Meu país em breve ficará embaixo da água, a não ser que trabalhemos em conjunto
-
0:01 - 0:04Chris Anderson: Talvez possamos
começar falando sobre o seu país. -
0:04 - 0:08São três pontos no globo.
Estes pontos são bem grandes. -
0:08 - 0:11Acho que cada um é quase
do tamanho da Califórnia. -
0:11 - 0:13Fale-nos de Quiribáti.
-
0:13 - 0:17Anote Tong: Quero começar
dizendo que estou muito grato -
0:17 - 0:22por compartilhar minha história
com pessoas que se importam. -
0:22 - 0:24Acho que tenho
compartilhado minha história -
0:24 - 0:27com muitas pessoas que
não se importam muito. -
0:27 - 0:31Quiribáti é composto
por três grupos de ilhas: -
0:31 - 0:34o Grupo Gilbert no oeste,
-
0:34 - 0:37as Ilhas Fênix no meio,
-
0:37 - 0:42e as Espórades Equatoriais no leste.
-
0:42 - 0:45E francamente, Quiribáti
é talvez o único país -
0:45 - 0:47que está nos quatro cantos do mundo,
-
0:47 - 0:50porque estamos no Hemisfério Norte,
no Hemisfério Sul, -
0:50 - 0:54e também a leste e a oeste
da Linha Internacional de Data. -
0:54 - 1:00Essas ilhas são formadas
inteiramente por atóis de coral -
1:00 - 1:05e ficam em média a dois metros
acima do nível do mar. -
1:05 - 1:08É isto o que temos.
-
1:08 - 1:13Normalmente, não mais que
dois quilômetros de largura. -
1:13 - 1:16Muitas vezes, as pessoas me perguntam:
-
1:16 - 1:19"Vocês têm problemas,
porque é que não se mudam?" -
1:19 - 1:20As pessoas não entendem.
-
1:20 - 1:24Elas não têm noção
do que é que está envolvido. -
1:24 - 1:27Com a subida do nível do mar, elas dizem:
"Bem, podem ir mais para dentro". -
1:27 - 1:29E eu digo a elas:
-
1:29 - 1:33"Se formos mais para dentro,
caíremos no outro lado do oceano". -
1:33 - 1:38Esses são os tipos de problemas
que as pessoas não entendem. -
1:38 - 1:42CA: Sem dúvida, há aqui
um quadro de fragilidade. -
1:42 - 1:45Quando foi que você percebeu
-
1:45 - 1:48que podia haver um perigo
iminente ao seu país? -
1:48 - 1:52AT: A história da mudança
climática tem prosseguido -
1:52 - 1:53já há várias décadas.
-
1:53 - 1:58Quando assumi o cargo em 2003,
-
1:58 - 2:02comecei a falar da mudança climática
na Assembleia Geral das Nações Unidas, -
2:02 - 2:05mas sem grande entusiasmo,
-
2:05 - 2:09porque ainda havia muita
controvérsia entre os cientistas, -
2:09 - 2:14se era causada pelo homem,
se era real ou não. -
2:14 - 2:20Mas acredito que esse
debate terminou em 2007 -
2:20 - 2:26com o Quarto Relatório
de Avaliação do IPCC, -
2:26 - 2:33que fez uma declaração categórica
de que era real e provocada pelo homem, -
2:33 - 2:37e previu alguns cenários muito graves
-
2:37 - 2:39para países como o meu.
-
2:39 - 2:43Foi aí que comecei a levar muito a sério.
-
2:43 - 2:47No passado, eu falava sobre isso.
-
2:47 - 2:48Estávamos preocupados.
-
2:48 - 2:52Mas quando esses cenários
e previsões apareceram em 2007, -
2:52 - 2:54tornou-se um verdadeiro problema para nós.
-
2:54 - 3:00CA: Essas previsões são,
parece-me que, no ano de 2100, -
3:00 - 3:02o nível dos mares terá subido
cerca de 90 centímetros. -
3:02 - 3:05Há cenários em que
o aumento é ainda maior, -
3:05 - 3:07mas o que você diria
a um cético que dissesse: -
3:07 - 3:08"O que são 90 cm?
-
3:08 - 3:11Vocês estão em média
a dois metros sobre o nível do mar. -
3:11 - 3:12Qual é o problema?"
-
3:12 - 3:14AT: Acho que é preciso entender
-
3:14 - 3:16que um pequeno aumento no nível do mar
-
3:16 - 3:19significará a perda de muito território,
-
3:19 - 3:22porque grande parte da terra é baixa.
-
3:22 - 3:27Além disso, temos as ondas nesse momento.
-
3:27 - 3:30Portanto, não se trata de 90 centímetros.
-
3:30 - 3:33O que muita gente não percebe
-
3:33 - 3:39é que julgam a alteração climática como
algo que acontecerá apenas no futuro. -
3:39 - 3:42Veja bem, nós já estamos
no fim do espectro. -
3:42 - 3:43Já está em cima de nós.
-
3:43 - 3:47Temos comunidades que já foram deslocadas.
-
3:47 - 3:51Elas tiveram que se mudar
e em todas as sessões parlamentares, -
3:51 - 3:53recebo queixas de diversas comunidades
-
3:53 - 3:56pedindo ajuda para construir barreiras,
-
3:56 - 3:59para fazermos algo quanto
aos lençóis de água doce, -
3:59 - 4:01porque estão sendo destruídos.
-
4:01 - 4:03Nas minhas viagens, pelas diversas ilhas,
-
4:03 - 4:06encontro provas de comunidades
-
4:06 - 4:10que agora precisam enfrentar
a perda de colheitas de alimentos, -
4:10 - 4:13a contaminação dos lençóis de água doce
-
4:13 - 4:18e vejo que essas comunidades
talvez terão que se deslocar -
4:18 - 4:20dentro de cinco a dez anos.
-
4:20 - 4:24CA: E então, acho que o país
sofreu seu primeiro ciclone. -
4:24 - 4:27Isso também está relacionado?
O que aconteceu? -
4:28 - 4:30AT: Bem, nós estamos na Linha do Equador.
-
4:30 - 4:35Certamente, muita gente sabe
que ao estar na Linha do Equador, -
4:35 - 4:38era para estarmos numa região calma.
Não era para termos ciclones. -
4:38 - 4:41Nós os criamos e mandamos
para o norte ou para o sul. -
4:41 - 4:42(Risos)
-
4:43 - 4:44Não era para eles voltarem.
-
4:44 - 4:47Mas, pela primeira vez,
no início deste ano, -
4:47 - 4:51o Ciclone Pam destruiu Vanuatu,
-
4:51 - 4:54e no processo, suas bordas atingiram
-
4:54 - 4:56nossas duas ilhas mais ao sul.
-
4:57 - 5:02Toda Tuvalu ficou embaixo da água
quando o Furacão Pam passou. -
5:02 - 5:06Nas nossas duas ilhas mais ao sul,
-
5:06 - 5:09tivemos ondas que chegaram
até a metade delas. -
5:09 - 5:11Isso nunca tinha acontecido.
-
5:11 - 5:13Foi uma experiência nova.
-
5:13 - 5:18Acabo de voltar do meu distrito eleitoral
-
5:18 - 5:22e vi aquelas árvores lindas
que estiveram ali há décadas, -
5:22 - 5:24elas foram totalmente destruídas.
-
5:24 - 5:25É isso que está acontecendo.
-
5:26 - 5:29Mas quando falamos
da subida do nível do mar, -
5:29 - 5:32pensamos que é uma coisa
que acontece gradualmente. -
5:33 - 5:36Vem com os ventos,
vem com as ondas, -
5:36 - 5:38por isso pode ser maximizada,
-
5:38 - 5:44mas o que estamos começando a ver
é a mudança no padrão do clima, -
5:44 - 5:46que é talvez o problema mais urgente
-
5:47 - 5:51que enfrentaremos, mais depressa
do que a subida do nível do mar. -
5:51 - 5:54CA: Então, o país já está
sentindo os efeitos agora. -
5:54 - 5:57Ao olhar para o futuro,
-
5:57 - 6:00quais são suas alternativas,
enquanto país, enquanto nação? -
6:01 - 6:05AT: Tenho contado essa mesma
história em todos os anos. -
6:05 - 6:10Tenho viajado pelo mundo para tentar
fazer com que as pessoas entendam. -
6:10 - 6:12Temos um plano,
achamos que temos um plano. -
6:12 - 6:16Numa ocasião, falei em Genebra
-
6:16 - 6:20e havia um senhor que
estava me entrevistando -
6:20 - 6:21sobre coisas como essas,
-
6:22 - 6:24e eu disse: "Estamos pensando
em ilhas flutuantes". -
6:24 - 6:26E ele achou engraçado,
mas alguém disse: -
6:26 - 6:30"Não, isso não tem graça.
Essas pessoas estão em busca de soluções". -
6:30 - 6:34Então, eu tenho andado
à procura de ilhas flutuantes. -
6:34 - 6:37Os japoneses estão interessados
em construir ilhas flutuantes. -
6:37 - 6:40Mas, enquanto país,
fizemos um compromisso -
6:40 - 6:44de que aconteça o que acontecer,
tentaremos tudo que for possível -
6:44 - 6:48para nos mantermos e continuarmos
a existir como uma nação. -
6:48 - 6:50O que isso vai exigir,
-
6:50 - 6:53será uma coisa muito significativa,
-
6:53 - 6:55muito, muito substancial.
-
6:55 - 6:57Ou vivemos em ilhas flutuantes,
-
6:57 - 7:01ou teremos que elevar as ilhas
para seguir permanecendo fora da água, -
7:01 - 7:06conforme o nível do mar suba
e as tempestades fiquem mais fortes. -
7:06 - 7:08Mesmo assim, será muito difícil
-
7:08 - 7:11obter o tipo de recursos
de que precisamos. -
7:11 - 7:15CA: E então, a única opção seria
uma forma de migração forçada. -
7:15 - 7:17AT: Também estamos considerando isso,
-
7:17 - 7:20porque caso não apareça mais nada
-
7:20 - 7:22da comunidade internacional,
-
7:22 - 7:23estamos nos preparando,
-
7:23 - 7:27não queremos que ocorra com a gente
o mesmo que está ocorrendo na Europa. -
7:27 - 7:29Não queremos emigrar em massa
em algum momento. -
7:29 - 7:33Queremos ser capazes de dar
uma escolha ao povo, hoje, -
7:33 - 7:36aos que escolherem e quiserem
fazer isso, emigrarem. -
7:36 - 7:41Não queremos que aconteça algo
que os force a emigrar -
7:42 - 7:44sem estarem preparados para isso.
-
7:44 - 7:47A nossa cultura é muito diferente,
nossa sociedade é muito diferente, -
7:47 - 7:50e quando emigramos
para um ambiente diferente, -
7:50 - 7:51para uma cultura diferente,
-
7:51 - 7:54é necessário que as pessoas
se adaptem a muitas coisas. -
7:54 - 7:57CA: Já houve emigração forçada
no passado do seu país. -
7:57 - 7:59Acho que ainda nesta semana,
-
7:59 - 8:02ontem ou anteontem,
-
8:02 - 8:04você visitou estas pessoas.
-
8:04 - 8:07O que aconteceu? Como foi essa história?
-
8:07 - 8:09AT: Sim, e desculpe,
acho que alguns se perguntaram -
8:09 - 8:12o motivo pelo qual escapulimos
para visitar esse lugar. -
8:12 - 8:16Tive um bom motivo, porque temos
uma comunidade de pessoas de Quiribáti -
8:16 - 8:20vivendo naquela parte das Ilhas Salomão.
-
8:20 - 8:24Mas são pessoas que tiveram
que se mudar das Ilhas Fênix, -
8:24 - 8:25nos anos 60.
-
8:25 - 8:30Houve uma grande seca e as pessoas
não podiam continuar a viver na ilha, -
8:30 - 8:33por isso foram transferidas
para viver nas Ilhas Salomão. -
8:33 - 8:37Então, ontem foi muito interessante
encontrar-me com essas pessoas. -
8:37 - 8:39Não sabiam quem eu era,
nunca tinham ouvido falar de mim. -
8:39 - 8:42Depois, alguns me reconheceram,
-
8:42 - 8:45mas acho que ficaram muito felizes.
-
8:45 - 8:50Mais tarde, quiseram me receber
mais formalmente. -
8:50 - 8:53Mas o que vi ontem foi muito interessante,
-
8:53 - 8:55porque vejo aqui o nosso povo.
-
8:55 - 9:01Falei na nossa língua e, claro,
eles me responderam, -
9:01 - 9:05mas com sotaque. Estão começando
a não saber falar Quiribáti corretamente. -
9:05 - 9:08Eu vi uma mulher com os dentes vermelhos.
-
9:08 - 9:10Estava mascando nozes de bétel,
-
9:10 - 9:12é uma coisa que não fazemos em Quiribáti.
-
9:12 - 9:15Não mascamos nozes de bétel.
-
9:15 - 9:21Também conheci uma família que
tinha se casado com pessoas daqui. -
9:21 - 9:25E é isso que está acontecendo.
-
9:25 - 9:29Ao entrar em outra comunidade,
é inevitável haver mudanças. -
9:29 - 9:33Sempre haverá uma certa
perda de identidade, -
9:33 - 9:37e é isso que enfrentaremos no futuro,
-
9:37 - 9:39se e quando emigrarmos.
-
9:39 - 9:42CA: Deve ter sido um dia
extraordinariamente emotivo -
9:42 - 9:45por causa dessas questões de identidade,
-
9:45 - 9:50a alegria de verem você e talvez
um sentimento do que haviam perdido. -
9:50 - 9:54É muito inspirador ouvir você
dizer que lutarão até o fim -
9:54 - 9:58para tentar manter a nação
num mesmo lugar. -
9:58 - 9:59AT: Esse é o nosso desejo.
-
9:59 - 10:02Ninguém nunca quer sair de sua casa,
-
10:02 - 10:06por isso tem sido uma decisão
muito difícil para mim. -
10:06 - 10:11Um líder não faz planos
para deixar sua ilha, sua casa. -
10:11 - 10:13Muitas vezes me perguntam:
-
10:13 - 10:14"Como você se sente?"
-
10:14 - 10:18E não me sinto nada bem.
-
10:18 - 10:21É uma coisa emotiva e tenho
tentado conviver com isso. -
10:21 - 10:26Sei que, por vezes, sou acusado
de não tentar resolver o problema, -
10:26 - 10:28porque não posso resolver o problema.
-
10:28 - 10:31É algo que tem que ser
feito coletivamente. -
10:31 - 10:37A mudança climática é um fenômeno global,
como tenho argumentado muitas vezes. -
10:37 - 10:41Infelizmente, os países,
quando chegamos às Nações Unidas... -
10:41 - 10:46Eu estive numa reunião com os países
do Fórum das Ilhas do Pacífico, -
10:46 - 10:49de que a Austrália e a Nova Zelândia
também são membros, -
10:49 - 10:51e tivemos um debate.
-
10:51 - 10:53Isso foi noticiado nos jornais,
-
10:53 - 10:58porque eles argumentavam
que reduzir as emissões -
10:58 - 11:00era uma coisa que eles não podiam fazer,
-
11:00 - 11:03porque isso afetaria as indústrias.
-
11:03 - 11:05E eu disse:
-
11:05 - 11:07"Tudo bem, estou ouvindo vocês,
-
11:07 - 11:08entendo o que estão dizendo,
-
11:09 - 11:11mas tentem também entender o que eu digo,
-
11:11 - 11:13porque se vocês não reduzirem as emissões,
-
11:13 - 11:16será a nossa sobrevivência
que estará ameaçada. -
11:16 - 11:20Portanto, vocês têm que levar
isso em conta, essa questão moral. -
11:20 - 11:24É a indústria em oposição
à sobrevivência de um povo". -
11:24 - 11:27CA: Ontem, perguntei-lhe
o que deixa você irritado -
11:27 - 11:30e você disse: "Eu não fico irritado".
Mas depois, fez uma pausa. -
11:30 - 11:32Acho que isso deixou-o irritado.
-
11:32 - 11:37AT: Lembro-me do meu primeiro
discurso nas Nações Unidas. -
11:37 - 11:42Estava muito bravo, muito frustrado
e depois me senti deprimido. -
11:42 - 11:44Tive uma sensação de insignificância,
-
11:44 - 11:49de que estávamos travando uma luta
a qual não tínhamos chances de vencer. -
11:49 - 11:52Tive que mudar de abordagem.
-
11:52 - 11:54Tive que ser mais razoável,
-
11:54 - 11:57porque pensei que as pessoas
escutariam alguém mais racional, -
11:57 - 12:00mas sigo radicalmente racional,
seja lá o que isso for. -
12:00 - 12:01(Risos)
-
12:01 - 12:05CA: Uma parte fundamental
da identidade da sua nação é a pesca. -
12:05 - 12:08Você disse que quase toda a população
está ligada à pesca de alguma forma. -
12:08 - 12:11AT: Bem, comemos peixe todos os dias.
-
12:11 - 12:16Penso que ninguém duvida
de que o nosso consumo de peixe -
12:16 - 12:18é talvez o mais alto do mundo.
-
12:18 - 12:20Não temos muito gado,
-
12:20 - 12:23por isso dependemos do peixe.
-
12:23 - 12:26CA: Portanto, dependem do peixe,
tanto a nível local, -
12:26 - 12:29como quanto às receitas que o país obtém
-
12:29 - 12:32do negócio de pesca mundial de atum.
-
12:32 - 12:37No entanto, apesar disso, há alguns anos
vocês tomaram uma medida muito importante. -
12:37 - 12:38Pode falar sobre isso?
-
12:38 - 12:41Penso que aconteceu alguma
coisa aqui nas Ilhas Fênix. -
12:41 - 12:47AT: Primeiro, vou traçar o quadro
do que o peixe significa para nós. -
12:47 - 12:51Temos uma das maiores pescas
de atum que ainda restam no mundo. -
12:51 - 12:54No Pacífico, acredito que temos uns 60%
-
12:54 - 12:55do que resta da pesca de atum,
-
12:55 - 13:00e mantém-se relativamente saudável
para algumas espécies, embora nem todas. -
13:00 - 13:05Quiribáti é um dos três
principais donos dos recursos, -
13:06 - 13:08dos recursos de atum.
-
13:08 - 13:11No momento, obtemos
-
13:11 - 13:14cerca de 80 a 90% das nossas receitas
-
13:14 - 13:17de taxas de acesso, de taxas de licenças.
-
13:17 - 13:18CA: Das suas receitas nacionais.
-
13:19 - 13:20AT: Receitas nacionais,
-
13:20 - 13:23que movimentam tudo o que fazemos
-
13:23 - 13:27
no governo, hospitais, escolas, etc. -
13:27 - 13:32Mas decidimos acabar com isso
e foi uma decisão muito difícil. -
13:32 - 13:38Posso garantir a você que, politicamente,
a nível local, não foi fácil, -
13:38 - 13:42mas eu estava convencido
de que tínhamos de fazer isso -
13:42 - 13:47para garantir que a pesca
continuasse sustentável. -
13:47 - 13:49Houve indícios de que
algumas das espécies, -
13:49 - 13:54em especial o atum-patudo,
estavam seriamente ameaçadas. -
13:54 - 13:57O atum-amarelo também estava
sendo pescado excessivamente. -
13:57 - 13:59O atum-bonito segue em boas condições.
-
13:59 - 14:03Tínhamos que fazer algo nesse sentido,
e foi essa a razão por que fiz isso. -
14:04 - 14:07Outra razão para ter feito isso
-
14:07 - 14:12foi porque eu vinha pedindo
à comunidade internacional -
14:12 - 14:17que, para lidar com a mudança climática,
para lutar contra a mudança climática, -
14:17 - 14:21tinha que haver sacrifícios,
tinha que haver empenho. -
14:21 - 14:26Por isso, ao pedir à comunidade
internacional para fazer sacrifícios, -
14:26 - 14:29pensei que nós também
tínhamos que fazer sacrifícios. -
14:29 - 14:31Então, fizemos o sacrifício.
-
14:31 - 14:36Renunciamos à pesca comercial
-
14:36 - 14:38na área protegida das Ilhas Fênix,
-
14:38 - 14:40o que significa uma perda de receitas.
-
14:40 - 14:43Ainda estamos avaliando
o tamanho dessa perda -
14:43 - 14:48porque só a suspendemos
no início deste ano, -
14:48 - 14:50portanto só saberemos no fim deste ano
-
14:50 - 14:54qual será o tamanho das receitas perdidas.
-
14:54 - 14:56CA: Há muitas coisas em jogo.
-
14:56 - 15:03Por um lado, pode proporcionar
pescas mais sustentáveis. -
15:03 - 15:05Em quanto poderão aumentar o preço
-
15:05 - 15:08que cobram pelas áreas restantes?
-
15:08 - 15:13AT: As negociações têm sido difíceis,
-
15:13 - 15:16mas conseguimos aumentar
o custo diário do navio. -
15:16 - 15:19Para qualquer navio que
venha pescar por um dia, -
15:19 - 15:23aumentamos as taxas, que eram
de US$ 6 mil e US$ 8 mil, -
15:23 - 15:27para US$10 mil e US$12 mil
diários por navio. -
15:27 - 15:31Portanto, foi um aumento significativo.
-
15:31 - 15:35Mas, ao mesmo tempo,
é importante saber -
15:35 - 15:40que, enquanto no passado
esses barcos de pesca -
15:40 - 15:43conseguiam pescar num dia inteiro
umas dez toneladas, -
15:44 - 15:47agora conseguem umas 100 toneladas,
porque estão muito mais eficazes. -
15:47 - 15:50Portanto, temos que responder
do mesmo modo. -
15:50 - 15:54Temos que ser muito cuidadosos,
porque a tecnologia evoluiu muito. -
15:54 - 15:59Houve um tempo em que a frota brasileira
mudou-se do Atlântico para o Pacífico. -
15:59 - 16:01Não conseguiam.
-
16:01 - 16:04Foram experimentar se conseguiam.
-
16:04 - 16:08Mas agora já arranjaram formas
de o fazer e estão muito eficazes. -
16:09 - 16:12CA: Pode dar uma ideia
de como são essas negociações? -
16:12 - 16:14Porque vocês enfrentam empresas
-
16:14 - 16:18que têm centenas de milhões de dólares.
-
16:18 - 16:21Como vocês lidam com isso?
-
16:21 - 16:23Você tem algum conselho a dar
-
16:23 - 16:26a outros líderes que estão lidando
com as mesmas empresas -
16:26 - 16:30sobre como obter o máximo para o seu país,
-
16:30 - 16:34como obter o máximo
para uma pesca sustentável? -
16:34 - 16:36Que conselhos daria?
-
16:36 - 16:42AT: Penso que damos
muita ênfase ao licenciamento -
16:42 - 16:44a fim de obter a taxa de retorno,
-
16:44 - 16:47porque o que recebemos
com as taxa de licenças -
16:47 - 16:49é cerca de 10% do valor do pescado,
-
16:49 - 16:53pelo lado do porto,
não pelo lado de venda a varejo. -
16:53 - 16:57Só recebemos cerca de 10%.
-
16:57 - 16:59O que temos tentado fazer
ao longo dos anos -
16:59 - 17:03é aumentar a nossa
participação na indústria, -
17:03 - 17:06na pesca, no processamento,
-
17:06 - 17:08e, por fim, esperemos, na comercialização.
-
17:08 - 17:11Não é fácil penetrar nisso
-
17:11 - 17:14mas estamos trabalhando para isso,
-
17:14 - 17:16e, sim, a resposta será nos esforçar.
-
17:16 - 17:21A fim de aumentar a nossa taxa
de retorno, temos que nos envolver mais. -
17:21 - 17:24Portanto, começamos a fazer isso
-
17:24 - 17:28e temos que reestruturar a indústria.
-
17:28 - 17:31Temos que dizer a essas pessoas
que o mundo mudou. -
17:31 - 17:34Agora queremos produzir
os peixes nós mesmos. -
17:34 - 17:36CA: No entanto, para os pescadores locais,
-
17:36 - 17:39eles ainda podem pescar,
-
17:39 - 17:42mas como é o negócio para eles?
-
17:42 - 17:44Está mais difícil?
As águas estão esgotadas? -
17:44 - 17:47Ou se pesca de forma sustentável?
-
17:47 - 17:49AT: Para a pesca artesanal,
-
17:49 - 17:52não participamos na atividade
da pesca comercial -
17:52 - 17:55a não ser para fornecimento
do mercado interno. -
17:55 - 17:59A pesca do atum é inteiramente
para o mercado estrangeiro, -
17:59 - 18:05na sua maioria para os EUA,
Europa e Japão. -
18:05 - 18:09Eu também sou um pescador
-
18:09 - 18:13e eu conseguia pescar atum-amarelo.
-
18:13 - 18:15Agora, é muito raro conseguir
pescar um atum-amarelo -
18:15 - 18:19porque estão sendo pescados
às centenas de toneladas -
18:19 - 18:21por esses atuneiros.
-
18:22 - 18:27CA: Temos aqui duas lindas
garotinhas do seu país. -
18:27 - 18:31Quando pensa no futuro delas,
-
18:31 - 18:33que mensagem transmitiria a elas
-
18:33 - 18:36e que mensagem transmitiria ao mundo?
-
18:36 - 18:40AT: Venho dizendo ao mundo
que temos que fazer alguma coisa -
18:40 - 18:42acerca do que está acontecendo com o clima
-
18:42 - 18:44porque, para nós, trata-se
do futuro destas crianças. -
18:44 - 18:46Tenho 12 netos, pelo menos.
-
18:46 - 18:49Acho que tenho 12,
a minha esposa é quem sabe. -
18:49 - 18:51(Risos)
-
18:51 - 18:54Acho que tenho oito filhos.
-
18:54 - 18:55Trata-se do futuro deles.
-
18:55 - 18:59Todos os dias vejo meus netos,
da mesma idade destas garotinhas, -
18:59 - 19:01e me pergunto,
-
19:01 - 19:03e às vezes fico zangado, fico mesmo.
-
19:03 - 19:05Penso no que virá a ser deles.
-
19:05 - 19:09É por causa deles
-
19:09 - 19:11que devemos dizer a todo o mundo,
-
19:11 - 19:13que não se trata dos seus
interesses nacionais, -
19:13 - 19:17porque a mudança climática, infelizmente,
-
19:17 - 19:21é considerada por muitos países
como um problema nacional, mas não é. -
19:21 - 19:24Esta é a discussão que tivemos
recentemente com os nossos parceiros, -
19:24 - 19:26os australianos e os neozelandeses,
-
19:26 - 19:29porque eles disseram:
"Não podemos reduzir mais". -
19:29 - 19:32Foi o que disse um dos líderes,
o líder australiano. -
19:32 - 19:37Ele disse: "Já fizemos a nossa parte,
estamos reduzindo as emissões". -
19:37 - 19:41Eu disse: "E quanto ao restante?
Porque é que não ficam com o resto? -
19:41 - 19:43Se conseguissem conter
o resto das suas emissões, -
19:43 - 19:46dentro dos seus limites,
dentro das suas fronteiras, -
19:46 - 19:47nós não teríamos nenhum problema.
-
19:48 - 19:49Vocês poderiam continuar como quisessem.
-
19:49 - 19:51Mas, infelizmente,
enviam para o nosso lado. -
19:52 - 19:54e estão afetando o futuro
dos nossos filhos". -
19:54 - 19:59Penso que esse é o principal problema
da mudança climática atualmente. -
19:59 - 20:02Vamos nos reunir em Paris
no final deste ano, -
20:02 - 20:06mas até quando não tratarmos disso
como um fenômeno global, -
20:06 - 20:09porque nós o criamos,
individualmente, enquanto nações, -
20:09 - 20:11mas afeta a todos os demais,
-
20:11 - 20:15porém recusamos a fazer
qualquer coisa sobre isso, -
20:15 - 20:18e lidamos como se fosse
um problema nacional, mas não é. -
20:18 - 20:19É um problema global
-
20:19 - 20:22e tem que ser tratado de forma conjunta.
-
20:23 - 20:27CA: As pessoas reagem
muito mal a gráficos e números -
20:27 - 20:31e recusam-se a aceitá-los.
-
20:31 - 20:38De alguma maneira,
reagimos um pouco melhor a pessoas. -
20:38 - 20:40Parece muito provável que o seu país,
-
20:41 - 20:45dados os enormes problemas que enfrenta,
-
20:45 - 20:50possa ser a luz de alerta para o mundo,
que brilhe de forma mais visível, -
20:50 - 20:52de forma mais forte.
-
20:52 - 20:55Quero agradecer-lhe, em nome de nós todos,
-
20:55 - 20:57pela sua extraordinária liderança
e por ter vindo aqui. -
20:57 - 20:59Senhor presidente, muito obrigado.
-
20:59 - 21:00AT: Obrigado.
-
21:00 - 21:02(Aplausos)
- Title:
- Meu país em breve ficará embaixo da água, a não ser que trabalhemos em conjunto
- Speaker:
- Anote Tong
- Description:
-
Para a população de Quiribáti, a mudança climática não é uma coisa para ser debatida, negada ou legislada; é uma realidade diária. O país formado por ilhas de baixa altitude do Pacífico pode em breve ficar submerso, graças à subida do nível do mar. Numa conversa pessoal com Chris Anderson, curador do TED, Anote Tong, o presidente do Quiribáti, analisa a atual catástrofe climática do seu país e o seu ameaçado futuro. "Para lidar com a mudança climática, tem que haver sacrifícios. Tem que haver empenho", diz. "Temos que dizer às pessoas que o mundo mudou".
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 21:15
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gabriela rocha accepted Portuguese, Brazilian subtitles for My country will be underwater soon -- unless we work together | ||
Erik Lima edited Portuguese, Brazilian subtitles for My country will be underwater soon -- unless we work together |