As leis que as profissionais do sexo realmente querem
-
0:01 - 0:03Quero falar sobre sexo
a troco de dinheiro. -
0:03 - 0:07Não sou como a maioria das pessoas
que ouviram a falar sobre prostituição. -
0:08 - 0:11Não sou agente da Polícia
nem assistente social. -
0:11 - 0:14Não sou académica,
jornalista nem política. -
0:14 - 0:17E, como devem ter reparado
pela sinopse da Maryam, -
0:17 - 0:18também não sou nenhuma freira.
-
0:18 - 0:19(Risos)
-
0:20 - 0:23A maioria dessas pessoas dir-vos-ia
que vender sexo é degradante, -
0:23 - 0:26que nunca ninguém escolheria fazê-lo,
-
0:26 - 0:28que é perigoso;
mulheres são violadas e mortas. -
0:29 - 0:31De facto, a maioria dessas pessoas diria:
-
0:31 - 0:33"Deveria haver uma lei contra isso!"
-
0:33 - 0:35Talvez isso vos pareça razoável.
-
0:36 - 0:40A mim, pareceu-me razoável,
até aos últimos meses de 2009, -
0:40 - 0:43quando tinha dois empregos
sem futuro, pagos a salário mínimo. -
0:44 - 0:47Todos os meses, o meu ordenado
só cobria a minha conta a descoberto. -
0:47 - 0:50Estava exausta e sem rumo.
-
0:50 - 0:52Como muitas outras antes de mim,
-
0:52 - 0:55decidi que o sexo a troco de dinheiro
era a melhor opção. -
0:55 - 0:56Não me interpretem mal,
-
0:56 - 0:59em vez disso, adoraria
ter ganhado a lotaria. -
0:59 - 1:01Mas isso não iria acontecer tão cedo
-
1:01 - 1:02e precisava de pagar a renda.
-
1:03 - 1:06Então, candidatei-me para
o meu primeiro turno num bordel. -
1:06 - 1:08Nos anos que se passaram
-
1:08 - 1:10tive muito tempo para pensar.
-
1:10 - 1:14Repensei as ideias
que tinha acerca da prostituição. -
1:14 - 1:16Pensei muito no consentimento
-
1:16 - 1:18e na natureza do trabalho
num mundo capitalista. -
1:18 - 1:20Pensei nas desigualdades de sexos
-
1:20 - 1:23e no papel sexual e reprodutivo da mulher.
-
1:23 - 1:27Passei por exploração
e violência no trabalho. -
1:27 - 1:29Pensei no que seria necessário
-
1:29 - 1:31para proteger disto
outras profissionais do sexo. -
1:31 - 1:33Talvez também já tenham pensado nisso.
-
1:33 - 1:37Nesta palestra vou levar-vos pelas quatro
principais abordagens jurídicas -
1:37 - 1:39aplicadas à prostituição no mundo,
-
1:39 - 1:40e explicar porque é que não funcionam,
-
1:40 - 1:44porque é que proibir a indústria do sexo
na verdade agrava os riscos -
1:44 - 1:46a que as profissionais do sexo
estão expostas. -
1:46 - 1:50Depois, vou falar-vos do que nós, como
profissionais do sexo, realmente queremos. -
1:52 - 1:55A primeira abordagem
é a criminalização total. -
1:55 - 1:59Metade do mundo, incluindo a Rússia,
a África do Sul e a maior parte dos EUA, -
1:59 - 2:02regulamenta a prostituição
criminalizando todos os envolvidos. -
2:02 - 2:05ou seja, a vendedora,
o comprador e terceiros. -
2:05 - 2:07Ao que parece, os legisladores
destes países esperam -
2:07 - 2:11que o medo de se ser preso
impeça as pessoas de venderem sexo. -
2:11 - 2:13Mas se forem obrigadas
a escolher entre obedecer à lei -
2:13 - 2:15e alimentar-vos a vós
ou à vossa família, -
2:15 - 2:17fá-lo-ão de qualquer maneira
-
2:17 - 2:18e correrão o risco.
-
2:19 - 2:20A criminalização é uma armadilha.
-
2:21 - 2:24É difícil arranjar um trabalho normal
quando se tem cadastro criminal. -
2:24 - 2:27Os potenciais empregadores
não nos contratam. -
2:27 - 2:28Se ainda precisarmos de dinheiro,
-
2:28 - 2:31manter-nos-emos na economia
mais flexível e informal. -
2:31 - 2:34A lei obriga-nos a continuar
a vender sexo, -
2:34 - 2:37que é exatamente o oposto
do efeito pretendido. -
2:37 - 2:42Ser criminalizada deixa-nos expostas
a maus tratos pelo próprio estado. -
2:42 - 2:44Em muitos sítios, poderemos
ser coagidas a pagar subornos -
2:44 - 2:47ou até mesmo a ter sexo
com um agente da polícia, -
2:47 - 2:48para evitar a prisão.
-
2:48 - 2:51Os polícias e guardas prisionais,
no Camboja, por exemplo, -
2:51 - 2:54foram filmados a sujeitar
profissionais do sexo -
2:54 - 2:56ao que só pode
ser descrito como tortura: -
2:56 - 2:58armas apontadas à cabeça,
espancamento, -
2:58 - 3:00choques elétricos, violação
-
3:00 - 3:01e recusa de alimentação.
-
3:02 - 3:03Outra coisa preocupante:
-
3:03 - 3:08se vendermos sexo em sítios como
o Quénia, a África do Sul ou Nova Iorque, -
3:08 - 3:11poderemos ser presas
se formos apanhadas com preservativos, -
3:11 - 3:15porque estes podem ser usados legalmente
como prova de que estamos a vender sexo. -
3:16 - 3:18Obviamente, isto aumenta
o risco de contrair o VIH. -
3:18 - 3:20Imaginem o que é serem
apanhadas com preservativos -
3:20 - 3:22e isso ser usado contra vocês.
-
3:22 - 3:25É um bom incentivo
para os deixar em casa, não acham? -
3:25 - 3:29As profissionais do sexo nestes sítios
são forçadas a fazer uma escolha difícil -
3:29 - 3:32entre arriscarem a prisão
ou a ter sexo desprotegido. -
3:32 - 3:33O que escolheriam?
-
3:34 - 3:36Levariam preservativos para o trabalho?
-
3:36 - 3:40E se tivessem medo que a Polícia vos
violasse quando vos metesse na carrinha? -
3:41 - 3:45A segunda abordagem à regulamentação
da prostituição nestes países -
3:45 - 3:46é a criminalização parcial,
-
3:46 - 3:49em que a compra e venda
de sexo são legais, -
3:49 - 3:50mas as atividades associadas,
-
3:50 - 3:53como ter um bordel ou
aliciar pessoas nas ruas, são proibidas. -
3:54 - 3:56Leis como estas
— temo-las no Reino Unido e em França — -
3:56 - 3:59basicamente dizem
às profissionais do sexo: -
3:59 - 4:00"Não nos importamos que vendas sexo,
-
4:00 - 4:03"certifica-te só que o fazes
num local fechado -
4:03 - 4:04"e sozinha."
-
4:04 - 4:06Já agora, por definição, um bordel
-
4:06 - 4:09são apenas duas ou mais profissionais
do sexo a trabalhar em conjunto. -
4:09 - 4:12Torná-los ilegais faz com que
que muitas trabalhemos sozinhas, -
4:12 - 4:15o que nos deixa vulneráveis
a delinquentes violentos. -
4:15 - 4:16Mas também somos vulneráveis
-
4:16 - 4:19se optarmos por infringir a lei
ao trabalharmos juntas. -
4:19 - 4:20Há uns anos,
-
4:20 - 4:24uma amiga minha estava nervosa,
após ter sido agredida no trabalho, -
4:24 - 4:27por isso, disse-lhe que podia receber
os seus clientes em minha casa. -
4:27 - 4:30Durante esse período, tivemos outro tipo
que se tornou desagradável. -
4:30 - 4:33Disse-lhe para sair,
senão chamaria a polícia. -
4:33 - 4:36Ele olhou para nós as duas e disse:
-
4:36 - 4:38"Não podem chamar a Polícia.
-
4:38 - 4:41"Estão a trabalhar em conjunto,
este sítio é ilegal." -
4:41 - 4:42Tinha razão.
-
4:42 - 4:44Ele acabou por sair
sem recorrer à violência física, -
4:44 - 4:47mas saber que nós estávamos
a infringir a lei, -
4:47 - 4:48deu poder àquele homem
para nos ameaçar. -
4:48 - 4:51Sentiu-se confiante
de que levaria a sua avante. -
4:51 - 4:53A proibição da prostituição nas ruas
-
4:53 - 4:55também causa mais danos
do que os que previne. -
4:55 - 4:56Para evitarem ser presas,
-
4:56 - 4:59as trabalhadoras correm riscos
para não serem apanhadas, -
4:59 - 5:03como trabalhar sozinha ou em sítios
isolados, como florestas escuras, -
5:03 - 5:05onde estão vulneráveis a ataques.
-
5:05 - 5:08Se forem apanhadas a vender sexo
no exterior, pagam uma multa. -
5:08 - 5:11Como pagarão a multa
sem regressar às ruas? -
5:11 - 5:14Foi justamente a necessidade de dinheiro
que as pôs na rua. -
5:15 - 5:16Então, as multas acumulam-se,
-
5:16 - 5:18e entra-se num ciclo vicioso
-
5:18 - 5:22de vender sexo para pagar
as multas que têm por vender sexo. -
5:22 - 5:26Vou falar-vos de Mariana Popa,
que trabalhava em Redbridge, em Londres. -
5:26 - 5:29As profissionais da localidade dela
esperavam pelos clientes em grupos, -
5:29 - 5:31por razões de segurança,
-
5:31 - 5:34e para se avisarem umas às outras
sobre como evitar tipos perigosos. -
5:34 - 5:38Mas, durante uma repressão policial
contra as profissionais e seus clientes, -
5:38 - 5:41ela foi obrigada a trabalhar sozinha
para evitar ser presa. -
5:41 - 5:45Foi esfaqueada até à morte na manhã
de 29 de outubro de 2013. -
5:46 - 5:48Tinha estado a trabalhar até mais tarde
-
5:48 - 5:51para tentar pagar uma multa
que recebera por aliciamento. -
5:52 - 5:55Se a criminalização
das profissionais do sexo os fere, -
5:55 - 5:58porque não criminalizar
apenas as pessoas que o compram? -
5:58 - 6:01Este é o objetivo da terceira abordagem
de que vos quero falar - -
6:01 - 6:03o modelo sueco ou nórdico
de lei da prostituição. -
6:03 - 6:04A ideia por detrás dessa lei
-
6:04 - 6:07é que vender sexo é
intrinsecamente prejudicial, -
6:07 - 6:10por isso estarão a ajudar as profissionais
do sexo ao eliminar essa opção. -
6:11 - 6:12Apesar do crescente apoio
-
6:12 - 6:15à, muitas vezes descrita,
"abordagem da procura final", -
6:15 - 6:16não há provas de que funcione.
-
6:16 - 6:19Há tanta prostituição na Suécia
quanto havia antes. -
6:20 - 6:21Porque será?
-
6:22 - 6:23Porque as pessoas que vendem sexo
-
6:23 - 6:26normalmente não têm
outras opções de rendimento. -
6:26 - 6:27Se precisarem de dinheiro,
-
6:27 - 6:29o único efeito que uma diminuição
no negócio terá -
6:29 - 6:31é forçar-nos a diminuir os preços
-
6:31 - 6:33ou oferecer serviços sexuais
mais arriscados. -
6:33 - 6:37Se precisarmos de mais clientes,
poderemos procurar a ajuda de um agente. -
6:37 - 6:39Como veem, em vez de pôr um ponto final
-
6:39 - 6:41no frequentemente designado
"proxenetismo", -
6:41 - 6:43uma lei como esta, na verdade,
-
6:43 - 6:45incentivam terceiros
que sejam potenciais abusadores. -
6:46 - 6:47Para me manter segura no meu trabalho,
-
6:47 - 6:49tento não aceitar marcações de alguém
-
6:49 - 6:51que me liga de um número privado.
-
6:51 - 6:53Se for uma visita a casa ou a um hotel,
-
6:53 - 6:55tento saber o nome completo
e mais detalhes. -
6:56 - 6:58Se trabalhasse segundo o modelo sueco,
-
6:58 - 7:00o cliente teria medo de me dar
essas informações. -
7:00 - 7:02Eu poderia não ter outra escolha
-
7:02 - 7:05senão aceitar uma marcação
de um homem impossível de encontrar, -
7:05 - 7:07se mais tarde ele se tornasse violento.
-
7:08 - 7:09Se precisarmos do dinheiro,
-
7:09 - 7:11temos que proteger
os nossos clientes da Polícia. -
7:11 - 7:13Se trabalharmos na rua,
-
7:13 - 7:15isso implica trabalhar sozinha
ou em locais isolados, -
7:15 - 7:17como se fôssemos nós próprias
as criminosas. -
7:17 - 7:20Pode significar
entrar em carros à pressa. -
7:20 - 7:23Menos tempo de negociação
leva a decisões precipitadas. -
7:23 - 7:26Este tipo é perigoso
ou está apenas nervoso? -
7:26 - 7:28Poderemos correr o risco?
-
7:28 - 7:31Ou darmo-nos ao luxo de não o fazer?
-
7:32 - 7:33Ouço muitas vezes:
-
7:33 - 7:37"A prostituição não seria um problema
se a tornássemos legal e regulada." -
7:37 - 7:39Chamamos a essa abordagem "legalização",
-
7:39 - 7:41e é aplicada em países
como a Holanda, a Alemanha -
7:41 - 7:43e o Nevada, nos EUA.
-
7:44 - 7:46Mas não é um grande exemplo
dos direitos humanos. -
7:46 - 7:49Na prostituição regulada,
o sexo comercial só pode acontecer -
7:49 - 7:51em certas áreas ou locais
legalmente designados, -
7:51 - 7:55e as profissionais do sexo devem
cumprir condições especiais, -
7:55 - 7:57como registos
e exames médicos obrigatórios. -
7:58 - 8:00As leis ficam muito bem no papel,
-
8:00 - 8:03mas os políticos tornam
a regulamentação da indústria do sexo -
8:03 - 8:06dispendiosa e difícil de cumprir.
-
8:06 - 8:11Cria um sistema bipartido:
o trabalho legal e o ilegal. -
8:11 - 8:14Normalmente, chamamos-lhe
"criminalização disfarçada". -
8:14 - 8:17Donos de bordéis ricos e bem relacionados
conseguem cumprir as normas, -
8:17 - 8:19mas para as pessoas mais marginalizadas,
-
8:19 - 8:21esse é um rio impossível de atravessar.
-
8:21 - 8:24E, mesmo que em teoria seja possível
adquirir uma licença -
8:24 - 8:26ou um local adequado, é moroso e caro.
-
8:26 - 8:29Não será uma opção para alguém
que está desesperado -
8:29 - 8:30a precisar de dinheiro já.
-
8:30 - 8:33Pode ser uma refugiada
ou uma vítima de violência doméstica. -
8:33 - 8:35Neste sistema bipartido,
-
8:35 - 8:38as pessoas mais vulneráveis
são obrigadas a trabalhar ilegalmente -
8:38 - 8:41e continuam expostas
a todos os perigos da criminalização -
8:41 - 8:43que mencionei há pouco.
-
8:43 - 8:46Assim, parece que
as tentativas de controlar -
8:46 - 8:48ou impedir a prostituição
-
8:48 - 8:50tornam as coisas mais perigosas
para as que vendem sexo. -
8:51 - 8:54O medo da polícia faz com que
trabalhem sozinhas em locais isolados -
8:54 - 8:56e permite que os clientes
e até os policiais -
8:56 - 8:58se tornem abusivos,
sabendo que se vão safar. -
8:59 - 9:02As multas e registos criminais
mantêm as pessoas a vender sexo, -
9:02 - 9:04em vez de as impedir de o fazer.
-
9:04 - 9:07A repressão aos clientes leva
a que corramos grandes riscos -
9:07 - 9:10e que recorramos a agentes
potencialmente abusivos. -
9:10 - 9:13Estas leis também reforçam o estigma
e o ódio contra as profissionais do sexo. -
9:13 - 9:16Quando a França temporariamente
adotou o modelo sueco, há dois anos, -
9:16 - 9:19cidadãos comuns viram isso
como um incitamento -
9:19 - 9:21para que fizessem ataques populares
-
9:21 - 9:23contra as pessoas que trabalhavam na rua.
-
9:23 - 9:26Na Suécia, inquéritos de opinião
demonstram que há mais gente agora -
9:26 - 9:29a querer que as profissionais
do sexo sejam presas -
9:29 - 9:31do que antes de aprovarem a lei.
-
9:32 - 9:34Se a proibição é tão prejudicial,
-
9:34 - 9:36poderão questionar-se,
porque é tão popular? -
9:37 - 9:40Primeiro, o sexo por dinheiro
sempre foi uma tática de sobrevivência -
9:40 - 9:43para todo o tipo de minorias infames:
-
9:43 - 9:45pessoas de cor, imigrantes,
-
9:45 - 9:47pessoas com deficiências,
pessoas LGBTQ, -
9:48 - 9:49sobretudo para as mulheres transsexuais.
-
9:50 - 9:52Estes são os grupos mais retratados
-
9:52 - 9:54e punidos pelas leis proibicionistas.
-
9:54 - 9:56Eu não creio que seja por acaso.
-
9:56 - 9:58Estas leis têm suporte político
-
9:58 - 10:01precisamente porque visam as pessoas
-
10:01 - 10:04que os eleitores não querem
ver nem conhecer. -
10:05 - 10:07Por que outra razão
apoiariam as pessoas a proibição? -
10:07 - 10:11Bem, muitas pessoas têm receios
compreensíveis em relação ao tráfico. -
10:12 - 10:16Creem que mulheres estrangeiras raptadas
e vendidas para escravatura sexual -
10:16 - 10:18podem ser salvas
se se acabar com a indústria toda. -
10:19 - 10:21Falemos então do tráfico.
-
10:21 - 10:25O trabalho forçado
acontece em muitas indústrias, -
10:25 - 10:28sobretudo naquelas onde os trabalhadores
são imigrantes ou vulneráveis, -
10:28 - 10:30e é preciso solucionar isto.
-
10:31 - 10:35Mas seria mais bem solucionado com leis
destinadas a esses crimes em específico, -
10:35 - 10:37não a toda a indústria.
-
10:37 - 10:39Quando 23 imigrantes chineses
sem documentação -
10:39 - 10:42se afogaram a apanhar berbigão
na Baía de Morecambe em 2004, -
10:42 - 10:45não houve pedidos para banir
toda a indústria do marisco -
10:45 - 10:47para salvar as vítimas do tráfico.
-
10:47 - 10:51Claramente, a solução é dar
aos trabalhadores mais proteção jurídica, -
10:51 - 10:52permitindo-lhes resistir aos abusos
-
10:52 - 10:55e fazer queixa às autoridades
sem medo de virem a ser presos. -
10:55 - 10:58A forma como o termo "tráfico" é usado
-
10:58 - 11:02insinua que todas as imigrantes ilegais
na prostituição são forçadas. -
11:02 - 11:05Na verdade, foi por necessidade económica,
-
11:05 - 11:07que muitas imigrantes
tomaram essa decisão -
11:07 - 11:10de se colocarem nas mãos
de traficantes de pessoas. -
11:10 - 11:11Muitas fazem-no sabendo perfeitamente
-
11:11 - 11:15que vão vender sexo
quando chegarem ao seu destino. -
11:15 - 11:16E sim, é frequente
-
11:16 - 11:20que estes traficantes exijam
comissões exorbitantes, -
11:20 - 11:23obriguem as imigrantes
a fazer trabalhos que elas não querem -
11:23 - 11:24e abusam delas quando estão vulneráveis.
-
11:24 - 11:28Isso é verdade no que toca
à prostituição, mas também à agricultura, -
11:28 - 11:30à hotelaria e aos trabalhos domésticos.
-
11:31 - 11:34Ninguém quer ser forçado
a fazer nenhum tipo de trabalho, -
11:34 - 11:36mas é um risco que
muitos migrantes preferem correr -
11:36 - 11:38por causa do que deixam para trás.
-
11:38 - 11:40Se as pessoas pudessem
migrar legalmente, -
11:40 - 11:43não teriam de colocar a sua vida
nas mãos de traficantes de pessoas. -
11:43 - 11:47Os problemas surgem
da criminalização da migração, -
11:47 - 11:50tal como surgem da criminalização
da própria prostituição. -
11:50 - 11:52Esta é uma lição da história.
-
11:52 - 11:55Se se tentar proibir uma coisa que
as pessoas querem ou precisam de fazer, -
11:55 - 11:59seja beber álcool,
atravessar fronteiras, -
11:59 - 12:01fazer um aborto
ou vender sexo, -
12:02 - 12:04criar-se-ão mais problemas
do que os que se resolverão. -
12:04 - 12:06A proibição quase não faz diferença
-
12:06 - 12:09para a quantidade de pessoas
que fazem essas coisas. -
12:09 - 12:10Mas faz uma grande diferença
-
12:10 - 12:13no que toca a estarem ou não
seguras ao fazê-lo. -
12:13 - 12:17Por que outro motivo
haviam as pessoas de apoiar a proibição? -
12:17 - 12:20Como feminista, sei que
a indústria do sexo é uma mina -
12:20 - 12:23de desigualdade social
profundamente enraizada. -
12:23 - 12:26É um facto que a maioria dos compradores
de sexo são homens com dinheiro -
12:26 - 12:29e a maioria dos vendedores
são mulheres sem dinheiro. -
12:29 - 12:31Podem concordar com tudo isso
— eu concordo — -
12:31 - 12:34e, ainda assim, achar
que a proibição é uma política terrível. -
12:35 - 12:37Num mundo melhor e mais igualitário,
-
12:37 - 12:40talvez houvesse muito menos pessoas
a vender sexo para sobreviver, -
12:41 - 12:44mas não podemos simplesmente votar uma lei
que faça aparecer um mundo melhor. -
12:44 - 12:47Se alguém precisa de vender sexo
porque é pobre -
12:47 - 12:48ou porque não tem abrigo,
-
12:48 - 12:51porque não tem documentos
e não consegue encontrar trabalho legal, -
12:51 - 12:55retirar-lhe essa opção
não o torna menos pobre, -
12:55 - 12:57nem o aloja,
-
12:57 - 12:59nem altera o seu estatuto de imigrante.
-
12:59 - 13:01As pessoas pensam
que vender sexo é degradante. -
13:02 - 13:04Perguntem-se: é mais degradante
do que passar fome -
13:05 - 13:07ou ver os filhos passar fome?
-
13:07 - 13:10Não há motivos para impedir
as pessoas ricas de contratar amas -
13:10 - 13:12ou de utilizar uma manicura,
-
13:12 - 13:15embora a maioria dos que fazem
esses trabalhos sejam imigrantes pobres. -
13:15 - 13:19O facto de serem especificamente
mulheres imigrantes pobres a vender sexo -
13:19 - 13:22é que deixa algumas feministas
pouco à vontade. -
13:22 - 13:26Eu percebo porque é que a indústria
do sexo gera sentimentos fortes. -
13:26 - 13:29As pessoas manifestam
as mais variadas emoções -
13:29 - 13:31no que diz respeito ao sexo.
-
13:32 - 13:35Mas não podemos fazer uma política
baseada em meros sentimentos, -
13:35 - 13:39sobretudo nas costas das pessoas
que são afetadas por essa política. -
13:39 - 13:41Se nos fixarmos na abolição
do trabalho sexual, -
13:41 - 13:44acabaremos por nos preocupar mais
com uma única manifestação -
13:44 - 13:46da desigualdade social,
-
13:46 - 13:48do que com as causas subjacentes.
-
13:48 - 13:51As pessoas prendem-se muito à questão:
-
13:51 - 13:53"Gostaria que a sua filha fizesse isto?"
-
13:53 - 13:55É a pergunta errada.
-
13:55 - 13:58Em vez disso, imaginem
que ela já está a fazê-lo. -
13:59 - 14:01Estará segura no trabalho, esta noite?
-
14:01 - 14:03Porque é que não está mais segura?
-
14:04 - 14:07Portanto, vimos a criminalização total,
-
14:07 - 14:09a criminalização parcial,
-
14:09 - 14:12o modelo sueco ou nórdico,
e a legalização, -
14:12 - 14:13e como todas elas causam danos.
-
14:13 - 14:16Uma coisa que nunca ouço
ninguém perguntar é: -
14:17 - 14:19"O que querem as profissionais do sexo?"
-
14:20 - 14:22Afinal de contas,
somos as mais afetadas por estas leis. -
14:23 - 14:26A Nova Zelândia descriminalizou
o trabalho sexual em 2003. -
14:27 - 14:28É essencial recordar
-
14:28 - 14:32que descriminalização e legalização
não são a mesma coisa. -
14:32 - 14:35A descriminalização significa
a eliminação das leis -
14:35 - 14:37que se destinam a punir
a indústria do sexo, -
14:37 - 14:40considerando o trabalho sexual
como qualquer outro trabalho. -
14:40 - 14:43Na Nova Zelândia pode-se trabalhar
em conjunto, por segurança, -
14:43 - 14:46e os empregadores são responsáveis
perante o Estado. -
14:46 - 14:49Uma profissional do sexo
pode sempre recusar um cliente, -
14:49 - 14:50por qualquer motivo,
-
14:50 - 14:53e 96% das trabalhadoras de rua
-
14:53 - 14:56relatam que sentem
que a lei protege os seus direitos. -
14:56 - 14:58Na Nova Zelândia,
não houve nenhum aumento -
14:58 - 15:00no número de pessoas
que fazem trabalho sexual, -
15:00 - 15:03mas a descriminalização
tornou-o bem mais seguro. -
15:03 - 15:07A lição da Nova Zelândia não é apenas
que esta legislação específica é boa, -
15:07 - 15:10mas, sobretudo, que foi escrita
em colaboração com profissionais do sexo, -
15:10 - 15:13nomeadamente o Coletivo
de Prostitutas da Nova Zelândia. -
15:13 - 15:16No que toca a tornar
o trabalho sexual mais seguro, -
15:16 - 15:19eles predispuseram-se a ouvir
diretamente as profissionais do sexo. -
15:19 - 15:22Aqui no Reino Unido, faço parte de grupos
de profissionais do sexo, -
15:22 - 15:26como o Sex Worker Open University
e o Coletivo Inglês de Prostitutas. -
15:26 - 15:28E fazemos parte de um movimento global
-
15:28 - 15:31que exige a legalização
e a autodeterminação. -
15:32 - 15:34O símbolo do nosso movimento
é o guarda-chuva vermelho. -
15:34 - 15:38Recebemos o apoio
de organismos mundiais como a UNAIDS, -
15:38 - 15:39a Organização Mundial da Saúde
-
15:39 - 15:41e a Amnistia Internacional.
-
15:41 - 15:43Mas precisamos de mais aliados.
-
15:43 - 15:46Se vocês se importam
com a igualdade de sexos, -
15:46 - 15:48a pobreza, a imigração
ou a saúde pública, -
15:48 - 15:51então, os direitos das profissionais
do sexo também vos preocupam. -
15:51 - 15:54Abram espaço para nós
nas vossas manifestações. -
15:54 - 15:57Quer dizer não só ouvir
as profissionais do sexo quando falamos, -
15:57 - 15:59mas amplificar as nossas vozes.
-
15:59 - 16:01Resistir aos que nos tentam silenciar,
-
16:01 - 16:04aos que dizem que
uma prostituta é uma vítima, -
16:04 - 16:07demasiado afetada para saber
o que é melhor para si mesma, -
16:07 - 16:09ou então uma privilegiada,
-
16:09 - 16:11demasiado alienada da miséria real
-
16:11 - 16:15e não representativa
de milhões de vítimas mudas. -
16:16 - 16:20Esta distinção entre a vítima
e a capacitada é imaginária. -
16:20 - 16:23Existe unicamente para desacreditar
as profissionais do sexo -
16:23 - 16:25e fazer com que seja fácil ignorar-nos.
-
16:26 - 16:28Sem dúvida muitos de vocês
trabalham para viver. -
16:29 - 16:30Bem, trabalho sexual também é trabalho.
-
16:31 - 16:34Tal como vocês, algumas de nós
gostam do seu trabalho, -
16:34 - 16:35algumas odeiam-no.
-
16:36 - 16:39Por fim, a maior parte de nós
tem sentimentos contraditórios. -
16:39 - 16:41Mas a questão não é
-
16:41 - 16:44como nos sentimos
em relação ao nosso trabalho. -
16:44 - 16:48E muito menos como os outros se sentem
em relação ao nosso trabalho. -
16:48 - 16:51O que importa é que temos o direito
de trabalhar em segurança -
16:51 - 16:53e segundo as nossas condições.
-
16:53 - 16:55As profissionais do sexo
são pessoas reais. -
16:55 - 16:57Tivemos experiências complicadas
-
16:58 - 17:01e respostas complicadas
a essas experiências. -
17:02 - 17:04Mas as nossas exigências
não são complicadas. -
17:04 - 17:07Podem perguntar às acompanhantes
de luxo de Nova Iorque, -
17:07 - 17:10trabalhadoras de bordel no Camboja,
de rua na África do Sul -
17:10 - 17:13e a todas as raparigas do quadro
no meu último emprego no Soho, -
17:13 - 17:16e elas dirão todas o mesmo.
-
17:16 - 17:18Podem falar com milhões
de profissionais do sexo -
17:18 - 17:20e inúmeras organizações
de trabalho sexual. -
17:20 - 17:24Nós queremos a descriminalização total e
direitos laborais enquanto trabalhadores. -
17:25 - 17:28Hoje, aqui no palco, sou apenas
uma profissional do sexo, -
17:28 - 17:30mas trago uma mensagem de todo o mundo.
-
17:30 - 17:31Obrigada.
-
17:31 - 17:34(Aplausos)
- Title:
- As leis que as profissionais do sexo realmente querem
- Speaker:
- Toni Mac
- Description:
-
Todos têm uma opinião sobre como legislar o trabalho sexual (seja para legalizá-lo, bani-lo ou mesmo taxá-lo)... mas o que pensarão as próprias trabalhadoras do sexo sobre o que funcionará melhor? A ativista Toni Mac explica quatro modelos legais que estão a ser usados no mundo, e mostra-nos o modelo que ela acredita ser o que funcionará melhor para manter seguras as profissionais do sexo e oferecer uma maior autodeterminação. "Se vocês se preocupam com a igualdade dos sexos, a pobreza, a imigração ou a saúde pública, então preocupam-se também com os direitos das profissionais do sexo", diz ela. "Abram espaço para nós nas vossas manifestações."
(Temas para adultos) - Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 17:50
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for The laws that sex workers really want | ||
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Margarida Ferreira approved Portuguese subtitles for The laws that sex workers really want | ||
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Tânia Casais edited Portuguese subtitles for The laws that sex workers really want |