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O meu país ficará em breve debaixo de água — a não ser que trabalhemos em conjunto

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    Chris Anderson: Talvez possamos começar
    por falarmos do seu país.
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    Há aqui três pontos no globo.
    Estes pontos são enormes.
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    Parece-me que cada um deles
    é do tamanho da Califórnia.
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    Fale-nos de Quiribáti.
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    Anote Tong: Vou começar por dizer
    como estou agradecido
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    por esta oportunidade
    de partilhar a minha história
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    com pessoas que se preocupam.
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    Penso que tenho vindo
    a partilhar a minha história
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    com muitas pessoas
    que não se importam muito.
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    Quiribáti é formado
    por três grupos de ilhas:
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    o Grupo Gilbert a ocidente,
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    temos as Ilhas Fénix no meio,
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    e as Espórades Equatoriais, a oriente.
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    Na verdade, Quiribáti
    é talvez o único país
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    que está nos quatro cantos do mundo,
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    porque estamos no hemisfério norte,
    no hemisfério sul,
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    e também a leste e a oeste
    da Linha internacional de Data.
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    Estas ilhas são totalmente compostas
    por atóis de coral.
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    em média, cerca de dois metros
    acima do nível do mar.
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    É isto o que temos.
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    Normalmente, pouco mais
    de dois quilómetros de largura.
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    Muitas vezes, as pessoas perguntam-me:
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    "Vocês têm problemas,
    porque é que não se mudam?"
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    As pessoas não percebem.
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    Não têm noção do que é que está envolvido.
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    Perante a subida do nível do mar, dizem:
  • 1:26 - 1:28
    "Porque é que não recuam?"
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    E eu digo-lhes:
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    "Se recuarmos, caímos
    do outro lado do oceano".
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    Mas estas coisas são
    o que as pessoas não percebem.
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    CA: Claro que há aqui
    um quadro de fragilidade.
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    Quando é que vocês perceberam
  • 1:45 - 1:48
    que podia haver um perigo iminente
    para o vosso país?
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    AT: A história da alteração climática
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    já se põe há uma série de décadas.
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    Quando eu assumi o cargo em 2003,
  • 1:59 - 2:03
    comecei a falar da alteração climática
    na Assembleia Geral das Nações Unidas,
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    mas não foi com muita paixão,
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    porque, na altura, ainda havia
    muita controvérsia entre os cientistas
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    se era provocada pelos seres humanos,
    se era real ou não.
  • 2:15 - 2:21
    Mas penso que esse debate acabou em 2007
  • 2:21 - 2:26
    com o Quarto Relatório
    de Avaliação do IPCC,
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    que fez uma declaração categórica
    de que era real,
  • 2:32 - 2:34
    provocada pelos seres humanos,
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    e previu alguns cenários muito graves
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    para países como o meu.
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    Foi aí que eu passei
    a ser muito empenhado.
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    No passado, eu falava sobre isso.
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    Estávamos preocupados.
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    Mas quando apareceram
    os cenários e as previsões em 2007,
  • 2:52 - 2:54
    tornou-se um verdadeiro problema para nós.
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    CA: Essas previsões são,
    segundo julgo, que, em 2100,
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    o nível dos mares terá subido uns 90 cm.
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    Há cenários em que é mais que isso,
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    mas o que é que diria
    a um cético que afirmasse:
  • 3:08 - 3:09
    "O que são 90 cm?
  • 3:09 - 3:12
    "Vocês, em média, estão a 1,20 m
    acima do nível do mar.
  • 3:12 - 3:13
    "Qual é o problema?"
  • 3:13 - 3:15
    AT: Acho que é preciso perceber-se
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    que um aumento marginal no nível do mar
  • 3:17 - 3:20
    significará a perda de muito território,
  • 3:20 - 3:23
    porque grande parte da terra é baixa.
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    Para além disso,
    neste momento temos as ondas.
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    Portanto, não se trata de 60 cm.
  • 3:31 - 3:33
    O que muita gente não percebe
  • 3:33 - 3:38
    é que julgam que a alteração climática
    vai acontecer no futuro.
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    A verdade é que estamos no fim do espetro.
  • 3:42 - 3:44
    Já está em cima de nós.
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    Temos comunidades que já foram deslocadas.
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    Tiveram que se mudar e,
    em todas as sessões do parlamento.
  • 3:52 - 3:53
    recebo queixas de diversas comunidades
  • 3:53 - 3:56
    pedindo ajuda para construir
    molhes de proteção,
  • 3:56 - 3:59
    para vermos o que podemos fazer
    quanto aos lençóis de água doce
  • 3:59 - 4:02
    porque estão a ser destruídas.
  • 4:02 - 4:04
    Nas minhas viagens pelas diversas ilhas
  • 4:04 - 4:07
    encontro provas de comunidades
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    que agora têm que enfrentar
    a perda de culturas,
  • 4:10 - 4:14
    a contaminação dos lençóis de água doce
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    e vejo que essas comunidades
    terão que se deslocar
  • 4:18 - 4:20
    dentro de 5 a 10 anos.
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    CA: Penso que o país
    sofreu um primeiro ciclone.
  • 4:24 - 4:28
    Isso também está relacionado?
    O que é que aconteceu?
  • 4:28 - 4:31
    AT: Nós estamos no Equador.
  • 4:31 - 4:35
    Certamente, muita gente sabe que,
    quando estamos no Equador,
  • 4:35 - 4:38
    supostamente estamos num sítio calmo,
    não temos ciclones.
  • 4:38 - 4:41
    Nós criamo-los e depois enviamo-los
    para o norte ou para o sul.
  • 4:41 - 4:43
    (Risos)
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    Mas supostamente
    eles não voltam para trás.
  • 4:45 - 4:47
    Pela primeira vez, no início deste ano,
  • 4:47 - 4:51
    o Ciclone Pam destruiu Vanuatu,
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    e tudo aquilo em que tocou,
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    as nossa duas ilhas mais a sul.
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    Toda Tuvalu ficou debaixo de água
    quando o Furacão Pam passou.
  • 5:02 - 5:06
    Mas nas nossas duas ilhas mais a sul,
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    tivemos ondas sobre metade da ilha.
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    Isso nunca tinha acontecido.
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    Foi uma experiência nova.
  • 5:16 - 5:19
    Vim agora mesmo do meu círculo eleitoral.
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    Vi aquelas árvores fantásticas
    que ali estavam há décadas,
  • 5:22 - 5:24
    totalmente destruídas.
  • 5:24 - 5:26
    É isto que está a acontecer,
  • 5:26 - 5:30
    mas quando falamos
    da subida do nível do mar,
  • 5:30 - 5:33
    pensamos que é uma coisa
    que acontece gradualmente.
  • 5:33 - 5:36
    Vem com os ventos,
    vem com as ondas,
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    por isso pode ser maximizada.
  • 5:40 - 5:44
    O que estamos a começar a ver
    é a mudança no padrão do clima,
  • 5:44 - 5:48
    que é talvez o problema mais urgente
  • 5:48 - 5:51
    que enfrentaremos mais depressa
    do que a subida do nível do mar.
  • 5:52 - 5:54
    CA: O país já está a sentir os efeitos.
  • 5:55 - 5:57
    Quando olhamos para o futuro,
  • 5:57 - 6:00
    quais são as vossas opções,
    enquanto país, enquanto nação?
  • 6:01 - 6:04
    AT: Todos os anos, venho contando
    a mesma história.
  • 6:04 - 6:09
    Tenho viajado pelo mundo para tentar
    que as pessoas percebam.
  • 6:10 - 6:12
    Temos um plano,
    achamos que temos um plano.
  • 6:12 - 6:16
    Em certa altura, falei em Genebra
  • 6:16 - 6:20
    e havia um indivíduo
    que estava a entrevistar-me
  • 6:20 - 6:22
    sobre coisas como estas, e eu disse:
  • 6:22 - 6:24
    "Estamos a pensar em ilhas flutuantes".
  • 6:24 - 6:27
    Ele achou que era engraçado,
    mas alguém disse:
  • 6:27 - 6:30
    "Não, isto não tem graça,
    esta gente está à procura de soluções".
  • 6:30 - 6:34
    Assim, eu tenho andado à procura
    de ilhas flutuantes.
  • 6:34 - 6:37
    Os japoneses estão interessados
    em construir ilhas flutuantes.
  • 6:37 - 6:41
    Mas, enquanto país,
    fizemos um compromisso
  • 6:41 - 6:44
    de que, aconteça o que acontecer,
    tentaremos tudo o que for possível
  • 6:44 - 6:48
    para nos mantermos e continuarmos
    a existir como uma nação.
  • 6:48 - 6:50
    O que isso exige
  • 6:50 - 6:53
    vai ser uma coisa muito significativa,
  • 6:53 - 6:55
    muito, muito substancial.
  • 6:55 - 6:57
    Ou vivemos em ilhas flutuantes,
  • 6:57 - 7:02
    ou temos que elevar as ilhas para continuar
    a manter-nos fora de água
  • 7:02 - 7:05
    quando o nível do mar subir
    e quando as tempestades forem mais fortes.
  • 7:06 - 7:09
    Mesmo assim, vai ser muito difícil
  • 7:09 - 7:11
    obter o tipo de recursos
    de que precisaremos.
  • 7:11 - 7:15
    CA: Então, o único recurso é
    qualquer forma de migração forçada.
  • 7:15 - 7:18
    AT: Também estamos a considerar isso
  • 7:18 - 7:20
    porque, se não aparecer mais nada,
  • 7:20 - 7:22
    da comunidade internacional,
  • 7:22 - 7:24
    estamos a preparar-nos,
  • 7:24 - 7:27
    não queremos ser apanhados
    como o que está a acontecer na Europa.
  • 7:27 - 7:29
    Não queremos emigrar em massa.
  • 7:29 - 7:33
    Queremos poder dar uma opção,
    hoje, às pessoas,
  • 7:33 - 7:36
    aos que escolherem e quiserem emigrar.
  • 7:36 - 7:41
    Não queremos que eles sejam
    forçados a emigrar
  • 7:42 - 7:44
    sem estarem preparados para isso.
  • 7:44 - 7:48
    A nossa cultura é muito diferente,
    a nossa sociedade é muito diferente,
  • 7:48 - 7:50
    e quando emigrarmos
    para um ambiente diferente
  • 7:50 - 7:52
    para uma cultura diferente,
  • 7:52 - 7:54
    serão necessários muitos ajustamentos.
  • 7:54 - 7:58
    CA: Já houve emigração forçada
    no passado do vosso país.
  • 7:58 - 8:00
    Penso que, ainda esta semana,
  • 8:00 - 8:02
    ainda ontem, ou antes de ontem,
  • 8:02 - 8:05
    você visitou essas pessoas.
  • 8:05 - 8:07
    O que aconteceu? Qual é essa história?
  • 8:07 - 8:09
    AT: Pois foi, e desculpe,
    penso que alguém perguntou
  • 8:09 - 8:12
    porque é que nós andávamos
    a bisbilhotar, a visitar esse local.
  • 8:12 - 8:16
    Eu tinha uma boa razão, porque temos
    uma comunidade de pessoas de Quiribáti
  • 8:16 - 8:20
    a viver naquela parte das Ilhas Salomão.
  • 8:20 - 8:24
    mas são pessoas que foram realojadas
    das Ilhas Fénix,
  • 8:24 - 8:26
    nos anos 60.
  • 8:26 - 8:30
    Houve uma grande seca, e as pessoas
    não podiam continuar a viver na ilha,
  • 8:30 - 8:33
    por isso foram transferidas
    para as Ilhas Salomão.
  • 8:33 - 8:37
    Por isso, ontem foi muito interessante
    encontrar-me com essas pessoas.
  • 8:37 - 8:40
    Não sabiam quem eu era,
    nunca tinham ouvido falar de mim.
  • 8:40 - 8:42
    Algumas acabaram por me reconhecer,
  • 8:42 - 8:45
    mas penso que ficaram muito felizes.
  • 8:45 - 8:48
    Depois, perceberam
    que queriam ter a oportunidade
  • 8:48 - 8:50
    de me receber mais formalmente.
  • 8:50 - 8:53
    Mas penso que o que vi ontem
    foi muito interessante
  • 8:53 - 8:55
    porque vejo aqui o nosso povo.
  • 8:55 - 9:01
    Falei na nossa língua
    e, claro, responderam-me,
  • 9:01 - 9:05
    mas o sotaque deles, começam
    a não saber falar quiribáti como deve ser.
  • 9:05 - 9:08
    Vi-os, havia uma mulher
    com dentes vermelhos.
  • 9:08 - 9:10
    Estava a mascar nozes de bétel,
  • 9:10 - 9:13
    é uma coisa que não fazemos em Quiribáti.
  • 9:13 - 9:15
    Não mascamos nozes de bétel.
  • 9:15 - 9:21
    Também encontrei uma família
    que se tinha casado com pessoas daqui.
  • 9:21 - 9:23
    É o que está a acontecer.
  • 9:25 - 9:29
    Quando entramos noutra comunidade,
    é fatal haver mudanças.
  • 9:29 - 9:33
    É fatal haver uma certa
    perda de identidade,
  • 9:33 - 9:38
    e é isso que iremos encarar no futuro
    se e quando emigrarmos.
  • 9:38 - 9:41
    CA: Deve ter sido um dia
    extraordinariamente emotivo
  • 9:41 - 9:45
    por causa dessas questões de identidade.
  • 9:45 - 9:50
    a alegria de o verem e talvez
    um sentimento avivado do que perderam.
  • 9:50 - 9:53
    É muito inspirador ouvi-lo dizer
    que vão lutar até ao fim
  • 9:53 - 9:57
    para tentar preservar a nação num local.
  • 9:58 - 10:00
    AT: É esse o nosso desejo.
  • 10:00 - 10:02
    Ninguém quer sair da sua terra,
  • 10:02 - 10:06
    por isso tem sido uma decisão
    muito difícil para mim.
  • 10:06 - 10:11
    Um líder não faz planos
    para sair da sua ilha, da sua terra.
  • 10:11 - 10:13
    Muitas vezes me perguntam:
  • 10:13 - 10:15
    "Como é que se sente?"
  • 10:15 - 10:16
    E não me sinto nada bem.
  • 10:16 - 10:21
    É uma coisa emotiva
    e tenho tentado viver com ela.
  • 10:21 - 10:26
    Sei que, por vezes, sou acusado
    de não tentar resolver o problema,
  • 10:26 - 10:29
    porque não posso resolver o problema.
  • 10:29 - 10:31
    É uma coisa que tem
    que ser feita coletivamente.
  • 10:31 - 10:36
    A mudança climática é um fenómeno global,
    como tenho argumentado muitas vezes.
  • 10:37 - 10:41
    Infelizmente, quando chegamos
    às Nações Unidas...
  • 10:41 - 10:46
    Eu estive numa reunião com os países
    do Fórum das Ilhas do Pacífico,
  • 10:46 - 10:49
    em que a Austrália e a Nova Zelândia
    também são membros,
  • 10:49 - 10:51
    e tivemos uma discussão.
  • 10:51 - 10:53
    Houve algumas notícias nos noticiários
  • 10:53 - 10:58
    porque eles argumentavam
    que cortar as emissões
  • 10:58 - 11:00
    era uma coisa que eles não podiam fazer,
  • 11:00 - 11:03
    porque isso afetaria as indústrias.
  • 11:03 - 11:05
    E eu disse:
  • 11:05 - 11:07
    "Ok, estou aqui a ouvir-vos.
  • 11:07 - 11:09
    "Percebo o que estão a dizer,
  • 11:09 - 11:11
    "mas tentem perceber também o que eu digo,
  • 11:11 - 11:14
    "porque, se vocês não cortarem as emissões,
  • 11:14 - 11:16
    "é a nossa sobrevivência
    que está ameaçada.
  • 11:16 - 11:19
    "Portanto, vocês têm que ter
    isso em conta, é uma questão moral.
  • 11:19 - 11:24
    "É a indústria em oposição
    à sobrevivência de um povo".
  • 11:24 - 11:27
    CA: Eu ontem perguntei-lhe
    o que é que o fazia zangar
  • 11:27 - 11:29
    e você disse: "Eu não me zango".
  • 11:29 - 11:31
    Mas depois, fez uma pausa.
  • 11:31 - 11:33
    Acho que isso fez
    com que se zangasse.
  • 11:33 - 11:37
    AT: Eu recordo-lhe a minha primeira
    intervenção nas Nações Unidas.
  • 11:37 - 11:42
    Fiquei muito zangado,
    muito frustrado e depois deprimido.
  • 11:42 - 11:44
    Fiquei com uma sensação de futilidade
  • 11:44 - 11:48
    de que estamos a travar uma luta
    que não temos hipótese de ganhar.
  • 11:48 - 11:52
    Tive que mudar de abordagem.
  • 11:52 - 11:53
    Tive que me tornar mais razoável,
  • 11:53 - 11:57
    porque pensei que as pessoas
    escutariam alguém mais racional
  • 11:57 - 12:00
    mas mantenho-me radicalmente racional,
    seja lá o que isso for.
  • 12:00 - 12:01
    (Risos)
  • 12:01 - 12:04
    CA: Uma parte fundamental
    da identidade da sua nação é a pesca.
  • 12:04 - 12:09
    Acho que disse que praticamente
    toda a gente está ligada à pesca.
  • 12:09 - 12:11
    AT: Sim, comemos peixe todos os dias.
  • 12:11 - 12:16
    Penso que ninguém duvida
    de que o nosso consumo de peixe
  • 12:16 - 12:18
    é talvez o mais alto do mundo.
  • 12:18 - 12:20
    Não temos muito gado,
  • 12:20 - 12:23
    por isso dependemos do peixe.
  • 12:23 - 12:27
    CA: Portanto, dependem do peixe,
    tanto a nível local,
  • 12:27 - 12:29
    como quanto às receitas que o país obtém
  • 12:29 - 12:32
    do negócio de pesca global do atum.
  • 12:32 - 12:36
    No entanto, apesar disso, há uns anos
    deram um passo muito radical.
  • 12:37 - 12:38
    Pode falar-nos disso?
  • 12:38 - 12:42
    Penso que aconteceu qualquer coisa
    aqui nas Ilhas Fénix.
  • 12:42 - 12:47
    AT: Primeiro vou traçar o quadro
    do que o peixe significa para nós.
  • 12:47 - 12:50
    Temos uma das maiores pescas de atum
    que ainda restam no mundo.
  • 12:51 - 12:54
    Penso que, no Pacífico, temos uns 60%
  • 12:54 - 12:56
    do que resta da pesca do atum,
  • 12:56 - 13:00
    que se mantém relativamente saudável
    para algumas espécies, embora nem todas.
  • 13:00 - 13:05
    Quiribáti é um dos três principais
    donos dos recursos,
  • 13:05 - 13:07
    donos de recursos do atum.
  • 13:10 - 13:14
    De momento, estamos a obter
    cerca de 80 a 90% das nossas receitas
  • 13:15 - 13:17
    de taxas de acesso, de taxas de licenças.
  • 13:17 - 13:19
    CA; Das vossas receitas nacionais.
  • 13:19 - 13:21
    AT: Receitas nacionais,
  • 13:21 - 13:23
    que movimentam tudo o que fazemos
  • 13:23 - 13:26
    no governo, hospitais, escolas, etc.
  • 13:27 - 13:33
    Mas decidimos acabar com isso
    e foi uma decisão muito difícil,
  • 13:33 - 13:38
    Posso garantir-lhe que, politicamente,
    localmente, não foi fácil,
  • 13:38 - 13:43
    mas eu estava convencido
    que tínhamos que fazer isso
  • 13:43 - 13:46
    para garantir que a pesca
    se mantinha sustentável.
  • 13:46 - 13:50
    Tinha havido indicações
    de que algumas das espécies,
  • 13:50 - 13:53
    em especial o atum-patudo,
    estavam seriamente ameaçadas.
  • 13:53 - 13:57
    O atum-amarelo também estava
    a ser pescado em demasia.
  • 13:57 - 13:59
    O atum-bonito mantém-se em boas condições.
  • 13:59 - 14:03
    Tínhamos que fazer qualquer coisa,
    foi essa a razão porque fiz isso.
  • 14:03 - 14:08
    Outra razão para ter feito isso
  • 14:08 - 14:12
    foi porque eu tinha andado
    a pedir à comunidade internacional
  • 14:12 - 14:16
    que, para lidar com a alteração climática,
    para lutar contra a alteração climática,
  • 14:16 - 14:20
    tinha que haver sacrifícios,
    tinha que haver empenho.
  • 14:20 - 14:26
    Por isso, ao pedir à comunidade
    internacional para fazer sacrifícios,
  • 14:26 - 14:30
    pensei que nós também
    tínhamos que fazer sacrifícios,
  • 14:30 - 14:31
    Por isso fizemos o sacrifício.
  • 14:32 - 14:36
    Renunciar à pesca comercial
  • 14:36 - 14:38
    na área protegida das Ilhas Fénix
  • 14:38 - 14:41
    significava a perda de receitas.
  • 14:41 - 14:43
    Ainda estamos a tentar avaliar
    que perda será essa
  • 14:43 - 14:48
    porque só a suspendemos
    no início deste ano,
  • 14:48 - 14:51
    portanto só saberemos no fim do ano
  • 14:51 - 14:54
    qual o significado
    em termos de receitas perdidas.
  • 14:53 - 14:56
    CA: Assim, há muitas coisas em jogo.
  • 14:56 - 15:00
    Por um lado, pode proporcionar
    pescas mais sãs,
  • 15:00 - 15:05
    ou seja, em quanto
    é que poderão aumentar o preço
  • 15:05 - 15:08
    que cobram pelas áreas restantes?
  • 15:08 - 15:13
    AT: As negociações têm sido difíceis,
  • 15:13 - 15:16
    mas conseguimos aumentar
    o custo diário do navio.
  • 15:16 - 15:19
    Para qualquer navio
    que venha pescar durante um dia,
  • 15:19 - 15:23
    aumentámos as taxas
    — que eram de 6000 e 8000 dólares —
  • 15:23 - 15:27
    para 10 000, 12 000 dólares
    diários por navio.
  • 15:28 - 15:31
    Portanto, foi um aumento significativo.
  • 15:31 - 15:35
    Mas, ao mesmo tempo,
    é importante que se note,
  • 15:35 - 15:39
    enquanto no passado esses barcos de pesca
  • 15:39 - 15:43
    podiam estar a pescar durante um dia
    e apanhar umas 10 toneladas,
  • 15:43 - 15:47
    agora apanham umas 100 toneladas,
    porque estão muito mais eficazes.
  • 15:48 - 15:51
    Portanto, temos que responder
    de acordo com isso.
  • 15:51 - 15:54
    Temos que ser muito cuidadosos,
    porque a tecnologia evoluiu muito.
  • 15:54 - 16:00
    Em tempos, quando a frota brasileira
    passou do Atlântico para o Pacífico
  • 16:00 - 16:01
    não conseguiam.
  • 16:01 - 16:03
    Começaram a experimentar se conseguiam.
  • 16:04 - 16:08
    Mas agora já arranjaram forma de o fazer,
    e estão muito eficazes.
  • 16:09 - 16:12
    CA: Pode dar-nos uma ideia
    de como são essas negociações?
  • 16:12 - 16:14
    Porque vocês enfrentam empresas
  • 16:14 - 16:17
    que têm centenas de milhões
    de dólares em jogo.
  • 16:18 - 16:21
    Como é que se aguentam?
  • 16:21 - 16:23
    Pode dar alguns conselhos
  • 16:23 - 16:26
    a outros líderes que estão a negociar
    com as mesmas empresas
  • 16:26 - 16:31
    sobre como obter o máximo para o seu país,
  • 16:31 - 16:33
    como obter o máximo para o peixe?
  • 16:33 - 16:36
    Que conselhos daria?
  • 16:36 - 16:41
    AT: Penso que nos concentramos
    demasiado no licenciamento
  • 16:41 - 16:44
    a fim de obter o retorno,
  • 16:44 - 16:47
    porque o que recebemos
    dos encargos com as licenças
  • 16:47 - 16:50
    é cerca de 10% do valor da apanha,
  • 16:50 - 16:53
    visto pelo lado do porto,
    não pelo lado da venda a retalho.
  • 16:53 - 16:56
    Só recebemos cerca de 10%.
  • 16:56 - 16:59
    O que temos vindo a tentar fazer
    ao longo dos anos
  • 16:59 - 17:03
    é aumentar a nossa participação
    na indústria,
  • 17:03 - 17:06
    na apanha, no processamento,
  • 17:06 - 17:08
    e, por fim, esperemos, na comercialização.
  • 17:08 - 17:11
    Não é fácil penetrar aí
  • 17:11 - 17:14
    mas estamos a trabalhar para isso,
  • 17:14 - 17:16
    e, sim, a resposta será reforçar.
  • 17:16 - 17:20
    A fim de aumentar a nossa taxa
    de retorno, temos que nos envolver mais.
  • 17:21 - 17:24
    Portanto, começámos a fazer isso
  • 17:24 - 17:28
    e temos que restruturar a indústria.
  • 17:28 - 17:32
    Temos que dizer a estas pessoas
    que o mundo mudou.
  • 17:32 - 17:34
    Agora queremos ser nós a produzir o peixe.
  • 17:34 - 17:37
    CA: E entretanto,
    para os vossos pescadores locais,
  • 17:37 - 17:39
    eles ainda podem pescar,
  • 17:39 - 17:42
    mas como é o negócio para eles?
  • 17:42 - 17:45
    Está a tornar-se mais difícil?
    As águas estão esgotadas?
  • 17:45 - 17:48
    Ou isso está a ser feito
    numa base sustentável?
  • 17:48 - 17:50
    AT: Para a pesca artesanal,
  • 17:50 - 17:52
    não participamos na atividade
    da pesca comercial
  • 17:52 - 17:55
    a não ser para fornecimento
    do mercado interno.
  • 17:56 - 17:58
    A pesca do atum é inteiramente
    para o mercado estrangeiro,
  • 17:58 - 18:03
    na sua maioria nos EUA,
    na Europa e no Japão.
  • 18:05 - 18:10
    Eu também sou pescador,
  • 18:10 - 18:13
    e costumava apanhar atum-amarelo.
  • 18:13 - 18:15
    Agora, é muito raro apanhar-se
    um atum-amarelo
  • 18:15 - 18:20
    porque estão a ser pescados
    às centenas de toneladas
  • 18:20 - 18:21
    por esses atuneiros.
  • 18:23 - 18:27
    CA: Estas são umas bonitas
    raparigas do seu país.
  • 18:27 - 18:31
    Quando pensa no futuro delas,
  • 18:31 - 18:34
    que mensagem lhes enviaria
  • 18:34 - 18:36
    e que mensagem enviaria ao mundo?
  • 18:36 - 18:40
    AT: Tenho estado a dizer ao mundo
    que temos que fazer qualquer coisa
  • 18:40 - 18:42
    sobre o que está a acontecer ao clima
  • 18:42 - 18:45
    porque, para nós, trata-se
    do futuro destas crianças.
  • 18:45 - 18:48
    Acho que tenho 12,
    a minha mulher é que sabe.
  • 18:48 - 18:51
    (Risos)
  • 18:51 - 18:53
    Acho que tenho 8 filhos.
  • 18:54 - 18:55
    Trata-se do futuro deles.
  • 18:55 - 18:58
    Todos os dias vejo os meus netos,
    com a mesma idade destas raparigas,
  • 18:58 - 19:01
    e interrogo-me,
  • 19:01 - 19:03
    por vezes fico zangado, fico mesmo.
  • 19:03 - 19:06
    Penso no que virá a ser deles.
  • 19:06 - 19:09
    É por causa deles
  • 19:09 - 19:11
    que devemos dizer a toda a gente,
  • 19:11 - 19:14
    que não se trata do seu interesse nacional,
  • 19:14 - 19:17
    porque a alteração climática,
    infelizmente,
  • 19:17 - 19:21
    é considerada por muitos países
    como um problema nacional, mas não é.
  • 19:21 - 19:24
    Esta é a discussão que tivemos
    há tempos com os nossos parceiros,
  • 19:24 - 19:26
    os australianos e os neozelandeses,
  • 19:26 - 19:28
    porque eles disseram:
    "Não podemos cortar mais".
  • 19:28 - 19:32
    Foi o que disse um dos líderes,
    o líder australiano,
  • 19:32 - 19:37
    "Já cortámos a nossa parte,
    estamos a cortar".
  • 19:37 - 19:41
    Eu disse: "E quanto ao resto?
    Porque é que não ficam com elas?
  • 19:41 - 19:43
    "Se puderem ficar com o resto
    das vossas emissões,
  • 19:43 - 19:46
    "dentro das vossas fronteiras,
  • 19:46 - 19:48
    "nós não teríamos problema.
  • 19:48 - 19:50
    "Vocês poderiam continuar como quisessem.
  • 19:50 - 19:52
    "Infelizmente, vocês enviam-nas
    para o nosso lado.
  • 19:52 - 19:55
    "e estão a afetar
    o futuro dos nossos filhos".
  • 19:56 - 19:59
    Penso que isto está no centro
    do problema da alteração climática.
  • 19:59 - 20:02
    Vamos reunir em Paris no final do ano.
  • 20:02 - 20:06
    Temos que pensar nisto
    como um fenómeno global.
  • 20:06 - 20:10
    porque fomos nós que o criámos,
    individualmente, enquanto nações,
  • 20:10 - 20:12
    embora afete toda a gente,
  • 20:12 - 20:14
    no entanto recusamo-nos
    a fazer o que quer que seja,
  • 20:14 - 20:17
    e lidamos com isto como se fosse
    um problema nacional,
  • 20:17 - 20:20
    mas não é. é um problema global.
  • 20:20 - 20:22
    Tem que ser tratado coletivamente.
  • 20:23 - 20:28
    CA: As pessoas reagem muito mal
    a gráficos e números
  • 20:28 - 20:30
    e recusam-se a encará-los.
  • 20:31 - 20:37
    Mas, por vezes, somos um pouco melhores
    a reagir a pessoas.
  • 20:38 - 20:41
    Parece muito provável que o vosso país,
  • 20:41 - 20:45
    dado os problemas enormes que enfrenta,
  • 20:45 - 20:50
    possa vir a ser a luz de alerta
    que brilhe mais visivelmente,
  • 20:50 - 20:52
    mais poderosamente.
  • 20:52 - 20:55
    Quero agradecer-lhe, em nome de nós todos,
  • 20:55 - 20:58
    pela sua liderança extraordinária
    e por ter vindo aqui
  • 20:58 - 20:59
    Senhor presidente, muito obrigado.
  • 20:59 - 21:01
    AT: Obrigado.
  • 21:01 - 21:02
    (Aplausos)
Title:
O meu país ficará em breve debaixo de água — a não ser que trabalhemos em conjunto
Speaker:
Anote Tong
Description:

Para a população de Quiribáti, a alteração climática não é uma coisa para ser debatida, para ser negada ou para ser sujeita a legislação. é uma realidade presente. O país de ilhas do Pacífico, de baixa altitude, pode em breve ficar submerso, graças à subida do nível do mar. Numa conversa pessoal com Chris Anderson, curador do TED, Anote Tong, Presidente do Quiribáti, analisa a atual catástrofe climática do seu país e o seu futuro em perigo. "Para lidar com a alteração climática, tem que haver sacrifícios. Tem que haver empenho", diz. "Temos que dizer às pessoas que o mundo mudou".

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
21:15

Portuguese subtitles

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