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Eles lamentam
que eu não tenha uma tatuagem.
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Vou levar-vos a 1887.
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Há um jovem em frente da porta
de uma mulher, aqui em Amsterdão.
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Só a viu três vezes,
nos últimos dois anos.
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Ela chama-se Johanna Bonger.
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Acho que tenho de mostrar-vos
um retrato dela.
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Está aqui.
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Ele só a viu três vezes
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mas sabe bem que está
muito apaixonado por ela
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e quer passar com ela
o resto da vida.
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Ela é professora de inglês,
mas infelizmente tem um amor secreto.
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E diz não.
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O rapaz volta, desiludido,
de comboio para Paris,
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onde vive com Vincent,
o seu irmão artista.
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Mas há o destino: um ano depois,
encontram-se de novo em Paris.
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Ela está solteira e o artista
partiu para o sul da França.
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Apaixonam-se.
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Em resumo, casam-se a 18 de abril de 1889.
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Começam uma vida feliz em Paris.
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Têm muitos amigos,
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o ideal dela era uma vida
cheia de estímulos intelectuais,
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uma vida social com muitos amigos em volta
que trabalhassem por uma boa causa.
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Têm um bebé um ano depois
e chamam-lhe Vincent, como o tio.
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O tio Vincent fica muito feliz
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e envia "Branche d’amandier en fleur"
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que representa uma vida nova,
um presente para o bebé.
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Imaginem a tragédia que é
quando o tio Vincent morre,
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um ano depois, em 1890.
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Theo, que não era só o seu irmão,
mas também o seu melhor amigo,
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fica destroçado.
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Dera apoio a Vincent toda a vida,
encorajara-o.
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Por isso, fica doente
e morre seis meses depois.
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A jovem Johanna Bonger,
de repente, fica sozinha
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e tem de ganhar a vida com o seu filhinho.
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Assim, inicia uma coisa
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a que chamaríamos hoje
"dormida e pequeno almoço" em Bussum,
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por onde perpassarão muitos artistas
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que, posteriormente, passam
a fazer parte da rede dela.
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Ela trabalha como tradutora,
mas também continua a obra de Theo.
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Começa a abordar museus e galerias
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a pôr obras à consignação,
a fim de promover os trabalhos de Vincent.
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Também começa a passar à máquina
todas as cartas de Vincent.
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Imaginem, não há computadores,
uma velha máquina de escrever,
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foi um trabalho tremendo.
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Assiste a todas as recusas
de exposições de Vincent
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comenta-as e tenta criar
uma rede no mundo da arte.
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A princípio, é olhada com desconfiança.
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É uma mulher, não é historiadora de arte,
não tem experiência,
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mas lê muito, aprende muito
e é uma boa negociadora.
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Vai ganhando respeito no mundo artístico
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e, quando a primeira exposição é um facto,
tem algum poder no mundo da arte,
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que é aqui em Amsterdão,
na Sala do Panorama.
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Segue-se em 1905
no Museu Stedelijk — nosso vizinho —
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uma grande exposição, mais de 400 obras.
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Esta é muito bem recebida.
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Desta vez, ela não tem de implorar
nas galerias e nos museus,
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agora são eles que vão ter com ela.
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Seguem-se grandes exposições
em Londres e na Alemanha.
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Sabemos que ela não pensava
só no dinheiro,
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porque, por vezes, os comerciantes de arte
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aconselhavam-na a vender
por um preço mais baixo
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para poder vender mais.
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Em vez disso, ela aumentava o preço.
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(Risos)
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Mais tarde, o filho chamar-lhe-ia
uma mulher muito independente.
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Também acho que ela era assim.
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Ela adora viajar, fala quatro línguas,
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vai ter com o filho a Espanha,
onde ele vive
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e, depois, vai para Nova Iorque.
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Depois, começa a traduzir
as cartas para inglês.
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Quando morre, em 1925,
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já traduzira 562 de todas as cartas
de Vincent para Theo e vice--versa.
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Em 1914, publicou as cartas para o irmão,
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juntamente com uma biografia
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que ainda é muito útil
para a nossa investigação atual.
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Bom, eu queria dizer,
mas como Sylvana já disse,
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sem ela, provavelmente
não estaríamos aqui hoje.
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E talvez Vincent não fosse
tão famoso como é hoje.
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Tenho de sublinhar isso.
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Gostava de referir as palavras
que dois diretores da Biblioteca Mundial
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puseram na sepultura dela:
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fidelidade, devoção e amor.
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Penso que, se as adotarmos,
também teremos êxito.
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Obrigada.
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(Aplausos)
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