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Apresenta
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Ibogaína no tratamento da dependência de drogas
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Bom dia pra todo mundo,
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pra quem não me conhece eu sou o Dartiu
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Quem vai apresentar hoje, na reunião do PROAD, é o Eduardo Schenberg
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O Eduardo faz pós-doc comigo,
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dentro de uma linha de pesquisas que a gente tem no PROAD
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que é com psicodislépticos, ou substâncias psicodélicas
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Na verdade o que ele ta apresentando hoje é um trabalho nosso
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que não tem a ver com o pós-doc dele.
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O pós-doc dele é ayahuasca
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registro eletroencefalográfico de voluntários sob efeito da ayahuasca
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que já está em fase de término
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Mas este é um outro estudo em paralelo que foi feito com ibogaína,
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e bom, eu não vou falar, se não tira a surpresa
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Você quer se apresentar?
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[platéia] Fala um pouco da carreira do Eduardo, ele fez biomedicina aqui
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Fala você... ele não lembra (risos)
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Bom dia, obrigado pela presença de todos,
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obrigado Dartiu pelo convite e oportunidade de apresentar aqui
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Eu sou biomédico, formado aqui na UNIFESP
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e fiz mestrado aqui na psicobiologia
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trabalhando com psicofarmacologia da memória em modelos animais
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Depois eu achei que era hora de novos ares e contatos
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e fui fazer doutorado na USP
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E eu fiz o doutorado dentro da rede de colaborações do Prof. Miguel Nicolelis
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Eles tiveram um laboratório no Hospital Sírio Libanês, eu trabalhei lá 5 anos
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com esses eletrodos que ele usa pra registrar neurônios do rato
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e fiz minha tese em cima do ciclo sono-vigília do rato
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E aí, terminada a tese, terminado o longo e árduo processo de Doutorado,
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eu achei que estava na hora de mudar de novo de ares,
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e eu estava querendo algo mais próximo, digamos, da vida real
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algo que chegasse mais próximo das pessoas e que eu sentisse um impacto
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um retorno pra sociedade no que eu estava fazendo
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A ciência básica é super importante,
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mas as vezes a gente fica um tanto distanciado
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E eu tenho muito interesse nessas substâncias,
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que minha terminologia preferida são os psicodélicos
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que inclui o LSD, a mescalina, a psilocibina e a DMT, principalmente
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E as plantas que as contém, principalmente a ayahuasca
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e no caso hoje vou falar da iboga e da ibogaína.
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Eu tinha muito interesse nessa parte de pesquisa,
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acho que é uma linha de pesquisa que está esquecida
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desde a proibição no final dos anos 60
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e que está renascendo agora, com muita força, alguns artigos muito importantes
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inclusive na Nature Reviews Neuroscience
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atestando que a biomedicina, a medicina, psiquiatria e psicologia deveriam
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voltar a olhar pra essas substâncias, entender melhor o que elas fazem
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e se elas tem potenciais terapêuticos, de como usar isso de maneira benéfica
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Então aí vem essa pesquisa sobre ibogaína,
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que foi coordenada pelo Prof. Dartiu,
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foi conduzida por mim e pela Angélica
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minha colega psicóloga aqui
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Em parceria com o Dr. Bruno Rasmussen Chaves,
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que é um médico formado aqui na UNIFESP também
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e ele é o responsável por fazer
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tratamento de dependência química
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administrando ibogaína farmacêutica que ele importa
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com autorização da ANVISA
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Então, pra evitar qualquer tipo de confusão institucional,
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eu quero começar ressaltando
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que o estudo foi aprovado no Comitê de Ética da UNIFESP
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Mas isso não quer dizer que foram aprovadas
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quaisquer metodologias do tratamento.
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O tratamento foi feito prévio, e é um estudo retrospectivo
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Então a gente recebeu material clínico, fornecido por este médico
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que eu acho muito bacana o que ele fez,
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ele abriu bastante os seus dados
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e a gente pode acessar o que aconteceu com esses pacientes
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A gente pode entrevistar pacientes, tanto a Angélica quanto eu,
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e levantar dados de recaída, recuperação ou não-recuperação
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o que aconteceu com esses pacientes, o que acontece na ibogaína,
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como é esse tratamento, se ele é seguro e também se ele é eficaz
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E aí são duas coisas que eu queria pedir
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que a gente conseguisse manter na memória operacional, na atenção
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Essas duas questões
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Toda vez que estamos falando de um fármaco,
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de um medicamento ou de uma droga
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existe a questão da segurança e a questão da eficácia
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E no debate público sobre drogas essas coisas costumam ser mal discriminadas
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e gera muita confusão.
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Então são dois aspectos muito importantes
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que vão aparecer nos resultados,
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um sobre a segurança de se usar essa ibogaína como medicamento
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e outro se há ou não há eficácia e aí a gente pode discutir mais pro final
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Acho que as perguntas ficam pro fim, né?
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Eu me programei pra falar entre 40 e 50 minutos
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O Thiago me orientou que tava bom desse tamanho
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então antes de começar,
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eu queria só perguntar quem aqui não é da psiquiatria
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ou não é - eu faço, tem muito clique, eu vou te amolar demais - risos
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Quem aqui não é da psiquiatria, não é psiquiatra, levanta a mão
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NÃO é, NÃO é psiquiatra ou não está...
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e/ou não está no Departamento de Psiquiatria
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Só pra ter uma idéia, eu também não sou psiquiatra,
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então de uma certa perspectiva estou aqui falando como um leigo
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Eu me considero hoje um neurocientista,
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depois que fiz o Doutorado em Neurociências
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Mas eu acho interessante que talvez eu possa trazer
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algumas idéias que às vezes vindo de fora
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de um certo círculo de conceitos, de um paradigma, às vezes
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podem trazer novas idéias, que podem ser férteis, ou não
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Eu vou começar com uma rápida contextualização da questão das drogas
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Os psiquiatras aqui conhecem isso muito melhor do que eu
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Queria falar um pouquinho sobre o uso de drogas.
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De acordo com um artigo recente publicado na Lancet em 2012,
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nós temos hoje no mundo aproximadamente 300 milhões
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de USUÁRIOS de drogas ilícitas - proibidas
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Seriam entre 125 e 200 milhões de usuários de maconha ou cannabis
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entre 15 e 60 milhões de usuários de anfetaminas
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de 14 a 21 milhões de usuários de cocaína
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e entre 11 e 21 milhões de usuários de opiáceos
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Usuários recreativos, que fazem esse uso mesmo ilegal, proibido
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Então aí 300 milhões parece bastante gente, mas é bom comparar isso
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com o número de usuários de drogas lícitas: o álcool e os cigarros
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Segundo alguns relatos recentes da ONU, publicados em 2011 e 2010,
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55% da população mundial já bebeu álcool em algum momento da vida
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e entre 25 e 33% fuma ou fumou
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O que dá BILHÕES de pessoas usando drogas
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Mas é sempre importante também a gente comparar
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USO de drogas com ABUSO de drogas e dependência
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São coisas diferentes também que
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no debate público costuma ser muito misturado
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O abuso seria um uso excessivo,
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despropositado, fora de contexto e repetido
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E se isso começa a ficar compulsivo e muito repetitivo e muito abusivo
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isso vai então caracterizar dependência
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Eu trouxe aqui uma lista de critérios do que seria a dependência
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isso parece que recentemente saiu o novo DSM,
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então talvez não seja a lista mais atual,
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mas inclui, pra se caracterizar uma pessoa como dependente,
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não basta ela usar drogas nem ela repetir esse uso
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Mas que ela tenha desejo intenso pela substância,
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que ela não tenha controle sobre esse uso,
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que exista uma síndrome de abstinência,
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que exista tolerância aos efeitos
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A tolerância é a necessidade de usar mais
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quantidade da droga pra chegar num mesmo efeito
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Essas pessoas costumam gastar muito tempo
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obtendo, usando e se recuperando do uso
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nas drogas como álcool que dão uma ressaca considerável
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e a existência do uso continuado
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mesmo após a pessoa ter problemas com esse uso
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e ela continua e esse quadro vai se agravando ao longo do tempo.
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O risco de dependência na vida pra cada droga
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é uma questão complexa de se calcular
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mas os números atuais dizem que é de 9% pra cannabis,
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11% pra anfetaminas, 16% pra cocaína e 23% pra opióides,
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que são as ilícitas.
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E no caso das lícitas, 10% pro álcool, tá ali perto da canabis
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E a droga mais viciante de todas é o cigarro
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O risco de uma pessoa se tornar dependente
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se ela começa a fazer uso de cigarro, é de 30%
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Aí vem então, se a gente tem um problema grande no país, e no mundo,
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de abuso e dependência de drogas, a questão que nos interessa
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Quais são os tratamentos, o que a gente tem a oferecer a esses pacientes
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E são várias as possibilidades existentes e em prática
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no Brasil e no exterior também
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Então a gente tem o famoso 12 passos, que se originou dos alcoólicos anônimos
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Psicoterapia, Igrejas, Grupos de ajuda mútua, Comunidades Terapêuticas,
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Estratégias de Redução de Danos,
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até os tratamentos ditos compulsórios ou involuntários
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Então tem uma variedade considerável nas maneiras de se abordar o problema
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e de lidar com esse paciente e oferecer tratamento
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Farmacologicamente, a gente ainda deixa muito a dever
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São poucos os tratamentos farmacológicos pra dependência
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um famoso é o antabuse,
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um remédio que a pessoa tomaria antes de beber álcool
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e se ela beber álcool daria muito enjôo e mal estar
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Mas muitos pacientes simplesmente não tomam o remédio e tomam o álcool,
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então tem um problema de adesão
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Especificamente pra psicoestimulantes, como a cocaína e o crack,
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não tem praticamente nada disponível, é muito pouco, muito incipiente
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Tão iniciando tentativas
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Tem o uso de benzodiazepínicos, que são os calmantes,
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pra síndrome de abstinência,
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mas especificamente pra dependência de cocaína
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ainda falta tratamento farmacológico
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E tem as terapias de substituição pra dependência de opióides,
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que não é comum no Brasil, é mais comum nos EUA e Europa,
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que é a metadona, buprenorfina e a naltrexona.
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E aí tem uma questão que eu acho muito importante de refletir que é
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O que é um tratamento bem sucedido na área de dependência de drogas?
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É a abstinência total a partir do momento que o paciente é dito recuperado?
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Ou o paciente alcoólatra pode voltar a beber socialmente?
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Essa é toda uma questão complexa
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Eu trouxe um exemplo,
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que é um artigo interessante da Biological Psychiatry de 2012,
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que eles fizeram um pequeno estudo clínico controlado com placebo
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com sais de anfetamina
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em conjunto com Topiramato pra dependência de cocaína.
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E os resultados foram muito bem vistos pela literatura,
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33% do grupo experimental atingiu 3 semanas consecutivas de abstinência
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Vou pedir também pra vocês guardarem esses números, é fácil,
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3 semanas, 33% dos pacientes
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Interessante destacar também que 16% do grupo placebo atingiu esse critério
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de 3 semanas consecutivas de abstinência
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O que atesta pra gente que sim, pelo menos pra um subgrupo
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desses pacientes dependentes dá pra fazer bastante coisa sem farmacologia
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Mas ainda assim, 16% e 33% é pouco
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A gente ta dizendo aí que quase 70% dos pacientes, com esse tratamento,
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não atingiu mais de 3 semanas,
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não chegou nem em 3 semanas consecutivas de abstinência
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E aí tem as tais das terapias alternativas
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Em 2012 voltou a ser publicada a questão do LSD,
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a dietilamida do ácido lisérgico,
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o psicodélico mais famoso, no tratamento do alcoolismo
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Que foi muito feito nos anos 50, e são estudos geralmente muito criticados
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em questões metodológicas
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Em 2012 foi publicada essa meta-análise muito rigorosa
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e que conclui que sim, há estudos dos anos 50 com LSD pra alcoolismo
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que foram muito bem conduzidos, de acordo com os critérios atuais
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que tavam nascendo naquela época
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E nesses estudos que foram bem feitos, com UMA sessão de LSD
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esses pacientes chegaram a 3 meses de abstinência do álcool
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Então parece bastante significativo, eu acho que é evidência
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de que de fato a gente deve voltar a olhar pra essas substâncias
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com mais parcimônia e seriedade
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E aí do LSD então a gente chega, no caso, na ibogaína
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Eu vou mostrar pra vocês uma rápida linha do tempo
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pra contextualizar o que é a ibogaína, da onde ela vem, qual o histórico dela,
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pra então falar do nosso estudo
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Os primeiros relatos publicados são de 1860,
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em que um espécime da planta Tabernanthe iboga
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foi enviado do Gabão pra França,
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e alguns anos depois a publicação sobre o uso cerimonial da iboga no Gabão
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A iboga é uma planta que contém essa molécula, ibogaína,
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e ela é utilizada em rituais xamânicos, pra contatos com os espíritos,
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com os ancestrais, com os falecidos, pra prever o futuro, e toda essa questão
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que é uma área de estudo muito rica e interessante na antropologia
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E muito cedo na história da farmacologia, logo no início do séc. XX,
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a ibogaína foi isolada da raiz da planta e cristalizada
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A química e a neuroquímica tavam ainda nascentes nessa época
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No século XX, no meio dos anos 50, esse pesquisador Harris Isbell,
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administrou ibogaína a pacientes viciados em morfina,
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que já estavam desintoxicados da morfina
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Só que os resultados desses estudos são um pouco difíceis de avaliar
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porque eles aconteceram dentro de um programa militar nos EUA
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que usava psicodélicos pra várias finalidades,
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inclusive de controle da mente na guerra,
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e esses dados, muitos deles foram perdidos,
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e um pouco depois dessa questão inicial
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de uso ibogaína pra pacientes dependentes,
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veio a síntese e definição da estrutura química da molécula,
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e aí é só lá nos anos 60 que esse sujeito, o Howard Lotsof,
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ele redescobre o potencial da ibogaína pra tratar dependência
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ele era usuário de drogas, tinha um grupo de amigos ao redor dos 20 anos
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que gostava de usar todos os tipos de psicoativos possíveis
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e com os dealers, os traficantes que forneciam coisas pra eles
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eles obtiveram ibogaína
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eles tomaram ibogaína recreativamente pra ter um "barato",
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eles tiveram talvez o maior e mais duradouro barato da vida deles
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a coisa pode durar 10, 12, 15 horas. Alguns relatos falam mais de 24 h
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e o Howard Lotsof, na semana seguinte se deu conta que pela primeira vez
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em muitos anos ele tinha passado 3 dias sem pensar em usar opiáceo. E falou:
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"tem alguma coisa que aconteceu na minha experiência com ibogaína"
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"que tirou a fissura dos opiáceos, "
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"e eu uso todo dia, e eu não paro de pensar nesse negócio"
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Ele passou o resto da vida investindo na ibogaína, ele chegou a ter patentes
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ele foi um ativista, defendeu essa causa,
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mas ele não era cientista, não era médico, não era clínico,
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ele enfrentou uma série de problemas
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um pouco depois dele começar essa questão, em 1967, nos EUA
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classificaram a ibogaína como "Schedule 1"
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que lá é a categoria mais rigorosa, é proibido,
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é considerado sem potencial terapêutico e dificílimo pra se fazer pesquisa
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e em 1970 ela foi classificada pela ONU, mas ela não é proibida mundialmente,
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não é proibida também, nem é controlada no Brasil
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Dos anos 70 em diante foram feitos uma série de estudos em animais e humanos,
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vou passar rapidinho, em animais tem literatura científica indexada, publicada,
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com vários modelos animais de dependência e abuso de drogas
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com resultados as vezes favoráveis,
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a seta verde pra baixo seria um resultado positivo, de diminuição do rato
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se autoadministrando ou buscando a droga
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em alguns modelos há estudos diferentes com resultados contraditórios
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e num último modelo, bastante importante na área de dependência,
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que é a preferência condicionada ao lugar, ela não teve efeito positivo
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então a literatura em animais dá um resultado, digamos,
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misto, não muito conclusivo, mas há algumas evidências aí,
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e talvez por enquanto falta de interesse da comunidade científica e financiamento
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pra fazer novos estudos nessa linha com essa substância
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pra gente entender um pouco melhor o que está acontecendo
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Em termos de alvos farmacológicos, a ibogaína é extremamente complexa,
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ela foge do paradigma tradicional de uma molécula, um alvo, um efeito
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e portanto uma propriedade terapêutica
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A ibogaína, quando ingerida, é convertida em noraibogaína
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aqui eu representei as duas moléculas
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e todos os alvos terapêuticos já conhecidos
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o tamanho do círculo indica o quão forte é a ativação desses receptores
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os que tão em laranja são ações antagonistas
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em azul, ações agonistas
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e em branco a gente ainda não sabe
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então elas ligam em muitos receptores, em receptores glutamatérgicos,
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no receptor 5HT2A que é muito importante
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é considerado hoje o receptor psicodélico
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pois todas essas moléculas psicodélicas ligam nesse receptor
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e tem estudos muito interessantes na Europa
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de que a ativação desses receptores é central
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pra essa tal dessa experiência psicodélica
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que cria visões e reaviva memórias
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um achado recente é a questão do GDNF,
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que é o fator de crescimento da glia,
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a ibogaína e a noraibogaína estimulam a liberação desse fator de crescimento
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e isso pode ter a ver com seus efeitos terapêuticos
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e também os receptores opióides, que ambas se ligam nos receptores opióides
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mas tá extremamente difícil caracterizar
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se é uma ação agonística ou antagonística
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tem um artigo muito recente da Universidade de Nova Iorque
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lidando com essa questão
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e é um mistério bastante intrigante qual a ação farmacológica da ibogaína
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nos receptores opióides
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E importante destacar que elas não tem ação direta
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nos receptores dopaminérgicos, que são os alvos clássicos
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que são os receptores hiper-estimulados
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principalmente na dependência de psicoestimulantes, como cocaína e crack
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e que são alvos de centenas de pesquisas e milhões de dólares
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como sendo o alvo terapêutico pra se olhar no caso da dependência
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O que é interessante, porque se a ibogaína tiver mesmo,
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e o nosso estudo diz que ela tem
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propriedades terapêuticas bastante interessantes pra dependência
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ela pode estar indicando novas vias pra se pensar
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em termos de farmacologia da dependência química
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Então a questão com humanos,
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tem esse artigo de 2008 no Journal of Ethnopharmacology
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que é sobre a "subcultura médica" da ibogaína
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O que acontece é que a ibogaína é proibida nos EUA
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e as evidências são mais de que ela sirva pra tratar dependência de opióide
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e isso acaba acontecendo por baixo dos panos por causa da ilegalidade
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então eles deram esse título de subcultura médica
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Segundo esse artigo, até fevereiro de 2006,
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eles tinham registro de 3414 pacientes que já tinham se submetido
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a sessões de ibogaína em busca do tratamento de dependência química
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e desde a publicação deste artigo isto está crescendo
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de maneira aparentemente exponencial
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A ibogaína está gahando fama, e um certo sucesso,
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em muitas das clínicas são ex-dependentes
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que estão tentando tratar amigos
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com molécula, com substância de fonte desconhecida, as vezes são extratos,
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aí junto com os sucessos começam a vir os fracassos e os problemas, né?
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e aí tem mortes relacionadas ao uso de ibogaína
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então uma revisão recente, de 2012, a mais recente que tem,
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e no título eles colocaram
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"Fatalidades temporalmente associadas com a ingestão de ibogaína"
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porque muitas dessas mortes
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não aconteceram durante os efeitos agudos dessa substância, mas depois,
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em alguns casos até 72 horas depois da pessoa ter tomado a ibogaína
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então fica difícil, farmacologicamente, atribuir à ibogaína alguma toxicidade
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que possa ter levado a esses óbitos
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nessa extensa revisão, eles falam em 19 mortes registradas entre 1990 e 2008
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Se a gente comparar com aqueles 3400 casos registrados,
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dá aproximadamente 0,6% dos casos de uso de ibogaína
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com finalidades terapêuticas, resultando em fatalidade
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Dessas 19 mortes, 15 pessoas eram dependentes de opiáceos,
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2 utilizaram ibogaína ou extrato de iboga com finalidades espirituais
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e dois pacientes dependentes utilizaram por razões desconhecidas
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não estava no registro que eles estavam buscando tratamento
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como é uma subcultura médica, muitas vezes faltam informações cruciais
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Desses 19 casos, 5 não envolviam uso do hidrocloreto de ibogaína,
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que seria a substância farmacêutica
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2 usaram extrato de alcalóide, 2 casos envolveram ingestão de casca de raiz
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e um caso um pó marrom de origem não conhecida e não identificada
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que a gente não sabe se é algo da planta iboga ou de outras plantas
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12 desses casos tinham comorbidades, como doença no fígado, úlcera péptica,
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neoplasma cerebral, doença cardiovascular ou hipertensiva
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obesidade, doença cardíaca avançada e fibrose no fígado
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Concluem os autores da revisão, não eu
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A conclusão deles é de que
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74% dos casos com dados post-mortem adequados
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envolvem comorbidades graves e pre-existentes,
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principalmente de natureza cardiovascular
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e/ou uso conjunto de substâncias
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então existe uma desconfiança de que possa haver
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interação farmacológica tóxica entre opióides e a ibogaína
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Então seria muito importante desintoxicar o paciente
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que ele ficasse dias ou semanas,
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ninguém sabe quanto, sem usar opiáceos
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pra depois poder participar de tratamento com ibogaína
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Mas então eles concluem que estas comorbidades
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e talvez o uso muito recente de drogas de abuso
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explicam ou contribuíram pra causa da fatalidade
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que então na maioria dos casos não dá pra atribuir isso
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a efeitos tóxicos da ibogaína
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Mas há também na literatura artigos enfatizando a questão de que a ibogaína
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prolonga o intervalo QT do eletrocardiograma
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e que isso pode levar a fatalidades
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Essa é uma área que carece de mais pesquisas
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inclusive um dos nossos projetos futuros
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é de fazer o eletrocardiograma dos pacientes que tão tomando ibogaína
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antes e durante o efeito da substância
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pra investigar melhor essa questão cardíaca
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e ajudar a gente a entender a questão da segurança
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Apesar das mortes o uso terapêutico da ibogaína continua
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e acabou se desenvolvendo um modelo teórico de como ela funciona
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então o efeito da ibogaína é extremamente longo
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os efeitos agudos em torno de 10 a 12 horas
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que são divididos em duas fases, a primeira, de cerca de 4 a 8 horas
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é comumente chamada de fase aguda, que seria a tal da fase psicodélica
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depois o paciente entra numa fase intermediária,
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que dura cerca de 10 a 20 h
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então essa duas fases vão totalizar um dia inteiro
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e depois uma fase que é chamada de estimulação residual
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que é o dia seguinte ou os 2, 3 dias seguintes à experiência com a ibogaína
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Na fase aguda predominam as tais visões psicodélicas,
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essa é uma imagem que vocês podem encontrar na internet,
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de uma pessoa que tomou ibogaína e disse ter visto esse tipo de coisa,
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sempre em perpétuo fluxo de movimento em alta velocidade,
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mas é bastante difícil pra gente entender como é que visão de cores
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e universos e planetas e coisas meio alienígenas
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pode ajudar alguém a se recuperar de um problema como a dependência
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e muitos pacientes na verdade relatam que eles não tem esse tipo de visão
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que é o efeito que faz os psicodélicos mais famosos
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mas que verdade eles passam por um intenso processo de rever a própria vida
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como se fosse um cinema,
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de relembrar memórias traumáticas da primeira infância
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de quando eram bebês, coisas que eles não se lembravam
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e de muito conteúdo emocional forte
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Então essa imagem representa bem essa questão da alucinação
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uma certa desorientação com uma carga emocional muito intensa
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e que se o processo for adequadamente conduzido pelo médico,
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apoiando o paciente, assegurando que ele está bem, de que não há efeito tóxico
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de que ele não está em perigo,
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é importante considerar que tudo isso
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é muito difícil de atingir na subscultura médica
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quando você está administrando ibogaína escondido num motel
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preocupado se a polícia vai te encontrar e prender todo mundo
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é muito difícil você apoiar o paciente
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e é uma questão muito importante
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O que pode acontecer então é uma intensa e profunda liberação emocional
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e aí sim podem estar os efeitos terapêuticos
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dessa prática com a ibogaína, segundo alguns autores,
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e eu me coloco nessa linha de pensamento
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A segunda fase então, é a fase onde já passaram os efeitos agudos,
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que incluem também tontura, dificuldade de se movimentar e vômitos
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com considerável frequência
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e depois o paciente entra nessa fase intermediária
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que aí sim começa a ser mais propícia para uma abordagem psicoterapêutica
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a fase aguda é muito intensa, é muito difícil conversar,
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muito difícil que eles prestem atenção no mundo exterior
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o que está acontecendo dentro deles, a revivência das memórias é tão intensa
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que eles ficam completamente focados neste processo
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quase o tempo todo de olhos fechados
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Mas essa fase intermediária pode ser muito propícia pra uma autoavaliação
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pro paciente olhar pra si mesmo,
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e apesar de eu não ter contato direto e experiência com pacientes dependentes
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pelo que eu leio na literatura e converso com colegas
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eu assumo que são pessoas que não estão muito acostumadas
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e bem habituadas ao processo de autoavaliação
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então esse pode ser um momento muito rico,
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que eu acho que pode ser explorado em pesquisas futuras
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o que se fazer e o que não se fazer nessa fase intermediária
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e depois no fim o paciente fica então num processo bastante amplo,
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eu trouxe esse mapa do Jung,
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não porque eu ache que seja o mais adequado
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mas porque representa de maneira bem ampla
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as possibilidades de explicação que a gente tem aqui,
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mas eu acho que o que acontece é que o paciente dependente consegue sair,
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tirar a atenção dele exclusivamente do mundo externo e vir pro mundo interno
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e enfrentar várias dificuldades e problemas
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que tem ou teve ao longo da vida
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Aí a gente chega então nesse tratamento no Brasil
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que é um tratamento bastante interessante,
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ele está sendo conduzido num hospital, no interior de São Paulo,
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por um médico formado aqui na UNIFESP,
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certificado, de maneira legalizada
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a ibogaína farmacêutica importada de uma empresa Canadense
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com autorização do governo, com anuência da AVISA
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o que já é bastante diferente do uso que acontece nos EUA
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esses pacientes passam por uma clínica de internação em Curitiba
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eles ficam internado em Curitiba
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e passam por uma série de processos psicoterapêuticos
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musicoterapia, fisioterapia, terapia de grupo, terapia individual,
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e depois eles vão pro interior de São Paulo, passam o fim de semana lá
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onde eles recebem a ibogaína com esse médico no hospital
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depois eles voltam pra clínica e aí tem tempos variados
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e como é um estudo retrospectivo, veremos que tem muita variabilidade
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mas é um contexto muito mais seguro, médico e clinicamente orientado
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do que o que está acontecendo no exterior
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Então em termos de abuso de drogas, essas são as principais substâncias
-
usadas e abusadas pelos pacientes que a gente estudou
-
Álcool, maconha, cocaína e crack
-
64% relatou ter uso e problemas com álcool,
-
81% com maconha
-
83% com cocaína
-
e 68% crack
-
é interessantenotar aqui que parece baixo o uso de álcool
-
e provavelmente é porque o médico, ao entrevistar estes pacientes,
-
simplesmente pergunta: "quais drogas você usou ou você usa?"
-
e eles já começam a falar direto das proibidas. Eles pulam o álcool e o cigarro
-
é muito importante termos formulários padronizados pra gente conseguir
-
ter uma noção um pouco melhor do envolvimento do álcool nesta amostra
-
uma pequena fragilidade do estudo, mas que é comum em estudos retrospectivos
-
e 72% da amostra eram poliusuários. Usavam 2, 3 ou as 4 substâncias
-
e tiveram experiências, mas aí em proporções muito pequenas,
-
com outras substâncias
-
Poucos pacientes mencionaram uso de LSD, e alguns remédios farmacêuticos
-
um paciente só fazia uso de anfetamina
-
e uma única mulher com uso de opióides, que era uma italiana
-
e que veio ao Brasil especificamente com intuito
-
de participar desse tratamento
-
então entre os brasileiros nenhum caso de uso ou abuso de opióides
-
em termos de caracterização da amostra, aqui temos a idade de início de uso
-
pra homens em azul, mulheres em vermelho
-
então aqui está a faixa dos 15 anos, 20 e 25 anos de idade
-
o álcool com início de uso em torno dos 14, 15 anos
-
maconha um pouquinho mais velho, com 15 ou 16
-
cocaína ainda um pouquinho depois e crack, na média, vindo por último
-
uma pequena escadinha aí, mas nada significativo
-
importante notar a idade mínima, que pro álcool chegou a 7 anos de idade
-
um paciente relatando que começou a beber com 7 anos
-
e me espantou também o uso de cocaína com 10 anos de idade
-
e aí quero fazer um aparte, uma opinião minha, mas se o sistema proibicionista
-
não consegue impedir uma criança de 10 anos de cheirar cocaína,
-
o problema está bem sério e a gente precisa pensar em alternativas
-
Isso é muito importante porque a questão do risco pra dependência
-
que comentei no começo, é muito associado com a idade de início
-
Começar a usar drogas muito cedo
-
é sinal de maiores chances de problemas posteriores
-
e a questão das internações anteriores também, que é muito importante
-
aqui pras mulheres e pros homens
-
a quantidade de pessoas, e a quantidade de tratamentos prévios
-
Então tem uma mulher que alegou ter 39 internações prévias
-
a gente não acredita muito nisso, mas ela diz ser fato
-
e pros homens, um número também bastante considerável,
-
gente com 10 internações prévias pra tratamento de drogas,
-
sendo a mediana pra ambos em torno dos 4 tratamentos prévios
-
muito poucos pacientes que se envolveram
-
neste tratamento com ibogaína
-
sendo esta a primeira tentativa de se tratar pra dependência
-
então são pacientes que acho que podem ser considerados graves
-
começaram muito cedo, tem várias tentativas de se recuperar fracassadas
-
e aí então eles foram recorrer ao uso da ibogaína
-
a variabilidade é uma questão que caracteriza esse estudo todo
-
então eu construí um mapa
-
uma trajetória de recuperação
-
então a gente iniciou com 75 pacientes
-
que conseguimos fazer contato pessoal com eles
-
toda vez que sobe aqui, são os pacientes
-
que não recaíram depois de uma sessão de ibogaína
-
toda vez que desce são pacientes que recaíram após aplicação da ibogaína
-
então a gente tem uma aplicação de ibogaína
-
um segunda, uma terceira aplicação de ibogaína, uma quarta, quinta
-
e assim vai, sendo que os pacientes vão deixando de tomar ibogaína
-
e o número de pacientes vai diminuindo
-
e a gente vê que tem uma série de trajetórias possíveis
-
então 75 pacientes tomam ibogaína, 22 não recaem
-
sendo que 12 param nessa etapa
-
e 10 continuam querendo fazer novas aplicações
-
então tem gente que não recai,
-
e pede e negocia com o médico uma nova sessão de ibogaína
-
também tem o oposto, 53 pacientes que recaíram depois da primeira sessão
-
29 pararam com uma sessão só, mesmo tendo recaído
-
e 24 resolveram seguir em frente
-
aí tem gente que apesar de ter recaído na primeira, não recai mais
-
tem gente que continua recaindo,
-
inclusive um paciente que vai a 9 sessões
-
ele vem a usar 9 vezes a ibogaína, com intervalos de aproximadamente 3 meses
-
entre cada sessão, e o médico foi muito cuidadoso aqui,
-
porque ele reduziu a dose pela metade a cada aplicação
-
e tem gente então que não recai, toma uma segunda vez e recai,
-
tem vários tipos de trajetórias,
-
e é um tanto difícil caracterizar isso como um grupo e fazer estatística
-
mas a gente fez, e encontramos alguns resultados bastante interessantes
-
então em termos de abstinência e recaídas
-
a gente conseguiu falar com 8 mulheres e 67 homens
-
é um pouco comum na área da dependência
-
uma predominância masculina
-
todas as mulheres foram encontradas abstinentes
-
elas relataram estar completamente abstinentes no momento do contato
-
e esse contato variou de algumas semanas
-
até 3 ou 4 anos que a pessoa tinha tomado ibogaína
-
3 ou 4 anos antes da gente fazer o contato, nós pesquisadores
-
no caso dos homens, 72% se declararam abstinentes,
-
mas 10 ou 11, não me lembro exatamente agora,
-
relataram estar fazendo outros tratamentos
-
depois de ter se tratado ou tentado se tratar com ibogaína,
-
eles ainda foram procurar outras possibilidades
-
se a gente descontar esses,
-
a gente te uma taxa de 51% dos pacientes encontrados abstinentes
-
e isso com pacientes encontrados meses
-
ou muitos anos depois da aplicação da ibogaína
-
tem paciente que com uma aplicação
-
diz estar ha 3 anos completamente abstinente
-
e tem paciente que relata estar a vários anos com uso moderado de substâncias
-
e que conseguiu por exemplo beber socialmente em eventos familiares
-
A questão de quantas sessões de ibogaína,
-
cerca de metade da amostra faz uma sessão só com ibogaína
-
mais uns 30% faz duas sessões de ibogaína
-
e uns 12% fazem 3 sessões
-
é muito raro casos que passam de 3 sessões de ibogaína
-
são fatias muito pequenas, pessoas que fizeram 4, 5
-
e um indivíduo que fez 9 vezes, sempre com metade da dose da primeira sessão
-
A questão da dose é extremamente importante
-
a dose pras mulheres foi de cerca de 12 mg/kg
-
e existe aí uma variação por 2 motivos
-
primeiro porque a ibogaína é importada e ela demora pra chegar
-
e o paciente muda de peso, enquanto ele está internado na clínica
-
e a outra questão é que o médico, de acordo com a experiência dele,
-
as vezes aplica um pequeno adicional depois de 40, 50 minutos ou uma hora
-
dependendo do estado psicológico que ele avalia o paciente
-
então tem uma pequena variação na dose, mas é muito pequena
-
pras mulheres é 12 +- 1,61 mg/kg em termos de desvio padrão
-
e pros homens é um pouco maior, de quase 15 mg/kg,
-
que está exatamente na faixa que é considerada terapêutica na literatura
-
a faixa que é usada, e está bem abaixo dos casos de toxicidade
-
tem alguns relatos de toxicidade cerebelar em animais
-
com doses acima de 100 mg/kg
-
então ele tá bem abaixo do que há evidência de toxicidade
-
em termos de recaídas então, depois da primeira sessão de ibogaína
-
depois de duas ou depois de três
-
o número de pacientes aqui vai diminuindo
-
então a gente começa com 75 pacientes, e cerca de 70% recai
-
então com uma sessão ele tem uma taxa aproximada de sucesso,
-
se considerarmos abstinência, em torno de 30%
-
com 2 sessões isso já vai pra 40%
-
e com 3 sessões chega em 60% dos pacientes
-
relatando abstinência após o fim do tratamento
-
Vou mostrar pra vocês uns histogramas, não sei se da pra ver bem no fundo,
-
mas vou tentar explicar direitinho
-
A gente tem 3 histogramas representando a mesma coisa
-
em situações diferentes
-
na vertical o número de pacientes
-
quanto maior a barra, mais pacientes
-
e na horizontal a gente tem o tempo que a pessoa está abstinente
-
Então no começo, antes da ibogaína, em vermelho, a gente vê que
-
o grupo está quase todo concentrado aqui na segunda barra,
-
em torno da primeira, segunda e terceira, que são dois meses
-
e porque dois meses de abstinência antes da ibogaína?
-
porque isso é exigido pela clínica de recuperação
-
Se não ficar internado 2 meses desintoxicando e fazendo psicoterapia
-
não pode seguir pra aplicação da ibogaína
-
então isso aparece nos resultados
-
e indica também que houve um seguimento do critério
-
com algumas excessões
-
Depois da primeira sessão de ibogaína, o que gente observa é que abaixa aqui
-
ou seja, os pacientes se esparramam mais no gráfico
-
ainda tem um tanto de gente aqui com um ou dois meses de abstinência,
-
mas aumenta muito aqui as barras em 3, 4, 5, 6 meses
-
aqui a gente tá vendo até dois anos no gráfico
-
e se a gente olhar depois de todas as sessões de ibogaína pra cada paciente
-
independente de quantas sessões cada um fez,
-
se a gente pegar OK a hora que a gente entrevistou é o fim do estudo
-
e tem gente que tomou uma, duas, três ou quatro
-
e a gente olhar pra todo mundo, a gente vê uma avanço ainda melhor
-
então em termos estatísticos, a gente sai de uma mediana de 2 meses,
-
pra uma mediana de 5 meses com uma sessão de ibogaína
-
5 meses tá acima dos 3 meses do LSD
-
e bem acima das 3 semanas com topiramato
-
e com todas as sessões que cada paciente optou por fazer
-
essa mediana sobe pra 8 meses
-
Eu acho bastante impressionante
-
acho que em poucas semanas é difícil
-
pra um paciente poder reestruturar sua vida
-
mas em 8 meses, ou talvez mais de 8 meses,
-
porque estamos falando da mediana aqui
-
eu acho que abre-se bastante espaço pra psicoterapia,
-
pra ajuda, pra apoio familiar
-
pra paciente que volta a estudar, que volta a trabalhar,
-
que são indicadores adicionais do sucesso terapêutico
-
aqui pra quem não está muito habituado com histogramas,
-
eu trouxe também as médias,
-
não é o mais adequado porque não são dados paramétricos
-
mas se a gente olhar pras médias antes do tratamento, após uma ibogaína
-
e após todas as ibogaínas que cada paciente tomou
-
e os dias de abstinência, aqui nós estamos na faixa de 60 dias,
-
aqui cerca de 5 meses, 150, e depois os 8 meses,
-
a média parecida com a mediana,
-
a gente consegue ver que está havendo um ganho em tempo de abstinência
-
pras pessoas que decidem fazer múltiplas sessões de ibogaína
-
lembrando e enfatizando que NUNCA, em nenhum caso
-
aconteceram sessões de ibogaína em dias consecutivos,
-
ou na mesma semana. O intervalo é sempre de várias semanas,
-
na maioria dos casos mais de um ou dois meses
-
Por fim, uma outra parte,
-
essa parte retrospectiva já está submetida pra publicação
-
fomos avaliados por 4 revisores que pediram 50 modificações no artigo
-
mas os 4 foram muito favoráveis à publicação
-
a gente tem esperanças de que seja publicado em breve
-
e estamos trabalhando, e aí é principalmente a parte da Angélica,
-
especialidade dela, que é uma parte muito importante
-
pra gente entender o que está acontecendo,
-
que são os relatos qualitativos
-
O que esses pcientes estão contando pra gente
-
das experiências que eles passaram tanto no uso de drogas
-
quanto no tratamento com ibogaína,
-
comparando com outros tipos de tratamento
-
então eu queria só destacar alguns trechos, espero que eu não esteja
-
excedendo muito meu tempo
-
então em relação ao tratamento, aqui é sempre a inicial do paciente,
-
gênero, se é masculino ou feminino, e a idade
-
tem um paciente que relata que "a ibogaína é uma alavanca muito grande"
-
"É como se fossem anos de tratamento, em 24 horas"
-
"Anos, tipo uns 10 anos de tratamento assim, em 24 horas"
-
"O bom é que você não sente fissura"
-
Então isso é muito importante, essa questão,
-
essa sensação de anos de tratamento com uma sessão psicodélica,
-
ela aparecia muito nos anos 50
-
nas sessões terapêuticas com LSD, esse tipo de relato era muito comum
-
"Doutor, parece que eu fiz um ano de psicoterapia em uma tarde"
-
isso volta a aparecer aqui,
-
e essa questão de que não se sente fissura é interessante
-
porque ainda não há na literatura relatos desse efeito
-
pra uma amostra que não é de uso de opióides
-
Então parece que o mesmo tipo de efeito que já é bastante presente na literatura
-
acontece também pros psicoestimulantes
-
um outro paciente, uma mulher, ela diz:
-
"A ibogaína me deixou bem centrada, né?"
-
"A ponto de eu saber o que é certo e o que é errado"
-
revelando um insight, um ganho de conhecimento
-
sobre autocontrole e tomada de decisão,
-
que é uma questão bastante importante nesses pacientes
-
que abusam de drogas
-
Mudança de atitude. O Paciente diz:
-
"eu mudei diante dos problemas. Eles sempre vão existir"
-
"então eu chego ao final do dia realmente muito grato, muito feliz"
-
O paciente percebendo que ele não pode fugir dos problemas,
-
mas ele pode mudar a atitude dele perante os problemas que ele tem
-
De novo, tomada de decisão. O paciente fala:
-
"é uma ferramenta, um freio para a consciência. Para tudo isso."
-
"mas não é... ajuda, a ibogaína ajuda, tira a fissura, diminúi a fissura"
-
"mas é você que escolhe, tudo é a escolha, né? Na vida, é só escolha"
-
De novo um relato que me parece um insight bastante proveitoso
-
Talvez seja meio óbvio pra quem olha de fora,
-
mas pros pacientes dependentes é difícil chegar nisso
-
um outro paciente diz:
-
"Você tem que estar disposto a parar"
-
E a gente acha que essa é uma citação muito importante
-
Não dá pra esperar que a ibogaína resolva por si só
-
que você vai administrar a ibogaína, o paciente vai pra casa,
-
nada acontece e no dia seguinte ele não quer mais usar drogas
-
Seria uma visão muito simplista
-
E como que eles chegam nesses insights?
-
eles tomam ibogaína e simplesmente eles tem esses insights?
-
Não. Eles passam por todo aquele processo árduo e muitas vezes doloroso
-
que eu mencionei no modelo teórico
-
e a gente vê isso nos relatos também
-
Então sobre os efeitos um paciente diz:
-
"eu num comparo com nenhum alucinógeno."
-
"Porque não é uma experiência prazeirosa, né?"
-
"É uma experiência bem forte que mexe muito com a gente, né?"
-
Um outro paciente fala de morte:
-
"A ibogaína deixou totalmente claro "
-
"que eu ia morrer se eu continuasse a usar drogas"
-
A questão da morte aparece não só como uma idéia,
-
esse paciente aqui diz o seguinte:
-
"Se tem algo infernal nesse mundo, algo que você não consegue imaginar"
-
"é a ibogaína"
-
"Eu to falando, eu já tomei tudo que tem por aí nessa vida"
-
"mas nunca algo tão forte"
-
"Então as pessoas perguntam: ibogaína pode viciar?"
-
"Não. Impossível querer usar aquilo de novo" (risos)
-
"Você toma uma vez e nunca mais vai querer ver aquilo na sua vida"
-
"Porque a sensação é que você vai morrer. Você vai morrer."
-
"Eu tomei, e durante o efeito eu pensei que eu ia morrer."
-
"Eu disse que eu ia morrer. Eu não conseguia falar. Eu queria pedir ajuda"
-
"Pedir pra parar. Tipo pára se não eu vou morrer"
-
Aí vem a questão, mas peraí, pode uma substância
-
que causa essa sensação na pessoa, ter algum efeito terapêutico?
-
Ou isso é uma prática antiética, uma agressividade e tá, digamos,
-
maximizando o sofrimento desse paciente?
-
Aí a gente tem de olhar pro processo de uma maneira completa
-
E não se trata apenas de sensação de morte,
-
mas quando a gente olha no final, esse paciente volta e fala:
-
"Mas você sai de lá diferente. Você sai sendo outra pessoa"
-
"Te digo. Eu disse isso pra minha mãe"
-
Todo mundo devia tomar ibogaína." (risos)
-
"Não só por causa do tratamento de droga. Tratar droga é uma coisa"
-
"Mas a questão do autoconhecimento e... de purificação talvez"
-
"Todo mundo devia tomar ibogaína porque você se torna outra pessoa"
-
"Você fica mesmo diferente depois de tomar a ibogaína"
-
Então esse processo psicológico de morte e renascimento
-
de fragmentação do ego, de redescoberta do eu
-
também era muito conhecido nos anos 50
-
e tem uma literatura psicológica considerável nisso,
-
envolvendo os psicodélicos,
-
e esse tipo de processo está aparecendo também em estudos feitos no exterior
-
com a psilocibina,
-
onde pacientes passam por esse mesmo tipo de processo
-
que está sendo chamado de fragmentação do ego
-
onde a pessoa começa a se desidentificar
-
com a persona com a qual ela se identifica
-
porque todos nós temos várias personas, várias máscaras sociais
-
e aí ela acha que chega numa essência,
-
e quando ela consegue fazer esse processo
-
e ela tem apoio pra interpretar isso
-
e se reavaliar e reconstruir a sua vida, ela tem muitos ganhos
-
Questão de morte e renascimento de novo, uma paciente que fala:
-
"eu vi que eu estava acabando com a minha vida"
-
"eu passei de volta pelas minhas overdoses"
-
"e eu vi que graças a Deus eu estou viva"
-
Então deve ser bastante intenso, profundo e doloroso
-
a pessoa ter essa visões de todo o conteúdo emocional
-
de todas as overdoses que ela teve na vida
-
em uma única sessão de 10 ou 12 horas dentro de um hospital
-
Questão de autoconhecimento, de novo,
-
eu gosto muito dessa frase de uma mulher
-
que ela disse o seguinte:
-
"Eu tinha essa coisa muito ruim dentro de mim"
-
"E só com a ibogaína eu consegui me livrar disto"
-
"Era uma garota pequena e triste, que vivia dentro de mim"
-
"E eu vi" - E aí ela esta falando durante a ibogaína
-
"E eu vi essa pequena garota dentro de mim, crescendo"
-
"Até ela se tornar do meu tamanho e grudar em mim"
-
"Era eu mesma crescendo e amadurecendo"
-
Acho um relato muito bonito do processo de autoconhecimento,
-
de relembrança dos problemas que essas pessoas passaram na vida
-
e de como superar isso
-
Acontecendo de dentro. O paciente tem uma sensação muito vívida
-
de que ele percebeu ou de que a ibogaína disse pra ele
-
Esse outro paciente diz:
-
"Pela primeira vez na vida eu me enxerguei sem precisar de um espelho"
-
"Eu me vi, me abracei e me beijei"
-
A questão da morte aparece também não só em relação ao próprio indivíduo,
-
mas também em relação a antepassados
-
Então esse paciente diz:
-
"Eu vi meu pai morrendo, minha mãe chorando"
-
Aí na sequência a experiência inverte
-
"Eu vi meu casamento. Meu pai ao lado. Muito bonito"
-
"Eu lembrei do meu cobertor de nenê"
-
Então ela vai de uma visão trágica do pai morrendo,
-
pruma visão bonita dela casando
-
pruma memória muito antiga dela nenê
-
e aí ela tem uma outra memória:
-
"Meu irmão sendo espancado pelo meu pai. Aí eu entendi ele"
-
Começa a perceber dinâmicas familiares, mais antigas,
-
que não dizem respeito unicamente ao paciente como indivíduo
-
Outro paciente fala de antepassados:
-
"Eu vi meus antepassados já falecidos"
-
"Que também tiveram problemas com drogas"
-
Então ele começa a perceber que o problema com drogas
-
não é algo que só ele teve, que ele inventou
-
Quanto que ele tem disso, quanto que ele aprendeu com a família
-
o quanto que esse é um problema
-
um pouco mais amplo que o comportamento só dele
-
E por fim a questão da espiritualidade, que é mencionada por alguns pacientes
-
não são muitos, mas alguns dizem coisas dessa ordem:
-
"Na realidade a ibogaína não é só um medicamento"
-
"Porque ela mexe na sua parte espiritual, sabe?"
-
"Parece como se você falasse: ACORDA"
-
"É uma força, é algo superior. Você acredita realmente, você vive aquilo"
-
E por fim, o último relato, um paciente que diz:
-
"Foi muito espiritual. Eu ainda tenho muito o que trabalhar"
-
"Mas era isso que estava faltando"
-
"Eu não tava notando o aspecto espiritual da minha vida"
-
E aí eu quero encerrar com essa citação específica,
-
porque eu gosto muito dessa questão que ele menciona
-
que eu ainda tenho muito o que trabalhar, né?
-
Que volta naquela questão que eu levantei
-
O que é um tratamento bem sucedido?
-
Uma discussão aberta eu acho, na literatura, no tema
-
porque a questão da dependência de drogas é uma questão recorrente
-
e tem pacientes que podem ficar dez anos sem usar
-
e depois eles voltam a recair e voltam a exibir novos padrões
-
e essa pessoa tem esse insight que ela ainda tem muito por fazer,
-
mas que a ibogaína deu uma ajuda considerável pra ela
-
Então obrigado, espero que a gente possa ter uma sessão de perguntas
-
e uma pequena conversa
-
Aplausos
-
[Jair Mari] Você quer conduzir? Vamos começar?
-
Perguntas?
-
Questionamentos, críticas... elogios?
-
Incômodos? Curiosidades?
-
[Estudante] Eu queria saber se tem algum estudo
-
que tem algum relato de usuário
-
em retiro de ibogaína no contexto religioso, contexto ritualístico da África
-
que é onde é mais usada. Tem algum estudo que traga isso,
-
que traga essa informação, se é prejudicial ao paciente
-
usar essas 9 vezes seguidas ou mais, caso ele faça mais uma?
-
Então, são coisas bastante distintas, né?
-
O caso de um paciente aqui que tomou 9 vezes,
-
enfatizando, de novo,
-
que após a primeira sessão a dose foi substancialmente reduzida
-
e ele ia pedindo, negociando isso com a família e com o médico
-
que ele tinha fissuras incontroláveis, e ele achava que a cada sessão
-
com dose baixa ele conseguia controlar a fissura
-
e se manter mais um pouco abstinente
-
Isso remete ao uso religioso, xamânico
-
Mas é MUITO diferente do uso que acontece na África
-
que é um uso bastante restrito, na verdade,
-
A África não é onde tem o maior uso de ibogaína, é no México
-
Na fronteira com os EUA
-
Os EUA não deixam fazer, as pessoas cruzam a fronteira e
-
pipoca clínicas no México, algumas com médicos
-
outras totalmente gerenciadas e feitas tudo por ex-dependentes
-
Ali também que se localizam alguns dos casos de fatalidade
-
Mas no uso xamânico, a dose estimada, porque a gente não tem essa precisão
-
que a gente pode ter no laboratório
-
é essa dose que seria a meia-dose
-
em vez de 15 mg,
-
no opioide chega até 20 mg/kg a dose que está se usando pra tratamento
-
e no uso xamânico estima-se que a dose seja em torno de 7 a 10 mg/kg
-
E toda a questão contextual é muito diferente
-
Aí a gente teria que mergulhar na Antropologia mesmo
-
Me encanta a antropologia, mas não sou antropólogo, não sou especialista
-
Mas a questão do contexto é fundamental, eu ia trazer um vídeo
-
Mas eu achei que era um pouco fora do tópico
-
Mas vocês podem procurar no youtube tem, um vídeo de "iboga rite"
-
com "R - I - T - E"
-
que é um vídeo do museu da cultura Gabonesa na França
-
que é um pequeno trecho de uns 3 minutos de um ritual
-
Bwiti, que é o nome da religião
-
E os caras tocando, todos pintados, aquelas câmeras que filmam no escuro
-
Preto e branco com aquela "visão noturna"
-
Mas assim, a música que eles tão tocando durante o ritual
-
e batucando e dançando e tocando cordas com a boca e com a mão
-
Um som assim, impressionante, de dar inveja em muito DJ hoje em dia
-
Muito, completamente diferente de um paciente num quarto de hospital
-
Os pacientes, muitos referem que é impossível se mexer
-
que se mexer é doloroso, que é melhor você ficar quieto de olho fechado
-
e o médico também relata muito que eles assumem posição fetal
-
na cama hospitalar
-
Entaõ tem a questão da dose, a questão do contexto
-
e a questão do comportamento das pessoas nesse uso
-
que é muito diferente
-
Provavelmente também o conteúdo psicológico é completamente diferente
-
Aqui a gente ta falando de pacientes com um problema recorrente,
-
de muitos anos, alguns com mais de 10 anos
-
com histórico de problema no uso de drogas
-
Muito diferente de você pegar outra cultura,
-
com outra língua, outra concepção, lá na África
-
Fazendo uma dança pra contactar espíritos, né?
-
[Estudante] No méxico não é ritualístico, é tratamento mesmo, clínico?
-
No México é clínica. Algumas tentam fazer algumas misturas
-
Tem alguns dependentes que se pintam
-
alguns dependentes que se recuperaram com ibogaína
-
e que agora tratam outros dependentes. Tem filme também
-
eu já vi um documentário, tem um cara bastante polêmico nos EUA
-
ele tá fazendo isso e desafiando a lei
-
Já foi preso algumas vezes e liberado
-
e ele se pinta. Depois de se tratar nessas clínicas ele quiz ir lá no Gabão
-
Ele foi, ele participou da iniciação xamânica lá
-
E aí ele faz pinturas iguais enquanto ele está tratando
-
Mas aí é uma mescla que não é o que a gente está lidando aqui
-
Aqui a gente não tá falando
-
de tratamento xamânico pra dependência de drogas
-
A gente ta tentando, o que está sendo feito, na minha visão,
-
é um tratamento farmacológico
-
e a gente ta olhando dentro de uma perspectiva biomédica, psiquiátrica
-
[Prof. Jair Mari] Então Parabéns Eduardo,
-
pela apresentação muito bem feita
-
Né, tem um baita preparo aí, um bom aluno da nossa biomedicina, aqui,
-
Welcome home, bem vindo de volta aqui na Escola
-
Então alguns comentários. Primeiro, acho que quem assistiu minha aula hoje
-
vai lembrar daquilo, ó, nos poderíamos adotar a ibogaína num tratamento?
-
Ta comprovada a eficácia da ibogaína?
-
Não está, né? Eu só vou comprovar isso se eu tiver um bom ensaio clínico
-
Tudo isso daqui é um preparo, né?
-
Essa droga é fogo, é poderosa, né?
-
Depois vou querer que você fale um pouquinho da neurociência dela
-
Mas é como se ela abrisse o hipocampo, né?
-
Como se ela abrisse as estruturas de memória,
-
enfim, seria muito interessante saber a ação
-
Então, do ponto de vista da eficácia, vou contar uma historinha do consultório
-
Tem um cara, que você deve conhecer, que dá uma vacina pra álcool
-
Aí em São José do Rio Preto, não sei, não é isso?
-
Acho que todos que trabalham com dependentes...
-
E aí o paciente quando vem pra mim, não sei se você já ouviu sobre esse cara
-
Eles vem pra mim e fala, Dr. Jair, eu quero ir tomar vacina
-
O que o senhor acha?
-
Eu falo, muito boa. Excelente. Vacina é maravilhosa.
-
Os caras vão, tomam, e ficam 3, 6 meses e alguns...
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Poruqe eu estou falando isso?
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Porque tem um efeito, a gente tem um efeito inespecífico,
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importante no tratamento. Por isso que a gente precisa fazer o ensaio clínico
-
Não estou falando que aqui é efeito inespecífico
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O que eu to falando é que existe
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um processo de desenvolvimento de um tratamento, né?
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E que por exemplo,
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essa vacina tem gente que pessoalmente reage muito bem
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Eu sou contra a adoção desse tratamento do ponto de vista científico
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Mas do ponto de vista individual, existe o ritual de ir até São José do Rio Preto
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pegar o avião e falar "eu vou tomar a vacina porque eu vou parar de beber"
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Não é? E isso ajuda.
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E eu não sou contra de chegar e falar pro cara que não existe eficácia
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Então o que eu quero dizer
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é que muitas vezes o ritual também contribui pro tratamento
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e que é exatamente o ensaio clínico, ele vem pra você tirar o efeito
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do ritual e da cerimônia
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Agora, essa droga é poderosa, então é muito importante que se faça
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o ensaio clínico pra que você possa de fato comparar
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ver os aspectos de segurança
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Pode ter efeito cardiológico, pode ter morte súbita,
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Pode ter prolongamento do QT, e isso da parada cardíaca
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Então tem que estudar todos os efeitos
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e estudar e avaliar com um bom ensaio clínico
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Com certeza
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E a outra pergunta é, isso é um extrato, são várias drogas juntas?
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Ou é que nem, a marijuana, né, tem várias drogas
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Então o canabidiol, tem essa baita confusão,
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Ah, tão usando maconha pra tratamento?
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O canabidiol é uma das drogas da maconha
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que não é o THC, não é a droga que dá barato
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O canabidiol é uma droga que acalma, que é um tranquilizante
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Então é isso que tão pesquisando, tem até hoje na USP
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O pessoal de Ribeirão Preto, né?
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O Crippa, eles tem pesquisado bastante o efeito do canabidiol
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Mas quer dizer, a marijuana, a cannabis tem 60 drogas, 50 a 60 drogas
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Na ibogaína é um extrato, como é que é?
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São duas perguntas, é a molécula, o extrato tem somente a molécula?
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E que evidências tem de neuroimagem, de neurociências, né?
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Obrigado
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Vou de trás pra frente
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A iboga contém, talvez, cerca de doze alcalóides, a planta
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E isso é muito pouco explorado
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No caso deste tratamento que a gente avaliou aqui no Brasil
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Que estamos tentando publicar, unicamente o hidrocloreto de ibogaína
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Sintetizado por uma farmacêutica no Canadá
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Importado legalmente com pureza 98-99%, fármaco medicinal
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dentro das regulamentações internacionais
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Diferente do que acontece em outros lugares, no México por exemplo
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extratos, pedaços de raiz, pó marrom
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tudo isso é maximização de danos
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Eu acho que um resultado muito importante do nosso estudo
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é que não houve nenhuma fatalidade
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E isso atesta pela importância
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de não se proibir o tratamento
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sendo feito por médicos em contextos hospitalares
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Porque quando você proíbe essa condição,
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você gera estímulos pra subcultura médica
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e aí você está maximizando riscos e danos
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como a gente já viu na literatura
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Quanto á questão neurocientífica, não sabemos absolutamente nada
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Ninguém nunca fez neuroimagem, EEG, SPECT, MEG sobre ibogaína
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Nós estamos propondo fazer isso pela primeira vez
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Nós estamos escrevendo um projeto, pra fazer um estudo de acompanhamento
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"follow-up" com pacientes por 12 meses
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Então já pegar esses pacientes antes de tomarem ibogaína e já começar
-
acompanhando antes, fazer o acompanhamento por um mês,
-
que é a especialidade da Angélica, que é psicóloga
-
e a minha parte, com o Dartiu coordenando, e a minha parte,
-
inclusive também com participação do Luís Fernando Tófoli, da UNICAMP
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é fazer o EEG, eletroencefalograma, antes e durante o efeito da ibogaína
-
pelo menos durante as primeiras 4 horas
-
mais do que isso é muito complicado e quase impossível manter o sinal de EEG
-
e coletando sangue pra avaliar metabolização. Sangue e urina
-
Seria um estudo bastante inovador, muito importante,
-
fazendo também o eletrocardiograma
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Acho interessantíssima a sua hipótese sobre o hipocampo
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Acho que deve ter coisas ali,
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o EEG infelizmente não vai permitir a gente avaliar isso, o EEG é superficial
-
existe algumas técnicas de determinação de fonte profunda no EEG
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que a gente pode tentar fazer com o equipamento que a gente já tem
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que foi adquridio pela FAPESP pro meu pós-doutorado com ayahuasca
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Dá pra dizer algumas coisas mas é frágil
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O ideal seria neuroimagem
-
Mas aí pra você fazer ibogaína dentro da neuroimagem
-
talvez impossível, em pacientes, técnicamente, metodologicamente
-
Mas acho interessantíssimo
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Rapidamente sobre hipocampo, muito interessante que tem pesquisas recentes
-
sendo feitas em Londres, no Imperial College,
-
com a psilocibina, nos últimos 5 ou 6 anos
-
neuroimagem e magnetoencefalografia (MEG)
-
e eles tem uns resultados bastante inesperados
-
de que essa expansão da consciência ela se revelou na neuroimagem
-
como redução da atividade de muitas áreas cerebrais
-
e a espectativa era do contrário, de aumento da atividade cerebral
-
pra gerar mais visões, mais memórias, ou inclusive alucinações
-
que seriam, pra você ter uma alucinação, a idéia seria de que o seu cérebro
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ta fazendo algo extra, e aí você percebe algo que não há, no mundo externo
-
E os resultados mostraram o oposto
-
No EEG também,
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redução da amplitude das ondas cerebrais em várias frequências
-
com excessão do hipocampo, na psilocibina
-
Que provavelmente vai ser o próximo artigo que eles vão publicar
-
Ainda não ta publicado em artigo,
-
mas já foi apresentado em conferência internacional
-
Então acho que você ta bem na... no
-
[Jair Mari] No target
-
É, no alvo, acho que é bem por aí
-
[Professor] Duas perguntas, primeira é
-
Você disse que antes do indivíduo ser internado
-
pra ser administrada a ibogaína
-
ele passa dois meses numa clínica, num processo de desintoxicação
-
mas não apenas de desintoxicação, mas de terapias etc e tal
-
Pra esses indivíduos que tomaram a ibogaína mais de uma vez
-
antes de cada administração havia essa reclusão de dois meses?
-
Essa é uma pergunta
-
A segunda pergunta é: Você apresentou o artigo sobre a questão de fatalidades
-
Você citou que não houve fatalidades dentre esses 75 pacientes que foram
-
submetidos a essa intervenção,
-
mas eu queria saber a respeito de efeitos adversos observados
-
dentre esses 75 pacientes,
-
particularmente se houve caso de surto psicótico,
-
de desencadeamento de surto psicótico,
-
mas quaisquer tipo de ocorrência de efeitos adversos
-
gostaria que você comentasse um pouco sobre isso
-
Ta. A primeira pergunta?
-
Se a cada vez o cara ficava internado... Ah sim
-
Não. Isso não ficou claro na verdade nos dados fornecidos.
-
Na verdade esse foi um protocolo em desenvolvimento,
-
eles começaram a trabalhar com ibogaína ha pouco mais de 10 anos atrás
-
De uma maneira bastante experimental, empírica
-
Esse médico, ele conheceu aquele paciente, o Howard Lotsoff
-
em um congresso internacional, e ele se encantou pela história
-
começou a estudar a literatura, conheceu outras pessoas nos EUA
-
e resolveu tentar. E esse protocolo foi sendo desenvolvido ao longo do tempo
-
Então no começo era um mês de internação na clínica
-
nos primeiros anos, isso depois mudou em algum ponto,
-
que eles também não foram precisos
-
em que momento em que adotaram os 2 meses
-
por isso também que a gente vê alguma variabilidade ali
-
pacientes mais antigos ficavam menos tempo
-
Quando volta pra uma segunda ou outras sessões
-
Aí é muito caso a caso
-
Tem paciente que cria um vínculo terapêutico muito forte com a clínica
-
e volta pra clínica, e não necessariamente fica dois meses,
-
mas fica mais semanas lá, se tratando lá
-
tem paciente que não gosta da clínica
-
e aí negocia direto com o médico e busca psicoterapia em outro lugar
-
com outro profissional em outra clínica
-
Então nas administrações subsequentes
-
a coisa é menos estruturada do que na primeira vez
-
[Professor] Ou seja, não é garantido
-
que o paciente estivesse abstinente do uso de drogas?
-
O médico faz o toxicológico de urina, na manhã antes de aplicar ibogaína
-
E ele já dispensou pacientes e já mandou de volta pra casa
-
pacientes que foram pegos no exame de urina na manhã do sábado
-
É sempre administrado de manhã, e eles ficam o sábado todo na experiência
-
e dormem no hospital
-
e são dispensados ou domingo de manhã ou domingo a noite
-
dependendo de cada caso, da avaliação clínica
-
A questão dos efeitos adversos,
-
não tenho conhecimento de nenhum caso de surto psicótico nesses pacientes
-
que tenha sido documentado. A amostra é de mais de 75
-
Eles passaram uma lista de pacientes
-
mas muitos a gente não conseguiu encontrar
-
então a gente ta trabalhando dentro dos 75 que a gente conseguiu encontrar
-
esses dados de recaída, de lapso, idade de início, foi tudo levantado por nós
-
A gente fez questão dessa independência e desse rigor
-
que a gente pudesse ter acesso a fonte original, que são os pacientes
-
Não encontramos nenhum caso de fatalidade
-
também nos pacientes que foram passados
-
E de surto psicótico talvez a Angélica possa comentar alguma coisa
-
[Angélica Comis] É, na amostra entrevistada
-
a gente não teve nenhum relato
-
mas a gente sabe que tem alguns profissionais que já atenderam pacientes
-
que passaram pelo procedimento e, né, tiveram algum episódio
-
mas que não se prolongou, então pode ter sido um episódio induzido
-
normalmente os pacientes que desenvolveram algum episódio
-
psicótico eram pacientes com antecedentes já,
-
de transtorno bipolar ou algum outro transtorno
-
[Prof. Jair Mari] E "bad-trip"? Não tem bad-trip? Porque no LSD
-
nós sabemos bem, não é?
-
Tem pessoas em que é maravilhosa a viagem,
-
e tem pessoas que tem o "bad-trip"
-
[Angélica Comis] Tem nos relatos uma bad-trip, é terrível
-
durante, porque é justamente o momento que você entra em contato
-
com as suas dificuldades e os seus demônios
-
E é considerado como uma bad-trip
-
Mas é comum chegar nesse momento de redenção
-
Passa pela experiência mais difícil e retoma pra redenção
-
E isso, alguns relatam que é um efeito adverso, porque foi chato e ruim
-
Mas no final eles acabam voltando um pouco atrás
-
Então, mas isso remete de volta, eu queria comentar um pouquinho mais
-
a questão dos efeitos adversos
-
a gente não identificou nenhum efeito adverso grave
-
mas essa foi uma das críticas dos "reviewers" do nosso paper
-
pra gente elaborar mais essa questão, e a gente já resubmeteu a segunda versão
-
efeitos adversos como vômitos, ataxia, é, principalmente vômito e ataxia
-
Nada prolongado, nenhum caso de ataxia persistente, que poderia ser
-
algum indicativo de toxicidade cerebelar
-
nada nesse sentido, e também a questão da dose
-
que na toxicidade cerebelar tá acima de 100 mg/kg
-
mais de dez vezes, oito nove vezes o que ta sendo lidado aí
-
Aí tem essa questão do que é um efeito adverso?
-
Em termos da percepção do paciente e em termos do propósito do tratamento
-
Se a gente ta falando de um paciente psiquiátrico, com histórico problemático
-
e essas pessoas não tem problema só porque elas usam droga,
-
mas elas têm uma série de problemas de relações humanas,
-
com seus círculos sociais
-
Então será que relembrar isso, refletir sobre isso, por mais doloroso que seja
-
é adverso? Certamente não é prazeiroso
-
Mas pode ser terapêutico
-
O próprio processo psicoterapêutico sem ibogaína pode ser muito doloroso
-
Mas a gente não chama isso de "bad-trip"
-
O próprio conceito de bad-trip surgiu após as pesquisas clínicas
-
com o uso recreativo. E aí faz todo o sentido
-
A pessoa que quer se divertir tomando uma substância
-
quando ela revisita memórias traumáticas, ela se assusta,
-
ela fala "Não era isso que eu queria. Ah acho tomei uma droga intoxicada"
-
"Tomei outra droga" começa a inventar um monte de explicação
-
pro que está acontecendo com ela
-
Mas se a pessoa chegar lá com o propósito terapêutico, com apoio clínico
-
Pra olhar pra essas questões, pra mergulhar nesse material
-
e tentar entender porque ela ta fazendo tanta besteira com o uso de drogas
-
e porque ta tudo tão difícil, né?
-
Clinicamente eu acho que seria um equívoco chamar isso de "bad-trip"
-
E isso foi discutido extensivamente nos congressos recentes na Califórnia
-
Nos últimos 3 anos tiveram 3 conferências seguidas na Califórnia
-
Exclusivamente sobre ciência psicodélica
-
E a última tomou uma proporção bastante grande,
-
com mais gente do que na FeSBE,
-
que reúne todas as sociedades de biologia experimental do Brasil
-
então o interesse ta crescendo, essa é uma questão bastante atual
-
eu não chamaria de "bad-trip"
-
[Prof. Jair Mari] Bem procedente, acho que a explicação é muito boa
-
Ta correto
-
E eu acho que é difícil, é duro, é doloroso, é sofrido
-
eles relatam isso, mas muitos conseguem perceber
-
o que eles ganharam com isso, no final, se esse processo se completa
-
e uma das esperanças nossas é, no follow-up, conseguir identificar
-
os pacientes que conseguem completar
-
e os que não conseguem completar o processo
-
e tentar começar a elaborar maneiras
-
de tentar ajudar os que não conseguem, a tirar benefícios
-
dessa, digamos abertura do hipocampo
-
que talvez venha acompanhada duma ativação da amígdala
-
E aí bum
-
[Prof. Jair Mari] É, deve ser uma experiência emocional muito forte
-
pode ser próxima ao pânico, essa sensação de morte, né?
-
deve ter uma ativação adrenérgica
-
O médico fica lá presente o tempo todo,
-
ele visita os pacientes de meia em meia hora
-
ele tira pressão, mede saturação de oxigênio,
-
e reafirma esses pacientes que tá seguro
-
Tem um psiquiatra ainda vivo, tá com 84 anos, chama Stanislav Grof
-
e ele foi, ainda é né, o maior expert sobre uso clínico de LSD
-
ele fez mais de 2 mil sessões clínicas de LSD antes da proibição
-
na Europa e nos EUA
-
e ele tem uma anedota que eu acho muito interessante
-
ele fala que certa vez um paciente ligou pra ele, naquela época, que ele fazia
-
terapia com ajuda do LSD, e o paciente falou:
-
"Doutor eu quero me matar, eu preciso me matar, eu tenho que me matar"
-
E aí ele respondeu:
-
"Eu posso te ajudar com isso, mas vamos deixar o corpo fora dessa"
-
Então essa coisa da morte e renascimento no nível psicológico
-
Eu vou ajudar você a se desconstruir e se reconstruir
-
que traz essa sensação de morte, mas não no nível físico
-
não morte de fato, mas uma morte metafórica, psicológica
-
[Angélica Comis] Só colocar uma coisa, quando o próprio médico
-
que acompanha de meia em meia hora percebe esse sofrimento
-
e muitas vezes o paciente verbaliza, ele faz a medição da frequência cardíaca
-
e fala, "ta tudo bem", porque as vezes é só a sensação do indivíduo
-
então o fato de ter alguém acompanhando
-
e acalmar faz toda a diferença também
-
[Professora] Você mencionou um pouco
-
essa questão da sensação de quase morte, mas tem uns relatos ali no final
-
muito fortes, né? Então eu queria pensar um pouco como é que a gente podia
-
correlacionar também com outros momentos onde há uma sensação
-
do paciente de quase morte, e depois uma mudança de comportamento
-
Por exemplo, em UTIs, as vezes quando você tem paciente durante longo tempo
-
que passaram por situações de quase morte,
-
e ficaram longos tempos internados
-
eles saem com mudanças profundas em atitude diante da vida,
-
em propostas e coisas assim, que é um outro grupo que teve uma vivência de
-
quase morte e que a gente vê que muda
-
Queria saber como é que vocês poderiam juntar aí,
-
como ver isso não do ponto de vista farmacológico,
-
mas do ponto de vista da experiência de quase morte
-
Eu acho que é uma área bastante interessante de pesquisa,
-
obrigado por trazer essa questão desde uma perspectiva mais ampla
-
Ela começa a ganhar foco e interesse na neurociência nos últimos anos
-
já tem até sigla, que é NDE - Near Death Experience
-
tem algumas tentativas de induzir isso em laboratório,
-
ou de estudar as pessoas que estão passando por isso
-
pessoas acidentadas e tudo,
-
e tem uma literatura psicológica bastante interessante também
-
e é muito curioso, que tem alguns paralelos experienciais
-
que existe essa coisa de que as pessoas que passam por processos
-
de quase morte, tem paradas cardíacas e são resucitadas em hospital
-
elas relatam ter esse processo
-
de intensa rememoração da sua história de vida
-
desde que nasceram, aquela, existe isso entre os leigos né,
-
de que quando a gente morre a gente vê um filme, curta metragem da nossa vida
-
em alta velocidade, parece que é fato mesmo, bastante evidência psicológica
-
oriunda de hospitais e que parece ter um paralelo aí
-
e aí existe uma teoria que é bastante curiosa mas ainda longe
-
de substanciada por evidência científica
-
de que a DMT, que é um dos principais psicodélicos
-
ela é, e nesse caso é um fato científico,
-
a gente tem DMT dentro dos nossos corpos
-
A gente produz principalmente nos pulmões,
-
mas também provavelmente no cérebro
-
e a gente não tem a menor idéia de pra que serve essa DMT endógena
-
quando que ela é liberada,
-
e tem uma série de desafios metodológicos a serem superados
-
mas aí tem uma teoria de que haja uma participação da DMT na hora da morte
-
e aí teria um link, um elo entre as experiências durante a ibogaína
-
ou durante o LSD com os relatos das pessoas
-
que passaram por experiências de quase morte
-
Agora porque que é assim? Tremendo mistério né?
-
Agora o benefício, acho que o benefício pro paciente, do ponto de vista clínico
-
a gente poderia elaborar de várias maneiras,
-
talvez o Dartiu e a Angélica possam contribuir mais do que eu nessa parte
-
mas eu acho que é um fato central na nossa psique
-
que a gente vive o nosso dia a dia negando, excluindo a nossa mortalidade
-
A gente leva o dia a dia como se fôssemos imortais
-
A gente não fica lidando com esse fato, é muito doloroso,
-
é muito difícil pra ficar falando disso toda hora
-
[Prof. Jair Mari] Ainda bem, né Eduardo?
-
(Risos)
-
Melhor que a gente consiga deixar ele na gaveta
-
e mexer nisso só de vez em quando
-
Ou pra muita gente, nunca.
-
E aí tem esse ganho que a pessoa, quando ela toma essa percepção
-
dela criar uma valorização de cada momento, de cada relação
-
de cada refeição, de cada prazer da vida
-
como meu, como é bom estar aqui
-
eu quase deixei de estar aqui
-
agora a salada, que é trivial, o cara olha praquilo como se fosse a primeira salada
-
e uma salada muito especial
-
Porque ele quase perdeu
-
Então tem essa relação do que a gente atribui valor
-
de acordo com o que a gente tem, com o risco de perder aquilo,
-
ou se a gente já perdeu a gente aprende a apreciar um pouco o que a gente tinha
-
quando a gente perde, então acho que tem esse jogo psicológico
-
dentro da experiência de quase morte
-
Para saber mais: www.plantandoconsciencia.org