34 - 9:37
    Aí está ela, é a minha área facial.
  • 9:37 - 9:39
    Logo à direita está outra zona
  • 9:39 - 9:41
    apresentada em roxo,
  • 9:41 - 9:44
    que responde quando processamos
    informação de cor.
  • 9:44 - 9:46
    Perto dessas regiões estão outras
  • 9:46 - 9:48
    envolvidas na perceção de lugares,
  • 9:48 - 9:51
    como estou agora a ver esta disposição
    espacial à minha volta.
  • 9:51 - 9:53
    Estas zonas a verde
  • 9:53 - 9:55
    estão muito ativas.
  • 9:55 - 9:57
    Há outra zona na superfície exterior
  • 9:57 - 10:00
    em que existem mais duas regiões faciais.
  • 10:00 - 10:03
    Nesta zona existe também uma região
  • 10:03 - 10:04
    seletivamente envolvida
  • 10:04 - 10:06
    no processamento de movimento visual,
  • 10:06 - 10:08
    como estes pontos em movimento.
  • 10:08 - 10:10
    Isto está a amarelo na base do cérebro.
  • 10:10 - 10:13
    Perto há uma região que responde
  • 10:13 - 10:17
    quando olhamos para imagens de corpos
    e de partes de corpos como estas,
  • 10:17 - 10:19
    mostradas aqui a verde claro
  • 10:19 - 10:21
    na base do cérebro.
  • 10:21 - 10:23
    Todas as regiões que mostrei até agora
  • 10:23 - 10:27
    estão envolvidas em aspetos específicos
    da perceção visual.
  • 10:28 - 10:30
    Será que temos zonas
    cerebrais especializadas
  • 10:30 - 10:33
    para outros sentidos, como a audição?
  • 10:33 - 10:34
    Sim, temos.
  • 10:34 - 10:36
    Se virarmos o cérebro um pouco mais
  • 10:36 - 10:38
    vemos esta zona a azul escuro
  • 10:38 - 10:41
    que identificámos há poucos meses,
  • 10:41 - 10:42
    Esta região responde fortemente
  • 10:42 - 10:45
    quando ouvimos sons com
    frequência definida, como estes:
  • 10:45 - 10:48
    (Sirenes)
  • 10:48 - 10:50
    (Música de violoncelo)
  • 10:50 - 10:52
    (Campainha de porta)
  • 10:52 - 10:55
    Em contraste, essa mesma zona
    não responde fortemente
  • 10:55 - 10:57
    quando ouvimos sons
    perfeitamente familiares
  • 10:57 - 10:59
    que não têm uma frequência definida,
    como estes:
  • 11:00 - 11:02
    (Mastigação)
  • 11:02 - 11:04
    (Rufar de tambores)
  • 11:04 - 11:06
    (Descarga de autoclismo)
  • 11:07 - 11:09
    Próxima da região da frequência
  • 11:09 - 11:12
    está uma série de regiões
    que respondem seletivamente
  • 11:12 - 11:15
    quando ouvimos o som da fala.
  • 11:15 - 11:17
    Vamos ver estas regiões.
  • 11:17 - 11:19
    No meu hemisfério esquerdo
    há um arranjo semelhante
  • 11:19 - 11:21
    — não idêntico, mas semelhante —
  • 11:21 - 11:23
    onde encontramos as mesmas regiões,
  • 11:23 - 11:25
    embora por vezes com tamanhos diferentes.
  • 11:25 - 11:27
    Tudo o que mostrei até agora
  • 11:27 - 11:29
    foram regiões envolvidas
    em diferentes aspetos
  • 11:29 - 11:31
    da perceção, da visão e da audição.
  • 11:31 - 11:33
    Será que temos zonas
    cerebrais especializadas
  • 11:33 - 11:36
    em processos mentais realmente
    complicados e especiais?
  • 11:36 - 11:38
    Sim, temos.
  • 11:38 - 11:41
    Aqui, a rosa, estão as minhas
    regiões da linguagem.
  • 11:41 - 11:45
    É sabido há muito tempo que esta
    vizinhança geral do cérebro
  • 11:45 - 11:47
    está envolvida
    no processamento da linguagem,
  • 11:47 - 11:49
    mas só muito recentemente demonstrámos
  • 11:49 - 11:51
    que estas zonas a rosa
  • 11:51 - 11:53
    respondem de forma extremamente seletiva.
  • 11:53 - 11:55
    Respondem quando entendemos
    o significado de uma frase,
  • 11:55 - 11:59
    mas não quando fazemos outras
    coisas mentais complexas,
  • 11:59 - 12:01
    como o cálculo mental
  • 12:01 - 12:03
    ou o armazenamento de informação
  • 12:03 - 12:06
    ou ao apreciar a estrutura complexa
  • 12:06 - 12:08
    de um peça musical.
  • 12:10 - 12:13
    A zona mais fantástica descoberta
  • 12:13 - 12:16
    é esta aqui em turquesa.
  • 12:16 - 12:18
    Esta região responde
  • 12:18 - 12:21
    quando pensamos no que outra
    pessoa estará a pensar.
  • 12:22 - 12:24
    Pode parecer tolice
  • 12:24 - 12:27
    mas, na verdade, nós, os humanos,
    fazemos isto constantemente.
  • 12:28 - 12:31
    Fazemos isto quando percebemos
    que o nosso companheiro
  • 12:31 - 12:33
    vai ficar preocupado
    se não ligarmos para casa
  • 12:33 - 12:35
    a avisar que chegaremos tarde.
  • 12:35 - 12:38
    Neste momento, estou a fazer isso
    com essa região do meu cérebro,
  • 12:38 - 12:40
    quando percebo que vocês
  • 12:40 - 12:41
    estão neste momento a pensar
  • 12:41 - 12:44
    naquele território cinzento,
    não mapeado, no cérebro,
  • 12:44 - 12:46
    e no que se passa ali.
  • 12:46 - 12:47
    Bem, também estou a pensar nisso.
  • 12:47 - 12:50
    Estamos a fazer uma série
    de experiências no meu laboratório
  • 12:50 - 12:52
    para tentarmos descobrir
  • 12:52 - 12:55
    outras possíveis especializações
    no cérebro
  • 12:55 - 12:57
    para outras funções mentais
    muito específicas.
  • 12:58 - 13:00
    Mas eu penso que não temos
  • 13:00 - 13:02
    especializações no cérebro
  • 13:02 - 13:04
    para todas as funções mentais importantes,
  • 13:04 - 13:07
    mesmo para as funções críticas
    para a sobrevivência.
  • 13:08 - 13:10
    De facto, há alguns anos,
  • 13:10 - 13:13
    um cientista do meu laboratório
    ficou muito convencido
  • 13:13 - 13:14
    de ter encontrado uma região no cérebro
  • 13:14 - 13:16
    para a deteção de comida,
  • 13:16 - 13:18
    que respondia muito no "scanner"
  • 13:18 - 13:21
    quando as pessoas viam imagens como esta.
  • 13:21 - 13:24
    Ele descobriu até uma resposta semelhante,
  • 13:24 - 13:26
    mais ou menos na mesma localização,
  • 13:26 - 13:28
    em dez ou doze sujeitos.
  • 13:29 - 13:31
    Ficou muito excitado
    e corria pelo laboratório
  • 13:31 - 13:33
    a dizer a toda a gente que ia
    aparecer na "Oprah"
  • 13:33 - 13:36
    com a sua grande descoberta.
  • 13:36 - 13:38
    Mas depois concebeu testes críticos:
  • 13:38 - 13:42
    Mostrou aos sujeitos imagens
    de comida como esta
  • 13:42 - 13:45
    e comparou os resultados com imagens
    muito semelhantes na cor e na forma,
  • 13:45 - 13:48
    mas que não eram de comida, como estas.
  • 13:48 - 13:50
    A região respondeu da mesma forma
  • 13:50 - 13:52
    a ambos os conjuntos de imagens.
  • 13:52 - 13:54
    Não era uma área de comida.
  • 13:54 - 13:56
    Era apenas uma zona que gostava
    de cores e formas.
  • 13:56 - 13:59
    Lá se foi a "Oprah".
  • 14:01 - 14:03
    A questão é, claro,
  • 14:03 - 14:05
    como é que processamos
    todas as outras coisas
  • 14:05 - 14:08
    para as quais não temos zonas
    especializadas no cérebro?
  • 14:08 - 14:09
    Bem, penso que a resposta
  • 14:09 - 14:14
    é que, além destes componentes
    altamente especializados,
  • 14:14 - 14:17
    também temos uma série de mecanismos
    genéricos nas nossas cabeças
  • 14:17 - 14:19
    que nos permitem enfrentar
  • 14:19 - 14:21
    qualquer problema que surja.
  • 14:21 - 14:23
    De facto, mostrámos recentemente
  • 14:23 - 14:25
    que estas regiões aqui a branco
  • 14:25 - 14:29
    respondem quando fazemos
    qualquer tarefa mental difícil
  • 14:29 - 14:32
    — bem, das sete que testámos.
  • 14:33 - 14:36
    Cada uma das zonas cerebrais
    que vos descrevi hoje
  • 14:36 - 14:39
    existe na mesma localização aproximada
  • 14:39 - 14:41
    em qualquer sujeito normal.
  • 14:41 - 14:44
    Poderia escolher qualquer um de vós,
    colocá-lo no "scanner"
  • 14:44 - 14:46
    e encontrar qualquer destas
    zonas no vosso cérebro.
  • 14:46 - 14:48
    Seria muito parecido com o meu cérebro,
  • 14:48 - 14:50
    embora as regiões fossem
    ligeiramente diferentes
  • 14:50 - 14:53
    na localização exata e no tamanho.
  • 14:53 - 14:55
    Para mim, o que é importante neste trabalho
  • 14:55 - 14:58
    não é a localização particular
    destas regiões cerebrais,
  • 14:58 - 15:01
    mas o simples facto de termos
  • 15:01 - 15:05
    componentes específicos e seletivos
    da mente e do cérebro.
  • 15:05 - 15:08
    Poderia ser de forma diferente.
  • 15:08 - 15:12
    O cérebro poderia ser
    um processador único e genérico,
  • 15:12 - 15:14
    mais como uma faca de cozinha
  • 15:14 - 15:15
    do que um canivete suíço.
  • 15:15 - 15:18
    Em vez disso, o que a imagiologia
    cerebral trouxe
  • 15:18 - 15:21
    foi um retrato mais rico e interessante
    da mente humana.
  • 15:21 - 15:24
    Temos uma imagem de mecanismos
  • 15:24 - 15:26
    muito gerais nas nossas cabeças,
  • 15:26 - 15:28
    além desta série surpreeendente
  • 15:28 - 15:30
    de componentes muito especializados.
  • 15:32 - 15:34
    Estamos no início desta pesquisa.
  • 15:34 - 15:37
    Demos apenas as primeiras pinceladas
  • 15:37 - 15:40
    no nosso retrato neuronal da mente humana.
  • 15:40 - 15:43
    As questões mais fundamentais
    continuam sem resposta.
  • 15:43 - 15:46
    Por exemplo, o que faz exatamente
    cada uma destas zonas?
  • 15:46 - 15:49
    Porque precisamos de três áreas faciais
  • 15:49 - 15:50
    e três áreas de localização,
  • 15:50 - 15:53
    e qual é a divisão de tarefas entre elas?
  • 15:53 - 15:56
    Em segundo lugar, como estão
    todas estas coisas
  • 15:56 - 15:58
    ligadas no cérebro?
  • 15:58 - 15:59
    Com a imagiologia de difusão
  • 15:59 - 16:02
    podemos seguir grupos de neurónios
  • 16:02 - 16:04
    que se ligam a diferentes
    partes do cérebro.
  • 16:04 - 16:06
    Com o método aqui apresentado,
  • 16:06 - 16:09
    podemos seguir as ligações de neurónios
    individuais no cérebro,
  • 16:09 - 16:12
    dando-nos talvez um dia
    um diagrama de interligações
  • 16:12 - 16:14
    de todo o cérebro humano.
  • 16:14 - 16:17
    Em terceiro lugar, como é construída
  • 16:17 - 16:20
    toda esta estrutura muito sistemática,
  • 16:20 - 16:22
    quer no desenvolvimento da criança
  • 16:22 - 16:25
    quer na evolução da nossa espécie?
  • 16:25 - 16:26
    Para resolverem questões como estas,
  • 16:26 - 16:29
    os cientistas estão agora a fazer o "scan"
  • 16:29 - 16:31
    de outras espécies animais,
  • 16:31 - 16:34
    e também de crianças humanas.
  • 16:37 - 16:41
    Muitas pessoas justificam o alto custo
    da investigação em neurociência
  • 16:41 - 16:44
    salientando que um dia poderá ajudar-nos
  • 16:44 - 16:47
    a tratar doenças como
    o Alzheimer e o autismo.
  • 16:47 - 16:49
    É um objetivo muito importante.
  • 16:49 - 16:52
    Eu ficaria emocionada se algum
    do meu trabalho contribuísse para tal.
  • 16:53 - 16:55
    Mas reparar coisas danificadas
  • 16:55 - 16:58
    não é tudo o que vale a pena fazer.
  • 16:58 - 17:02
    O esforço para perceber a mente
    e cérebro humanos vale a pena
  • 17:02 - 17:05
    mesmo que não nos conduza ao tratamento
  • 17:05 - 17:06
    de uma única doença.
  • 17:06 - 17:08
    O que poderia ser mais emocionante
  • 17:08 - 17:11
    do que perceber os mecanismos fundamentais
  • 17:11 - 17:13
    subjacentes à experiência humana?
  • 17:13 - 17:16
    Perceber, na essência, quem somos?
  • 17:16 - 17:20
    Esta é, penso eu,
    a maior demanda científica
  • 17:20 - 17:22
    de todos os tempos.
  • 17:23 - 17:27
    (Aplausos)
Title:
Um retrato neuronal da mente humana
Speaker:
Nancy Kanwisher
Description:

A pioneira de imagem cerebral Nancy Kanwisher, que utiliza a ressonância magnética para ver a atividade nas regiões do cérebro (com frequência as suas), partilha o que ela e os seus colegas aprenderam: O cérebro é feito quer de componentes altamente especializados quer de "mecanismos" multifunções. Outra surpresa: Há ainda tanto para aprender.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
17:42

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