A nossa história de violação e reconciliação
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0:00 - 0:03[Esta palestra contém imagens
e descrições de violência sexual -
0:03 - 0:05[Destina-se a um público avisado]
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0:05 - 0:08Tom Stranger: Em 1996,
quando eu tinha 18 anos, -
0:08 - 0:12tive a oportunidade de ouro de entrar
num programa internacional de intercâmbio. -
0:12 - 0:16Ironicamente, sou um australiano
que prefere um tempo gélido, -
0:16 - 0:19por isso, estava animado e triste
ao mesmo tempo, -
0:19 - 0:21quando entrei num avião para a Islândia,
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0:21 - 0:24logo depois de ter dito adeus
aos meus pais e irmãos. -
0:25 - 0:28Fui acolhido em casa
de uma linda família islandesa -
0:28 - 0:30que me levou em caminhadas,
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0:30 - 0:33e que me ajudou a compreender
a melódica língua islandesa -
0:33 - 0:36De início, tive problemas
com saudades de casa. -
0:36 - 0:38Fazia "snowboard" depois da escola,
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0:38 - 0:40e dormia muito.
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0:40 - 0:44Duas horas de química numa língua
que ainda não compreende totalmente -
0:44 - 0:46pode ser um bom sedativo.
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0:46 - 0:48(Risos)
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0:49 - 0:51O meu professor recomendou-me
que tentasse o teatro da escola, -
0:51 - 0:54para me tornar um pouco
mais activo socialmente. -
0:54 - 0:57Acabei por não fazer parte da peça,
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0:57 - 0:59mas através dela conheci Thordis.
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0:59 - 1:01Partilhámos um encantador romance juvenil,
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1:01 - 1:04e encontrávamo-nos à hora do almoço
para andar de mãos dadas -
1:04 - 1:07e passear pelo centro antigo de Reykjavík.
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1:07 - 1:10Conheci a família de acolhimento dela
e ela conheceu os meus amigos. -
1:11 - 1:13Estávamos numa relação crescente
há pouco mais de um mês -
1:13 - 1:16quando se realizou
o Baile de Natal da escola. -
1:18 - 1:21Thordis Elva: Eu tinha 16 anos
e estava apaixonada pela primeira vez. -
1:22 - 1:24Irmos juntos ao baile de Natal
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1:24 - 1:26era a oficialização da nossa relação,
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1:26 - 1:29e eu sentia-me a rapariga
mais sortuda do mundo. -
1:29 - 1:32Já não era uma criança,
mas uma jovem adolescente. -
1:33 - 1:35Feliz com a minha maturidade
recém-descoberta, -
1:35 - 1:39decidi que seria natural experimentar rum
pela primeira vez naquela noite. -
1:40 - 1:41Foi uma má ideia.
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1:42 - 1:43Senti-me muito mal,
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1:43 - 1:45com perdas de consciência
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1:45 - 1:48e espasmos de vómitos compulsivos.
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1:48 - 1:51Os seguranças queriam chamar
uma ambulância, -
1:51 - 1:54mas o Tom fez de cavaleiro andante,
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1:54 - 1:56e disse-lhes que me levaria a casa.
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1:57 - 1:59Foi como um conto de fadas,
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1:59 - 2:01os seus braços fortes à minha volta,
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2:01 - 2:03deitando-me no conforto da minha cama.
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2:04 - 2:08Mas a gratidão que senti por ele,
transformou-se em terror -
2:08 - 2:13assim que ele começou a tirar
a minha roupa e a pôr-se em cima de mim. -
2:13 - 2:15A minha cabeça estava melhor,
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2:15 - 2:18mas o meu corpo estava ainda muito fraco
para conseguir lutar -
2:18 - 2:20e a dor cegava-me.
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2:21 - 2:23Parecia que estava a ser cortada em duas.
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2:24 - 2:25Para me manter lúcida,
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2:26 - 2:29contei, silenciosamente,
os segundos no meu relógio. -
2:30 - 2:32E desde aquela noite,
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2:32 - 2:37sei que duas horas têm 7200 segundos.
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2:39 - 2:42Apesar de coxear durante dias
e chorar durante semanas, -
2:42 - 2:47este incidente não correspondia
às violações que eu tinha visto na TV. -
2:47 - 2:49O Tom não era um lunático armado,
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2:49 - 2:51era o meu namorado.
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2:51 - 2:54E não aconteceu num beco deteriorado,
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2:54 - 2:56aconteceu na minha própria cama.
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2:57 - 3:00Quando entendi que o que me aconteceu
foi uma violação, -
3:00 - 3:02ele já tinha acabado o programa
de intercâmbio -
3:03 - 3:04e regressado à Austrália.
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3:05 - 3:08Então, disse a mim própria que
não valia a pena falar no que acontecera. -
3:08 - 3:12Além disso, de certo modo,
tinha sido culpa minha. -
3:13 - 3:15Nasci num mundo em que
as raparigas são ensinadas -
3:15 - 3:18que são violadas por alguma razão.
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3:18 - 3:20Têm uma saia era demasiado curta,
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3:20 - 3:23estavam demasiado sorridente,
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3:23 - 3:25o seu hálito cheirava a álcool.
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3:26 - 3:29E eu era a culpada de todas essas coisas,
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3:29 - 3:31por isso, a culpa tinha de ser minha.
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3:32 - 3:33Demorei anos a entender
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3:33 - 3:37que apenas uma coisa podia ter impedido
que eu fosse violada naquela noite, -
3:37 - 3:39e não era a minha saia,
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3:39 - 3:41não era o meu sorriso,
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3:41 - 3:44não era a minha confiança infantil.
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3:44 - 3:48A única coisa que me podia ter impedido
de ser violada naquela noite -
3:48 - 3:50era o homem que me violara
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3:50 - 3:52— se ele tivesse parado.
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3:53 - 3:55TS: Tenho memórias vagas do dia seguinte:
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3:56 - 3:58os efeitos da ressaca,
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3:58 - 4:01um certo vazio que eu tentei esconder.
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4:02 - 4:03Nada mais.
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4:04 - 4:06Mas não apareci à porta da Thordis.
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4:07 - 4:09É importante agora referir
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4:09 - 4:12que eu não vi a minha acção
como o que realmente era. -
4:13 - 4:16A palavra "violação" não ressoava
na minha mente como deveria, -
4:17 - 4:20e não me estava a massacrar-me
com a memória da noite anterior. -
4:22 - 4:24Não era uma negação consciente,
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4:24 - 4:27era como se qualquer reconhecimento
da realidade fosse proibido. -
4:28 - 4:33A minha definição das minhas acções
refutou totalmente qualquer reconhecimento -
4:33 - 4:35do trauma imenso que causara à Thordis.
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4:36 - 4:38Para ser honesto,
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4:38 - 4:43rejeitei o acto nos dias a seguir
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4:43 - 4:45e quando o estava a praticar.
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4:45 - 4:50Neguei a verdade, convencendo-me
que era sexo e não uma violação. -
4:51 - 4:55Esta é uma mentira da qual
sinto uma imensa culpa. -
4:56 - 4:58Acabei com a Thordis uns dias depois,
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4:58 - 5:00e vi-a algumas vezes
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5:00 - 5:02durante o resto do meu ano na Islândia,
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5:02 - 5:05sentindo uma facada no coração
de cada vez que a via. -
5:06 - 5:10No fundo, sabia que tinha feito algo
de muito errado. -
5:11 - 5:14Mas sem planear, afoguei as memórias,
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5:14 - 5:16e atei-as a uma rocha.
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5:18 - 5:20O que se passou nos nove anos a seguir
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5:20 - 5:23pode ser descrito como "negação e fuga".
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5:24 - 5:28Quando tinha hipótese de entender
o tormento que causara, -
5:29 - 5:31não ficava parado tempo suficiente
para o fazer. -
5:32 - 5:34Quer fosse por distracção,
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5:34 - 5:36pelo uso de substâncias,
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5:36 - 5:37pela busca de emoções
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5:37 - 5:41ou pelo controlo escrupuloso
da minha consciência, -
5:41 - 5:43recusei-me a estar parado e calado.
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5:45 - 5:46E com este barulho,
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5:47 - 5:49também me apoiei
noutras partes da minha vida, -
5:49 - 5:52para construir uma imagem de quem eu era.
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5:53 - 5:54Eu era surfista,
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5:54 - 5:56um estudante de ciências sociais,
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5:56 - 5:58um amigo de boa gente,
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5:58 - 6:00um irmão e filho amado,
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6:00 - 6:02um guia de recreação
ao ar livre, -
6:02 - 6:04e, por fim, um jovem trabalhador.
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6:04 - 6:08Agarrei-me à noção de que não era
uma pessoa má. -
6:09 - 6:12Não pensava que tinha isto dentro de mim.
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6:12 - 6:14Pensava que era feito
de outra coisa. -
6:15 - 6:16Na minha educação,
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6:16 - 6:19na minha adorada família
e exemplos a seguir, -
6:20 - 6:22as pessoas próximas de mim
eram gentis e genuínas -
6:22 - 6:24no seu respeito em relação às mulheres.
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6:25 - 6:29Levei muito tempo para conseguir encarar
este meu lado sombrio, -
6:30 - 6:31e fazer-lhe perguntas.
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6:34 - 6:36TE: Nove anos depois do Baile de Natal,
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6:36 - 6:38eu tinha 25 anos,
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6:38 - 6:41e estava à beira
de um esgotamento nervoso. -
6:41 - 6:45O meu amor-próprio estava enterrado
num silêncio esmagador -
6:45 - 6:48que me isolava de toda a gente
de quem gostava, -
6:48 - 6:51e eu estava consumida
pelo ódio e pela raiva -
6:51 - 6:53que depositava em mim mesma.
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6:54 - 6:56Um dia, saí pela porta em lágrimas
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6:56 - 6:59depois de uma discussão
com uma pessoa de quem gostava -
6:59 - 7:02e entrei num café,
onde pedi uma caneta. -
7:03 - 7:04Tinha sempre um bloco de notas comigo,
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7:05 - 7:08dizendo que era para anotar ideias
em momentos de inspiração, -
7:08 - 7:13mas a verdade é que precisava
de estar constantemente ocupada, -
7:13 - 7:15porque, em momentos de silêncio,
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7:15 - 7:17começava a contar os segundos outra vez.
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7:18 - 7:23Mas naquele dia, vi com admiração
as palavras que saíam da caneta, -
7:23 - 7:26formando a carta mais importante
que alguma vez escrevi, -
7:26 - 7:28endereçada ao Tom.
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7:28 - 7:32Juntamente com o relato da violência
a que ele me submetera, -
7:32 - 7:35as palavras, "quero encontrar o perdão"
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7:35 - 7:37olharam de volta para mim,
-
7:37 - 7:39não surpreendendo ninguém,
para além de mim. -
7:40 - 7:44Mas, no fundo, entendi que era esta
a saída para o meu sofrimento, -
7:44 - 7:48porque, quer ele merecesse ou não
o meu perdão, -
7:48 - 7:51eu merecia ter paz.
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7:51 - 7:54Os meus dias de vergonha acabaram.
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7:56 - 7:58Antes de enviar a carta,
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7:58 - 8:00preparei-me para todos os tipos
de respostas negativas, -
8:00 - 8:04ou para o que achei mais provável:
nenhuma resposta. -
8:05 - 8:08A única opção para a qual não me preparei
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8:08 - 8:10foi a que recebi
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8:10 - 8:15— uma confissão do Tom, cheia de remorsos.
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8:16 - 8:20Afinal, ele também estava prisioneiro
do silêncio. -
8:20 - 8:24Isso marcou o começo de oito anos
de troca de correspondência -
8:24 - 8:27que, só Deus sabe, não foi fácil,
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8:27 - 8:29mas foi sempre honesta.
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8:30 - 8:33Livrei-me de pesos
que, erradamente, suportara -
8:33 - 8:37e ele, por sua vez, aceitou o que tinha
feito, com todo o seu coração. -
8:37 - 8:40As nossas trocas tornaram-se
uma plataforma -
8:40 - 8:42para dissecar as consequências
daquela noite, -
8:42 - 8:45e foram tudo,
desde perturbadoras -
8:45 - 8:47a uma terapêutica indescritível.
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8:48 - 8:52Mesmo assim, este capítulo
ainda não estava encerrado para mim. -
8:52 - 8:56Talvez porque o formato email
não me parecesse muito pessoal, -
8:56 - 8:58talvez porque é fácil sermos corajosos
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8:58 - 9:02quando estamos atrás de um ecrã
no outro lado do planeta. -
9:02 - 9:04Mas começámos um diálogo
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9:04 - 9:08que senti que era necessário
explorar ao máximo. -
9:08 - 9:10Então, depois de oito anos de escrita,
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9:10 - 9:14e quase 16 anos depois
daquela terrível noite, -
9:14 - 9:18ganhei coragem e propus uma ideia louca:
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9:18 - 9:20encontrarmo-nos pessoalmente
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9:20 - 9:22e enfrentar o nosso passado
de uma vez por todas. -
9:25 - 9:29TS: A Islândia e a Austrália
são geograficamente assim. -
9:29 - 9:31No meio das duas está a África do Sul.
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9:32 - 9:35Escolhemos a Cidade do Cabo,
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9:35 - 9:37e estivemos lá durante uma semana.
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9:38 - 9:42A cidade em si era uma lindíssima
e poderosa paisagem -
9:42 - 9:45para nos focarmos na reconciliação
e no perdão. -
9:46 - 9:48Nunca antes o alívio e a aproximação
foram testados -
9:49 - 9:50como foram na África do Sul.
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9:51 - 9:55Como uma nação, a África do Sul procurou
entrar na verdade do seu passado, -
9:55 - 9:57e ouvir os detalhes da sua história.
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9:59 - 10:03Saber isso apenas aumentou o efeito
que a Cidade do Cabo teve em nós. -
10:04 - 10:05Durante essa semana,
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10:05 - 10:08contámos um ao outro
as histórias da nossa vida, -
10:08 - 10:10do princípio ao fim.
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10:11 - 10:15E isto era analisar
a nossa própria história. -
10:16 - 10:18Seguimos regras estritas
de sermos honestos, -
10:18 - 10:21e, com isto, veio uma certa exposição,
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10:21 - 10:24e uma vulnerabilidade de coração aberto.
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10:24 - 10:26Houve confissões íntimas,
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10:26 - 10:29e momentos em que simplesmente
não pudemos compreender -
10:29 - 10:31a experiência da outra pessoa.
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10:32 - 10:37Os efeitos sísmicos da violência sexual
foram falados em alto e bom som, -
10:37 - 10:39cara a cara.
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10:40 - 10:42Noutras vezes, no entanto,
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10:42 - 10:44encontrámos uma enorme clareza,
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10:45 - 10:50e um riso totalmente inesperado,
mas libertador. -
10:51 - 10:53Quando chegou o momento certo,
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10:53 - 10:57demos o nosso melhor
para nos ouvirmos com atenção. -
10:57 - 11:03E as nossas realidades individuais
foram para o ar com uma pureza natural -
11:03 - 11:06que não podia fazer menos
do que aliviar a alma. -
11:09 - 11:13TE: Querer vingança
é uma emoção muito humana, -
11:13 - 11:14instintiva, até.
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11:15 - 11:17Tudo o que eu queria fazer,
durante anos, -
11:17 - 11:21era magoar o Tom,
tanto como ele me tinha magoado a mim. -
11:22 - 11:25Mas se eu não tivesse encontrado
uma saída para o ódio e para a raiva, -
11:25 - 11:27não tenho a certeza se estaria aqui hoje.
-
11:28 - 11:32Isto não é para dizer que não tive
as minhas dúvidas ao longo do caminho. -
11:33 - 11:36Quando o avião poisou na pista
de aterragem na Cidade do Cabo, -
11:36 - 11:38lembro-me de pensar:
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11:38 - 11:42"Porque é que não arranjei um terapeuta
e uma garrafa de vodka -
11:42 - 11:44"como uma pessoa normal faria?"
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11:45 - 11:47(Risos)
-
11:47 - 11:51Por vezes, a nossa procura
da compreensão, na Cidade do Cabo, -
11:51 - 11:53parecia uma missão impossível,
-
11:53 - 11:55e só me apetecia desistir
-
11:55 - 11:57e ir para casa para o meu marido, Vidir,
-
11:57 - 11:59e para o nosso filho.
-
12:00 - 12:02Mas, apesar das nossas dificuldades,
-
12:02 - 12:07esta viagem resultou
num sentimento vitorioso -
12:07 - 12:10de que o bem triunfara sobre o mal,
-
12:11 - 12:15que algo construtivo
podia nascer das ruínas. -
12:17 - 12:18Li algures
-
12:18 - 12:20que devemos tentar ser a pessoa
de que precisávamos -
12:20 - 12:22quando éramos mais novos.
-
12:22 - 12:24E quando eu era adolescente,
-
12:24 - 12:28eu devia saber que a vergonha
não era minha, -
12:27 - 12:30que há esperança depois da violação,
-
12:30 - 12:32que se pode encontrar a felicidade,
-
12:32 - 12:34como a que partilho hoje com o meu marido.
-
12:34 - 12:38Foi por isso que comecei a escrever
quando saí da Cidade do Cabo, -
12:38 - 12:42o que resultou num livro
em que o Tom é co-autor, -
12:41 - 12:44que esperamos seja útil
para pessoas dos dois lados -
12:44 - 12:47da escala abusador-sobrevivente.
-
12:47 - 12:49Quanto mais não seja,
-
12:49 - 12:54é uma história que gostaríamos
de ter ouvido quando éramos mais novos. -
12:55 - 12:57Dada a natureza da nossa história,
-
12:57 - 12:59sei que as palavras
que inevitavelmente a acompanham -
13:00 - 13:02— vítima, violador —
-
13:02 - 13:05e os rótulos são uma maneira
de organizar conceitos, -
13:05 - 13:09mas podem também ser desumanizadores
nas suas conotações. -
13:10 - 13:12Quando alguém é considerado uma vítima,
-
13:12 - 13:17é muito fácil rotulá-la
como alguém diminuído, -
13:17 - 13:19desonrado,
-
13:19 - 13:20inferior aos outros.
-
13:21 - 13:23Da mesma forma, quando alguém
é considerado um violador, -
13:23 - 13:27é muito fácil chamar-lhe monstro
-
13:27 - 13:28desumano.
-
13:29 - 13:32Mas como podemos entender
o que é que, nas sociedades humanas, -
13:32 - 13:33produz a violência
-
13:33 - 13:38se nos recusamos a reconhecer
a humanidade daqueles que a praticam? -
13:40 - 13:42(Aplausos)
-
13:42 - 13:47E como podemos ajudar sobreviventes
se os estamos a fazer sentir inferiores? -
13:48 - 13:51Como podemos discutir soluções
a uma das maiores ameaças -
13:52 - 13:55às vidas de mulheres e crianças
em todo o mundo, -
13:55 - 13:59se as palavras que usamos
fazem parte do problema? -
14:02 - 14:04TS: Do que eu aprendi,
-
14:04 - 14:09as minhas acções naquela noite de 1996
foram egoístas. -
14:10 - 14:13Senti que merecia o corpo da Thordis.
-
14:14 - 14:17Tivera influências sociais positivas
-
14:17 - 14:20e exemplos de comportamentos justos
à minha volta. -
14:20 - 14:21Mas naquela ocasião,
-
14:21 - 14:23escolhi aproveitar os negativos:
-
14:24 - 14:27os que vêem as mulheres
como tendo menos valor intrínseco, -
14:28 - 14:32e os homens como tendo algum direito
simbólico sobre os corpos delas. -
14:34 - 14:37No entanto, estas influências
de que falo são exteriores a mim. -
14:38 - 14:40Fui só eu naquele quarto
a tomar decisões, -
14:40 - 14:42mais ninguém.
-
14:43 - 14:45Quando possuímos alguma coisa
-
14:45 - 14:48e realmente estamos preparados
para enfrentar a nossa culpa, -
14:48 - 14:51acho que pode acontecer
algo surpreendente. -
14:51 - 14:54É aquilo a que eu chamo
paradoxo da propriedade. -
14:55 - 14:58Pensei que fosse ceder
sob o peso da responsabilidade. -
14:58 - 15:01Pensei que o meu certificado de humanidade
fosse queimado. -
15:02 - 15:06Em vez disso, ofereceram-me
a possibilidade de reconhecer o que fiz, -
15:07 - 15:11e descobri que isso não possuía
a totalidade de quem eu sou. -
15:11 - 15:13Em palavras simples,
-
15:13 - 15:18algo que fizemos não tem de constituir
tudo o que somos. -
15:19 - 15:21O barulho na minha cabeça diminuiu.
-
15:21 - 15:25A pena de mim próprio
estava sem oxigénio -
15:25 - 15:30e foi substituída pelo ar puro
da aceitação, -
15:31 - 15:35a aceitação de que eu magoei esta pessoa
maravilhosa que está aqui ao meu lado, -
15:35 - 15:41a aceitação de que eu faço parte
de um grande e chocante grupo de homens -
15:41 - 15:44que foi violento sexualmente
para com as suas companheiras. -
15:45 - 15:48Não subestimemos o poder das palavras.
-
15:48 - 15:53Dizer à Thordis que a violei
mudou o meu acordo comigo próprio, -
15:53 - 15:55assim como com ela.
-
15:56 - 15:58Mas mais importante,
-
15:57 - 16:00a culpa transferiu-se da Thordis para mim.
-
16:01 - 16:03Demasiadas vezes,
-
16:03 - 16:07a responsabilidade é atribuída às mulheres
sobreviventes de violência sexual, -
16:07 - 16:10e não aos homens que a fazem.
-
16:11 - 16:12Demasiadas vezes,
-
16:13 - 16:17a negação e a fuga deixam todas as partes
muito distantes da verdade. -
16:19 - 16:22Definitivamente, há uma conversa pública
a ocorrer agora, -
16:22 - 16:25e, como muitas pessoas,
-
16:25 - 16:27estamos contentes que haja menos recuos
-
16:27 - 16:30desta difícil, mas importante discussão.
-
16:31 - 16:35Sinto uma responsabilidade
de juntar as nossas vozes a isso. -
16:38 - 16:43TE: O que fizemos não é uma fórmula
que receitamos para os outros. -
16:43 - 16:49Ninguém tem o direito de dizer a outrem
como lidar com a sua dor -
16:49 - 16:51ou com o seu erro mais grave.
-
16:51 - 16:54Quebrar o silêncio nunca é fácil,
-
16:54 - 16:56e dependendo do local onde estamos,
-
16:56 - 16:59pode ser fatal falar sobre violação.
-
17:00 - 17:04Sei que mesmo o acontecimento
mais traumático da minha vida -
17:04 - 17:07continua a ser uma prova
do meu privilégio, -
17:07 - 17:10porque posso falar sobre isso
sem ser ostracizada, -
17:10 - 17:12ou mesmo morta.
-
17:12 - 17:15Mas com esse privilégio de ter uma voz
-
17:15 - 17:18vem a responsabilidade de usá-la.
-
17:19 - 17:23É o mínimo que posso fazer pelas minhas
colegas sobreviventes que não podem falar. -
17:25 - 17:28A história que acabámos de contar é única,
-
17:28 - 17:33e mesmo assim tão comum, com a violência
sexual a ser uma pandemia global. -
17:33 - 17:35Mas não tem de ser assim.
-
17:36 - 17:39Uma das coisas que achei mais útil,
durante a minha jornada, -
17:39 - 17:41foi educar-me sobre a violência sexual.
-
17:41 - 17:44Como resultado, tenho escrito e lido
-
17:44 - 17:47e falado sobre este assunto
de há mais de uma década até agora, -
17:47 - 17:49em conferências em todo o mundo.
-
17:49 - 17:51Na minha experiência,
-
17:51 - 17:56os participantes nestas conferências
são quase exclusivamente mulheres. -
17:57 - 18:04Mas é tempo de deixar de tratar a violência
sexual como um problema das mulheres. -
18:04 - 18:07(Aplausos)
-
18:17 - 18:21A maior parte da violência sexual
contra mulheres e homens -
18:21 - 18:23é feita por homens.
-
18:23 - 18:28Mesmo assim, as suas vozes
não estão representadas nesta discussão. -
18:29 - 18:32Mas todos nós somos necessários aqui.
-
18:34 - 18:38Imaginem todo o sofrimento
que poderia ser aliviado -
18:38 - 18:42se arriscássemos
enfrentar este problema juntos. -
18:43 - 18:44Obrigada.
-
18:44 - 18:47(Aplausos)
- Title:
- A nossa história de violação e reconciliação
- Speaker:
- Thordis Elva, Tom Stranger
- Description:
-
Em 1996, Thordis Elva teve um romance com Tom Stranger, um aluno de intercâmbio da Austrália. Depois de um baile, Tom violou Thordis e, depois disso, seguiram caminhos separados durante muitos anos. Nesta conversa extraordinária, Elva e Stranger encaminham-nos para uma longa história de vergonha e silêncio e convidam-nos a discutir o assunto globalmente omnipresente da violência sexual de um modo novo e honesto.
Para um Q&A com os palestrantes, visite go.ted.com/thordisandtom. - Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 22:48
Margarida Ferreira accepted Portuguese subtitles for Our story of rape and reconciliation | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Our story of rape and reconciliation | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Our story of rape and reconciliation | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Our story of rape and reconciliation | ||
Ana Silva edited Portuguese subtitles for Our story of rape and reconciliation | ||
Ana Silva edited Portuguese subtitles for Our story of rape and reconciliation | ||
Ana Silva edited Portuguese subtitles for Our story of rape and reconciliation | ||
Ana Silva edited Portuguese subtitles for Our story of rape and reconciliation |