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Um retrato neural da mente humana

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    Hoje eu quero dizer a vocês
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    sobre um projeto que está sendo feito
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    por cientistas ao redor do mundo
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    para pintar um retrato neural
    da mente humana.
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    E a ideia central desse trabalho
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    é que a mente e o cérebro humanos
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    não são um processador único,
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    mas um agrupamento de
    componentes muito especializados,
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    cada qual resolvendo um
    problema específico diferente,
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    e assim formando coletivamente
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    quem somos enquanto
    seres humanos e pensadores.
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    Para dar a vocês uma noção dessa ideia,
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    imaginem a seguinte situação:
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    Você chegam na pré-escola de sua filha.
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    Como sempre, há uma dúzia de crianças lá
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    esperando para serem pegas,
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    mas dessa vez,
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    os rostos das crianças
    são estranhamente muito parecidos,
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    e você não consegue
    descobrir qual é sua filha.
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    Você precisa de óculos novos?
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    Está perdendo a cabeça?
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    Você passa por uma checagem mental.
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    Não, parece que você
    está pensando com clareza,
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    e sua visão está perfeita.
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    E tudo parece normal
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    com exceção dos rostos das crianças.
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    Você pode ver os rostos,
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    mas eles não parecem distintos,
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    e nenhum deles parece familiar,
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    e é só ao notar
    uma fita de cabelo laranja
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    que você consegue achar sua filha.
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    Esta perda súbita da habilidade
    de reconhecer rostos
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    realmente acontece com as pessoas.
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    Chama-se prosopagnosia,
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    e é causada pela lesão
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    de uma área particular do cérebro.
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    A coisa mais intrigante disso
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    é que apenas o reconhecimento
    de rostos é prejudicado;
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    todo o resto está bem.
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    A prosopagnosia é uma das deficiências
    mentais surpreendentemente específicas
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    que podem ocorrer com uma lesão cerebral.
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    O conjunto dessas síndromes
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    sugeriram por muito tempo
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    que a mente é dividida
    em componentes distintos.
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    mas o esforço para descobrir
    estes componentes
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    acelerou consideravelmente
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    com a invenção da tecnologia
    de imageamento cerebral,
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    especialmente o MRI.
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    O MRI nos permite olhar a anatomia interna
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    em alta resolução,
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    eu vou lhes mostrar em um instante
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    uma série de imagens
    de seções transversais de MRI
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    através de um objeto familiar,
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    e vamos olhar as imagens
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    e vocês vão tentar adivinhar
    que objeto é esse.
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    Aqui vamos nós.
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    Não é tão fácil. É uma alcachofra.
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    Muito bem, vamos tentar outro objeto,
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    começando da base e indo ao topo.
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    Brócolis! É o talo do brócolis.
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    Não é bonito? Eu adoro isso.
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    Muito bem, outro objeto.
    É um cérebro, é claro.
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    Na verdade, é o meu cérebro.
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    Passamos por fatias de minha cabeça assim.
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    Esse é meu nariz à direita, e agora
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    vamos para esse lado, bem aqui.
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    Essa imagem é bonita, modéstia à parte,
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    mas ela mostra apenas a anatomia.
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    O avanço mais legal
    do imageamento cerebral
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    aconteceu quando cientistas
    descobriram como fazer
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    imagens que não mostravam
    só a anatomia mas também a atividade,
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    ou seja, onde os neurônios
    estão disparando.
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    Então vejam como isso funciona.
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    Cérebros são como músculos.
  • 2:54 - 2:56
    Quando ficam ativos,
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    precisam de mais fluxo sanguíneo
    para manter sua atividade,
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    e para nossa sorte, o controle do
    fluxo sanguíneo cerebral é localizado,
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    então se um grupo de neurônios,
    digamos, bem aqui,
  • 3:05 - 3:06
    ficam ativos e começam a disparar,
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    então o fluxo sanguíneo aumenta bem aqui.
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    Então o MRI funcional acende
    onde o fluxo sanguíneo aumenta,
  • 3:12 - 3:14
    produzindo um aumento
    da resposta no MRI
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    onde a atividade neural aumenta.
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    Para dar-lhes uma noção concreta
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    de como um experimento
    de MRI funcional acontece
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    e o que podemos aprender com ele
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    e o que não podemos.
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    vou mostrar-lhes um dos
    primeiros estudos que fiz.
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    Nós queríamos saber se havia uma área
    do cérebro para reconhecimento de rostos,
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    e tínhamos indícios de que isso existia
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    com base no fenômeno de prosopagnosia
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    que descrevi há pouco,
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    mas ninguém viu essa área do cérebro
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    numa pessoa normal,
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    então começamos a procurar por ela.
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    Então eu fui a primeira voluntária.
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    Eu entrei no scanner, me deitei,
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    e mantive minha cabeça
    mais o mais estável possível
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    enquanto olhava fotos de rostos como estas
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    e de objetos como estes
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    e mais rostos e objetos por horas.
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    Então como alguém que está
    bem perto do recorde mundial
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    de horas dentro de um scanner de MRI,
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    posso afirmar que uma das habilidades
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    que são importantes
    para a pesquisa com MRI
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    é o controle da bexiga.
  • 4:16 - 4:18
    (Risos)
  • 4:18 - 4:19
    Quando saí do scanner,
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    eu fiz uma análise rápida dos dados,
  • 4:22 - 4:23
    procurando áreas de meu cérebro
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    que produziram uma resposta
    mais alta quando eu via os rostos
  • 4:26 - 4:28
    do que quando via os objetos,
  • 4:28 - 4:30
    e foi isso que encontrei.
  • 4:30 - 4:34
    Essa imagem parece ruim
    para os padrões de hoje,
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    mas na época eu achei muito bonita.
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    O que ela mostra é essa região bem aqui,
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    essa pequena bolha,
  • 4:40 - 4:42
    quase do tamanho de uma azeitona
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    e está na superfície basal
    de meu cérebro
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    a uma polegada para dentro daqui.
  • 4:47 - 4:50
    E o que essa parte do meu cérebro faz
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    é produzir uma resposta
    mais alta do MRI,
  • 4:53 - 4:54
    ou seja, uma atividade neural maior,
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    quando eu vejo rostos
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    do que quando vejo objetos.
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    Isso é bem legal,
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    mas como sabemos se isso não é ao acaso?
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    Bem, o jeito mais simples
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    é fazer o experimento novamente.
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    Então eu voltei ao scanner,
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    eu vi mais rostos e vi mais objetos
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    e encontrei uma bolha parecida,
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    e depois eu fiz isso de novo
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    e de novo
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    e de novo e de novo,
  • 5:18 - 5:19
    e foi nesse momento
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    que decidi acreditar que era real.
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    Ainda assim, talvez fosse uma coisa
    estranha do meu cérebro
  • 5:26 - 5:29
    e ninguém mais tivesse essas coisas ali.
  • 5:29 - 5:31
    Para descobrir isso,
    escaneamos outras pessoas
  • 5:31 - 5:34
    e descobrimos que praticamente todo mundo
  • 5:34 - 5:36
    tem essa região de processamento de rostos
  • 5:36 - 5:38
    em um mesmo local do cérebro.
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    Então a próxima pergunta foi:
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    O que essa região faz realmente?
  • 5:42 - 5:46
    Ela é especializada apenas no
    reconhecimento de rostos?
  • 5:46 - 5:47
    Talvez não, certo?
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    Talvez responda não apenas a rostos
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    mas a qualquer parte do corpo.
  • 5:51 - 5:53
    Talvez ela responda
    para qualquer coisa humana
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    ou qualquer coisa viva
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    ou qualquer coisa redonda.
  • 5:57 - 5:59
    O único jeito de ter certeza
    que essa região
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    é especializada
    em reconhecimento de rostos
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    é descartar todas essas hipóteses.
  • 6:04 - 6:06
    Então passamos os próximos dois anos
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    escaneando sujeitos
    enquanto viam um monte
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    de tipos diferentes de imagens,
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    e mostramos que essa região do cérebro
  • 6:12 - 6:14
    respondia mais quando você vê
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    imagens com quaisquer tipos de rosto,
  • 6:17 - 6:19
    e respondia menos
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    para imagens que não continham rostos,
  • 6:22 - 6:24
    como algumas dessas.
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    Então, finalmente desvendamos o caso
  • 6:26 - 6:29
    de que essa região é necessária
    para reconhecimento de rostos?
  • 6:29 - 6:30
    Não, não desvendamos.
  • 6:30 - 6:32
    O imageamento cerebral
    jamais pode afirmar
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    se uma região é necessária
    para alguma coisa.
  • 6:35 - 6:36
    Com o imageamento você pode
  • 6:36 - 6:38
    observar regiões que ligam e desligam
  • 6:38 - 6:40
    quando pensamos sobre coisas diferentes
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    Para afirmar se uma região do cérebro
    é necessária para uma função mental,
  • 6:44 - 6:46
    precisamos manipulá-la
    para ver o que acontece,
  • 6:46 - 6:49
    e normalmente não podemos fazer isso.
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    Mas uma oportunidade incrível surgiu
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    recentemente quando dois colegas meus
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    testaram esse homem que tem epilepsia,
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    mostrado aqui em seu leito no hospital
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    e que recebeu eletrodos
  • 7:01 - 7:03
    na superfície de seu cérebro
  • 7:03 - 7:06
    para identificar a origem
    de suas convulsões.
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    Então aconteceu por acaso
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    que dois dos eletrodos
  • 7:10 - 7:13
    estavam bem em cima da região dos rostos.
  • 7:13 - 7:16
    Então com o consentimento do paciente,
  • 7:16 - 7:18
    os médicos perguntaram o que acontecia
  • 7:18 - 7:22
    quando eles estimulavam
    eletricamente essa região do cérebro.
  • 7:22 - 7:24
    Agora, o paciente não sabia
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    onde esses eletrodos estavam,
  • 7:25 - 7:28
    e nunca ouviu falar
    sobre a região dos rostos.
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    Então vamos ver o que acontece.
  • 7:30 - 7:32
    Vai começar com uma condição controle
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    indicada como "sham" em vermelho claro
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    no canto esquerdo inferior,
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    quando nenhuma corrente é liberada,
  • 7:38 - 7:42
    e vocês ouvirão o neurologista falando
    com o paciente. Vamos ver.
  • 7:42 - 7:44
    (Vídeo) Neurologista:
    Bom, apenas olhe meu rosto
  • 7:44 - 7:47
    e diga-me o que acontece quando faço isso.
  • 7:47 - 7:48
    Tudo bem?
  • 7:48 - 7:51
    Paciente: Tudo bem.
  • 7:51 - 7:55
    Neurologista: Um, dois três.
  • 7:55 - 7:58
    Paciente: Nada.
    Neurologista: Nada? Tudo bem.
  • 7:58 - 8:01
    Eu vou fazer isso de novo.
  • 8:01 - 8:04
    Veja meu rosto.
  • 8:04 - 8:08
    Um, dois, três.
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    Paciente: Você se transformou em outro.
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    Seu rosto se transformou.
  • 8:13 - 8:16
    Seu nariz ficou longo
    e entortou para esquerda.
  • 8:16 - 8:20
    Você quase se parece
    com alguém que já vi antes,
  • 8:20 - 8:22
    mas alguém diferente.
  • 8:22 - 8:25
    Isso foi uma viagem.
  • 8:25 - 8:28
    (Risos)
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    Nancy Kanwisher: o experimento
  • 8:29 - 8:33
    (Aplausos)
  • 8:33 - 8:36
    Este experimento finalmente
    desvendou o enigma
  • 8:36 - 8:38
    de que essa região do cérebro não é
  • 8:38 - 8:40
    responsiva seletivamente só para rostos
  • 8:40 - 8:43
    mas envolvida casualmente
    na percepção de rostos.
  • 8:43 - 8:45
    Então eu passei todos esses detalhes
  • 8:45 - 8:48
    sobre os rostos
    para mostrar o que é preciso
  • 8:48 - 8:50
    para desvendar no que uma área do cérebro
  • 8:50 - 8:53
    está envolvida seletivamente
    num processo mental específico.
  • 8:53 - 8:55
    A seguir, vou passar rapidamente
  • 8:55 - 8:58
    algumas das outras regiões
    especializadas do cérebro
  • 8:58 - 9:00
    que nós e outros cientistas descobrirmos.
  • 9:00 - 9:02
    Para fazer isso, eu passei muito tempo
  • 9:02 - 9:04
    no scanner no mês passado
  • 9:04 - 9:06
    para que pudesse mostrar
    isso no meu cérebro.
  • 9:06 - 9:09
    Então vamos começar.
    Eis aqui meu hemisfério direito.
  • 9:09 - 9:12
    Estamos orientados assim.
    Vocês veem minha cabeça assim.
  • 9:12 - 9:13
    Imaginem o crânio fora
  • 9:13 - 9:16
    e a superfície do cérebro desse jeito.
  • 9:16 - 9:17
    Muito bem, como podem ver,
  • 9:17 - 9:19
    a superfície está enrugada.
  • 9:19 - 9:21
    Não está bom. Há coisas escondidas aqui.
  • 9:21 - 9:22
    Nós queremos ver tudo,
  • 9:22 - 9:25
    então vamos inflar para que
    a gente possa ver tudo.
  • 9:25 - 9:28
    A seguir, vamos achar a região
    de rostos que mencionei
  • 9:28 - 9:30
    e que responde a imagens como essas.
  • 9:30 - 9:32
    Para vê-la, viramos o cérebro
  • 9:32 - 9:34
    e olhamos a superfície interior na base,
  • 9:34 - 9:36
    e aqui está, minha região de rosto.
  • 9:36 - 9:39
    À direita dela há outra região
  • 9:39 - 9:41
    mostrada em roxo
  • 9:41 - 9:44
    que responde ao processamento
    de informação de cor,
  • 9:44 - 9:46
    e perto dessas regiões há outras regiões
  • 9:46 - 9:49
    que estão envolvidas
    na percepção de lugares,
  • 9:49 - 9:52
    como agora, vejo essa
    disposição espacial ao meu redor
  • 9:52 - 9:53
    e essas regiões em verde aqui
  • 9:53 - 9:55
    estão muito ativas.
  • 9:55 - 9:57
    Há outra região
    na superfície exterior de novo,
  • 9:57 - 10:00
    onde há outras regiões de rosto também.
  • 10:00 - 10:04
    Perto delas há uma região envolvida seletivamente
  • 10:04 - 10:06
    no processamento de movimento visual,
  • 10:06 - 10:07
    como esses pontos em movimento,
  • 10:07 - 10:10
    e que está em amarelo na base do cérebro,
  • 10:10 - 10:13
    e ali perto há uma região que responde
  • 10:13 - 10:16
    quando você olha imagens
    de corpos e partes do corpo
  • 10:16 - 10:19
    como essas, mostrado em verde claro
  • 10:19 - 10:21
    na base do cérebro.
  • 10:21 - 10:23
    Todas essas regiões que mostrei até agora
  • 10:23 - 10:28
    estão envolvidas em tipos
    específicos de percepção visual.
  • 10:28 - 10:30
    Temos regiões cerebrais especializadas
  • 10:30 - 10:33
    para outros sentidos, como audição?
  • 10:33 - 10:36
    Sim, nós temos.
    Então se girarmos o cérebro,
  • 10:36 - 10:38
    há uma região em azul escuro
  • 10:38 - 10:41
    que estudamos há alguns meses
  • 10:41 - 10:42
    e essa região responde muito
  • 10:42 - 10:46
    a sons com tons, como esses:
  • 10:46 - 10:48
    (Sirenes)
  • 10:48 - 10:50
    (Música de violoncelo)
  • 10:50 - 10:52
    (Campainha)
  • 10:52 - 10:55
    Em contraste, essa região não responde
  • 10:55 - 10:57
    quando escutamos sons familiares
  • 10:57 - 10:59
    que não têm um tom definido, como esses:
  • 10:59 - 11:02
    (Mastigação)
  • 11:02 - 11:04
    (Som de bateria)
  • 11:04 - 11:07
    (Som de descarga)
  • 11:07 - 11:09
    Muito bem, perto da região de tons
  • 11:09 - 11:12
    há outro grupo de regiões responsivas
  • 11:12 - 11:14
    seletivamente aos sons da fala.
  • 11:14 - 11:16
    Ok, vamos olhar essas regiões.
  • 11:16 - 11:19
    No meu hemisfério esquerdo,
    há algo parecido
  • 11:19 - 11:20
    não idêntico, mas parecida --
  • 11:20 - 11:22
    e a maioria das regiões estão aqui,
  • 11:22 - 11:24
    às vezes com tamanhos diferentes.
  • 11:24 - 11:26
    Agora, tudo que mostrei até agora
  • 11:26 - 11:29
    são regiões que estão envolvidas
    em tipos diferentes
  • 11:29 - 11:31
    de percepção, visão e audição.
  • 11:31 - 11:33
    Será que temos
    regiões cerebrais especializadas
  • 11:33 - 11:36
    em processos mentais muito complicados?
  • 11:36 - 11:38
    Sim, nós temos.
  • 11:38 - 11:41
    Então em rosa estão
    minhas regiões de linguagem.
  • 11:41 - 11:43
    Há muito tempo sabe-se
  • 11:43 - 11:45
    que a periferia do cérebro
  • 11:45 - 11:47
    está envolvida
    no processamento da linguagem,
  • 11:47 - 11:49
    mas só mostramos recentemente
  • 11:49 - 11:50
    que essas regiões em rosa
  • 11:50 - 11:53
    respondem de maneira muito seletiva.
  • 11:53 - 11:55
    Elas respondem ao entendermos
    o significado de uma frase,
  • 11:55 - 11:58
    mas não quando fazemos
    outras coisas complexas,
  • 11:58 - 12:00
    como aritmética mental
  • 12:00 - 12:03
    ou guardar uma informação na memória
  • 12:03 - 12:05
    ou apreciar uma estrutura complexa
  • 12:05 - 12:08
    de um trecho de música.
  • 12:10 - 12:13
    A região mais incrível
    que já foi encontrada
  • 12:13 - 12:16
    é essa aqui em azul claro.
  • 12:16 - 12:18
    Essa região responde
  • 12:18 - 12:22
    quando pensamos sobre
    o que outra pessoa está pensando.
  • 12:22 - 12:24
    Isso pode parecer maluquice,
  • 12:24 - 12:28
    mas nós fazemos isso o tempo todo.
  • 12:28 - 12:30
    Vocês fazem isso quando percebem que
  • 12:30 - 12:32
    seu parceiro vai ficar preocupado
  • 12:32 - 12:34
    se você não ligar avisando
    que vai se atrasar.
  • 12:34 - 12:38
    Agora mesmo eu faço isso
    com essa região do meu cérebro
  • 12:38 - 12:40
    quando percebo que vocês estão
  • 12:40 - 12:42
    provavelmente se perguntando
  • 12:42 - 12:44
    sobre esse território cinza
    desconhecido no cérebro,
  • 12:44 - 12:46
    e o que tem ali?
  • 12:46 - 12:48
    Bom, eu me pergunto isso também,
  • 12:48 - 12:50
    e estamos fazendo experimentos
    em meu laboratório
  • 12:50 - 12:52
    para tentar encontrar outras
  • 12:52 - 12:54
    especializações possíveis no cérebro
  • 12:54 - 12:58
    para outras funções mentais
    muito específicas.
  • 12:58 - 13:00
    Mas o mais importante é que não acho que
  • 13:00 - 13:02
    temos especializações cerebrais
  • 13:02 - 13:04
    para toda função mental importante,
  • 13:04 - 13:08
    para toda função mental
    que pode ser crítica para sobrevivência.
  • 13:08 - 13:10
    Na verdade, há alguns anos,
  • 13:10 - 13:11
    havia um cientista no laboratório
  • 13:11 - 13:12
    que estava bem convencido
  • 13:12 - 13:14
    de que encontrou uma região cerebral
  • 13:14 - 13:16
    para detecção de comida,
  • 13:16 - 13:18
    e ela respondia muito no scanner
  • 13:18 - 13:21
    quando as pessoas viam imagens como essa.
  • 13:21 - 13:24
    Mais adiante,
    ele encontrou uma resposta similar
  • 13:24 - 13:26
    mais ou menos no mesmo lugar
  • 13:26 - 13:28
    em 10 de 12 voluntários.
  • 13:28 - 13:30
    Ele estava muito entusiasmado,
  • 13:30 - 13:31
    e andava pelo laboratório
  • 13:31 - 13:33
    dizendo para todos que ia mostrar na TV
  • 13:33 - 13:35
    sua grande descoberta.
  • 13:35 - 13:38
    Mas então ele realizou o teste crítico:
  • 13:38 - 13:41
    Ele mostrou aos voluntários
    imagens de comida como essa
  • 13:41 - 13:44
    e comparou com imagens muito parecidas
  • 13:44 - 13:48
    em cor e forma, mas que não eram comida.
  • 13:48 - 13:50
    E essa região respondia da mesma maneira
  • 13:50 - 13:52
    para os dois grupos de imagens.
  • 13:52 - 13:53
    Não uma área com comida
  • 13:53 - 13:56
    era apenas uma região
    que gostava de cores e formas.
  • 13:56 - 13:59
    Nada de TV.
  • 14:00 - 14:03
    Mas a questão, é claro,
  • 14:03 - 14:05
    é como processamos todas essas coisas
  • 14:05 - 14:08
    para as quais não temos
    regiões especializadas?
  • 14:08 - 14:10
    Bom, acho que a resposta é que além
  • 14:10 - 14:13
    desses componentes
    muito especializados que descrevi,
  • 14:13 - 14:17
    também temos componentes
    para aplicações gerais em nossas cabeças
  • 14:17 - 14:18
    que nos permitem lidar
  • 14:18 - 14:20
    com qualquer problema que apareça.
  • 14:20 - 14:23
    De fato, mostramos recentemente
  • 14:23 - 14:25
    que essas regiões em branco
  • 14:25 - 14:27
    respondem toda vez que fazemos
  • 14:27 - 14:30
    uma tarefa mental difícil.
  • 14:30 - 14:33
    Bom, das sete tarefas que testamos.
  • 14:33 - 14:35
    Cada uma dessas regiões que descrevi
  • 14:35 - 14:37
    a vocês hoje
  • 14:37 - 14:39
    está localizada quase no mesmo lugar
  • 14:39 - 14:41
    em toda pessoa normal.
  • 14:41 - 14:42
    Poderia pegar qualquer um,
  • 14:42 - 14:43
    colocar num scanner,
  • 14:43 - 14:46
    e encontrar cada uma
    de suas regiões cerebrais,
  • 14:46 - 14:48
    e se pareceria muito com meu cérebro,
  • 14:48 - 14:50
    apesar das regiões
    serem pouco diferentes
  • 14:50 - 14:53
    no tamanho e no local exato.
  • 14:53 - 14:56
    Para mim,
    o que é importante nesse trabalho
  • 14:56 - 14:59
    não é a localização exata
    dessas regiões cerebrais,
  • 14:59 - 15:01
    mas o simples fato de que temos
  • 15:01 - 15:04
    componentes específicos
    e seletivos na mente e cérebro
  • 15:04 - 15:05
    para começo de conversa.
  • 15:05 - 15:07
    Quero dizer, poderia ser de outra maneira.
  • 15:07 - 15:10
    O cérebro poderia ser um processador
  • 15:10 - 15:11
    único para aplicações gerais,
  • 15:11 - 15:13
    como uma faca de cozinha
  • 15:13 - 15:15
    ao invés de um canivete suíço.
  • 15:15 - 15:18
    No entanto, o imageamento cerebral mostrou
  • 15:18 - 15:22
    esse quadro rico e intrigante
    da mente humana.
  • 15:22 - 15:24
    Então temos esse quadro com componentes
  • 15:24 - 15:25
    de nossas cabeças
  • 15:25 - 15:27
    junto com esse conjunto surpreendente
  • 15:27 - 15:31
    de componentes muito especializados.
  • 15:32 - 15:34
    Estamos no início da descoberta.
  • 15:34 - 15:37
    Fizemos apenas as primeiras pinceladas
  • 15:37 - 15:40
    de nosso retrato neural da mente humana.
  • 15:40 - 15:43
    As questões mais fundamentais
    permanecem em aberto.
  • 15:43 - 15:46
    Por exemplo, o que cada uma
    dessas regiões faz exatamente?
  • 15:46 - 15:48
    Por que precisamos
    de três áreas para rostos
  • 15:48 - 15:50
    e três áreas para espaço?
  • 15:50 - 15:53
    E qual é a divisão de trabalho entre elas?
  • 15:53 - 15:56
    Em segundo lugar, como essas coisas
  • 15:56 - 15:58
    estão conectadas no cérebro?
  • 15:58 - 15:59
    Com o imageamento por difusão
  • 15:59 - 16:01
    podemos traçar grupos de neurônios que
  • 16:01 - 16:04
    se conectam em partes do cérebro,
  • 16:04 - 16:05
    e com este método mostrado aqui,
  • 16:05 - 16:09
    podemos traçar as conexões
    de neurônios individuais no cérebro,
  • 16:09 - 16:12
    que algum dia pode nos dar
    um diagrama da fiação
  • 16:12 - 16:14
    de todo o cérebro humano.
  • 16:14 - 16:17
    Em terceiro, como essa estrutura
  • 16:17 - 16:20
    muito sistemática é construída,
  • 16:20 - 16:22
    tanto durante
    o desenvolvimento na infância
  • 16:22 - 16:25
    como na evolução de nossa espécie?
  • 16:25 - 16:27
    Para responder questões como essas,
  • 16:27 - 16:29
    os cientistas estão escaneando
  • 16:29 - 16:31
    outras espécies de animais,
  • 16:31 - 16:34
    e também estão escaneando
    crianças humanas.
  • 16:37 - 16:41
    Muitas pessoas justificam o custo alto
    da pesquisa em neurociências
  • 16:41 - 16:43
    indicando que isso pode nos ajudar um dia
  • 16:43 - 16:47
    a tratar doenças cerebrais
    como Alzheimer e autismo.
  • 16:47 - 16:49
    Esse é um objetivo muito importante,
  • 16:49 - 16:53
    e eu ficaria entusiasmada se parte
    de meu trabalho ajudasse nisso,
  • 16:53 - 16:55
    mas consertar coisas
    que estão quebradas no mundo
  • 16:55 - 16:58
    não é a única coisa
    que vale a pena ser feita.
  • 16:58 - 17:01
    O esforço para compreender
    o cérebro e a mente humana
  • 17:01 - 17:04
    tem seu valor mesmo
    se nunca levar ao tratamento
  • 17:04 - 17:06
    de uma doença.
  • 17:06 - 17:08
    O que poderia ser mais emocionante
  • 17:08 - 17:11
    do que compreender
    os mecanismos fundamentais
  • 17:11 - 17:13
    que explicam a experiência humana,
  • 17:13 - 17:17
    compreender, em essência, quem somos nós?
  • 17:17 - 17:20
    Isto é, creio, a maior aventura científica
  • 17:20 - 17:23
    de todos os tempos.
  • 17:23 - 17:27
    (Aplausos)
Title:
Um retrato neural da mente humana
Speaker:
Nancy Kanwisher
Description:

A pioneira de imageamento cerebral Nancy Kanwisher, que usa scans de fMRI para observar a atividade de áreas cerebrais (geralmente dela mesma), compartilha o que ela seus colegas aprenderam: o cérebro é feito tanto de componentes muito especializados como de uma maquinaria generalizada. Outra surpresa: há muito a aprender ainda.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
17:42

Portuguese, Brazilian subtitles

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