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O modo como pensamos a beneficência está absolutamente errado

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    Quero falar sobre inovação social
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    e empreendedorismo social.
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    Acontece que eu tenho trigémeos.
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    São pequeninos. Têm cinco anos.
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    Às vezes digo às pessoas
    que tenho trigémeos.
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    Perguntam: "A sério? Quantos?"
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    (Risos)
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    Aqui está uma fotografia das crianças.
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    Sage, Annalisa e Rider.
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    Agora, acontece também que sou "gay".
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    Ser "gay" e pai de trigémeos é, de longe,
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    a coisa socialmente mais inovadora
    e empreendedora que já fiz.
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    (Risos)
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    (Aplausos)
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    A verdadeira inovação social
    de que quero falar
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    envolve beneficência.
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    Quero falar de como as coisas que
    nos ensinaram a pensar
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    acerca de dar, acerca da beneficência
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    e acerca do setor não lucrativo
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    estão, na verdade, a minar
    as causas que amamos
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    e o nosso desejo profundo
    de mudar o mundo.
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    Mas, antes disso, quero perguntar
    se realmente acreditamos
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    que o setor não produtivo
    tem algum papel sério a desempenhar
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    na mudança do mundo.
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    Muita gente diz que as empresas
    vão erguer as economias em desenvolvimento,
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    e que o empreendedorismo social
    se encarregará do resto.
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    Eu acredito que as empresas
    farão avançar
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    a grande massa da humanidade.
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    Mas deixam sempre para trás
    aqueles 10% ou mais,
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    que são mais desfavorecidos
    ou que não têm sorte.
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    O empreendedorismo social precisa
    de mercados,
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    e há questões para as quais
    não podemos desenvolver
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    o tipo de medidas monetárias
    de que necessitamos para um mercado.
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    Pertenço à direção de um centro
    para pessoas com disfunção intelectual,
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    e estas pessoas querem alegria,
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    compaixão e amor.
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    Como é que rentabilizamos isso?
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    É aí que entram o setor não lucrativo
    e a filantropia.
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    A filantropia é o mercado para o amor.
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    É o mercado para todas aquelas pessoas
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    para quem não aparece outro mercado.
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    Por isso, se queremos,
    como Buckminster Fuller disse,
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    um mundo que funcione para todos,
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    sem ninguém, nem nada, excluído,
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    então, o setor não lucrativo
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    tem de ser
    uma parte importante da conversa.
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    Mas não parece estar a resultar.
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    Porque é que
    as associações de beneficência
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    ainda não descobriram uma cura
    para o cancro da mama,
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    ou não resolvem o problema
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    do fim da privação de alojamento
    em nenhuma grande cidade?
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    Porque é que a pobreza
    emperrou nos 12%
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    da população dos EUA, há já 40 anos?
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    E a resposta é que estes problemas sociais
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    acontecem em enorme escala,
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    as nossas organizações são pequenas
    em relação a eles,
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    e temos uma crença que as mantém pequenas.
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    Temos dois livros de regras.
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    Temos um para o setor não lucrativo
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    e um para o resto do mundo económico.
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    Há um "apartheid" que discrimina
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    o setor não lucrativo
    em cinco áreas diferentes,
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    das quais, a primeira é a compensação.
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    Assim, no setor lucrativo,
    quanto mais valor produzimos,
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    mais dinheiro podemos ganhar.
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    Mas não gostamos que as instituições
    não lucrativas usem dinheiro
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    para incentivar as pessoas
    a produzir mais no serviço social.
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    Temos uma reação visceral
    à ideia de que alguém
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    possa receber muito dinheiro
    por ajudar outras pessoas.
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    O interessante é que não temos
    uma reação visceral
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    à noção de que as pessoas ganham muito
    dinheiro não ajudando as outras pessoas.
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    Sabem, se quiserem lucrar
    50 milhões de dólares
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    a vender videojogos violentos
    a crianças — avancem.
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    Até os pomos na capa da revista Wired.
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    Mas se quisermos ganhar
    meio milhão de dólares
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    para curar crianças com malária,
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    somos considerados parasitas.
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    (Aplausos)
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    Pensamos nisto como o nosso sistema ético,
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    mas o que não percebemos
    é que este sistema
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    tem um efeito secundário poderoso,
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    que é impor uma escolha entre duas opções
    que se excluem mutuamente
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    — fazer bem a si próprio e à sua família,
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    ou fazer bem ao mundo —
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    às mentes mais brilhantes que saem
    das nossas melhores universidades,
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    e mandar dezenas de milhares de pessoas
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    que podiam fazer uma enorme diferença
    no setor não lucrativo
  • 4:06 - 4:09
    avançar todos os anos diretamente
    para o setor lucrativo,
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    porque não estão dispostas a fazer
    esse sacrifício económico vitalício.
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    A revista Businessweek fez um inquérito,
    analisou os pacotes remuneratórios
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    para quem tem MBAs
    com 10 anos de faculdade.
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    A remuneração média
    de um MBA de Stanford,
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    com bónus, aos 38 anos de idade,
    era de 400 000 dólares.
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    Entretanto, no mesmo ano,
    o salário médio do CEO
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    duma organização de beneficência médica
    acima dos 5 milhões de dólares, nos EUA,
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    era de 232 000 dólares,
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    e para uma organização
    contra a fome, 84 000 dólares.
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    Não é possível recrutar muita gente
    com talento para 400 000 dólares
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    a fazerem um sacrifício
    de 316 000 dólares todos os anos,
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    para se tornarem diretores
    de uma organização contra a fome.
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    Alguns dizem: "Isso só acontece porque
    esses tipos com MBA são gananciosos".
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    Não necessariamente.
    Podem ser espertos.
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    A essa pessoa sai mais barato
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    doar 100 000 dólares por ano
    a uma organização contra a fome,
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    poupar 50 000 dólares em impostos,
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    embolsar ainda
    cerca de 270 000 dólares por ano
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    e ser considerada "filantropa"
    por ter doado
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    100 000 dólares para a beneficência,
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    ter assento na direção
    duma organização contra a fome,
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    a supervisionar talvez o desgraçado
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    que decidiu ser diretor
    da organização contra a fome...
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    (Risos)
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    ... e ter à sua frente uma vida
    inteira de poder,
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    influência e elogios públicos.
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    A segunda área de discriminação
    é a da publicidade e "marketing".
  • 5:30 - 5:33
    Dizemos ao setor lucrativo:
    "Gastem, gastem, gastem em publicidade
  • 5:33 - 5:36
    "até que o último dólar deixe de
    produzir um cêntimo de valor".
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    Mas não gostamos de ver
    os nossos donativos gastos em publicidade.
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    A nossa atitude é: "Bem,
    se conseguirem publicidade grátis,
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    — às quatro da manhã —
    por mim está bem".
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    Mas não quero os meus donativos
    gastos em publicidade.
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    Quero que vão para os necessitados".
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    Como se o dinheiro gasto em publicidade
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    não servisse para obter
    elevadíssimas somas de dinheiro
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    para servir os necessitados.
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    Nos anos 90, a minha empresa criou
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    as viagens de bicicleta
    de longa distância AIDSRide
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    e as caminhadas de 3 dias de 100 km
    do cancro da mama
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    e, ao longo de nove anos,
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    tivemos 182 000 heróis comuns
    a participar,
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    que juntaram um total
    de 581 milhões de dólares.
  • 6:20 - 6:22
    (Aplausos)
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    Juntaram mais dinheiro, mais depressa,
    para estas causas
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    do que quaisquer
    outros eventos na história,
  • 6:28 - 6:31
    tudo baseado na ideia
    de que as pessoas estão fartas
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    de que lhes peçam para fazerem
    o mínimo possível.
  • 6:33 - 6:36
    As pessoas estão desejosas de medir
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    a distância completa do seu potencial
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    a favor de causas pelas quais
    se interessam profundamente.
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    Mas é preciso pedir-lhes.
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    Conseguimos que
    tantas pessoas participassem
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    porque pusemos grandes anúncios
    no The New York Times,
  • 6:48 - 6:52
    no The Boston Globe, publicidade
    em horário nobre na rádio e na TV.
  • 6:52 - 6:54
    Imaginam quantas pessoas
    teríamos conseguido
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    se tivéssemos colocado
    panfletos na lavandaria?
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    Os donativos emperraram, nos EUA,
  • 7:01 - 7:04
    em 2% do PIB, desde que começámos
    a medi-los, nos anos de 1970.
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    Trata-se de um facto importante,
    porque nos diz
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    que, em 40 anos, o setor não lucrativo
  • 7:09 - 7:13
    não tem sido capaz de conquistar
    nenhuma quota de mercado
  • 7:13 - 7:14
    ao setor lucrativo.
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    Se pensarmos nisso,
    como podia um setor
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    conquistar uma quota de mercado
    a outro setor
  • 7:20 - 7:23
    se não lhe é realmente permitido
    atuar no mercado?
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    Se dizemos às marcas de consumo:
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    "Vocês podem publicitar
    os benefícios do vosso produto",
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    mas dizemos às organizações:
    "Não podem publicitar o bem que fazem",
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    para onde pensam vocês que vai
    o dinheiro dos consumidores?
  • 7:35 - 7:38
    A terceira área de discriminação
    é a assunção de riscos
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    na concretização de novas ideias
    para gerar receitas.
  • 7:42 - 7:46
    A Disney pode fazer um filme de 200 milhões
    de dólares que é um fracasso
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    e ninguém chama
    o Procurador-Geral da República.
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    Mas se fizermos uma campanha de angariação
    de fundos de 1 milhão de dólares
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    para ajudar os pobres,
    e se ela não tiver um lucro de 75%
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    para a causa, nos primeiros 12 meses,
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    o vosso caráter é posto em causa.
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    Por isso, as organizações não lucrativas
    receiam tentar
  • 8:02 - 8:06
    uma ação de angariação de fundos
    corajosa, ousada, em larga escala,
  • 8:06 - 8:08
    com medo de que, se a coisa falhar,
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    a sua reputação seja arrastada pela lama.
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    Sabemos que,
    quando proibimos o insucesso,
  • 8:12 - 8:14
    matamos a inovação.
  • 8:14 - 8:16
    Se matarmos a inovação
    na angariação de fundos,
  • 8:16 - 8:19
    não conseguimos mais receitas
    e não conseguimos crescer.
  • 8:19 - 8:22
    E, se não crescermos, não conseguimos
    resolver grandes problemas sociais.
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    A quarta área é o tempo.
  • 8:26 - 8:30
    A Amazon esteve seis anos sem
    distribuir lucros pelos investidores
  • 8:30 - 8:32
    e as pessoas tiveram paciência.
  • 8:32 - 8:34
    Sabiam que, a longo-prazo,
    havia um objetivo final
  • 8:34 - 8:36
    de dominar o mercado.
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    Mas, se uma organização não lucrativa
    alguma vez sonhasse
  • 8:39 - 8:43
    atingir uma tal dimensão que implicasse
    que durante seis anos
  • 8:43 - 8:45
    nenhum dinheiro fosse para os necessitados,
  • 8:45 - 8:47
    sendo todo investido
    na construção dessa escala,
  • 8:47 - 8:50
    podíamos contar com uma crucificação.
  • 8:50 - 8:52
    A última área é o próprio lucro.
  • 8:52 - 8:55
    O setor lucrativo
    pode entregar lucros às pessoas,
  • 8:55 - 8:58
    para atrair o capital delas
    para as suas novas ideias.
  • 8:58 - 9:01
    Mas não se pode distribuir lucros
    no setor não lucrativo.
  • 9:01 - 9:05
    Por isso, o setor lucrativo tem uma chave
    nos mercados de capital multimilionários,
  • 9:05 - 9:08
    e o setor não lucrativo
    está esfomeado por crescimento,
  • 9:08 - 9:10
    capital de risco e ideias.
  • 9:10 - 9:13
    Portanto, reunimos estas cinco coisas:
  • 9:13 - 9:16
    não podemos usar dinheiro para seduzir
    o talento a deixar o setor lucrativo,
  • 9:16 - 9:18
    não podemos publicitar numa escala próxima
  • 9:18 - 9:21
    da do setor lucrativo
    para captar novos clientes,
  • 9:21 - 9:24
    não podemos correr o tipo de riscos
    que o setor lucrativo corre,
  • 9:24 - 9:26
    na procura de novos clientes,
  • 9:26 - 9:28
    não temos o mesmo tempo
    para os encontrar
  • 9:28 - 9:29
    que tem o setor lucrativo,
  • 9:29 - 9:33
    e não temos um mercado de ações
    para financiar nada disto,
  • 9:33 - 9:35
    mesmo que pudéssemos fazê-lo à partida.
  • 9:35 - 9:37
    Acabamos por colocar
    o setor não lucrativo
  • 9:37 - 9:39
    em extrema desvantagem
    em relação ao setor lucrativo,
  • 9:39 - 9:41
    a todos os níveis.
  • 9:42 - 9:45
    Se temos dúvidas sobre os efeitos
    destes livros de regras separados,
  • 9:45 - 9:47
    as estatísticas não deixam dúvidas:
  • 9:47 - 9:49
    De 1970 a 2009,
  • 9:49 - 9:52
    o número de organizações
    não lucrativas que cresceu,
  • 9:52 - 9:55
    que ultrapassou a barreira de receitas
    dos 50 milhões de dólares anuais
  • 9:55 - 9:57
    foi de 144.
  • 9:57 - 10:00
    No mesmo período, o número
    de empresas lucrativas que a ultrapassou
  • 10:00 - 10:03
    foi de 46 136.
  • 10:04 - 10:06
    Estamos a lidar com problemas sociais
    de enormes dimensões
  • 10:06 - 10:09
    e as nossas organizações não conseguem
    atingir dimensão.
  • 10:09 - 10:12
    Toda a dimensão vai para
    a Coca Cola e o Burger King.
  • 10:13 - 10:16
    Porque é que pensamos desta maneira?
  • 10:16 - 10:20
    Tal como a maioria dos dogmas
    fanáticos da América,
  • 10:20 - 10:23
    estas ideias vêm
    das velhas crenças puritanas.
  • 10:23 - 10:26
    Os puritanos vieram para cá
    por motivos religiosos
  • 10:26 - 10:28
    -— pelo menos foi o que disseram —
  • 10:28 - 10:30
    mas também vieram porque
    queriam enriquecer.
  • 10:30 - 10:32
    Eram pessoas de fé, mas também eram
  • 10:32 - 10:35
    capitalistas verdadeiramente agressivos,
  • 10:35 - 10:38
    e eram acusados de formas extremas
    de obter lucros,
  • 10:38 - 10:41
    quando comparados
    com os outros colonizadores.
  • 10:41 - 10:43
    Mas, ao mesmo tempo,
    os puritanos eram calvinistas,
  • 10:43 - 10:46
    por isso eram literalmente ensinados
    a odiar-se a si mesmos.
  • 10:46 - 10:49
    Ensinavam-lhes que o interesse próprio
    era um mar revolto,
  • 10:49 - 10:52
    um caminho certo para a condenação eterna.
  • 10:53 - 10:55
    Isto criou um grande problema
    a estas pessoas, certo?
  • 10:55 - 10:58
    Ei-los, vindos do outro lado do Atlântico
    para enriquecerem assim.
  • 10:58 - 11:01
    Enriquecer assim leva-os
    diretamente para o inferno.
  • 11:01 - 11:03
    Que podiam eles fazer a este respeito?
  • 11:03 - 11:05
    Bem, a beneficência foi a sua resposta.
  • 11:05 - 11:08
    Tornou-se o santuário económico
  • 11:08 - 11:11
    onde podiam fazer penitência
    pelas suas práticas no mercado lucrativo
  • 11:11 - 11:13
    a cinco cêntimos por dólar.
  • 11:14 - 11:16
    Como podiam ganhar dinheiro
    com a beneficência
  • 11:16 - 11:19
    se a caridade era a sua penitência
    por ganharem dinheiro?
  • 11:19 - 11:23
    O incentivo financeiro foi banido
    do domínio da ajuda aos outros
  • 11:23 - 11:26
    de modo a poder prosperar
    na área do lucro pessoal
  • 11:26 - 11:30
    e, em 400 anos, nada interveio para dizer:
  • 11:30 - 11:34
    "Isso é contraproducente e injusto".
  • 11:35 - 11:39
    Esta ideologia é controlada
    pela seguinte perigosa questão:
  • 11:39 - 11:42
    "Que percentagem do meu donativo
    vai para a causa,
  • 11:42 - 11:44
    e qual para despesas gerais?"
  • 11:44 - 11:47
    Há muitos problemas com esta questão.
    Vou só focar-me em dois.
  • 11:47 - 11:51
    Primeiro: leva-nos a pensar
    que as despesas gerais são negativas,
  • 11:51 - 11:55
    que, de algum modo,
    não fazem parte da causa.
  • 11:55 - 11:59
    Mas fazem, absolutamente, especialmente
    se usadas para o crescimento.
  • 12:00 - 12:04
    Esta ideia de que as despesas gerais
    são, de algum modo, um inimigo da causa
  • 12:04 - 12:07
    cria este segundo e muito maior
    problema, que é:
  • 12:07 - 12:09
    força as organizações a avançarem
  • 12:09 - 12:12
    sem as coisas de que realmente
    precisam para crescer,
  • 12:12 - 12:15
    só para manterem
    as despesas gerais baixas.
  • 12:15 - 12:18
    Aprendemos que as organizações
    de beneficência deviam gastar
  • 12:18 - 12:21
    o mínimo possível em despesas gerais,
    como angariação de fundos,
  • 12:21 - 12:24
    com base na teoria de que, quanto menos
    se gasta em angariação de fundos,
  • 12:24 - 12:27
    mais dinheiro fica disponível para a causa.
  • 12:28 - 12:30
    Isso pode ser verdade num mundo depressivo
  • 12:30 - 12:33
    em que este gráfico
    não possa ser aumentado.
  • 12:33 - 12:38
    Mas num mundo lógico, em que
    o investimento em angariação de fundos
  • 12:38 - 12:40
    arrecade mais fundos
    e torne o gráfico maior,
  • 12:40 - 12:42
    acontecerá precisamente o contrário,
  • 12:42 - 12:46
    e devíamos investir mais dinheiro,
    e não menos, na angariação de fundos,
  • 12:46 - 12:50
    porque é o que tem o potencial
    de multiplicar o montante de dinheiro
  • 12:50 - 12:53
    disponível para a causa que
    tão profundamente nos interessa.
  • 12:54 - 12:58
    Dou-vos dois exemplos.
    Lançámos as AIDSRides
  • 12:58 - 13:01
    com um investimento inicial
    de 50 000 dólares em capital de risco.
  • 13:01 - 13:06
    Em nove anos, multiplicámos
    esse valor 1982 vezes,
  • 13:06 - 13:10
    para 108 milhões de dólares líquidos,
    para serviços HIV.
  • 13:11 - 13:13
    Lançámos os três dias do cancro da mama
  • 13:13 - 13:17
    com um investimento inicial
    de 350 000 dólares em capital de risco.
  • 13:17 - 13:22
    Em apenas cinco anos,
    multiplicámos esse valor 554 vezes,
  • 13:22 - 13:25
    para 194 milhões de dólares,
    líquidos de despesas,
  • 13:25 - 13:27
    para a investigação do cancro da mama.
  • 13:27 - 13:30
    Se vocês fossem filantropos
    interessados no cancro da mama,
  • 13:30 - 13:32
    o que faria mais sentido?
  • 13:32 - 13:35
    Descobrir o centro de investigação
    mais inovador do mundo
  • 13:35 - 13:39
    e dar-lhe 350 000 dólares
    para investigação?
  • 13:39 - 13:41
    Ou dar ao departamento
    de angariação de fundos
  • 13:41 - 13:46
    os 350 000 dólares para os multiplicar
    para 194 milhões de dólares
  • 13:46 - 13:48
    para a investigação do cancro da mama?
  • 13:48 - 13:52
    O ano de 2002 foi
    o nosso melhor ano de sempre.
  • 13:52 - 13:54
    Só para o cancro da mama, só nesse ano,
  • 13:54 - 13:57
    conseguimos 71 milhões de dólares,
    deduzidas as despesas.
  • 13:58 - 14:00
    Depois abrimos falência
  • 14:00 - 14:03
    subitamente e de forma traumática.
  • 14:04 - 14:08
    Porquê? Bem, resumindo,
    o nosso patrocinador deixou-nos.
  • 14:08 - 14:10
    Quiseram distanciar-se de nós
  • 14:10 - 14:13
    porque estávamos a ser crucificados
    pelos "media"
  • 14:13 - 14:16
    por investirmos 40%do total
    no recrutamento,
  • 14:16 - 14:20
    no serviço ao cliente,
    na magia da experiência
  • 14:20 - 14:23
    e não existe terminologia contabilística
  • 14:23 - 14:27
    para descrever esse tipo de investimento
    no crescimento e no futuro,
  • 14:27 - 14:30
    sem ser este rótulo demoníaco
    de despesas gerais.
  • 14:31 - 14:36
    Portanto, num dia,
    todos os nossos 350 empregados
  • 14:36 - 14:38
    perderam os seus empregos
  • 14:41 - 14:44
    porque foram rotulados de despesas gerais.
  • 14:44 - 14:47
    O nosso patrocinador foi tentar fazer
    os eventos sozinho.
  • 14:47 - 14:48
    As despesas gerais aumentaram.
  • 14:48 - 14:51
    As receitas líquidas para a investigação
    do cancro da mama
  • 14:51 - 14:55
    baixaram em 84 %
    — 60 milhões de dólares num ano.
  • 14:56 - 15:01
    Isto é o que acontece quando confundimos
    moralidade com frugalidade.
  • 15:04 - 15:07
    Aprendemos que a venda de bolos
    com 5% de despesas gerais
  • 15:07 - 15:10
    é moralmente superior à empresa
    de angariação de fundos profissional
  • 15:10 - 15:12
    com 40% de despesas gerais,
  • 15:12 - 15:15
    mas escapa-nos
    a informação mais importante,
  • 15:15 - 15:18
    que é: qual é o tamanho real dos gráficos?
  • 15:18 - 15:22
    Que importa que a venda de bolos só tenha
    5% de despesas gerais, se for minúscula?
  • 15:23 - 15:26
    E que a venda de bolos só consiga
    71 dólares líquidos para a caridade
  • 15:26 - 15:28
    porque não fez investimento à sua escala
  • 15:28 - 15:30
    mas a empresa de angariação
    de fundos profissional
  • 15:30 - 15:33
    conseguiu 71 milhões de dólares
    líquidos porque o fez?
  • 15:33 - 15:35
    Que gráfico preferiríamos?
  • 15:35 - 15:37
    Que gráfico pensamos
    que as pessoas com fome prefeririam?
  • 15:39 - 15:42
    Aqui está o efeito de tudo isto
    no quadro geral.
  • 15:42 - 15:46
    Eu disse que os donativos para a caridade
    correspondem a 2% do PIB dos EUA.
  • 15:46 - 15:49
    São cerca de 300 mil milhões
    de dólares por ano.
  • 15:49 - 15:52
    Mas só cerca de 20% disso
    — 60 mil milhões de dólares —
  • 15:52 - 15:54
    vão para causas para a
    saúde e serviços sociais.
  • 15:54 - 15:58
    O resto vai para religião, educação
    superior e hospitais.
  • 15:58 - 16:01
    Esses 60 mil milhões de dólares
    não são minimamente suficientes
  • 16:01 - 16:03
    para combater estes problemas.
  • 16:03 - 16:05
    Se aumentássemos
    os donativos para a beneficência,
  • 16:05 - 16:09
    de 2% do PIB, em apenas um passo,
  • 16:10 - 16:14
    para 3% do PIB, através
    do investimento no crescimento,
  • 16:14 - 16:17
    isso corresponderia a mais 150 mil milhões
    de dólares por ano em contribuições,
  • 16:17 - 16:20
    e se esse dinheiro pudesse ir
    desproporcionadamente
  • 16:20 - 16:23
    para as organizações de saúde
    e serviços sociais,
  • 16:23 - 16:25
    porque foram encorajadas
    a investir no crescimento,
  • 16:25 - 16:29
    isso representaria o triplicar
    das contribuições para esse setor.
  • 16:29 - 16:31
    Agora estamos a falar de escala.
  • 16:31 - 16:34
    Agora estamos a falar de potencial
    para uma mudança real.
  • 16:34 - 16:36
    Mas isso nunca acontecerá
  • 16:36 - 16:40
    forçando essas organizações
    a baixar os seus horizontes
  • 16:40 - 16:43
    com o objetivo desmoralizador
    de manter baixas as suas despesas gerais.
  • 16:46 - 16:48
    A nossa geração não quer
    que se leia no seu epitáfio:
  • 16:48 - 16:51
    "Mantivemos baixas as despesas
    gerais da beneficência".
  • 16:52 - 16:54
    (Risos)
  • 16:54 - 16:57
    (Aplausos)
  • 16:59 - 17:02
    Queremos que nele se leia
    que mudámos o mundo,
  • 17:02 - 17:03
    e que parte do modo como o fizemos
  • 17:03 - 17:06
    foi mudando a maneira
    como pensamos sobre estas coisas.
  • 17:06 - 17:09
    Da próxima vez que olharem
    para uma organização,
  • 17:09 - 17:11
    não perguntem pela taxa
    das suas despesas gerais.
  • 17:11 - 17:13
    Perguntem pela escala dos seus sonhos,
  • 17:13 - 17:17
    os seus sonhos à escala da Apple,
    do Google, da Amazon,
  • 17:17 - 17:19
    como medem o seu progresso
    na direção desses sonhos,
  • 17:19 - 17:22
    e de que recursos
    precisam para os realizar,
  • 17:22 - 17:24
    sejam quais forem as despesas gerais.
  • 17:24 - 17:28
    Quem se interessa pelas despesas gerais
    se estes problemas forem resolvidos?
  • 17:28 - 17:31
    Se pudermos ter esse tipo de generosidade,
  • 17:31 - 17:33
    uma generosidade de pensamento,
  • 17:33 - 17:37
    então o setor não lucrativo pode
    desempenhar um papel extraordinário
  • 17:37 - 17:40
    na mudança do mundo
    para todos aqueles cidadãos
  • 17:40 - 17:43
    que mais desesperadamente
    necessitam dessa mudança.
  • 17:46 - 17:51
    Se esse puder ser o legado
    mais duradouro da nossa geração,
  • 17:51 - 17:53
    que tomámos a responsabilidade
  • 17:53 - 17:56
    do pensamento que nos foi transmitido,
  • 17:56 - 17:59
    que o revisitámos, que o revimos,
  • 17:59 - 18:03
    e reinventámos toda a forma como
    a humanidade pensa em mudar as coisas,
  • 18:03 - 18:07
    para sempre, para todos,
  • 18:07 - 18:11
    bem, pensei que deixaria as crianças
    resumir o que isso seria.
  • 18:11 - 18:13
    Isso seria...
  • 18:13 - 18:15
    ... uma verdadeira...
  • 18:16 - 18:17
    ... inovação social.
  • 18:18 - 18:20
    Muito obrigado. Obrigado.
Title:
O modo como pensamos a beneficência está absolutamente errado
Speaker:
Dan Pallotta
Description:

O ativista e angariador de fundos Dan Pallotta denuncia a existência de dois pesos e duas medidas que determinam a nossa relação disfuncional com as organizações de beneficência. Demasiadas organizações não lucrativas, diz ele, são premiadas pelo pouco que gastam - não pelo que conseguem fazer. Em vez de fazer equivaler frugalidade a moralidade, ele pede-nos que comecemos a premiar as instituições pelos seus grandes objetivos e grandes concretizações (mesmo que venham acompanhadas de grandes despesas). Nesta corajosa palestra, ele diz: Vamos mudar a maneira como pensamos em mudar o mundo.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
18:54

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