O preço da vergonha
-
0:01 - 0:03Vocês estão a olhar para uma mulher
-
0:03 - 0:06que foi silenciada publicamente
durante 10 anos. -
0:07 - 0:09Obviamente, isso mudou,
-
0:09 - 0:11mas só recentemente.
-
0:11 - 0:13Foi há uns meses
-
0:13 - 0:16que fiz a minha primeira
grande palestra pública -
0:16 - 0:18na cimeira dos 30 no Forbes 30:
-
0:18 - 0:231500 pessoas brilhantes,
todas com menos de 30 anos. -
0:23 - 0:26Isto significa que em 1998,
-
0:26 - 0:30o mais velho do grupo
tinha apenas 14 anos -
0:30 - 0:32e o mais novo, apenas quatro.
-
0:33 - 0:37Eu gozei com eles dizendo que alguns deles
só deviam ter ouvido falar de mim -
0:37 - 0:39nas canções de rap.
-
0:39 - 0:41Sim, eu apareço em canções de rap.
-
0:42 - 0:45Quase em 40 canções de rap.
-
0:45 - 0:46(Risos)
-
0:47 - 0:50Mas na noite da minha palestra,
aconteceu uma coisa surpreendente. -
0:50 - 0:56Aos 41 anos, fui cortejada
por um rapaz de 27 anos. -
0:57 - 0:59Que bom, não é?
-
1:00 - 1:03Ele era encantador e eu fiquei lisonjeada,
-
1:03 - 1:05mas recusei.
-
1:05 - 1:08Vocês sabem qual foi a frase
desastrosa que ele usou? -
1:09 - 1:12Que ele podia fazer com que me sentisse
com 22 anos, novamente. -
1:12 - 1:15(Risos)
-
1:15 - 1:18(Aplausos)
-
1:19 - 1:23Naquela noite, apercebi-me
de que talvez eu seja a única pessoa -
1:23 - 1:27com mais de 40 anos
que não quer voltar a ter 22 anos. -
1:27 - 1:29(Risos)
-
1:29 - 1:32(Aplausos)
-
1:36 - 1:41Aos 22 anos,
apaixonei-me pelo meu chefe, -
1:41 - 1:43e aos 24 anos,
-
1:43 - 1:46aprendi as consequências devastadoras.
-
1:48 - 1:52Levante a mão quem aqui nunca fez um erro,
-
1:52 - 1:56nem nunca fez uma coisa
de que se arrependesse aos 22 anos. -
1:57 - 2:00Sim. Era o que pensava.
-
2:01 - 2:06Tal como eu, aos 22 anos, alguns de vocês
talvez tenham escolhido o caminho errado -
2:06 - 2:10e se tenham apaixonado pela pessoa errada,
-
2:10 - 2:12até mesmo pelo vosso chefe.
-
2:12 - 2:15No entanto, ao contrário de mim,
o vosso chefe -
2:15 - 2:19provavelmente não era o presidente
dos Estados Unidos da América. -
2:20 - 2:22Claro, a vida é cheia de surpresas.
-
2:24 - 2:29Não há um dia em que não
me façam lembrar esse erro, -
2:29 - 2:31e arrependo-me profundamente desse erro.
-
2:33 - 2:40Em 1998, depois de ter sido
arrastada para um romance improvável, -
2:40 - 2:46fui apanhada no centro dum redemoinho
político, legal e mediático -
2:46 - 2:49como nunca fora visto antes.
-
2:49 - 2:52Lembrem-se, apenas há uns anos,
-
2:52 - 2:55as notícias eram conhecidas
através de três fontes: -
2:55 - 2:58lendo um jornal ou uma revista,
-
2:58 - 2:59ouvindo o rádio,
-
2:59 - 3:01ou vendo a TV.
-
3:01 - 3:02Era assim.
-
3:02 - 3:05Mas não foi esse o meu caso.
-
3:06 - 3:10Em vez disso, este escândalo
apareceu em público -
3:10 - 3:12através da revolução digital.
-
3:12 - 3:16Isso significou que tínhamos acesso
a todas as informações que quiséssemos, -
3:16 - 3:21quando as quiséssemos, a qualquer hora,
em qualquer lugar, -
3:21 - 3:25e quando a história veio à tona
em janeiro de 1998, -
3:25 - 3:27apareceu na Internet.
-
3:28 - 3:31Foi a primeira vez que
as notícias habituais -
3:31 - 3:35foram usurpadas pela Internet
para uma notícia importante, -
3:35 - 3:39um clique que repercutiu
pelo mundo inteiro. -
3:40 - 3:43O que isso significou para mim,
pessoalmente, -
3:43 - 3:48foi que, de um dia para o outro,
deixei de ser uma pessoa privada -
3:48 - 3:52para ser uma pessoa publicamente
humilhada em todo o mundo. -
3:53 - 3:58Eu fui a doente número zero
da perda da reputação pessoal -
3:58 - 4:02a uma escala mundial,
quase instantaneamente. -
4:04 - 4:06Essa ânsia para julgar,
permitida pela tecnologia, -
4:06 - 4:10gerou multidões
de atiradores de pedras virtuais. -
4:10 - 4:13Felizmente, foi antes das redes sociais,
-
4:13 - 4:17mesmo assim as pessoas
podiam comentar online, -
4:17 - 4:21enviar notícias por email, e, claro,
emails com piadas cruéis. -
4:23 - 4:26As agências de notícias divulgaram
fotos de mim por toda a parte -
4:26 - 4:30para vender jornais,
fazer propaganda online, -
4:30 - 4:32e para manter as pessoas ligadas à TV.
-
4:34 - 4:37Lembram-se de uma imagem minha
em particular, -
4:37 - 4:40a usar uma boina?
-
4:42 - 4:44Reconheço que fiz erros,
-
4:44 - 4:47especialmente ao usar aquela boina.
-
4:48 - 4:53Mas a atenção e o julgamento
que eu recebi, não a notícia, -
4:53 - 4:57mas que recebi pessoalmente,
não teve precedentes. -
4:57 - 5:00Eu fui considerada lixo,
-
5:00 - 5:07promíscua, vadia, prostituta, estúpida,
-
5:07 - 5:09e, claro, "aquela mulher".
-
5:11 - 5:13Fui vista por muitos,
-
5:13 - 5:16mas, na realidade, poucos me conheciam.
-
5:17 - 5:20Eu entendo: era fácil esquecer
-
5:20 - 5:23que aquela mulher era dimensional,
-
5:23 - 5:27tinha uma alma, e tinha sido intacta.
-
5:30 - 5:34Quando isso aconteceu comigo,
há 17 anos, não havia nome para isso. -
5:35 - 5:39Agora chamamos-lhe violência
cibernética e assédio online. -
5:41 - 5:44Hoje, eu quero partilhar convosco
alguma das minhas experiências, -
5:44 - 5:49contar como aquela experiência tem ajudado
a formar as minhas observações culturais, -
5:49 - 5:53e como eu espero que a minha experiência
passada possa gerar mudanças -
5:53 - 5:56que resultem em menos
sofrimento para outros. -
5:58 - 6:03Em 1998, perdi
a minha reputação e dignidade. -
6:04 - 6:07Perdi quase tudo,
-
6:07 - 6:10e quase perdi a vida.
-
6:13 - 6:15Vou traçar-vos um quadro.
-
6:17 - 6:21Em setembro de 1998.
-
6:21 - 6:24estou sentada numa sala sem janelas,
-
6:24 - 6:27no Gabinete da Procuradoria-Geral
-
6:27 - 6:30sob luzes fluorescentes.
-
6:31 - 6:35Oiço o som da minha voz,
-
6:35 - 6:39da minha voz nas chamadas telefónicas
ilegalmente gravadas -
6:39 - 6:41que um suposto amigo
tinha feito um ano antes. -
6:42 - 6:45Estou ali porque
fui convocada legalmente -
6:45 - 6:51a autenticar pessoalmente
todas as 20 horas de conversas gravadas. -
6:53 - 6:57Nos últimos oito meses,
o misterioso conteúdo dessas gravações -
6:57 - 7:01tem estado pendurado sobre a minha cabeça
como a espada de Dâmocles. -
7:01 - 7:04Ou seja, quem se lembra
do que disse um ano antes? -
7:06 - 7:09Assustada e constrangida, escutei,
-
7:11 - 7:16escutei, quando tagarelava
sobre as trivialidades do dia; -
7:16 - 7:20escutei, quando confessei
o meu amor pelo presidente, -
7:20 - 7:22e, claro, o meu coração partido.
-
7:23 - 7:28Ouvi-me, umas vezes maliciosa,
outras vezes impertinente ou idiota, -
7:28 - 7:32a ser cruel, impiedosa, grosseira.
-
7:33 - 7:36Ouvi, profundamente constrangida,
-
7:36 - 7:39a pior versão de mim mesma,
-
7:39 - 7:42uma pessoa que nem eu mesma reconheço.
-
7:45 - 7:49Alguns dias depois, é entregue
ao Congresso o relatório Starr. -
7:49 - 7:54Contém todas aquelas gravações
e transcrições, aquelas palavras roubadas. -
7:55 - 7:59Já é bastante horrível
que as pessoas possam ler as transcrições -
7:59 - 8:02mas, umas semanas depois,
-
8:02 - 8:05as gravações de áudio vão para o ar na TV,
-
8:05 - 8:08aparecem na Internet
partes significativas. -
8:11 - 8:14A humilhação pública foi dolorosa.
-
8:15 - 8:18A vida tornou-se quase insuportável.
-
8:21 - 8:26Isto não acontecia com
frequência em 1998. -
8:26 - 8:32Ou seja, o roubo de palavras,
ações, conversas ou fotos -
8:32 - 8:34privadas das pessoas,
-
8:34 - 8:37e depois torná-las públicas
-
8:37 - 8:39— públicas sem autorização,
-
8:39 - 8:42públicas fora do contexto,
-
8:42 - 8:45e públicas sem compaixão.
-
8:46 - 8:49Avancemos 12 anos para 2010.
-
8:50 - 8:52Agora nasceram as redes sociais.
-
8:53 - 8:55O panorama, infelizmente,
-
8:55 - 8:58passou a ser muito mais populoso
em situações como a minha, -
8:58 - 9:02quer uma pessoa faça um erro ou não,
-
9:02 - 9:06Agora é para pessoas públicas e privadas.
-
9:07 - 9:12As consequências para alguns
têm sido terríveis, desastrosas. -
9:14 - 9:16Eu estava ao telefone com a minha mãe
-
9:16 - 9:19em setembro de 2010,
-
9:19 - 9:21e estávamos a conversar sobre a notícia
-
9:21 - 9:24de um estudante caloiro universitário
da Universidade de Rutgers, -
9:24 - 9:26chamado Tyler Clementi.
-
9:27 - 9:30O amável, sensível, criativo Tyler
-
9:30 - 9:33foi secretamente filmado
por uma webcam do colega de quarto -
9:33 - 9:35enquanto estava a ter relações
com um outro homem. -
9:37 - 9:39Quando o mundo virtual
soube desse incidente, -
9:39 - 9:43começou a ridicularização
e o abuso virtual. -
9:45 - 9:47Alguns dias depois,
-
9:47 - 9:50Tyler saltou da ponte George Washington
-
9:50 - 9:51para a morte.
-
9:52 - 9:54Tinha 18 anos.
-
9:56 - 10:00A minha mãe estava fora de si sobre
o que acontecera a Tyler e à sua família. -
10:00 - 10:03Sofria atrozmente,
-
10:03 - 10:06de um modo que eu não percebia bem.
-
10:07 - 10:09Depois acabei por perceber
-
10:09 - 10:12que ela estava a reviver 1998,
-
10:12 - 10:16a reviver uma época em que se sentava
à minha cabeceira todas as noites, -
10:20 - 10:25a reviver uma época em que me obrigava
a tomar banho de porta aberta, -
10:25 - 10:29e a reviver uma época
em que os meus pais receavam -
10:29 - 10:32que eu fosse humilhada até à morte,
-
10:32 - 10:34literalmente.
-
10:36 - 10:39Hoje, muitos pais
-
10:39 - 10:43nao têm tido hipótese de agir
e salvar os seus entes queridos. -
10:43 - 10:47Muitos deles só se apercebem
do sofrimento e humilhação dos filhos -
10:47 - 10:49quando é tarde demais.
-
10:50 - 10:54A morte trágica e sem sentido de Tyler
foi um ponto de viragem para mim. -
10:55 - 10:58Serviu para voltar a contextualizar
as minhas experiências. -
10:59 - 11:03Depois comecei a olhar para o mundo
de humilhação e violência à minha volta -
11:03 - 11:05e ver as coisas de modo diferente.
-
11:07 - 11:12Em 1998, não tínhamos a mínima ideia
para onde nos levaria -
11:12 - 11:14esta nova tecnologia ousada,
chamada Internet. -
11:15 - 11:18Desde então, ela tem ligado pessoas
de formas inimagináveis, -
11:18 - 11:21juntando irmãos perdidos,
-
11:21 - 11:25salvando vidas, desencadeando revoluções.
-
11:25 - 11:29Mas a escuridão, a violência cibernética,
as humilhações por que passei -
11:29 - 11:31multiplicaram-se como cogumelos.
-
11:33 - 11:38Todos os dias, online, há pessoas,
especialmente os jovens, -
11:38 - 11:41que não têm maturidade
para aguentar isto. -
11:41 - 11:43são tão violentados e humilhados
-
11:43 - 11:46que não conseguem imaginar
viver mais um dia. -
11:46 - 11:49E alguns, tragicamente, não vivem.
-
11:49 - 11:53Não há nada de virtual nisso.
-
11:53 - 12:00ChildLine, uma organização do Reino Unido
que ajuda jovens em vários assuntos, -
12:00 - 12:03publicou uma estatística alarmante
no ano passado. -
12:04 - 12:07Entre 2012 e 2013,
-
12:07 - 12:10houve um aumento de 87%
-
12:10 - 12:14em chamadas e emails relacionados
com violência cibernética. -
12:15 - 12:17Uma meta-análise feita na Holanda
-
12:17 - 12:19mostrou que, pela primeira vez,
-
12:19 - 12:24a violência cibernética estava
a provocar mais tendências suicidas -
12:24 - 12:28do que a violência na vida real.
-
12:28 - 12:32Sabem o que me chocou
— embora não devesse chocar — -
12:32 - 12:36foi outra pesquisa, no ano passado,
que concluiu que a humilhação -
12:36 - 12:39era a emoção sentida mais intensamente
-
12:39 - 12:43do que a felicidade ou mesmo a raiva.
-
12:44 - 12:48A crueldade para com os outros
não é nada de novo, -
12:48 - 12:54mas online, tecnologicamente
a humilhação acrescida é amplificada, -
12:54 - 12:58sem controlo, e permanentemente acessível.
-
12:59 - 13:05Outrora, o eco da humilhação
estendia-se apenas à família, à aldeia, -
13:05 - 13:07à escola ou à comunidade,
-
13:07 - 13:10mas agora estende-se também
à comunidade online. -
13:11 - 13:14Milhões de pessoas, quase sempre anónimas,
-
13:14 - 13:17podem apunhalar-nos com palavras,
e isso é muito doloroso. -
13:18 - 13:21Não há perímetros em volta
do número de pessoas -
13:21 - 13:23que podem observar-nos publicamente
-
13:23 - 13:27e colocar-nos na praça pública.
-
13:28 - 13:30Há um preço muito pessoal
-
13:30 - 13:32para a humilhação pública.
-
13:33 - 13:37O crescimento da Internet
tem feito subir esse preço. -
13:40 - 13:42Durante quase duas décadas, até hoje,
-
13:42 - 13:47temos lentamente semeado as sementes
da vergonha e da humilhação pública -
13:47 - 13:51no nosso solo cultural,
tanto online como offline. -
13:52 - 13:57Sites de mexericos, paparazzi,
reality shows, políticos, -
13:57 - 14:03agências de notícias e por vezes hackers,
todo um tráfego de humilhação -
14:03 - 14:07têm levado à insensibilidade
e a um ambiente virtual permissivo -
14:07 - 14:13que se presta à bisbilhotice, à invasão
de privacidade e à violência cibernética. -
14:13 - 14:17Esta mudança tem criado aquilo
a que o professor Nicolaus Mills chama -
14:17 - 14:21"cultura da humilhação".
-
14:21 - 14:25Considerem uns exemplos notórios
só nos últimos seis meses. -
14:26 - 14:31O Snapchat, um serviço que é usado
basicamente por gerações mais jovens -
14:31 - 14:34afirma que as mensagens
têm uma vida útil -
14:34 - 14:36de apenas uns segundos.
-
14:36 - 14:39Podem imaginar o tipo
de conteúdo que aquilo tem. -
14:39 - 14:42Um aplicativo
que os utilizadores do Snapchat -
14:42 - 14:44usam para preservar a vida útil
-
14:44 - 14:46das mensagens foi pirateada.
-
14:46 - 14:53Foram filtradas para a Internet
100 000 conversas pessoais, fotos e vídeos -
14:53 - 14:56que agora têm uma vida útil para sempre.
-
14:57 - 15:01As contas do iCloud de Jennifer Lawrence
e de muitos outros atores foram pirateadas -
15:01 - 15:05e foram divulgadas na Internet
fotos privadas, íntimas e de nudez -
15:05 - 15:07sem autorização deles.
-
15:07 - 15:11Um site de mexericos
teve mais de cinco milhões de visitas -
15:11 - 15:13só para esta história.
-
15:15 - 15:18E o que dizer do caso do ataque
cibernético à Sony Pictures? -
15:19 - 15:22Os documentos que receberam
mais atenção -
15:22 - 15:26foram os emails privados
que eram mais humilhantes. -
15:29 - 15:31Mas nesta cultura da humilhação,
-
15:31 - 15:35há outro tipo de preço a ser pago
por humilhação pública. -
15:36 - 15:39O preço não mede
o custo para a vítima, -
15:39 - 15:41que Tyler e muitos outros,
-
15:41 - 15:43especialmente as mulheres, as minorias,
-
15:43 - 15:47e membros da comunidade LGBTQ têm pago.
-
15:47 - 15:52Mas o preço mede os lucros
dos predadores. -
15:53 - 15:57Esta invasão dos outros é a matéria-prima,
-
15:57 - 16:03eficaz e impiedosamente explorada,
empacotada e vendida para ganhar dinheiro. -
16:04 - 16:09Apareceu um mercado em que
a humilhação pública é uma mercadoria -
16:09 - 16:12e a vergonha é uma indústria.
-
16:13 - 16:15Como se ganha dinheiro?
-
16:16 - 16:18Com cliques.
-
16:18 - 16:20Quanto maior a vergonha, mais cliques.
-
16:20 - 16:23Quanto mais cliques,
mais dólares de publicidade. -
16:25 - 16:28Nós estamos num ciclo perigoso.
-
16:28 - 16:31Quanto mais clicamos
nesse tipo de mexericos, -
16:31 - 16:34mais indiferentes ficamos
às vidas humanas por trás deles. -
16:34 - 16:38Quanto mais indiferentes nos tornamos,
mais clicamos. -
16:40 - 16:43Enquanto isso, alguém está a lucrar
-
16:43 - 16:45à custa do sofrimento de alguém.
-
16:47 - 16:49Em cada clique, fazemos uma escolha.
-
16:50 - 16:53Quanto mais saturarmos a nossa cultura
com a humilhação pública, -
16:53 - 16:55mais aceitável ela é,
-
16:55 - 16:58mais vezes veremos comportamentos
como a violência cibernética, -
16:58 - 17:03a bisbilhotice, quaisquer formas
de piratagem e de assédio online. -
17:04 - 17:09Porquê? Porque todos eles têm
humilhação no âmago. -
17:11 - 17:15Este comportamento é um sintoma
da cultura que criámos. -
17:16 - 17:17Pensem nisso.
-
17:19 - 17:22A mudança de comportamento
começa com a evolução de crenças. -
17:23 - 17:26Assistimos a isso
com o racismo, a homofobia, -
17:26 - 17:30e muitos outros preconceitos,
hoje e no passado. -
17:31 - 17:34À medida que mudámos as nossas crenças
quanto ao casamento homossexual, -
17:34 - 17:38mais gente tem beneficiado
de liberdades igualitárias. -
17:38 - 17:41Quando começámos
a valorizar a sustentabilidade, -
17:41 - 17:43houve mais gente que começaram a reciclar.
-
17:44 - 17:47Portanto, à medida que avança
a nossa cultura da humilhação, -
17:47 - 17:50precisamos de uma revolução cultural.
-
17:51 - 17:54É preciso parar com a humilhação pública
como se fosse um desporto sangrento. -
17:55 - 17:58É altura para uma intervenção
na Internet e na nossa cultura. -
17:59 - 18:03A mudança começa com uma coisa simples,
mas não muito fácil. -
18:04 - 18:08Precisamos de nos voltar
para os antigos valores de compaixão -
18:08 - 18:11— compaixão e empatia.
-
18:11 - 18:14Online, temos um défice de compaixão,
-
18:14 - 18:16um crise de empatia.
-
18:17 - 18:21O investigador Brené Brown
disse, e eu cito: -
18:21 - 18:24"A vergonha não sobrevive à empatia".
-
18:25 - 18:29A vergonha não sobreviverá à empatia.
-
18:31 - 18:34Eu tenho vivido muitos dias negros
na minha vida, -
18:34 - 18:41e foi a compaixão e a empatia
da minha família, amigos e colegas, -
18:41 - 18:44por vezes até de estranhos,
que me salvaram. -
18:45 - 18:49Até a empatia de uma única pessoa
pode fazer a diferença. -
18:50 - 18:53A teoria da influência minoritária,
-
18:53 - 18:56proposta pelo psicólogo social
Serge Moscovici, -
18:56 - 18:59diz que, mesmo em números pequenos,
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18:59 - 19:01quando há consistência ao longo do tempo,
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19:01 - 19:03pode acontecer uma mudança.
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19:04 - 19:07No mundo online, podemos promover
uma influência minoritária -
19:07 - 19:09ao tornarmo-nos intervenientes.
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19:09 - 19:13Um interveniente, ao contrário
da apatia de um espetador, -
19:13 - 19:18publica um comentário positivo
ou denuncia uma situação de violência. -
19:18 - 19:23Acreditem, comentários solidários
ajudam a diminuir a negatividade. -
19:23 - 19:27Também podemos contrariar a cultura
ao apoiar organizações -
19:27 - 19:29que lidam com estes tipo de problemas,
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19:29 - 19:33como a Fundação Tyler Clementi nos EUA.
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19:33 - 19:35No Reino Unido, há o Anti-Bullying Pro,
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19:35 - 19:39e na Austrália, há o Projeto Rockit.
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19:40 - 19:46Nos falamos muito sobre o nosso direito
à liberdade de expressão, -
19:46 - 19:48mas precisamos falar mais
-
19:48 - 19:51sobre a nossa responsabilidade
para com a liberdade de expressão. -
19:53 - 19:54Todos nós queremos ser ouvidos,
-
19:54 - 19:59mas temos que reconhecer a diferença
entre dizer com intenção -
19:59 - 20:02e falar só para chamar a atenção.
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20:04 - 20:08A Internet é a autoestrada
para o "Id" -
20:08 - 20:11mas online, a empatia para com os outros
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20:11 - 20:16beneficia-nos a todos e ajuda a criar
um mundo melhor e mais seguro. -
20:16 - 20:19Precisamos de comunicar online
com compaixão, -
20:19 - 20:22consumir notícias com compaixão,
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20:22 - 20:24e clicar com compaixão.
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20:24 - 20:29Imaginem meter-se na pele da pessoa
que dá origem a esses cabeçalhos. -
20:31 - 20:34Gostava de terminar com uma nota pessoal.
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20:36 - 20:38Nos últimos nove meses,
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20:38 - 20:41a pergunta que mais me têm feito é:
"Porquê?" -
20:41 - 20:45Porquê agora?
Porque é que eu apareço agora? -
20:45 - 20:48Podem imaginar o que há
por detrás destas perguntas. -
20:48 - 20:51A resposta não tem nada
a ver com a política. -
20:52 - 20:57A melhor resposta foi e é:
"Porque chegou a hora, -
20:57 - 21:00"a hora de deixar de me preocupar
com o passado -
21:00 - 21:03"a hora de deixar de viver
uma vida de opróbrio -
21:03 - 21:06"e é hora de voltar à minha narrativa".
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21:07 - 21:10Também não se trata apenas de me salvar.
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21:11 - 21:15Qualquer um que esteja a sofrer
de vergonha e humilhação pública -
21:15 - 21:17precisa de saber uma coisa:
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21:17 - 21:20Pode sobreviver.
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21:20 - 21:23Eu sei que é difícil.
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21:23 - 21:26Talvez não seja indolor, rápido ou fácil,
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21:26 - 21:30mas pode insistir
num final diferente para a sua história. -
21:31 - 21:34Termos compaixão por nós mesmos.
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21:35 - 21:38Todos nós merecemos compaixão,
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21:38 - 21:43e viver online e offline
num mundo mais compassivo. -
21:44 - 21:46Obrigada por me ouvirem.
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21:46 - 21:49(Aplausos)
- Title:
- O preço da vergonha
- Speaker:
- Monica Lewinsky
- Description:
-
"A humilhação pública é um desporto sangrento que tem que acabar", diz Monica Lewinsky. "Eu fui a doente número zero de perder uma reputação pessoal a uma escala mundial, quase instantaneamente". Hoje, o tipo de humilhação pública online por que ela passou tornou-se permanente — e pode ser mortal. Numa palestra corajosa, lança um olhar duro sobre a nossa cultura online de humilhação e apela a uma forma diferente.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 22:26
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Margarida Ferreira accepted Portuguese subtitles for The price of shame | ||
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