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Resultados ibogaina edu

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    Apresenta
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    Ibogaína no tratamento da dependência de drogas
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    Bom dia pra todo mundo,
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    pra quem não me conhece eu sou o Dartiu
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    Quem vai apresentar hoje, na reunião do PROAD, é o Eduardo Schenberg
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    O Eduardo faz pós-doc comigo,
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    dentro de uma linha de pesquisas que a gente tem no PROAD
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    que é com psicodislépticos, ou substâncias psicodélicas
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    Na verdade o que ele ta apresentando hoje é um trabalho nosso
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    que não tem a ver com o pós-doc dele.
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    O pós-doc dele é ayahuasca
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    registro eletroencefalográfico de voluntários sob efeito da ayahuasca
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    que já está em fase de término
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    Mas este é um outro estudo em paralelo que foi feito com ibogaína,
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    e bom, eu não vou falar, se não tira a surpresa
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    Você quer se apresentar?
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    [platéia] Fala um pouco da carreira do Eduardo, ele fez biomedicina aqui
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    Fala você... ele não lembra (risos)
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    Bom dia, obrigado pela presença de todos,
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    obrigado Dartiu pelo convite e oportunidade de apresentar aqui
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    Eu sou biomédico, formado aqui na UNIFESP
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    e fiz mestrado aqui na psicobiologia
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    trabalhando com psicofarmacologia da memória em modelos animais
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    Depois eu achei que era hora de novos ares e contatos
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    e fui fazer doutorado na USP
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    E eu fiz o doutorado dentro da rede de colaborações do Prof. Miguel Nicolelis
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    Eles tiveram um laboratório no Hospital Sírio Libanês, eu trabalhei lá 5 anos
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    com esses eletrodos que ele usa pra registrar neurônios do rato
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    e fiz minha tese em cima do ciclo sono-vigília do rato
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    E aí, terminada a tese, terminado o longo e árduo processo de Doutorado,
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    eu achei que estava na hora de mudar de novo de ares,
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    e eu estava querendo algo mais próximo, digamos, da vida real
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    algo que chegasse mais próximo das pessoas e que eu sentisse um impacto
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    um retorno pra sociedade no que eu estava fazendo
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    A ciência básica é super importante,
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    mas as vezes a gente fica um tanto distanciado
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    E eu tenho muito interesse nessas substâncias,
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    que minha terminologia preferida são os psicodélicos
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    que inclui o LSD, a mescalina, a psilocibina e a DMT, principalmente
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    E as plantas que as contém, principalmente a ayahuasca
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    e no caso hoje vou falar da iboga e da ibogaína.
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    Eu tinha muito interesse nessa parte de pesquisa,
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    acho que é uma linha de pesquisa que está esquecida
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    desde a proibição no final dos anos 60
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    e que está renascendo agora, com muita força, alguns artigos muito importantes
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    inclusive na Nature Reviews Neuroscience
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    atestando que a biomedicina, a medicina, psiquiatria e psicologia deveriam
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    voltar a olhar pra essas substâncias, entender melhor o que elas fazem
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    e se elas tem potenciais terapêuticos, de como usar isso de maneira benéfica
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    Então aí vem essa pesquisa sobre ibogaína,
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    que foi coordenada pelo Prof. Dartiu,
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    foi conduzida por mim e pela Angélica
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    minha colega psicóloga aqui
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    Em parceria com o Dr. Bruno Rasmussen Chaves,
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    que é um médico formado aqui na UNIFESP também
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    e ele é o responsável por fazer
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    tratamento de dependência química
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    administrando ibogaína farmacêutica que ele importa
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    com autorização da ANVISA
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    Então, pra evitar qualquer tipo de confusão institucional,
  • 4:13 - 4:16
    eu quero começar ressaltando
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    que o estudo foi aprovado no Comitê de Ética da UNIFESP
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    Mas isso não quer dizer que foram aprovadas
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    quaisquer metodologias do tratamento.
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    O tratamento foi feito prévio, e é um estudo retrospectivo
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    Então a gente recebeu material clínico, fornecido por este médico
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    que eu acho muito bacana o que ele fez,
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    ele abriu bastante os seus dados
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    e a gente pode acessar o que aconteceu com esses pacientes
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    A gente pode entrevistar pacientes, tanto a Angélica quanto eu,
  • 4:46 - 4:50
    e levantar dados de recaída, recuperação ou não-recuperação
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    o que aconteceu com esses pacientes, o que acontece na ibogaína,
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    como é esse tratamento, se ele é seguro e também se ele é eficaz
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    E aí são duas coisas que eu queria pedir
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    que a gente conseguisse manter na memória operacional, na atenção
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    Essas duas questões
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    Toda vez que estamos falando de um fármaco,
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    de um medicamento ou de uma droga
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    existe a questão da segurança e a questão da eficácia
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    E no debate público sobre drogas essas coisas costumam ser mal discriminadas
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    e gera muita confusão.
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    Então são dois aspectos muito importantes
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    que vão aparecer nos resultados,
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    um sobre a segurança de se usar essa ibogaína como medicamento
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    e outro se há ou não há eficácia e aí a gente pode discutir mais pro final
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    Acho que as perguntas ficam pro fim, né?
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    Eu me programei pra falar entre 40 e 50 minutos
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    O Thiago me orientou que tava bom desse tamanho
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    então antes de começar,
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    eu queria só perguntar quem aqui não é da psiquiatria
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    ou não é - eu faço, tem muito clique, eu vou te amolar demais - risos
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    Quem aqui não é da psiquiatria, não é psiquiatra, levanta a mão
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    NÃO é, NÃO é psiquiatra ou não está...
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    e/ou não está no Departamento de Psiquiatria
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    Só pra ter uma idéia, eu também não sou psiquiatra,
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    então de uma certa perspectiva estou aqui falando como um leigo
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    Eu me considero hoje um neurocientista,
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    depois que fiz o Doutorado em Neurociências
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    Mas eu acho interessante que talvez eu possa trazer
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    algumas idéias que às vezes vindo de fora
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    de um certo círculo de conceitos, de um paradigma, às vezes
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    podem trazer novas idéias, que podem ser férteis, ou não
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    Eu vou começar com uma rápida contextualização da questão das drogas
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    Os psiquiatras aqui conhecem isso muito melhor do que eu
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    Queria falar um pouquinho sobre o uso de drogas.
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    De acordo com um artigo recente publicado na Lancet em 2012,
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    nós temos hoje no mundo aproximadamente 300 milhões
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    de USUÁRIOS de drogas ilícitas - proibidas
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    Seriam entre 125 e 200 milhões de usuários de maconha ou cannabis
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    entre 15 e 60 milhões de usuários de anfetaminas
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    de 14 a 21 milhões de usuários de cocaína
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    e entre 11 e 21 milhões de usuários de opiáceos
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    Usuários recreativos, que fazem esse uso mesmo ilegal, proibido
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    Então aí 300 milhões parece bastante gente, mas é bom comparar isso
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    com o número de usuários de drogas lícitas: o álcool e os cigarros
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    Segundo alguns relatos recentes da ONU, publicados em 2011 e 2010,
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    55% da população mundial já bebeu álcool em algum momento da vida
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    e entre 25 e 33% fuma ou fumou
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    O que dá BILHÕES de pessoas usando drogas
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    Mas é sempre importante também a gente comparar
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    USO de drogas com ABUSO de drogas e dependência
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    São coisas diferentes também que
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    no debate público costuma ser muito misturado
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    O abuso seria um uso excessivo,
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    despropositado, fora de contexto e repetido
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    E se isso começa a ficar compulsivo e muito repetitivo e muito abusivo
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    isso vai então caracterizar dependência
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    Eu trouxe aqui uma lista de critérios do que seria a dependência
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    isso parece que recentemente saiu o novo DSM,
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    então talvez não seja a lista mais atual,
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    mas inclui, pra se caracterizar uma pessoa como dependente,
  • 8:54 - 8:57
    não basta ela usar drogas nem ela repetir esse uso
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    Mas que ela tenha desejo intenso pela substância,
  • 9:02 - 9:05
    que ela não tenha controle sobre esse uso,
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    que exista uma síndrome de abstinência,
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    que exista tolerância aos efeitos
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    A tolerância é a necessidade de usar mais
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    quantidade da droga pra chegar num mesmo efeito
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    Essas pessoas costumam gastar muito tempo
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    obtendo, usando e se recuperando do uso
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    nas drogas como álcool que dão uma ressaca considerável
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    e a existência do uso continuado
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    mesmo após a pessoa ter problemas com esse uso
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    e ela continua e esse quadro vai se agravando ao longo do tempo.
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    O risco de dependência na vida pra cada droga
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    é uma questão complexa de se calcular
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    mas os números atuais dizem que é de 9% pra cannabis,
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    11% pra anfetaminas, 16% pra cocaína e 23% pra opióides,
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    que são as ilícitas.
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    E no caso das lícitas, 10% pro álcool, tá ali perto da canabis
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    E a droga mais viciante de todas é o cigarro
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    O risco de uma pessoa se tornar dependente
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    se ela começa a fazer uso de cigarro, é de 30%
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    Aí vem então, se a gente tem um problema grande no país, e no mundo,
  • 10:13 - 10:17
    de abuso e dependência de drogas, a questão que nos interessa
  • 10:17 - 10:22
    Quais são os tratamentos, o que a gente tem a oferecer a esses pacientes
  • 10:22 - 10:25
    E são várias as possibilidades existentes e em prática
  • 10:25 - 10:30
    no Brasil e no exterior também
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    Então a gente tem o famoso 12 passos, que se originou dos alcoólicos anônimos
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    Psicoterapia, Igrejas, Grupos de ajuda mútua, Comunidades Terapêuticas,
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    Estratégias de Redução de Danos,
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    até os tratamentos ditos compulsórios ou involuntários
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    Então tem uma variedade considerável nas maneiras de se abordar o problema
  • 10:54 - 10:57
    e de lidar com esse paciente e oferecer tratamento
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    Farmacologicamente, a gente ainda deixa muito a dever
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    São poucos os tratamentos farmacológicos pra dependência
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    um famoso é o antabuse,
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    um remédio que a pessoa tomaria antes de beber álcool
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    e se ela beber álcool daria muito enjôo e mal estar
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    Mas muitos pacientes simplesmente não tomam o remédio e tomam o álcool,
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    então tem um problema de adesão
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    Especificamente pra psicoestimulantes, como a cocaína e o crack,
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    não tem praticamente nada disponível, é muito pouco, muito incipiente
  • 11:32 - 11:36
    Tão iniciando tentativas
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    Tem o uso de benzodiazepínicos, que são os calmantes,
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    pra síndrome de abstinência,
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    mas especificamente pra dependência de cocaína
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    ainda falta tratamento farmacológico
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    E tem as terapias de substituição pra dependência de opióides,
  • 11:52 - 11:58
    que não é comum no Brasil, é mais comum nos EUA e Europa,
  • 11:58 - 12:02
    que é a metadona, buprenorfina e a naltrexona.
  • 12:02 - 12:06
    E aí tem uma questão que eu acho muito importante de refletir que é
  • 12:06 - 12:11
    O que é um tratamento bem sucedido na área de dependência de drogas?
  • 12:11 - 12:16
    É a abstinência total a partir do momento que o paciente é dito recuperado?
  • 12:16 - 12:20
    Ou o paciente alcoólatra pode voltar a beber socialmente?
  • 12:20 - 12:23
    Essa é toda uma questão complexa
  • 12:23 - 12:25
    Eu trouxe um exemplo,
  • 12:25 - 12:29
    que é um artigo interessante da Biological Psychiatry de 2012,
  • 12:29 - 12:35
    que eles fizeram um pequeno estudo clínico controlado com placebo
  • 12:35 - 12:38
    com sais de anfetamina
  • 12:38 - 12:42
    em conjunto com Topiramato pra dependência de cocaína.
  • 12:42 - 12:45
    E os resultados foram muito bem vistos pela literatura,
  • 12:45 - 12:52
    33% do grupo experimental atingiu 3 semanas consecutivas de abstinência
  • 12:52 - 12:55
    Vou pedir também pra vocês guardarem esses números, é fácil,
  • 12:55 - 12:59
    3 semanas, 33% dos pacientes
  • 12:59 - 13:04
    Interessante destacar também que 16% do grupo placebo atingiu esse critério
  • 13:04 - 13:08
    de 3 semanas consecutivas de abstinência
  • 13:08 - 13:13
    O que atesta pra gente que sim, pelo menos pra um subgrupo
  • 13:13 - 13:19
    desses pacientes dependentes dá pra fazer bastante coisa sem farmacologia
  • 13:19 - 13:23
    Mas ainda assim, 16% e 33% é pouco
  • 13:23 - 13:28
    A gente ta dizendo aí que quase 70% dos pacientes, com esse tratamento,
  • 13:28 - 13:31
    não atingiu mais de 3 semanas,
  • 13:31 - 13:35
    não chegou nem em 3 semanas consecutivas de abstinência
  • 13:35 - 13:38
    E aí tem as tais das terapias alternativas
  • 13:38 - 13:42
    Em 2012 voltou a ser publicada a questão do LSD,
  • 13:42 - 13:44
    a dietilamida do ácido lisérgico,
  • 13:44 - 13:48
    o psicodélico mais famoso, no tratamento do alcoolismo
  • 13:48 - 13:52
    Que foi muito feito nos anos 50, e são estudos geralmente muito criticados
  • 13:52 - 13:55
    em questões metodológicas
  • 13:55 - 13:58
    Em 2012 foi publicada essa meta-análise muito rigorosa
  • 13:58 - 14:02
    e que conclui que sim, há estudos dos anos 50 com LSD pra alcoolismo
  • 14:02 - 14:07
    que foram muito bem conduzidos, de acordo com os critérios atuais
  • 14:07 - 14:09
    que tavam nascendo naquela época
  • 14:09 - 14:16
    E nesses estudos que foram bem feitos, com UMA sessão de LSD
  • 14:16 - 14:22
    esses pacientes chegaram a 3 meses de abstinência do álcool
  • 14:22 - 14:25
    Então parece bastante significativo, eu acho que é evidência
  • 14:25 - 14:29
    de que de fato a gente deve voltar a olhar pra essas substâncias
  • 14:29 - 14:31
    com mais parcimônia e seriedade
  • 14:31 - 14:35
    E aí do LSD então a gente chega, no caso, na ibogaína
  • 14:35 - 14:39
    Eu vou mostrar pra vocês uma rápida linha do tempo
  • 14:39 - 14:43
    pra contextualizar o que é a ibogaína, da onde ela vem, qual o histórico dela,
  • 14:43 - 14:46
    pra então falar do nosso estudo
  • 14:46 - 14:52
    Os primeiros relatos publicados são de 1860,
  • 14:52 - 14:56
    em que um espécime da planta Tabernanthe iboga
  • 14:56 - 14:59
    foi enviado do Gabão pra França,
  • 14:59 - 15:05
    e alguns anos depois a publicação sobre o uso cerimonial da iboga no Gabão
  • 15:05 - 15:07
    A iboga é uma planta que contém essa molécula, ibogaína,
  • 15:07 - 15:11
    e ela é utilizada em rituais xamânicos, pra contatos com os espíritos,
  • 15:11 - 15:16
    com os ancestrais, com os falecidos, pra prever o futuro, e toda essa questão
  • 15:16 - 15:22
    que é uma área de estudo muito rica e interessante na antropologia
  • 15:22 - 15:28
    E muito cedo na história da farmacologia, logo no início do séc. XX,
  • 15:28 - 15:34
    a ibogaína foi isolada da raiz da planta e cristalizada
  • 15:34 - 15:40
    A química e a neuroquímica tavam ainda nascentes nessa época
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    No século XX, no meio dos anos 50, esse pesquisador Harris Isbell,
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    administrou ibogaína a pacientes viciados em morfina,
  • 15:51 - 15:55
    que já estavam desintoxicados da morfina
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    Só que os resultados desses estudos são um pouco difíceis de avaliar
  • 15:59 - 16:02
    porque eles aconteceram dentro de um programa militar nos EUA
  • 16:02 - 16:05
    que usava psicodélicos pra várias finalidades,
  • 16:05 - 16:09
    inclusive de controle da mente na guerra,
  • 16:09 - 16:12
    e esses dados, muitos deles foram perdidos,
  • 16:12 - 16:16
    e um pouco depois dessa questão inicial
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    de uso ibogaína pra pacientes dependentes,
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    veio a síntese e definição da estrutura química da molécula,
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    e aí é só lá nos anos 60 que esse sujeito, o Howard Lotsof,
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    ele redescobre o potencial da ibogaína pra tratar dependência
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    ele era usuário de drogas, tinha um grupo de amigos ao redor dos 20 anos
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    que gostava de usar todos os tipos de psicoativos possíveis
  • 16:38 - 16:43
    e com os dealers, os traficantes que forneciam coisas pra eles
  • 16:43 - 16:45
    eles obtiveram ibogaína
  • 16:45 - 16:48
    eles tomaram ibogaína recreativamente pra ter um "barato",
  • 16:48 - 16:52
    eles tiveram talvez o maior e mais duradouro barato da vida deles
  • 16:52 - 16:58
    a coisa pode durar 10, 12, 15 horas. Alguns relatos falam mais de 24 h
  • 16:58 - 17:03
    e o Howard Lotsof, na semana seguinte se deu conta que pela primeira vez
  • 17:03 - 17:10
    em muitos anos ele tinha passado 3 dias sem pensar em usar opiáceo. E falou:
  • 17:10 - 17:13
    "tem alguma coisa que aconteceu na minha experiência com ibogaína"
  • 17:13 - 17:16
    "que tirou a fissura dos opiáceos, "
  • 17:16 - 17:19
    "e eu uso todo dia, e eu não paro de pensar nesse negócio"
  • 17:19 - 17:23
    Ele passou o resto da vida investindo na ibogaína, ele chegou a ter patentes
  • 17:23 - 17:26
    ele foi um ativista, defendeu essa causa,
  • 17:26 - 17:29
    mas ele não era cientista, não era médico, não era clínico,
  • 17:29 - 17:32
    ele enfrentou uma série de problemas
  • 17:32 - 17:39
    um pouco depois dele começar essa questão, em 1967, nos EUA
  • 17:39 - 17:42
    classificaram a ibogaína como "Schedule 1"
  • 17:42 - 17:46
    que lá é a categoria mais rigorosa, é proibido,
  • 17:46 - 17:50
    é considerado sem potencial terapêutico e dificílimo pra se fazer pesquisa
  • 17:50 - 17:55
    e em 1970 ela foi classificada pela ONU, mas ela não é proibida mundialmente,
  • 17:55 - 17:59
    não é proibida também, nem é controlada no Brasil
  • 17:59 - 18:05
    Dos anos 70 em diante foram feitos uma série de estudos em animais e humanos,
  • 18:05 - 18:12
    vou passar rapidinho, em animais tem literatura científica indexada, publicada,
  • 18:12 - 18:17
    com vários modelos animais de dependência e abuso de drogas
  • 18:17 - 18:19
    com resultados as vezes favoráveis,
  • 18:19 - 18:25
    a seta verde pra baixo seria um resultado positivo, de diminuição do rato
  • 18:25 - 18:28
    se autoadministrando ou buscando a droga
  • 18:28 - 18:32
    em alguns modelos há estudos diferentes com resultados contraditórios
  • 18:32 - 18:37
    e num último modelo, bastante importante na área de dependência,
  • 18:37 - 18:42
    que é a preferência condicionada ao lugar, ela não teve efeito positivo
  • 18:42 - 18:45
    então a literatura em animais dá um resultado, digamos,
  • 18:45 - 18:49
    misto, não muito conclusivo, mas há algumas evidências aí,
  • 18:49 - 18:54
    e talvez por enquanto falta de interesse da comunidade científica e financiamento
  • 18:54 - 18:57
    pra fazer novos estudos nessa linha com essa substância
  • 18:57 - 19:01
    pra gente entender um pouco melhor o que está acontecendo
  • 19:01 - 19:06
    Em termos de alvos farmacológicos, a ibogaína é extremamente complexa,
  • 19:06 - 19:12
    ela foge do paradigma tradicional de uma molécula, um alvo, um efeito
  • 19:12 - 19:15
    e portanto uma propriedade terapêutica
  • 19:15 - 19:20
    A ibogaína, quando ingerida, é convertida em noraibogaína
  • 19:20 - 19:21
    aqui eu representei as duas moléculas
  • 19:21 - 19:25
    e todos os alvos terapêuticos já conhecidos
  • 19:25 - 19:33
    o tamanho do círculo indica o quão forte é a ativação desses receptores
  • 19:33 - 19:37
    os que tão em laranja são ações antagonistas
  • 19:37 - 19:40
    em azul, ações agonistas
  • 19:40 - 19:43
    e em branco a gente ainda não sabe
  • 19:43 - 19:46
    então elas ligam em muitos receptores, em receptores glutamatérgicos,
  • 19:46 - 19:49
    no receptor 5HT2A que é muito importante
  • 19:49 - 19:51
    é considerado hoje o receptor psicodélico
  • 19:51 - 19:53
    pois todas essas moléculas psicodélicas ligam nesse receptor
  • 19:53 - 19:57
    e tem estudos muito interessantes na Europa
  • 19:57 - 19:59
    de que a ativação desses receptores é central
  • 19:59 - 20:02
    pra essa tal dessa experiência psicodélica
  • 20:02 - 20:07
    que cria visões e reaviva memórias
  • 20:07 - 20:10
    um achado recente é a questão do GDNF,
  • 20:10 - 20:12
    que é o fator de crescimento da glia,
  • 20:12 - 20:17
    a ibogaína e a noraibogaína estimulam a liberação desse fator de crescimento
  • 20:17 - 20:21
    e isso pode ter a ver com seus efeitos terapêuticos
  • 20:21 - 20:25
    e também os receptores opióides, que ambas se ligam nos receptores opióides
  • 20:25 - 20:28
    mas tá extremamente difícil caracterizar
  • 20:28 - 20:31
    se é uma ação agonística ou antagonística
  • 20:31 - 20:34
    tem um artigo muito recente da Universidade de Nova Iorque
  • 20:34 - 20:35
    lidando com essa questão
  • 20:35 - 20:39
    e é um mistério bastante intrigante qual a ação farmacológica da ibogaína
  • 20:39 - 20:41
    nos receptores opióides
  • 20:41 - 20:45
    E importante destacar que elas não tem ação direta
  • 20:45 - 20:48
    nos receptores dopaminérgicos, que são os alvos clássicos
  • 20:48 - 20:50
    que são os receptores hiper-estimulados
  • 20:50 - 20:54
    principalmente na dependência de psicoestimulantes, como cocaína e crack
  • 20:54 - 20:58
    e que são alvos de centenas de pesquisas e milhões de dólares
  • 20:58 - 21:03
    como sendo o alvo terapêutico pra se olhar no caso da dependência
  • 21:03 - 21:07
    O que é interessante, porque se a ibogaína tiver mesmo,
  • 21:07 - 21:10
    e o nosso estudo diz que ela tem
  • 21:10 - 21:14
    propriedades terapêuticas bastante interessantes pra dependência
  • 21:14 - 21:18
    ela pode estar indicando novas vias pra se pensar
  • 21:18 - 21:21
    em termos de farmacologia da dependência química
  • 21:22 - 21:25
    Então a questão com humanos,
  • 21:25 - 21:31
    tem esse artigo de 2008 no Journal of Ethnopharmacology
  • 21:31 - 21:36
    que é sobre a "subcultura médica" da ibogaína
  • 21:36 - 21:39
    O que acontece é que a ibogaína é proibida nos EUA
  • 21:39 - 21:44
    e as evidências são mais de que ela sirva pra tratar dependência de opióide
  • 21:44 - 21:48
    e isso acaba acontecendo por baixo dos panos por causa da ilegalidade
  • 21:48 - 21:52
    então eles deram esse título de subcultura médica
  • 21:52 - 21:56
    Segundo esse artigo, até fevereiro de 2006,
  • 21:56 - 22:00
    eles tinham registro de 3414 pacientes que já tinham se submetido
  • 22:00 - 22:05
    a sessões de ibogaína em busca do tratamento de dependência química
  • 22:05 - 22:08
    e desde a publicação deste artigo isto está crescendo
  • 22:08 - 22:10
    de maneira aparentemente exponencial
  • 22:10 - 22:14
    A ibogaína está gahando fama, e um certo sucesso,
  • 22:14 - 22:17
    em muitas das clínicas são ex-dependentes
  • 22:17 - 22:19
    que estão tentando tratar amigos
  • 22:19 - 22:23
    com molécula, com substância de fonte desconhecida, as vezes são extratos,
  • 22:23 - 22:28
    aí junto com os sucessos começam a vir os fracassos e os problemas, né?
  • 22:28 - 22:31
    e aí tem mortes relacionadas ao uso de ibogaína
  • 22:31 - 22:36
    então uma revisão recente, de 2012, a mais recente que tem,
  • 22:36 - 22:38
    e no título eles colocaram
  • 22:38 - 22:42
    "Fatalidades temporalmente associadas com a ingestão de ibogaína"
  • 22:42 - 22:45
    porque muitas dessas mortes
  • 22:45 - 22:49
    não aconteceram durante os efeitos agudos dessa substância, mas depois,
  • 22:49 - 22:54
    em alguns casos até 72 horas depois da pessoa ter tomado a ibogaína
  • 22:54 - 22:59
    então fica difícil, farmacologicamente, atribuir à ibogaína alguma toxicidade
  • 22:59 - 23:02
    que possa ter levado a esses óbitos
  • 23:02 - 23:07
    nessa extensa revisão, eles falam em 19 mortes registradas entre 1990 e 2008
  • 23:07 - 23:12
    Se a gente comparar com aqueles 3400 casos registrados,
  • 23:12 - 23:18
    dá aproximadamente 0,6% dos casos de uso de ibogaína
  • 23:18 - 23:23
    com finalidades terapêuticas, resultando em fatalidade
  • 23:23 - 23:30
    Dessas 19 mortes, 15 pessoas eram dependentes de opiáceos,
  • 23:30 - 23:36
    2 utilizaram ibogaína ou extrato de iboga com finalidades espirituais
  • 23:36 - 23:40
    e dois pacientes dependentes utilizaram por razões desconhecidas
  • 23:40 - 23:44
    não estava no registro que eles estavam buscando tratamento
  • 23:44 - 23:49
    como é uma subcultura médica, muitas vezes faltam informações cruciais
  • 23:49 - 23:55
    Desses 19 casos, 5 não envolviam uso do hidrocloreto de ibogaína,
  • 23:55 - 23:59
    que seria a substância farmacêutica
  • 23:59 - 24:06
    2 usaram extrato de alcalóide, 2 casos envolveram ingestão de casca de raiz
  • 24:06 - 24:11
    e um caso um pó marrom de origem não conhecida e não identificada
  • 24:11 - 24:16
    que a gente não sabe se é algo da planta iboga ou de outras plantas
  • 24:16 - 24:21
    12 desses casos tinham comorbidades, como doença no fígado, úlcera péptica,
  • 24:21 - 24:25
    neoplasma cerebral, doença cardiovascular ou hipertensiva
  • 24:25 - 24:31
    obesidade, doença cardíaca avançada e fibrose no fígado
  • 24:31 - 24:35
    Concluem os autores da revisão, não eu
  • 24:35 - 24:37
    A conclusão deles é de que
  • 24:37 - 24:41
    74% dos casos com dados post-mortem adequados
  • 24:41 - 24:45
    envolvem comorbidades graves e pre-existentes,
  • 24:45 - 24:48
    principalmente de natureza cardiovascular
  • 24:48 - 24:54
    e/ou uso conjunto de substâncias
  • 24:54 - 24:58
    então existe uma desconfiança de que possa haver
  • 24:58 - 25:02
    interação farmacológica tóxica entre opióides e a ibogaína
  • 25:02 - 25:06
    Então seria muito importante desintoxicar o paciente
  • 25:06 - 25:08
    que ele ficasse dias ou semanas,
  • 25:08 - 25:11
    ninguém sabe quanto, sem usar opiáceos
  • 25:11 - 25:14
    pra depois poder participar de tratamento com ibogaína
  • 25:14 - 25:17
    Mas então eles concluem que estas comorbidades
  • 25:17 - 25:21
    e talvez o uso muito recente de drogas de abuso
  • 25:21 - 25:25
    explicam ou contribuíram pra causa da fatalidade
  • 25:25 - 25:28
    que então na maioria dos casos não dá pra atribuir isso
  • 25:28 - 25:31
    a efeitos tóxicos da ibogaína
  • 25:31 - 25:36
    Mas há também na literatura artigos enfatizando a questão de que a ibogaína
  • 25:36 - 25:39
    prolonga o intervalo QT do eletrocardiograma
  • 25:39 - 25:41
    e que isso pode levar a fatalidades
  • 25:41 - 25:45
    Essa é uma área que carece de mais pesquisas
  • 25:45 - 25:48
    inclusive um dos nossos projetos futuros
  • 25:48 - 25:53
    é de fazer o eletrocardiograma dos pacientes que tão tomando ibogaína
  • 25:53 - 25:55
    antes e durante o efeito da substância
  • 25:55 - 25:58
    pra investigar melhor essa questão cardíaca
  • 25:58 - 26:01
    e ajudar a gente a entender a questão da segurança
  • 26:01 - 26:06
    Apesar das mortes o uso terapêutico da ibogaína continua
  • 26:06 - 26:12
    e acabou se desenvolvendo um modelo teórico de como ela funciona
  • 26:12 - 26:15
    então o efeito da ibogaína é extremamente longo
  • 26:15 - 26:19
    os efeitos agudos em torno de 10 a 12 horas
  • 26:19 - 26:24
    que são divididos em duas fases, a primeira, de cerca de 4 a 8 horas
  • 26:24 - 26:29
    é comumente chamada de fase aguda, que seria a tal da fase psicodélica
  • 26:29 - 26:32
    depois o paciente entra numa fase intermediária,
  • 26:32 - 26:35
    que dura cerca de 10 a 20 h
  • 26:35 - 26:39
    então essa duas fases vão totalizar um dia inteiro
  • 26:39 - 26:42
    e depois uma fase que é chamada de estimulação residual
  • 26:42 - 26:47
    que é o dia seguinte ou os 2, 3 dias seguintes à experiência com a ibogaína
  • 26:47 - 26:52
    Na fase aguda predominam as tais visões psicodélicas,
  • 26:52 - 26:54
    essa é uma imagem que vocês podem encontrar na internet,
  • 26:54 - 26:58
    de uma pessoa que tomou ibogaína e disse ter visto esse tipo de coisa,
  • 26:58 - 27:03
    sempre em perpétuo fluxo de movimento em alta velocidade,
  • 27:03 - 27:06
    mas é bastante difícil pra gente entender como é que visão de cores
  • 27:06 - 27:10
    e universos e planetas e coisas meio alienígenas
  • 27:10 - 27:14
    pode ajudar alguém a se recuperar de um problema como a dependência
  • 27:14 - 27:18
    e muitos pacientes na verdade relatam que eles não tem esse tipo de visão
  • 27:18 - 27:22
    que é o efeito que faz os psicodélicos mais famosos
  • 27:22 - 27:27
    mas que verdade eles passam por um intenso processo de rever a própria vida
  • 27:27 - 27:28
    como se fosse um cinema,
  • 27:28 - 27:32
    de relembrar memórias traumáticas da primeira infância
  • 27:32 - 27:35
    de quando eram bebês, coisas que eles não se lembravam
  • 27:35 - 27:39
    e de muito conteúdo emocional forte
  • 27:39 - 27:45
    Então essa imagem representa bem essa questão da alucinação
  • 27:45 - 27:49
    uma certa desorientação com uma carga emocional muito intensa
  • 27:49 - 27:54
    e que se o processo for adequadamente conduzido pelo médico,
  • 27:54 - 27:57
    apoiando o paciente, assegurando que ele está bem, de que não há efeito tóxico
  • 27:57 - 28:00
    de que ele não está em perigo,
  • 28:00 - 28:01
    é importante considerar que tudo isso
  • 28:01 - 28:04
    é muito difícil de atingir na subscultura médica
  • 28:04 - 28:08
    quando você está administrando ibogaína escondido num motel
  • 28:08 - 28:11
    preocupado se a polícia vai te encontrar e prender todo mundo
  • 28:11 - 28:14
    é muito difícil você apoiar o paciente
  • 28:14 - 28:16
    e é uma questão muito importante
  • 28:16 - 28:19
    O que pode acontecer então é uma intensa e profunda liberação emocional
  • 28:19 - 28:22
    e aí sim podem estar os efeitos terapêuticos
  • 28:22 - 28:26
    dessa prática com a ibogaína, segundo alguns autores,
  • 28:26 - 28:30
    e eu me coloco nessa linha de pensamento
  • 28:30 - 28:34
    A segunda fase então, é a fase onde já passaram os efeitos agudos,
  • 28:34 - 28:38
    que incluem também tontura, dificuldade de se movimentar e vômitos
  • 28:38 - 28:41
    com considerável frequência
  • 28:41 - 28:44
    e depois o paciente entra nessa fase intermediária
  • 28:44 - 28:49
    que aí sim começa a ser mais propícia para uma abordagem psicoterapêutica
  • 28:49 - 28:53
    a fase aguda é muito intensa, é muito difícil conversar,
  • 28:53 - 28:56
    muito difícil que eles prestem atenção no mundo exterior
  • 28:56 - 28:59
    o que está acontecendo dentro deles, a revivência das memórias é tão intensa
  • 28:59 - 29:02
    que eles ficam completamente focados neste processo
  • 29:02 - 29:05
    quase o tempo todo de olhos fechados
  • 29:05 - 29:09
    Mas essa fase intermediária pode ser muito propícia pra uma autoavaliação
  • 29:09 - 29:12
    pro paciente olhar pra si mesmo,
  • 29:12 - 29:17
    e apesar de eu não ter contato direto e experiência com pacientes dependentes
  • 29:17 - 29:19
    pelo que eu leio na literatura e converso com colegas
  • 29:19 - 29:23
    eu assumo que são pessoas que não estão muito acostumadas
  • 29:23 - 29:26
    e bem habituadas ao processo de autoavaliação
  • 29:26 - 29:29
    então esse pode ser um momento muito rico,
  • 29:29 - 29:31
    que eu acho que pode ser explorado em pesquisas futuras
  • 29:31 - 29:36
    o que se fazer e o que não se fazer nessa fase intermediária
  • 29:37 - 29:41
    e depois no fim o paciente fica então num processo bastante amplo,
  • 29:41 - 29:44
    eu trouxe esse mapa do Jung,
  • 29:44 - 29:47
    não porque eu ache que seja o mais adequado
  • 29:47 - 29:49
    mas porque representa de maneira bem ampla
  • 29:49 - 29:52
    as possibilidades de explicação que a gente tem aqui,
  • 29:52 - 29:58
    mas eu acho que o que acontece é que o paciente dependente consegue sair,
  • 29:58 - 30:03
    tirar a atenção dele exclusivamente do mundo externo e vir pro mundo interno
  • 30:03 - 30:05
    e enfrentar várias dificuldades e problemas
  • 30:05 - 30:08
    que tem ou teve ao longo da vida
  • 30:09 - 30:13
    Aí a gente chega então nesse tratamento no Brasil
  • 30:13 - 30:15
    que é um tratamento bastante interessante,
  • 30:15 - 30:17
    ele está sendo conduzido num hospital, no interior de São Paulo,
  • 30:17 - 30:21
    por um médico formado aqui na UNIFESP,
  • 30:21 - 30:24
    certificado, de maneira legalizada
  • 30:24 - 30:28
    a ibogaína farmacêutica importada de uma empresa Canadense
  • 30:28 - 30:32
    com autorização do governo, com anuência da AVISA
  • 30:32 - 30:36
    o que já é bastante diferente do uso que acontece nos EUA
  • 30:36 - 30:41
    esses pacientes passam por uma clínica de internação em Curitiba
  • 30:41 - 30:43
    eles ficam internado em Curitiba
  • 30:43 - 30:46
    e passam por uma série de processos psicoterapêuticos
  • 30:46 - 30:50
    musicoterapia, fisioterapia, terapia de grupo, terapia individual,
  • 30:50 - 30:55
    e depois eles vão pro interior de São Paulo, passam o fim de semana lá
  • 30:55 - 30:58
    onde eles recebem a ibogaína com esse médico no hospital
  • 30:58 - 31:02
    depois eles voltam pra clínica e aí tem tempos variados
  • 31:02 - 31:07
    e como é um estudo retrospectivo, veremos que tem muita variabilidade
  • 31:07 - 31:11
    mas é um contexto muito mais seguro, médico e clinicamente orientado
  • 31:11 - 31:14
    do que o que está acontecendo no exterior
  • 31:14 - 31:20
    Então em termos de abuso de drogas, essas são as principais substâncias
  • 31:20 - 31:23
    usadas e abusadas pelos pacientes que a gente estudou
  • 31:23 - 31:26
    Álcool, maconha, cocaína e crack
  • 31:26 - 31:31
    64% relatou ter uso e problemas com álcool,
  • 31:31 - 31:33
    81% com maconha
  • 31:33 - 31:35
    83% com cocaína
  • 31:35 - 31:37
    e 68% crack
  • 31:37 - 31:41
    é interessantenotar aqui que parece baixo o uso de álcool
  • 31:41 - 31:44
    e provavelmente é porque o médico, ao entrevistar estes pacientes,
  • 31:44 - 31:48
    simplesmente pergunta: "quais drogas você usou ou você usa?"
  • 31:48 - 31:53
    e eles já começam a falar direto das proibidas. Eles pulam o álcool e o cigarro
  • 31:53 - 31:57
    é muito importante termos formulários padronizados pra gente conseguir
  • 31:57 - 32:01
    ter uma noção um pouco melhor do envolvimento do álcool nesta amostra
  • 32:01 - 32:07
    uma pequena fragilidade do estudo, mas que é comum em estudos retrospectivos
  • 32:07 - 32:15
    e 72% da amostra eram poliusuários. Usavam 2, 3 ou as 4 substâncias
  • 32:15 - 32:19
    e tiveram experiências, mas aí em proporções muito pequenas,
  • 32:19 - 32:21
    com outras substâncias
  • 32:21 - 32:28
    Poucos pacientes mencionaram uso de LSD, e alguns remédios farmacêuticos
  • 32:28 - 32:31
    um paciente só fazia uso de anfetamina
  • 32:31 - 32:34
    e uma única mulher com uso de opióides, que era uma italiana
  • 32:34 - 32:37
    e que veio ao Brasil especificamente com intuito
  • 32:37 - 32:40
    de participar desse tratamento
  • 32:40 - 32:44
    então entre os brasileiros nenhum caso de uso ou abuso de opióides
  • 32:45 - 32:50
    em termos de caracterização da amostra, aqui temos a idade de início de uso
  • 32:50 - 32:53
    pra homens em azul, mulheres em vermelho
  • 32:53 - 32:58
    então aqui está a faixa dos 15 anos, 20 e 25 anos de idade
  • 32:58 - 33:02
    o álcool com início de uso em torno dos 14, 15 anos
  • 33:02 - 33:09
    maconha um pouquinho mais velho, com 15 ou 16
  • 33:09 - 33:14
    cocaína ainda um pouquinho depois e crack, na média, vindo por último
  • 33:14 - 33:17
    uma pequena escadinha aí, mas nada significativo
  • 33:17 - 33:23
    importante notar a idade mínima, que pro álcool chegou a 7 anos de idade
  • 33:23 - 33:26
    um paciente relatando que começou a beber com 7 anos
  • 33:26 - 33:30
    e me espantou também o uso de cocaína com 10 anos de idade
  • 33:30 - 33:36
    e aí quero fazer um aparte, uma opinião minha, mas se o sistema proibicionista
  • 33:36 - 33:40
    não consegue impedir uma criança de 10 anos de cheirar cocaína,
  • 33:40 - 33:44
    o problema está bem sério e a gente precisa pensar em alternativas
  • 33:44 - 33:49
    Isso é muito importante porque a questão do risco pra dependência
  • 33:49 - 33:52
    que comentei no começo, é muito associado com a idade de início
  • 33:52 - 33:54
    Começar a usar drogas muito cedo
  • 33:54 - 33:59
    é sinal de maiores chances de problemas posteriores
  • 33:59 - 34:04
    e a questão das internações anteriores também, que é muito importante
  • 34:04 - 34:06
    aqui pras mulheres e pros homens
  • 34:06 - 34:11
    a quantidade de pessoas, e a quantidade de tratamentos prévios
  • 34:11 - 34:16
    Então tem uma mulher que alegou ter 39 internações prévias
  • 34:16 - 34:21
    a gente não acredita muito nisso, mas ela diz ser fato
  • 34:21 - 34:24
    e pros homens, um número também bastante considerável,
  • 34:24 - 34:28
    gente com 10 internações prévias pra tratamento de drogas,
  • 34:28 - 34:32
    sendo a mediana pra ambos em torno dos 4 tratamentos prévios
  • 34:32 - 34:35
    muito poucos pacientes que se envolveram
  • 34:35 - 34:37
    neste tratamento com ibogaína
  • 34:37 - 34:41
    sendo esta a primeira tentativa de se tratar pra dependência
  • 34:41 - 34:45
    então são pacientes que acho que podem ser considerados graves
  • 34:45 - 34:49
    começaram muito cedo, tem várias tentativas de se recuperar fracassadas
  • 34:49 - 34:54
    e aí então eles foram recorrer ao uso da ibogaína
  • 34:54 - 34:58
    a variabilidade é uma questão que caracteriza esse estudo todo
  • 34:58 - 35:01
    então eu construí um mapa
  • 35:01 - 35:04
    uma trajetória de recuperação
  • 35:04 - 35:07
    então a gente iniciou com 75 pacientes
  • 35:07 - 35:09
    que conseguimos fazer contato pessoal com eles
  • 35:09 - 35:12
    toda vez que sobe aqui, são os pacientes
  • 35:12 - 35:14
    que não recaíram depois de uma sessão de ibogaína
  • 35:14 - 35:19
    toda vez que desce são pacientes que recaíram após aplicação da ibogaína
  • 35:19 - 35:21
    então a gente tem uma aplicação de ibogaína
  • 35:21 - 35:26
    um segunda, uma terceira aplicação de ibogaína, uma quarta, quinta
  • 35:26 - 35:30
    e assim vai, sendo que os pacientes vão deixando de tomar ibogaína
  • 35:30 - 35:33
    e o número de pacientes vai diminuindo
  • 35:33 - 35:35
    e a gente vê que tem uma série de trajetórias possíveis
  • 35:35 - 35:41
    então 75 pacientes tomam ibogaína, 22 não recaem
  • 35:41 - 35:43
    sendo que 12 param nessa etapa
  • 35:43 - 35:47
    e 10 continuam querendo fazer novas aplicações
  • 35:47 - 35:49
    então tem gente que não recai,
  • 35:49 - 35:53
    e pede e negocia com o médico uma nova sessão de ibogaína
  • 35:53 - 35:57
    também tem o oposto, 53 pacientes que recaíram depois da primeira sessão
  • 35:57 - 36:02
    29 pararam com uma sessão só, mesmo tendo recaído
  • 36:02 - 36:05
    e 24 resolveram seguir em frente
  • 36:05 - 36:09
    aí tem gente que apesar de ter recaído na primeira, não recai mais
  • 36:09 - 36:11
    tem gente que continua recaindo,
  • 36:11 - 36:14
    inclusive um paciente que vai a 9 sessões
  • 36:14 - 36:18
    ele vem a usar 9 vezes a ibogaína, com intervalos de aproximadamente 3 meses
  • 36:18 - 36:22
    entre cada sessão, e o médico foi muito cuidadoso aqui,
  • 36:22 - 36:26
    porque ele reduziu a dose pela metade a cada aplicação
  • 36:26 - 36:31
    e tem gente então que não recai, toma uma segunda vez e recai,
  • 36:31 - 36:33
    tem vários tipos de trajetórias,
  • 36:33 - 36:38
    e é um tanto difícil caracterizar isso como um grupo e fazer estatística
  • 36:38 - 36:42
    mas a gente fez, e encontramos alguns resultados bastante interessantes
  • 36:42 - 36:46
    então em termos de abstinência e recaídas
  • 36:46 - 36:49
    a gente conseguiu falar com 8 mulheres e 67 homens
  • 36:49 - 36:52
    é um pouco comum na área da dependência
  • 36:52 - 36:55
    uma predominância masculina
  • 36:55 - 36:58
    todas as mulheres foram encontradas abstinentes
  • 36:58 - 37:02
    elas relataram estar completamente abstinentes no momento do contato
  • 37:02 - 37:05
    e esse contato variou de algumas semanas
  • 37:05 - 37:09
    até 3 ou 4 anos que a pessoa tinha tomado ibogaína
  • 37:09 - 37:14
    3 ou 4 anos antes da gente fazer o contato, nós pesquisadores
  • 37:14 - 37:19
    no caso dos homens, 72% se declararam abstinentes,
  • 37:19 - 37:24
    mas 10 ou 11, não me lembro exatamente agora,
  • 37:24 - 37:27
    relataram estar fazendo outros tratamentos
  • 37:27 - 37:29
    depois de ter se tratado ou tentado se tratar com ibogaína,
  • 37:29 - 37:32
    eles ainda foram procurar outras possibilidades
  • 37:32 - 37:34
    se a gente descontar esses,
  • 37:34 - 37:39
    a gente te uma taxa de 51% dos pacientes encontrados abstinentes
  • 37:39 - 37:42
    e isso com pacientes encontrados meses
  • 37:42 - 37:45
    ou muitos anos depois da aplicação da ibogaína
  • 37:45 - 37:48
    tem paciente que com uma aplicação
  • 37:48 - 37:53
    diz estar ha 3 anos completamente abstinente
  • 37:53 - 37:58
    e tem paciente que relata estar a vários anos com uso moderado de substâncias
  • 37:58 - 38:03
    e que conseguiu por exemplo beber socialmente em eventos familiares
  • 38:03 - 38:06
    A questão de quantas sessões de ibogaína,
  • 38:06 - 38:10
    cerca de metade da amostra faz uma sessão só com ibogaína
  • 38:10 - 38:13
    mais uns 30% faz duas sessões de ibogaína
  • 38:13 - 38:16
    e uns 12% fazem 3 sessões
  • 38:16 - 38:19
    é muito raro casos que passam de 3 sessões de ibogaína
  • 38:19 - 38:21
    são fatias muito pequenas, pessoas que fizeram 4, 5
  • 38:21 - 38:29
    e um indivíduo que fez 9 vezes, sempre com metade da dose da primeira sessão
  • 38:29 - 38:32
    A questão da dose é extremamente importante
  • 38:32 - 38:36
    a dose pras mulheres foi de cerca de 12 mg/kg
  • 38:36 - 38:39
    e existe aí uma variação por 2 motivos
  • 38:39 - 38:42
    primeiro porque a ibogaína é importada e ela demora pra chegar
  • 38:42 - 38:47
    e o paciente muda de peso, enquanto ele está internado na clínica
  • 38:47 - 38:50
    e a outra questão é que o médico, de acordo com a experiência dele,
  • 38:50 - 38:56
    as vezes aplica um pequeno adicional depois de 40, 50 minutos ou uma hora
  • 38:56 - 38:59
    dependendo do estado psicológico que ele avalia o paciente
  • 38:59 - 39:03
    então tem uma pequena variação na dose, mas é muito pequena
  • 39:03 - 39:10
    pras mulheres é 12 +- 1,61 mg/kg em termos de desvio padrão
  • 39:10 - 39:15
    e pros homens é um pouco maior, de quase 15 mg/kg,
  • 39:15 - 39:19
    que está exatamente na faixa que é considerada terapêutica na literatura
  • 39:19 - 39:25
    a faixa que é usada, e está bem abaixo dos casos de toxicidade
  • 39:25 - 39:29
    tem alguns relatos de toxicidade cerebelar em animais
  • 39:29 - 39:32
    com doses acima de 100 mg/kg
  • 39:32 - 39:36
    então ele tá bem abaixo do que há evidência de toxicidade
  • 39:37 - 39:42
    em termos de recaídas então, depois da primeira sessão de ibogaína
  • 39:42 - 39:45
    depois de duas ou depois de três
  • 39:45 - 39:47
    o número de pacientes aqui vai diminuindo
  • 39:47 - 39:54
    então a gente começa com 75 pacientes, e cerca de 70% recai
  • 39:54 - 39:59
    então com uma sessão ele tem uma taxa aproximada de sucesso,
  • 39:59 - 40:01
    se considerarmos abstinência, em torno de 30%
  • 40:01 - 40:05
    com 2 sessões isso já vai pra 40%
  • 40:05 - 40:09
    e com 3 sessões chega em 60% dos pacientes
  • 40:09 - 40:14
    relatando abstinência após o fim do tratamento
  • 40:14 - 40:20
    Vou mostrar pra vocês uns histogramas, não sei se da pra ver bem no fundo,
  • 40:20 - 40:22
    mas vou tentar explicar direitinho
  • 40:22 - 40:25
    A gente tem 3 histogramas representando a mesma coisa
  • 40:25 - 40:27
    em situações diferentes
  • 40:27 - 40:29
    na vertical o número de pacientes
  • 40:29 - 40:32
    quanto maior a barra, mais pacientes
  • 40:32 - 40:38
    e na horizontal a gente tem o tempo que a pessoa está abstinente
  • 40:38 - 40:42
    Então no começo, antes da ibogaína, em vermelho, a gente vê que
  • 40:42 - 40:47
    o grupo está quase todo concentrado aqui na segunda barra,
  • 40:47 - 40:50
    em torno da primeira, segunda e terceira, que são dois meses
  • 40:50 - 40:53
    e porque dois meses de abstinência antes da ibogaína?
  • 40:53 - 40:55
    porque isso é exigido pela clínica de recuperação
  • 40:55 - 40:59
    Se não ficar internado 2 meses desintoxicando e fazendo psicoterapia
  • 40:59 - 41:02
    não pode seguir pra aplicação da ibogaína
  • 41:02 - 41:04
    então isso aparece nos resultados
  • 41:04 - 41:08
    e indica também que houve um seguimento do critério
  • 41:08 - 41:10
    com algumas excessões
  • 41:10 - 41:15
    Depois da primeira sessão de ibogaína, o que gente observa é que abaixa aqui
  • 41:15 - 41:18
    ou seja, os pacientes se esparramam mais no gráfico
  • 41:18 - 41:22
    ainda tem um tanto de gente aqui com um ou dois meses de abstinência,
  • 41:22 - 41:26
    mas aumenta muito aqui as barras em 3, 4, 5, 6 meses
  • 41:26 - 41:29
    aqui a gente tá vendo até dois anos no gráfico
  • 41:29 - 41:34
    e se a gente olhar depois de todas as sessões de ibogaína pra cada paciente
  • 41:34 - 41:38
    independente de quantas sessões cada um fez,
  • 41:38 - 41:41
    se a gente pegar OK a hora que a gente entrevistou é o fim do estudo
  • 41:41 - 41:44
    e tem gente que tomou uma, duas, três ou quatro
  • 41:44 - 41:48
    e a gente olhar pra todo mundo, a gente vê uma avanço ainda melhor
  • 41:48 - 41:52
    então em termos estatísticos, a gente sai de uma mediana de 2 meses,
  • 41:52 - 41:56
    pra uma mediana de 5 meses com uma sessão de ibogaína
  • 41:56 - 41:59
    5 meses tá acima dos 3 meses do LSD
  • 41:59 - 42:03
    e bem acima das 3 semanas com topiramato
  • 42:03 - 42:07
    e com todas as sessões que cada paciente optou por fazer
  • 42:07 - 42:10
    essa mediana sobe pra 8 meses
  • 42:10 - 42:11
    Eu acho bastante impressionante
  • 42:11 - 42:13
    acho que em poucas semanas é difícil
  • 42:13 - 42:17
    pra um paciente poder reestruturar sua vida
  • 42:17 - 42:19
    mas em 8 meses, ou talvez mais de 8 meses,
  • 42:19 - 42:22
    porque estamos falando da mediana aqui
  • 42:22 - 42:25
    eu acho que abre-se bastante espaço pra psicoterapia,
  • 42:25 - 42:28
    pra ajuda, pra apoio familiar
  • 42:28 - 42:32
    pra paciente que volta a estudar, que volta a trabalhar,
  • 42:32 - 42:38
    que são indicadores adicionais do sucesso terapêutico
  • 42:38 - 42:42
    aqui pra quem não está muito habituado com histogramas,
  • 42:42 - 42:45
    eu trouxe também as médias,
  • 42:45 - 42:47
    não é o mais adequado porque não são dados paramétricos
  • 42:47 - 42:52
    mas se a gente olhar pras médias antes do tratamento, após uma ibogaína
  • 42:52 - 42:56
    e após todas as ibogaínas que cada paciente tomou
  • 42:56 - 43:00
    e os dias de abstinência, aqui nós estamos na faixa de 60 dias,
  • 43:00 - 43:09
    aqui cerca de 5 meses, 150, e depois os 8 meses,
  • 43:09 - 43:12
    a média parecida com a mediana,
  • 43:12 - 43:17
    a gente consegue ver que está havendo um ganho em tempo de abstinência
  • 43:17 - 43:21
    pras pessoas que decidem fazer múltiplas sessões de ibogaína
  • 43:21 - 43:24
    lembrando e enfatizando que NUNCA, em nenhum caso
  • 43:24 - 43:28
    aconteceram sessões de ibogaína em dias consecutivos,
  • 43:28 - 43:31
    ou na mesma semana. O intervalo é sempre de várias semanas,
  • 43:31 - 43:35
    na maioria dos casos mais de um ou dois meses
  • 43:37 - 43:39
    Por fim, uma outra parte,
  • 43:39 - 43:44
    essa parte retrospectiva já está submetida pra publicação
  • 43:44 - 43:48
    fomos avaliados por 4 revisores que pediram 50 modificações no artigo
  • 43:48 - 43:52
    mas os 4 foram muito favoráveis à publicação
  • 43:52 - 43:55
    a gente tem esperanças de que seja publicado em breve
  • 43:55 - 43:59
    e estamos trabalhando, e aí é principalmente a parte da Angélica,
  • 43:59 - 44:02
    especialidade dela, que é uma parte muito importante
  • 44:02 - 44:04
    pra gente entender o que está acontecendo,
  • 44:04 - 44:05
    que são os relatos qualitativos
  • 44:05 - 44:07
    O que esses pcientes estão contando pra gente
  • 44:07 - 44:09
    das experiências que eles passaram tanto no uso de drogas
  • 44:09 - 44:12
    quanto no tratamento com ibogaína,
  • 44:12 - 44:15
    comparando com outros tipos de tratamento
  • 44:15 - 44:17
    então eu queria só destacar alguns trechos, espero que eu não esteja
  • 44:17 - 44:21
    excedendo muito meu tempo
  • 44:21 - 44:25
    então em relação ao tratamento, aqui é sempre a inicial do paciente,
  • 44:25 - 44:29
    gênero, se é masculino ou feminino, e a idade
  • 44:29 - 44:33
    tem um paciente que relata que "a ibogaína é uma alavanca muito grande"
  • 44:33 - 44:37
    "É como se fossem anos de tratamento, em 24 horas"
  • 44:37 - 44:41
    "Anos, tipo uns 10 anos de tratamento assim, em 24 horas"
  • 44:41 - 44:45
    "O bom é que você não sente fissura"
  • 44:45 - 44:49
    Então isso é muito importante, essa questão,
  • 44:49 - 44:53
    essa sensação de anos de tratamento com uma sessão psicodélica,
  • 44:53 - 44:56
    ela aparecia muito nos anos 50
  • 44:56 - 45:02
    nas sessões terapêuticas com LSD, esse tipo de relato era muito comum
  • 45:02 - 45:06
    "Doutor, parece que eu fiz um ano de psicoterapia em uma tarde"
  • 45:06 - 45:09
    isso volta a aparecer aqui,
  • 45:09 - 45:12
    e essa questão de que não se sente fissura é interessante
  • 45:12 - 45:16
    porque ainda não há na literatura relatos desse efeito
  • 45:16 - 45:19
    pra uma amostra que não é de uso de opióides
  • 45:19 - 45:24
    Então parece que o mesmo tipo de efeito que já é bastante presente na literatura
  • 45:24 - 45:28
    acontece também pros psicoestimulantes
  • 45:28 - 45:31
    um outro paciente, uma mulher, ela diz:
  • 45:31 - 45:34
    "A ibogaína me deixou bem centrada, né?"
  • 45:34 - 45:37
    "A ponto de eu saber o que é certo e o que é errado"
  • 45:37 - 45:41
    revelando um insight, um ganho de conhecimento
  • 45:41 - 45:44
    sobre autocontrole e tomada de decisão,
  • 45:44 - 45:47
    que é uma questão bastante importante nesses pacientes
  • 45:47 - 45:50
    que abusam de drogas
  • 45:50 - 45:53
    Mudança de atitude. O Paciente diz:
  • 45:53 - 45:56
    "eu mudei diante dos problemas. Eles sempre vão existir"
  • 45:56 - 46:00
    "então eu chego ao final do dia realmente muito grato, muito feliz"
  • 46:00 - 46:03
    O paciente percebendo que ele não pode fugir dos problemas,
  • 46:03 - 46:07
    mas ele pode mudar a atitude dele perante os problemas que ele tem
  • 46:07 - 46:11
    De novo, tomada de decisão. O paciente fala:
  • 46:11 - 46:15
    "é uma ferramenta, um freio para a consciência. Para tudo isso."
  • 46:15 - 46:20
    "mas não é... ajuda, a ibogaína ajuda, tira a fissura, diminúi a fissura"
  • 46:20 - 46:26
    "mas é você que escolhe, tudo é a escolha, né? Na vida, é só escolha"
  • 46:26 - 46:31
    De novo um relato que me parece um insight bastante proveitoso
  • 46:31 - 46:33
    Talvez seja meio óbvio pra quem olha de fora,
  • 46:33 - 46:37
    mas pros pacientes dependentes é difícil chegar nisso
  • 46:37 - 46:39
    um outro paciente diz:
  • 46:39 - 46:42
    "Você tem que estar disposto a parar"
  • 46:42 - 46:45
    E a gente acha que essa é uma citação muito importante
  • 46:45 - 46:48
    Não dá pra esperar que a ibogaína resolva por si só
  • 46:48 - 46:51
    que você vai administrar a ibogaína, o paciente vai pra casa,
  • 46:51 - 46:53
    nada acontece e no dia seguinte ele não quer mais usar drogas
  • 46:53 - 46:57
    Seria uma visão muito simplista
  • 46:57 - 46:59
    E como que eles chegam nesses insights?
  • 46:59 - 47:02
    eles tomam ibogaína e simplesmente eles tem esses insights?
  • 47:02 - 47:05
    Não. Eles passam por todo aquele processo árduo e muitas vezes doloroso
  • 47:05 - 47:08
    que eu mencionei no modelo teórico
  • 47:08 - 47:10
    e a gente vê isso nos relatos também
  • 47:10 - 47:12
    Então sobre os efeitos um paciente diz:
  • 47:12 - 47:15
    "eu num comparo com nenhum alucinógeno."
  • 47:15 - 47:18
    "Porque não é uma experiência prazeirosa, né?"
  • 47:18 - 47:23
    "É uma experiência bem forte que mexe muito com a gente, né?"
  • 47:23 - 47:25
    Um outro paciente fala de morte:
  • 47:25 - 47:28
    "A ibogaína deixou totalmente claro "
  • 47:28 - 47:31
    "que eu ia morrer se eu continuasse a usar drogas"
  • 47:31 - 47:34
    A questão da morte aparece não só como uma idéia,
  • 47:34 - 47:36
    esse paciente aqui diz o seguinte:
  • 47:36 - 47:41
    "Se tem algo infernal nesse mundo, algo que você não consegue imaginar"
  • 47:41 - 47:43
    "é a ibogaína"
  • 47:43 - 47:46
    "Eu to falando, eu já tomei tudo que tem por aí nessa vida"
  • 47:46 - 47:48
    "mas nunca algo tão forte"
  • 47:48 - 47:52
    "Então as pessoas perguntam: ibogaína pode viciar?"
  • 47:52 - 47:55
    "Não. Impossível querer usar aquilo de novo" (risos)
  • 47:55 - 47:59
    "Você toma uma vez e nunca mais vai querer ver aquilo na sua vida"
  • 47:59 - 48:04
    "Porque a sensação é que você vai morrer. Você vai morrer."
  • 48:04 - 48:07
    "Eu tomei, e durante o efeito eu pensei que eu ia morrer."
  • 48:07 - 48:12
    "Eu disse que eu ia morrer. Eu não conseguia falar. Eu queria pedir ajuda"
  • 48:12 - 48:15
    "Pedir pra parar. Tipo pára se não eu vou morrer"
  • 48:15 - 48:20
    Aí vem a questão, mas peraí, pode uma substância
  • 48:20 - 48:23
    que causa essa sensação na pessoa, ter algum efeito terapêutico?
  • 48:23 - 48:32
    Ou isso é uma prática antiética, uma agressividade e tá, digamos,
  • 48:32 - 48:35
    maximizando o sofrimento desse paciente?
  • 48:35 - 48:38
    Aí a gente tem de olhar pro processo de uma maneira completa
  • 48:38 - 48:41
    E não se trata apenas de sensação de morte,
  • 48:41 - 48:45
    mas quando a gente olha no final, esse paciente volta e fala:
  • 48:45 - 48:50
    "Mas você sai de lá diferente. Você sai sendo outra pessoa"
  • 48:50 - 48:53
    "Te digo. Eu disse isso pra minha mãe"
  • 48:53 - 48:56
    Todo mundo devia tomar ibogaína." (risos)
  • 48:56 - 49:01
    "Não só por causa do tratamento de droga. Tratar droga é uma coisa"
  • 49:01 - 49:05
    "Mas a questão do autoconhecimento e... de purificação talvez"
  • 49:05 - 49:10
    "Todo mundo devia tomar ibogaína porque você se torna outra pessoa"
  • 49:10 - 49:14
    "Você fica mesmo diferente depois de tomar a ibogaína"
  • 49:14 - 49:20
    Então esse processo psicológico de morte e renascimento
  • 49:20 - 49:23
    de fragmentação do ego, de redescoberta do eu
  • 49:23 - 49:26
    também era muito conhecido nos anos 50
  • 49:26 - 49:29
    e tem uma literatura psicológica considerável nisso,
  • 49:29 - 49:31
    envolvendo os psicodélicos,
  • 49:31 - 49:35
    e esse tipo de processo está aparecendo também em estudos feitos no exterior
  • 49:35 - 49:37
    com a psilocibina,
  • 49:37 - 49:41
    onde pacientes passam por esse mesmo tipo de processo
  • 49:41 - 49:44
    que está sendo chamado de fragmentação do ego
  • 49:44 - 49:47
    onde a pessoa começa a se desidentificar
  • 49:47 - 49:49
    com a persona com a qual ela se identifica
  • 49:49 - 49:54
    porque todos nós temos várias personas, várias máscaras sociais
  • 49:54 - 49:57
    e aí ela acha que chega numa essência,
  • 49:57 - 49:59
    e quando ela consegue fazer esse processo
  • 49:59 - 50:02
    e ela tem apoio pra interpretar isso
  • 50:02 - 50:07
    e se reavaliar e reconstruir a sua vida, ela tem muitos ganhos
  • 50:07 - 50:11
    Questão de morte e renascimento de novo, uma paciente que fala:
  • 50:11 - 50:13
    "eu vi que eu estava acabando com a minha vida"
  • 50:13 - 50:17
    "eu passei de volta pelas minhas overdoses"
  • 50:17 - 50:20
    "e eu vi que graças a Deus eu estou viva"
  • 50:20 - 50:23
    Então deve ser bastante intenso, profundo e doloroso
  • 50:23 - 50:26
    a pessoa ter essa visões de todo o conteúdo emocional
  • 50:26 - 50:29
    de todas as overdoses que ela teve na vida
  • 50:29 - 50:34
    em uma única sessão de 10 ou 12 horas dentro de um hospital
  • 50:34 - 50:37
    Questão de autoconhecimento, de novo,
  • 50:37 - 50:39
    eu gosto muito dessa frase de uma mulher
  • 50:39 - 50:41
    que ela disse o seguinte:
  • 50:41 - 50:44
    "Eu tinha essa coisa muito ruim dentro de mim"
  • 50:44 - 50:46
    "E só com a ibogaína eu consegui me livrar disto"
  • 50:46 - 50:52
    "Era uma garota pequena e triste, que vivia dentro de mim"
  • 50:52 - 50:55
    "E eu vi" - E aí ela esta falando durante a ibogaína
  • 50:55 - 50:59
    "E eu vi essa pequena garota dentro de mim, crescendo"
  • 50:59 - 51:02
    "Até ela se tornar do meu tamanho e grudar em mim"
  • 51:02 - 51:06
    "Era eu mesma crescendo e amadurecendo"
  • 51:06 - 51:10
    Acho um relato muito bonito do processo de autoconhecimento,
  • 51:10 - 51:14
    de relembrança dos problemas que essas pessoas passaram na vida
  • 51:14 - 51:16
    e de como superar isso
  • 51:16 - 51:20
    Acontecendo de dentro. O paciente tem uma sensação muito vívida
  • 51:20 - 51:24
    de que ele percebeu ou de que a ibogaína disse pra ele
  • 51:24 - 51:25
    Esse outro paciente diz:
  • 51:25 - 51:29
    "Pela primeira vez na vida eu me enxerguei sem precisar de um espelho"
  • 51:29 - 51:32
    "Eu me vi, me abracei e me beijei"
  • 51:34 - 51:38
    A questão da morte aparece também não só em relação ao próprio indivíduo,
  • 51:38 - 51:41
    mas também em relação a antepassados
  • 51:41 - 51:42
    Então esse paciente diz:
  • 51:42 - 51:44
    "Eu vi meu pai morrendo, minha mãe chorando"
  • 51:44 - 51:46
    Aí na sequência a experiência inverte
  • 51:46 - 51:51
    "Eu vi meu casamento. Meu pai ao lado. Muito bonito"
  • 51:51 - 51:53
    "Eu lembrei do meu cobertor de nenê"
  • 51:53 - 51:55
    Então ela vai de uma visão trágica do pai morrendo,
  • 51:55 - 51:59
    pruma visão bonita dela casando
  • 51:59 - 52:02
    pruma memória muito antiga dela nenê
  • 52:02 - 52:04
    e aí ela tem uma outra memória:
  • 52:04 - 52:08
    "Meu irmão sendo espancado pelo meu pai. Aí eu entendi ele"
  • 52:08 - 52:11
    Começa a perceber dinâmicas familiares, mais antigas,
  • 52:11 - 52:16
    que não dizem respeito unicamente ao paciente como indivíduo
  • 52:16 - 52:19
    Outro paciente fala de antepassados:
  • 52:19 - 52:22
    "Eu vi meus antepassados já falecidos"
  • 52:22 - 52:25
    "Que também tiveram problemas com drogas"
  • 52:25 - 52:27
    Então ele começa a perceber que o problema com drogas
  • 52:27 - 52:29
    não é algo que só ele teve, que ele inventou
  • 52:29 - 52:32
    Quanto que ele tem disso, quanto que ele aprendeu com a família
  • 52:32 - 52:34
    o quanto que esse é um problema
  • 52:34 - 52:36
    um pouco mais amplo que o comportamento só dele
  • 52:36 - 52:40
    E por fim a questão da espiritualidade, que é mencionada por alguns pacientes
  • 52:40 - 52:44
    não são muitos, mas alguns dizem coisas dessa ordem:
  • 52:44 - 52:48
    "Na realidade a ibogaína não é só um medicamento"
  • 52:48 - 52:51
    "Porque ela mexe na sua parte espiritual, sabe?"
  • 52:51 - 52:54
    "Parece como se você falasse: ACORDA"
  • 52:54 - 53:00
    "É uma força, é algo superior. Você acredita realmente, você vive aquilo"
  • 53:00 - 53:03
    E por fim, o último relato, um paciente que diz:
  • 53:03 - 53:06
    "Foi muito espiritual. Eu ainda tenho muito o que trabalhar"
  • 53:06 - 53:09
    "Mas era isso que estava faltando"
  • 53:09 - 53:12
    "Eu não tava notando o aspecto espiritual da minha vida"
  • 53:12 - 53:15
    E aí eu quero encerrar com essa citação específica,
  • 53:15 - 53:18
    porque eu gosto muito dessa questão que ele menciona
  • 53:18 - 53:21
    que eu ainda tenho muito o que trabalhar, né?
  • 53:21 - 53:23
    Que volta naquela questão que eu levantei
  • 53:23 - 53:25
    O que é um tratamento bem sucedido?
  • 53:25 - 53:30
    Uma discussão aberta eu acho, na literatura, no tema
  • 53:30 - 53:34
    porque a questão da dependência de drogas é uma questão recorrente
  • 53:34 - 53:37
    e tem pacientes que podem ficar dez anos sem usar
  • 53:37 - 53:41
    e depois eles voltam a recair e voltam a exibir novos padrões
  • 53:41 - 53:46
    e essa pessoa tem esse insight que ela ainda tem muito por fazer,
  • 53:46 - 53:50
    mas que a ibogaína deu uma ajuda considerável pra ela
  • 53:50 - 53:54
    Então obrigado, espero que a gente possa ter uma sessão de perguntas
  • 53:54 - 53:57
    e uma pequena conversa
  • 53:57 - 54:01
    Aplausos
  • 54:01 - 54:05
    [Jair Mari] Você quer conduzir? Vamos começar?
  • 54:10 - 54:13
    Perguntas?
  • 54:14 - 54:20
    Questionamentos, críticas... elogios?
  • 54:21 - 54:26
    Incômodos? Curiosidades?
  • 54:29 - 54:32
    [Estudante] Eu queria saber se tem algum estudo
  • 54:32 - 54:35
    que tem algum relato de usuário
  • 54:35 - 54:40
    em retiro de ibogaína no contexto religioso, contexto ritualístico da África
  • 54:40 - 54:42
    que é onde é mais usada. Tem algum estudo que traga isso,
  • 54:42 - 54:48
    que traga essa informação, se é prejudicial ao paciente
  • 54:48 - 54:55
    usar essas 9 vezes seguidas ou mais, caso ele faça mais uma?
  • 54:55 - 55:00
    Então, são coisas bastante distintas, né?
  • 55:00 - 55:04
    O caso de um paciente aqui que tomou 9 vezes,
  • 55:06 - 55:08
    enfatizando, de novo,
  • 55:08 - 55:12
    que após a primeira sessão a dose foi substancialmente reduzida
  • 55:12 - 55:16
    e ele ia pedindo, negociando isso com a família e com o médico
  • 55:16 - 55:19
    que ele tinha fissuras incontroláveis, e ele achava que a cada sessão
  • 55:19 - 55:23
    com dose baixa ele conseguia controlar a fissura
  • 55:23 - 55:26
    e se manter mais um pouco abstinente
  • 55:26 - 55:30
    Isso remete ao uso religioso, xamânico
  • 55:30 - 55:33
    Mas é MUITO diferente do uso que acontece na África
  • 55:33 - 55:37
    que é um uso bastante restrito, na verdade,
  • 55:37 - 55:40
    A África não é onde tem o maior uso de ibogaína, é no México
  • 55:40 - 55:42
    Na fronteira com os EUA
  • 55:42 - 55:44
    Os EUA não deixam fazer, as pessoas cruzam a fronteira e
  • 55:44 - 55:48
    pipoca clínicas no México, algumas com médicos
  • 55:48 - 55:53
    outras totalmente gerenciadas e feitas tudo por ex-dependentes
  • 55:53 - 55:58
    Ali também que se localizam alguns dos casos de fatalidade
  • 55:58 - 56:02
    Mas no uso xamânico, a dose estimada, porque a gente não tem essa precisão
  • 56:02 - 56:04
    que a gente pode ter no laboratório
  • 56:04 - 56:07
    é essa dose que seria a meia-dose
  • 56:07 - 56:10
    em vez de 15 mg,
  • 56:10 - 56:14
    no opioide chega até 20 mg/kg a dose que está se usando pra tratamento
  • 56:14 - 56:19
    e no uso xamânico estima-se que a dose seja em torno de 7 a 10 mg/kg
  • 56:20 - 56:23
    E toda a questão contextual é muito diferente
  • 56:23 - 56:27
    Aí a gente teria que mergulhar na Antropologia mesmo
  • 56:27 - 56:32
    Me encanta a antropologia, mas não sou antropólogo, não sou especialista
  • 56:32 - 56:35
    Mas a questão do contexto é fundamental, eu ia trazer um vídeo
  • 56:35 - 56:38
    Mas eu achei que era um pouco fora do tópico
  • 56:38 - 56:43
    Mas vocês podem procurar no youtube tem, um vídeo de "iboga rite"
  • 56:43 - 56:45
    com "R - I - T - E"
  • 56:45 - 56:50
    que é um vídeo do museu da cultura Gabonesa na França
  • 56:50 - 56:52
    que é um pequeno trecho de uns 3 minutos de um ritual
  • 56:52 - 56:55
    Bwiti, que é o nome da religião
  • 56:55 - 57:00
    E os caras tocando, todos pintados, aquelas câmeras que filmam no escuro
  • 57:00 - 57:02
    Preto e branco com aquela "visão noturna"
  • 57:02 - 57:07
    Mas assim, a música que eles tão tocando durante o ritual
  • 57:07 - 57:10
    e batucando e dançando e tocando cordas com a boca e com a mão
  • 57:10 - 57:15
    Um som assim, impressionante, de dar inveja em muito DJ hoje em dia
  • 57:15 - 57:19
    Muito, completamente diferente de um paciente num quarto de hospital
  • 57:19 - 57:23
    Os pacientes, muitos referem que é impossível se mexer
  • 57:23 - 57:29
    que se mexer é doloroso, que é melhor você ficar quieto de olho fechado
  • 57:29 - 57:33
    e o médico também relata muito que eles assumem posição fetal
  • 57:33 - 57:35
    na cama hospitalar
  • 57:35 - 57:38
    Entaõ tem a questão da dose, a questão do contexto
  • 57:38 - 57:41
    e a questão do comportamento das pessoas nesse uso
  • 57:41 - 57:42
    que é muito diferente
  • 57:42 - 57:45
    Provavelmente também o conteúdo psicológico é completamente diferente
  • 57:45 - 57:49
    Aqui a gente ta falando de pacientes com um problema recorrente,
  • 57:49 - 57:52
    de muitos anos, alguns com mais de 10 anos
  • 57:52 - 57:54
    com histórico de problema no uso de drogas
  • 57:54 - 57:56
    Muito diferente de você pegar outra cultura,
  • 57:56 - 57:59
    com outra língua, outra concepção, lá na África
  • 57:59 - 58:03
    Fazendo uma dança pra contactar espíritos, né?
  • 58:03 - 58:06
    [Estudante] No méxico não é ritualístico, é tratamento mesmo, clínico?
  • 58:06 - 58:10
    No México é clínica. Algumas tentam fazer algumas misturas
  • 58:10 - 58:12
    Tem alguns dependentes que se pintam
  • 58:12 - 58:16
    alguns dependentes que se recuperaram com ibogaína
  • 58:16 - 58:19
    e que agora tratam outros dependentes. Tem filme também
  • 58:19 - 58:24
    eu já vi um documentário, tem um cara bastante polêmico nos EUA
  • 58:24 - 58:27
    ele tá fazendo isso e desafiando a lei
  • 58:27 - 58:31
    Já foi preso algumas vezes e liberado
  • 58:31 - 58:34
    e ele se pinta. Depois de se tratar nessas clínicas ele quiz ir lá no Gabão
  • 58:34 - 58:39
    Ele foi, ele participou da iniciação xamânica lá
  • 58:39 - 58:42
    E aí ele faz pinturas iguais enquanto ele está tratando
  • 58:42 - 58:45
    Mas aí é uma mescla que não é o que a gente está lidando aqui
  • 58:45 - 58:47
    Aqui a gente não tá falando
  • 58:47 - 58:49
    de tratamento xamânico pra dependência de drogas
  • 58:49 - 58:52
    A gente ta tentando, o que está sendo feito, na minha visão,
  • 58:52 - 58:54
    é um tratamento farmacológico
  • 58:54 - 58:59
    e a gente ta olhando dentro de uma perspectiva biomédica, psiquiátrica
  • 58:59 - 59:02
    [Prof. Jair Mari] Então Parabéns Eduardo,
  • 59:02 - 59:04
    pela apresentação muito bem feita
  • 59:04 - 59:09
    Né, tem um baita preparo aí, um bom aluno da nossa biomedicina, aqui,
  • 59:09 - 59:14
    Welcome home, bem vindo de volta aqui na Escola
  • 59:14 - 59:17
    Então alguns comentários. Primeiro, acho que quem assistiu minha aula hoje
  • 59:17 - 59:23
    vai lembrar daquilo, ó, nos poderíamos adotar a ibogaína num tratamento?
  • 59:23 - 59:26
    Ta comprovada a eficácia da ibogaína?
  • 59:26 - 59:35
    Não está, né? Eu só vou comprovar isso se eu tiver um bom ensaio clínico
  • 59:35 - 59:38
    Tudo isso daqui é um preparo, né?
  • 59:38 - 59:41
    Essa droga é fogo, é poderosa, né?
  • 59:41 - 59:47
    Depois vou querer que você fale um pouquinho da neurociência dela
  • 59:47 - 59:50
    Mas é como se ela abrisse o hipocampo, né?
  • 59:50 - 59:55
    Como se ela abrisse as estruturas de memória,
  • 59:55 - 60:00
    enfim, seria muito interessante saber a ação
  • 60:00 - 60:07
    Então, do ponto de vista da eficácia, vou contar uma historinha do consultório
  • 60:07 - 60:12
    Tem um cara, que você deve conhecer, que dá uma vacina pra álcool
  • 60:12 - 60:15
    Aí em São José do Rio Preto, não sei, não é isso?
  • 60:15 - 60:19
    Acho que todos que trabalham com dependentes...
  • 60:19 - 60:23
    E aí o paciente quando vem pra mim, não sei se você já ouviu sobre esse cara
  • 60:23 - 60:26
    Eles vem pra mim e fala, Dr. Jair, eu quero ir tomar vacina
  • 60:26 - 60:27
    O que o senhor acha?
  • 60:27 - 60:33
    Eu falo, muito boa. Excelente. Vacina é maravilhosa.
  • 60:33 - 60:37
    Os caras vão, tomam, e ficam 3, 6 meses e alguns...
  • 60:37 - 60:41
    Poruqe eu estou falando isso?
  • 60:41 - 60:45
    Porque tem um efeito, a gente tem um efeito inespecífico,
  • 60:45 - 60:48
    importante no tratamento. Por isso que a gente precisa fazer o ensaio clínico
  • 60:48 - 60:52
    Não estou falando que aqui é efeito inespecífico
  • 60:52 - 60:54
    O que eu to falando é que existe
  • 60:54 - 60:57
    um processo de desenvolvimento de um tratamento, né?
  • 60:57 - 60:59
    E que por exemplo,
  • 60:59 - 61:04
    essa vacina tem gente que pessoalmente reage muito bem
  • 61:04 - 61:08
    Eu sou contra a adoção desse tratamento do ponto de vista científico
  • 61:08 - 61:14
    Mas do ponto de vista individual, existe o ritual de ir até São José do Rio Preto
  • 61:14 - 61:18
    pegar o avião e falar "eu vou tomar a vacina porque eu vou parar de beber"
  • 61:18 - 61:21
    Não é? E isso ajuda.
  • 61:21 - 61:26
    E eu não sou contra de chegar e falar pro cara que não existe eficácia
  • 61:26 - 61:27
    Então o que eu quero dizer
  • 61:27 - 61:31
    é que muitas vezes o ritual também contribui pro tratamento
  • 61:31 - 61:38
    e que é exatamente o ensaio clínico, ele vem pra você tirar o efeito
  • 61:38 - 61:43
    do ritual e da cerimônia
  • 61:43 - 61:49
    Agora, essa droga é poderosa, então é muito importante que se faça
  • 61:49 - 61:53
    o ensaio clínico pra que você possa de fato comparar
  • 61:53 - 61:55
    ver os aspectos de segurança
  • 61:55 - 61:59
    Pode ter efeito cardiológico, pode ter morte súbita,
  • 61:59 - 62:04
    Pode ter prolongamento do QT, e isso da parada cardíaca
  • 62:04 - 62:07
    Então tem que estudar todos os efeitos
  • 62:07 - 62:12
    e estudar e avaliar com um bom ensaio clínico
  • 62:12 - 62:13
    Com certeza
  • 62:13 - 62:18
    E a outra pergunta é, isso é um extrato, são várias drogas juntas?
  • 62:18 - 62:23
    Ou é que nem, a marijuana, né, tem várias drogas
  • 62:23 - 62:26
    Então o canabidiol, tem essa baita confusão,
  • 62:26 - 62:29
    Ah, tão usando maconha pra tratamento?
  • 62:29 - 62:34
    O canabidiol é uma das drogas da maconha
  • 62:34 - 62:37
    que não é o THC, não é a droga que dá barato
  • 62:37 - 62:41
    O canabidiol é uma droga que acalma, que é um tranquilizante
  • 62:41 - 62:44
    Então é isso que tão pesquisando, tem até hoje na USP
  • 62:44 - 62:46
    O pessoal de Ribeirão Preto, né?
  • 62:46 - 62:52
    O Crippa, eles tem pesquisado bastante o efeito do canabidiol
  • 62:52 - 62:58
    Mas quer dizer, a marijuana, a cannabis tem 60 drogas, 50 a 60 drogas
  • 62:58 - 63:02
    Na ibogaína é um extrato, como é que é?
  • 63:02 - 63:10
    São duas perguntas, é a molécula, o extrato tem somente a molécula?
  • 63:10 - 63:21
    E que evidências tem de neuroimagem, de neurociências, né?
  • 63:21 - 63:22
    Obrigado
  • 63:22 - 63:25
    Vou de trás pra frente
  • 63:25 - 63:32
    A iboga contém, talvez, cerca de doze alcalóides, a planta
  • 63:32 - 63:36
    E isso é muito pouco explorado
  • 63:36 - 63:40
    No caso deste tratamento que a gente avaliou aqui no Brasil
  • 63:40 - 63:45
    Que estamos tentando publicar, unicamente o hidrocloreto de ibogaína
  • 63:45 - 63:48
    Sintetizado por uma farmacêutica no Canadá
  • 63:48 - 63:57
    Importado legalmente com pureza 98-99%, fármaco medicinal
  • 63:57 - 64:01
    dentro das regulamentações internacionais
  • 64:01 - 64:05
    Diferente do que acontece em outros lugares, no México por exemplo
  • 64:05 - 64:09
    extratos, pedaços de raiz, pó marrom
  • 64:09 - 64:14
    tudo isso é maximização de danos
  • 64:14 - 64:16
    Eu acho que um resultado muito importante do nosso estudo
  • 64:16 - 64:19
    é que não houve nenhuma fatalidade
  • 64:19 - 64:21
    E isso atesta pela importância
  • 64:21 - 64:23
    de não se proibir o tratamento
  • 64:23 - 64:26
    sendo feito por médicos em contextos hospitalares
  • 64:26 - 64:28
    Porque quando você proíbe essa condição,
  • 64:28 - 64:31
    você gera estímulos pra subcultura médica
  • 64:31 - 64:35
    e aí você está maximizando riscos e danos
  • 64:35 - 64:38
    como a gente já viu na literatura
  • 64:39 - 64:44
    Quanto á questão neurocientífica, não sabemos absolutamente nada
  • 64:44 - 64:52
    Ninguém nunca fez neuroimagem, EEG, SPECT, MEG sobre ibogaína
  • 64:52 - 64:54
    Nós estamos propondo fazer isso pela primeira vez
  • 64:54 - 64:59
    Nós estamos escrevendo um projeto, pra fazer um estudo de acompanhamento
  • 64:59 - 65:02
    "follow-up" com pacientes por 12 meses
  • 65:02 - 65:07
    Então já pegar esses pacientes antes de tomarem ibogaína e já começar
  • 65:07 - 65:10
    acompanhando antes, fazer o acompanhamento por um mês,
  • 65:10 - 65:13
    que é a especialidade da Angélica, que é psicóloga
  • 65:13 - 65:16
    e a minha parte, com o Dartiu coordenando, e a minha parte,
  • 65:16 - 65:22
    inclusive também com participação do Luís Fernando Tófoli, da UNICAMP
  • 65:22 - 65:29
    é fazer o EEG, eletroencefalograma, antes e durante o efeito da ibogaína
  • 65:29 - 65:30
    pelo menos durante as primeiras 4 horas
  • 65:30 - 65:36
    mais do que isso é muito complicado e quase impossível manter o sinal de EEG
  • 65:36 - 65:42
    e coletando sangue pra avaliar metabolização. Sangue e urina
  • 65:42 - 65:44
    Seria um estudo bastante inovador, muito importante,
  • 65:44 - 65:46
    fazendo também o eletrocardiograma
  • 65:46 - 65:50
    Acho interessantíssima a sua hipótese sobre o hipocampo
  • 65:50 - 65:52
    Acho que deve ter coisas ali,
  • 65:52 - 65:58
    o EEG infelizmente não vai permitir a gente avaliar isso, o EEG é superficial
  • 65:58 - 66:03
    existe algumas técnicas de determinação de fonte profunda no EEG
  • 66:03 - 66:05
    que a gente pode tentar fazer com o equipamento que a gente já tem
  • 66:05 - 66:09
    que foi adquridio pela FAPESP pro meu pós-doutorado com ayahuasca
  • 66:09 - 66:12
    Dá pra dizer algumas coisas mas é frágil
  • 66:12 - 66:15
    O ideal seria neuroimagem
  • 66:15 - 66:17
    Mas aí pra você fazer ibogaína dentro da neuroimagem
  • 66:17 - 66:22
    talvez impossível, em pacientes, técnicamente, metodologicamente
  • 66:22 - 66:24
    Mas acho interessantíssimo
  • 66:24 - 66:28
    Rapidamente sobre hipocampo, muito interessante que tem pesquisas recentes
  • 66:28 - 66:32
    sendo feitas em Londres, no Imperial College,
  • 66:32 - 66:35
    com a psilocibina, nos últimos 5 ou 6 anos
  • 66:35 - 66:37
    neuroimagem e magnetoencefalografia (MEG)
  • 66:37 - 66:42
    e eles tem uns resultados bastante inesperados
  • 66:42 - 66:46
    de que essa expansão da consciência ela se revelou na neuroimagem
  • 66:46 - 66:51
    como redução da atividade de muitas áreas cerebrais
  • 66:51 - 66:54
    e a espectativa era do contrário, de aumento da atividade cerebral
  • 66:54 - 66:58
    pra gerar mais visões, mais memórias, ou inclusive alucinações
  • 66:58 - 67:02
    que seriam, pra você ter uma alucinação, a idéia seria de que o seu cérebro
  • 67:02 - 67:06
    ta fazendo algo extra, e aí você percebe algo que não há, no mundo externo
  • 67:06 - 67:09
    E os resultados mostraram o oposto
  • 67:09 - 67:10
    No EEG também,
  • 67:10 - 67:14
    redução da amplitude das ondas cerebrais em várias frequências
  • 67:14 - 67:17
    com excessão do hipocampo, na psilocibina
  • 67:17 - 67:20
    Que provavelmente vai ser o próximo artigo que eles vão publicar
  • 67:20 - 67:22
    Ainda não ta publicado em artigo,
  • 67:22 - 67:24
    mas já foi apresentado em conferência internacional
  • 67:24 - 67:27
    Então acho que você ta bem na... no
  • 67:27 - 67:28
    [Jair Mari] No target
  • 67:28 - 67:31
    É, no alvo, acho que é bem por aí
  • 67:33 - 67:36
    [Professor] Duas perguntas, primeira é
  • 67:36 - 67:40
    Você disse que antes do indivíduo ser internado
  • 67:40 - 67:45
    pra ser administrada a ibogaína
  • 67:45 - 67:50
    ele passa dois meses numa clínica, num processo de desintoxicação
  • 67:50 - 67:55
    mas não apenas de desintoxicação, mas de terapias etc e tal
  • 67:55 - 68:00
    Pra esses indivíduos que tomaram a ibogaína mais de uma vez
  • 68:00 - 68:05
    antes de cada administração havia essa reclusão de dois meses?
  • 68:05 - 68:07
    Essa é uma pergunta
  • 68:07 - 68:14
    A segunda pergunta é: Você apresentou o artigo sobre a questão de fatalidades
  • 68:14 - 68:20
    Você citou que não houve fatalidades dentre esses 75 pacientes que foram
  • 68:20 - 68:25
    submetidos a essa intervenção,
  • 68:25 - 68:28
    mas eu queria saber a respeito de efeitos adversos observados
  • 68:28 - 68:30
    dentre esses 75 pacientes,
  • 68:30 - 68:34
    particularmente se houve caso de surto psicótico,
  • 68:34 - 68:36
    de desencadeamento de surto psicótico,
  • 68:36 - 68:39
    mas quaisquer tipo de ocorrência de efeitos adversos
  • 68:39 - 68:41
    gostaria que você comentasse um pouco sobre isso
  • 68:41 - 68:45
    Ta. A primeira pergunta?
  • 68:45 - 68:47
    Se a cada vez o cara ficava internado... Ah sim
  • 68:47 - 68:53
    Não. Isso não ficou claro na verdade nos dados fornecidos.
  • 68:53 - 68:55
    Na verdade esse foi um protocolo em desenvolvimento,
  • 68:55 - 69:00
    eles começaram a trabalhar com ibogaína ha pouco mais de 10 anos atrás
  • 69:00 - 69:04
    De uma maneira bastante experimental, empírica
  • 69:04 - 69:09
    Esse médico, ele conheceu aquele paciente, o Howard Lotsoff
  • 69:09 - 69:11
    em um congresso internacional, e ele se encantou pela história
  • 69:11 - 69:14
    começou a estudar a literatura, conheceu outras pessoas nos EUA
  • 69:14 - 69:18
    e resolveu tentar. E esse protocolo foi sendo desenvolvido ao longo do tempo
  • 69:18 - 69:21
    Então no começo era um mês de internação na clínica
  • 69:21 - 69:24
    nos primeiros anos, isso depois mudou em algum ponto,
  • 69:24 - 69:26
    que eles também não foram precisos
  • 69:26 - 69:28
    em que momento em que adotaram os 2 meses
  • 69:28 - 69:31
    por isso também que a gente vê alguma variabilidade ali
  • 69:31 - 69:34
    pacientes mais antigos ficavam menos tempo
  • 69:34 - 69:38
    Quando volta pra uma segunda ou outras sessões
  • 69:38 - 69:41
    Aí é muito caso a caso
  • 69:41 - 69:46
    Tem paciente que cria um vínculo terapêutico muito forte com a clínica
  • 69:46 - 69:48
    e volta pra clínica, e não necessariamente fica dois meses,
  • 69:48 - 69:51
    mas fica mais semanas lá, se tratando lá
  • 69:51 - 69:53
    tem paciente que não gosta da clínica
  • 69:53 - 69:57
    e aí negocia direto com o médico e busca psicoterapia em outro lugar
  • 69:57 - 70:00
    com outro profissional em outra clínica
  • 70:00 - 70:03
    Então nas administrações subsequentes
  • 70:03 - 70:07
    a coisa é menos estruturada do que na primeira vez
  • 70:07 - 70:09
    [Professor] Ou seja, não é garantido
  • 70:09 - 70:12
    que o paciente estivesse abstinente do uso de drogas?
  • 70:12 - 70:18
    O médico faz o toxicológico de urina, na manhã antes de aplicar ibogaína
  • 70:19 - 70:22
    E ele já dispensou pacientes e já mandou de volta pra casa
  • 70:22 - 70:26
    pacientes que foram pegos no exame de urina na manhã do sábado
  • 70:26 - 70:31
    É sempre administrado de manhã, e eles ficam o sábado todo na experiência
  • 70:31 - 70:34
    e dormem no hospital
  • 70:34 - 70:37
    e são dispensados ou domingo de manhã ou domingo a noite
  • 70:37 - 70:40
    dependendo de cada caso, da avaliação clínica
  • 70:40 - 70:43
    A questão dos efeitos adversos,
  • 70:43 - 70:49
    não tenho conhecimento de nenhum caso de surto psicótico nesses pacientes
  • 70:49 - 70:52
    que tenha sido documentado. A amostra é de mais de 75
  • 70:52 - 70:54
    Eles passaram uma lista de pacientes
  • 70:54 - 70:58
    mas muitos a gente não conseguiu encontrar
  • 70:58 - 71:01
    então a gente ta trabalhando dentro dos 75 que a gente conseguiu encontrar
  • 71:01 - 71:06
    esses dados de recaída, de lapso, idade de início, foi tudo levantado por nós
  • 71:06 - 71:10
    A gente fez questão dessa independência e desse rigor
  • 71:10 - 71:13
    que a gente pudesse ter acesso a fonte original, que são os pacientes
  • 71:13 - 71:18
    Não encontramos nenhum caso de fatalidade
  • 71:18 - 71:22
    também nos pacientes que foram passados
  • 71:22 - 71:26
    E de surto psicótico talvez a Angélica possa comentar alguma coisa
  • 71:26 - 71:28
    [Angélica Comis] É, na amostra entrevistada
  • 71:28 - 71:30
    a gente não teve nenhum relato
  • 71:30 - 71:34
    mas a gente sabe que tem alguns profissionais que já atenderam pacientes
  • 71:34 - 71:38
    que passaram pelo procedimento e, né, tiveram algum episódio
  • 71:38 - 71:42
    mas que não se prolongou, então pode ter sido um episódio induzido
  • 71:42 - 71:48
    normalmente os pacientes que desenvolveram algum episódio
  • 71:48 - 71:50
    psicótico eram pacientes com antecedentes já,
  • 71:50 - 71:55
    de transtorno bipolar ou algum outro transtorno
  • 71:55 - 71:59
    [Prof. Jair Mari] E "bad-trip"? Não tem bad-trip? Porque no LSD
  • 71:59 - 72:01
    nós sabemos bem, não é?
  • 72:01 - 72:04
    Tem pessoas em que é maravilhosa a viagem,
  • 72:04 - 72:06
    e tem pessoas que tem o "bad-trip"
  • 72:06 - 72:09
    [Angélica Comis] Tem nos relatos uma bad-trip, é terrível
  • 72:09 - 72:12
    durante, porque é justamente o momento que você entra em contato
  • 72:12 - 72:16
    com as suas dificuldades e os seus demônios
  • 72:16 - 72:18
    E é considerado como uma bad-trip
  • 72:18 - 72:23
    Mas é comum chegar nesse momento de redenção
  • 72:23 - 72:28
    Passa pela experiência mais difícil e retoma pra redenção
  • 72:28 - 72:33
    E isso, alguns relatam que é um efeito adverso, porque foi chato e ruim
  • 72:33 - 72:37
    Mas no final eles acabam voltando um pouco atrás
  • 72:37 - 72:39
    Então, mas isso remete de volta, eu queria comentar um pouquinho mais
  • 72:39 - 72:41
    a questão dos efeitos adversos
  • 72:41 - 72:44
    a gente não identificou nenhum efeito adverso grave
  • 72:44 - 72:50
    mas essa foi uma das críticas dos "reviewers" do nosso paper
  • 72:50 - 72:55
    pra gente elaborar mais essa questão, e a gente já resubmeteu a segunda versão
  • 72:55 - 73:03
    efeitos adversos como vômitos, ataxia, é, principalmente vômito e ataxia
  • 73:03 - 73:07
    Nada prolongado, nenhum caso de ataxia persistente, que poderia ser
  • 73:07 - 73:09
    algum indicativo de toxicidade cerebelar
  • 73:09 - 73:13
    nada nesse sentido, e também a questão da dose
  • 73:13 - 73:16
    que na toxicidade cerebelar tá acima de 100 mg/kg
  • 73:16 - 73:21
    mais de dez vezes, oito nove vezes o que ta sendo lidado aí
  • 73:21 - 73:25
    Aí tem essa questão do que é um efeito adverso?
  • 73:25 - 73:31
    Em termos da percepção do paciente e em termos do propósito do tratamento
  • 73:31 - 73:36
    Se a gente ta falando de um paciente psiquiátrico, com histórico problemático
  • 73:36 - 73:40
    e essas pessoas não tem problema só porque elas usam droga,
  • 73:40 - 73:43
    mas elas têm uma série de problemas de relações humanas,
  • 73:43 - 73:46
    com seus círculos sociais
  • 73:46 - 73:52
    Então será que relembrar isso, refletir sobre isso, por mais doloroso que seja
  • 73:52 - 73:56
    é adverso? Certamente não é prazeiroso
  • 73:56 - 73:58
    Mas pode ser terapêutico
  • 73:58 - 74:03
    O próprio processo psicoterapêutico sem ibogaína pode ser muito doloroso
  • 74:03 - 74:06
    Mas a gente não chama isso de "bad-trip"
  • 74:06 - 74:12
    O próprio conceito de bad-trip surgiu após as pesquisas clínicas
  • 74:12 - 74:15
    com o uso recreativo. E aí faz todo o sentido
  • 74:15 - 74:17
    A pessoa que quer se divertir tomando uma substância
  • 74:17 - 74:20
    quando ela revisita memórias traumáticas, ela se assusta,
  • 74:20 - 74:25
    ela fala "Não era isso que eu queria. Ah acho tomei uma droga intoxicada"
  • 74:25 - 74:29
    "Tomei outra droga" começa a inventar um monte de explicação
  • 74:29 - 74:31
    pro que está acontecendo com ela
  • 74:31 - 74:35
    Mas se a pessoa chegar lá com o propósito terapêutico, com apoio clínico
  • 74:35 - 74:39
    Pra olhar pra essas questões, pra mergulhar nesse material
  • 74:39 - 74:43
    e tentar entender porque ela ta fazendo tanta besteira com o uso de drogas
  • 74:43 - 74:45
    e porque ta tudo tão difícil, né?
  • 74:45 - 74:50
    Clinicamente eu acho que seria um equívoco chamar isso de "bad-trip"
  • 74:50 - 74:56
    E isso foi discutido extensivamente nos congressos recentes na Califórnia
  • 74:56 - 74:59
    Nos últimos 3 anos tiveram 3 conferências seguidas na Califórnia
  • 74:59 - 75:03
    Exclusivamente sobre ciência psicodélica
  • 75:03 - 75:06
    E a última tomou uma proporção bastante grande,
  • 75:06 - 75:08
    com mais gente do que na FeSBE,
  • 75:08 - 75:12
    que reúne todas as sociedades de biologia experimental do Brasil
  • 75:12 - 75:16
    então o interesse ta crescendo, essa é uma questão bastante atual
  • 75:16 - 75:18
    eu não chamaria de "bad-trip"
  • 75:18 - 75:20
    [Prof. Jair Mari] Bem procedente, acho que a explicação é muito boa
  • 75:20 - 75:21
    Ta correto
  • 75:21 - 75:24
    E eu acho que é difícil, é duro, é doloroso, é sofrido
  • 75:24 - 75:28
    eles relatam isso, mas muitos conseguem perceber
  • 75:28 - 75:32
    o que eles ganharam com isso, no final, se esse processo se completa
  • 75:32 - 75:38
    e uma das esperanças nossas é, no follow-up, conseguir identificar
  • 75:38 - 75:40
    os pacientes que conseguem completar
  • 75:40 - 75:43
    e os que não conseguem completar o processo
  • 75:43 - 75:45
    e tentar começar a elaborar maneiras
  • 75:45 - 75:48
    de tentar ajudar os que não conseguem, a tirar benefícios
  • 75:48 - 75:50
    dessa, digamos abertura do hipocampo
  • 75:50 - 75:53
    que talvez venha acompanhada duma ativação da amígdala
  • 75:53 - 75:55
    E aí bum
  • 75:55 - 75:58
    [Prof. Jair Mari] É, deve ser uma experiência emocional muito forte
  • 75:58 - 76:04
    pode ser próxima ao pânico, essa sensação de morte, né?
  • 76:04 - 76:07
    deve ter uma ativação adrenérgica
  • 76:07 - 76:09
    O médico fica lá presente o tempo todo,
  • 76:09 - 76:11
    ele visita os pacientes de meia em meia hora
  • 76:11 - 76:14
    ele tira pressão, mede saturação de oxigênio,
  • 76:14 - 76:17
    e reafirma esses pacientes que tá seguro
  • 76:17 - 76:22
    Tem um psiquiatra ainda vivo, tá com 84 anos, chama Stanislav Grof
  • 76:22 - 76:27
    e ele foi, ainda é né, o maior expert sobre uso clínico de LSD
  • 76:27 - 76:32
    ele fez mais de 2 mil sessões clínicas de LSD antes da proibição
  • 76:32 - 76:34
    na Europa e nos EUA
  • 76:34 - 76:37
    e ele tem uma anedota que eu acho muito interessante
  • 76:37 - 76:42
    ele fala que certa vez um paciente ligou pra ele, naquela época, que ele fazia
  • 76:42 - 76:45
    terapia com ajuda do LSD, e o paciente falou:
  • 76:45 - 76:48
    "Doutor eu quero me matar, eu preciso me matar, eu tenho que me matar"
  • 76:48 - 76:50
    E aí ele respondeu:
  • 76:50 - 76:53
    "Eu posso te ajudar com isso, mas vamos deixar o corpo fora dessa"
  • 76:53 - 76:58
    Então essa coisa da morte e renascimento no nível psicológico
  • 76:58 - 77:01
    Eu vou ajudar você a se desconstruir e se reconstruir
  • 77:01 - 77:06
    que traz essa sensação de morte, mas não no nível físico
  • 77:06 - 77:11
    não morte de fato, mas uma morte metafórica, psicológica
  • 77:11 - 77:15
    [Angélica Comis] Só colocar uma coisa, quando o próprio médico
  • 77:15 - 77:18
    que acompanha de meia em meia hora percebe esse sofrimento
  • 77:18 - 77:27
    e muitas vezes o paciente verbaliza, ele faz a medição da frequência cardíaca
  • 77:27 - 77:30
    e fala, "ta tudo bem", porque as vezes é só a sensação do indivíduo
  • 77:30 - 77:33
    então o fato de ter alguém acompanhando
  • 77:33 - 77:36
    e acalmar faz toda a diferença também
  • 77:37 - 77:41
    [Professora] Você mencionou um pouco
  • 77:41 - 77:47
    essa questão da sensação de quase morte, mas tem uns relatos ali no final
  • 77:47 - 77:55
    muito fortes, né? Então eu queria pensar um pouco como é que a gente podia
  • 77:55 - 78:01
    correlacionar também com outros momentos onde há uma sensação
  • 78:01 - 78:06
    do paciente de quase morte, e depois uma mudança de comportamento
  • 78:06 - 78:12
    Por exemplo, em UTIs, as vezes quando você tem paciente durante longo tempo
  • 78:12 - 78:16
    que passaram por situações de quase morte,
  • 78:16 - 78:18
    e ficaram longos tempos internados
  • 78:18 - 78:26
    eles saem com mudanças profundas em atitude diante da vida,
  • 78:26 - 78:33
    em propostas e coisas assim, que é um outro grupo que teve uma vivência de
  • 78:33 - 78:38
    quase morte e que a gente vê que muda
  • 78:38 - 78:42
    Queria saber como é que vocês poderiam juntar aí,
  • 78:42 - 78:45
    como ver isso não do ponto de vista farmacológico,
  • 78:45 - 78:49
    mas do ponto de vista da experiência de quase morte
  • 78:49 - 78:54
    Eu acho que é uma área bastante interessante de pesquisa,
  • 78:54 - 78:57
    obrigado por trazer essa questão desde uma perspectiva mais ampla
  • 78:57 - 79:04
    Ela começa a ganhar foco e interesse na neurociência nos últimos anos
  • 79:04 - 79:09
    já tem até sigla, que é NDE - Near Death Experience
  • 79:09 - 79:13
    tem algumas tentativas de induzir isso em laboratório,
  • 79:13 - 79:16
    ou de estudar as pessoas que estão passando por isso
  • 79:16 - 79:18
    pessoas acidentadas e tudo,
  • 79:18 - 79:22
    e tem uma literatura psicológica bastante interessante também
  • 79:22 - 79:28
    e é muito curioso, que tem alguns paralelos experienciais
  • 79:28 - 79:33
    que existe essa coisa de que as pessoas que passam por processos
  • 79:33 - 79:37
    de quase morte, tem paradas cardíacas e são resucitadas em hospital
  • 79:37 - 79:40
    elas relatam ter esse processo
  • 79:40 - 79:44
    de intensa rememoração da sua história de vida
  • 79:44 - 79:50
    desde que nasceram, aquela, existe isso entre os leigos né,
  • 79:50 - 79:54
    de que quando a gente morre a gente vê um filme, curta metragem da nossa vida
  • 79:54 - 79:59
    em alta velocidade, parece que é fato mesmo, bastante evidência psicológica
  • 79:59 - 80:03
    oriunda de hospitais e que parece ter um paralelo aí
  • 80:03 - 80:09
    e aí existe uma teoria que é bastante curiosa mas ainda longe
  • 80:09 - 80:12
    de substanciada por evidência científica
  • 80:12 - 80:15
    de que a DMT, que é um dos principais psicodélicos
  • 80:15 - 80:18
    ela é, e nesse caso é um fato científico,
  • 80:18 - 80:21
    a gente tem DMT dentro dos nossos corpos
  • 80:21 - 80:24
    A gente produz principalmente nos pulmões,
  • 80:24 - 80:27
    mas também provavelmente no cérebro
  • 80:27 - 80:30
    e a gente não tem a menor idéia de pra que serve essa DMT endógena
  • 80:30 - 80:32
    quando que ela é liberada,
  • 80:32 - 80:35
    e tem uma série de desafios metodológicos a serem superados
  • 80:35 - 80:41
    mas aí tem uma teoria de que haja uma participação da DMT na hora da morte
  • 80:41 - 80:46
    e aí teria um link, um elo entre as experiências durante a ibogaína
  • 80:46 - 80:50
    ou durante o LSD com os relatos das pessoas
  • 80:50 - 80:52
    que passaram por experiências de quase morte
  • 80:52 - 80:57
    Agora porque que é assim? Tremendo mistério né?
  • 80:57 - 81:04
    Agora o benefício, acho que o benefício pro paciente, do ponto de vista clínico
  • 81:04 - 81:06
    a gente poderia elaborar de várias maneiras,
  • 81:06 - 81:11
    talvez o Dartiu e a Angélica possam contribuir mais do que eu nessa parte
  • 81:11 - 81:17
    mas eu acho que é um fato central na nossa psique
  • 81:17 - 81:24
    que a gente vive o nosso dia a dia negando, excluindo a nossa mortalidade
  • 81:24 - 81:28
    A gente leva o dia a dia como se fôssemos imortais
  • 81:28 - 81:30
    A gente não fica lidando com esse fato, é muito doloroso,
  • 81:30 - 81:33
    é muito difícil pra ficar falando disso toda hora
  • 81:33 - 81:34
    [Prof. Jair Mari] Ainda bem, né Eduardo?
  • 81:34 - 81:35
    (Risos)
  • 81:35 - 81:37
    Melhor que a gente consiga deixar ele na gaveta
  • 81:37 - 81:39
    e mexer nisso só de vez em quando
  • 81:39 - 81:40
    Ou pra muita gente, nunca.
  • 81:40 - 81:46
    E aí tem esse ganho que a pessoa, quando ela toma essa percepção
  • 81:46 - 81:51
    dela criar uma valorização de cada momento, de cada relação
  • 81:51 - 81:54
    de cada refeição, de cada prazer da vida
  • 81:54 - 81:56
    como meu, como é bom estar aqui
  • 81:56 - 81:58
    eu quase deixei de estar aqui
  • 81:58 - 82:03
    agora a salada, que é trivial, o cara olha praquilo como se fosse a primeira salada
  • 82:03 - 82:05
    e uma salada muito especial
  • 82:05 - 82:07
    Porque ele quase perdeu
  • 82:07 - 82:10
    Então tem essa relação do que a gente atribui valor
  • 82:10 - 82:13
    de acordo com o que a gente tem, com o risco de perder aquilo,
  • 82:13 - 82:18
    ou se a gente já perdeu a gente aprende a apreciar um pouco o que a gente tinha
  • 82:18 - 82:22
    quando a gente perde, então acho que tem esse jogo psicológico
  • 82:22 - 82:24
    dentro da experiência de quase morte
  • 82:25 - 82:30
    Para saber mais: www.plantandoconsciencia.org
Title:
Resultados ibogaina edu
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Video Language:
Portuguese, Brazilian
Duration:
01:22:31

Portuguese, Brazilian subtitles

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